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opiniéJo; acha que um poema está ainda em melhores
condições de avaliar a imbecilidade humana,. profunda
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como o mar. tle . é professor do famoso Magdolene
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College, da Universidadeinglesa de Cambridge,e as
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experiênciasq ue sofreu com a leitura e interpretação
de poemas ingleses pelos estudantes eram horrfveis.
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Não resolvidoa resignar-se, como muitos outros pr~
.i:' n'~'.. J . fessores que começam entusiastas e acabam charla-
':.~;r::, tães, estudou os obstáculos que se opõem à compreen-
DEVO ao meu amigo Joséde Queiroz Lima a su- !
gestão de aplicar à relaçãoentre poesiae ideolo- são da. poesia, para poder combatê-Ios, e chegou a um
gia o resÜltadoda leitura do livro Practical Criticism,
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.
.' sistema rigorosamente estabelecido de dez IIdificulda-',
r.:.
da
umaautoria dodificílima:
leitura eminentecrítico inglês
um estudomu
.
I. ito
A. Richards.Era
técnico, ba. ,t.I,
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des principais": 1) Incapacidade de compreender o
sentido; a maioria dos homens lê poemas só "com o
~;ft
\
- incapaz de "construir as
",,;',
supus ta, que o poema exprime. - 9) Preconceitos téc, .~J~:' quatro coisas muito diferentes: o sentido propriamente
nicos, que julgam a forma sem consideração da relação 'r.~!" dito, a afirmação; o acento sentimental da afirmação,
"!.;'i..
indissolúvel entre forma e sentido; nessespre conceitos ~ ;!!. sempre mais ou menos acompanhada de emoções;o
encontram-se os "acadêmicos", idólatras da forma tom, que depende da atitude do que fala em relâção
~:;f:>
metrificada, com os "modernos", fanáticos intolerantes ao ouvinte;e a intenção, conciente ou inconciente,com
das formas livres. - 10) Preconceitos críticos: sedi- J(. a qual o escritor quer influenciaro espírito do leitor.
r.:".:
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"
mentos de teorias críticas que prescrevem à poesia um ',~~'\r Num poema ou em qualquer escrito estão sempre jun-
papel determinado e condenam um poema em que está :~.~~.
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tas essas quatro significaçõesdo sentido, em dosagem
desempenhado outro papel da poesia. Esta "décima di- ~ t~.:. diferente. A maneira de ler deveria dependerdes sa do-
ficuldade" é talvez a màis profunda de tôdas, recof!du- .~: sagem. Mas dependem das qualidades intelectuais e
zindo à primeira, a "incapacidade de construir". "EI t, emotivas do leitor as suas preferências de comp~een-
Cosmos" - diz uma pessoa no romance Belarmino y .i'
..i são (e má-compreensão), dirigidas ao sentido lógico,
Apolonio, de Ramón Pérez de Ayala - "el Cosmosestá l~;.
ao "sentimentalismo", ao tom ou às' intenções do
en el diccionario de Ia lengua caste/lana.". Na verdade, poema,e dessas preferências provêmas "dez dificulda-
~..
., .
é assim; é apenas preciso pôr em ordem as palavras, . des" que se apresentam na leitura de poesia. Os ho-
e esta é a tarefa do poeta; mas o mundo quer pres-
.tt' mens não sabem ler.
crever-lhe as suas leis de desordemprosaica,'e se o .-t. Se isto está certo, não se fimitará à poesia inglesa
poeta não obedece, o mundo responde pela incapaci- nem à poesia em geral; será uma incapacidadecom um
dade de construir o poema, de ler no dicionário, de e universal,de origem mista -
intelectual e emotiva
compreender o Universo. Em suma, os homens não - e de conseqüênciasde alcance enorme. Mas justa-
sobem ler. f;Jt' . mente esta enormidadeé que conduz às generalizações
:j~:r
Os homens não sabem ler. Aplicam a um poema .Jt~.
precipitadas da "psicologiadas massas", dum Le Bon
~...,
o mesmo processo errado que aplicam a anúncios de .~~..:. por exemplo,ao pessimi~momisantropoque não admite
""~": . o possibilidadede aperfeiçoamento moral e, intelectual
';"'
jornal ou a notícias de propaganda política: conten- . '4 .
os censuras aos ritmos irregulares de Christina Rossetti do novos horizontes sôbre o noturno mundo extrapoé-
, fico da humanidade.
