Documentos de Académico
Documentos de Profesional
Documentos de Cultura
Para se poder saber o que a Igreja do Papa ensina a tal respeito, consultemos
antes de mais nada os anais do Concílio de Trento. Em abril de 1546,.na
sessão quarta, exigiu-se dos fiéis, pela primeira vez, sob pena de anátema, isto
é, de separação total, absoluta, irrevogável, da comunhão dos seus crentes,
que admitissem no sagrado cânon das Escrituras os “livros apócrifos”.
Depois juntou a este decreto uma lista em que se acham incluídos, não só os
livros do Antigo Testamento aceitos também pelos protestantes, mas também
os outros chamados apócrifos, que são: Tobias, Judite, Sabedoria,
Eclesiástico, Baruque e a última parte dos livros de Ester e Daniel, isto é,
desde o versículo 4 do capítulo 10 de Ester até ao fim do capítulo 16, e os
capítulos 13 e 14 de Daniel, que tratam da história de Susana, Bel e o Dragão,
e o cântico dos três meninos.
Em vista do exposto, somos, pois , obrigados a declarar que os “padres
ortodoxos” da Igreja Católica, por “uma sucessão não interrompida”, recebiam
os “livros apócrifos” e os outros livros citados no decreto, “com igual piedade e
veneração”. Isto, porém, é menos exato e, se há assunto sobre o qual os
“padres ortodoxos” e um grande número de teólogos, no seio da própria Igreja
Romana, hajam concordado uma vez, é o seguinte: “banir do sagrado cânon da
Escritura os livros apócrifos”.
É um erro crer que o Concílio de Trento não fez mais do que “declarar” o que
anteriormente era matéria de fé; tanto não era assim, que os veneráveis padres
brigaram uns com os outros e mutuamente “Se puxaram as barbas” para impor
suas opiniões individuais e tudo isto estando ali o “espírito Santo”.
São Paulo diz-nos que “aos judeus foram confiados os oráculos de Deus”
e isto mesmo ele escreveu aos Romanos (Romanos 3.2), como se fosse um
aviso profético. Os cristãos primitivos professavam ter recebido dos judeus o
código ou cânon do Antigo Testamento.
Nem Cristo nem nenhum dos escritores inspirados do Novo Testamento jamais
citou os livros apócrifos; nem sequer a eles se referiram.
Temos diferentes escritores cristãos que nos deixaram listas do cânon sagrado
das Escrituras, segundo as respectivas épocas em que viveram. Logo
citaremos alguns dos pais mais importantes da Primitiva Igreja Cristã e outros
teólogos (Todos pertencentes a Igreja de Roma), em cada século sucessivo, os
quais não admitiam os “livros apócrifos”, dando-nos desta forma a medida da
crença da Igreja em tal assunto nos diferentes séculos,. Fácil será a qualquer
um cotejar as citações que apresentamos no fim do presente capítulo.
Jerônimo (ano 418) claramente aderiu à lista dos livros que formavam o cânon
judaico e expressamente rejeitou os livros “apócrifos” [7], e o mesmo fez o
cardeal Belarmino [8].
Os fatos são demasiadamente notórios para poderem ser negados e, por isso,
Belarmino aceita-os, mas por modo indigno e torpe; “confessa e ilude a
dificuldade”, como dizem os advogados.
Não foi pecado, diz ele, nem heresia, Santo Agostinho, São Jerônimo e São
Gregório rejeitarem estes livros, é por isso mesmo que nenhum Concílio Geral
até aos dias em que viveram havia definido alguma coisa a este respeito [9]. É
provável que esta seja a razão mais concludente que se possa aduzir, porém
não serve e nem pode servir de apoio à doutrina de Trento.
Temos citado em cada século, por sua ordem, alguns dos principais escritores,
todos os quais (à exceção de Wicliffe) são reconhecidos pela Igreja de Roma
como membros da sua comunhão que rejeitaram os livros apócrifos.
1ª) Que até abril de 1546 os “livros apócrifos” não faziam parte do cânon da
Escritura admitido pela Igreja Romana;
Militão – Ano 177, rejeita todos os livros apócrifos. Epis.ad Omnes, apud
Euseb., Ecles IV, Cap. 26; Cantab. 1700; Belarm, de Verbo Dei. Lib. I, cap. XX,
pg. 38, sec. 13, Praga, 1721.
