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As
Parábolas
de
JESUS
Tradução:
Eunice Pereira de Souza
Produzido em Português com
autorização do
próprio Autor
Diretória Executiva:
Diretor-Presidente: Addy Félix de Carvalho
Diretor-Editor: Valter Graciano Martins
Diretor-Comercial: Edezildo Barros Corrêa
Revisão:
Valter Graciano Martins
Rosivaldo Cabral dos Santos
Gecy Soares de Macedo
Arte:
Jader de Almeida
Composição:
Zenaide Rissato dos Santos
Dezembro de 1992
Simom J. Kistemaker
1980
índice
Abreviaturas
/ A o
.................................................................
Introdução......................................................................
13
15
1. O sal da t e r r a .............................................................. 29
Mt 5.13 Lc 14.34,35>
4 .0 semeador . ^
Mt 13.3-8 Mc 4.3-8 Lc 8.5-8
5. A semente ................................................................ 53
Mt 4.26-29 -
6. O joio ............................................... 57
Mt 13.24-30
8. O fe rm e n to ..............................................................
Mt 13.33 Lc 13.20,21
9 .0 tesouro escondido.................................................. 73
Mt 13.44
10. A p é r o l a ................................................................... 73
Mt 13.45,46
11. A r e d e ...................................................................... 79
Mt 13.47-50
Livros da Bíblia
Gn Jr Lc
Êx Lm Jo
Lv Ez At
Nm Dn Rm
Dt Os 1,2 Co
Js J1 Gl
Jz Am Ef
Rt Ob Fp
1,2 Sm Jn CI
1,2 Rs Mq 1,2 Ts
1,2 Cr Na 1,2 Tm
Ed Hc Tt
Ne Sf Fm
Et Ag Hb
JÓ Zc Tg
S1 Ml 1,2 Pe
Pv 1,2,3, Jo
Ec Mt Jd
Ct Mc Ap
Is
Introdução
C o m muita freqüência, os jornais trazem, junto aos editoriais, com
destaque, uma caricatura. Com poucas linhas, o artista traça o esboço
humorístico de um fato político, social ou econômico, atual. Através do
desenho ele transmite uma mensagem contundente e direta, cuja eloqüência
um redator dificilmente poderia alcançar.
Contando parábolas, Jesus desenhava quadros verbais que retratavam
o mundo ao seu redor. Ensinando através das parábolas, ele descrevia aquilo
que acontecia na vida real. Isto é, ele usava uma história tirada do cotidiano,
para, através de um fato já aceito e conhecido, ensinar uma nova lição. Essa
lição, na maior parte das vezes, vinha no final da história e provocava um
impacto que precisava de tempo para ser entendido e assimilado. Quando
ouvimos uma parábola, acenamos com a cabeça, concordando, porque a
história é como a vida real e fácil de ser entendida. No entanto, mesmo que
se ouça a aplicação da parábola, ela nem sempre é compreendida. Vemos a
história se desenrolar diante de nossos olhos, mas nem sempre percebemos
seu significado.1 A verdade permanece escondida até que nossos olhos se
abram e possamos vê-la mais claramente. Então, a nova lição da parábola se
torna significativa. Como Jesus disse a seus discípulos: “A vós outros vos é
dado o mistério do reino de Deus, mas aos de fora tudo se ensina por meio
de parábolas” (Mc 4.11).
Formas
XV
AS PARÁBOLAS D E JE SU S
Composição
3. A. M. Hunter, The Parables Then and Now (London: Westminster Press, 1971), p. 12.
4 .1. Epstein, ed., “Seder Zeraim Berakoth 13a”, in The Babylonian Talmud (London: Soncino
Press, 1948); p.73.
xviii
INTROD UÇÃO
Propósito
XIX
AS PARÁBOLAS D E JE SU S
XX
IN TROD UÇÃO
Interpretação
XXI
AS PARÁBOLAS D E JE SU S
estrutura gramatical da parábola. João Calvino foi ainda mais direto. Ele
evitou totalmente as interpretações alegóricas das parábolas e procurou
estabelecer o ponto principal de seu ensinamento. Quando ele constatava o
significado de uma parábola, não se preocupava com os seus pormenores.
Em sua opinião, os detalhes não tinham nada a ver com aquilo que Jesus
pretendia ensinar através da parábola.
Durante a segunda metade do século XIX, C.E. van Koetsveld, um
estudioso alemão, deu novo impulso ao modo de abordar o assunto, iniciado
pelos Reformadores. Ele mostrou que as extravagantes interpretações ale
góricas das parábolas, feitas por numerosos comentaristas, obscureciam
mais que esclareciam o ensino dc Jesus.101Para interpretar uma parábola
apropriadamente, o exegeta precisa apreender seu significado básico e
distinguir o que é, ou não, essencial. Van Koetsveld foi seguido, em sua
maneira de abordar as parábolas, pelo teólogo alemão A. Jülicher, que
observou que, embora o termo parábola seja usado freqüentemente pelos
evangelistas, a palavra alegoria jamais é encontrada nos relatos dos Evange
lh o s/1
No final do século passado, as amarras que atavam a exegese das
parábolas foram cortadas e uma nova era de pesquisa teve início.12 Enquanto
Jülicher via Jesus como um professor de princípios morais, C. H. Dodd o
considerou como uma pessoa histórica, dinâmica, que, com seus ensinamen
tos, provocou um período de crise. Disse Dodd: “A tarefa de um intérprete
de parábolas é descobrir, se puder, a aplicação da parábola na situação
pretendida pelos Evangelhos”.13 Jesus ensinava que o reino de Deus, o Filho
do Homem, o J uízo e as bem-aventuranças passavam a fazer parte da história
daquela época. Para Jesus, de acordo com Dodd, o reino significava o
governo de Deus exemplificado em seu próprio ministério. Portanto, as
parábolas ensinadas por Jesus devem ser entendidas como diretamente
relacionadas com a efetiva situação do governo de Deus na terra.
J. Jeremias continuou o trabalho de Dodd. Ele, também, desejou
descobrir os ensinamentos das parábolas que remetem de volta ao próprio
Jesus. Jeremias se dispôs a traçar o desenvolvimento histórico das parábolas,
o que acreditava ocorrer em dois estágios. O primeiro diz respeito à situação
real do ministério de Jesus, e o segundo é uma reflexão sobre o modo como
as parábolas eram postas em prática pela igreja cristã primitiva. A tarefa a
10. C.E. van Koetsveld, De Gelykenissen van den Zaligmaker (Schoonhoven, 1869), vols. 1,2.
11. A. Jülicher, Die Gleichnisreden Jesu (Tübingen: Buchgesellschaft, 1963), vols. 1,2.
12. Consulte os interessantes estudos de M. Black, “The Parables as Alegoiy”, BJRL42 (1960):
273-87; R. E. Brown, “Parable and Allegoiy Reconsidered”, NTS 5 (1962): 36-45.
13. C.H. Dodd, The Parables of the Kingdon (London, Nesbit and Co., 1935), p. 26.
xxn
INTROD UÇÃO
xxiii
AS PARÁBOLAS D E JESUS
Princípios
19. L. Berkhof, Principles of Biblical Interpretation (Grand Rapids: Baker Book House, 1952),
p. 100.
XXIV
INTROD UÇÃO
Classificação
20. A. B. Mickelsen, Interpreting the Bible (Grand Rapids: Eerdmans 1963), p. 229.
xxv
AS PARÁBOLAS D E JESUS
XXVI
INTROD UÇÃO
sobre a cultura e a lei judaicas têm sido valiosas no avanço para uma melhor
compreensão dos ensinamentos de Jesus. O objetivo deste livro é presentear
o pastor e o verdadeiro estudioso da Bíblia com um acervo abrangente e
contemporâneo dos escritos sobre as parábolas, sem se prender a pormeno
res. As notas de rodapé e a bibliografia selecionada auxiliam o estudioso de
teologia que desejar prosseguir mais intensamente no estudo das parábolas
de Jesus. Através do material bibliográfico e do índice, ele terá acesso à
literatura disponível sobre as parábolas de Jesus.
xxvii
1
O Sal
Através da história, o sal tem sido usado para preservar e dar gosto
aos alimentos. É uma das necessidades básicas da vida. Seu uso é universal
e seu provimento é aparentemente inesgotável. Mas além de suas qualidades
úteis, o sal tem, também, propriedades destrutivas. Ele pode transformar o
solo fértil em terra árida e devastada.1 A área ao redor do M ar Morto é um
exemplo.
Nos tempos atuais, achamos inconcebível que o sal possa deixar de ser
salgado. O cloreto de sódio (nome químico do sal de cozinha) é um composto
estável. Ele não possui qualquer impureza. No antigo Israel, entretanto, o
29
AS PARÁBOLAS D E JE SU S
sal era obtido pela evaporação da água do Mar Morto. A água continha
várias outras substâncias, além do sal. A evaporação produz cristais de sal e
cloreto de potássio e de magnésio. Porque os cristais de sal são os primeiros
a se formarem durante o processo de evaporação, eles podem ser recolhidos
e fornecem, assim, sal relativamente puro. Se o sal resultante da evaporação
não for, no entanto, preservado, e se, com o tempo, os cristais se tornarem
úmidos e liquefeitos, o que restar será insípido e inútil.2
O que se pode fazer com o sal insípido? Não serve para nada. Os
fazendeiros não querem esse produto químico em suas terras, pois, no estado
bruto, prejudica as plantas. Jogar cssc resíduo na pilha de estrume também
não resolve, pois, comumente, o esterco é espalhado na terra, como fertili
zante. A única coisa que se pode fazer com o sal insípido é lançá-lo fora onde
será pisado.3 Se o sal perder sua propriedade básica e deixar de ser salgado45,
não se poderá mais recuperá-la.
No Sermão da Montanha, Jesus se dirigiu à multidão e a seus discípu
los, dizendo-lhes: “Vós sois o sal da terra.” Como o sal tem a característica
de impedir a deterioração, assim também os cristãos devem exercer uma
influência moral na sociedade em que vivem. Por suas_palavras e atos devem
restringir a corrupção espiritual e moral. Como o sal é invisível (no pão, por
exemplo) e, ainda assim, um agente poderoso, também os cristãs nem sempre
são vistos, mas individual e coletivamente permeiam a sociedade e consti
tuem uma força refreadora num mundo perverso e depravado.
“Tende sal em vós mesmos, e paz uns com os outros”, diz Jesus (Mc
9.50). Ele exorta seus seguidores a usar dotes espirituais para promover a
paz, primeiro em casa, e depois com os outros. Porque os cristãos não têm
sido capazes de viver em paz entre si mesmos, têm perdido sua eficiência no
mundo.
Muitas pessoas podem jamais ter lido a Bíblia, todavia constantemente
observam aqueles que já a leram. Na Igreja Cristã primitiva, o eloqüente
Crisóstomo, certa vez, disse que se os cristãos vivessem a vida que se espera
deles, os incrédulos desapareceriam.
2. Jeremias, Parables, p. 169; J. H. Marshall, The Gospel of Luke (Grand Rapids: Eerdmans,
1978), p. 596; Hauck, TDNT, 1.229.
3. E. P. Deatrick, era “Salt, Soil, Savior”, BA 25 (1962): 47, citando Lamsa, menciona que no
moderno Israel “o sal insípido é espalhado em terraços cobertos com terra. Por causa do sal,
a terra endurece. Os terraços são, então, usados como áreas de lazer e de brincadeiras de
crianças.
4. O verbo em Mateus 5.13 e Lucas 13.34 para “tomar-te insípido” é mõrainein, que tem o
sentido original de “fazer tolice”, na voz ativa, e “fazer-se de tolo”, na voz passiva. W. Bauer,
W. F. Amdt, F. W. Gingrich e F. Danker, A Greek-English Lexicon of the New Testament
(Chicago: University of Chicago Press, 1978), p. 531.
5. W. Nauck, “Salt as a Metaphor”, St Th 6 (1953); 176.
30
2__________________________________________
Os Dois Fundamentos
Mateus 7.24-27 Lucas 6.47-49
31
AS PARÁBOLAS DE JESUS
32
OS DOIS FUNDAMENTOS
33
3__________________________________
Meninos na Praça
Mateus 11.16-19 Lucas 731-35
35
AS PARÁBOLAS DEJESUS
conta” podia, muito bem, ter acontecido assim: vários meninos e meninas
estavam brincando na praça, provavelmente vazia. Algumas crianças que
riam brincar de casamento. Além da noiva e do noivo, precisavam de um
tocador de flauta, pois um grupo deveria dançar na festa. Embora o noivo e
a noiva estivessem prontos, e uma das crianças providenciasse a música de
flauta, o resto das crianças se recusou a dançar. Não estavam interessados
em brincar de casamento.
Em outro exemplo, algumas crianças queriam representar um funeral.
Uma delas tinha que se fingir de morta, enquanto outras cantavam um canto
fúnebre. O resto tinha que chorar — mas se recusaram. Não queriam
participar daquela brincadeira fúnebre. As crianças que tinham inventado
as brincadeiras sentaram-se e disseram aos outros:
Nós vos tocamos flauta,
e não dançastes;
entoamos lamentações,
e não chorastes.
Aplicação
36
MENINOS NA PRAÇA
Paralelos
3. F. Mussner, em “Der nicht erkannte Kairos (Mt 11.16-19 = Lc 731-35)”. Bid 40 (1959)600;
descreve todas as crianças sentadas e gritando.
4. A. Plummer, The Gospel of Luke (ICC) (New York: C. Scribner & Sons, 1902), p. 163.
5. Mt 9.11; Lc 5.30; 15.1,2; 19.7.
37
AS PARÁBOLAS DEJESUS
Conclusão
6. Piska 26, em W. G. Braude, Pesikta Rabbati, 2 vols. (New Haven: Yale University Press,
1968,69), 1:526-27. Ver também, SB II; 161.
7. Jeremias, Parables, p. 162. ne 44.
38
4_____________________________
O SEMEADOR
39
AS PARÁBOLAS DE JESUS
Composição
40
O SEMEADOR
praia. Na sociedade agrícola daqueles dias, muitos dos que ali estavam eram
donos de terra, ou já haviam trabalhado no seu cultivo.
Cultivar a terra era relativamente fácil nos dias dc Jesus. Embora a
parábola não nos conte nada a respeito de métodos dc cultivo, aprendemos
no Velho Testamento (Is 28.24,25; Jr 4.3 e Os 10.11,12) e nos escritos dos
rabinos que, no final de um longo e quente verão, o fazendeiro ia para o
campo semear trigo e cevada sobre o solo endurecido. Ele arava a terra para
cobrir a semente e esperava que a chuva de inverno viesse fazer germinar os
grãos.2
Na parábola de Jesus, o lavrador partiu para o campo levando seu
suprimento de grãos numa bolsa que trazia a tiracolo. Com passos ritmados,
lançava as sementes em faixas, pelo campo. Não se preocupava com os
poucos grãos que caíam à beira do caminho, nem com aqueles que eram
lançados em terra pouco profunda, onde as rochas despontavam. Também
não se preocupava com o trigo caído entre os espinheiros que cresceriam na
primavera, abafando as sementes. Para o lavrador, tudo aquilo fazia parte
de seu dia de trabalho.
