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http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932002000100005
ARTIGOS
RESUMO
ABSTRACT
Além das questões éticas que emergem em decorrência das biotecnologias, são
inúmeras as situações que constituem dilemas éticos na relação do psicólogo com a
pessoa atendida e/ou familiares desta, ou na relação com a equipe de trabalho. Até
onde manter o sigilo profissional? É possível quebrar o sigilo? Em quais situações?
Como agir frente a atitudes anti-éticas de colegas de trabalho? Quais as
informações sobre o paciente que devem constar no prontuário? Deve-se quebrar o
sigilo em casos de violência física, abuso sexual ou negligência contra menores?
Qual a atitude do psicólogo frente a um paciente portador do HIV positivo que está
contaminando deliberadamente seus parceiros?
Além destas questões é possível enumerar muitas outras. Autores como Herrero
(1999), Chiattone e Sebastiani (1997), Berlinguer (1996) e Lepargneur (1996)
fazem referência à falência dos princípios morais em nossa época, alertando para a
falta de direcionamento que muitos profissionais da saúde enfrentam diante de
práticas e intervenções onde a moral vigente já não possibilita orientação. Frente a
essa problemática, são muitas as questões envolvendo a ética, constituindo
desafios constantes para a Psicologia e para as demais ciências. Questões essas
que, para serem debatidas, nos obrigam a refletir sobre dois pontos centrais: O que
é ética? O que é ser ético, ou, mais precisamente, em que o psicólogo que trabalha
em instituições de saúde deve pautar-se para que sua postura possa ser
considerada ética?
No quadro das normas jurídicas insere-se a Deontologia. Este termo foi criado em
1934 por Jeremy Bentham. É compreendida como ciência dos deveres,
especificamente dos deveres profissionais (Doron e Parot, 1998). Constitui o que
habitualmente é denominado de Código de Ética Profissional, onde estão expressos
os direitos, deveres e responsabilidades dos membros de determinada categoria
profissional. As normas deontológicas têm caráter coercitivo e o não-cumprimento
das mesmas implica sanções que são garantidas pelo poder estatal.
Nesse ponto, posso tentar responder à segunda questão: em que o psicólogo que
trabalha em instituições de saúde deve pautar-se para que sua postura possa ser
considerada ética?
Por ser a ética compreendida como uma reflexão acerca das normas morais
vigentes, esta não se encontra expressa em Códigos, não existe na forma de leis,
não implica sanções, não normatiza quais são os comportamentos adequados numa
dada situação. Portanto, o cumprimento daquilo que está instituído é da ordem da
lei, da moral, e não da ética. Não obstante, ser ético não implica cumprir o que
manda a lei, mas refletir criticamente sobre as normas morais vigentes, sejam elas
sustentadas por hábitos, normas ou leis regulamentadas pelo Estado ou órgão
fiscalizador da categoria profissional.
Por outro lado, a autonomia individual não é sinônimo de liberdade total. O sujeito,
vinculado a um contexto econômico, político e cultural tem, nas suas relações,
fatores condicionantes e restrições à sua ação. Os fatores condicionantes são
inerentes à condição de sujeito moral, inserido em um meio cuja organização
prioriza a observância das regras e normas instituídas. No entanto, dentro de uma
certa margem, é possível ao sujeito decidir e agir conforme sua vontade, seu
desejo e interesse, ou seja, é possível que o sujeito exerça a sua autonomia. Chaui
(1995) nomeia de deliberação a escolha feita diante da situação que é apresentada.
“ Não deliberamos e nem decidimos sobre aquilo que é regido pela Natureza, isto
é, pela necessidade. Mas deliberamos e decidimos sobre tudo aquilo que, para ser e
acontecer, depende de nossa vontade e de nossa ação” (op. cit., p. 341).
Frente a essa breve explanação acerca dos princípios elencados pela Bioética, cabe
questionar se o cumprimento desses princípios configura uma atuação pautada na
ética e, portanto, responde à questão proposta no início do presente artigo.
Pode-se concluir que a postura ética exige muito mais do que uma consulta ao
Código de Ética Profissional do Psicólogo, ou a observância dos princípios elencados
pela Bioética. Exige reflexão. Mas essa é uma resposta ampla e certamente não
satisfaz à questão proposta: em que o psicólogo deve pautar o seu agir para ser
ético?
Referências bibliográficas
Giane Amanda Medeiros Rua Dr. Penaforte Mendes, 86 apto 32 - Cerqueira César
01308-010 São Paulo – SP. E-mail: gianepsico@terra.com.br
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Psicóloga. Especialista em Psicologia Hospitar pelo Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da USP.