O Espaço de Conhecimento da UFMG está localizado na Praça da Liberdade e faz parte
do Circuito Cultural Praça da Liberdade, o espaço fica aberto para a exposição “Demasiado Humano” de terça a domingo e funciona das 10h às 17h, para a visita ao Terraço Astronômico o espaço está aberto aos sábados das 19h às 21h, esta atração também é gratuita, entretanto possui um número limitado de senhas (120 senhas são distribuídas por ordem de chegada a partir das 17h30 de sábado), a única atração paga do espaço é o Planetário, os ingressos são vendidos na recepção do prédio e os valores atuais são de 6 reais a inteira e 3 reais a meia. O prédio é composto por cinco andares e as exposições e atrações ocupam um total de quatro andares, ao ir visitar a exposição deve-se começar pelo último andar onde estão localizados o Terraço Astronômico e o Planetário, descendo-se um andar chegamos as “Origens”, início da exposição “Demasiado Humano”, ali somos levados através do tempo para as origens mais remotas do universo e do nosso planeta, a exposição começa com um painel que conta cronologicamente a formação da terra, do sistema solar, da lua, do surgimento dos dinossauros e do próprio homem, este painel demonstra muito bem que a origem retratada é a cientifica, o que comprovado quando nos são apresentadas a “arvore genealógica” do homem, desde de seu ancestral mais antigo já conhecido, acredito que tanto no quinto andar quanto no quarto a exposição busca apresentar a vertente cientifica das explicações para a existência do universo e de nós mesmos. Entretanto ao chegarmos no terceiro andar, intitulado “Vertentes”, percebemos uma mudança no tom da exposição, ela não quer mostrar apenas o lado cientifico, como também o religioso, a exposição começa com a seguinte sentença: “A passagem do homem pela Terra é narrada de inúmeras formas. Cada memória pode produzi-la de modo próprio e a formação de um povo será encontrada no que os gregos chamam de epos e a forma de narrar os mithós, com seus fluxos incessantes. [...] E o conhecimento jamais revelado é a quimera que impulsiona sua infinita criação”, é interessante reparar que os curadores da exposição tiveram um cuidado ao usar os termos Cosmogonia e Cosmologia ao invés de religião e ciência, como vemos no texto de Peter Harisson, “Ciência e Religião: construindo os limites ” tanto o conceito de religião como o de ciência foram inventados ou reinventados a partir do iluminismo europeu, portanto ao apresentar mitos como os do Yorùba, Maxakali e da Grécia, que são muito mais antigos que a própria definição de religião moderna, a exposição preferiu usar o termo Cosmogonia, que em linhas gerais seria o mito fundador, e as explicações que cada povo, ou grupo cria para explicar o universo e a realidade a sua volta, em contrapartida a Cosmologia seria um ramo cientifico que também procura explicar o universo, a natureza e a realidade, porém a partir de conhecimentos científicos e através da descoberta e análise das leis universais da natureza. Portanto o Espaço de Conhecimento não pretende fazer uma completa separação entre religião e ciência, pois apresenta as vertentes, vendo que tanto a religião como a ciência são importantes para a formação do homem e seu papel em relação ao universo e ao próprio homem, isso é muito bem resumido em uma das passagens da exposição que diz: “ A memória de um povo, como uma joia é guardada nas histórias, que contam, de várias formas, o que acontece nas relações e o que as mantém. [...]. Cada história narrada traz uma nova dimensão da múltipla natureza. ” O segundo e último andar do espaço traria uma exposição intitulada “Àguas”, entretanto agora é usada para exposições temporárias, atualmente a exposição que está em exibição chama-se “PROCESSABER” e se define como uma “exposição experimental sobre o processo do conhecimento” e levanta questões e controvérsias sobre o conhecimento humano e as tentativas de mensurar, comparar e aferir objetos, como: “É possível medir a felicidade? ”, “O que é inteligência? E personalidade? ”. A exposição começa com o “ Teatro da Verdade” onde temos quatro telas cada uma apresenta um personagem de idade, vivencia, escolaridade e realidades diferentes e eles debatem sobre: o que é conhecimento, quais conhecimentos podem ser considerados os mais importantes, qual o papel das novas mídias na aprendizagem do conhecimento, questões relacionadas na globalização e como isso interfere nas culturas e nos conhecimentos, entre várias outras discussões, o debate incita o telespectador a pensar e refletir se ele concorda ou não com as opiniões apresentadas no teatro. Outra parte da exposição que conversa com a questão cientifica é quando apresenta ao visitante a pergunta “ O que define uma pessoa inteligente? ”, seguido de testes de inteligência como o Q.I (quociente de inteligência) e o P.M.K (Psicodiagnóstico Miocinético) e também por outras questões como “é possível classificar alguém pelo formato do rosto ou pelo seu modo de vestir? ”, o que chamou a minha atenção imediatamente, pois existe na área dos profissionais que trabalham com beleza, tal como cirurgiões plásticos e dentistas uma vertente chamada Visagismo, que usa da análise de personalidade, a partir de um teste psicológico conhecido como “teste dos temperamentos” e também através da análise da forma do roso cabelo, tom de pele, boca, sobrancelha, nariz e olhos, para definir qual seria a melhor “imagem” para que a pessoa possa se expressar o que ela é ou o que ela deseja, esse tipo de análise também é usada em outras áreas e alia um estudo cientifico com um propósito pratico, sendo assim podemos dizer que é possível conhecer parte da personalidade e da inteligência das pessoas a partir de testes científicos, entretanto estes testes ainda são passiveis de erro, pois tanto personalidade como inteligência são conceitos relativos e únicos a cada um. Por fim é preciso falar sobre as escadas que te levam através da exposição, apesar de possuir elevador, na escada somos guiados por imagens macroscópicas até imagens microscópicas com cada degrau representando uma potência de 10, que vai do 10-20 até 1020 e nos mostra através da imaginação e da escala de medidas o universo que está além dos nossos olhos. O Espaço de Conhecimento da UFMG, é muito mais do que um espaço dedicado exclusivamente a ciência, nele várias questões estão sendo tratadas seja de cunho cientifico como também espiritual, a exposição “demasiado humano” parece ter sido criada para mostrar e respeitar a multiplicidade de versões que existem para explicar o homem, a natureza e o universo, não consigo ver uma separação completa entre religião e ciência na exposição, parece que elas caminham lado a lado, o nome da exposição diz muito sobre isso, o que é ser demasiado humano?, é buscar as explicações para o mundo por todos os meios possíveis, seja através da imaginação, com os mitos ou através da ciência, com suas leis universais, ser humano é buscar respostas, explicações, e as vezes, muitas das vezes mais de uma resposta, de diferentes caminhos são encontradas e elas vivem paralelamente, outras vezes uma única resposta é encontrada e ela sobrevive como sendo verdade irrefutável, até que seja contrariada, mas nem por isso deixa de existir, pois ficam guardadas na memória, e seguem sendo relembradas e restituídas de significado ao longo da humanidade, da mesma forma que a própria ciência e religião foram tomando novos significados ao longo dos anos.
Bibliografia: HARRISON, Peter. “Ciência e Religião: construindo os limites”. Revista de Estudos da Religião. ISSN 1677-1222. Março, 2007. p. 1- 33.