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CRIMINOLOGIA

CONCEITO

Desde a antiguidade, diversos pensadores e escrituras desenvolveram e apresentaram


conceitos relacionados à criminologia, aos delitos e suas sanções. Com isso, para entender
o objeto criminológico, tem que entender antes qual a demanda por ordem naquele
momento histórico, dentro do horizonte das conflitividades sociais. Ademais, a
criminologia não é imparcial. Por isso, a definição do que é crime vai evoluindo e
modificando juntamente com a sociedade. Assim, a criminologia é fruto de uma construção
histórico-social e as diversas escolas criminológicas, cada uma refletindo as influências do
momento de sua concepção, revelam isso. Em resumo: pode-se conceituar criminologia
como a ciência empírica (baseada na observação e na experiência) e interdisciplinar que
tem por objeto de análise o crime, a personalidade do autor, do comportamento
delitivo, da vítima e o controle social das condutas criminosas. Ou seja, a criminologia
é uma ciência do “ser”, empírica, na medida em que seu objeto é visível no mundo real, e
não no mundo dos valores como ocorre com o direito, que é uma ciência do “dever-ser”,
portanto normativa e valorativa.

INTERDISCIPLINARIEDA DE

Decorre de sua própria consolidação histórica como ciência dotada de autonomia, à vista
da influência profunda de diversas outras ciências, tais como a sociologia, a psicologia, o
direito, a medicina legal, entre outros.

Embora exista um consenso de que a criminologia ocupe uma instância superior, esta não
se dá de forma piramidal, pois não existe preferência por nenhum saber parcial.

CARACTERÍSTICAS

1- O crime deve ser analisado como um problema com sua face humana e dolorosa
2- Aumenta o espectro de ação da criminologia para alcançar também a vítima e as
instâncias de controle social.
3- Acentua a necessidade de prevenção, em contraposição à ideia de repressão dos
modelos tradicionais.
4- Substitui o conceito de “tratamento” (conotação clínica e individual) por
“intervenção” (noção mais dinâmica, complexa, pluridimensional e próxima da
realidade social.
5- Empresta destaque aos modelos de reação social ao delito como um dos objetos da
criminologia
6- Não afasta a análise etiológica do delito (desvio primário).

OBJETO
A criminologia se diferencia do direito penal porque este é uma ciência normativa,
visualizando o crime como conduta anormal para a qual fixa uma punição. O direito penal
conceitua o crime como conduta típica, antijurídica e culpável. Por sua vez, a criminologia
vê o crime como um problema social, um verdadeiro fenômeno comunitário, abrangendo
quatro elementos constitutivos, a saber: incidência massiva na população (não se pode
tipificar como crime um fato isolado); incidência aflitiva do fato praticado (o crime deve
causar dor à vitima e à comunidade); persistência espaço-temporal do fato delituoso (é
preciso que o delito ocorra reiteradamente por um período significativo de tempo no
mesmo território) e consenso inequívoco acerca de sua etiologia e técnicas de intervenção
eficazes (a criminalização de condutas depende de uma análise minuciosa desses
elementos e sua repercussão na sociedade).

Houve tempo em que ela apenas ocupava o estudo do crime (Beccaria), passando pela
verificação do delinqüente (Escola Positiva). Após década de 1950, alcançou projeção o
estudo das vítimas e também os mecanismos de controle social, havendo uma ampliação
de seu objeto, que assumiu, portanto, uma feição pluridimensional e interacionista.

Atualmente, o objeto da criminologia está dividido em quatro vertentes: Delito,


delinqüente, vítima e controle social.

DELITO:

Trata-se de um fenômeno humano, cultural, apenas existindo na sociedade e de muitas


facetas, revelando-se um problema social. A criminologia tem toda uma atividade
verificativa que analisa a conduta antissocial, suas causas geradoras, o efetivo tratamento
dado ao delinqüente visando sua não reincidência, bem assim as falhas de sua profilaxia
preventiva. Vale ressaltar que não pode se limitar à adoção do conceito jurídico-penal de
delito, pois isso fulminaria sua independência e autonomia, transformando-se em mero
instrumento de auxílio do sistema penal. Igualmente, não se aceita o conceito sociológico
de crime como uma conduta desviada que foge ao comportamento padrão de uma
comunidade. Pela sua interdisciplinariedade, a criminologia interpreta o delito sob os
diversos vieses.