A descrição é corriqueira e precisa. O lavrador não podia impedir que
os grãos caíssem em solo duro. Cedo ou tarde viriam as aves e os comeriam.
Alguns pássaros comeriam até mesmo as sementes lançadas no campo.
Acontecia comumente. Também, pouco ele podia fazer a respeito das
rochas. Assim era a terra. Ele havia tentado acabar com os espinheiros
arrancando suas raízes, mas estes teimavam em renascer.
A expectativa do lavrador estava no tempo da ceifa, quando iria colher.
Um lucro médio, naqueles dias, podia ser menos que dez por um.3 Se tivesse
um retorno de trinta por um, ou uma colheita mais favorável que rendesse
sessenta por um, seria um acontecimento excepcional. Muito raramente,
talvez, ele conseguiria colher a cem por um (Gn 26.12). Resumindo, o
semeador não estava interessado nos grãos que perdia enquanto semeava.
Sua esperança estava no futuro, na colheita, que ele esperava com ansiedade.
Nenhum dos ouvintes de Jesus discordou dele. Mas, o clímax da
história deve ter surpreendido seus ouvintes: em vez de uma colheita normal
2. J. Jeremias, “Palàstinakundliches zum Gleichnis vom Sáemann”, NTS13 (1967): 48-53. Ver
também Parables, p.12.
3. Jeremias. “Palàstinakundliches”, p. 53; ver, também, K. D. White, “The Parable of the Sower:,
JT S 15 (1964): 300-7; P. B. Payne, “The Order of Sowing and Ploughing” NTS 25 (12978):
123-29. Os ensinos do Velho Testamento (Amós 9.13; Jeremias 31.27; Ezequiel 36.29,30) e,
os ensinos dos escritos dos rabinos e das pseudo epígrafes parecem ser o de que a terra
produzirá fruto em abundância, na era Messiânica. N. A. Dahl, “The Parables of Growth”,
StTh 5 (1951): 153; SB, IV: 880-90.
41
AS PARÁBOLAS DEJESUS
com um lucro de dez vezes, Jesus falou de um retorno de cem por um. O
ponto principal da história é, portanto, uma colheita abundante.
Propósito
4. H. N. Ridderbos, Studies in Scripture and Its Authority (St. Catharines: Paideia Press, 1978),
p. 50.
42
O SEMEADOR
43
AS PARÁBOLAS DE JESUS
verdades espirituais numa linguagem simples. Seria difícil crer que Jesus,
adotando uma determinada maneira de falar, pretendesse ocultar o seu
ensino das multidões, e, ainda assim, falar dos mistérios do reino.
Os documentos de Cunrã se referem ao papel do Mestre da Justiça,
comissionado para revelar os mistérios divinos. Além disso, o Mestre deveria
instruir seus discípulos sobre a revelação por ele recebida de Deus.6 Jesus
trouxe revelação divina ao ensinar a seus discípulos os segredos do reino dos
céus. Os outros, aqueles que não faziam parte do círculo mais restrito dos
discípulos de Jesus (quer dizer, os de fora), não tinham a compreensão do
reino como o tinham os seguidores mais próximos de Jesus.7
Jesus, indiretamente, se refere à exigência do novo nascimento espiri
tual para a entrada no reino de Deus (Jo 3.3-5). Em outras palavras, a
capacidade e o privilégio de discernir os segredos do reino foram dados aos
discípulos. Aos de fora, esse privilégio não foi concedido.8
As multidões a quem Jesus se dirigia são referidas como “eles”. Isso,
em si mesmo, não surpreende em vista dos ais proferidos por Jesus às cidades
impenitentes de Corazim, Betsaida e Cafarnaum (Mt 11.20-24). Jesus rece
bia oposição constante dos anciãos, escribas, fariseus e de toda a hierarquia
religiosa. Mateus parece ter empregado um termo simples para os judeus
que cercavam Jesus — são, apenas, “eles”.9
Entretanto, os segredos do reino não devem permanecer escondidos
para sempre. Marcos acrescenta as seguintes palavras à explicação de Jesus
sobre a parábola do semeador: “Pois nada está oculto, senão para ser
manifesto; e nada se faz escondido, senão para ser revelado” (4.22).10 A
verdade que Jesus proclama por meio das parábolas é entregue àqueles que
vêem e compreendem.
6. F. F. Bruce, Second Thoughts on the Dead Sea Scrolls (London: Paternoster Press, 1956), p.
101.
7. B. Van Elderen, “The Purpose of the Parables According to Matthew 13.10-17”, em New
Dimensions in Evangelical New Testament Studies, ed. R. N. Longenecker e M. C. Tenney
(Grande Rapids: Zondervan, 1974), p. 185.
8. W. Hendriksen, The Gospel of Mattew (Grand Rapids: Baker Book House, 1973), p. 553. J.
R. Kirkland rejeita essa explicação e afirma que pessoas esclarecidas e eruditas vêem a
verdade escondida nas parábolas, mas os menos inteligentes e menos perspicazes, não. Veja
seu “The Earliest Understanding of Jesus’Use of Parables: Mark IV 10-12 in Context”, Novt
19 (1977): 13. A proposição de Kirkland desaparece diante da oração de Jesus: “Graças te
dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas cousas aos sábios e entendidos,
e as revelaste aos pequeninos.” (Mt 11.25).
9. J. D. Kingsbury, The Parables of Jesus in Matthew 13 (Richmond: John Knox Press 1969), p.
13.
10. Kirkland, “Earliest Understanding”, pp. 16-20.
45
AS PARÁBOLAS DE JESUS
47
AS PARÁBOLAS DE JESUS
Aplicação
48
O SEMEADOR
49
AS PARÁBOLAS DE JESUS
19. The Gospel of Thomas, trans. B. M. Metzger, Citação 9, afirma o seguinte: “Jesus disse:
Eis que o semeador saiu para semear, encheu sua mão e semeou (a semente). Algumas
(sementes) caíram no caminho. Os pássaros vieram e as apanharam. Outras caíram sobre
as rochas e não lançaram raízes para a terra nem espigas para o céu. E outras caíram entre
espinhos. Eles abafaram as sementes e os vermes as comeram. E outras caíram em boa
terra, e lançaram bom fruto para o céu. Produziram sessenta por um e cento e vinte por
um.” E óbvio que o escritor do Evangelho de Tomé fundiu a parábola do semeador num
molde gnóstico. A razão porque o escrito conclui a parábola com “cento e vinte por um”
pode muito bem ter sido pelo fato de que ele acreditava ser o número 12 o número da
perfeição. Veja H. Montefiore e H. E. W. Tumer, Thomas and the Evangelists (London:
SCM Press, 1962), p. 48.
20. Kingsbuiy, Parables of Jesus, p. 62.
50
O SEMEADOR
51
5___________________________________________
A Semente Germinan
do Secretamente
Marcos 4.26-29
'\£
“Disse ainda: O reino de Deus
é assim como se um homem lan-
'?'7
çasse a semente à terra, depois
dormisse e se levantasse, de noite
e de dia, e a semente germinasse e
crescesse, não sabendo ele como.
"7R
A terra por si mesma frutifica,
primeiro a erva, depois a espiga, e,
por fim, o grão cheio na espiga. 29E
quando o fruto já está maduro,
logo se lhe mete a foice, porque é
chegada a ceifa.”
53
AS PARÁBOLAS DE JESUS
Composição
54
A SEMENTE GERMINANDO SECRETAMENTE
Interpretação
55
AS PARÁBOLAS DE JESUS
“de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia
de Cristo Jesus” (Fp 1.6).
Na parábola, o lavrador é apenas um auxiliar da obra divina. Ele lança
a semente, e dia após dia faz o trabalho necessário — dá andamentos à sua
tarefa. Tem confiança que a época da colheita chegará. Sabe, pela experiên
cia, quantos dias se passarão desde a semeadura até à ceifa. E quando a
colheita está madura ele não espera mais. O dia da ceifa chegou. Do mesmo
modo, os ministros da Palavra têm a tarefa divina de proclamar as boas-novas
de salvação em Cristo Jesus. Eles, também, devem permanecer de lado,
enquanto Deus efetua a obra secreta de crescimento e desenvolvimento. No
tempo de Deus, o ministro verá os resultados quando chegar a hora de ceifar.
A parábola da semente germinando secretamente é, realmente, uma
parábola de seqüência: a colheita segue a semeadura, no tempo devido. A
manifestação do reino de Deus sucede o ministério fiel da Palavra de Deus.
Um leva ao outro, e nada acontece sem o secreto poder operante de Deus.
“A lição é: a vitória está assegurada; a colheita se aproxima e chegará, com
certeza, no momento apropriado decidido no plano eterno de Deus. O reino
de Deus será revelado em todo o seu resplendor.”11
As últimas palavras da parábola são, de certo modo, reminiscência de
Joel 3.13: “Lançai a foice, porque está madura a seara.” Sem dúvida, a
passagem se refere definitivamente ao dia do julgamento quando o Senhor,
de acordo com Apocalipse 14.12-16, envia o seu anjo para ceifar a terra.
Nesse ínterim, aqueles que foram enviados para proclamar a Palavra têm
que aprender a ter a paciência do lavrador. “Sede, pois, irmãos, pacientes,
até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador aguarda com paciência o precioso
fruto da terra...” (Tg 5.7). Falta de paciência é uma característica humana.
Ela aparece até mesmo na descrição de João, das almas daqueles que foram
mortos por causa da Palavra de Deus. Eles clamam em alta voz: “Até quando,
ó Soberano Senhor...?” e a resposta que recebem é que devem esperar ainda
por algum tempo (Ap 6.9-11). Deus está no comando e determina quando é
chegado o tempo da colheita. Ninguém, nem mesmo Jesus, sabe o dia e a
hora (Mt 24.36).10
10. Os fazendeiros do centro-oeste americano têm um ditado que diz que o milho “deve estar
à altura dos joelhos pelo quatro de julho.”
11. Hendriksen, Mark, p. 170.
56
6_____________________________
O Joio e o Trigo
Mateus 13.24-30
57
AS PARÁBOLAS DE JESUS
O Campo do Fazendeiro
58
O JOIO E O TRIGO
tinha vindo o joio. O fazendeiro apenas lhes explicou que um inimigo tinha
feito aquilo e deveriam deixar tudo como estava até à chegada da ceifa.
Então, os ceifeiros receberiam instruções para colher o joio e atá-lo em
feixes, e para recolher o trigo no celeiro. O fazendeiro usará os feixes de joio
— semente e palha — como combustível. Assim transformará em lucro uma
desvantagem: terá aquecimento para o inverno.
Embora, no final, o fazendeiro consiga resolver de algum modo aquela
situação, ele sabe que o joio absorveu umidade e nutrientes que se destina
vam ao trigo. Sua produção de grão será substancialmente menor que a
esperada. Apesar de toda a sua experiência de cultivo, ele foi incapaz de ver
a diferença entre o trigo e o joio antes que as plantas começassem a espigar
e o tempo da colheita estivesse próximo.4 Só meses após o mal ter sido feito,
o fazendeiro se deu conta de que seu inimigo o atacara insidiosamente. Ele
tem, então, que enfrentar as conseqüências da trama perpetrada por seu
inimigo.
Interpretação
Mateus 1336-43
36“Então, despedindo as multi
dões, foi Jesus para casa. E che-
gando-se a ele os seus discípulos,
disseram: Explica-nos a parábola
do joio no campo. 37E ele respon
deu: O que semeia a boa semente
é o Filho do homem: 38o campo é
o mundo; a boa semente são os
filhos do reino; o joio são os filhos
do maligno; 39o inimigo que o se
meou é o diabo; a ceifa é a consu
mação do século, e os ceifeiros são
anjos. 40Pois, assim como o joio é
colhido e lançado ao fogo, assim
será na consumação do século.
M andará o Filho do homem os
seus anjos que ajuntarão do seu
reino todos os escândalos e os que
praticam a iniqüidade, 42e os lan
çarão na fornalha acesa; ali haverá
choro e ranger de dentes. 43Então,
4. Jülicher, em Gleichnisreden, 2: 548, afirma que o joio amadurece antes do trigo.
59
AS PARÁBOLAS DE JESUS
60
O JOIO E O TRIGO
61
AS PARÁBOLAS DE JESUS
62
O JOIO E O TRIGO
Aplicação
10. W. G. Doty, “An Interpretation of the Weeds and Wheat”, Interp 25 (1971): 189.
11. Com agradecimentos a Hunter, Parables, p. 48, que parece ter um estoque infindável de
versos, poemas e ditados.
63
AS PARÁBOLASDEJESUS
ções, pois a vinda do Senhor está próxima. Irmãos, não vos queixeis uns dos
outros, para não serdes julgados. Eis que o juiz está às portas.” (Tg 5.8,9)
À primeira vista, a parábola pode dar a impressão de que há dois tipos
de indivíduos neste mundo, o bom e o mau, e que os bons serão sempre bons
e os maus permanecerão maus para sempre. Mas isso não é totalmente
correto. As Escrituras não ensinam que Deus tenha criado os homens bons
e que Satanás criou os maus. Deus criou gente — artesanato divino —, e ele
regenera aqueles que escolheu por obra da graça de seu Espírito. Os maus,
embora criados por Deus, foram corrompidos por Satanás e são usados por
ele para influenciar o povo regenerado de Deus.12 São o joio entre o trigo.
O trigo e o joio amadurecem lado a lado até à ceifa. Então, serão separados.
A parábola do joio contém uma lista compacta de termos similares,
em forma de glossário. A aparente simplicidade na explicação dos termos é
quase um desafio a que se faça o mesmo em relação a outras parábolas
ensinadas por Jesus. Muitos comentaristas têm visto isso como um convite
explícito para explicar as parábolas à maneira de Jesus. Por exemplo, ao
explicar a parábola das cinco virgens prudentes e as cinco virgens néscias
(Mt 25.1-13), alguns comentaristas da igreja primitiva davam explicações
variadas para a palavra óleo. Para Hilário, o óleo era o fruto das boas obras;
para Agostinho, o óleo significava alegria; Crisóstomo dizia que o óleo
significava a ajuda dada aos necessitados; e Orígenes considerava o óleo
como sendo a palavra de ensinamento.13
Obviamente, os comentaristas não têm a sabedoria demonstrada por
Jesus para interpretar parábolas. Devem ser cautelosos, para não verem nas
parábolas pensamentos e conceitos que elas não pretendem ensinar. Na
verdade, serão sensatos se buscarem o ensinamento básico da parábola, na
própria parábola, ou em seu contexto, e limitarem sua interpretação ao
ensino transmitido pela parábola.
