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O CÂNON DA ESCRITURA

“Depende da mera vontade e beneplácito do bispo de


Roma considerar como sagrado ou de autoridade em toda
a Igreja aquilo que muito bem lhe parecer”

(Bispo Barônio, Annal, Ad Ann. 533, n.224)

Examinemos agora a afirmação segundo a qual os sacerdotes romanos não


são representantes de nenhum sistema novo de religião, nem pregadores de
novas doutrinas, relativamente ao ensino de sua Igreja acerca do Cânon da
Escritura. Os católicos romanos admitem que as Escrituras são a Palavra de
Deus e, conjuntamente com a tradição, constituem, sob certas restrições, a
regra de fé de sua Igreja. É de suma importância, pois, examinar o que se
contém na Palavra de Deus. Todas as igrejas protestantes dos nossos dias
estão concordes a respeito do cânon da Escritura, porém o seu ensino difere
essencialmente do ensino da Igreja Romana.

Para se poder saber o que a Igreja do Papa ensina a tal respeito, consultemos
antes de mais nada os anais do Concílio de Trento. Em abril de 1546,.na
sessão quarta, exigiu-se dos fiéis, pela primeira vez, sob pena de anátema, isto
é, de separação total, absoluta, irrevogável, da comunhão dos seus crentes,
que admitissem no sagrado cânon das Escrituras os “livros apócrifos”.

O decreto foi concebido nos seguintes termos:

“O sagrado... Concílio de Trento... conhecendo que esta verdade e esta regra


se encontram tanto nos livros sagrados como nas tradições, as quais chegaram
até nós, sendo recebidas pelos apóstolos da boca do próprio Cristo, ou melhor,
transmitidas por eles sob a inspiração do Espírito Santo... [o Sínodo], seguindo
o exemplo dos padres ortodoxos, recebe a reverência com igual piedade e
veneração todos os livros, tanto do Antigo como do Novo Testamento, sendo
como é o próprio Deus o autor de ambos, e guardamos na Igreja por uma
sucessão não interrompida. E por isso houve por bem inserir neste decreto um
catálogo dos livros sagrados, para que fique bem assente e não haja a menor
dúvida acerca dos mesmos livros recebidos por esse Sínodo”.

Depois juntou a este decreto uma lista em que se acham incluídos, não só os
livros do Antigo Testamento aceitos também pelos protestantes, mas também
os outros chamados apócrifos, que são: Tobias, Judite, Sabedoria,
Eclesiástico, Baruque e a última parte dos livros de Ester e Daniel, isto é,
desde o versículo 4 do capítulo 10 de Ester até ao fim do capítulo 16, e os
capítulos 13 e 14 de Daniel, que tratam da história de Susana, Bel e o Dragão,
e o cântico dos três meninos.
Em vista do exposto, somos, pois , obrigados a declarar que os “padres
ortodoxos” da Igreja Católica, por “uma sucessão não interrompida”, recebiam
os “livros apócrifos” e os outros livros citados no decreto, “com igual piedade e
veneração”. Isto, porém, é menos exato e, se há assunto sobre o qual os
“padres ortodoxos” e um grande número de teólogos, no seio da própria Igreja
Romana, hajam concordado uma vez, é o seguinte: “banir do sagrado cânon da
Escritura os livros apócrifos”.

Nesta assembleia servil, na sessão quarta, à qual assistiram apenas quarenta


e nova bispos, havia muita diferença de opinião. Os bispos portaram-se de tal
maneira que foi necessário ordenar-lhes que dessem os seus votos um por um,
os quais se iam numerando à medida que eram recebidos na mesa; a mesma
diversidade de opiniões sobre tal assunto existia no mês de abril de 1546.

É um erro crer que o Concílio de Trento não fez mais do que “declarar” o que
anteriormente era matéria de fé; tanto não era assim, que os veneráveis padres
brigaram uns com os outros e mutuamente “Se puxaram as barbas” para impor
suas opiniões individuais e tudo isto estando ali o “espírito Santo”.

É verdade que aprovaram os decretos e “declararam como matéria de fé” a


autoridade dos padres e da tradição apostólica em seu favor, porém tal
declaração não era verdadeira. Não tinha e nem tem o menor apoio na
evidência dos fatos.

