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Com esta monografia pretendi investigar a hipótese de utilizar a lógica de defaults de Reiter
como linguagem lógica apta a ser base de uma representação de conhecimento da legislação
por meio da formalização de um fragmento do Código Civil de 2002. Elegi como marco
teórico o trabalho do lógico canadense Raymond Reiter, que iniciou uma tradição do uso de
defaults na pesquisa sobre inteligência artificial simbólica. Como o objetivo de Reiter era
capturar um aspecto geral do raciocínio humano, apoiei-me no trabalho de Henry Prakken
para estabelecer a ligação entre raciocínio default e o mundo do direito. A pesquisa foi focada
estritamente no método bibliográfico, em que foi estudada a bibliografia sobre lógica e
representação do conhecimento. Pretendi traduzir um fragmento do Código Civil de 2002,
mais precisamente seus oito primeiros artigos, bem como seus respectivos incisos e
parágrafos, para a linguagem da lógica de defaults. O trabalho aborda preliminarmente certos
argumentos contra a utilização da lógica para se estudar o direito, e depois apresenta uma
linguagem de primeira ordem LPO, esquematiza o funcionamento formal dos defaults e
desenvolve a Teoria CC8, o produto da tradução lógica acima referida. Por fim, o trabalho
conclui que a lógica de defaults de Reiter por si só é incapaz de lidar com o objeto de estudo
proposto, mas que seu estudo pode oferecer insights para pesquisas posteriores no campo.
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Palavras-chave: Inteligência Artificial & direito, lógica não-monotônica, lógica jurídica,
inteligência artificial simbólica, lógica de defaults.
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SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO 7
1. DESFAZENDO A NÉVOA: O QUE FORMALIZAR NÃO É 10
1.1. A lógica moderna não é silogística 10
1.1.1. O que é o silogismo? 11
1.2. ‘Formalizar é definir completamente e não deixar espaço para a interpretação judicial’15
1.3. Considerações finais 19
2. REPRESENTAÇÃO DE CONHECIMENTO E LÓGICA DE DEFAULTS 21
2.1. O que é uma lógica? O que é a representação de conhecimento? 21
2.1.1. Apresentando a linguagem LPO 23
2.2. A lógica de defaults 31
2.2.1.: Os defaults 33
3. A TEORIA CC8 40
3.1. Defaults da Teoria CC8 41
4. ANÁLISE DA TEORIA CC8 46
4.1 Semelhança estrutural 46
4.2. Modularidade 48
4.3. Exclusividade da especificação 48
4.4. Implementação 49
4.5. Expressividade 50
5. CONCLUSÃO 52
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INTRODUÇÃO
Apesar de ter sido apresentada como sendo uma cena imaginária, ela é mais real e
imediata do que se pode imaginar. Já presenciei cenas semelhantes desde que comecei a me
interessar pelo estudo do direito através da lógica. Pouquíssimas foram as situações em que
qualquer fala sobre automatização de decisões jurídicas, modelização do raciocínio jurídico
através da lógica, conexões filosóficas entre lógica e direito, verificação de consistência
lógica de textos normativos (entre outros temas) não resultaram em um antagonismo prévio,
uma rejeição de plano da própria possibilidade de se estudar o fenômeno jurídico através da
lógica matemática. Curiosamente, este embaraço nunca ocorreu enquanto eu conversava com
lógicos ou com cientistas da computação. A aproximação entre suas disciplinas e outras
(como a do direito) lhes parece tão natural que não deixa espaço para que se forme um
ceticismo apriorístico.
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analisar os resultados de se utilizar uma lógica default como linguagem formal na qual se
traduzirão enunciados jurídicos. A conclusão consistirá em apontamentos de acertos e de
dificuldades em criar um sistema de representação de conhecimento baseado na lógica default
de Reiter.
O trabalho tem dois marcos teóricos bem definidos: a) o paper ‘A Logic for Default
Reasoning’ do lógico canadense Raymond Reiter e b) os escritos de Henry Prakken sobre
lógica e direito. A escolha da lógica de Reiter não foi aleatória. O autor, que escrevia sobre
Inteligência Artificial em geral, preocupava-se com um aspecto do raciocínio humano: o fato
de que muitas vezes trabalhos com crenças derrotáveis. Isso quer dizer o seguinte: muitas
vezes supomos que uma determinada proposição é verdadeira, mas estamos dispostos à
retratá-la caso alguma evidência aponte o contrário. Isto pode se traduzir do seguinte modo:
tendo em mãos um conjunto de premissas Δ podemos, através de um conjunto de regras de
inferência F, chegar a uma certa conclusão P.1 No entanto, caso nosso conjunto de premissas
Δ seja enriquecido por premissas adicionais, como um conjunto Γ de novas premissas2, nossa
conclusão P poderia ser retraída diante dessas novas informações. Esse aspecto da lógica de
defaults em que partimos de generalizações que podem ser derrotadas por exceções parece ser
bastante apropriada para o direito. Nessa esteira entra o trabalho de Henry Prakken, que vem
explorando o uso de lógicas não-monotônicas (e a lógica de defaults é essencialmente não-
monotônica (REITER, 1980, p. 81) ) para modelar o raciocínio jurídico e representação de
conhecimento legal. Parto então da hipótese de que um modelo do direito deve operar de
maneira não-monotônica e realizo o estudo da lógica de defaults como passível de capturar o
modo como juristas lidam com a legislação.
O estudo terá a seguinte estrutura: o primeiro capítulo será dedicado a enfrentar alguns
questionamentos que, caso fossem verdadeiros, apresentariam dificuldades à própria
possibilidade de se utilizar uma linguagem lógica para criar um modelo de representação de
conhecimento para o direito. O segundo capítulo será composto por duas explicações. A
primeira delas servirá para definir o que se entende por uma linguagem lógica; a segunda será
uma apresentação da lógica de defaults e uma definição formal do que significa dizer que uma
lógica é não-monotônica. No terceiro capítulo haverá a construção da teoria CC8, baseada nos
Estudar lógica e direito no cenário acadêmico nacional não é tarefa fácil. Excetuando-se
alguns polos de pesquisa — como o grupo de pesquisa da Universidade de São Paulo,
liderado por Juliano Maranhão, e o da Universidade Federal do Paraná, liderado por César
Serbena — houve pouca penetração do tema nas faculdades de direito brasileiras. Esse fato
revela-se nas referências bibliográficas desse estudo, que são em sua maioria oriundas de
publicações internacionais escritas em inglês. Nesse sentido, o presente estudo também tem o
objetivo mais geral de ser uma adição ao acervo bibliográfico em língua portuguesa sobre
lógica e direito. É importante que sejam feitos esforços para produzir conteúdo acessível
sobre lógica e direito. Irei prezar, sobretudo, pela acessibilidade. O assunto será tratado de
modo compreensível, escrito em uma linguagem concisa e direta — sem floreios —, ainda
que tecnicamente precisa e séria.
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1. DESFAZENDO A NÉVOA: O QUE FORMALIZAR NÃO É
1.1. A lógica moderna não é silogística
A asserção que dá nome a esta seção poderia ser considerada trivial em círculos que
lidam diretamente com a lógica simbólica moderna. No entanto, entendo ser necessário
dedicar todo uma seção deste trabalho à esta questão para afastar certas pré-concepções do
que viria a ser um modelo lógico do raciocínio jurídico, objeto de estudo desta pesquisa. Este
tópico não lida com a questão maior sobre a lógica simbólica moderna ser ou não ser
aristotélica; a discussão proposta diz respeito tão somente a saber se a utilização da lógica
como ferramenta de construção de um modelo jurídico pode ser reduzida à aplicação de
silogismos.
É comum nos depararmos com formulações informais do que seria o silogismo jurídico
clássico: tem-se uma premissa maior, que seria o texto normativo; uma premissa menor que é
preenchida com as nuances do caso concreto; e, através da concatenação entre termos
maiores, médios e menores, uma conclusão logicamente necessária seria alcançada.
(STONE, 2004, p.56) Esta noção de silogismo jurídico é tão difundida na literatura que é
provável que seja fonte de ao menos dois mal-entendidos quando se fala em formalização do
direito.
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utilizadas por pesquisadores da área de lógica. Assim, deve ficar claro que as investigações
entre direito e lógica prescindem de qualquer menção ou uso da doutrina do silogismo.
3 Em outra tradução, a mesma passagem lê: “A syllogism is an argument in which certain things being posited,
something other than what was laid down results by necessity because these things are so. By ‘because these
things are so’ I mean that it results through these, and by ‘resulting through these’ I mean that no term is required
from outside for the necessity to come about.” (Aristóteles, p. 2, 2009)
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predicado à palavra ‘Sócrates’ na premissa menor; e que ‘mortal’ predica ‘Sócrates’ na
conclusão. ‘Homem’, ‘mortal’ e ‘Sócrates’ seriam os termos, as coisas a serem predicadas e a
predicarem. No entanto, esta construção está errada. Segundo Aristóteles, “De tudo quanto há,
temos coisas que são de uma natureza tal que não podem ser afirmadas universalmente de
outra coisa, por exemplo, ‘Cléon’ e ‘Cálias’ […]”. (ARISTÓTELES, 1986, p. 102) É fácil
perceber que o nome próprio ’Sócrates’, assim como ‘Cléon’ e ‘Cálias’, jamais poderia fazer
parte de um silogismo, posto que é um termo que designa um particular e que, portanto, na
visão aristotélica não poderia servir de predicado a outra coisa.4 (BOCHENSKI, 1961, p.58)
(PATZIG, 1968, p. 4) Este tipo de restrição não existe na lógica clássica5.
