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HYMANITAS — Vol. XLVIIT (1996) José RIBEIRO FERREIRA Universidade de Coimbra O TEMA DO LABIRINTO NA POESIA PORTUGUESA CONTEMPORANEA ‘Analisei em outra ocasio 0 tema do labirinto na cultura greco-latina’ ‘Tomado de modo geral como simbolo de complexidade de caminhos ou de uta do homem contra os terrores do inconsciente, 0 Labirinto — vimo-lo entéio — aparece na tradigdo greco-romana associado a0 paldcio de lendério rei Minos, como um edificio de planta complexa onde vivia 0 Minotauro. Passou depois & posteridade como um substantive comum para designar um emaranhado de caminhos, de compartimentos, ou uma situago complexa. Minotauro, 0 filho hibrido dos amores de Paséfae com o touro branco de Poséidon, tomnar-se-4 um monstro nocivo A humanidade que teve de ser encerrado num edificio de impossivel safda, arquitectado pelo engenhoso artista que foi Dédalo. Devorador da juventude ¢ um flagelo para os homens, desse perigo os libertou Teseu, um herdi que, na lenda, tal como Héracles, procura climinar da terra o que impede a vida civilizada, sejam homens, povos ou animais? ‘Vimos também que a descrigao sistemética, de forma a unir o Labirinto, o tributo 40 Minotauro, 0 feito de Teseu, a ajuda de Ariadne € 0 seu ahandono em Naxos s nos aparece em autores gregos tardios © em autores romanos. Mas vimos ainda que, de edificio complexo, construfdo pelo engenho do homem para af encerrar aquilo que de vergonhoso ¢ infamante foi gerado ou € nocivo ao homem, o labirinto evoluin meta foricamente para 0 pensamento humano nas suas buscas sempre infrutéferas, para a cidade em que os homens se véem petdidos ¢ desconhecidos no meio dos outros, para a vida humana num mundo to hostil. A liber- T Vide José Ribeiro Ferreira, «O Labirinto na sradigio clissica», Gestao & Desenvolvimento 4 (1995) 219-234, 2 Vide José Ribeiro Ferreira, «Aspectos polticas nas Suplicamtes de Euripides», Humanitas 37-38 (1986) 108, 310 JOSE RIBEIRO FERREIRA tagdo consegue-se pela coragem, mas também pela doagao e pela ajuda — ou melhor, entre-ajuda. Sem 0 contributo de Ariacine, Teseu nada conseguiria E portunto compreensivel, pelo que se acaba de expor, que se trate de um mito com permanéncia essidua na cultura posterior e, nos seus vétios sentidos, seja frequente na poesia portuguesa contemporinea, quer em simples alusies, quer como motivo de poemas, quer em titulos de livros. Recordo entre outros Jorge de Sena, Miguel Torga, Sophia de Mello Breyner Andresen, José Augusto Seabra, Fernando Guimaries, Natilia Costeia, David Mourio Ferreira, Anténio Lousada, Alberto Pimenta, Américo Tei- xeira Moreira, Xosé Lois Garefa, Alberto Lacerda, Casimiro de Brito, Luz Videira, Joo Rui de Sousa, Jozio Miguel Fernandes Jorge, Nuno Jtdice. Hoje tentarei surprender @ permanéneia do mito em alguns desses poetas: Miguel Torga, Natdlia Correia, David Mourio Ferreira, José Augusto Seabra, Fernando Guimardes, Sophia de Mello Breyner Andresen, Miguel Torga trata 0 labirinto e 0 Minotauro em dois poemas: um com 0 titulo de “Labirinto" © o outro de "Condicao", publicados respec~ tivamente no Didrio VII (1961, p. 92) € em Camara ardente (1962, p. 9), s° excluirmos evidentemente a figura de fcaro que com o mito se realaciona e aparece em Miguel Torga mais de uma vez. Na primeira composicio, Teseu aparece identificado com 0 poeta e Ariadne com a poesia, que é ao mesmo tempo labitinto (vv. 6-7). Os bragos Ga poesia, a Ariadne do mito, so alamedas, «onde 0 tempo caminha © Gescaminha» (v. 2). Apesar de todo o seu esforgo em «encontrar a saida, a liberdade» (v. 5}, © sujeito litieo, sem a ajuda do fio que Ihe mostre o caminho na poesielabirinto, sé capaz de expressar 0 péinico que sente (v. 10). Transcrevo a seguir 0 poema, que é um momento de desespero: Perd-me nos teus bragos, slamedas ‘Onde o tempo caminha e deseaminha Pus a forga que tinha Na instintiva defesa 5 Deencontrar a saida, a liberdade Mas agora Teseu era um poets, E Ariane a poesia, o labirint. Desajudado, SO me cesta cantar, deixar maceado 10 Opinico que sinto, E assim se verifica, no poema, a inverséo dos dados do mito, jd que Ariadne no consegue indicar 2 saida a Teseu —a liberdade. Se 0 poema acabado de analisar contém varios elementos do mito, 0 de Camara ardente apresenta-os em maior mémero: 0 labirinto, 0 fio, 0 monstro/Minotauro, Dédalo, Elementos que, como observa Maria Helena da © TEMA DO LABIRINTO 3il Rocha Pereira, «fornecem a simbologia para definir a inquietagtio perma- nente do homem-poeta, que nfo pode fugir de si mesmo nem das limita- des em que 0 tempo o encerra>®, Se, como na composigéio anterior, © sujeito poético se identifica com Teseu — se bem que este se no encontre expresso —, 0 fio soos versos que o guiam eo fazem entrar (vy. 2-3) seoeeh@ labirinto Dos préprios sentimentos. Dai sai em seguida, depois de matar o monstro, em busca de

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