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%*0(07";1*/50 mais ou menos consciente desta moldu- Sem necessidade de um grande desvio,
EJPHPQJOUP!JPOMJOFQU ra, o espectador “vê-se confrontado não é neste que o atual conflito que se vive na
com o fruto de rigores externos, não com Fundação de Serralves depois da demis-
Um dos triunfos evidentes da arte contem- aquilo que é enformado pela moldura, mas são do seu diretor artístico pode ser enca-
porânea terá sido a forma como rompeu com uma construção artística que exige rado numa perspetiva mais abrangente.
com uma contida pestilência que aproxi- a sua atenção privada e à qual tem de res- Há umas semanas, na entrevista que deu
mava museus e morgues. Espaços frios ponder como se estivesse só no mundo”. ao jornal “Público”, João Ribas vincava o
destinados a preservar uma qualquer Manguel irá levar mais longe esta ideia imperativo de o museu “ser um espaço de
herança do lento naufrágio do tempo, que no ensaio seguinte – “Ovos de Dragão ou resistência à influência do mercado”. Ora,
nos vai empurrando a todos para o esque- Plumas de Fénix, ou Uma Defesa do Dese- um diagnóstico que tem prevalecido sobre
cimento. E se as estruturas enormes, pala- jo” –, e acrescenta que, “para aqueles visi- o que se passa no “campo artístico” em
cianas e atemorizadoras do século XIX, tantes que conseguem diferenciar entre Portugal, tem vindo a subverter as mais
não estão completamente ultrapassadas, o contentor e o conteúdo, entre a cole- clássicas e inspiradoras noções do que é
e até emprestam aos museus um certo ção e as pinturas individuais coleciona- a arte. E numa das suas crónicas, naque-
peso no imaginário coletivo, isso convive das, entre o espaço uniformizante e o le mesmo jornal, António Guerreiro che-
com a noção de que esses templos são luga- desejo uniformizado, mesmo uma visita gou mesmo a afirmar que “nada exprime
res onde o aborrecimento vai passar os ao Louvre – onde o número de visitantes melhor a natureza mercantil do nosso
olhos por todo o tipo de lembranças. aumentou dramaticamente nos últimos mundo do que a arte” (“Dinheiro é Arte”).
O poeta Lêdo Ivo viu os mortos, tam- anos – “pode ser uma viagem privada e Numa intervenção a propósito da cole-
bém eles, a tirarem férias, turistas do eter- autodefinidora, e a relação de um visi- ção Miró, e procurando uma justificação
no, percorrendo os museus do éter. E se tante particular com uma pintura parti- para o que teria levado “aqueles banquei-
Walter Benjamin deu nota do risco de os cular pode ser a de Robinson Crusoe com ros do BPN, cúpidos e filisteus de nome
museus se tornarem grandes coleções a ilha solitária em que ele teve de sofrer próprio” a adquirirem aquele acervo artís-
de restos do passado, com tudo o que fos- e, no entanto, habitar – com todos os seus tico, Guerreiro expunha o aspeto mais
se digno de ali entrar ser sujeito a tem- mistérios, perigos, dificuldades, e nunca banal destas operações que se servem de
peraturas negativas, imobilizado num esgotadas maravilhas”. um charme superficial: “A resposta é óbvia
culto, e rodeado de todos os cuidados para O escritor que tem sido repetida e abu- e toda a gente a conhece: porque os ban-
ser transmitido às gerações futuras. Assim, sivamente caracterizado como um dis- queiros, na medida em que sabem muito
viveríamos reféns da tradição, do esfor- cípulo de Jorge Luis Borges procura res- de dinheiro, têm também da arte este saber
ço de transmiti-la, e foi esse o perigo que ponsabilizar o “público” – “aquelas pes- importante e necessário: as obras de arte
denunciou Benjamin, afirmando que, se soas a favor de quem os movimentos circulam como o dinheiro”.
a visão patrimonial da arte se impuses- populistas, tais como o da Revolução Mais à frente, o crítico literário recorda-
se para além de um certo ponto, mais Francesa, tanto lutaram pelo acesso à va que “os museus especulam hoje sobre
valia que tudo se perdesse. Antes come- arte, essa multidão arrebanhada de que as suas coleções exatamente da mesma
çar de novo, do que ficar cercado de todos todos os governos precisam para justifi- maneira que os bancos: pondo o seu capi-
os lados pelo passado. caram a sua existência, tem de, por sua tal (a coleção), ou o capital de outrem, em
Duchamp deixou-nos aquela famosa des- vez, ser dissolvido”. circulação (através de exposições). Quan-
crição da arte como um jogo entre todos to mais ele circula, mais se acumula. A
os homens de todas épocas. Se a já clássi- arte é puro valor de troca (de um ponto
ca divisão entre os espíritos que jogam de vista marxista, representa a mercado-
mais à direita ou mais esquerda – sendo ria por excelência) e tem um valor de uso
aqueles adeptos de uma visão patrimonial
1BSB"MCFSUP.BOHVFM nulo. Segundo o sociólogo francês Pierre
da arte, enquanto estes privilegiam o inves- DBCFBPQÛCMJDPFTDBQBS Bourdieu, o valor simbólico da obra de
timento na função criativa – se mantém, ÈDPOEJËÊPEFNBTTB arte, o ‘interesse pelo desinteresse’, é a
há uma outra definição de arte que assu- imagem especular do seu valor de uso. O
me hoje particular relevância. Oscar Wil-
VOJGPSNFFEJTTPMWFSTF objectivo principal dos museus de arte
de disse que esta é um espelho, não da FNJOEJWÐEVPT contemporânea é obter a confiança do
vida, mas do espectador. E à sua luz, Alber- público na arte e no capital, segundo o
to Manguel, num ensaio sobre a função princípio de que as duas coisas são inse-
dos museus – “A Musa no Museu”, que
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integra a coleção de ensaios “No bosque (SPZT PNVTFVFTUÅ Entretanto, se a controvérsia envolven-
do espelho” (Dom Quixote, 2009) –, lem- USBOTGPSNBEPOVNB do o Museu de Serralves, em que várias
bra-nos que se as circunstâncias sociais vozes têm denunciado atos de ingerência
determinam a natureza do museu, e fazem
FTQÌDJFEFDPOUFOUPS por parte do conselho de administração
com que exista, dentro dos seus limites, e EBFDPOPNJBHMPCBM liderado por Ana Pinho nas funções de

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