64
7_______________________________________
O Grão de Mostarda
A Semeadura e o Crescimento
66
O GRÃO DE MOSTARDA
67
AS PARÁBOLAS DE JESUS
68
8______________________
O Fermento
69
AS PARÁBOLAS DE JESUS
70
O FERMENTO
71
9_________________________________________
O Tesouro Escondido
Mateus 13.44
^ “O reino dos céus é semelhan
te a um tesouro oculto no campo,
o qual certo homem, tendo-o acha
do, escondeu. E, transbordante de
alegria, vai, vende tudo o que tem,
e compra aquele campo.”
10____________
A Pérola
Mateus 13.45,46
45“0 reino dos céus é também
semelhante a um que negocia e
procura boas pérolas; ^ e , tendo
achado uma pérola de grande va
lor, vendeu tudo o que possuía, e a
comprou.”
73
AS PARÁBOLAS DE JESUS
Composição
74
O TESOURO ESCONDIDO/A PÉROLA
75
AS PARÁBOLAS DE JESUS
Aplicação
5. Smith, Parables, p. 146. Veja Schippers, Gelijkenissen, p. 103; Jeremias, Parables, p. 199;
Hauck, TDNT, IV: 472.
76
O TESOURO ESCONDIDO/A PÉROLA
77
n___
A Rede
Mateus 13.47-50
47“0 reino dos céus é ainda se
melhante a uma rede que, lançada
ao mar. recolhe peixes de toda es
pécie. 48E, quando já está cheia, os
pescadores arrastam -na para a
praia e, assentados, escolhem os
bons para os cestos, e os ruins dei-
tam tora. Assim sera na consu
mação do século: Sairão os anjos e
separarão os maus dentre os jus
tos, 50e os lançarão na fornalha
acesa; ali haverá choro e ranger de
dentes.”
1. No Evangelho de Tomé, Citação 8, encontramos uma parábola semelhante, uma cuja ênfase
difere radicalmente: “E ele disse: O homem é como um pescador que lançou sua rede ao
mar; ele a recolheu quando estava cheia de pequenos peixes. Entre eles o pescador achou
um peixe grande. O pescador sensato lançou de volta ao mar todos os pequenos peixes (e)
escolheu o grande, sem dificuldade. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.”
2. Mánek, Frucht, p. 50. Ver, também, Jeremias, Parables, p. 226.
79
AS PARÁBOLAS DE JESUS
A Pesca
80
A REDE
Explicação
Jesus usa a parábola da rede para descrever o dia do juízo. Ele se dirige
a seus discípulos que sabiam como apanhar e selecionar os peixes. Ele fala
a linguagem deles e consegue, assim, comunicar efetivamente uma verdade
espiritual. Jesus faz, ainda, uma breve interpretação da parábola. “Assim
será na consumação do século: Sairão os anjos e separarão os maus dentre
os justos, e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de
dentes” (Mt 13.49,50). As palavras são quase idênticas àquelas usadas por
Jesus em sua interpretação da parábola do trigo e do joio. “Pois, assim como
o joio é colhido e lançado ao fogo, assim será na consumação do século.
M andará o Filho do homem os seus anjos que ajuntarão do seu reino todos
os escândalos e os que praticam a iniqüidade, e os lançarão na fornalha
acesa; ali haverá choro e ranger de dentes” (Mt 13.40-42).
Argumentar que a interpretação da parábola da rede não se ajusta aos
termos da própria parábola, porque os peixes impróprios para serem comi
dos são jogados de volta à água, e não em uma fornalha acesa, é ilógico. Do
mesmo modo, alguém poderia afirmar que a interpretação da parábola do
trigo e do joio é inadequada, pois o joio não range os dentes. Jesus usa
linguagem simbólica e transfere a mensagem da parábola para o destino
espiritual do homem: céu ou inferno. Na parábola do trigo e do joio, o destino
do homem é o céu, onde os justos resplandecerão como o sol, ou o inferno,
onde há choro e ranger de dentes.
A interpretação dada omite todos os pormenores descritivos a respeito
dos pescadores lançando a rede e trazendo para a praia o produto da pesca;
apenas a separação dos peixes bons, daqueles sem valor, é explicada. Por
6. Dodd, Parables, p. 188.
81
AS PARÁBOLAS DE JESUS
7. Por exemplo, Lenski, em Matthew’s Gospel, p. 547, diz que “a rede é o Evangelho”.
8. Em um curto e interessante estudo, J. Mánek, “Fishers ot Men”, NovT 2 (1958): 138-41,
mostra que há inimizade entre o mar e Deus (Ap 21.1). “Porque o mar é lugar de revolta
contra Deus, ele nâo pode participar do mundo novo, no futuro. Ele passará juntamente
com outros poderes demoníacos, como está demonstrado na visão do novo céu e da nova
terra, em Ap. XXI.l”, p. 139. Os pescadores de homens, portanto, os resgatarão de um
ambiente hostil a Deus.
9. Veja W. F. Albright e C. S. Mann, Matthew (New York: Doubleday, 1971), p. cxliv.
82
A REDE
83
12_______________________
O Credor
Incompassivo
Mateus 18.21-35
71
“Então Pedro, aproximando-
se, lhe perguntou: Senhor, até
quantas vezes meu irmão pecará
contra mim, que eu lhe perdoe?
Até sete vezes? 22Respondeu-lhe
Jesus: Não te digo que até sete
vezes, mas até setenta vezes sete.”
Por isso o reino dos céus é
semelhante a um rei, que resolveu
ajustar contas com os seus servos.
2^E passando a fazê-lo, trouxeram-
lhe um que lhe devia dez mil talen-
tos. Não tendo ele, porém, com
que pagar, ordenou o senhor que
fosse vendido ele, a mulher, os fi
lhos e tudo quanto possuía, e que
a dívida fosse paga. 26Então o ser
vo, prostrando-se reverente, ro
gou: Sê paciente comigo e tudo te
pagarei. 27E o senhor daquele ser
vo, compadecendo-se, mandou-o
85
AS PARÁBOLAS DE JESUS
A História
não encoraja uma vida de pecados? Jesus não concordaria com Pedro: “H á
limite para tudo?”
Mas a resposta de Jesus é: “Não te digo que até sete vezes, mas até
setenta vezes sete.” Jesus multiplica os dois números, sete e dez — números
que simbolizam a perfeição — e acrescenta um outro sete: Ele quer dizer,
não sete vezes, mas setenta vezes — sete vezes; isto é, a perfeição vezes a
perfeição e mais a perfeição.1 Ele indica a idéia de infinito. A misericórdia
de Deus é tão grande que não pode ser medida; você, Pedro, deve também
mostrar misericórdia a seu próximo.
Para explicar a magnitude do amor misericordioso de Deus, que deve
se refletir em seu povo, Jesus ensina a parábola do servo incompassivo. Ele
conta a história, e o faz muito bem.
Um rei reuniu seus oficiais (= servos), no dia marcado para o acerto
de contas.12 Um deles lhe devia a astronômica soma de dez mil talentos. De
fato, a expressão “dez mil talentos” traz implícito o significado de algo que
não se pode numerar ou contar, algo infinito.3 Além disso, o talento era,
naqueles dias, o mais alto valor monetário do sistema financeiro. Comparan
do, vemos que o total anual de impostos que Herodes, o Grande, recebia de
todo o reino era de, aproximadamente, novecentos talentos.4 Está claro que
o ministro das finanças devia a seu senhor uma quantia enorme. Não nos é
contado o que ele havia feito com o dinheiro; esse fato não tem importância.
Ele devia a soma de dez mil talentos, e tinha que pagar. Ele sabia que jamais
conseguiria todo aquele dinheiro, no dia marcado para o ajuste de contas.
Guando ficou diante de seu senhor, ouviu o veredito: ele, sua mulher,
seus filhos e tudo o que possuía seriam vendidos para o pagamento da dívida.
E ra demais para ele. Atirou-se aos pés do soberano, implorando misericór
dia, e pediu: “Sê paciente comigo e tudo te pagarei.” Ele implorou miseri
córdia, não o perdão. Prometeu restituição, sabendo que poderia pagar
apenas uma pequena parte e não mais. Como resposta, recebeu o que menos
1. A frase pode também ser traduzida como “setenta vezes sete”. Veja-se, Gn 4.24.
2. Quando um monarca oriental convocava seus secretários do tesouro, deixava de lado os
oficiais menores. Ele se encontrava com os oficiais do alto escalão do serviço público. Veja-se
K. H. Rengstorf, TDNTII: 266 que destaca que a palavra servo é a forma lingüística usual
para a relação de sujeição ao rei, nas despóticas monarquias do antigo oriente.”
3. H. G. Liddell e R. Scott, A Greek English Lexicon (Oxford: Clarendon Press, 1968), p. 1154.
A soma de dez mil talentos chega a vários milhões de dólares.
4. Josephus, Antiquities 17:318-20. Judeia, Iduméia e Samaria pagavam seiscentos talentos de
impostos anualmente. Galiléia e Peréia pagavam duzentos talentos; Batanéia e Traconitis,
bem como Auranitis pagavam cem talentos.
87
AS PARÁBOLAS DEJESUS
88
O CREDOR INCOMPASSIVO
Á Lição
89
AS PARÁBOLAS DE JESUS
Aplicação
90
O CREDOR INCOMPASSIVO
91
AS PARÁBOLAS DEJESUS
92
13________________________________________
Os Trabalhadores da
Vinha
Mateus 20.1-16
1“Porque o reino dos céus é se
melhante a um dono de casa que
saiu de madrugada para assalariar
trabalhadores para a sua vinha. E,
tendo ajustado com os trabalhado
res a um denário por dia, mandou-
os p ara a vinha. 3Saindo pela
terceira hora viu, na praça, outros
que estavam desocupados, e dis
se-lhes: Ide vós também para a vi
nha, e vos darei o que for justo.
Eles foram. 5Tendo saído outra
vez perto da hora sexta e da nona,
procedeu da mesma forma; e,
saindo por volta da hora undéci
ma, encontrou outros que estavam
desocupados, e perguntou-lhes:
Por que estivestes aqui desocupa
dos o dia todo? R esponderam -
lh e: P o rq u e n in g u ém nos
contratou. Então lhes disse ele: Ide
93
AS PARÁBOLAS DEJESUS
O
também vós para a vinha. Ao cair
da tarde, disse o senhor da vinha
ao seu administrador: Chama os
trabalhadores e paga-lhes o salá
rio, com eçando pelos últimos,
indo até aos primeiros. 9Vindo os
da hora undécima, recebeu cada
um deles um dcnário. 10Ao chega
rem os primeiros, pensaram que
receberiam mais; porém, também
estes receberam um denário cada
um. 11 Mas, tendo-o recebido,
murmuravam contra o dono da
casa, dizendo: Estes últimos tra
balharam apenas uma hora; contu
do, os ig u a la ste s a nós que
suportamos a fadiga e o calor do
dia. 13Mas o proprietário, respon
dendo, disse a um deles: Amigo,
não te faço injustiça; não combi
naste comigo um denário? 14Toma
o que é teu, e vai-te; pois quero dar
a este último, tanto quanto a ti.
15Porventura não me é lícito fazer
o que quero do que é meu? Ou são
maus os teus olhos porque eu sou
bom? 16Assim, os últimos serão
primeiros, e os primeiros serão úl
timos (porque muitos são chama
dos, mas poucos escolhidos).”
94
OS TRABALHADORES DA VINHA
O Trabalho e os Trabalhadores
95
AS PARÁBOLAS DE JESUS
96
OS TRABALHADORES DA VINHA
As Horas e os Pagamentos
97
AS PARÁBOLAS DE JESUS
98
OS TRABALHADORES DA VINI IA
Graça
99
AS PARÁBOLAS DE JESUS
Aplicação
100
OS TRABALHADORES DA VINHA
15. Os paralelos dos Evangelhos de Mateus e Marcos são idênticos exceto no fato de que em
Mateus a parábola dos trabalhadores na vinha é acrescentada como uma ilustração da
expressão: “Porém, muitos primeiros serão últimos; e os últimos, primeiros” (Mt 19.30;
20.16; Mc 10.31). Em Lucas 13.30, a expressão também ocorre, embora em contexto
inteiramente diferente.
16. A. H. McNeile, The Gospel According to St. Matthew (London: McMillan and Co., 1915),
p. 285.
17. As versões bíblicas atribuem Mateus 20.16 a Jesus. O texto não é parte da observação feita
pelo dono da vinha, mas é uma conclusão repetida por Jesus como sequência de Mateus
19.30.0 NEB, entretanto, não apresenta o versículo como citação, e por isso se conclui que
ele é o fecho dado por Mateus à parábola. Jeremias, em Parables, p. 36, chega a sugerir que
“deixemos de lado o versículo 16”. Por outro lado, Morison, em St. Matthew, p. 356, e
Derrett, em “Workers in the Vineyard”, p. 51, sustentam que as palavras de Mateus 20.16
são a aplicação da parábola feita por Jesus mesmo. Falta clareza ao argumento de que Jesus
não proferiu as palavras do versículo 16. Ele não é convincente.
101
AS PARÁBOLAS DE JESUS
18. Os pais da igreja primitiva se entregavam a interpretações fantasiosas. Irineu, por exemplo,
interpretou os cinco períodos de trabalho, durante os quais os trabalhadores foram contra
tados, como cinco períodos da história, começando com Adão. O período das nove horas
ao meio-dia seria aquele de Noé a Abraão; o das doze às três incluía o período de Abraão
a Moisés; o das três às cinco significava o tempo entre Moisés e Cristo, e a última hora aponta
para o período entre a ascensão e a volta do Senhor.
19. Mitton, “Expounding the Parables”, p. 310.
102
OS TRABALHADORES DA VINHA
10 3
14________________________
Os Dois Filhos
Mateus 21.28-32
“E que vos parece? Um ho
mem tinha dois filhos. Chegando-
se ao primeiro, disse: Filho, vai
hoje trabalhar na vinha. 29Ele res
pondeu: Sim, senhor; porém não
foi. 30Dirigindo-se ao segundo,
disse-lhe a mesma coisa. Mas este
respondeu: não quero; depois, ar
rependido, foi. 31Qual dos dois fez
a vontade do pai? Disseram: o se
gundo. Declarou-lhes Jesus: Em
verdade vos digo que publicanos e
meretrizes vos precedem no reino
de Deus. 32Porque João veio a vós
outros no caminho da justiça, e não
acreditastes nele; ao passo que pu
blicanos e meretrizes creram. Vós,
porém, mesmo vendo isto não vos
arrependestes, afinal, para acredi
tardes nele.”
