UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CÁLCULO II - PROJETO NEWTON

AULA 07

Assunto:Funções contínuas, derivadas, vetor tangente e reta normal, regra de derivação e

comprimento de curva

Palavras-chaves: continuidade, derivada, reta tangente, comprimento de curva, comprimento

de arco.

Funções contínuas
Sejam α : A ⊂ R −→ Rn e t0 ∈ Dα . A função α é contínua em t0 se lim α(t) = α(t0 ).
t→t0

Intuitivamente, α é contínua em t0 se a trajetória de α, em uma vizinhança de α(t0 ), é uma linha contínua

(sem interrupção).

Dizemos que α é contínua em B ⊂ Dα se α é contínua em todos os elementos de B.

Quando α é contínua m Dα , dizemos, simplesmente, que α é contínua.

Proposição 1 Sejam α(t) = (x1 (t), x2 (t), ..., xn (t)) uma curva em Rn e t0 ∈ R. Então

α é contínua em t0 ⇔ xi é contínua em t0 , i = 1, 2, .., n.

Demonstração:
 α é contínua em t0
m
lim α(t) = α(t0 )
t→t0
m
lim (x1 (t), x2 (t), ..., xn (t)) = (x1 (t0 ), x2 (t0 ), ..., xn (t0 ))
t→t0
m
 
lim x1 (t), lim x2 (t), ..., lim xn (t) = (x1 (t0 ), x2 (t0 ), ..., xn (t0 ))
t→t0 t→t0 t→t0

m
lim x1 (t) = x1 (t0 ), lim x2 (t) = x2 (t0 ), ..., lim xn (t) = xn (t0 )
t→t0 t→t0 t→t0
m
x1 , x2 , ..., xn são contínuas em t0

Exemplo 1 α(t) = (cos t, sin t, t) é contínua, pois

x(t) = cos t y(t) = sin t z(t) = t

são contínuas.

Exemplo 2 Consideremos a função

(
−1 se t < 0
f (t) =
1 se t ≥ 0

A curva α(t) = (f (t), t, t2 ), Dα = R, não é contínua em t = 0, pois x(t) = f (t) não é contínua em t = 0.
Observamos que y(t) = t e z(t) = t2 são contínuas em t = 0.
 
|t|
Exemplo 3 A curva β(t) = , t, t2 , Dβ = R − {0}, é contínua, pois é contínua em todos os pontos de
t
seu domínio.

Derivada de funções de uma variável real a valores em Rn

Sejam α : A ⊂ R −→ Rn uma função e t0 ∈ Dα . A derivada de α em t0 é denida por

α(t) − α(t0 )
α0 (t0 ) = lim
t→t0 t − t0

quando esse limite existe.

2
 α(t) − α(t0 ) 1
Obs: = (α(t) − α(t0 )).
t − t0 t − t0

Quando a derivada existe, dizemos que a função α é derivável ou diferenciável em t0 . Temos, então, que

α(t) = (x1 (t), x2 (t), ..., xn (t))

α(t0 ) = (x1 (t0 ), x2 (t0 ), ..., xn (t0 ))
α(t) − α(t0 ) = (x1 (t) − x1 (t0 ), x2 (t) − x2 (t0 ), ..., xn (t) − xn (t0 ))

Portanto,

1
α0 (t0 ) = lim (α(t) − α(t0 ))
t − t0
t→t0
1
= lim (x1 (t) − x1 (t0 ), x2 (t) − x2 (t0 ), ..., xn (t) − xn (t0 ))
t→t0 t − t0
 
x1 (t) − x1 (t0 ) x2 (t) − x2 (t0 ) xn (t) − xn (t0 )
= lim , , ...,
t→t0 t − t0 t − t0 t − t0
 
x1 (t) − x1 (t0 ) x2 (t) − x2 (t0 ) xn (t) − xn (t0 )
= lim , lim , ..., lim
t→t0 t − t0 t→t0 t − t0 t→t0 t − t0
0 0 0
= (x1 (t0 ), x2 (t0 ), ..., xn (t0 ))

Logo, se α(t) = (x1 (t), x2 (t), ..., xn (t)), então

α(t0 ) = (x01 (t0 ), x02 (t0 ), ..., x0n (t0 ))

Exemplo 4 Calcule a derivada da função α(t) no ponto indicado

(a) α(t) = (t, t2 ),α0 (2)

 
t π
(b) α(t) = cos t, sin t, , α0
4 2

Resolução:

(a)
α(t) = (t, t2 )
α0 (t) = (1, 2t)
0
α (2) = (1, 2.2) ⇒ α0 (2) = (1, 4)

(b)
 
t
α(t) = cos t, sin t,
4
 
0 1
α (t) = − sin t, cos t,
4
π      
0 π π 1 0 π 1
α = − sin , cos , ⇒α = −1, 0,
2 2 2 4 2 4