Esta fórmula bem formada, correta do ponto de vista do cálculo de predicados, não
poderia ser construída silogisticamente pelo emprego errôneo de um termo individual.6 Diante
do exposto, pode-se fazer uma pergunta: como poderia o silogismo aristotélico tocar um caso
concreto jurídico se não se pode utilizar nomes próprios, justamente a construção linguística
que designa sujeitos de direito (pessoa física ou jurídica)? Este é um primeiro obstáculo ao
4Devo meu primeiro contato com esta observação sobre os termos de um silogismo ao professor Torquato
Castro Jr., que sempre tem o cuidado de fazê-la em suas aulas.
5Trabalho aqui com a noção de lógica clássica como encontrado em (HAACK, p. 28, 2002). Desta forma, tanto
o cálculo proposicional (cálculo sentencial) quanto a lógica de primeira ordem (cálculo de predicados; FOL) são
chamadas de ‘lógicas clássicas’.
6 Para mais informações sobre a rejeição de Aristóteles pelos nomes próprios e elementos singulares, v.
(ŁUKASIEWICZ, 1957, pp. 5-7)
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uso do silogismo como ferramenta de investigação do mundo jurídico; um obstáculo que não
existe na lógica simbólica moderna.
Matematicamente, uma relação reflexiva é definida como sendo uma relação binária em
um conjunto, para o qual cada elemento deste conjunto está em relação consigo mesmo.
Formalmente, a definição dada é esta: uma relação é reflexiva se para todo x ∈ A temos que
xRx. (SCHEINERMAN, 2013, p. 75) Onde ‘A’ é um conjunto e ‘R’ é uma relação binária.7
Esta limitação dos silogismos impediria a construção de uma consequência lógica do tipo A ⊨
A, que diz que é válido inferir uma coisa a partir dela mesma. Note que nesta construção
básica não há nada sendo predicado de nada, e há apenas uma premissa; três regras de
construção de silogismos foram quebradas em uma relação de validade que, do ponto de vista
da lógica clássica, a construção está absolutamente correta. Apesar de este ponto parecer um
tecnicismo, a propriedade de reflexividade é comumente tida como um dos princípios centrais
das lógicas não-monotônicas (STRASSER & ANTONELLI, 2015), o que a torna relevante no
presente trabalho.
7 Para maior clareza, alguns exemplos de relações reflexivas são as de igualdade e a de ser divisor. Todo número
é igual a si, e todo número é divisível por si próprio.
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Pode-se também analisar o status dos quantificadores e dos conectivos lógicos,
presentes na lógica moderna, na doutrina do silogismo. Anteriormente, fiz a tradução de um
pretenso silogismo — que, como vimos, não está de acordo com as regras de construção
silogística — para a linguagem da lógica de primeira ordem (FOL). Tratou-se, claro, de um
anacronismo, uma visão moderna de como se expressar um silogismo. Aristóteles, no
Analíticos Primeiros, não chega a esboçar de fato uma linguagem formal. Seu único passo em
direção a uma formalização é o uso de letras como substitutos para termos, os outros
elementos que compõem as proposições, a ligação entre proposições e a conclusão do
silogismos são expressos em linguagem natural. Outro ponto interessante é que toda
proposição é expressa em termos de “A é predicado de todo B”; “A não é predicado de algum
B”; “A é predicado de algum B”; e “A não pertence a algum B”. Do ponto de vista de um
lógico moderno, poderia parecer que Aristóteles tinha em mente o que hoje entendemos como
sendo os quantificadores lógicos, o quantificador universal ‘∀’ e o quantificador existencial
‘∃’, bem como o conectivo de negação ‘¬’. No entanto, esta é uma interpretação moderna de
como os silogismos são construídos. (BÉZIAU, 2016) Segundo (ŁUKASIEWICZ, 1957, pp.
83-84), Aristóteles não tinha uma ideia clara dos quantificadores lógicos, e não os utilizou em
seus trabalhos. A ideia de “A ser predicado de todo B”, por exemplo, parece ser melhor
capturada pela noção de que B ⊆ A (de que B é um subconjunto próprio de A); não como uma
quantificação universal do tipo ∀x(Bx → Ax), que além de ter o uso do quantificador
universal como necessário, também tem que contar com a presença do conectivo de
implicação material. (BÉZIAU, 2016)
É importante que eu lembre ao leitor que não pretendi, ao longo desta seção, fazer
pouco ou de maneira alguma deprecar o trabalho empreendido por Aristóteles, que é, sem
dúvidas, o criador da disciplina. Meu intuito foi o de demonstrar, através do contraste entre a
silogística aristotélica e as técnicas de formalização da lógica clássica (não usei um
vocabulário lógico que tenha ultrapassado a lógica de Frege, em sua obra Conceitografia, de
1879) diferenças de ordem sintática que provam cabalmente a impropriedade em se achar que
formalizar o direito através da lógica implicaria em uma utilização da silogística. Também foi
proposital o fato de eu ter usado um vocabulário lógico disponível já no fim do século XIX. A
lógica, de fato, progrediu ao longo de todo o século XX e começo do século XXI. Houve a
criação de extensões da lógica clássica, de novas lógicas não-clássicas e de todo um aparato
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matemático e formal para aumentar a expressividade das linguagens lógicas e acomodar
discussões sobre lógica e computabilidade (aqui no sentido de Turing-computável). Não se
pode imaginar que, diante de todo esse progresso, apenas as ferramentas da silogística
estariam disponíveis aos lógicos modernos para empreender trabalhos de formalização. Desta
forma, a batida expressão “silogismo jurídico” não diz respeito nem ao silogismo aristotélico,
nem às modernas técnicas de formalização da lógica moderna. É um erro partir da ideia de
silogismo jurídico como algo verdadeiramente relevante para a discussão aqui posta. Tal
conceito não tem nenhum base formal, não lida com as relações lógicas, não se preocupa com
sintaxe, não nos dá uma semântica, nem nos fornece regras de inferência válidas e/ou axiomas
a serem levados em consideração. Não há qualquer compromisso direto entre a ideia de usar a
lógica como ferramenta para a criação de um modelo legal e algum ideal “iluminista” de
silogismo jurídico.
Algumas vezes argumenta-se que dar uma formalização lógica de textos normativos
seria uma tentativa de dar uma definição completa de todos os conceitos jurídicos.
(PRAKKEN, p. 16, 1997) Posto de outra forma, alguns críticos dizem que em uma
formalização simbólica a linguagem geral e abstrata dos enunciados jurídicos se tornaria
específica; e que dessa maneira o grupo de lógicos responsável por conduzir a formalização
daria sua própria interpretação aos enunciados normativos. e que não sobraria espaço para a
interpretação jurídica por parte do juiz, já que a interpretação ficaria à cargo da máquina
responsável por computar as inferências lógicas. Posso chamar de fraca a objeção que ataca a
formalização porque esta seria uma tentativa de negar à linguagem a propriedade de textura
aberta (HART, p. 137, 2007); e de fraquíssima a objeção fundada na ideia de que haveria
alguma pretensão de automatização total no processo de decisão judicial através de uma
formalização computável.
Seguindo a ordem de apresentação das críticas, lidarei primeiro com a objeção fraca.
Devo conceder que, caso a crítica fosse procedente, o projeto de formalização teria que lidar
com dois sérios problemas: o primeiro seria o de capturar em sua totalidade o significado de
todos os conceitos jurídicos e, na impossibilidade de realizar tal captura, decidir exatamente a
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extensão de cada um dos conceitos jurídicos a serem formalizados. Felizmente, nenhum dos
dois problemas precisa ser enfrentado.
(PRAKKEN, 1997, pp. 16-17) pede que seja considerada uma determinada norma que
impede a entrada de veículos em um parque. Tal norma poderia ser formalizada da seguinte
maneira:
• (v → ¬p)
• (c → v)
• (m → v)
• (¬c ∧ ¬m) → ¬v
Mantidas as respectivas interpretações de cada uma das letras sentenciais, teríamos que
se um objeto não é um carro, e não é uma motocicleta, então o objeto não é um veículo. Essa
“cláusula de fechamento de conceito”, iria dizer que as únicas coisas que estão na extensão do
conceito de veículo são carros e motocicletas. É evidente que isso em nada nos ajudaria em
mais uma variedade de casos, pois como eu poderia criar uma definição que determinasse a
extensão dos conceitos de motocicleta e carro? Com efeito, caso os lógicos necessitassem
empreender este esforço de definição, virariam Sísifos modernos, teriam caído em um
problema de regressão infinita. Definições no mundo jurídico têm a péssima característica de
empurrar o problema da definição para os termos em que um determinado conceito foi
definido. (FINKELSTEIN, 2010, pp. 651-652)
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No entanto, nada disso tem qualquer relevância crítica contra o projeto de formalização.