DELINQUENTE

É um fenômeno social, comunitário e que se mostra como um problema maior, a exigir do


pesquisador empatia para se aproximar dele e o entender em suas múltiplas facetas.
Destarte, a relatividade do conceito de delito é patente na criminologia, que o observa
como um problema social.

1- Escola Clássica: É um pecador, embora pudesse e devesse ser alguém que


escolhesse o bem. Portanto, é alguém que se utiliza do livre arbítrio para fazer o
mal.
2- Positivismo Antropológico: Já nasce criminoso. Há fatores biológicos,
determinismo. Não há um livre arbítrio. Aqui se deu o apogeu do estudo do
criminoso.
3- Escola Correlacionista: É visto como alguém que precisa de ajuda. O criminoso
era visto como um ser inferior e incapaz de se governar, merecendo do Estado uma
atitude pedagógica e de piedade. A visão de Marx entendia o criminoso como uma
vítima inocente das estruturas econômicas.
Atualmente, o criminoso está em segundo plano de interesse no estudo da criminologia. A
doutrina costuma dizer que é um ser histórico, real, complexo e enigmático, sendo normal,
podendo estar sujeito a influências do meio.

Há alguns conceitos importantes a saber:

Criminosos impetuosos - são aqueles que cometem crimes movidos por impulso
emotivo, por exemplo, os crimes passionais ou crimes que ocorrem em uma discussão de
trânsito. O criminoso impetuoso costuma se arrepender em seguida.

Criminosos ocasionais - são aqueles que decorrem da influência do meio, isto é, são
pessoas que acabam caindo em "tentação" devido a alguma circunstância facilitadora.
Neste caso aplica-se o ditado "a ocasião faz o ladrão". Os delitos mais comuns são furto e
estelionato. O criminoso ocasional tem chances de se redimir.

Criminosos habituais - são os profissionais do crime. - Normalmente se iniciam no crime


durante a adolescência e progressivamente adquirem habilidades mais sofisticadas.
Praticam todo tipo de crime. A violência tem o intuito de intimidar a vítima.

Criminosos fronteiriços - são criminosos que se enquadram em zona fronteiriça entre a


doença mental e os indivíduos normais. São pessoas que delinquem devido a distúrbios de
personalidade, por exemplo, transtorno de personalidade anti-social (psicopatia);
transtornos sexuais etc. Em geral, são pessoas frias, sem valores éticos e morais, que
cometem crimes com extrema violência desmotivada.

Criminosos com deficiência mental - são pessoas que possuem doença mental, isto é,
alteração qualitativa das funções psíquicas que compromentem o entendimento e a auto-
determinação do indivíduo. Por exemplo: esquizofrênicos, paranóicos, psicóticos,
toxicômacos graves etc. Em geral agem sozinhos, impusivamente, sem premeditação e
remorso.

VÍTIMA:

Verifica-se a ocorrência de três grandes instantes da vítima nos estudos penais: a idade do
outro, a neutralização do poder da vítima e a revalorização de sua importância. A idade do
outro compreende desde os primórdios da civilização até o fim da Alta idade média; o
período de neutralização, com o processo inquisitivo e pela assunção do poder público do
monopólio da jurisdição e a revalorização da vítima ganhou destaque recentemente com
um direcionamento efetivo. Ressalte-se que a vitimologia permite estudar inclusive a
criminalidade real, efetiva, verdadeira, com informações fornecidas por vítimas e não
pelas instâncias de controle (cifra negra de criminalidade).

 Vítimização primária: aquela que se relaciona ao indivíduo, atingindo


diretamente pela conduta.
 Vitimização secundária: consequência das relações entre vítimas primárias e o
Estado, em face da burocratização de seu aparelho repressivo. Também chamada
de revitimização ou sobrevitimização.
 Vitimização terciária: aquela decorrente de um excessivo de sofrimento que
extrapola os limites da lei, do país, quando a vítima é abandonada, em certos
delitos, pelo Estado e estigmatizada pela comunidade, incentivando a cifra negra,
crime que não é levado ao conhecimento das autoridades).

Há ainda uma diferença entre vítima, vítima penal e sujeito passivo:


 Vítima: Significa a pessoa ou animal sacrificado ou destinado a sacrifícios. São
todas as espécies de vítimas que venham a existir. Assim, em um enfoque
vitimológico, qualquer prejudicado pode ser considerado como vítima.
 Vítima penal: quem sofre as consequências da violação de uma norma penal.
Neste caso, o prejudicado só pode ser considerado vítima se também for sujeito
passivo do crime.