3
Interpretação gráca da derivada
Sejam α : A ⊂ R −→ Rn e t0 um ponto de A. Temos que

1
α0 (t0 ) = lim (α(t) − α(t0 ))
t→t0 t − t0

1
(α(t1 ) − α(t0 ))
t1 − t0
1
(α(t2 ) − α(t0 ))
t2 − t0
1
(α(t3 ) − α(t0 ))
t3 − t0
..
.
1
lim (α(t) − α(t0 ))
t→t0 t − t0

Portanto, α0 (t0 ) é um vetor tangente à trajetória da curva no ponto α(t0 ).

Por essa razão, vamos chamar α0 (t0 ) de vetor tangente a α(t) no ponto α(t0 ).

Exemplo 5 Calcule e represente gracamente os vetores tangentes indicados

(a) α(t) = (t, t2 ), α0 (0) e α0 (1)

π
(b) α(t) = (cos t, sin t), α0 (0) e α0
4
 
t π
(c) α(t) = cos t, sin t, , α0
4 2

Resolução:

4
(a)
α0 (t) = (1, 2t)
α0 (0) = (1, 0)
0
α (1) = (1, 2)

(b)
α0 (t) = (− sin t, cos t)
0
α (0) = (0, 1)
√ √ !
π − 2 2
α0 = ,
4 2 2

(c)
 
0 1
α (t) = − sin t, cos t,
4
 
0 π 1
 
α = −1, 0,
2 4

5
 Dados α : A ⊂ R −→ Rn e t0 ∈ A. A reta que passa pelo ponto α(t0 ) e tem a direção do vetor α0 (t0 ) é
chamado de reta tangente a α em α(t0 ).

A equação vetorial dessa reta é dada por

X = α(t0 ) + λα0 (t0 ), λ∈R

em que X = (x1 , x2 , ..., xn ).

 
t π
Exemplo 6 Determine equações da reta tangente a α(t) = cos t, sin t, no ponto α .
4 2

Resolução:

6
 π  π π  1

α = 0, 1, e α0 = −1, 0, .
2 8 2 4

Equação da reta tangente

π π
(x, y, z) = α + λα0
2 2 
 π 1
= 0, 1, + λ −1, 0,
8 4
 
π λ
= −λ, 1, +
8 4

Equações paramétricas


 x = −λ

y = 1

 z π λ
= +

8 4

Proposição 2 α derivável em t0 ⇒ α é contínua em t0

Regras de derivação
Sejam α, β : A ⊂ R −→ Rn e f : A −→ R funções deriváveis. Temos que,

1. (α + β)0 (t) = α0 (t) + β 0 (t)

2. (f.α)0 (t) = f 0 (t)α(t) + f (t)α0 (t)
3. (α.β)0 (t) = α0 (t).β(t) + α(t).β 0 (t)
4. (α × β)0 (t) = α0 (t) × β(t) + α(t) × β 0 (t)

A demonstração dessas propriedades é muito simples e pode ser feita considerando-se as componentes das
funções α e β . A título de exemplo, mostremos (3).
Sejam α(t) = (x1 (t), x2 (t), ..., xn (t)) e β(t) = (y1 (t), y2 (t), ..., yn (t)). Assim, teremos que

α(t).β(t) = x1 (t)y1 (t) + x2 (t)y2 (t) + ... + xn (t)yn (t)

Portanto,

[α(t).β(t)]0 = [x1 (t)y1 (t) + x2 (t)y2 (t) + ... + xn (t)yn (t)]0

= x01 (t)y1 (t) + x1 (t)y10 (t) + x02 (t)y2 (t) + x2 (t)y20 (t)... + x0n (t)yn (t) + xn (t)yn0 (t)
= (x01 (t)y1 (t) + x02 (t)y2 (t) + ... + x0n (t)yn (t)) + (x1 (t)y10 (t) + x2 (t)y20 (t) + ... + xn (t)yn0 (t))
= (x01 (t), x02 (t), ..., x0n (t)).(y1 (t), y2 (t), ..., yn (t)) + (x1 (t), x2 (t), ..., xn (t)).(y10 (t), y20 (t), ..., yn0 (t))
= α0 (t).β(t) + α(t).β 0 (t)

7
Comprimento de curva
Sejam [a, b] um intervalo com a < b e α : [a, b] −→ Rn uma curva derivável com α0 contínua.

Queremos calcular o comprimento da trajetória de α(a) até α(b).

Vamos ver uma motivação para tal comprimento considerando o caso em que n = 2.