No primeiro caso, o da definição de um determinado conceito de veículo, o lógico buscaria
transformar em linguagem formal apenas aquilo que aparece na legislação. Ou seja, a
definição dada a este ou aquele conceito jurídico cabe apenas ao legislador, e esta definição é
a que deve ser formalizada. Para (PRAKKEN, 1997, p. 17), a validade de uma “cláusula de
fechamento de conceito” não depende da formalização:
Que uma fórmula como a (4) seja verdadeira depende completamente em como a norma é
formulada pelo legislador ou interpretada pelo judiciário; ela não se torna verdadeira por
causa da formalização lógica. Isto mostra que um conceito formalizado ainda pode ser
parcialmente indefinido em um mundo ‘lógico’8
Perelman, como expoente de uma abordagem retórica do direito (sua “nova retórica”)
utiliza a expressão “lógica jurídica” não com qualquer conotação referente a aplicações do
campo da lógica ao direito. Pergunta (PERELMAN, 2000, p.5) se “deveríamos inclinar-nos ao
uso [da expressão “lógica jurídica”] dos lógicos ou ater-nos ao dos juristas que sabem muito
bem do que se trata quando falam de lógica jurídica?” Em sua concepção, “lógica jurídica” se
relaciona mais com a noção mais vaga de como os juristas lidam com seus problemas. Sua
rejeição da utilidade da lógica na representação do direito o levou a formular um argumento
que tem, em seu núcleo, a objeção fraca.
Em (PERELMAN, 1990, pp. 636-648)9, o autor belga argumenta que em alguns casos é
necessário que seja feito um escrutínio da “intenção do legislador” para que seja possível
realizar uma formalização lógica da legislação.
Este tipo de crítica explica, sem dúvidas, o que leva os juristas à levantarem a objeção
fraquíssima.
O caso da bicicleta, apesar de ser bastante simples, ilustra como funcionaria na prática
um sistema de automatização de decisões jurídicas. Parece-me também que esta linha de
ataque faz parecer com que os lógicos do direito neguem o papel primordial da argumentação
e das estratégias de persuasão e convencimento empregadas por advogados. Nada mais longe
da verdade, já que a própria comunidade de inteligência artificial e direito reconhece que na
prática jurídica a argumentação tem papel central. (PRAKKEN & SARTOR, 2015, p. 16)
12 No original, “structural resemblance”. Este conceito será abordado com mais profundidade no capítulo
seguinte.
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investigação prática e teórica não é total, e que há pesquisas que navegam pelos dois lados.
No entanto, acredito que essa divisão seja bastante didática e que ela demonstre a necessidade
de se qualificar melhor exatamente o que se pretende criticar quando se fala em uso da lógica.
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2. REPRESENTAÇÃO DE CONHECIMENTO E LÓGICA DE DEFAULTS
Neste capítulo trato de definir o que deve ser entendido pelo vocábulo ‘lógica’.
Apresento as características formais que devem ser encontradas em uma linguagem formal
para que esta seja considerada uma linguagem lógica. Trato, em seguida, de apresentar as
regras sintáticas e semânticas que nos permitem construir fórmulas bem formadas para uma
lógica de primeira ordem. Será feita uma breve explicação acerca do funcionamento das
constantes lógicas, dos quantificadores lógicos, dos símbolos de predicados, das variáveis e
das constantes individuais. Apresento, posteriormente, a noção de consequência lógica
(semântica); seguida da definição e exposição da lógica de defaults de Reiter e da
contraposição entre consequência lógica monotônica e consequência lógica não-monotônica.
No primeiro capítulo deste trabalho apontei algumas confusões que ocorrem quando
falamos sobre a lógica sem ter em mente uma definição precisa do que é a lógica. Nossas
intuições sobre o que é uma lógica podem ser usadas para criar metáforas, figuras de
linguagem e outros artifícios importantes para narrativas literárias ou conversas informais. No
entanto, a única maneira de falar cientificamente sobre lógica é tendo em mente precisamente
quais são os componentes de uma linguagem lógica. O leitor deve estar preparado para
trabalhar com definições precisas, que não admitem traços de ambiguidade. Para atingir tal
meta, faz-se necessário do uso de notação matemática. Quando necessário, darei uma
explicação sobre o significado dos símbolos matemáticos e incluirei o modo como se deve ler
por extenso certos símbolos. Antes de responder à pergunta ‘O que é uma linguagem lógica?’
faço a ressalva de que não pretendo, obviamente, tentar resolver problemas filosóficos acerca
da natureza da lógica. A resposta dada à pergunta tem um caráter meramente pedagógico.
Então, o que é uma linguagem lógica? Qual a diferença entre um sistema formal
qualquer e um sistema formal ao qual chamamos de ‘uma lógica’? Uma caracterização usual
que pode ser feita para distinguir sistemas formais lógicos de sistemas formais não-lógicos é
esta: a lógica estuda os modos de raciocínio (ou argumentos) válidos. (LEMMON, 1987, p. 1)
(HAACK, 2002, p. 28) (MENDELSON, 2015, p. xv) . Esse critério dado por Haack está em
consonância com uma ideia básica sobre o objeto de estudo da lógica: os modos de raciocínio
válidos. [MOSSAKOWSKI et tal., 2007, p. 111] A ideia de validade (seja de ‘argumentos’,
seja de ‘raciocínios’) está intimamente conectada com a noção de consequência lógica, um
!21
aspecto central do estudo da disciplina. [SIDER, 2010, p. 2] Tal caracterização é, sem
dúvidas, vaga. A imprecisão de uma caracterização informal do que é a lógica dissipa-se
quando apresentamos uma linguagem formal lógica e a interpretamos. Precisamos, então,
saber sobre o que estamos raciocinando, e como podemos nos assegurar de que nosso
raciocínio é, de fato, válido; que ele está livre de vícios.
Como esta caracterização da lógica pode servir como ponto de partida para os
propósitos deste estudo? Lembre-se que, aqui, o entrelaçamento entre lógica e direito não se
dá para explicar os mecanismos que levam alguém (um juiz, um advogado, um estudante de
direito) a escolher certo conjunto de normas para justificar uma determinada decisão. Não
trabalho na dimensão da argumentação jurídica, ainda que muitos dos esforços atuais no
campo de lógica e direito se dêem no sentido de acomodar as considerações de filósofos do
direito como Robert Alexy e Ronald Dworkin sobre valoração, ponderação e uso de regras e
princípios. (MARANHÃO, 2013, p. 221) Como já foi estabelecido, meu propósito neste
estudo é apenas explorar uma representação de regras jurídicas (lembre-se de que princípios
estão fora do escopo deste trabalho) utilizando a lógica de defaults. Esta representação
consiste em três pontos: a) traduzir as regras jurídicas, escritas em linguagem natural, para
uma linguagem lógica; b) fornecer uma linguagem lógica para que juízos relevantes à
aplicação de certas regras jurídicas possam ser representados formalmente de forma
declarativa; e c) criar um motor de inferência para que seja possível derivar as conclusões de
se adotar certos juízos como nosso conjunto de premissas e relacioná-los com as regras
jurídicas.
13 Não se deve confundir o sentido de compromisso ontológico aqui utilizado com o estudo das ontologias em
filosofia.
!22
O primeiro critério diz que quando lidamos com uma RC não estamos, de fato, lidando
com a coisa representada. Criamos uma representação e manipulamos esta representação
como se estivéssemos lidando com a coisa representada.14 O segundo critério revela que é
impossível escolher uma certa representação e não admitir a existência (dentro dessa
representação) de que certas coisas existem. No caso de uma RC do fragmento do Código
Civil, tem-se que conceder a existência de pessoas, de que as pessoas podem ser divididas
quanto a certos predicados como ‘é maior de idade’, ‘é menor de idade’, ‘é incapaz’ etc. Essas
escolhas não refletem uma escolha filosófica sobre o estudo da ontologia, apenas denotam as
categorias que devem ser levadas em consideração ao se criar uma RC. O terceiro critério
aproxima-se do que caracterizamos como o estudo da lógica. Uma RC sempre contém um
motor de inferências que são sancionadas dentro deste sistema (DAVIS et al, 1993, p. 11). O
motor de inferências de uma RC deve ser desenhado tendo-se em mente o objeto que está
sendo representado. O quarto critério é mais técnico e aponta que deve haver sempre uma
ponderação sobre eficiência computacional e utilidade de um sistema. Há sempre um trade-off
entre a expressividade de um sistema e sua eficiência computacional. (DAVIS et al, 1993, p.
16) Por fim, uma RC é um modo de expressão humana já que uma RC é um modo de
comunicação para o uso de humanos. Quando nos deparamos com uma RC, devemos sempre
nos perguntar: ‘Essa RC efetivamente cumpre sua função?’, ‘Ela é expressiva o suficiente?’
etc. (DAVIS et al, 1993, p. 17).