105
AS PARÁBOLAS DEJESUS
1. J. D. M. Derrett, “The Parable of the Two Sons”, Studia Theologica 25 (1971); 109-16,
também publicada em Studies in the New Testament, 1:76-84, segue Jülicher, Gleichnisre-
den, 2:367. Derrett destaca que o primeiro filho era o mais velho e deveria ser o sucessor do
pai. “Um filho mais velho pode muito bem ter mais interesse na forma que na substância.”
(Studies, p. 81).
2. A evidência textual, em relação à sua leitura, varia. Tecnicamente, há três variações, (a) De
acordo com o Códice Sinaítico e outros manuscritos, o primeiro filho disse não, mas se
arrependeu; o segundo disse sim, mas não foi. Essa é a leitura em traduções tais como AV,
RSV e NIV. (b) De acordo com o Códice do Vaticano e outros manuscritos, o primeiro filho
diz sim, mas não vai; o segundo diz não, mas se arrepende. Quem faz a vontade do pai? A
resposta varia: “o último dos dois”, “o último”, “o segundo”. Traduções, incluindo NASB,
NAB e NEB, seguem o Códice do Vaticano, (c) O assim chamado texto Ocidental segue a
ordem do Códice Sinaítico, com exceção da resposta à questão: “Qual dos dois fez a vontade
do pai?”, que é “o último”. Isto significa que o filho que disse sim, mas não foi, cumpriu o
pedido do pai. Absurdo. A escolha fica, portanto, entre (a) ou (b). Veja J. R. Michaels, “The
Parable of the Regretful Son”, HTR 61 (1968): 15- 26. A ordem não afeta o sentido da
parábola. Consulte-se Metzger, Textual Commentary, pp. 55-56.
3. Metzger, em Textual Commentaiy, p. 56, indica que a comissão do Novo Testamento Grego
das Sociedades Bíblicas Unidas optou pela ordem seguida pelo Códice Sinaítico. Para
substanciar essa escolha Metzger escreve: “Poderíamos argumentar que se o primeiro filho
tivesse obedecido, não havia razão para chamar o segundo.”
10 6
OS DOIS FILHOS
Prometeu ao pai um dia todo de trabalho. Era uma promessa que não
pretendia cumprir.
Interpretação
107
AS PARÁBOLAS DEJESUS
108
15 ________________________
Os Lavradores Maus
10 9
AS PARÁBOLAS DE JESUS
110
OS LAVRADORES MAUS
A História
1. Evangelho de Tomé, Citação 65: “Ele disse: ‘Um homem bom tinha uma vinha. Entregou-a
a arrendatários para que a cultivassem e ele pudesse receber deles os seus frutos. Ele enviou
seu servo para que os arrendatários lhe entregassem o fruto da vinha. Eles o agarraram (e)
espancaram; um pouco mais e o teriam matado. O servo foi (e) contou tudo a seu senhor.
Seu senhor disse: Talvez ele não os conhecesse. Enviou outro servo; os lavradores maus,
também, o espancaram. Então, o dono da vinha enviou o seu filho. Logo que os arrendatários
souberam que ele era o herdeiro da vinha, agarraram-no (e) o mataram. Quem tem ouvidos,
ouça’.” De modo interessante, o Evangelho de Tomé, Citação 66, continua. “Jesus disse:
Mostrai-me a pedra que os construtores rejeitaram. Ela é a pedra angular.”
111
AS PARÁBOLAS DE JESUS
animais selvagens, tais como as raposas e os javalis (Ct 2.15; SI 8.13) plan
tando uma sebe ao redor da vinha. Também equipou a vinha com um lagar
e uma torre. A torre era usada durante a colheita na vigilância contra os
ladrões, e podia, também, servir de moradia ao lavrador.
O projeto todo cra uma aventura financeira para o fazendeiro. Ele
plantou novas videiras num solo ainda não testado. Arrendou a vinha a
lavradores, mas teria que esperar durante quatro anos até que as videiras
começassem a produzir. Durante esse período, ele teria que sustentar os
lavradores, comprar adubo e suprimentos para a vinha, e esperar que o
quinto ano lhe trouxesse algum lucro.2 Um novo vinhedo não era, portanto,
um empreendimento que trouxesse retorno financeiro imediato; era, antes,
uma promessa de resultados permanentes, que beneficiariam sucessivas
gerações.
O fazendeiro saiu para viajar durante um longo período. Na sua
ausência, os lavradores cultivariam a vinha, podariam os galhos e cuidariam
da plantação de vegetais entre as videiras durante os primeiros anos. Os
arrendatários trabalhavam como meeiros e tinham direito a uma parte do
que fosse produzido. O lucro restante pertencia ao proprietário. Os lavra
dores tinham feito um contrato com o dono da terra para cultivar a vinha.
Durante os quatro primeiros anos seriam sustentados pelo proprietário.
Passados esses anos de trabalho árduo, a vinha poderia se tornar uma fonte
de lucros para o dono.
Quando se aproximou a época da colheita, no quinto ano, o fazendeiro
enviou seu servo3 para receber o lucro da vindima.4 Os contatos entre o
proprietário e os arrendatários devem ter sido mínimos, durante os primei
ros quatro anos. Essa falta de aproximação pode ter resultado em alienação
e mesmo em atitudes hostis da parte dos lavradores, como descreve a
parábola. A razão exata da amarga animosidade não é exposta, mas fica
112
OS LAVRADORES MAUS
113
AS PARÁBOLAS DE JESUS
O Significado
11 4
OS LAVRADORES MAUS
11 5
AS PARÁBOLAS DE JESUS
11 6
OS LAVRADORES MAUS
Teologia
17. Jeremias, TDNT, 1:792. A pedra rejeitada se referia a Abraão, Davi ou ao Messias, de
acordo com os rabinos. Os construtores eram descritos como os mestres da Lei. SB 1:875-76.
18. M. Black, em “The Christological Use of the Old Testament in the New Testament” NTS
18 (1971-72):13, chama a atenção para a interpretação messiânica da pedra e, conseqüente-
mente, fala da pedra e do filho rejeitados.
19. Gn 22.2; Mt 3.17; Mc 1.11; Lc 3.22; 2 Pe 1.17.
117
AS PARÁBOLAS DE JESUS
“Por isso foi que também Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio
sangue, sofreu/ora da porta.” (Hb 13.12)
Se a parábola terminasse com a morte do filho e com a ida do
proprietário à vinha, o sacrifício da vida do filho teria sido desnecessário. O
proprietário poderia ter ido até à vinha imediatamente após seus servos
terem sido maltratados. A exaltação do filho não teria sido retratada, então,
pela parábola da vinha. Mas, através da figura da rejeição, Jesus liga o Salmo
118 à parábola e a citação do Salmo revela que à pedra rejeitada é destinado
o lugar mais importante entre todas as outras pedras da construção. O
Senhor exaltou a pedra principal.
Jesus, deliberadamente, entrelaçou a figura da vinha e a da pedra,
dizendo: “Portanto vos digo que o reino de Deus vos será tirado e será
entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos. Todo o que cair
sobre esta pedra ficará em pedaços; e aquele sobre quem ela cair ficará
reduzido a pó” (Mt 21.43,44).20 O reino de Deus se torna a vinha onde outro
povo produzirá frutos. Ao mesmo tempo, a pedra reduz a pedaços e esmaga
oponentes do Filho. A “vinha” e a “pedra angular” são metáforas pronta
mente entendidas pelos ouvintes teologicamente treinados, os líderes reli
giosos. Da profecia de Isaías eles sabiam que “a vinha do SENHOR dos
Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta dileta do
SENHOR.” (Is 5.7) Da mesma profecia conheciam, ainda, que “o SENHOR
dos Exércitos... será pedra de tropeço e rocha de ofensa às duas casas de
Israel. Muitos dentre eles tropeçarão... cairão, serão quebrantados...”. (Is
8.13-15)21
Opropósito da parábola e a citação do salmo não escaparam aos líderes
religiosos. Todos os três evangelistas relatam que “compreenderam que
contra eles proferia esta parábola”. Eles, de fato, seriam esmagados pelo
Filho que tinham rejeitado, mas a quem Deus tinha exaltado.
Aplicação
20. A evidência textual parece se tomar mais forte pela inclusão de Mt 21.44 que pela sua
omissão. É possível, naturalmente, olhar o versículo como sendo uma interpolação de Lc
20.18. Não obstante, “a antigüidade da leitura e sua importância na tradição do texto” devem
ser vistas como fatores decisivos para sua conservação. Metzger, em A Textual Commentary,
p. 58, não obstante, sugere que o versículo pode ser um acréscimo ao texto.
21. Outras referências à pedra são encontradas em: Is 28.16; Dn 2.34,44,45; At 4.11; Rm 9.33;
Ef 2.20; e l P e 2.6.
118
OS LAVRADORES MAUS
11 9
16_____________
As Bodas
Mateus 22.1-14
1“De novo entrou Jesus a falar
por parábolas, dizendo-lhes: O
reino dos céus é semelhante a um
rei que celebrou as bodas de seu
filho. 3Então enviou os seus servos
a chamar os convidados para as
bodas; mas estes não quiseram vir.
4Enviou ainda outros servos, com
este recado: Dizei aos convidados:
Eis que já preparei o meu banque
te: os meus bois e cevados já foram
abatidos, e tudo está pronto; vinde
para as bodas. 5Eles, porém, não
se importaram, e se foram, um
para o seu campo, outro para o seu
negócio; 6e os outros, agarrando os
servos, os maltrataram e mataram.
70 rei ficou irado e, enviando as
suas tropas, exterminou aqueles
assassinos e lhes incendiou a cida
de. 8Então disse aos seus servos:
Está pronta a festa, mas os convi
dados não eram dignos. 9Ide, pois,
121
AS PARÁBOLAS DE JESUS
A Parábola
122
ASBODAS
Explicação
123
AS PARÁBOLAS DE JESUS
124
AS BODAS
5. Alguns escritores consideram que este detalhe, bem como alguns outros, vão além dos limites
do exagero oriental. Veja-se, por exemplo, Armstrong, Parables, p. 103; Oesterley, Parables,
p. 123; Linnemann, Parables, p.94; e Jeremias, Parables, p. 68. Entretanto, K. H. Rengstorf,
em “Die Stadt der Morder (Mt 22.7), Judentum, Urchristentum, Kirche, Festschrift honoring
J. Jeremias (Berlin: Tõpelmann, 1960), pp. 106-29, acumulou uma coleção de incidentes, nos
quais mensageiros enviados por reis eram escarnecidos ou mortos.
6.2 Cr 30.1-10. Josephus, Antiquities 9:264-265, escreve que os mensageiros de Ezequiel foram
escarnecidos, agarrados e assassinados. Para comparar, leia-se Judite 1.11.
7. A expressão “suas tropas”, embora plural em grego, é um semitismo. Jeremias, Parables, p.
68, ne 75.
8. Rengstorf, “Stadt der Morder”, pp. 106-24. Veja-se, especialmente, suas conclusões, nas
páginas 125-29.
125
AS PARÁBOLAS DEJESUS
126
AS BODAS
à casa, ele o vestiu de roupas finas, para mostrar que o passado do filho fora
esquecido (Lc 15.22).1415Como o rei da parábola queria que todos os convi
dados usassem as roupas nupciais, por ele providenciadas, assim Deus
deseja que os pecadores venham à festa de seu filho e usem as vestiduras
brancas que simbolizam o arrependimento, o perdão e a justiça.
O convidado que não estava usando a veste branca, no banquete real,
sem dúvida, representa o pecador que se auto-justifica. Ele quer que todos
saibam que não precisa da morte sacrificial e do sangue expiatório de Cristo,
para entrar no céu. Ele não ouve as palavras de Jesus: “Ninguém vem ao Pai
senão por mim” (Jo 14.6), e, por isso, quando chega diante de Deus, é
lançado fora. É absolutamente impossível chegar diante de Deus sem a veste
protetora oferecida por Jesus Cristo.
O parágrafo termina com as palavras: “Porque muitos são chamados,
mas poucos escolhidos.” Tanto o começo quanto o fim da parábola se
referem a pessoas que tinham sido convidadas. Aqueles que se recusaram a
ir, assim como o convidado que não vestiu as roupas apropriadas para as
bodas, não fazem parte do grupo dos que foram escolhidos. Embora o
convite seja universal e extensivo a todos os povos, apenas aqueles que o
aceitam com fé e arrependimento são destinados à vida eterna (At 13.48).
Deus não se compraz com a morte do perverso; ele quer que ele viva
(Ez 18.23; 33.11). O desejo amoroso de Deus é que “nenhum pereça, senão
que todos cheguem ao arrependimento” (2 Pe 3.9). Mas, se o homem faz
saber que não sente necessidade de Jesus, ele, assim, recusa a justiça
dispensada por ele. Ele tem que se arrepender, dando-se conta de que não
tem merecimento algum para chegar à presença de Deus, e que necessita
das vestes de justiça que Jesus provê. Um coração “compungido e contrito”
(SI 51.17) é necessário para que se queira aceitar, prontamente, essa vesti
dura.
O convite do evangelho é proclamado a todo o mundo, mas relativa
mente poucos respondem à oferta de salvação. Mesmo entre os que aceitam
o convite há muitos que se contentam com uma simples profissão de fé. A
profissão de fé deve demonstrar renovação de vida. O crente deve trans
formar em atos suas palavras. Embora Deus escolha sem olhar as obras, essa
escolha se expressa plenamente quando o eleito vive uma vida de obediência
a Deus.16
A escolha envolve o Deus Triúno. Os escolhidos são “eleitos segundo
a presciência de Deus Pai.” Eleitos “em santificação do Espírito, para a
14. Jeremias, Parables, pp. 130 e 189.
15. Calvin, Harmony of the Evangelists, 11:175.
16. G. Schrenk, TONT, IV:187.
127
AS PARÁBOLAS DE JESUS
17. J. Morison, A Practical Commentary on the Gospel According to St. Matthew (Boston:
Bartlett & Co., 1884), p. 407.
128
17________________
A Figueira
129
AS PARÁBOLAS DE JESUS
130
A FIGUEIRA
131
AS PARÁBOLAS DE JESUS
para a figueira. Mas, o texto diz, “não passará esta geração sem que tudo isto
aconteça”. E todas estas coisas preditas no sermão sobre o final dos tempos
vão muito além do tempo dos contemporâneos de Jesus.6 Porém, os rolos
de Cunrã têm lançado significativa luz na compreensão da frase “esta
geração”. A expressão significa uma duração que não se limita a um período
de vida, e não deve ser entendida literalmente.78Ela se refere a pessoas que
persistem e permanecem fiéis até ao fim. Inclui, portanto, os discípulos que
ouviram as palavras dos próprios lábios de Jesus, aqueles que testemunha
ram a queda de Jerusalém, e os crentes que, através dos séculos, com
perseverança, têm esperado o cumprimento das profecias que dizem respei
to ao final dos tempos.