São Paulo diz-nos que “aos judeus foram confiados os oráculos de Deus”
e isto mesmo ele escreveu aos Romanos (Romanos 3.2), como se fosse um
aviso profético. Os cristãos primitivos professavam ter recebido dos judeus o
código ou cânon do Antigo Testamento.

Nem Cristo nem nenhum dos escritores inspirados do Novo Testamento jamais
citou os livros apócrifos; nem sequer a eles se referiram.

Temos diferentes escritores cristãos que nos deixaram listas do cânon sagrado
das Escrituras, segundo as respectivas épocas em que viveram. Logo
citaremos alguns dos pais mais importantes da Primitiva Igreja Cristã e outros
teólogos (Todos pertencentes a Igreja de Roma), em cada século sucessivo, os
quais não admitiam os “livros apócrifos”, dando-nos desta forma a medida da
crença da Igreja em tal assunto nos diferentes séculos,. Fácil será a qualquer
um cotejar as citações que apresentamos no fim do presente capítulo.

A moderna Igreja de Roma, por conta do celebríssimo Concílio de Trento (ano


1546), excomungou todos aqueles que rejeitassem os livros de Macabeus,
Eclesiástico, Tobias, Judite, Baruque, Sabedoria e que não os considerassem
como fazendo parte do cânon inspirado das Escrituras [1].
Os livros apócrifos foram banidos do cânon sagrado, quer explicitamente, quer
de uma maneira indireta, ao darem uma lista que os excluía, por [2]:

 Militão, bispo de Sardis, no segundo século.

 Orígenes, no terceiro século.

 No quarto século, baniram-nos igualmente os “santos” Atanásio,


Hilário, Cirilo de Jerusalém, Cipriano, Gregório Nazianzeno e Eusébio,
bispo de Cesaréia, Anfilóquio e os bispos reunidos no Concílio de
Laodicéia [3], o qual foi confirmado por um decreto do Concílio Geral em
Trulo (can. 2), e que, portanto, é obrigatório para a Igreja de Roma [4];

 No quinto século: São Jerônimo, Epifânio e Agostinho.

 No sexto: Junílio, bispo africano, e alguns mencionaram também


Isidoro, bispo de Sevilha.

 No sétimo: Temos nada menos que a autoridade do próprio Papa


Gregório, o Grande. A mesma edição Vaticana [5] das obras de Gregório
prova que ele não admita os livros “apócrifos”.

 No oitavo: S. João Damasceno, fundador da teologia escolástica entre


os gregos, e Alcuíno, abade de São Martinho de Tours, na França.

 No nono: Nicéforo, patriarca de Constantinopla, e a “Glosa Ordinária”,


começada por Alcuíno, ou por Eusébio, e concluída por vários
escritores.

 No décimo: O monge Flaviacense e Élfrio, abade de Malmesbury.

 No décimo primeiro: Pedro, abade de Clugni.

 O décimo segundo: Hugo de São Vitor, Ricardo de São Vitor, Roberto,


abade de Duits e autor da “Glosa” sobre Graciano e da versão inglesa
da Bíblia que existe na biblioteca da Universidade de Oxford.

 No décimo terceiro: O cardeal Hugo e São Boaventura.


 No décimo quarto: Ricardo Fitz Ralph, arcebispo de Armagh e primaz
da Irlanda, Nicolau Lira e Viclef.

 No décimo quinto: Tomás Valdense e Dionísio Cartusiano.

 No décimo sexto: Temos o famoso cardeal Caetano. Este ilustre


prelado da Igreja Romana escreveu um comentário sobre os livros
históricos do Antigo Testamento, oferecido ao Papa Clemente VIII.
Esse livro foi publicado só doze anos antes de reunido o Concílio de
Trento. Na dedicatória, o cardeal faz sua a regra de São Jerônimo,
relativa à clara distinção que este faz entre os livros canônicos
propriamente ditos e os apócrifos”. Eis as suas palavras:

“Bem aventurado padre: A Igreja Latina Universal


deve muitíssimo a São Jerônimo, não só por causa
de suas notas sobre as Escrituras, como também
porque fazia distinção entre os livros canônicos e os
não canônicos, Por cujo motivo nos pôs a salvo da
acusação dos judeus que, de outra maneira,
poderiam dizer que nós havíamos forjado livros ou
parte de livros pertencentes ao antigo cânon, os
quais eles nunca haviam recebido” [6]

Jerônimo (ano 418) claramente aderiu à lista dos livros que formavam o cânon
judaico e expressamente rejeitou os livros “apócrifos” [7], e o mesmo fez o
cardeal Belarmino [8].