Após essas breves considerações sobre o que constitui uma linguagem lógica e uma
estrutura de RC, passo a descrever uma linguagem lógica de primeira ordem sobre a qual irão
operar os defaults.
14 (DAVIS et al, 1993, p. 3) Concede que toda representação é uma aproximação imperfeita da realidade. “At a
minimum we must omit some of the effectively limitless complexity of the natural world; our descriptions may
in addition introduce artifacts not present in the world.”
15 A inclusão de letras funcionais na linguagem utilizada neste trabalho iria aumentar demasiadamente sua
complexidade, sem que este aumento de complexidade fosse acompanhado de um aumento de expressividade da
linguagem. Por este motivo, não tornarei a falar sobre letras funcionais.
!23
e os quantificadores de universalidade e existência. As regras de formação de fórmulas (às
quais chamei de ‘gramática’) estipulam um procedimento para a composição de fórmulas bem
formadas (doravante ‘FBFs’). Essas regras asseguram que as fórmulas não sejam ambíguas,
ou seja, que uma determinada FBF não pode ser lida de duas maneiras diferentes. Com um
vocabulário e uma gramática em mãos, é possível criar todas as proposições (que são infinitas
em número) da nossa linguagem. No entanto, o leitor há de concordar que com tais elementos
acima descritos não podemos ir muito longe. Eles nos fornecem um modo de como gerar
fórmulas, mas ainda não sabemos como relacionar fórmulas diferentes. Ainda nos falta um
método para tirar conclusões a partir de um conjunto de FBFs, de decidir se uma fórmula é
ou não é uma consequência lógica de um conjuntos de premissas.
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DEFINIÇÃO 1.1: O ALFABETO DE LPO
• Variáveis: x, y, z (que podem ser acrescidas de números subscritos para gerar um número
infinito de variáveis);
• Quantificadores: ∀, ∃;
16(BESNARD, 1989, p. 29) diz que: “Whatever we may expect from a nonmonotonic logic, its language should
encompass a first order language.” Isso se dá porque as linguagens de primeira ordem têm um poder de
expressão muito forte, bem como um apelo intuitivo em seu modo de construção de proposições. O próprio
Reiter utiliza uma linguagem de primeira ordem para tratar de defaults. Mais, muitos livros introdutórios sobre
RC, como (BRACHMAN & LEVESQUE, 2004), e trabalhos científicos em geral também elegem uma lógica de
primeira ordem como a base de suas discussões sobre defaults. Deste modo, sigo a recomendação de Besnard de
que uma lógica de primeira ordem deve ser utilizada.
17 Para acessar as tabelas-de-verdade das constantes lógicas, v. Apêndice I.
18 Note que o predicado A é diferente do predicado A1 e assim sucessivamente.
!24
• Parênteses: (, ).
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As constantes lógicas →, ∧, ∨, ⇔, ~ representam as expressões em linguagem natural
‘se… então’; ‘e’ (conjunção); ‘ou’; ‘se e somente se’, e ‘não é verdade que’, respectivamente.
Os quantificadores ∀x, ∃x representam ‘para todo x’ e ‘existe ao menos um x’,
respectivamente.
!
DEFINIÇÃO 1.2: GRAMÁTICA DE LPO
19A aridade de um predicado pode ser intuitivamente explicada como sendo o número de termos que ‘cabem’ em
um predicado. Por exemplo, se P é um predicado de aridade 1 correspondente à asserção ‘é um jurista’, podemos
escrever Px para dizer que ‘x é um jurista’. Se, por exemplo, i denota Ítalo, w denota Waldo e F denota ‘é fã de’,
escrevemos Fiw para dizer que ‘Ítalo é fã de Waldo’. É preciso ter em mente que a ordem em que os termos
aparecem importa. Se escrevo Fwi, quero dizer ‘Waldo é fã de Ítalo’. Além disso, um predicado de aridade n
deve ser necessariamente preenchido por um número n de termos.
20 Lêem-se: “Phi” e “Psi”, respectivamente.
!25
metavariáveis que têm como contradomínio o conjunto de FBFs. Isto quer dizer, em outras
palavras, que você pode substituir ϕ e ψ por qualquer FBF e, seguindo as regras acima, a
fórmula resultante também será uma FBF.
A partir desta exposição temos a sintaxe da nossa linguagem LPO. No entanto, o leitor
atento perceberá que ainda não se pode fazer nada com nossa linguagem. Precisamos, antes de
definir o que é um default, definir uma semântica para a nossa linguagem.21 Para que
possamos fazer isso, é preciso definir as noções de estrutura e de modelo.
!
DEFINIÇÃO 1.3: ESTRUTURA
!
O domínio de uma estrutura é um conjunto (em sentido matemático) que especifica as
entidades que existem nessa estrutura. Esse conjunto deve seguir uma regra de formação: ele
não pode ser vazio. Isto é, é necessário que haja ao menos um elemento pertencente ao
domínio da estrutura. Informalmente, pode-se definir o domínio de uma estrutura como sendo
o conjunto de todos os cidadãos brasileiros; o conjunto de estrangeiros em solo nacional; o
conjunto de todas as pessoas jurídicas registradas em cartório no Brasil; ou até mesmo o
conjunto unitário composto pelo requerido de um processo qualquer. É importante apenas que
o conjunto tenha seus membros unicamente especificados. Lembre-se sempre que ‘conjunto’
deve ser entendido em sua acepção matemática.
21
A semântica modelo-teórica não é única. Para um exemplo de abordagem prova-teórica v., p. ex., (MARTIN-
LÖF, 1996).
22 O requerimento de o domínio ser não-vazio garante que haja ao menos um elemento no conjunto; o
requerimento de que o número de elementos seja enumerável garante, ainda que o número de elementos do
domínio seja infinito, que possa ser feita uma bijeção entre
!26
individuais ‘j’, ‘v’, e ‘r’; dos símbolos de predicado ‘A’, ‘R’, e ‘M’; e de todos os outros
símbolos especificados na definição 1.1 do alfabeto de LPO. Imagine que estamos falando
sobre um processo qualquer, onde há um autor e dois réus, de modo que o domínio P de nossa
estrutura consiste desses três indivíduos. O autor chama-se Jorge e os réus chamam-se Vitor e
Raphael. O papel da função interpretação I é atribuir a cada uma das constantes individuais de
LPO* um elemento do domínio P. Nesse caso, podemos dizer o seguinte de I:
I(j) = Jorge
I(v) = Vitor
I(r) = Raphael
Isso quer dizer apenas que nossa função interpretativa cumpriu seu papel, e agora
podemos usar as constantes individuais ‘j’, ‘v’, e ‘r’ para nos referir a cada um dos indivíduos
de nosso domínio utilizando uma letra do alfabeto de LPO*. Agora que os indivíduos foram
unicamente especificados23, pode-se falar sobre como I lida com as letras de predicado.
Imagine que queremos dizer coisas como ‘x é autor do processo’, ‘x é réu do processo’, e que
‘x é irmão de y’. Nos dois primeiros casos, tem-se um predicado unário. No terceiro caso, o
predicado é binário.24 O que a função I faz é associar à cada propriedade (os predicados) um
subconjunto do domínio da estrutura, e as letras de predicados fazem referência a este
subconjunto. Podemos dar a interpretação em LPO das expressões acima utilizando as letras
‘A’, ‘R’, e ‘M’ da seguinte maneira:
I(A) = {Jorge}
Note que I(A) ⊆ P, I(R) ⊆ P, e I(M) ⊆ C. Ou seja, todos são subconjuntos do domínio C.
Além disso, como o predicado M é binário, o subconjunto designado por I(M) tem pares
ordenados como seus elementos. Resumindo, a função interpretação atribui à cada constante
individual um elemento singular no domínio, e à cada letra de predicado um subconjunto do
23 Lembre-se que uma função é uma relação entre um elemento de seu domínio e um elemento do
contradomínio, de modo que ela estabelece uma relação de 1 para 1. Não há nada impedindo que duas constantes
individuais diferentes refiram-se ao mesmo indivíduo, mas uma constante individual nunca poderá referir-se à
dois ou mais indivíduos.
24Não há limite quanto a aridade de um predicado. No entanto, irei utilizar apenas predicados unários e binários
durante este trabalho.
!27
domínio. Evidentemente tais subconjuntos têm como elementos ou indivíduos pertencentes ao
domínio da estrutura, ou nenhum indivíduo.25
Agora que todas as constantes individuais e letras de predicado de nossa estrutura foram
interpretadas, posso introduzir o que significa verdade (em uma estrutura) na linguagem LPO,
bem como a noção de modelo:
!
DEFINIÇÃO 1.4: VERDADE E FALSIDADE EM UMA ESTRUTURA
• Uma fórmula ϕ é verdadeira em uma estrutura A se o seu valor semântico for V; uma
fórmula ϕ é falsa em uma estrutura A se o seu valor semântico for F.26
!