Ainda, há alguns conceitos importantes:

 Vítimas falsas: simuladora, é aquela que está consciente de que não foi vítima de
nenhum delito, mas, agindo por vingança ou interesse pessoal, imputa a alguém a
prática de um crime contra si;
 Vítimas natas: indivíduos que apresentam, desde o nascimento, predisposição
para serem vítimas, tudo fazendo, consciente ou inconscientemente, para
figurarem como vítimas de crimes;
 Vítimas potenciais: são aquelas que apresentam comportamento, temperamento
ou estilo de vida que atraem o criminoso, uma vez que facilitam ou preparam o
desfecho do crime;
 Vítimas eventuais ou reais: aquelas que são verdadeiramente vítimas, não tendo
em nada contribuído para a ocorrência do crime;
 Vítimas provocadoras: são aquelas que induzem o criminoso à prática do crime,
originando ou provocando o fato delituoso;
 Vítima imaginária: em decorrência de anomalia psíquica ou mental, acredita-se
vítima da ação criminosa;
 Vítimas voluntárias: são aquelas que consentem com o crime;
 Vítimas acidentais: são as vítimas de si mesmas, que dão causa ao fato
geralmente por negligência ou imprudência.
 Vítimas omissas: Nesse grupo encontram-se as pessoas que não vivem em
integração com o meio social, pois não participam da sociedade, nem sequer para
reclamar de uma violência ou arbitrariedade sofrida.
 Vítimas inconformadas ou atuantes: Ao contrário do que ocorrem com as
vítimas omissas, que não buscam relatar às autoridades competentes seus direitos
violados, essas cumprem de forma ativa seus papéis de cidadãos, pois sempre que
são violadas em seus direitos, buscam a efetiva reparação judicial.

CONTROLE SOCIAL

Conjunto de mecanismos e sanções sociais que buscam submeter os indivíduos às normas


de convivência social. Liga-se à ideia dos meios que a sociedade pode se utilizar para
obrigar seus membros a adotarem comportamentos condizentes com os valores nela
vigentes (está ligado à ideia de comportamento social dominante). O controle social visa
garantir uma convivência harmônica e pacífica entre os membros da sociedade. A partir do
caráter interdisciplinar da Criminologia, no que tange às sanções, vai estudar, no Direito
Penal, eficácia do sistema de penas.
Zafaroni diz que o controle social se manifesta através da família, educação, medicina,
religião, partidos políticos etc.

 Informal: família, escola, religião;


 Formal: Polícia, MP, Justiça. Sendo esse mais rigoroso que aquele e de conotação
político criminal. Nesse contexto, destaca-se a polícia comunitária, por meio da
qual se entrelaçam as duas formas de controle.

FUNÇÕES DA CRIMINOLOGIA

A função linear da criminologia é informar à sociedade e aos poderes públicos sobre o


crime, o criminoso, a vítima e o controle social, reunindo um núcleo de conhecimentos
seguros que permitam compreender cientificamente o problema criminal, preveni-lo e
intervir com eficácia e de modo positivo no homem criminoso. A função da criminologia é
indicar um diagnóstico qualificado e conjuntural sobre o crime.

Ou seja, a criminologia tem como função: compreender e prevenir o delito, intervir na


pessoa do delinqüente e valorar os diferentes modelos de resposta à criminalidade.

PREVENÇÃO DA INFRAÇÃO PENAL NO ESTADO


DEMOCRÁTICO DE DIREITO

Prevenção do delito: consiste no conjunto de ações destinadas a evitar sua prática.

As medidas indiretas de prevenção atuam sobre as causas dos delitos, têm como alvo o
indivíduo (personalidade, caráter, motivações) e o meio em que ele vive (condições
sociais, políticas públicas etc).

No Estado Democrático de Direito, o interesse maior está em evitar o delito (caráter


prevencionista), e não em puni-lo. E neste aspecto, os estudos dos fatores motivadores e
inibitórios das práticas criminosas são fundamentais.