E este prelado, um dos controversistas mais ilustres que a Igreja tem


produzido, o que diz a estas autoridades?

Os fatos são demasiadamente notórios para poderem ser negados e, por isso,
Belarmino aceita-os, mas por modo indigno e torpe; “confessa e ilude a
dificuldade”, como dizem os advogados.

Não foi pecado, diz ele, nem heresia, Santo Agostinho, São Jerônimo e São
Gregório rejeitarem estes livros, é por isso mesmo que nenhum Concílio Geral
até aos dias em que viveram havia definido alguma coisa a este respeito [9]. É
provável que esta seja a razão mais concludente que se possa aduzir, porém
não serve e nem pode servir de apoio à doutrina de Trento.
Temos citado em cada século, por sua ordem, alguns dos principais escritores,
todos os quais (à exceção de Wicliffe) são reconhecidos pela Igreja de Roma
como membros da sua comunhão que rejeitaram os livros apócrifos.

Tiramos, portanto, as seguintes conclusões:

1ª) Que até abril de 1546 os “livros apócrifos” não faziam parte do cânon da
Escritura admitido pela Igreja Romana;

2ª) Que fizeram parte do cânon só daquela data em diante;

3ª Que o Concílio de Trento inventou este novo código e que os romanistas,


quando sustentam e afirmam que os “livros apócrifos” fazem parte do cânon
sagrado da Escritura, apresentam um sistema novo e ensinam uma doutrina
nova.

Os nossos leitores podem agora perguntar e, com razão: Teriam os padres de


Trento alguma autoridade em que apoiassem o seu decreto?

Agora, resta-nos examinar as razões alegadas, visto este assunto ser


altamente importante.

Referências às edições dos pais da Igreja mencionadas neste capítulo:

Militão – Ano 177, rejeita todos os livros apócrifos. Epis.ad Omnes, apud
Euseb., Ecles IV, Cap. 26; Cantab. 1700; Belarm, de Verbo Dei. Lib. I, cap. XX,
pg. 38, sec. 13, Praga, 1721.

Orígenes – Ano 200, rejeita, igualmente, os livros apócrifos.

Expos. Primi. Psalm. Ap. Euseb. Hist. Eccles, lib. VI, cap. XXV, Edit. Reading.,
Cantab., 1720.

Cipriano – Ano 250, ou Rufino, rejeita também os livros apócrifos. Bell de


Verb. Dei., lib. Cap. XX, pg 38, tom. I, Praga, 1721.

Atanásio – Ano 340, rejeita os mesmos, à exceção de Baruqye.

Epist. In Alex. Aristeni, Epp. Sinopsi, Pandectas de Beveridge, II, Oxford, 1672.
Atanas., Op. In Sinops., tom. II, pg. 39, Paris, 1627.

Hilário – Ano 350, rejeita pela mesma forma todos os livros.

Prolege. In lib. Psalmo. Sect. 15, pg. 145, Wirceburg, 1785. Belarm. Lib. 2, cap.
I, sect. 15, tom. II, Praga, 1721.

Cirilo de Jerusalém – Ano 370, nomeia apenas 22 e rejeita os livros apócrifos,


porém, supõe-se que no número deles conta Baruque e as Epístolas de
Jeremias. Catech. IV, sect..20, Oxon., 1703.
Gregório Nazianzeno – Ano 370, rejeita todos os livros apócrifos. Ex ejus
poematibus, pg. 194, tom. II, Paris, 1630.

Eusébio – Ano 315, rejeita também os mesmos livros. Hist. Eccles., Lib. IV,
cap. 26, lib. VI, cap. 25, Cantab., 1700.