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e os louvores às rimas banalíssimas dum certo Rev. ,i:
T....
"
do o pérfido Richards apresent.ou um 'transcrito em :'!;.. damante de profeta no deserto, ou algo de hermético,
disposiçãotipográfica fora do costume. E êssesmesmos l,
,
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, :
entre atitude e intenção. Tôdas as atitudes poéticas _
t
i:,,',
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ll~... popular pelos poetas cultos é um artifício. São atitudes;
leitores ousaram condenar um poema de Hardy ("nã~ e o prfmeiro mal-entendido da poesia é a confusão
excita entusiq:;mo") e outro de Donne (" é frio e bru- , '~~~:'
j.
entre atitude e intenção. 'Tôdas as atitudes poéticas,
ta/"), em nome dum ideal convencional de poesia.
a parnasiana, a romântica, a suprarrealista _
não pas-
E' foram
mento precisoassinados
lembrar por
quepessoasde
Os protocolos doosexperi-
ambos sexos sam de - atitudes. A verdadeira intenção de tôda
verdadeira poesia é a expressãodum a verdade pessoal,
e de tôdas as idades, tôdas de considerável e algumos humana; ,e contra tôdas as atitudes artificiais surge,
I,:
de grande cultura literária. como instância suprema, a figura do, mais completo,
"
'"
porque mais humano, dos poetas: François Vil/on. A
O livro de Richards é destinado a explicar por mé- "
todos psicolágicos êsse malôgro, e a tirar dêle conclu- poesia de Villo~ os poemas mais bem construídos em
língua francesa, é realmente uma lição sôbre a essên-
sões pedagógicas. E separam-se aquí os nossos cami- J
~ cia da poesia: o poeta com a vida mais desordenada
nhos. O crítico inglês tem razão em acusar a superfi- ~"
cialidade do nosso método de ler, recomendando
.. chega a ser o construtor de supremas ordens verbais;
:~~
~' superior à atitude é a intenção, e a intenção da poesia
leituras repetidas, com espírito humilde; mas prefiro o ~..
,;.'
é: impor uma ordem ao caos das palavras desordena-
_
,
~
conselho de outro crítico inglês, Theobald Ritchie, de
;(, das. A idéia materialista de ThomasHenry Huxley
escolher-se um poeta de predileção e viver com êle até
, ~'.
,
que uma mult idão de macacos, dactilografando du-
chegar a urna completa identificação cmocional, o que .~~:
t. rante séculos palavras e frases insensatas, chegariam,
significaria a abertura do espíríto para tôda poesia. 'i~~ com o tempo e por mero acaso,'a compor todos os
Richards tem igualmente razão ao denunciar os mes- livros do Bri tish Museum - opomos a dou1rina idea.
mos processosde leviandade e rotina na crítica literá-, .,
lista: que é o "nisus formativus", a "fôrça' intelectual"
rio, elo também incapaz, em goral, de "Ier no dicionó-
rio do COSI110S",
e de "constr uir as frases". Mas o mau da poesia que impõe a ordem e transforma a língua
"
em dicionário do Universo; a métrica regular é apef'OS
êxito dessa crítica em face de todos os grandes poetas
sugeriu-me outras conclusôes, de alcance maior, abrin- , um caso particular dessa ordem, um~ possibilidade
entre outras, se bem que de superior significação his-
ORIGENS E FINS 33
.)""
v~~u MARIA CARPEAUX
t:); .
tóri, _a" Com ela começo o artifício; defendendo-se, a :.~.. pena estudá-Ia como movimento imposto de fora. Hugo
7:.~:,
,'.r< é um. poeta público, representando a "voz do povo", o
poesia 'torna-se tanto mais artificial quanto mais o
Illundo e '0 vida se artificializam, O resultado exterior '/:.'C.