 Prevenção Primária: Tem como destinatário toda a coletividade, toda a


população e é implementada através de programas focados em neutralizar os
fatores motivadores das práticas delitivas, buscando promover a educação,
melhoria da qualidade de vida, saúde e moradia. Essas políticas públicas visam
concretizar os direitos fundamentais, reduzindo a desigualdade e prevenindo a
prática de crimes. Caráter a longo prazo.
 Prevenção Secundária: Ocorre em momento posterior ao crime ou na sua
iminência. Vai ser implementada em um local ou grupo previamente estudado e
definido, tendo em vista a análise quanto a ocorrências específicas de delito ou de
maior risco de práticas delitivas. Caráter de médio e curto prazo. Tem o foco
voltado para setores determinados mais propensos a sofrer os efeitos da
criminalidade e não em toda a sociedade. Efetiva-se por meio de ações policiais
específicas, programas de apoio, políticas para grupos de riscos ou vulneráveis e
controle de comunicações. Ex: UPP, Projetos sociais.
 Prevenção Terciária: Tem como objeto de incidência os detentos, condenados e a
população carcerária. É focada em programas que evitem a reincidência. É
implementada, por exemplo, através de medidas alternativas como serviços
comunitários e liberdade assistida. Ocorre em momento posterior à prática do
crime. Há quem diga que a prevenção terciária é insuficiente e parcial por não agir
sobre as causas do delito. Cuidado: Não necessariamente o condenado precisa ser
sujeito à pena privativa de liberdade. Ou seja, quem é condenado também à pena
restritiva de direitos está sujeito à prevenção terciária.

DIREITO PENAL, CRIMINOLOGIA E POLÍTICA CRIMINAL

A Criminologia se ocupa do crime quanto um fato que será estudado pelo método causal-
explicativo, ao passo que a Política criminal procura estudar e implementar medidas para
prevenção, controle e repressão do delito, sobre influências de ordem filosófica, ética e
política, sendo o conjunto de procedimentos pelos quais o corpo social organiza as
respostas ao fenômeno criminal. Vai se ater às estratégias e meios de controle social da
criminalidade e se ocupa do crime enquanto valor.

Ex: A decisão de ter ou não pena de morte está ligada à ideia de política criminal

Ex: Quando se fala de medidas específicas de prevenção primária, secundária e terciária


está se falando de criminologia

Sendo assim, uma política criminal eficiente deve estar baseada em estudos criminológicos
bem feitos.

Enquanto a Criminologia se ocupa de aspectos sintomáticos e sociais do delito, o Direito


Penal tem seu foco nas consequências jurídicas do mesmo. O Direito Penal analisa os fatos
humanos e indesejados definindo quais devem ser rotulados como crimes / contravenções
penais e cominando as respectivas penas. Os não selecionados sofrem consequências
extra-penais. Ocupa-se do crime enquanto norma.

 Cuidado: A criminologia não é uma ciência normativa, como é o Direito Penal.

Alguns autores consideram a Política Criminal como um ramo da Criminologia, sobretudo,


quando se trata da prevenção do delito. Ou seja, a criminologia estuda a etiologia (causa) e
a prevenção dos delitos, sendo essa segunda parte a que converge com a Política Criminal.

MODELOS TEÓRICOS DA CRIMINOLOGIA

CRIMINOLOGIA CLÁSSICA

Momento histórico: Séc. XVIII, normas penais caóticas, insegurança jurídica, associação
entre delito e pecado. O crime era um instrumento de manutenção do poder.

Marco Inicial: Cesare Bonesana, o Marquês de Beccaria, “Dos delitos e das penas”, 1764.
Neste livro, Beccaria vai lançar as bases da Criminologia Clássica.

Outros nomes: Benthas, Carrara (já no sec. XIX).

Concepção do homem como um ser livre e racional em busca do prazer, tendo livre
arbítrio. O criminoso, portanto, faz um balanço de benefícios e prejuízos para decidir pela
prática delitiva – eleição racional. Para o modelo teórico clássico, não depende de cor, raça,
etnia ou classe social. Essa ideia permeia a conduta humana como um todo.
Importância da pena, que é a imposição de um mal para prevenir um delito (especial –
impedir a reincidência, temendo a pena da próxima vez, e geral – impedir os demais ao ver
um criminoso sendo punido).

Beccaria “o mais seguro meio de prevenir delitos é aperfeiçoar a educação”.

As penas devem ser racionais e devem haver outros meios de prova que não a tortura.
Característica das sanções para prevenir eficazmente o delito: certeza, rapidez e
severidade com proporcionalidade. Ao invés do empirismo, tem sua metodologia baseada
no raciocínio lógico-dedutivo. Não há empirismo nesse modelo teórico.