DEFINIÇÃO 1.5: VALOR SEMÂNTICO DE UMA FBF
• Uma estrutura A é modelo de um conjunto de fórmulas Γ se, para toda fórmula ϕ ∈ Γ, A(ϕ)
= V.
!
25 O fato de que o subconjunto vazio, ø, pode ser designado por uma função interpretação não deve causar
espanto. O único requerimento que se faz é que o domínio da estrutura contenha ao menos um elemento. Além
disso, recorde que øé um subconjunto de todo e qualquer conjunto.
26 Esta definição segue a de (MORTARI, 2002, p. 164).
27 Um parâmetro é uma constante individual que toma o lugar de uma variável.
28Esta definição de verdade foi retirada de (MORTARI, 2001) que, por sua vez, fez uma adaptação da definição
de verdade de Alfred Társki, criador da teoria dos modelos.
!28
A partir destas definições pode-se, finalmente, demonstrar o caráter monotônico das
linguagens de primeira ordem através da noção de consequência lógica a partir de um ponto
de vista semântico. As duas primeiras definições nos permitem construir o conceito de
verdade para nossa linguagem LPO. Uma fórmula é verdadeira dentro de uma estrutura se e
somente suas condições de verdade forem atingidas. Uma afirmação universal do tipo
‘∀x(Px)’ é verdadeira se e somente se todos os elementos que fazem parte do domínio de uma
estrutura estão no subconjunto ao qual o predicado ‘P’ se refere, através da função
interpretação; uma afirmação existencial como ‘∃x(Ax)’ é verdadeira em uma estrutura caso
haja um elemento qualquer no domínio da estrutura em questão que faça parte do subconjunto
ao qual o predicado ‘A’ se refere e assim por diante para todos os outros tipos de FBF de LPO,
seguindo a definição 1.5.
Tome agora o conjunto Γ = {(∀x(Px)), (Aj ∧ Rv)}. Pela definição 1.6, temos que a
estrutura A de nosso exemplo é um modelo de Γ já que todas as fórmulas que pertencem a Γ
têm o valor semântico V. Agora, veja bem: se dentro da nossa estrutura A as fórmulas
(∀x(Px)) e (Aj ∧ Rv) têm o valor semântico V, podemos deduzir, a partir destas fórmulas,
outras fórmulas que necessariamente têm que ter o valor semântico V. Por exemplo, se ∀x(Px)
= V, então para todo elemento x da estrutura A, substituir x por uma constante individual
interpretada em A resultará em uma afirmação de valor semântico V. Isto quer dizer que tanto
Pr, Pv, e Pj também têm que ser verdadeiras. Da mesma forma, como Pr, Pv, e Pj = V, a
fórmula ∃x(Px) também tem o valor semântico V e é, portanto, verdadeira. Podemos dizer,
!29
informalmente, que Pr, Pv, Pj e ∃x(Px) são consequências lógicas de ∀x(Px). Isto é, se
∀x(Px) for verdadeira em uma estrutura A, Pr, Pv, Pj e ∃x(Px) também têm que ser
verdadeiras em A. Dito isto, a definição formal de consequência lógica é:
!
DEFINIÇÃO 1.7: CONSEQUÊNCIA LÓGICA
!
Isto quer dizer, de forma mais intuitiva, que é impossível que todas as fórmulas de Γ
sejam verdadeiras e que, em tal interpretação, ϕ seja falsa. A noção de consequência lógica de
LPO conserva o valor de verdade de suas fórmulas. Observe que esta construção de
consequência lógica é monotônica. Para entender melhor o que isto significa, voltemos ao
nosso exemplo anterior. Afirmei no parágrafo anterior à definição de consequência lógica que
{∀x(Px)} ⊨ {Pr, Pv, Pj, ∃x(Px)}29. Perceba que meu conjunto de premissas consiste em
apenas uma fórmula, a afirmação universal ∀x(Px). No entanto, posso adicionar quantas
premissas forem necessárias no antecedente da relação de consequência lógica. Digamos que
eu queira verificar quais FBFs são acarretadas por {∀x(Px), (rMv → vMr), (rMv)}. Se (rMv
→ vMr) é verdadeira, e rMv é verdadeira então, necessariamente, vMr também é verdadeira.
Note que estas novas premissas em nada afetam a nossa premissa ∀x(Px). Logo, {∀x(Px),
(rMv → vMr), rMv} ⊨ {Pr, Pv, Pj, ∃x(Px), vMr}. A adição de uma nova premissa ao nosso
conjunto anterior não reduziu o nosso conjunto de conclusões; Pr, Pv, Pj, ∃x(Px) continuam
sendo consequência lógica de ∀x(Px). Informalmente, uma relação de consequência lógica é
monotônica se a partir de um conjunto de premissas podemos derivar uma fórmula ϕ, então a
partir de este conjunto de premissas mais quaisquer outras premissas ϕ continua sendo uma
consequência lógica do novo conjunto de premissas.
!
DEFINIÇÃO 1.8: RELAÇÃO DE CONSEQUÊNCIA MONOTÔNICA
• Se Γ ⊨ ϕ, então Γ ∪ Γ’ ⊨ ϕ.
!
29 As chaves denotam que tratam-se de conjuntos.
!30
É interessante notar que não há qualquer observação quanto à consistência do novo
conjunto de premissas.30 Isto se dá pelo fato de que em lógica clássica adota-se o princípio da
não-contradição, que implica o princípio da explosão (ex falso sequitur quodlibet). Pelo
princípio da explosão tudo se segue a partir da afirmação de uma contradição.31 Logo, se a
partir de Γ obtemos ϕ, a partir de Γ ∪ ~Γ (a negação de todas as fórmulas de Γ) ⊨ ϕ. Como
30Um conjunto de premissas é consistente se e somente se não há fórmulas que, tomadas em conjunto, formam
uma contradição. Por exemplo, o conjunto {Pj, rMv, (Aj ∨ Rr)} é consistente, mas o conjunto {~Pj, vRm, ~Aj,
(Aj ∨ Pj)} não é, já que é impossível que Pj e Aj sejam falsas e (Aj ∨ Pj) verdadeira.
31Isto pode ser expresso da seguinte maneira ⊥ ⊨ ϕ (⊥ denota uma fórmula contraditória, isto é, uma fórmula
logicamente inválida).
32
No original: “Reasoning patterns of this kind represent a form of plausible inference and are typically required
whenever conclusions must be drawn despite the absence of total knowledge about a world.”
!31
sabia que o fato de Ednaldo ser menor de idade não é uma garantia de que ele não é
plenamente capaz; mas caso você estivesse de posse de somente esta informação, é razoável
inferir tentativamente que Ednaldo é relativamente ou absolutamente incapaz. A segunda
característica apenas complementa a primeira. Se você chegou à uma conclusão ciente de que
à luz de novas informações esta conclusão não se sustentaria, e novas informações tornam sua
conclusão inconsistente com o conjunto de premissas adotadas, então você deve (idealmente)
retirar sua conclusão e substituí-la.
Em direito, por outro lado, há um tal conjunto de fontes: a legislação. Apesar de haver
uma miríade de códigos, portarias, leis ordinárias, leis extraordinárias, leis municipais, leis
estaduais etc, alguém que deseje apresentar um modelo de RC de como certos problemas
jurídicos devem ser resolvidos inevitavelmente utilizará textos legislativos como fonte para
seu sistema (isto é especialmente verdadeiro em países alinhados à tradição de civil law).
Isto não quer dizer, evidentemente, que não há inúmeros problemas relacionados ao
modo como juristas raciocinam e chegam a conclusões sobre casos concretos. No entanto, as
considerações do parágrafo anterior apontam que há disponível, no mundo jurídico, um
!32
acervo de regras que pode servir de base imediata a um sistema de representação do
conhecimento. Caso alguém aponte que um sistema baseado apenas neste acervo é um
sistema incompleto, terá dito uma verdade, isto não está em discussão. No entanto, disto não
segue que não há qualquer interesse em se fazer estudos do direito a partir de técnicas de
formalização que foquem apenas em um dos aspectos do fenômeno jurídico. Como exemplo,
em um estudo relativamente recente, pesquisadores do Centro de Informática da Universidade
Federal de Pernambuco, da Agência Estadual de Tecnologia da Informação de Pernambuco e
da Universidade de Mannheim utilizaram técnicas de engenharia de ontologias para
demonstrar a existência de inconsistências na legislação brasileira de trânsito (FREITAS,
CANDEIAS JR, STUCKENSCHMIDT, 2011). É preciso ter em mente que nem sempre uma
abordagem holista, capaz de dar conta de todos os problemas apresentados por um assunto, é
possível de ser feita sem que antes alguns problemas em escala micro tenham sido resolvidos.