" função pública da poesia. Já em Baudelaire a atitude
dêsses artifícios são as atitudes mencionadas que en- '/'.:~::. romântica significa oposição e isolamento. e
Parnasse
cobrem a verdadeira intenção poética: até uma atitude _~~}; .' simbolismo aceitom essa posição, e tôda a evoluçáoul-
que faz desaparecer completamente a intenção, produ- )i:..~.<' terior tem por fim recuperara perdida função pública
zindo uma poesia intencionalmente /lincompreensível", ;~~;;>~:-"do poesia. A poesia inglesa, por caminhos muito dife-
1
Conhecemos, na história da poesia, dois exemplos l~ft~/?>rentes, chegou ao mesmo fim: ao neo-classicismo anti-
de tal poesia /lincompreensível", e não é por acaso que I~'"...,:.' barroco seguiuo
.t~\~'~~ roma~tismo,
d d ' I XX
e a poesiaprivadada se-
I d
nd d
ambos
poética: pertencem
a poesia doa barroco
épocas edaa poesia
máximado florescência
século XX P~ I(:,'
Inr~: gu
paro oa meta
poesiaepública,
o secudao qual evo ve o mesmom
já possuímosas oo
primei-
Assim, não foi por acaso que o séculod e T. S. Eliot n.:lj:!.0
~1.~~}!-#'" 'ros tentativas. .
redescobriu a poesia barrôca dos metophysicol poets,
l;!}.~{L. Não chegou ainda ao fim essa evolução. E en-
.
Donne, Crashaw, Traherne; que o século de Gorda
~
j
.
. ..'~~~?"',
.
acostumados em forma de "stock responses', ' A poesIa
sias do século XVII e do século XX não consiste senão
'.;"ifl~~':'~: modernaé incompreensível"
significa,na bôcadoslei-
numa exigência mais imperiosa de distinguir entre
/lstatement" e /lexpression", entre sentido e sentimento, . ..at.,;: teres: "náo é como a poesia romântica, não tem, para
lil~~: ~ nós outros, função pública". A oposição que a poesia
entre atitude e intenção. O que mudou, tornando-se
~*~r moder~aen,co~tr~não é a. conseqü~nciade in~a~a~i-
mais artificial, não foi pràpriamente a poesia, mas o
mundo: o intenção poética permanece invariável, mas
I ~j'!1" dodes Indelevels, Intelectuais e emotlvas, mas slgnrflca
l.t~~:; uma resistência ideológica, existencial e por isso irre-
a transformação do mundo impõe ao poeta outra i.if.;~::, sistível, às intenções ideológicas da nova po~sia, à ten-
atitude. ~.~f~;" tativa poétlca de impor uma ordem humOlIa ao caes
A atitude é o problema menos estudado, e talvez f ~~ ': das coisas modernamente desordenadas.
o mais inlcrcssontc no hiSIÓria do pocsio. Tôdas os i .,:.".
.*
1:;}'h Falou-seem "ideologia", E acredito que com isto
existentes histórias do poesia moderna, sobretudo da
r';'., se revela o aspecto mais grave do experimento de I. A.
francesa, descrevem a evolução partindo do romantis-
mo, otravés do parnasianismo e do simbolismo, até o r~/'. Richards,A poesiaé difícil: quer dizer, ela sofre inter-
:;\I['rarrealismo, C0l110evolução autônoma. Valeria a f
1'~.:
1 pretações inadequadas, sem que possuamosmeios deci-
,'.!;.
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""! v~~u MARIA CARPEAUX ;Ii;':;::;.~'~ . ORIGENS E FINS 35
.
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sivos para convencer os enganados. Mas não é só a truir frases", de ler poesia. Por fôrça das ideologias,
,.'~~~.:;;n~. :,-.
.~)n\It..
poesia que eSlú neste caso. ',i~~~é;<:,;stamos .imp edidos,~e ler. no dic.ionári~ do Co~mos, de
Há certas regiões de atividade espiritual onde 'It~~%~'j';'"constrUir o mund~ . As Ideolo~la"s~poem-se,a ord;m.
chegamos a resultados inequivocamentefixáveis, cha- ;~;;E um caso especial dessa reslstenCla ideologica e a
mados "leis": a matemática, as ciências matemático- ~'Lnossa atitude caótica perante a suprema ordem das
-físicas, e, em grau menor, tôdas as ciências naturais. /:r.{~~:polavras, Q poesia.