CRIMINOLOGIA NEOCLÁSSICA

Diferencia-se do Clássico na medida em que considera o poder dissuasório decorrente do


funcionamento do sistema normativo como um todo e como o delinqüente em potencial
percebe o sistema, não apenas do rigor, rapidez e severidade da pena.

Ou seja, ao passo que o modelo clássico foca apenas na pena, o modelo neoclássico olha
para o sistema como um todo.

CRIMINOLOGIA POSITIVISTA

Marca o início do método científico no estudo do delito (sec. XIX), baseado na observação e
experimentação (empirismo)

Cubi i Soler – Frenologia, a ideia de correlação entre alma e cérebro, correlação entre as
funções e o tamanho das partes do cérebro, correlação entre o crânio e a fisionomia,
“destrutividade”.

Nasce com Guerry e Quetelet (estatística moral.

Auge: Escola positivista italiana: Lombroso, Ferri e Garófalo (Pai da expressão


criminologia).

Fase Antropológica: Cesare Lombroso – “O homem delinqüente” (Marca a adoção do


método científico de estudo do delito no lugar da metodologia lógico-dedutiva”.

Fase Jurídica: Rafael Garófalo

Fase Sociológica: Enrico Ferri – Sociologia Criminal.

O objetivo da criminologia passa a ser o delinqüente. O delito é uma mera abstração


oriunda da lei, um sintoma do delinqüente. Há, portanto, uma predisposição genética para
a prática do delito – determinismo. Não há que se falar em livre arbítrio. O sujeito, nesse
modelo teórico, já nasce criminoso.

A criminologia busca explicar diferenças entre delinqüentes e não delinqüentes a partir


das características.

CRIMINOLOGIA MODERNA
O crime é um problema da sociedade, e não mais um desvio moral ou um defeito congênito
(sai do enfoque individual). Até a vítima e o controle social passam a ser analisados no
enfoque dessa moderna criminologia.

Aqui também há uma ideia de prevenção, ao contrário da ideia de repressão, presente nos
outros modelos teóricos. Aqui, substitui-se “tratamento” por “intervenção”.

Destaca a análise e a avaliação dos modelos de reação ao delito, sem renunciar a uma
análise etiológica do delito (desvio primário).

MODELOS DE REAÇÃO AO CRIME

Modelo Dissuasório (direito penal clássico): repressão por meio da punição ao agente
criminoso, mostrando a todos que o crime não compensa e gera castigo. Aplica-se a pena
somente aos imputáveis e semi-imputáveis, pois aos inimputáveis se dispensa tratamento
psiquiátrico.

Modelo Ressocializador: intervém na vida e na pessoa do infrator, não apenas lhe


aplicando punição, mas também lhe possibilitando a reinserção social. Aqui a participação
da sociedade é relevante para a ressocialização do infrator, prevenindo a ocorrência de
estigmas.

Modelo Integrador (restaurador ou justiça restaurativa): procura restabelecer, da


melhor maneira possível, o status quo ante, visando a reeducação do infrator, a assistência
à vítima e o controle social afetado pelo crime. Gera a restauração, mediante a reparação
do dano causado.

CLASSIFICAÇÃO DAS TEORIAS CRIMINOLÓGICAS

Na tentativa de cumprir as funções da criminologia, foram desenvolvidas diversas teorias


com o objetivo de fornecer uma resposta à questão da violência e criminalidade,
preponderando as explicações etiológicas (causas).

Teorias de nível individual: aborda as causas individuais do crime, podendo ser:

1- Teorias bioantropológicas (ou biológicas): variáveis congênitas, orgânicas, o


criminoso é um ser organicamente diferente dos demais.
2- Teorias Psicológicas: as causas do fenômeno criminal estariam no estado anímico
do indivíduo, nas vivências, no seu subconsciente ou ainda em processos de
aprendizagem e socialização.
3- Teorias Sociológicas: diferem as Teorias de nível individual em razão de
tentarem entender e explicar o crime como fenômeno social sob duas
perspectivas: etiológicas (causas) ou interacionistas (reação social).