2.2.1.: Os defaults
A exposição acima foi necessária para que eu possa começar a definir o que é um
default, e de como essa noção servirá para representar normas no modelo de RC do fragmento
do Código Civil. Antes de entrar nas definições formais, adianto que os defaults
corresponderão à regras jurídicas (artigos, incisos, parágrafos). É através dos defaults que a
teoria CC8 irá se materializar. Outra observação: para aumentar a compreensão da leitura, irei
substituir o uso de letras de predicado A, B, C, …, Z, A1, A2 etc por palavras em português
que lembrem em parte ou em todo a propriedade a ser formalizada. Por exemplo, ao invés de
especificar que P é uma letra de predicado que significa ‘x é um pássaro’, direi algo como
Pássaro(x). O uso da fonte Courier serve para enfatizar que aquela expressão pode ser
plenamente traduzida usando o alfabeto de LPO.33
Volte a considerar o exemplo de Tweety, apresentado acima. Como seria possível dar
uma interpretação em uma linguagem de primeira ordem do raciocínio ‘Se x é um pássaro,
então x pode voar exceto se x for um pinguim, um avestruz etc’? A formalização se pareceria,
provavelmente, com algo assim:
∀x(((Pássaro(x)∧~Pinguim(x))∧~Avestruz(x))∧ … ! Voa(x))"
Para sanar esta dificuldade, (REITER, 1980, p. 82) propôs a construção de uma regra
default do tipo:
Pássaro(x): Voa(x)
! Voa(x)
Tal construção representa a essência do que é um default. Ele poderia ser rescrito da
seguinte forma Pássaro(x): M Voa(x)/Voa(x). As duas construções representam a
mesma regra default. (REITER, 1980, p. 82) afirma que esta regra deve ser lida (interpretada)
da seguinte maneira: “Se x é um pássaro e é consistente supor que x possa voar, então pode-se
acreditar que x voa”. Pense agora em uma regra default mais próxima ao direito:
SujeitoDir(x): Inocente(x)
! Inocente(x)
!
Isto não é nada mais do que o familiar princípio de que todos são inocentes até que se
prove o contrário. Ela pode ser lida: se x é um sujeito de direito e é consistente supor que x é
inocente, então x é inocente.
!
DEFINIÇÃO 2.1:
! α(x)
!34
Em que ϕ(x), ψ(x), e α(x) são fórmulas bem-formadas de LPO, cujas variáveis livres estão
entre aquelas de x = x1,…,xn. ϕ(x) é chamado de pré-requisito, ψ1(x),…,ψn(x) são chamados
de justificativas e α(x) de consequente.
• Diz-se que um default é fechado se nenhum ϕ(x), ψ(x), e α(x) contém uma variável livre.34
!
DEFINIÇÃO 2.2:
!
A definição 2.2 estabelece que qualquer teoria default consiste de dois elementos: um
conjunto W contendo fórmulas de LPO, fechadas, e um conjunto D contendo defaults. O
conjunto W pode ser pensando intuitivamente como sendo nossa knowledge base, nossa base
de conhecimento. Por exemplo, para que possamos derivar as consequências jurídicas de uma
certa situação do mundo, devemos inserir no conjunto W todas as informações que sabemos
sobre o caso. Pense em W como sendo o conjunto de todos os fatos descritos sobre uma
situação juridicamente relevante. O conjunto D, então, representa o que podemos
dedutivamente afirmar acerca dos fatos descritos em W. Observe que, tecnicamente, uma
teoria default é unicamente determinada pelos elementos contidos tanto em D quanto em W.
Isto implica dizer que para cada caso concreto sobre o qual aplicarmos nosso sistema há uma
teoria default correspondente, já que o conjunto W conterá informações diferentes em cada
caso.
Pode-se ver, a partir da definição 2.1, que para que uma regra default qualquer seja
acionada (e a partir disto, uma nova crença possa ser derivada) o seu pré-requisito deve ser
atendido. Para que o pré-requisito de uma regra default seja atendido, é preciso que haja uma
fórmula fechada de LPO contida no conjunto W de fórmulas que corresponda à fórmula que
aparece no pré-requisito da regra default. Considere o default apresentado como
correspondendo ao princípio da presunção de inocência. Para que aquela regra possa ser
aplicada para obtermos que x é inocente, é preciso que tenhamos, em W, uma fórmula
34 Perceba que nenhum dos exemplos de defaults dados até agora eram fechados.
!35
fechada35 que atribua a propriedade de ser inocente a alguém. Se há uma fórmula do tipo
SujeitoDir(Thiago) contida em W, então o pré-requisito do default foi atendido e
agora podemos checar se ele pode gerar uma nova fórmula ou não. Nesta etapa, deve-se olhar
para o que chamamos de justificativas. Se o resultado (a fórmula obtida através da aplicação
do default) de se aplicar uma regra default é consistente com o conjunto de justificativas da
regra, então o default pode ser utilizado, e seu consequente pode passar a constituir uma
crença.
Neste ponto é importante definir precisamente o que significa dizer que a derivação de
uma fórmula ϕ através da aplicação de um default é válida. Dizemos que ϕ é uma derivação
válida em uma teoria default qualquer se ϕ faz parte da extensão de uma teoria.
!
DEFINIÇÃO 2.3: EXTENSÃO
I. Seja Δ = (W, D) uma teoria default fechada, tal que todo default pertencente a D tem a
forma — ϕ(x): ψ1(x),…,ψn(x)/α(x) — onde ϕ(x), ψ1(x),…,ψn(x), e α(x) são FBFs fechadas
de LPO.
III. Para qualquer conjunto de FBFs fechadas S ⊆ LPO, seja Γ(S) o menor conjunto possível
que satisfaça as três seguintes condições:
IV. I) W ⊆ Γ(S);
• Defina uma sequência de conjuntos E0, …, E1,… tal que E0 = W e, para cada i ≥
0;
35Ou seja, uma fórmula cujas variáveis estejam todas no escopo de um quantificador ou que não contenha
variáveis. Fórmulas chamadas também são comumente chamadas de sentenças.
!36
• Para qualquer conjunto de FBFs fechadas S
!
Trato de “descompactar” a definição formal acima e revestir-lhe de um caráter mais
intuitivo e acessível. Sabemos que uma teoria default Δ é um par ordenado (W, D), que W é
um conjunto de fórmulas fechadas e que D é um conjunto de defaults. A extensão de uma
teoria default consistirá em todas aquelas fórmulas que podem são derivadas pelas regras de
acarretamento descritas na seção anterior, e as fórmulas que podem ser obtidas não-
monotonicamente através da aplicação de defaults à fórmulas de W.
Para que este resultado seja obtido, defina um conjunto ThL(S) tal que ele seja o
conjunto de todas as fórmulas w tal que w pertence à LPO (obedece às regras de formação de
LPO), w é fechada e pode-se mostrar que w é acarretada pelas fórmulas de S. (Linha II da
definição de extensão).
Por fim, têm-se que um conjunto E ⊆ LPO é uma extensão de Δ no caso de E ser igual
à Γ(E). (Linha VII da definição de extensão).
O teorema provado por Reiter apenas demonstra como se pode construir recursivamente
uma extensão de uma teoria default Δ a partir da repetida aplicação de defaults ao conjunto
inicial W (definido como sendo E0). Por sua vez, o conjunto E1 consistirá de todas as fórmulas
pertencentes a Th(E0) unidas com o resultado de se aplicar um default a E0 e assim por diante,
!37
até que não haja mais defaults aplicáveis. O resultado deste procedimento chama-se de
extensão de Δ.
Chamo a atenção para algumas propriedades da definição de extensão dada por Reiter
que terão impacto direto no modo como a Teoria CC8 irá se comportar. Em primeiro lugar,
não há nenhuma garantia de que haja somente uma extensão para a teoria. Isto equivale a
dizer que dado um conjunto de inputs (pertencentes a nossa base de conhecimento, o conjunto
W de Δ) e um conjunto D de defaults, podemos derivar extensões que tenham não somente
um número diferente de fórmulas, como também pode ser que as extensões contenham
fórmulas que, caso estivessem na mesma extensão, criariam uma contradição, elas seriam
mutuamente inconsistentes.36 Acoplada a esta propriedade, está outra que decorre
necessariamente da definição de Reiter: extensões não são construtivas. Isto é, Reiter não
definiu nenhum procedimento automático para que as extensões sejam formadas a partir de
um roteiro pré-programado, causando uma indesejável (como será discutido no último
capítulo deste trabalho) situação para a utilização da lógica de defaults para formalizar
fragmentos de legislação.
!
36Para um exemplo de teoria default com extensões mutuamente inconsistentes ver (ANTONIOU, 1999, p.
353-355)
!38
DEFINIÇÃO 2.4: NÃO-MONOTONICIDADE
!
Agora que todas as preliminares formais foram apresentadas e todos os conceitos
lógicos foram precisamente definidos, passo a construir a teoria CC8.
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!39
3. A TEORIA CC8
O fragmento do Código Civil a ser representado em forma default é formado pelos oito
primeiros artigos (e seus respectivos parágrafos e incisos) do Código Civil de 2002.
Reproduzo-os integralmente para que o leitor tenha agilidade na visualização dos enunciados
jurídicos em linguagem natural, encontrados no Código:
!
