Está en la página 1de 5
Dispositive Soboré Sala de Tortura (Teatro da ética do torturado) Matheus Xavier - Experimento Dramatirgico #2 - abril/15 (A frase O cao esta firmemente amordacado. Ele ndo pode respirar livremente é © dispositivo norteador deste experimento. Trechos de textos, poesias, masicas de Tom Zé e Waly Salomao e vivéncias de minha recepcao artistica preenchem e tentam dar sentido a acao). CENARIO Uma cadeira de metal com amarras para os bracos, pernas e pescoco, Uma mesa com diversos objetos: raio de bicicleta, alicates, martelo, arame farpado, copo com agua, macarico, pistola de choque elétrico. PERSONAGENS, Deus; AGENTE LOIRA BABALORIXA DE UMBANDA; MAQUININHA; HOMEM. CENA #1 | Experimento Performativo #1 (Homem. Nu, amarrado na cadeira, escoriacées por todo o corpo) HOMEM (mérbido) ~ Mas eu nao sei de nada, mas eu sou inocente, mas eu nado tenho chicote, mas eu sou até fraco (pausa. Muda) Oh, nossa senhora do iF empata foda, da futrica, da fofoca, do fuxico e do banzo. Oh meus orixés do olimpo, porque eu? Confinado aqui, assim como Prometeu, encarcerado néo a morte, mas ao sofrimento sem fim. Torpe sofrimento sem fim. Oh, nossa senhora do Dendé, tudo abarco ¢ nada aperto, tudo aperto e nada abarco. CENA #1,5 ou #2 | Experimento Performativo #1,5 ou #2 (Agente Loira Babalorixa de Umbanda danca) HOMEM (insistentemente) - Me tire daqui, por favor.. AGENTE LOIRA BABALORIXA DE UMBANDA (Vocifera) - Siléncio! (respira. Danga. Homem chora) AGENTE LOIRA BABALORIXA DE UMBANDA - Homem, pobre homem (pausa). Boa tarde meu grande HOMEM - Boa tarde? Quem é vocé? Me tire daqui, por favor, eu juro que nao fiz nada. Olhe meu estado, tenha humanidade, por favor... AGENTE LOIRA BABALORIXA DE UMBANDA (respira) ~ Nao fez?... Entdo nao temas, deus tem um propésito na sua vida... Nao é verdade? A tal da tanajura, 86 cai se tiver na gordura, nao é verdade? E um dia, é um dado, é um dedo, chapéu de dedo é de dau... me diga ha quanto tempo esta aqui? Por que aqui? HOMEM - A minha diltima lembranca antes daqui é de estar andando pela praca principal, ouvi uma sirene, muitas pessoas comecaram a correr em uma direco parecida e do nada tomei uma pancada, foi um apagio muito rapido. Acordei aqui, amarrado, sem roupas e todo machucado, amarrado a esta gélida cadeira. Fome, frio, sede. AGENTE LOIRA BABALORIXA DE UMBANDA ~ Vocé precisa entender que talvez vocé nao entenda. Paradoxal, no € verdade? Mas presta atencdo no assunto.... (vai a mesa com diversos objetos, olha com atencdo, com suavidade passa as maos.nos objetos. Pega 0 copo com agua, aproxima-se de Homem. Olha para copo, olha para o homem, olha para a mesa... respira. Bebe a 4gua). CENA #2 | Experimento Performativo #2 - ou #3 (Homem desacordado, Deus e Maquininha) MAQUININHA - O cdo esta firmemente amordacado. Ele nao pode respirar livremente. DEUS - Que horas sao? MAQUININHA - Ta na hora de vocé comprar um relégio e tomar vergonha na cara! DEUS (furioso) - Como é? MAQUININHA - © cdo esta firmemente amordacado. Ele néo pode respirar livremente. DEUS - Me dé a pistola de choque elétrico e 0 copo com agua. MAQUININHA - A pistola ta aqui, toma! Mas 0 copo nao possui agua, esta vazio. DEUS (assustado) - Como assim? O copo tinha gua... Como ele