A imagem da figueira florescente é comumente associada a um perío
do de bênçãos (J1 2.22) e raramente está relacionada com destruição e
calamidade. A parábola, como tal, não Q deve ser vista basicamente ligada às
calamidades profetizadas no sermão. A ênfase deve permanecer, antes, na
redenção que se torna evidente na vinda do reino de Deus. Embora Mateus
e Marcos falem de calamidades, como a fome e terremotos, como sendo “o
princípio das dores” (Mt 24.8; Mc 13.8), Lucas as omite. Ele apresenta as
palavras de Jesus emolduradas de prazeirosa expectativa. “Ora, ao começa
rem estas coisas a suceder, exultai e erguei as vossas cabeças; porque a vossa
redenção se aproxima” (Lc 21.28). Lucas usa praticamente a mesma lingua
gem na aplicação da parábola da figueira florescente: “Assim também,
quando virdes acontecer estas coisas, sabei que está próximo o reino de
Deus” (Lc 21.31). Naturalmente, os termos “redenção” e “reino de Deus”,
neste contexto, se referem à futura consumação da salvação.9 Eles se referem
à derradeira vinda do reino de Deus, quando o povo de Deus será libertado
da aflição. Então, também, “a própria criação será redimida do cativeiro da
corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm 8.21).
A parábola conclui, dizendo: “Passará o céu e a terra, porém as minhas
palavras não passarão.” O que passa se torna parte do passado e não significa
mais nada para o presente.10 O sentido da parábola é o de que as palavras
de Jesus não perdem seu impacto quando uma predição, em particular, se
6. As interpretações variam quanto ao significado da expressão “esta geração”: a) O povo judeu
dos dias de Jesus. Beasley — Murray, Commentaiy p. 100; b) O povo judeu como uma raça.
Hendriksen, Matthew, p. 868; c) A humanidade em geral (Jerônimo); d) Os fiéis na igreja.
A. L. Moore, The Parousia in the New Testament, (Leiden; Brill, 1966), pp. 131-32.
7. E. E. EHis, The Gospel of Luke (The Century Bible) (London: Nelson, 1966), pp. 246-47. A
expressão é usada em 1 QpHab 2.7; 7.2.
8. Mánek, Frucht, p. 34.
9. Marshall, Luke, pp. 777,779.
10. Ridderbos, Corning of the Kingdom, p. 502.
132
A FIGUEIRA
cumpre no tempo. São tão válidas hoje, como o eram quando foram primeiro
proferidas.
Qual é a mensagem da parábola? Até ao dia do retorno de Cristo,
quando o reino de Deus virá em toda a sua plenitude, nenhuma geração
estará livre de calamidade. Mas, nenhum cristão deve desanimar-se ou
entregar-se ao desalento. Ele deve observar os sinais dos tempos com muito
cuidado, do mesmo modo como observa uma figueira que floresce e saberá
que os acontecimentos que o cercam são anunciadores de uma nova era. A
parábola, assim, exorta o crente a perseverar atento. As adversidades que
ele enfrenta não devem abater o sei* ânimo e enfraquecer a sua confiança.
Elas devem, antes, confirmar a sua expectativa da aproximação do fim
glorioso do qual essas adversidades são os prenúncios. Mesmo que os
crentes, através dos tempos, tenham sofrido aflições e enfretado infortúnios,
o cristão, hoje, mais que nunca, é encorajado pelas palavras de Paulo: “E
digo isto a vós outros que conheceis o tempo, que já é hora de vos desper
tardes do sono, porque a nossa salvação está agora mais perto do que quando
no princípio cremos. Vai alta a noite e vem chegando o dia. Deixemos, pois,
as obras das trevas, e revistamo-nos das armas da luz” (Rm 13.11,12).
13 3
18______________________________
O Servo Vigilante
32
“Mas a respeito daquele “Cingidos estejam os
dia ou da hora ninguém sabe; vossos corpos e acesas as
nem os anjos no céu, nem o vossas candeias. ^S ed e vós
Filho, senão somente o Pai. semelhantes a homens que
Estai de sobreaviso, vigiai (e esperam pelo seu senhor,
orai); porque não sabeis quan ao voltar ele das festas de
do será o tempo. como um casamento; para que, quan
homem que, ausentando-se do do vier e bater à porta, logo
país, deixa a sua casa, dá auto lha abram. ^Bem -aventu
ridade aos seus servos, a cada ra d o s aq u e le s servos a
um a sua obrigação, e ao por quem o senhor quando vier
teiro ordena que vigie.35Vigiai, os encontre vigilantes; em
pois, porque não sabeis quan verdade vos afirmo que ele
do virá o dono da casa; se à há de cingir-se, dar-lhes lu
tarde, se à meia-noite, se ao gar à mesa e, aproximando-
cantar do galo, se pela manhã; se, os servirá. 38Quer ele
36para que, vindo ele inespera venha na segunda vigília,
damente, não vos ache dormin- quer na terceira, bem-aven
do. O que, porém, vos digo, turados serão eles se assim
digo a todos: Vigiai!” os achar.”
Marcos 1333-37
136
_______________________________________________________ O SERVO VIGILANTI!
137
AS PARÁBOLAS DE JESUS
Lucas 1235-39
138
O SERVO VIGILANTE
confiança que existia entre o senhor e seus servos. Nesta curta parábola, a
passagem: “bem-aventurados aqueles servos” (Lc 12.37,38) ocorre duas
vezes. Também, através da comparação, Jesus destaca o laço de amizade
existente entre ele e os discípulos.
12
Aos discípulos é dito que estejam vestidos c prontos para o serviço,
e que mantenham acesas as suas candeias. O uso de candeias acesas sugere
um período de trevas durante o qual os discípulos devem permanecer
alertas, prontos para servirem a Jesus,1213 quando ele voltar. A parábola
retrata o senhor fora da porta de sua própria casa, batendo e esperando que
os servos a abram e o recebam em sua própria casa. A imagem se repete na
carta endereçada à igreja em Laudicéia: “Eis que estou à porta e bato; se
alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com
ele e ele comigo” (Ap 3.20).
A parábola continua com uma recomendação: “Bem-aventurados
aqueles servos a quem o senhor quando vier os encontre vigilantes.” A
seqüência natural seria que os servos, após abrirem a porta, se ocupassem
em servir ao seu senhor. Entretanto, uma série inesperada de acontecimen
tos tem lugar: o senhor se torna o servo.
Ele se veste para o serviço, seus servos tomam lugar à mesa e ele os
serve.14 Sem dúvida, o fato contraria o costume normal tão bem descrito na
parábola sobre a recompensa do servo (Lc 17.7-10). Entretanto, essa inver
são de papéis está plenamente de acordo com o ensino e a conduta de Jesus.
Ele ensinou o papel do servo muito claramente, no cenáculo, quando lavou
os pés de seus discípulos.15 Resumindo, dentro do contexto da parábola dos
servos vigilantes, Jesus faz uma referência velada a si mesmo.
12. No grego, é usado o particípio perfeito do verbo perizonnumi junto com o imperativo do
verboeimi. Esse uso do perfeito significa conseqüência. Isto é, a ordem é que estejam sempre
vestidos para o serviço: estar prontos sempre!
13. Dodd, Jeremias, e outros colocam esta parábola na categoria das “parábolas da crise”. A
categoria inclui parábolas tais como a dos servos vigilantes, a do ladrão à noite, a do servo
fie! e do infiel, e a das dez virgens. Embora a observação seja correta, as assim chamadas
parábolas da crise não podem ser limitadas à morte de Jesus. Elas focalizam, também, a
segunda vinda. Morris, Luke, p. 216; I. H. Marshall, Eschatology and the Parables (London:
Tyndale Press, 1973), pp. 34,35.
14. Jeremias, Parables, p. 54 ne 18, chama Lucas 12.37b de secundário, pré-Lucas. Ele destaca
a palavra amen (que Lucas usa apenas seis vezes) assim como a redundância semítica de
parelthon. Juntamente com outros estudiosos, ele considera esse versículo um detalhe
alegórico, o que pode ser verdade. Não obstante, não existe razão para que sejam questio
nadas a historicidade e a autenticidade do que foi dito.
15. Jo 13.1-7; também Lc 22.27.
139
AS PARÁBOLAS DE JESUS
Uma vez mais, os servos que haviam esperado seu senhor voltar são
elogiados. Os servos cumpriram o que deles era esperado: aguardar a volta
de seu senhor. Assim também, a todos os crentes, não apenas aos discípulos
de Jesus, é recomendado que permaneçam prontos, atentos e aguardando a
volta do seu Senhor. Se estiverem vestidos e prontos para o serviço, com suas
lâmpadas acesas e fulgurantes na noite escura, o Senhor, quando vier, não
negará sua recompensa.
14 0
19______________
O Ladrão
141
AS PARÁBOLAS DE JESUS
14 2
O LADRÃO
2. Alguns estudiosos afirmam que a expressão “Filho do homem” não pode ser original, mas
que deve ter sido introduzida pela igreja cristã primitiva. Jeremias, Parables, pp. 50,51;
Mánek, Frucht, p. 66; G. Schneider, Parusiegleichnisse im Lukas-Evangelium (Stuttgart:
1975), p. 22. Entretanto, “a predição da vinda do Filho do homem é uma parte consistente
do ensino de Jesus...” Marshall, Luke, p. 534. Veja-se R. Maddox, “The Function of the Son
of Man”, NTS 15 (1968-9); 51.
3. Jeremias, Parables, p. 50, é de opinião que os discípulos não precisavam ser advertidos. A
parábola, então, se aplica à igreja primitiva, para advertir o povo quanto ao julgamento que
está para vir. Marshall, em Eschatology, p. 35, questiona seriamente esta opinião.
143
20__________________________________________
O Servo Fiel e Prudente
145
AS PARÁBOLAS DE JESUS__________________________________________________
A parábola do servo fiel está entre aquelas nas quais Jesus ensina a
necessidade da vigilância. Além de enfatizar a vigilância, Jesus, também,
reforça a característica da fidelidade. Em resumo, a parábola se refere a um
servo que recebe a responsabilidade de administrar a casa, na ausência de
seu senhor. Se ele provar ser fiel e prudente, o senhor o recompensará
generosamente ao regressar. Mas, se for preguiçoso, indigno e descuidado,
o senhor voltará quando não estiver sendo esperado e lhe infligirá severa
punição.
O Servo Fiel
1. Jeremias, Parables, p. 99, considera Lc 12.41 como uma “situação criada”, embora seu “uso
lingüístico mostre que se achava na fonte de Lucas”. No entanto, por causa da referência
aos discípulos (Lc 12.22) como os que ouviam diretamente a Jesus, não é possível rejeitar o
caráter histórico da pergunta de Pedro (Lc 12.41).
2. A expressão “esta parábola” não deve ser tomada literalmente como se referindo apenas á
parábola do ladrão. Tomada mais amplamente, ela inclui a parábola do porteiro. Esse uso
abrangente da palavra parábola é encontrado também em Lc 15.3 que inclui as histórias da
ovelha perdida, da moeda perdida e do filho pródigo.
3. O termo oikonomos pode significar: a) um escravo de confiança a quem se dá autoridade
na casa de seu senhor (Lc 12.42); b) um oficial público coletor de rendas (Rm 16.23); c) um
administrador (Lc 16.1), SB, 11:219.
146
O SERVO FIEL E PRUDENTE
O Servo Infiel
Quando um senhor coloca alguém como responsável por sua casa, ele
escolhe um servo em quem confia e de quem espera boa conduta. Quer
deixar sua casa em mãos seguras. Mas, nem sempre a natureza humana é
confiável, e o senhor pode cometer um grande erro quando faz sua escolha
por determinado servo, em quem pensa poder confiar. Em outras palavras,
o senhor nunca pode ter a certeza absoluta de que o servo corresponderá às
suas expectativas.
O servo pode aparentar confiabilidade, antes de ser escolhido, mas,
quando seu mestre parte, ele revela seu verdadeiro caráter. É ardiloso, cruel
e descontrolado. Com base em outras viagens feitas pelo seu senhor, o servo
calcula que ele vai demorar bastante. Na ausência do dono, o servo maltrata
os outros servos, seus companheiros. Ele se sente seguro ao fazê-lo, pensan
do que o dia da volta de seu senhor está distante. Passa o tempo na
companhia de bêbados, com os quais se entrega a excessos de comida e
bebida.4
Seu senhor se apressa a voltar para casa, e aparece súbita e inespera
damente. O que fará o senhor com o servo que foi irresponsável e infiel?
Ouve as histórias sobre seu comportamento, suas farras e sua indolência.
Nada lhe escapa. Ele toma conhecimento de tudo. O senhor agora é o juiz e
o executor da lei. Ele deve pronunciar o veredito e declarar culpado o
ofensor. Então, administrará a punição apropriada.
4. Na parábola do servo fiel e do infiel ecoa a história de Aicão. Veja-se R. H. Charles,
Apocrypha and Pseudepigrapha (Oxford: Clarendon Press, 1977), 2: 715.
147
AS PARÁBOLAS DE JESUS
Interpretação
14 8
O SERVO FIEL E PRUDENTE
149
AS PARÁBOLAS DE JESUS
15 0
21_________________________
As Dez Virgens
Mateus 25.1-13
^ ‘Então o reino dos céus será
semelhante a dez virgens que, to
mando as suas lâmpadas, saíram a
encontrar-se com o noivo. 2Cinco
dentre elas eram néscias, e cinco
prudentes. 3As néscias, ao toma
rem as suas lâmpadas, não levaram
azeite consigo; no entanto, as pru
dentes, além das lâmpadas, leva
ram a z e ite nas v a silh a s. 5E,
tardando o noivo, foram todas to
madas de sono, e adormeceram.
6
Mas, à meia-noite, ouviu-se um
grito: Eis o noivo! saí ao seu encon
tro. 7Então se levantaram todos
aquelas virgens e prepararam as
suas lâmpadas. ®E as néscias disse
ram às prudentes: Dai-nos do vos
so a z e ite , p o rq u e as nossas
lâm padas estão-se apagando.
Mas as prudentes responderam:
Não! para que não nos falte a nós
e as vós outras; ide antes aos que o
vendem, e comprai-o. 10E, saindo
elas para comprar, chegou o noivo,
e as que estavam apercebidas en
1 51
AS PARÁBOLAS DE JESUS
As Bodas
1. P. Trutza, “Marriage”, ZPEB, pp. 4,96, indica que “os rabinos fixavam doze anos, como a
idade mínima para as meninas se casarem e treze para os meninos.”
2. “As damas de honra cercavam a noiva, toda de branco, e eram, usualmente, dez.” Daniel-
Rops, Daily Life in Palestina of the Time of Christ (London: 1962), p. 124. Do mesmo modo
J. A. Findlay, Jesus and his parables (London: Epsworth Press, 1951), pp. 111-112, se refere
às dez damas vistas por ele numa cidade da Galiléia, a caminho da casa da noiva, para
fazer-lhe companhia enquanto esperava a chegada do noivo.
