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10 de março de 2017
https://www.valor.com.br/cultura/4894124/china-e-socializacao-do-investimento
A aplicação dessa noção ao caso chinês pode ser encontrada tanto no papel do
Estado em definir variáveis econômicas cruciais para estimular os gastos privados,
em particular taxa de juros e taxa de câmbio, quanto no caráter complementar entre
investimento público e privado.
Uma miríade de formas de propriedade foi fundada por essas empresas sob o
guarda-chuva da "propriedade coletiva dos meios de produção". Em 1978, o número
total de empregados nas ECPs era de 28,3 milhões de trabalhadores, triplicando em
dez anos para 93,7 milhões e chegando 138,7 milhões em 2004. No final da década
de 1990, 40% da produção industrial chinesa estava sendo processada nas ECPs,
que respondiam por 27% das exportações de manufaturados do país em 2004.
Em uma perspectiva histórica pode-se aferir que antes de uma plena "restauração
capitalista" ocorreu uma sistemática readequação de atividades entre estatal e
privado, tendo o Estado a perspectiva de contínua recolocação recolocação
estratégica. Por exemplo, a estratégia de implantação gradual das Zonas
Econômicas Especiais (ZEEs) incluiu não somente a construção de plataforma de
exportações, mas também um processo de reunificação do país sob o mantra da
proposta de "um país, dois sistemas".
1
State-owned Assets Supervision and Administration Commission, ou "Comissão Estatal para a
Supervisão e Administração dos Ativos do Estado".
novos e milhares de quilômetros de linhas de trem de alta velocidade, metrôs e
estradas.
O país viu sua posição cambiar, de forma rápida, à “tripla condição” de potência
comercial, industrial e financeira, combinando as seguintes iniciativas:
Deste modo, fica claro que não se trata meramente de uma fase de transição, mas
sim de colocar a planificação estatal (em associação com o setor privado) como um
atributo permanente do “modelo” de desenvolvimento chinês.
Pode causar espécie aos menos avisados o impacto desta tendência crescente de
“estatização” sobre a estrutura de propriedade chinesa. Trabalhos recentes (entre
outros, ver B. Naughton, “Is China Socialist?”, Journal of Economic Perspectives,
2017) mostram a grande diferenciação entre a estrutura de propriedade chinesa em
comparação com outras partes do mundo (grandes conglomerados estatais,
empresas de capital misto, propriedade dividida por ações).
Fica implícito na intervenção de Xi Jinping que a China tanto desafia quanto está
sendo desafiada por uma “nova era” marcada pelo advento de novos paradigmas
tecnológicos (Revolução 4.0) – e está procurando se preparar para isto. É evidente
que esta chamada "nova era" abre grandes possibilidades de "planificação
econômica em massa" da economia (com o Big Data, por exemplo). Neste aspecto,
os chineses – com instituições derivadas da antiga Gosplan soviética – saem à
frente do resto do mundo. De fato, são essas instituições de Estado (sob a liderança
da State-Owned Assets Supervision and Administration Commission of the State
Council – SASAC) responsáveis por colocar a China como parte do condomínio de
países que lideram a atual onda de inovações.
Por fim, o “modelo chinês” que transparece nas palavras de Xi Jinping transita do
paradigma do “acúmulo de duplicações do PIB” para questões mais relacionadas à
distribuição de renda, como mostra a tendência recente de constituição de um
Estado de bem-estar social no país.
Desta análise, é possível concluir que o “modelo chinês” é algo que vai se
distanciando – historicamente – de um modelo típico de “capitalismo de Estado”, e
mais longe ainda de ser um “capitalismo liberal”. Estaríamos sendo impelidos em
admitir o “socialismo de mercado” não mais como uma mera abstração, e já como
uma nova formação econômico-social. Neste sentido, devemos escutar o conselho
dado pelos chineses, repetido por Xi Jinping em seu discurso, de “(..) abrir a mente,
buscar a verdade nos fatos (...)”.
E quando Mark Carney diz que está preocupado com o sistema bancário
paralelo na China...