conseguiu ssa proeza? Isso eu vou descobrir... Ah, se vou, agora que nao tem agua, nao Posso intensificar o tratamento elétrico para falos. (ri). MAQUININHA - 9 cao esta firmemente amordacado. Ele néo pode respirar livremente. (Deus esbofeteia Homem. Acorda) DEUS - No curso antiguerrilha aprendi a fazer de voc um mero nimero. Nao me d6i. Mais alguns experimentos e vocé revela até 0 que nao sabe. Baila, baila, baila, tiroteio esquenta, baila, baila, baila é o quebra pau. € ai, vai falar agora? HOMEM - Sou um monte de carne. Nao tenho nada pra revelar. DEUS (para Maquininha) - Alicate de bico, experimento niimero trés, espontaneidade a partir das unhas do pé. Vamos vé quantas unhas vio sobrar. (Com 0 alicate de bico, Deus comega a arrancar bem lentamente as unhas dos pés de Homem) DEUS (Canta) ~ 0 fado ministrava meu noivado, com duetos-minuetos corais, corais. Uma gaivota me guiou ao porto dos bordées, onde botam ovos as cancées. CangGes, cancées. HOMEM (lobotomizado) - Dor, palavra pequenina. Aguda farpa com 3 letras apenas. Essas 3 tinhosas invocam angina pectoris. 0 que 0 vulgo denomina apertao do peito. DOR é uma palavra torniquete. DOR é uma palavra alicate. Duas consoantes apunhalam uma vogal. ‘O' - oco vao central, ‘0’ - a vogal do vazio, ‘O' - tdnel por onde escapa o gemido do coracéo agoniado. DOR: 3 letras que choram num soluco... 3 letrinhas apenas, Mas como déi! MAQUININHA - O cdo esta firmemente amordagado. Ele nao pode respirar livremente. (Fade-out luz, Homem contorce-se de dor, gritos. Black. Gritos. Siléncio). CENA #3 | Experimento Performativo #3 - ou #4 - ou ainda #fi HOMEM (clemente) ~ Oh, garrafada das ervas maceradas do breu das brenhas, se adonai de mim e do meu peito lacerado, Oh, senhora dos remédios, oh, doce dona, oh cha, oh unguento, oh destilado, oh camomila, oh beladona, oh pharmacon. Serenai minhas irremediaveis pupilas dilatadas. (luz ao fundo, Agente Loira Babalorixa de Umbanda dana). Oh, é vocé novamente. Aquela Agua que vocé bebeu...(pausa.) Mas afinal quem é vocé? Vocé nao faz parte dos agressores, porque a danca? Me ajude... aaaahhh. AGENTE LOIRA BABALORIXA DE UMBANDA - Vou falar por enigmas, cair na clandestinidade. (Agente Loira Babalorixé de Umbanda pega o macarico da mesa de objetos, encosta em Homem. Homem se desespera). HOMEM ~ Nao, pare. O que vai fazer? Pare com isso, por favor. Vocé nao pode comer nem beber fogo. Muito menos se queimar. Muito menos eu. Jd basta de dor. (Agente Loira Babalorixa de Umbanda ascende macarico e cauteriza as feridas das unhas arrancadas. Apenas luz do fogo, muitos gritos, homem desmaia. Black. Deus, Maquininha e Homem). DEUS - Maquininha, 0 raio de bicicleta e 0 macarico. A uretra dele agora vai falar... Um ato pecagégico deste se faz necessario ndo é verdade? MAQUININHA - O cio esta firmemente amordagado. Ele nao pode respirar livremente. (Deus introduz o raio de bicicleta em brasa na uretra de Homem. Siléncio. Desamarram-no, Homem cambaleia tonto, para). HOMEM - Sinto-me possuidor d’alguma coisa indestrutivel dentro de mim (Homem cai, morre, Deus sai de cena rindo. Permanece Maquininha) MAQUININHA (mérbida, para a plateia) - Este € 0 final. (Black-out. Luz. Os trés em cena agradecem).

También podría gustarte