152
AS D EZ VIRGENS
15 3
AS PARÁBOLAS DE JESUS
15 4
AS DEZ VIRGENS
O Significado
Interpretações
15 6
AS DEZ VIRGENS
17. Tomás de Aquino reuniu numerosos exemplos provindos de obras dos pais da igreja.
Commentaiy on the Four Gospels, I, ST. Matthew, (Oxford: p. 1842), pp. 844-50.
18. Jeremias, em Parables, p. 51, escreve que “Mateus viu na parábola uma alegoria à Parousia
de Cristo.” Entretanto, como Michaelis, em Gleichnisse, p. 94, observa corretamente: a
parábola tem sido sempre uma parábola sobre a volta de Cristo. Não há razão para
considerá-la uma alegoria.
15 7
AS PARÁBOLAS DE JESUS
158
22___________________
Os Talentos
Mateus 25.14-30
14“Pois será como um homem
que, ausentando-se do país, cha
mou os seus servos e lhes confiou
os seus bens. 15A um deu cinco
talentos, a outro dois e a outro um,
a cada um segundo a sua própria
capacidade; e então partiu. 460
que recebera cinco talentos saiu
im ediatam ente a negociar com
eles e ganhou outros cinco. Do
mesmo modo o que recebera dois,
ganhou outros dois. Mas o que
recebera um, saindo, abriu uma
cova e escondeu o dinheiro do seu
senhor. 19Depois de muito tempo,
voltou o senhor daqueles servos e
ajustou contas com eles. 20Então,
aproximando-se o que recebera
cinco talentos, entregou outros
cinco, dizendo: Senhor, confiaste-
me cinco talentos; eis aqui outros
♦ 4 71
cinco talentos que ganhei. Disse-
lhe o senhor: Muito bem, servo
bom e fiel; foste fiel no pouco, so-
159
AS PARÁBOLAS DE JESUS
160
O STALENTOS
O Dinheiro Confiado
2. Muitos comentaristas pensam que Jesus, ao ensinar, usou mais que uma vez a idéia básica,
expressa nas duas parábolas, Morris, Luke, p. 273. Veja-se, também, Geldenhuys, Luke, pp.
476-77; Plumer, S t Luke, p. 437; Th. Zahn, Das Evangelium des Lucas (Leipszig: A.
Deichert, 1913), p. 628, n2 23; Lenski, Malthew’s Gospel, p. 971. Outros, entre eles, Manson,
Sayings, p. 313, vêem duas versões de uma parábola original. Jeremias, Parables, p. 58,
atirma que a parábola dos talentos aparece em três versões: Mt 25.14-30; Lc 19.12-27; e no
trecho 18 do Evangelho dos Nazarenos. Na verdade, entretanto, é questionável afirmar que
três versões derivam de uma parábola original especialmente quando o trecho do Evangelho
Nazareno parece se basear no relato de Mateus. De fato, P. Vielhauer conclui “que o
conteúdo (do Evangelho dos Nazarenos) tinha semelhança grosseira com o de Mateus, e
conseqüentemente era (o Evangelho dos Nazarenos) apenas uma forma secundária de
Mateus”. New Testament Apocrypha, ed. E. Hennecke e W. Schneemelcher (Philadelphia:
Westminster Press, 1963), 1:140.
3. J. Ellul, em “du texte au sermon (18). Les talents. Matthieu 25/13-30", Études Théologiques
et Religleuses 48 (1973): 125-38, questiona se é possível descobrir a forma mais antiga da
parábola. A mensagem da parábola é por demais complexa.
161
AS PARÁBOLAS DEJESUS
Dois Servos
162
O STALENTOS
da confiança que nele fora depositada. Sem chamar atenção para si mesmo,
com simplicidade, fez seu senhor notar os cinco talentos adicionais.8
A resposta do senhor foi equivalente à fidelidade do servo. Foi gene
roso ao exaltá-lo e recompensá-lo. Primeiro, exclamou: “Muito bem”, elo
giando o excelente desempenho do servo. A seguir, chamou-o de servo “bom
e fiel”. E, em terceiro, o colocou como responsável por muitas coisas. Ainda,
em quarto lugar, convidou-o a se assentar à sua mesa e a celebrar com ele o
resultado obtido.9 Sentar-se à mesa com o senhor implica, obviamente, em
igualdade.
O segundo servo apresentou-se diante do seu senhor com os dois
talentos, bem como com os dois a mais que ganhara no investimento que
fizera com o dinheiro. Também este servo não procurou chamar a atenção
para si mesmo, mas para os talentos que conseguira. O senhor não foi menos
generoso com o segundo servo do que fora com o primeiro. Da mesma
maneira, as recompensas foram equivalentes à fidelidade demonstrada. O
senhor provou ser muito generoso.
Um Servo
16 3
AS PARÁBOLAS DE JESUS
lucrativo, mas parecia esperar palavras elogiosas por apenas tê-lo guardado
em segurança.11 Queria que entendessem que não perdera nada do dinheiro
de seu senhor. Explicitamente, disse que o talento pertencia ao seu senhor.
Ele o conservara em segurança.
Por que o servo não guardou o dinheiro no banco, onde renderia juros?
Provavelmente não confiava nos banqueiros inescrupulosos que podiam
alterar ou invalidar o combinado.1112 Talvez, o servo estivesse motivado por
um desejo de vingança contra o senhor e, por isso, tivesse decidido não
depositar o dinheiro num banco. Embora o investimento envolvesse algum
risco, ele sabia que o senhor, ao voltar, poderia recuperar o talento, com
lucro.13Ao enterrar o talento privaria o senhor dos juros acumulados. Assim,
quando seu senhor voltasse, o servo poderia devolver-lhe o único talento.
O Senhor
Quando o senhor entregou a soma de oito talentos aos seus três servos,
ele mesmo se tornou dependente da honestidade e da lealdade dos servos.
Se eles perdessem o dinheiro em transações comerciais, seria um homem
arrumado. Compreensivelmente, pareceu bastante satisfeito quando o pri
meiro e o segundo servos mostraram haver dobrado a quantia confiada a
eles. Ele os louvou pela diligência e os recompensou generosamente.
A chegada do terceiro servo com o único talento deixou claro ao
senhor que ele havia julgado mal o caráter de seu servo, que tinha se
equivocado ao depositar confiança nele, e que em vez de recompensá-lo
tinha que puní-lo.
A resposta do senhor à fraca desculpa do servo para sua indolência foi
o oposto da sua resposta aos outros dois servos. Primeiro, palavras de louvor
não podiam ser pronunciadas. Segundo, o senhor chamou o servo de mau e
negligente. Terceiro, criticou-o pela preguiça e falta de lealdade. E quarto,
mandou que retirassem o servo de sua presença, para sempre.
O servo foi julgado por suas próprias palavras. Sabia que seu senhor
esperava que seus servos se esforçassem ao máximo. De fato, o senhor era
um homem que queria colher onde não havia semeado e que agarrava a
oportunidade quando esta se apresentava. Por estas atitudes, se tornou um
homem duro aos olhos do servo indolente.
11. Michelis, Gleichnisse, p. 110.
12. Daniel-Rops, em Palestine, p. 253, cita que os rabinos tentavam estabelecer regras para o
procedimento nos negócios, mas que, nem sempre, essas eram observadas. Embora o
empréstimo com juros fosse proibido pela lei de Moisés, os rabinos conseguiram burlá-la
fazendo uma distinção entre empréstimo com juros e usura. A usura era condenada.
13. Bauer, et al., Lexicon, p. 443.
16 4
O STALENTOS
O Significado
165
AS PARÁBOLAS DE JESUS
único talento que seu mestre lhe havia dado.18 Aos líderes religiosos de Israel
tinha sido confiado um depósito sagrado: muitos deles falharam, no entanto,
deixando de usá-lo de modo apropriado. Eles se sentiam satisfeitos de poder
devolvê-lo a Deus, dizendo: “Temos guardado a Lei.” Guardaram para si
mesmos o depósito. Fazendo isso falharam pois não o puseram para render.
Mas Deus, que lhes dera a guarda sagrada de sua revelação, um dia os
chamaria para o ajuste de contas.
A parábola dos talentos foi primeiramente endereçada aos discípulos
de Jesus. Eles eram os únicos a quem o evangelho tinha sido confiado; a eles
fora dito que pregassem o arrependimento e o perdão, em nome de Cristo,
a todas as nações, começando por Jerusalém (Lc 24.47). Mas, o ensinamento
da parábola não se limitava aos discípulos. O autor da Epístola aos Hebreus
advertiu explicitamente os cristãos de seus dias, ao perguntar: “como esca
paremos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?” (Hb 2.3). E, através
dos séculos, a parábola dos talentos tem falado, e continua a falar, a todos
os cristãos. Eles devem ser o canal por onde a mensagem da Palavra de Deus
flui para o mundo que os cerca.
Conclusão
18. Dodd, Parables, p. 151; Jeremias, Parables, p. 62; Smith, Parables p. 168; E. Kamlah, “Kritik
und Interpretation der Parabel von den anvertrauten Geldern: Matt 25,14ff.; Luke 19,12ff.”
Kerygma und Dogma 14 (1968): 28-38; J. Dupont. La parabole des talents (Matt 25.14-30)
ou des minas (Lc 19.12-27), “Revue de Theologie et de Philosophie 19 (1969): 376-91.
19. Mänek, Frucht, p. 73.
166
O STALENTOS
1 67
23________________________________________
O Grande Julgamento
Mateus 2531-46
31“Quando vier o Filho do ho
mem, na sua majestade, e todos os
anjos com ele, então se assentará
no trono da sua glória; 32e todas as
nações serão reunidas em sua pre
sença, e ele separará uns dos ou
tros, como o pastor separa dos
cabritos as ovelhas; 33e porá as
ovelhas à sua direita, mas os cabri-
tos à esquerda; então dira o Rei
aos que estiverem à sua direita:
Vinde, benditos de meu Pai! entrai
na posse do reino que vos está pre
parado desde a fundação do mun
do. 35Porque tive fome e me destes
de comer; tive sede e me destes de
beber; era forasteiro e me hospe
dastes; 36estava nu e me vestistes;
enfermo e me visitastes; preso e
fostes ver-me. 37Então me pergun
tarão os justos: Senhor, quando foi
que te vimos com fome e te demos
de comer? ->o
ou com sede e te demos
de beber? E quando te vimos fo
rasteiro e te hospedamos? ou nu e
te vestimos? 39E quando te vimos
169
AS PARÁBOLAS DE JESUS
170
O GRANDE JULGAMENTO
O Lado Direito
171
AS PARÁBOLAS DEJESUS
conheço” (Mt 25.12). O servo negligente, que enterrou seu único talento, é
lançado fora, na escuridão (Mt 25.30). Na parábola das ovelhas e dos
cabritos, o princípio da separação e do julgamento é claramente aplicado.
O Filho do homem, como Jesus se refere a si mesmo, vem em sua glória
e se assenta em seu trono celestial, cercado por seus anjos. Passagens das
Escrituras, no Velho Testamento, reiteram esta verdade que, sem dúvida,
aponta para o último julgamento, como um julgamento universal.6 Na pará
bola das ovelhas e dos cabritos, Jesus aceita todos aqueles trazidos diante
dele, que foram eleitos desde a eternidade. São aqueles que ouvem o Rei
dizer: “Vinde, benditos de meu Pai! entrai na posse do reino que vos está
preparado desde a fundação do mundo.” Eles são salvos, portanto, porque
Deus, o Pai, os tinha abençoado e lhes diz que tomem posse do reino que já
antes lhes havia sido preparado.78A salvação dos justos não tem raízes em
suas boas obras, senão na vontade de Deus, o Pai. As boas obras, que os
justos praticam, não são a raiz, mas, sim, o fruto da graça? As boas obras não
são anuladas pela graça eletiva de Deus; são esperadas de seus filhos benditos
como uma efusão natural de obediência e amor.
De modo interessante, sem explicação, o evangelista muda da imagem
do Filho do homem para a do Rei. Por que Mateus usa estes dois títulos?
Certamente, a identificação de Jesus, como o Filho do homem, com a raça
humana, é evidente por si mesma. Mas, a transição do Filho do homem para
o Rei se torna significativa à luz da profecia de Daniel, onde a pessoa do
Filho do homem vem com as nuvens do céu. “Foi-lhe dado o domínio, a glória
e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem;
o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será
destruído” (Dn 7.13,14). O Filho do homem, incontestavelmente, é Rei, e no
dia do juízo fala como juiz soberano.9
As obras dos justos são atos de amor e misericórdia não intencionais
realizados para o próprio Cristo. Por seis vezes Jesus, ao falar com os justos,
usa o pronome da primeira pessoa singular — eu —, contrapondo-a a vós
que se refere a outros.
6. Zc 14.5; Mt 16.27; 19.28; 2 Ts 1.7; Jd 14,15; Ap 3.21; 20.11,12. No trecho chamado “Parábolas”,
no Livro de Enoque 62.5, o ímpio “vê o Filho do homem sentado no trono de sua glória”.
Ele, que é o Messias, executa todos os pecadores pela palavra de sua boca. Charles,
Apocrypha and Pseudepigrapha, 2:228.
7. O tempo do verbo em “benditos” ( = eulogemenol) e em “preparados” (=hetoimasmenen)
indica ação que, praticada no passado, tem significado permanente para o presente e o futuro.
8. Hendriksen, Matthew, p. 888.
9. Plummer, SL Matthew, p. 350; Mánek, Frucht, p. 75; Manson, Sayings, p. 249.
172
O GRANDE JULGAMENTO
173
AS PARÁBOLAS DEJESUS
♦ Il
estava perseguindo seus seguidores. Jesus é um com os seus seguidores,
pois cada cristão que crê é irmão ou irmã de Cristo. Por isso, perseguindo
os crentes, Paulo perseguia a Jesus.14
No Evangelho de Mateus, a expressão “meus pequeninos” se refere
aos discípulos de Jesus. Quando os doze discípulos são enviados dois a dois,
Jesus diz: “E quem der a beber ainda que seja um copo de água fria, a um
destes pequeninos, por ser este meu discípulo, em verdade vos digo que de
modo algum perderá o seu galardão” (Mt 10.42).15 Quando ele chama uma
criança e a coloca no círculo dos discípulos, exorta os doze a também se
tornarem crianças. Os pequeninos que acreditam em Jesus pertencem a ele
(Mt 18.5,6,10). Do mesmo modo, em Mateus 25.40, Jesus diz: “Em verdade
vos afirmo que sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos,
a mim o fizestes.” Qualquer auxílio prestado a algum dos seguidores de
Cristo é, portanto, prestado ao próprio Cristo. Os cristãos são altamente
exaltados, pois servirão de referência aos atos de bondade que forem
praticados ou omitidos. Eles e Cristo são um!