ARTIGOS DO CÓDIGO CIVIL DE 2002
• Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a
salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua
vontade;
IV - os pródigos.
• Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à
prática de todos os atos da vida civil.
!40
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante
instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por
sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;
II - pelo casamento;
• Art. 6º A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos
ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.
• Art. 8º Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar
se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos.
!
3.1. Defaults da Teoria CC8
RelInc(x)
!
d4.4: Pessoa(x)∧ Pródigo(x) : RelInc(x)
RelInc(x)
!
d5: Pessoa(x)∧≥18(x) : Capaz(x)
Capaz(x)
!
d5.1: Pessoa(x)∧≥16(x)∧Permissão5º : Capaz(x)
! Capaz(x)
Capaz(x) !
!
d5.4: Pessoa(x)∧GrauSuperior(x) : Capaz(x)
! Capaz(x)
Estes defaults formam a totalidade do conjunto D pertencente à Teoria CC8, que faz
parte da base de conhecimento do sistema. Cada um destes defaults está associado ao que
Henry Prakken chama de unidade-fonte (source unit) da legislação. Uma unidade-fonte é,
para o autor holandês, “a menor unidade identificável da qual uma norma pode ser
extraída” (PRAKKEN, 1990, p.35). Na construção dos defaults da Teoria CC8 tive o cuidado
de tentar manter a mesma estrutura da legislação, para que o leitor possa verificar de imediato
a correspondência entre um default qualquer e uma unidade-fonte do fragmento escolhido do
CC8. Os subscritos servem para facilitar ainda mais neste processo de identificação.
O leitor atento também notará de imediato que faltam alguns dispositivos legais em
nossa lista de defaults. Isto não é um acidente. Da mesma maneira, pelo modo como foram
!43
escritos os defaults, a Teoria CC8 — até o momento — não poderia derivar resultados que são
óbvios para nós. Refiro-me a raciocínios como: “se alguém tem ao menos 16 anos completos
mas ainda não tem 18 anos de idade, então este alguém não tem menos de 16 anos de idade e
não tem 18 ou mais anos de idade”, “se alguém é relativamente capaz, então este alguém não
é absolutamente incapaz e este alguém não é plenamente capaz”, etc. É desejável que
adicionemos tais fatos à nossa base de conhecimento, já que eles impedem que o pré-requisito
de defaults cujos resultados seriam contraditórios não possam ser aplicados na mesma
situação. No entanto, tais juízos não são meramente defaults: que espécie de evidência faria
com que mudássemos de ideia quanto ao fato de que alguém que tem mais de 18 anos de
idade necessariamente não tem menos de 16 anos de idade? Desta forma, tais juízos serão
adicionados não ao conjunto D da Teoria CC8, mas sim ao conjunto W. Eles formarão um
ponto imutável em W, não sujeito a modificação pelo usuário final. Com exceção do
parágrafo único do art. 4º, relativo à capacidade dos indígenas, e do texto sobre os direitos do
nascituro, as unidades-fonte que não foram traduzidas em regras default serão traduzidas
como fórmulas comuns de LPO, e pertencerão a W.
!
DEFINIÇÃO 3.2: AS FÓRMULAS FIXAS DE W
CC/02]
• ∀(x) Capaz(x) → (~ RelInc(x) ∧ ~ AbsInc(x))
Agora que todas as fórmulas que necessariamente fazem parte da Teoria CC8 foram
explicitadas, dou a definição final, em termos lógicos, da Teoria CC8.
!44
!
DEFINIÇÃO 3.3: TEORIA CC8
• A Teoria CC8 é um par (W, D) em que D = {d3, d4.1, d4.2, d4.3, d4.4, d5, d5.1, d5.2, d5.3, d5.4, d5.5,
d6, d7.1, d7.2, d8} e W = {Γdef3.2 ∪ Γinputs}.
!
Como dito no começo deste capítulo, deve-se ver a definição acima como o esquema de
uma família de “teorias” CC8. Isto ocorre porque apesar de o conjunto D não variar, e o
conjunto Γdef3.2 (ao qual pertencem todas as fórmulas da Definição 3.2) também não variar, o
conjunto Γinputs varia. E, a rigor, cada variação de Γinputs implicaria a existência de uma teoria
default correspondente a cada variação. Escolhi chamar minha definição de “teoria” por
conveniência e para destacar que existe um núcleo de regras default e de fórmulas fechadas
que servem de base para a criação de diversas outras teorias (entendidas aqui em sua acepção
técnica).
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!45
4. ANÁLISE DA TEORIA CC8
É importante lembrar, antes de passar à analise da Teoria CC8, que não tratei de criar
de fato um sistema especialista. Não se pode confundir a representação simbólica do domínio
de conhecimento que está sendo traduzido com o sistema computacional que vai lidar com a
implementação ao usuário final. O sistema simbólico dá somente uma base sobre a qual um
sistema deve ser criado, como seus elementos devem se comportar e quais as derivações que
devem ser feitas. Eu não lidei, em momento algum do trabalho, com questões relativas à
programação do sistema, os aspectos de hardware, ou qualquer outra consideração de
natureza técnica acerca dos campos de ciência da computação ou engenharia de
computadores.
Sem mais delongas, passo a considerar cada um dos parâmetros citados acima.
!47
KB existentes. Esta possibilidade de criação de conflitos toda vez que novas unidades-fonte
são adicionadas ao mundo jurídico fazem com que aumentem as chances de erros serem
cometidos ao se atualizar uma KB. Neste quesito a lógica de defaults de Reiter parece ser
bastante adequada, ao menos em vista do fragmento utilizado. Foram criados 15 defaults e 2
fórmulas de LPO para dar conta de cerca de 21 unidades-fonte. Como excluí de minha
formalização o parágrafo único do art. 4º, temos que 20 unidades-fonte transformaram-se em
17 unidades-KB. No entanto, as cabeças de certos artigos na verdade não contém conteúdo
normativo independente de seus incisos (é o caso do art. 4º e do art. 7º) e que o parágrafo
único do art. 5º não pode servir de unidade-fonte. Logo, foram traduzidas 17 unidades-fonte
em 17 unidades-KB, uma correspondência perfeita. É evidente que trabalhei apenas com um
fragmento bastante diminuto da legislação, de modo que não se pode chegar à conclusão de
que sempre será possível utilizar a lógica de defaults para obter uma correspondência tão
precisa. Observe que a propriedade de não-monotonicidade da relação de consequência lógica
introduzida pelos defaults é o que garante a possibilidade fazer traduções que preservam a
semelhança estrutural. O uso de uma linguagem inteiramente monotônica implicaria a perda
de semelhança estrutural até no caso simples aqui considerado.
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4.2. Modularidade
É comum confundir a propriedade de semelhança estrutural com a de modularidade. A
primeira refere-se ao produto da formalização, enquanto a última refere-se ao processo. Dizer
que um certo sistema lógica permite a adição modular de novas unidades-KB é o mesmo que
dizer que é possível fazer alterações na KB sem ter que se preocupar com o resto do domínio,
isto é, que pode-se tratar a adição de novas unidades-KB de maneira mais ou menos
independente. (PRAKKEN, 1990, p. 251) mostra que há casos em que a tentativa de manter a
propriedade de semelhança estrutural de maneira ‘pura’ (ou seja, mantendo sempre uma
correspondência de um-para-um) faz com que a adição de certas unidades-KB seja não-
modular, de modo que deve-se analisar o trade-off entre semelhança estrutural e
modularidade, ainda mais quando se quer formalizar técnicas de interpretação como
recorrência a hierarquias normativas e dar preferência a leis mais novas em detrimento das
mais velhas.
!48
(PRAKKEN, 1990, p. 105) pergunta se o critério de lex specialis derogat generali é
suficiente para que um certo sistema lógico possa lidar com diferentes hierarquias de normas
e chegar a um resultado correto. Apesar de esta dificuldade não haver aparecido em razão de
apenas um fragmento do Código Civil de 2002 ter sido eleito como objeto de formalização,
pode-se dizer com convicção que não é possível utilizar a lógica de defaults de Reiter como
construída neste trabalho para construir relações de prioridade. Na linguagem LPO não foi
definida uma relação de ordenamento por meio do operador “≻”38, necessária para construir a
noção de prioridade. Isto não quer dizer que uma lógica de defaults enriquecida (Reiter criou
a lógica de defaults mas ao longo dos anos ela veio sendo aprimorada) não possa lidar com
prioridades. Na verdade, (PRAKKEN, 1990, p. 105) confirma que é possível criar teorias
default ordenadas que são, consequentemente, capazes de expressarem prioridades entre
defaults.
!