As teorias Sociológicas podem se dividir em:

1-Macrossociológicas: Procuram explicar o fenômeno do crime a partir das relações e


interações do indivíduo e a sociedade. Estudam em que medida a sociedade é responsável
pela origem do crime ou formação do delinqüente.
2- Microssociológicas: Há uma abstração mais restrita. É mais empírica, embora não seja
individual. Há um nível de empirismo de estatística muito detalhada. EX: Interacionismo
simbólico.

Vale ressaltar que nem na macro nem na micro se trata o crime como fenômeno
individual, mas sim como fenômeno social.

A partir do questionamento sobre o significado dos valores sociais e o papel deles na


sociedade, tais teorias podem assumir duas vertentes:

 Teoria do Consenso (epidemiológicas ou etiológicas): partem da conclusão que


a finalidade da sociedade é atingida quando as instituições funcionam
perfeitamente, os cidadãos aceitam as regras vigentes e compartilham dessas
regras dominantes. A divergência social entre valores e regras favorece o
surgimento de práticas criminais e o aumento de delinqüentes. O crime seria uma
afronta a esses valores comuns, comprometendo a saúde de determinada
sociedade. São teorias do Consenso: Escola de Chicago; Teoria da Anomia; Teoria
da Subcultura Delinquente; Teoria da Associação Diferencial (Sutherland).
 Teoria do Conflito: Assumem a premissa de que a ordem na sociedade é fundada
na força e na coerção, o que gera um sistema opressor de dominação por alguns e
obediência por outros, o que gera o conflito de classes. É esse sistema que gera o
crime e o criminoso, uma vez que a “ordem social” é imposta por uma minoria, e
não consensual, a resposta, a insurgência ao mesmo seriam as figuras do crime e
do criminoso. O crime não é algo patológico, gera mudanças. São teorias do
conflito: Teoria do Conflito Social Marxista (Teorias Radicais ou Críticas); Teoria
do Conflito Social não Marxista e Teoria do Etiquetamento (Labeling Approach).

Escola de Chicago (Teoria Ecológica do Crime): Surge no Séc XX (Departamento de


Sociologia da Universidade de Chicago, EUA). Passa a atribuir também à Sociedade, e não
apenas ao criminoso as causas do fenômeno criminal – análise do contexto social no qual o
indivíduo está inserido. Grandes cidades: desenvolvimento econômico/industrial X
Periferia: pessoas de diferentes origens (descendentes de eslavos, escravos, irlandeses),
miséria, falta de condições de higiene, locais sem iluminação pública ou urbanismo.
Dificuldade de se adaptar aos valores sociais dominantes. Havia um dificuldade dessas
pessoas da periferia a se adaptarem a esses valores dominantes ditados pelas grandes
cidades. Com isso, houve um aumento do nível de criminalidade. Por isso, é imprescindível
se estudar também o meio e não apenas o indivíduo. A gênese delitiva relacionava-se com
a forma do conglomerado urbano, desordenado, radial. Essa disposição favorecia a
decomposição da solidariedade das estruturas sociais. Dependendo da área que se estuda,
pode-se ter maior incidência de determinado fato criminoso ou de um tipo de delinqüente
específico. A Escola de Chicago dá muita importância à desorganização urbana/social,
considerada fator criminógeno. A Escola de Chicago defende a priorização das ações
preventivas com redução das ações repressivas, mudando a ecologia social para prevenir o
crime. Ações interventivas nas cidades devem ser planejadas, focando em determinados
bairros e setores. Toda a sociedade deve participar nos seus diversos segmentos visando à
prevenção. Trata-se do esforço comum no combate à criminalidade. Origem do
interacionismo simbólico, pois tem um enfoque microssociológico.

Teoria da Anomia (Durkhein): Para esta teoria, o insucesso em atingir as metas


culturais, devido à insuficiência de meios institucionalizados (sistema de normas ), gera
conduta desviante. Desigualdades sociais/ escassez de consumo x Sociedade desigual e de
consumo. Anomia significa ausência de normas. Essa incompatibilidade favorece o
surgimento de uma mentalidade de anomia, uma vez que as pessoas não contempladas
pelos padrões estabelecidos não vão se identificar com as normas sociais vigentes. Menos
favorecidos: trabalho mal remunerado x dinheiro fácil oriundo do tráfico; Empresário
diante do fracasso do sistema em não reverter os tributos para o bem comum: continuar
pagando diariamente a pesada carga tributária x sonegar. O crime é um fenômeno natural
e social e deve ser mantido dentro de um nível aceitável. Assim, o aumento da
criminalidade está diretamente ligado ao descrédito de determinado sistema normativo.
Brasil: discurso da impunidade x aumento da criminalidade e da corrupção nos aparelhos
estatais. Criando o ambiente de anomia, o indivíduo passa a agir de forma criminosa, livre
de regramentos e dos vínculos com a sociedade a que “pertence” (ou o regramento deixa
de existir ou ele não sente mais os seus efeitos), livre da ideia de controle social. Durkhein
compara, no funcionalismo estrutural, a sociedade a organismos vivos, pela ideia de
interdependência dos seus organismos. Durkhein ainda foi base para as obras de Merton
(estruturalista) e Parsons (estratificação social).

