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AFROCENTRICIDADE: UMA ABORDAGEM EPISTEMOLÓGICA INOVADORA Relembra o caso do escritor “racista Monteiro Lobato, quando acusa o

negro-africano de haver provocado grandes problemas para o Brasil com a


ELISA LARKIN NASCIMENTO miscigenação, a tão celebrada mistura de sangues negro e branco”.

Traça, ainda, os laços egípcios do seu povo iorubá, identificando


“CAP. 9 – QUILOMBISMO: UM CONCEITO EMERGENTE DO PROCESSO semelhanças e elementos identitários que sobreviveram.
HISTÓRICO-CULTURAL DA POPULAÇÃO AFRO-BRASILEIRA”

ABDIAS NASCIMENTO  CONSECIÊNCIA NEGRA E SENTIMENTO QUILOMBISTA


 MEMÓRIA: A ANTIGUIDADE DO SABER NEGRO-AFRICANO Africano: único trabalhador por três séculos e meio para erguer as estruturas
Brasil deu as costas à África depois da abolição imposta pela Inglaterra do desse Brasil – resultado: nunca foram tratados como iguais pelos segmentos
tráfico de africanos (1850); ex. sistema educativo nunca ter demonstrado apreço brancos, que concentram o poder e a renda.
ou respeito pelos elementos culturais de origem africana, uma vez que as classes “Os quilombos resultaram dessa exigência vital dos africanos escravizados,
dominantes tentam impedir os descendentes africanos de relembrar os aspectos no esforço de resgatar sua liberdade e dignidade por meio da fuga do cativeiro e
positivos de seu continente original (outro ex.: afro-brasileiro não consegue meios da organização de uma sociedade livre. A multiplicação dos quilombos fez deles um
de comunicar-se com seus irmãos da Mãe África). autêntico movimento, amplo e permanente” – recusa à submissão, exploração e
CHEIKH ANTA DIOP (1923-1986; senegalês; químico, antropólogo, egiptólogo, violência do sistema escravista.
historiador e linguista)
Associações, irmandades, confrarias, Movimento de resistência,
“(...) apresenta uma confrontação radical e um desafio irrespondível à clubes, terreiros, tendas, afoxés, escolas de fuga e organização, muitas
arrogância intelectual, à desonestidade científica e à carência ética do mundo samba, gafieiras vezes em florestas
acadêmico ocidental ao tratar os povos, civilizações e culturas produzidas pela
África” – distorções, mentiras e roubos. Quilombos legais (permitidas pela Quilombos ilegais
dominante)
-- ex.: antepassados egípcios eram negros, e não brancos ou
“vermelho-escuros” como afirmavam os cientistas do séc. XIX.
“Porém, tanto os permitidos quanto os ilegais foram uma unidade, uma
“Diop revolve todo o processo da mistificação de um Egito negro que se
tornou branco por artes da magia europeia dos egiptólogos” – como a civilização única afirmação humana, étnica e cultural, a um tempo integrando uma prática de
libertação e assumindo o comando da própria história (...) a essa práxis afro-
egípcia é tomada como a mais antiga e engendradora das civilizações posteriores,
brasileira eu denomino quilombismo”.
os especialistas não podiam admitir que tal civil. fosse negra; necessidade de
destruir a memória de um Egito negro de todas as mentes. O modelo quilombista, atuando como ideia-força, vai inspirando outros
modelos de organização, sofrendo constantes reatualizações de acordo com os
Ao relembrar o Egito negro, ele não estaria alegando superioridade racial,
afirmando mesmo que o sucesso dessa civilização egípcia deu-se por fatores períodos históricos e meios geográficos – locais de liberdade e revigoramento de
históricos e condições mesológicas (clima, recursos naturais) e outros elementos laços étnicos e ancestrais.
não rácicos.
 QUILOMBISMO: UM CONCEITO CIENTÍFICO HISTÓRICO-SOCIAL D. Devemos ampliar sempre nossa frente de luta, ampliando-a à transformação das
estruturas socioeconômicas e culturais e visando interesses táticos.
“A cristalização de nossos conceitos, definições ou princípios deve exprimir a
vivência de cultura e de práxis da coletividade negra, deve incorporar nossa E. Ejetar o supremacismo branco do nosso meio é um dever de todo democrata.
integridade de ser total, em nosso tempo histórico, enriquecendo e aumentando
G. Garantir ao povo trabalhador negro seu lugar na hierarquia de poder e decisão,
nossa capacidade de luta. Precisamos e devemos codificar nossa experiência por
mantendo sua integridade étnico-cultral.
nós mesmos, sistematizá-la e interpretá-la e tirar desse ato todas as lições teóricas
e práticas(...)” – edificar a ciência histórico-humanista do quilombismo. H. Humilhação não mais; interessante estabelecer alianças e acordos com órgãos
internacionais de Direitos Humanos.
Quilombo não significa escravo fugido, mas reunião fraterna e livre,
solidariedade, convivência, comunhão existencial. I. Infalível perseguição: está na lógica inflexível do racismo jamais permitir qualquer
movimento libertário dos negros (proclamação da República: proibição do voto
Quilombismo: igualitarismo econômico; comunitarismo; articulação dos níveis
analfabeto= exclusão da população negra do processo político de nosso país.
de vida; não há propriedade privada – meios são coletivos; criatividade, trabalho
como atividade libertadora e não fonte de exploração. J. Jamais permitir a manipulação/influência de brancos não quilombistas.
Fundamento: assegurar a condição humana do povo afro-brasileiro L. Livrar o brasil de industrializações artificiais, “milagres econômicos”, exploração
por raça e por classe; quer conhecimento técnico-científico para gerar
Futuro melhor para população afro-brasileira: só possível pelo esforço de
industrialização genuína com autonomia nacional, livrando-se das corporações
organização e mobilização coletivas, tanto da população negra como das suas
monopolistas internacionais e da influência de uma burguesia nacional.
inteligências e capacidades escolarizadas, para a enorme batalha na fronte da
criação teórico-científica. N. Nada de confusões: não há democracia racial aqui, encontro de raças está sob
pressão de poder político e econômico, há condicionantes repressivos de caráter
“Aliás, a ideia de uma ciência histórica pura e universal está ultrapassada.
moral, estético e cultural; a miscigenação seria positiva para todos se esses fatores
O conhecimento científico de que os afrodescendentes necessitam é aquele que os
não existissem.
ajude a formular teoricamente – de forma sistemática e consistente – sua
experiência de quase quinhentos anos de opressão”. P. Poder Quilombista: raça negra no poder, pois maioria da população é
descendente de africanos; logo será um poder democrático.