4.4. Implementação
Deixei claro no início deste capítulo que não pretendi criar um sistema especialista de
fato, de modo que deixei de lado considerações acerca de dificuldades técnicas de se utilizar a
lógica de defaults de Reiter como base para um sistema especialista. No entanto, há dois
pontos que precisam ser abordados. O primeiro deles é quanto à complexidade computacional
da lógica de defaults. O próprio (REITER, 1980, p.129) reconhece que o modo como os
defaults se comportam apresenta problemas de implementação. (PRAKKEN, 1990, pp. 72-73)
apresenta o problema de maneira didática:
Apesar de sua claridade intuitiva ser bastante atraente, a lógica de defaults também possui
algumas inconveniências reconhecidas. Uma delas é sua complexidade computacional, cuja
fonte é a definição de consistência que, como vimos acima, não é construtiva. O problema
consiste no fato de que, ao checar se um certo default pode ser utilizado para aumentar a
extensão, temos que conferir sua consistência, e não é suficiente inspecionar a extensão até
38Ordenações constituem um importante campo de estudos em teoria dos conjuntos. v. (DAVEY & PRIESTLEY,
2002)
!49
o ponto em que esta foi construída por outros defaults; deve-se adivinhar o todo o conteúdo
da extensão antecipadamente, e isto não pode ser facilmente mecanizado.39
O fato de a definição de extensão não ser construtivo ainda tem outro problema muito
sério. Como não há uma ordem a ser seguida na aplicação dos defaults, o próprio usuário deve
escolher que defaults utilizar. Um exemplo pode ser retirado da própria Teoria CC8.
É óbvio que esta situação causa grandes problemas para a utilização da lógica de Reiter
como base para a criação de um sistema especialista para o direito. É imediatamente visível
que a possibilidade de haver duas extensões contraditórias entre si, em virtude de uma
deficiência técnica da linguagem, é altamente indesejável. Este caso poderia ser facilmente
remediado ao criar uma ordenação ao conjunto de defaults, obrigando que os defaults que dão
como resultado a propriedade de incapacidade absoluta tivesse precedência em relação aos
defaults que dão como resultado a propriedade de incapacidade relativa, que por sua vez
teriam precedência em relação aos defaults que dão como resultado a propriedade de
capacidade plena. No entanto, criar este tipo de ordenação iria requerer uma redefinição do
conceito de extensão, e isto seria um enriquecimento bastante forte da teoria de Reiter.
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4.5. Expressividade
39 No original: “Although its intuitive clarity is very appealing, default logic also has some recognized
drawbacks. One of them is its computational complexity, a main source of which is the fact that the definition of
an extension is, as explained above, not constructive. The problem is that in applying the consistency check to
see whether a default can be used to enlarge an extension, it is not sufficient to inspect the extension as it has
been constructed so far by the other defaults; instead the content of the entire extension has to be guessed
beforehand, and this cannot easily be mechanized.”
!50
O critério de expressividade é bastante útil para analisar diferentes linguagens lógicas
rivais que estão dispostas a se tornarem modelo de um determinado modo de raciocínio.
(PRAKKEN, 1990, p. 105) afirma que perguntas como “Todas as distinções entre tipos de
exceção podem ser feitas?”, “A conclusão derivada da cláusula de exceção é a mais
desejável?”, “É possível que existam respostas alternativas no caso de conflitos não-
resolvidos?” e outras caem sob as preocupações relacionados ao critério de expressividade.
No entanto, como não foram abordados outros sistemas lógicos no presente trabalho, seria um
tanto presunçoso compará-lo a outras linguagens. O sistema de Reiter, por si só, tem uma
expressividade limitada. Suas formas de raciocínio resumem-se à utilização de defaults, que
podem ser normais, semi-normais ou não-normais. Todas as conclusões derivadas a partir do
sistema podem apenas fazer uso de tais artifícios para expressar todos os tipos de exceção que
podem ocorrer dentro de um sistema legal, e é incapaz de lidar (como já vimos) até mesmo
com simples relações de prioridade entre a aplicação de um default ou outro.
Seria bastante intuitivo que pudéssemos inferir que ~ Capaz(João), mas não é o caso.
Note que o nosso conjunto W contém apenas uma fórmula disjuntiva, cujo valor-de-verdade é
V se e somente se ao menos um dos dois disjuntos é verdadeiro. No entanto, não há como
saber qual dos dois disjuntos é verdadeiro, e por isso não é possível derivar a conclusão de
que João não tem capacidade. Os defaults d1 e d2 não podem ser unidos por meio de um
operador de disjunção para criar o default
por si mesmo. Este terceiro default teria que ser adicionado pelos encarregados de
manter a base de conhecimento antes mesmo de ela poder ser aplicada. Perceba que este
default implicaria a perda de semelhança estrutural a menos que uma contrapartida em
linguagem natural dele esteja presente na legislação pertinente.
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!51
5. CONCLUSÃO
À primeira vista, a partir da análise dos cinco parâmetros apontados por Prakken
como cruciais para qualquer representação de conhecimento jurídico, pode parecer que a
conclusão deste trabalho é bastante negativa quanto à possibilidade de se utilizar a lógica de
defaults de Reiter como alternativa de formalização ao direito. Esta visão é correta, mas
incompleta. Como mostrei em repetidos pontos do texto, muitos dos problemas apresentados
pela lógica de defaults não ocorrem pelos defaults em si, mas apenas pelo modo inicial como
eles foram apresentados no paper “A logic for default reasoning” de Reiter. O lógico
canadense, apesar dos pontos fracos de suas linguagem, deu um salto enorme na área de
pesquisa de inteligência artificial simbólica. Se seu sistema original era um tanto incompleto,
muitas das lacunas foram preenchidas por trabalhos posteriores, como (BREWKA, 1991) e
(LUKASZSEWICZ, 1990), que produz um método construtivo de definir a extensão de uma
teoria default. A pesquisa mostra que a versão “vanilla” dos defaults é, de fato, incapaz de
produzir resultados satisfatórios quanto à sua utilização prática. No entanto, mesmo sem que a
teoria seja enriquecida, seu estudo pode ser de grande valia especialmente para interessados
na interseção entre lógica e direito que estão apenas começando seus estudos. A linguagem de
Reiter é bastante intuitiva em sua construção, e a partir dela podem ser definidos e
apresentados programas de pesquisa que sejam capazes de sanar as dificuldades da própria
lógica de defaults de Reiter e dar insight para novas abordagens.
!52
mais elementos do fenômeno jurídico? Este trabalhou lidou apenas com regras formuladas de
maneira bastante clara, seria possível lidar também com princípios utilizando técnicas
formais? As respostas à tais perguntas dificilmente serão obtidas a menos que sejamos
capazes de lidar com o simbolismo. Nossas intuições não bastam para responder tais
perguntas. Um jurista que jamais estudou métodos formais e linguagens artificiais pode
facilmente dispensar para si a utilidade ou a viabilidade de usar tais métodos para estudar o
direito. Mas ele não pode dar respostas àquelas perguntas (e a muitas outras) apenas através
de suas intuições.
Espero ter mostrado também que pesquisas que fazem uso de ferramentas formais
não precisam atacar problemas de modo holista. O escopo do trabalho é bastante limitado:
estudei um fragmento diminuto de um pedaço de legislação, evitei o problema dos princípios,
do raciocínio por analogia e da relação entre legislação e jurisprudência. Evitei o conflito
entre normas de hierarquias diferente, e também evitei o problema de leis conflitantes que
foram editadas em datas diversas. O leitor pode se perguntar se esta abordagem é
reducionista. A resposta é positiva, enfaticamente positiva. Mas desta resposta não decorre
uma visão negativa deste tipo de fazer pesquisa. Pelo contrário, acredito que é bastante natural
que possamos identificar um problema complexo e dividi-lo em fragmentos mais tratáveis,
sem que seja necessário responder as perguntas mais difíceis ao mesmo tempo que as mais
fáceis e assim por diante. A atitude científica diante de problemas aparentemente hiper-
complexos não consistem em descartar o problema como insolúvel, mas sim em fragmentá-lo,
analisá-lo por diferentes ângulos e tentar encontrar “pontos fracos em sua armadura”.
Por fim, destaco a importância de que a pesquisa brasileira em direito torne-se mais
diversificada. O uso de elementos extra-jurídicos para estudar e propor soluções para
problemas eminentemente jurídicos está em alta. Do uso de data mining, inteligência artificial
baseada em redes neutrais e deep learning, automatização de pesquisas jurisprudenciais,
softwares de assistência à redação de legislação até o uso de softwares de assistência jurídica a
não-especialistas, o uso de tecnologia na área de direito tende a aumentar com o passar dos
anos (ainda que não façam uso de inteligência artificial simbólica), e se os juristas não querem
se tornar redundantes em diversas áreas de pesquisa de seu próprio campo, devem passar a
levar a sério a ideia de que devem abandonar certos preconceitos inválidos.
!
!53
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ANEXO I: TABELAS DE VERDADE DOS CONECTIVOS LÓGICOS
1) Conjunção
P Q P∧Q
V V V
V F F
F V F
F F F
2) Disjunção
P Q P∨Q !
V V V
V F V
!
F V V
!
F F F
!
3) Implicação material →, ∧, ∨, ⇔, ~
P Q P→Q
!
V V V !
V F F
F V V
!
F F V
!
4) Bi-implicação material (equivalência) 5) Negação
P Q P Q
V V V P ~P
V F F V F
F V F F V
F F V
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