Concílio de Laodicéia – Ano 367, Can. LX, Labb. Et Coss., tom. I, coluna
1507, rejeita igualmente os livros apócrifos, Paris, 1671.

Anfilóquio – Ano 370, rejeita-os todos. Ex Jambis ad Selencum, Pandect. De


Beveridge II, pg. 179, Oxford, 1672.

Epifânio – Ano 390, exclui-os todos. De Mens. Et Ponder., tom. II, pg. 161,
Colon., 1682.

Jerônimo – Ano 392, igualmente os rejeita. Symbolum Ruffini, tom. IV, pg. 143;
Proef. In Prov. Salom., tom.III, 8. Proef. In Jeremiam. Ibid 9 in Daniel, in lib.
Regum Basil 1525. Bell. De Verbo Dei, lib. I, cap. 10, sct. XX, pg.20, tom. I,
Praga, 1721.

Concílio de Calcedônia – Ano 451, confirma os cânones do Concílio de


Laodicéia; Art. 15, de can. I, Labb. Conc. IV, Paris, 1671.

Agostinho – Ano 420, exclui do sagrado cânon todos os livros apócrifos. De


Mirab. Sac. Scrip., lib. 2,cap. 34;De Civit. Dei, lib. 18,cap. 36, Paris, 1686.

Junílio – Ano 545, exclui Judite, Sabedoria Macabeus, de Part. Divinae Leges,
lib. I, cap. 3, Veneza, 1765.

Gregório I – Ano 601, aceita a lista de Jerônimo. Greg. Mor., lib. 19 sobre o
cap. 39 de Tob., Edit. Bened., 1705.

Damasceno – Ano 787, rejeita todos os livros apócrifos. Orth. Fid., lib. IV, cap.
18, pg. 153, Brasil., 1539; Cano Lug. Theol., lib.2, cap. X, Col., 1605.

Alcuíno – Ano 800, exclui igualmente os mesmos livros. Niceph. Partr. C.P.
Canon. Script. In Operibus Pithei, citado por H. Lynd, Via Deviasec, 5, pg. 159,
Edit., 1850, Londres.

NOTA – Quanto às referências que aqui deixamos com data mais recente e
que servem apenas para manifestar uma série não interrompida de valiosos
testemunhos, o leitor pode recorrer à Via Devia de Lynd, sect.. 5, Londres,
1850, e Port. Evidenc. De Birkbeck, Londres. 1849.
(1) Concil. Trid., Sex. IV.
(2) Alguns dos autores (poucos) que aqui se citam inserem na sua lista
Baruque, porém estas exceções se encontrarão na lista das edições que
vai no fim do capítulo.
(3) Será conveniente notar-se aqui que, pelo que respeita ao Concílio de
Laodicéia, os livros de Baruque, as Lamentações e as Epístolas estão
inseridos em alguns exemplares (Labb. Et Cos., Tom. I, pg. 1507-8,
Paris, 1671). Encontram-se na versão de Gentiano Hervert, porém não
fazem menção deles os exemplares latinos de data anterior. Nem
Aristeno, nem Carranza os têm em suas obras.
(4) O terceiro Concílio de Cartago (ano 397, Can. 47) admite alguns dos
livros, porém omite Baruque e os dois livros dos Macabeus, isto é,
nenhum exemplar grego os admite, embora Dionísio Exíguo faça deles
menção em sua coleção (Labb. Et Coss. Com., tom. II, Col., 1177, Paris,
1671).
(5) Roma, 1608, Ex. Tipog. Vatican., tom. III, pg. 899.
(6) Caetano Epis. Dedic. Ad.P.Clem. Vii ante Com, In lib.Hist. V.T., Paris,
1546.
(7) Hier. Epis. Ad Paulinum, Opera, Edt. Bem., 1693, tom. IV, Col. 571-4, e
Praefat. In Libros Salom., tom. I, pg. 938,939.
(8) De Verbo Dei lib. I,c. X, sec. XX, tom. I, pg.20, Edit. Praga, 1721.
(9) De Verbo Dei, lib. I,c.X, sec. VIII, pg. 18.

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