Há outras regiõesde atividadees piritual em que a va- ~;~i~;~:> ,A resistência à poesia não é, pois, de ordem in-
lidade dos resultadosest á assegurada por meio de leis
.l~~t:fec!uQI, -:- falta de capacidáde mental ou de.educa-
de convenção, que se baseiam na aceitação geral dos ""çoohterarla - nem puramente de ordem emocJonal'~
"fatos consumados": direito, organização econômica e falta de disciplina sentimental. Por isso não tenho
privada da vida. Mas há outras regiõs,ain da, onde não . ita fé em providênciaspe dagógicas. Repugna-me
:
existem leis, onde imperam abstrações, carregadas de ~pr6 a confiança ingênua dos anglo-saxões na oni-
valores emol"ivos,disfarçados em doutrinas intelectuai~: M~~nciada educação; o leitor mais bem educado per-
ética e moral pública e privada, metafísica, religião, :'; ':~.t~se-ia. nas vertigens da poesia de Hoelderlin,e os
estética, tudo issoqu e gira em tôrno das noções liber- :~Ihos mais razoáveisafa stá-Io-iam da poesia musi-
dade, Nação, Justiça, Amor, Beleza, Saber e Fé. Os ,;'r,i~:Ma"armé, da poesiahe rméticade Góngora.
valores emotivos que acompanham' essas abstrações ,;ii}!I"Gostoria'
" a também de opor ao sábio professor Richards
aparentemente intelectuais surgem das profundidades ,.XÇertafrase saborosa do 'grande céptico Henry :Adams:
da nossa existência humana" das experiências eternas .;~Um -mestre-escola é um empregado encarregado de
de nascimento e morte, do isolamento do homem no ,)~ti;~tar ~enti~as às crianças e de v~la! as verdades aos
Universo,do nosso desamparo e das nossas esperanças. -i(;ir--odultos. Ha, porém, em contradlçao a estai outra
São experiênciasvitais, existencias, que se aliam a ou- !f~:~iJrose do mesmoHenryAdams:,"E'tarefa da verdadeira
tras necessidadesexiste nciÇlis,mais materiais, da vida ~W'~,~:,educação resolver o problema seguinte: guardar a or-
do homem entre os homens na sociedade. Tudo isto ."'í;:r',:;demno caos, a direção no espaço, a disciplina na liber-
constitue um conjunto de valores emotivos que, por ~~tl?do de,' a unidade na variedade; tarefa eten Ia, sentid~
fôrça de abstrações, nos aparecem em forma de opi- ,:iM~;:::tombém de tôda religião, filosofia, arte, pclftica e eco',
niões intelectualmente transmissíveis:e a isto chama- :i8~H'. nomia." Aos prisioneiros do falso conceito' parnasiano
mos ideologias. São as ideologias estéticas que se ~~f::.:" da poesiarepu gnaria a inclusãodas palavras "política"
opõem à compreensão da poesia. São as ideologiasde 1;:1.,:, e, sobretudo "economia" nesta declaração solene; mas
tôda ordem que se opõem à compreens60do mundo fl~:~::" !usta~~nte nisso re~i~e.a_c onciência clara ?a origem
:Jor fôrça das ideologias,estomos impedidosde "cons- f~;?: ldeologlcada nossa Inlblçaoem face da poesia.
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t\Ja verdade, a Jlinibiçãodos sentimentos" é muito J;':~~,"~'," esses s t ock responses pe t n f Icad os 111
uzem a espe-
menos um defeito pessoal do que a conseqüência de 'i~t~} ':.' eu/açõesabstratas sem a base de experiências pessoais,
convençõessociais: ainda no séculoXVIII,a gente cho- :~;~;~~t::.:<. tornam-se fontes de preconceitos sentimentais; em pú-
rava muito, náo se envergonhava,em nenhuma ocasião, .á~7.1~';/;:,:,~ blico, o~ "stock responses" perdem o aspecto, transfor-
das lágrimas copiosas; enquanto hoje a convençáo :I:~'i~:~::,;.,,'
.
.I;.-~I. ,rnam-se aparentemente em doutrinas, as ideologias.