O seguidor de Jesus é comissionado a ser uma testemunha viva dele.
E um representante do Rei, e a ele é dada autoridade para testificar do
Senhor. Um mensageiro pertence sempre àquele que o enviou. O que é
enviado deve representar sempre aquele que o enviou.
Os que recebem os mensageiros do Rei e os tratam bem, providencian
do alimento quando têm fome, bebida quando têm sede, roupas que os
agasalhem quando têm frio, e que os confortem quando estão doentes ou na
prisão, estão fazendo isso, de fato, ao próprio Rei. Negar a esses mensageiros
amor e misericórdia é o mesmo que fechar as portas àquele a quem repre
sentam (Mt 10.40).
O Lado Esquerdo
174
O GRANDE JULGAMENTO
175
AS PARÁBOLAS DE JESUS
Implicações
176
O GRANDE JULGAMENTO
21. L. Cope, “Matthew XXV.31-46. ‘The Sheep and the Goats’ reinterpreted”, NovT 11 (1969):
43.
22. J. Mànek, “Mit wem identifiziert sich Jesus? Eine exegetische Rekontruktion ad Matt.
25.31-46, ’’Christ and Spirit in the New Testament, ed. B. Lindars e S. S. Smalley (Cam
bridge: University Press, 1973), p. 19.
23. Alguns comentaristas vêem o Cristo oculto nos confrontado, nos povos necessitados e
desafortunados do mundo. Por exemplo, Hunter, Parables, p. 118; Armstrong, Parables, p.
193.
177
AS PARÁBOLAS DEJESUS
apenas àqueles que aceitam Jesus como seu Senhor e Salvador.2425Em seu
Evangelho, Mateus fornece um significado para a palavra irmão?5 Para ele
a palavra significa um discípulo, um seguidor de Jesus. Portanto, a frase
“meus pequeninos irmãos”, em Mt 25.40, se refere às pessoas que acreditam
em Jesus. São membros de seu corpo, a igreja.
Naturalmentc, as palavras de Jesus: “Os pobres sempre os tendes
convosco, mas a mim nem sempre me tendes” (Mt 26.11; Mc 14.7; Jo 12.8),
não significam que, em sua ausência, Jesus seja representado pelos pobres.
Suas palavras são uma exortação para que os pobres sejam cuidados, como
Deus ordenou aos israelitas: “Pois nunca deixará de haver pobres na terra;
por isso eu te ordeno: Livremente abrirás a tua mão para o teu irmão, para
o necessitado, para o pobre na terra” (Dt 15.11). Paulo era cuidadoso a
respeito desta mesma injunção, que recebera novamente ao se engajar na
missão aos gentios. Após ter recebido a destra de comunhão de Tiago, Pedro
e João, ele disse: “Recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos
pobres...” (G12.10).
Ninguém pode, jamais, ignorar os pobres, porque a ordem de Deus:
“amarás o teu próximo como a ti mesmo”, é suficientemente clara. O
cumprimento da lei é o amor, e aquele que cumpre esta lei régia está agindo
bem (Tg 2.8). Assim, os cristãos têm a obrigação divina de mostrar amor
genuíno e sincero interesse pelos necessitados e rejeitados, não importando
a raça, origem, idade, sexo, ou religião. Qualquer um se qualifica como o
próximo e reclama amor, porém nem todos são chamados de imião ou irmã
de Cristo. Apenas aqueles que crêem em Cristo e fazem a vontade de Deus
são irmãos e irmãs de Cristo (Mt 12.48).
Na parábola e na apresentação da cena do juízo, as seguintes pessoas
aparecem individual e coletivamente: (1) o Filho do homem, (2 todas as
nações, (3) um pastor, (4) o Rei, (5) o Pai do Rei, (6) os justos, (7) os irmãos
do Rei, (8) os ímpios. É óbvio que Deus é o Pai do Rei; çmbora Deus não
seja o Juiz. O Rei é o Juiz que é comparado a um pastor que àepara as ovelhas
dos bodes. Além disso, o rei é também conhecido como o Filho do homem,
que é como Jesus se denomina. Os irmãos do Rei, também, estão presentes
no julgamento. Quem são eles? Jesus diz a seus discípulos que: “quando na
regeneração, o Filho do homem se assentar no trono da sua glória, também
vos assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel” (Mt
19.28). O privilégio de julgar com Cristo não se limita aos doze discípulos.
Os santos julgarão o mundo, escreve Paulo à congregação de Corinto (1 Co
17 8
O GRANDE JULGAMENTO
6.2).26 O Juiz não está sozinho, porém fala pelos seus irmãos. Ele não julga
seus irmãos; porém todas as nações se apresentam diante de seu trono e são
separadas em dois grupos: os que estarão à direita do Juiz, porque ajudaram
os irmãos; e aqueles à esquerda, porque se recusaram a ajudar.
Nesta parábola, Jesus apresenta apenas um aspecto do quadro do
último julgamento. Outras passagens das Escrituras nos revelam cenas
adicionais do que acontecerá naquele dia.27 A parábola das ovelhas e dos
cabritos descreve uma divisão entre os que foram colocados à direita e
aqueles que foram colocados à esquerda. A descrição da cena do julgamento
acaba com uma referência ao destino permanente que terão. “E irão estes
para o castigo eterno, porém os justos para a vida eterna” (Mt 25.46). A
conclusão indica que o veredito, para ambas as par tes, é final e irrevogável.
Os justos gozarão para sempre a plenitude da vida, e os ímpios receberão a
maldição da punição eterna.
179
24_________________________________
Os Dois Devedores
Lucas 736-50
^ ’Convidou-o um dos fariseus
para que fosse jantar com ele. Je
sus, entrando na casa do fariseu,
tomou lugar à mesa. 37E eis que
uma mulher da cidade, pecadora,
sabendo que ele estava à mesa na
casa do fariseu, levou um vaso
•50
de
alabastro como ungüento; e, es
tando por detrás, aos seus pés,
chorando, regava-os com suas lá
grimas e os enxugava com os pró
prios cabelos; e beijava-lhe os pés
e os ungia com o ungüento. 39Ao
ver isto o fariseu que o convidara,
disse consigo mesmo: Se este fora
profeta, bem saberia quem e qual
é a mulher que lhe tocou, porque
é pecadora. 40Dirigiu-se Jesus ao
fariseu e lhe disse: Simão, uma coi
sa tenho a dizer-te. Ele respondeu:
Dize-a, Mestre. 41Certo credor ti
nha dois devedores: um lhe devia
quinhentos denários, e o outro cin-
qüenta. 42Não tendo nenhum dos
dois com que pagar, perdoou-lhes
a ambos. Qual deles, portanto, o
181
AS PARÁBOLAS DE JESUS
As Circunstâncias
182
OS DOIS DEVEDORES
18 3
AS PARÁBOLAS DEJESUS
profeta,6 ele refletia, saberia que esta mulher era uma pecadora, e que seu
presente era maculado pelo pecado. Nenhum profeta que se desse ao
respeito permitiria que uma mulher de má reputação o tocasse, infamando-
o. Porque a mulher não apenas tocou seus pés — fez mais, continuou
beijando-os até que, finalmcnte, se retirou. Jesus não compreendia?
A Parábola
184
OS DOIS DEVEDORES
olhos de Simão estavam cegos, pois, enquanto a olhava apenas como peca
dora, deixava de vê-la como alguém de quem os pecados haviam sido
perdoados. Sua auto-justificação bloqueava sua visão. Em sua opinião, a
mulher era apenas uma pecadora. Jesus, no entanto, não o repreendeu, nem
o censurou, mas, de maneira magistral, ofereceu-lhe uma perspectiva espi
ritual do acontecido.
“Entrei em tua casa e não me deste água para os pós; não mc saudaste
com um beijo, nem me ungiste a cabeça com (Meo.” Mas, disse Jesus, “esta
mulher, com suas lágrimas, lavou meus pés, c por não ter uma toalha,
enxugou-os com seus cabelos. Ela demonstrou seu respeito mais profundo
por mim, beijando meus pés. Além disso, tomou um vaso de bálsamo
perfumado e ungiu-os”.
Jesus via a mulher como uma pecadora que tinha sido perdoada. Ele
não especificou seus pecados. Apenas se referiu a eles dizendo que eram
muitos. E porque seus muitos pecados lhe tinham sido perdoados, ela muito
amou.8 Ela queria expressar sua gratidão a Deus e se voltara para Jesus, que
fora enviado por Deus. Ele se tornara o vaso que recebia a gratidão da
mulher.9
A Mulher
8. Jeremias, Parables, p. 127, destaca que o hebraico, o aramaico e o siríaco são línguas que não
têm palavras correspondentes para “obrigado” e “agradecimento”. O conceito se expressa
por meio de palavras tais como “amor” ou “bênção”.
9. H. Drexler, “Die grosze Sünderin Lucas 7.36-50", ZNW 59 (1968): 166.
10. Católicos romanos interpretam que o texto (Lc 7.47) diz que o amor merece perdão. A
versão NAB traduz o texto: “Eu vos digo porque seus muitos pecados são perdoados — por
causa de seu grande amor.”
185
AS PARÁBOLAS DE JESUS
“Mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama.” Queria Jesus dizer
que Simão, o fariseu, amava pouco porque os pecados, que lhe tinham sido
perdoados, eram poucos? Dificilmente.
Simão não mostrou amor ou gratidão a Jesus, além do convite para que
fosse jantar em sua casa. Ele não tinha sentido qualquer necessidade de ser
perdoado. Apesar de tudo, a comparação permanece. Jesus não elaborou o
assunto, mas, por implicação, pediu a Simão que reconhecesse e confessasse
seus pecados para, assim, experimentar a alegria que acompanha o poder
purificador da graça de Deus.
Jesus perguntou a Simão se ele tinha visto a mulher. Pelo contraste
exemplificado na parábola, Jesus, então, insinuou que Simão deveria olhar
para sua própria vida espiritual.
Depois de ter-se dirigido a Simão, Jesus voltou-se para a mulher e
disse: “Perdoados, são os teus pecados.” Deus tinha perdoado seus pecados.
Jesus confirmou, então, a certeza da mulher de que ela recebera o perdão
dos seus pecados, dizendo-lhe que tinha sido redimida: “A tua fé te salvou;
vai-te em paz.” Ela já tinha professado sua certeza com seus atos de amor e
gratidão. Pela fé, ela expressara a Jesus sua gratidão. Seu amor era, portanto,
a conseqüência e não a causa de sua salvação.11 Com a paz de Deus em seu
coração, a mulher pôde enfrentar o mundo de novo, como um ser humano
regenerado. Com as palavras “vai-te em paz”, Jesus a abençoou na despedi
da.
18 6
25__________________________________
O Bom Samaritano
Lucas 10*25-37
'J C
“E eis que certo homem, in
térprete da lei, se levantou com o
intuito de pôr Jesus em provas, e
disse-lhe: Mestre, que farei para
herdar a vida eterna? 26Então Je
sus lhe perguntou: Que está escrito
na lei? Como interpretas? 27A isto
respondeu: Amarás o Senhor teu
Deus de todo o teu coração, de
toda a tua alma, de todas as tuas
forças e de todo o teu entendimen
to; e amarás o teu próximo como a
ti mesmo. 28Então Jesus lhe disse:
Respondeste corretamente, faze
isto e viveras. Ele, porem, que
rendo justificar-se, perguntou a
Jesus: Quem é o meu próximo?
30Jesus prosseguiu, dizendo: Certo
homem descia de Jerusalém para
Jerico, e veio a cair em mãos de
salteadores, os quais, depois de
tudo lhe roubarem, e lhe causarem
muitos ferimentos, retiraram-se
OI
deixando-o semimorto. Casual
mente descia um sacerdote por
aquele mesmo caminho, e, vendo-
187
AS PARÁBOLAS DE JESUS
Lugar e Povo
188
O BOM SAMARITANO
2. Dt 6.5 e Lv 19.18.
3. B. Gerhardsson, The Good Samaritan — The Good Shepherd? (Lund, Copenhagen:
Gleerup, 1958), p. 7, quando um soldado judeu morreu em conflito armado, a nação pranteia
a morte de um irmão.
18 9
AS PARÁBOLAS DE JESUS
190
O BOM SAMARITANO
pagou ao hospedeiro duas moedas de prata e lhe deu instruções para cuidar
dele.9 Disse também ao dono da estalagem que se mais dinheiro fosse gasto,
ele lhe pagaria, quando voltasse de sua viagem.
Implicações
9. As duas moedas de prata eram dois denários, quantia suficiente para pagar a hospedagem
por vários dias. Na parábola dos trabalhadores na vinha (Mt 20.1-16), o salário diário dos
trabalhadores é de um denário.
10. C. Daniel, “Les Esséniens et l’arrière —fond historique de la parabole du Bom Samaritan”,
NovT II (1969): 71-104, retrata a vítima como um essênio que foi assaltado por zelotes. Os
zelotes odiavam os essênios. Assim também o sacerdote e o levita passaram de largo, porque
pertenciam a diferentes ordens religiosas. Entretanto, teria Jesus ensinado a lição apenas
para condenar o ódio entre facções religiosas rivais? Se fosse assim, ele teria sido mais
explícito. É correto presumir que o homem era judeu, porque assim entenderam aqueles que
primeiro ouviram Jesus. Veja-se, também, B. Reicke, “Der harmherzige Samariter”, Verbo-
rum Veritas, Festschrift honorig G. Stãhlin (Wuppertal; Brockhaus, 1970), p. 107.
19 1
AS PARÁBOLAS DE JESUS
1 92
O BOM SAMARITANO
A.C. Por causa desse ódio profundo, os judeus não se davam com os
samaritanos.15
Ainda assim, esse viajante, reconhecido como um samaritano, por suas
roupas, seu modo de falar e suas maneiras, parou, desmontou c ajudou com
bondade o seu semelhante. Não perguntou se o ferido era judeu, romano ou
sírio. Para ele, aquela pessoa nua, ferida, meio morta, era um irmão preci
sando de ajuda. Prontamente pagou ao dono da hospedaria o suficiente para
manter o homem na estalagem por alguns dias. Deve, também, ter providen
ciado roupas.
O samaritano não praticou este ato de amor e caridade esperando
retomo. Ele podia ter pedido que o ferido ao se recuperar lhe pagasse o que
havia gastado. Mas, nem mesmo sabia se ele expressaria alguma gratidão,
quando soubesse quem o socorrera. O modo de agir do samaritano repre
sentava um genuíno sacrifício de dinheiro, posses, risco de saúde, segurança
e muitas horas de cuidado e amor.16 Ele cumpriu a Regra Áurea.