Teoria da Subcultura Delinquente: Cultura: conjunto de valores, crenças, tradições,


hábitos compartilhados, transmitidos e aprendidos de geração em geração. Com isso,
dentro de uma mesma sociedade, há uma pluralidade de culturas, como no Brasil. As
diferenças sociais fomentam várias culturas: periferias x bairros nobres. Como espécies de
cultura, temos a subcultura e a contracultura. Subcultura: cultura inserida dentro de outra
cultura. Aceita alguns valores predominantes na Sociedade tradicional, mas marca
sentimentos e valores do seu próprio grupo, não reconhecidos pela maioria. Ex: rappers,
skin heads. Contracultura: Não aceita pacificamente certos valores dominantes, fazendo
verdadeira oposição. Conjunto de valores e comportamentos e comportamentos que
contradizem claramente os valores da sociedade tradicional. Ex: Movimento Hippie. A
teoria da Subcultura Delinquente surgiu nos EUA. Após a 2ª Guerra Mundial, houve a
grande expansão americana, consolidação de famílias de base patriarcal com valores
culturais fundados no protestantismo, na ética, no trabalho: “american dream”. A partir da
década de 50, fração da população, principalmente jovens, não conseguem ter acesso aos
valores estabelecidos. Ex: Negros lutando nos EUA por Direitos Civis, brancos excluídos
etc. Estabelece-se uma crise: “que valores são esses que só servem para parte da
sociedade?”. Indivíduos com as mesmas dificuldades vão se associar em “gangs” nas
periferias das grandes cidades, dando contornos coletivos. Surgimento da subcultura:
aceitam os valores da sociedade, mas não têm acesso aos mesmos. A crítica que se faz a
esta teoria é que ela explica parcialmente a criminalidade, restringindo-se à delinqüência
juvenil. Não possui explicações para a criminalidade genérica, em situações não
relacionadas à subcultura de criminalidade juvenil.

Teoria da Associação Diferencial (Sutherland): Para Sutherland, o delito não pode ser
apenas consequência da inadaptação de pessoas pertencentes às classes menos
favorecidas, pois o crime não é praticado exclusivamente pelos mais pobres. Em bairros
mais abastados, no meio de pessoas que têm acesso à educação, saneamento e lazer,
também são praticados crimes. O crime não está restrito a regiões pobres. Para o autor, o
indivíduo é convertido em criminoso, independentemente da classe social, quando os
valores predominantes no grupo social do qual faz parte se coadunam com o crime. Tal
processo é acentuado quando as considerações favoráveis ao cometimento de ilícitos
superam as desfavoráveis, gerando o aprendizado do crime. Sérgio Salomão elenca alguns
desses fatores: 1- O comportamento criminoso é do meio, e não hereditário; 2- é
aprendido pela comunicação em um processo de imitação (“todos fazem, farei também”)/
3- Quanto maior a proximidade entre as pessoas, maior a influência; 4- Implica no
aprendizado das técnicas para prática do crime; 5- motivação e impulsos: o crime vale a
pena? As pessoas passam, então, a se associar por afinidade de valores, distintos conforme
a espécie de associação, daí o nome “associação diferencial”. Ex: Grupos de políticos, de
empreiteiros, donos de postos de gasolina. A prevalência das definições favoráveis
denotam um conflito cultural, responsável pela associação diferencial. Perda da origem
comum, inexistência de controle social.