Seja a = t0 < t1 < t2 < ... < tn = b uma partição do intervalo [a, b]. O comprimento da poligonal com
vértices α(t0 ), α(t1 ), ..., α(tn ) é dado por

n
X
||α(ti ) − α(ti−1 )||
i=1

Sejam x, y : [a, b] −→ R as funções componentes de α. Logo,

α(t) = (x(t), y(t))

Assim,

8
 α(ti ) − α(ti−1 ) = (x(ti ), y(ti )) − (x(ti−1 ), y(ti−1 ))
= (x(ti ) − x(ti−1 ), y(ti ) − y(ti−1 ))

Portanto,

p
||α(ti ) − α(ti−1 )|| = (x(ti ) − x(ti−1 ))2 + (y(ti ) − y(ti−1 ))2

Pelo teorema do valor médio, existem ci e di entre ti−1 e ti , tais que

x(ti ) − x(ti−1 ) = x0 (ci )(ti − ti−1 )

y(ti ) − y(ti−1 ) = y 0 (di )(ti − ti−1 )

Escrevendo ∆ti = ti − ti−1 , temos

x(ti ) − x(ti−1 ) = x0 (ci )∆ti

y(ti ) − y(ti−1 ) = y 0 (di )∆ti

Portanto,

p
||α(ti ) − α(ti−1 )|| = [x0 (ci )∆ti ]2 + [y 0 (di )∆ti ]2
p
= [x0 (ci )]2 + [y 0 (di )]2 ∆ti

Fazendo máx∆ti → 0, os pontos ci e di estão muito próximos e como y 0 é uma função contínua, temos que
y (ci ) ≈ y(di ). Logo
0

p
||α(ti ) − α(ti−1 )|| ≈ [x0 (ci )]2 + [y 0 (di )]2 ∆ti = ||α0 (ci )∆ti ||

Assim,

||α(ti ) − α(ti−1 )|| ≈ ||α0 (ci )∆ti ||

n
X n
X
||α(ti ) − α(ti−1 )|| ≈ ||α0 (ci )∆ti ||
i=1 i=1

é possível mostrar que "passando o limite quando máx∆ti → 0", obtemos

n
X n
X Z b
lim ||α(ti ) − α(ti−1 )|| = lim ||α0 (ci )∆ti || = ||α0 (t)|| dt
máx∆ti →0 i=1 máx∆ti →0 i=1 a

9
 Assim, o comprimento da curva que vamos denotar por (γ), é dado por essa integral, isto é,

Z b
(γ) = ||α0 (t)|| dt
a

Obs: Essa fórmula também é válida para α : [a, b] −→ Rn , com n > 2.

Exemplo 7 (1,pág 769) Calcule o comprimento do arco da hélice circular de equação α(t) = (cos t, sin t, t) do
ponto (1, 0, 0) até o ponto (1, 0, 2π).

Resolução:

Temos que

α(0) = (1, 0, 0) e α(2π) = (1, 0, 2π)

Portanto,

Z 2π
||α0 (t)|| dt
0

Temos também que

α0 (t) = (− sin t, cos t, 1)

p
||α0 (t)|| = (− sin t)2 + (cos t)2 + 1
p
= sin2 t + cos2 t + 1
√
= 2

Portanto,

 2π
Z 2π √ √ Z 2π √ √
L(γ) = 2 dt = 2 dt = 2 t = 2 2π
0 0 0

Exemplo 8 Calcule o comprimento da parábola α(t) = (t, t2 ) para t ∈ [0, 2].

Resolução:

10
Temos,então,que

Z 2
L(γ) = ||α0 (t)|| dt
0

α0 (t) = (1, 2t)

Logo,

p p
||α0 (t)|| = 1 + (2t)2 = 1 + 4t2

O que implica que

Z 2 p
L(γ) = 1 + 4t2 dt
0

1
Fazendo t = tan θ obteremos θ = arctan(2t). Assim,
2

1
dt = sec2 θ dθ
2
t = 2 ⇒ θ = arctan 4
t = 0⇒θ=0

Portanto,

11
 Z arctan 4
r
1 1
L(γ) = 1 + 4. tan2 θ sec2 θ dθ
0 4 2
1 arctan 4 p
Z
= 1 + tan2 θ sec2 θ dθ
2 0
1 arctan 4 √ 2
Z
= sec sec2 θ dθ
2 0
1 arctan 4 3
Z
= sec θ dθ
2 0
 arctan 4
11
= sec θ tan θ + ln | sec θ + tan θ|
22 0
 
1
= sec(arctan 4) tan(arctan 4) + ln | sec arctan 4 + tan arctan 4|
4
1 hp p i
= 1 + 42 .4 + ln | 1 + 42 + 4|
4
1h √ √ i
= 4 17 + ln( 17 + 4)
4
√ 1 √
= 17 + ln( 17 + 4)
4

12