social proíbe severamente o chorar, sobretudo o chorar ,:'j~'~j,>, Daí colocarem-setão arrogantemente,entre nós
dos homens e em público,Ess a inibiçãopor convenção Jdi;:{C,:':"e a poesia, preconceitos de ordem doutrinária. Mas nem
social é muito responsávelpela perda da função pública .t1\l:::' sempre se trata da "ri~~~ula repulsa dum r~publ~ca':a
da poesia: a forte emoçãoqu e a poesia sugere fica re- ~.~~;:'t,., em face da palavra rei, nem da estranha IgnoranCla
servada ao privado, tornando-se por isso objeto da in- . :: J'r~:::?r':
,:,:de ingleses cultos em face da poesia teolÓgica de
disciplinada superirritabilidade do sentimento à qual . :>,I15;,<Ooone. Estou convencido,di sto: se Dont~ não fôsse u.m
chamamos sentimentalismo. Mas não foitam outras
formos de sentimentalismo,permitidas e até muito em
i
',tli> -:~e consagrado,~ .se fosse realmente lido (o qu~ ~ao
~ttL e), todos os acatol,lcose gra.nde p~rte dos ,c~tollcos
voga no público. E' aquêle outro sentimentalismo que .,.. .'ter.':.modernos o recusanam. Conclente diSSO,Papllll ousou
aplica a objetos presentes as lembranças nebulosas do que só ~m ,catól.ic~ f~ore,ntino~po~e compreender
::.~I~~.tF.~dizer
passado, transfigurando e embelezando, por exemplo, .:lf~t..;.. ..Dente. Com toda a eVidencia,IstOnao e verdade. Mas
"os dias felizes da' mocidade"- "cualquiera tiempo . i' .~t~T..;:,..
. h6nisto
,. um dosblmais graves problemas da estética e
.::lrJ>,
d . '
. ':Z'j~:ii'. do cnt/ca: o pra ema a slncen a e.
d d
passado fué mejor". O sentimentalismo passadista é,
porém, um caso particular das reações inadequadas ao 1- ,~{:.,',. Do ponto de vista do leitor, parece impossívelg os-
objeto, como reagimos com emoções inadequadas às ';t ~yr< tormossinceramente dum poema cujas intenções nãq
imagens dQsonho. Uma parte dêsses sentimentalismos .~'~ .~;;' correspondem à direção do nosso próprio espírito, Pa-
nos é imposta pela autoridade das convençõessociais e ~~I\:!:. rece, mas não é assim., Gostamos de Stendhal e de
pela própria educação: são os chamados "stock respon- r~;{" Dostoievski,de Dante e de Milton, de Goethe e de Leo.
ses". t\lão é justo condená-Iosindiscrimínadamente.Os li;\r pardi, indis~riminadamente, aproveita.ndo-nos.da~uil~
.
"stock
do fundoresponses",
poético daemhumanidade,
nós, constituem-se
e se êlesdefaltassem
resíduos a que
!'M;j;(i:'
da
r"'J~,\;, Co!endge
suspensão da chamou "the suspenslon
nossa própria of dlsbellef'
crença diar.te da obra,
completamente, nenhuma poesia,velha ou moderna, en- j;.(~~:
, . do poeta, a cuja crença nos confiamos sinceramente,
.
contraria eco em nosSoespírito. Mas os "stock respon- L:JW~' confiando na ~ince~idade do poet~, Isto quer dize~: o
ses" são comuns a todos,e a larga divulgaçãode pen- ;i:<. problemada Slncendade,que surgira do lado do leitor,
samentos,senti mentose idéias traz sempreconsigouma 1:::'.:
~ ,.., aparece agora do lado do poeta. Com efeito, a since-
c,lnnrlnrdização, uma petrificação, Em cada indivíduo, t ~::' : ridadeé a última fé dos que perderam qualquer outra
.,
.~ tit:...
fé. E' o último critério. Mas, por desgrr:ç:a do crítico
literário, a sinceridade é indefinível.
Pela última vez, volto 00 livro de Richards. t\ sua
definição da sinceridade, muito discutida, parece-me de
grande valor: "a lendency towards increased arder".
"Uma tendência para ordem crescente". A sinceridade
da poesia é a garantia da concordância entre a ordem
interior, pessoal, e a ordem do mundo. Mas que ordem?
O mundo é caótico, e o mundo interior o é também.
Ao caos opomos o Cosmos, /fel diccionario de Ia lengua
castellano". No dicionário cósmico estão bem ordena~
dos êsses elementos da condição humano, que consti~
'''''',
.;
tuem, igualmente, as fontes inesgotáveis das ideologias .~,
e os temas eternos do poesia: '!-oisolamento do homem
.111I::
no universo, a pavorosa incompreensibilidade de nasci~ ~::&:
Richards em Chung
lomou-a ao que a Yung,
poesia éo velho clás. ,
sico dos chineses, oposta à ordem
perecível das coisas humanas (diríamos: às ideologias)
e identificada com o "Caminho", o caminho para a di-
vindode. E o sábio chinês conclue: "O céu conferiu-nos
a nnI ureza humana: o acôrdo com ela é o Caminho."