R. Raça: grupo humano que possui, relativamente, idênticas características


 ABC DO QUILOMBISMO
somáticas, resultantes de um complexo de fatores (genética, sociedade, cultura,
A. Autoritarismo por quase 500 anos já é bastante (arbitrariedade policial e meio geográfico, história), influenciando as partes física, psicológica, de
violência dessa para com famílias negras) personalidade, caráter e emotividade dos indivíduos; todos os seres humanos
pertencem à mesma espécie.
B. Banto: povo ao qual pertenciam os primeiros africanos escravizados que vieram
de Angola, Congo, Moçambique e Zaire para o Brasil. Racismo: crença na inerente superioridade (biológica e psicossociocultural)
de uma raça sobre outra.
C. Cuidar de organizar nossa luta por nós mesmos é um imperativo de nossa
sobrevivência como povo (cuidado com alianças políticas de qualquer tipo para S. Slogan do poder público – condenar o racismo, como recurso de encobrir a
evitar manipulação). operação racista e discriminatória sistemática.
U. Unanimidade é algo impossível nos campos político e social 10. Estado quilombista proíbe a existência de um aparato burocrático estatal que
interfira na mobilidade vertical das classes trabalhadoras e marginalizadas em
V. Vênia (permissão) é o que não precisamos pedir às classes dominantes para
relação direta com dirigentes ou perturbe essa mobilidade.
reconquistarmos os frutos do trabalho realizado pelos nossos ancestrais africanos
no Brasil. 11. Nossa revolução é antirracista, anticapitalista, antilatifundiária, anti-
imperialista e antineocolonialista.
Z. Zumbi: fundador do quilombismo.
12. Metade dos cargos do Executivo, Legislativo, Judiciário, setores e instituições
de serviço público devem ser ocupados por mulheres.
 ALGUNS PRINCIPIOS E PROPÓSITOS DO QUILOMBISMO
13. Transformação por meios não-violentos e democráticos é uma via possível.
1. O quilombismo é um movimento político dos negros brasileiros, objetivando a
14. Necessária uma instituição econômico-financeira capaz de assegurar a luta
implantação de um Estado Nacional Quilombista, inspirado no modelo da
quilombista a salvo das interferências controladoras do paternalismo ou das
República dos Palmares (XVI) e outros quilombos.
pressões do poder econômico.
2. Bases da sociedade proposta: livre, justa, igualitária (em todas as expressões da
15. Contra poluição ecológica e a favor de todas as práticas que assegurem uma
vida social) e soberana.
vida saudável a todos os seres vivos e todas as manifestações da natureza.
3. Economia de base comunitário-cooperativista no setor da produção, distribuição
16. O Quilombismo contribuirá para a pesquisa e elaboração de formas e
e divisão dos resultados.
estratégias para utilização de dispositivos do direito internacional para combater o
4. A terra e bens advindos dela são propriedade nacional de uso coletivo. racismo, colaborando em especial com o Comitê para a Eliminação da
Discriminação Racial da Organização das Nações unidas.
5. O trabalho é um direito e uma obrigação social (trabalhadores são os donos do
produto de seu trabalho).

6. Criança negra é a que mais sofre com miséria material e moral – necessidade de  SEMANA DA MEMÓRIA AFRO-BRASILEIRA
priorizá-la (pré-natal, amparo à maternidade, creches, alimentação e moradias
“Por meio de celebrações anuais, a comunidade negra não só honrará os
adequadas).
antepassados, como reforçará sua coesão e identidade. E transmitirá às novas
7. Educação e ensino em todos os graus (elementar, médio e superior) serão gerações um exemplo de amor à história do nosso povo, auxiliando-as a ter uma
gratuitos e oferecidos sem distinção. visão mais clara e verdadeira do papel fundamental cumprido pelos escravos
africanos na constrição desse país” – imputar o orgulho e não a vergonha que a
8. Estimular todas as potencialidades do ser humano e sua realização, visando sociedade dominante luta por infundir na cabeça dos negros.
sociedade mais criativa; enfrentar miséria, burocratização das relações humanas e
sociais; artes aqui têm seu espaço. Semana deve aliar pesquisa, crítica e reflexão sobre passado e presente; deve
estimular e inspirar as organizações negras existentes; deve prezar pelo campo da
9. Sem divisão entre religião de elite e religião do povo – todas merecem igual ação (mobilização) e da teoria (princípios, análises); deve ‘negar a negação’.
tratamento de respeito e garantia de culto.

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