Teoria do Conflito Social Marxista (Radicais ou Críticas): Baseada no Marxismo,


vislumbra o delito como um fenômeno proveniente do sistema de produção capitalista. O
delito produz um sistema de controle social (juízes, promotores, advogados, delegados),
beneficiando determinados fatores da economia (empresários) e sendo um estimulo às
forças produtivas. Nega o livre arbítrio, dizendo que o delinqüente é uma vítima do
sistema de produção capitalista. A sociedade capitalista seria a verdadeira produtora da
criminalidade. Muitas condutas tidas como crimes no sistema capitalista sequer
ofenderiam de fato a moral social ou bens jurídicos relevantes, mas assim são definidos em
razão de por em risco o sistema capitalista. O crime está associado, então, à estrutura
política e econômica da sociedade. O rótulo de criminoso decorre do objetivo de servir à
classe dominante, e não em razão da prática de condutas não admitidas pelos valores
sociais como um todo. Quem não se submete ou viola os interesses da classe dominante é
considerado criminoso pelo sistema. O fundamento é que a divisão de classes no sistema
capitalista gera desigualdades e violência que devem ser contidas pela utilização seletiva
da legislação e do sistema penal, na defesa do sistema. A lei penal visa, assim, a uma
estabilidade provisória, servindo de contenção aos confrontos violentos entre classes.

Teoria do Conflito Social não Marxista: Relacionam a criminalidade comas tensões


geradas pela distribuição desigual de poder, na qual uma classe dominante procuraria
dominar a classe dos menos favorecidos. Já nas Marxistas, a causa seria luta entre classes
gerada pelo modo de produção capitalista.

Teoria do Etiquetamento (Labeling Approach ou rotulacionismo, rotulação social,


etiquetagem, teoria interacionista, reação social): (Erving Goffman e Howard
Becker) Nasceu nos EUA, déc. de 60. Parte da premissa de que a intervenção da Justiça na
Esfera criminal ajuda a aumentar a criminalidade. Representa uma mudança de paradigma
na criminologia por não se ocupar com as causas o primeiro crime. O que importa para
essa teoria é o processo de criminalização (foco na reação social), uma vez que, mesmo
após o delinqüente pagar a sua dívida com a sociedade, cumprindo a pena, ele não
consegue retomar a sua vida normalmente, permanecendo estigmatizado. Adota o
interacionismo simbólico: a sociedade se comporta de acordo com símbolos (importa o
que a conduta simboliza). O delinquente permanece estigmatizado, sem chances de
reingresso à vida social. Tendo cometido o primeiro crime, a sociedade o estigmatiza. Ao
sair da prisão, não consegue mais voltar à sua vida normal, recebendo o rótulo de
delinqüente e mudando sua personalidade, jogando-se cada vez mais na criminalidade.
Interação entre crime e reação social. No entanto, o número de condutas criminosas
efetivamente praticadas é muito maior do que o sistema consegue dar resposta. Assim,
muitos cometem crimes, mas só alguns terminam respondendo pela prática delitiva.
Verificando-se a população carcerária, proporcionalmente, há muito mais pobres nas celas
do que pessoas de outras classes. A conclusão é que como não consegue atingir a todos, o
sistema prioriza os menos favorecidos. A criminalidade seria um produto do próprio
controle social e do processo social de interação na medida em que o cárcere termina por
estigmatizar o indivíduo atingido pelo sistema. Essa teoria estuda as pessoas e instituições
que definem a pessoa do desviado e o funcionamento do controle social. Conforme leciona
Baratta: “o status social do delinqüente pressupõe necessariamente o efeito da atividade
das instâncias oficiais de controle social da delinqüência, enquanto não adquire esse status
aquele que, apesar de ter realizado o mesmo comportamento punível, não é alcançado,
todavia, pela ação daquelas instâncias. Portanto, este não é considerado e tratado pela
sociedade como delinqüente”.

CONCEITOS IMPORTANTES

 Criminalidade Legal: É aquela que aparece nas estatísticas criminais oficiais do


governo. Dados consolidados sobre a incidência de roubos, furtos, estupros,
homicídios em determinado período/região, apontando aumento ou diminuição
dos índices. No entanto, os dados das agências oficiais não refletem todas as
ocorrências (falta de registros, vítimas que não vão à DPou falta de abrangência
dos órgãos de Seg. Pública). Dessa realidade, surge o conceito de criminalidade
oculta.
 Cifra Negra: Representa a diferença entre a criminalidade real e a criminalidade
aparente demonstrada em estatísticas sociais.
 Cifra Dourada: Representa a “cifra negra” da criminalidade de colarinho branco.

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