Expos. Primi. Psalm. Ap. Euseb. Hist. Eccles, lib. VI, cap. XXV, Edit. Reading.,
Cantab., 1720.
Epist. In Alex. Aristeni, Epp. Sinopsi, Pandectas de Beveridge, II, Oxford, 1672.
Atanas., Op. In Sinops., tom. II, pg. 39, Paris, 1627.
Prolege. In lib. Psalmo. Sect. 15, pg. 145, Wirceburg, 1785. Belarm. Lib. 2, cap.
I, sect. 15, tom. II, Praga, 1721.
Eusébio – Ano 315, rejeita também os mesmos livros. Hist. Eccles., Lib. IV,
cap. 26, lib. VI, cap. 25, Cantab., 1700.
Concílio de Laodicéia – Ano 367, Can. LX, Labb. Et Coss., tom. I, coluna
1507, rejeita igualmente os livros apócrifos, Paris, 1671.
Epifânio – Ano 390, exclui-os todos. De Mens. Et Ponder., tom. II, pg. 161,
Colon., 1682.
Jerônimo – Ano 392, igualmente os rejeita. Symbolum Ruffini, tom. IV, pg. 143;
Proef. In Prov. Salom., tom.III, 8. Proef. In Jeremiam. Ibid 9 in Daniel, in lib.
Regum Basil 1525. Bell. De Verbo Dei, lib. I, cap. 10, sct. XX, pg.20, tom. I,
Praga, 1721.
Junílio – Ano 545, exclui Judite, Sabedoria Macabeus, de Part. Divinae Leges,
lib. I, cap. 3, Veneza, 1765.
Gregório I – Ano 601, aceita a lista de Jerônimo. Greg. Mor., lib. 19 sobre o
cap. 39 de Tob., Edit. Bened., 1705.
Damasceno – Ano 787, rejeita todos os livros apócrifos. Orth. Fid., lib. IV, cap.
18, pg. 153, Brasil., 1539; Cano Lug. Theol., lib.2, cap. X, Col., 1605.
Alcuíno – Ano 800, exclui igualmente os mesmos livros. Niceph. Partr. C.P.
Canon. Script. In Operibus Pithei, citado por H. Lynd, Via Deviasec, 5, pg. 159,
Edit., 1850, Londres.
NOTA – Quanto às referências que aqui deixamos com data mais recente e
que servem apenas para manifestar uma série não interrompida de valiosos
testemunhos, o leitor pode recorrer à Via Devia de Lynd, sect.. 5, Londres,
1850, e Port. Evidenc. De Birkbeck, Londres. 1849.
(1) Concil. Trid., Sex. IV.
(2) Alguns dos autores (poucos) que aqui se citam inserem na sua lista
Baruque, porém estas exceções se encontrarão na lista das edições que
vai no fim do capítulo.
(3) Será conveniente notar-se aqui que, pelo que respeita ao Concílio de
Laodicéia, os livros de Baruque, as Lamentações e as Epístolas estão
inseridos em alguns exemplares (Labb. Et Cos., Tom. I, pg. 1507-8,
Paris, 1671). Encontram-se na versão de Gentiano Hervert, porém não
fazem menção deles os exemplares latinos de data anterior. Nem
Aristeno, nem Carranza os têm em suas obras.
(4) O terceiro Concílio de Cartago (ano 397, Can. 47) admite alguns dos
livros, porém omite Baruque e os dois livros dos Macabeus, isto é,
nenhum exemplar grego os admite, embora Dionísio Exíguo faça deles
menção em sua coleção (Labb. Et Coss. Com., tom. II, Col., 1177, Paris,
1671).
(5) Roma, 1608, Ex. Tipog. Vatican., tom. III, pg. 899.
(6) Caetano Epis. Dedic. Ad.P.Clem. Vii ante Com, In lib.Hist. V.T., Paris,
1546.
(7) Hier. Epis. Ad Paulinum, Opera, Edt. Bem., 1693, tom. IV, Col. 571-4, e
Praefat. In Libros Salom., tom. I, pg. 938,939.
(8) De Verbo Dei lib. I,c. X, sec. XX, tom. I, pg.20, Edit. Praga, 1721.
(9) De Verbo Dei, lib. I,c.X, sec. VIII, pg. 18.