A última pessoa mencionada na parábola, o dono da hospedaria,
recebe pouca atenção. Ele, possivelmente, conhecia o samaritano de outras
passagens por ali. Um relacionamento de confiança mútua se estabelecera
entre eles, o que é um testemunho eloqüente da conduta moral do samari
tano. Ele era um homem em quem o hospedeiro podia confiar. “Cuida deste
homem, e se alguma coisa gastares a mais, eu to indenizarei quando voltar.”
Sua palavra valia ouro.
193
AS PARÁBOLAS DEJESUS
Aplicação
194
O BOM SAMARTTANO
195
AS PARÁBOLAS DE JESUS
24. Agostinho, Quaestiones Evangeliorum, II, 19. Dodd, Parables, pp. 11,12. Consulte-se
Mänek, Frucht, pp. 88,89 para uma avaliação útil de modernas interpretações. Veja-se
Gerhardsson, Good Samaritan, pp. 1-31, para um estudo elaborado de possível derivados
verbais; J. Daniélou, "Le Bon Samaritain”, Mélanges Bibliques rédiges en l’honneur de A.
Robert (Paris, 1956), pp. 454-93; H. Binder, “Das Geheimnis vom barmherzigen Samariter”,
TZ 15 (1959): 176-94.
25. Morris, Luke (Grand Rapids: Eerdmans, 1974), p. 191. W. Monselewski, Der barmherzige
Samariter. Eine auslegungsgeschichtliche Untersuchung zu Lukas 10.25-37 (Tübingen:
Mohr-Siebeck, 1967), p. 16.
19 6
26____________________________________
O Amigo Importuno
Lucas 11.5-8
5“Disse-lhes ainda Jesus: Qual
dentre vós, tendo um amigo e este
for procurá-lo à meia-noite e lhe
disser. Amigo, empresta-me três
pães, 6pois um meu amigo, chegan
do de viagem procurou-me, e eu
nada tenho que lhe oferecer. 7E o
outro lhe responda lá de dentro,
dizendo: Não me importunes: a
porta já está fechada e os meus
filhos comigo também já estão dei
tados. Não posso levantar-me para
tos dar; 8digo-vos que, se não se
levantar para dar-lhos, por ser seu
amigo, todavia o fará por causa da
importunação, e lhe dará tudo o de
que tiver necessidade.”
197
AS PARÁBOLAS DE JESUS
198
O AMIGO IMPORTUNO
eu nada tenho que lhe oferecer.” Ele chamou o vizinho de “amigo”, prova
velmente para desencorajar qualquer resposta zangada, embora não fosse
próprio de um amigo acordar o outro no meio da noite. A questão é saber
quem merece o nome de “amigo”. Aquele que foi prestativo com seu vizinho
ou o que veio acordá-lo pensando em seu hóspede?
Um pão, naqueles dias, não era maior que uma pedra que se pudesse
segurar com uma das mãos. Assim, Mateus, no contexto paralelo registra:
“Ou qual dentre vós é o homem que, se porventura o filho lhe pedir pão, lhe
dará pedra?” (Mt 7.9). Três desses pães eram refeição suficiente para uma
pessoa. A longa explicação do que pedia emprestado era uma tentativa de
descrever ao vizinho a situação embaraçosa em que se achava e revela a
esperança de que o amigo o compreendesse. Naturalmente, o hospedeiro
estava perfeitamente ciente do problema que seu pedido causaria. Mesmo
assim, ele pediu, sabendo que era a única maneira de conseguir pão para
oferecer a seu amigo cansado e faminto.
Emprestar pão a um vizinho, cujo suprimento se esgotara, era costume
comum em Israel. Pela manhã, quando o pão fresco fosse assado, o que fora
emprestado era devolvido. O problema não era a quantidade emprestada;
era a hora.
A voz do vizinho estava longe de agradar. Numa reação bem humana,
de alguém cujo sono foi perturbado, ele respondeu: “Não me importunes: a
porta já está fechada e os meus filhos comigo também já estão deitados. Não
posso levantar-me para tos dar.” Ele mostrou má vontade, não falta de
condições para atender o pedido. Ele teria que se levantar, acordar os filhos
ao acender a lâmpada, achar o pão, e retirar a tranca para abrir a porta. Seria
muito mais fácil se o vizinho desaparecesse na escuridão.
Mas o vizinho não lhe deu descanso nem o deixou dormir. Não podia
voltar para casa, onde seu amigo estava esperando, com as mãos vazias.
Continuou pedindo até que seu vizinho se levantou, acendeu a lâmpada,
removeu a tranca, abriu a porta e lhe entregou os pães. O vizinho não fez isto
por causa da amizade, mas por causa da insistência daquele que estava
pedindo.
A palavra insistência é a palavra-chave na conclusão da parábola.5 Ela
retrata a atitude de um homem que se vê obrigado a mostrar hospitalidade
5. Em todo o Novo Testamento, a palavra analdela ocorre apenas aqui. Pode ser traduzida
como “falta de vergonha” para descrever a impertinência do homem que acordou o vizinho.
Jeremias, Parables, p. 158, e Marshall, Luke, p. 465, admitem que a falta de vergonha pode
ser atribuída, também, ao vizinho que se recusou a atender o pedido do amigo. A palavra
exprime, então, o sentido de “manter a aparência”. O vizinho, portanto, atendeu o pedido,
porque não queria trazer vergonha para sua casa, com sua recusa.
199
AS PARÁBOLAS DE JESUS
6. Esta regra, chamada Kal Wa-homer (do menos importante para o mais importante), era uma
das sete regras de hermenêutica compiladas pelo Rabino Hillel (60 A.C. a 20 D.C.) H. L.
Strack, Introduction to the Talmud and Midrash (New York: Meridian Books, 1969), pp.
93-94.
7. Catecismo de Heidelbergae, questão 129.
200
27_____________________________
O Rico Insensato
Lucas 12.13-21
12“Nesse ponto, um homem que
estava no meio da multidão lhe fa
lou: Mestre, ordena a meu irmão
que reparta comigo a herança.
14Mas Jesus lhe respondeu: Ho
mem, quem me constituiu juiz ou
partidor entre vós? 15Então lhes
recomendou: Tende cuidado e
guardai-vos de toda e qualquer
avareza; porque a vida de um ho
mem não consiste na abundância
dos bens que ele possui. 16E lhes
proferiu ainda uma parábola, di
zendo: O campo de um homem
rico produziu com abundância.
17E arrazoava consigo mesmo, di
zendo: Que farei, pois não tenho
onde recolher os meus frutos? E
disse: Farei isto: D estruirei os
meus celeiros, reconstruí-los-ei
maiores, e aí recolherei todo o meu
produto e todos os meus bens.
l9Então direi à minha alma: Tens
em depósito muitos bens para mui
201
AS PARÁBOLAS DE JESUS
202
O RICO INSENSATO
A Parábola
4. Cl 3.5.
5. XCo 6.9,10. J. D. M. Derrett, “The Rich Fool: A Parable of Jesus concerning Inheritance”.
Studies in the New Testament (Leiden: Brill, 1978), 2:103.
6. Compare-se a parábola à história de Nabal que, com palavras e atos, mostrou-se escravo de
seus bens. 1 Sm 25.11.
7. Pv 3.10 e Dt 28.8.
8. Derrett, “The Rich Fool”, p. 112.
203
AS PARABOLAS DEJESUS
mo básico da lei de Deus: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração,
de toda a tua alma, de todo o teu entendimento; e amarás o teu próximo
como a ti mesmo.” Deus e o próximo não existiam para ele. Pensava apenas
nele mesmo.
“Então direi à minha alma: Tens em depósito muitos bens para muitos
anos: descansa, come e bebe, e regala-te.” O homem rico mostrava apenas
auto-indulgência,910o enriquecimento de sua própria vida não era ao menos
considerado. A auto-indulgência é feita de egoísmo. O círculo de sua vida
tinha se reduzido a um ponto. Ela não se caracterizava pelos pecados de
comissão, mas, sim, pelos pecados de omissão. Deixou de agradecer a Deus
as riquezas recebidas e foi negligente no cuidado ao próximo necessitado.
Sem Deus e sem o próximo, sua existência estava centrada nele mesmo. Só,
sem relação com Deus, queria garantir seu futuro. Tiago, em sua Epístola,
se dirige àquelas pessoas que dizem: “Hoje ou amanhã iremos para a cidade
tal, e lá passaremos um ano e negociaremos e teremos lucros.” Replica
Tiago: “Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois
apenas como neblina que aparece por instante e logo se dissipa” (Tg4.13,14).
Deus interveio chamando-o de louco, e dizendo-lhe que morreria
naquela noite.11 Perderia a vida e todas as suas riquezas. Deus o chamou
para prestar contas de seus bens. Queria fazer um balanço de suas posses
terrenas e espirituais.
O fazendeiro rico tinha empilhado sua colheita em celeiros e acumu
lado riqueza suficiente para vários anos. Mas porque não repartira seus bens
com o próximo, nem havia ajustado contas cpm Deus, seu saldo no banco
espiritual estava a zero. Quando Deus chamlou o homem, a conta estava
encerrada e não podia ser alterada.12
“Esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem
será?” A questão é retórica e implica que as riquezas do homem, na verdade,
pertencem a Deus. Ele as dá e tira no tempo devido.
204
O RICO INSENSATO
Conclusão
13. SI 24.1.
14. O contexto geral aponta, obviamente, para o ensinamento do Sermão da Montanha.
Portanto, a parábola pode ser vista como uma elaboração da instrução de Jesus para que
não armazenemos tesouros na terra, e, sim, nos céus (Mt 6.19,20).
205
28 _______________________________
A Figueira Estéril
Lucas 13.6-9
6“Então Jesus proferiu a se
guinte parábola: Certo homem ti
nha uma figueira plantada na sua
vinha e, vindo procurar fruto nela,
não achou. 7Pelo que disse ao viti
cultor: H á três anos venho procu
rar fruto nesta figueira, e não acho;
pode cortá-la; para que está ela
ainda ocupando inutilmente a ter
ra? 8Ele, porém, respondeu: Se
nhor, deixa-a ainda este ano, até
que eu escave ao redor dela e lhe
ponha estrume. 9Se vier a dar fru
to, bem está, se não, mandarás cor
tá-la.”
207
AS PARÁBOLAS DEJESUS
208
A FIGUEIRA ESTÉRIL
Deus para com o homem, e, certamente, para com seu próprio povo!45
Embora a parábola não diga se o dono colheu figos no ano seguinte ou se
figueira foi cortada, o ponto central da história é que a paciência tem um
tempo limite — um ano e nada mais. A misericórdia de Deus é grande, mas,
no fim, o dia do juízo virá. O tempo da graça concedido ao pecador deve ser
usado por ele para se arrepender e voltar para Deus.
Jesus ensinou a parábola da figueira estéril, no contexto histórico do
triste feito de Pilatos que misturara sangue de galileus aos sacrifícios que os
mesmos realizavam (Lc 13.1-5). Seriam esses galileus assassinados, pecado
res que mereciam o castigo divino? A resposta de Jesus foi negativa. “Se não
vos arrependerdes”, disse Jesus, “igualmente perecereis.” “Ou cuidais que
aqueles dezoito, sobre os quais desabou a torre de Siloé e os matou, eram
mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém?”. De novo, Jesus
respondeu que não. Chamou outra vez seus ouvintes ao arrependimento, e
prosseguiu contando-lhes a parábola da figueira estéril.
O que, então, ensina a parábola? No contexto das calamidades que
tinham atingido os galileus e os dezoito habitantes de Jerusalém, Jesus
afirmou a seus ouvintes que a paciência de Deus resulta em julgamento se o
pecador não se arrepende. A quem muito se confiou, muito será exigido. O
mesmo sentimento se repete no autor da Epístola aos Hebreus, quando
adverte os cristãos, na segunda metade do primeiro século, a que prestem
atenção ao evangelho. “Se, pois, se tornou firme a palavra falada por meio
de anjos, e toda transgressão e desobediência recebeu justo castigo, como
escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?” (2.2,3).
O ensino da parábola é que, quando o tempo designado para que o
homem se arrependa tiver se esgotado, o juízo de Deus estará concluído. O
tempo permitido por Deus é um período de graça, e reflete sua misericórdia
para com o homem. Deus não caminha apenas a segunda milha. Anda a
terceira, e, se necessário, a quarta, a fim de salvar um pecador. Mas, quando
sua paciência se exaure e o chamado de Deus para que o homem se
arrependa continua negligenciado, então o julgamento é inevitável.6
Em nossas orações a Deus, em favor de pecadores impenitentes,
devemos pedir mais tempo. Como o jardineiro da parábola pediu mais um
ano ao proprietário da vinha, assim devemos pedir um pouco mais de
4. Is 34.4; Jr 5.17; 8.13; Os 2.12; J11.17.
5. Mánek, Frucht, p. 93.
6. A parábola pode ser vista como simbolicamente cumprida na maldição lançada à figueira
(Mt 21.18,19; Mc 11.12-14). É muito marcante que apenas Lucas tenha registrado a parábola
da figueira estéril e que dos evangelistas sinóticos ele seja o único que não registra o fato de
Jesus ter amaldiçoado a figueira.
209
AS PARÁBOLAS DEJESUS
7. J. Murray, The Epistle to the Romans (Grand Rapids: Eerdmans, 1965), 2:47.
29_______________________________________
Os Primeiros Lugares
Lucas 14.7-14
“Reparando como os convida
dos escolhiam os primeiros luga
res, propôs-lhes uma parábola:
8Ouando por alguém fores convi
dado para um casamento, não pro
cures o primeiro lugar; para não
suceder que, havendo um convida
do mais digno do que tu, 9vindo
aquele que te convidou e também
a ele, te diga: Dá o lugar a este.
Então irás, envergonhado, ocupar
o último lugar. 1 re lo contrário,
quando fores convidado, vai tomar
o último lugar; para que, quando
vier o que te convidou, te diga:
Amigo, senta-te mais para cima.
Ser-te-á isto uma honra diante de
todos os mais convivas. Pois todo
o que se exalta será humilhado; e o
que se hum ilha será exaltado.
12Disse também ao que o havia
convidado: quando deres um jan
tar ou uma ceia, não convides os
teus amigos, nem teus irmãos, nem
211
AS PARÁBOLAS DE JESUS
1. SB, 11:202.
2. A. Edersheim, The Life and Times of Jesus the Messiah (Grand Rapids, Eerdmans, 1953)
2:207. Veja-se, também, Morris, Luke, p. 231. Plummer, S t Luke, p. 356; SB, IV: 2.618.
212
OS PRIMEIROS LUGARES
orgulho. Foi exatamente isso que aconteceu, naquele dia, na casa do fariseu
que tinha convidado Jesus. Os fariseus e os doutores da lei tinham criado
um clima de soberba e arrogância desprovido de amor e humildade. Nessas
circunstâncias, Jesus ensinou uma lição de auto-depreciação.
A parábola é encontrada apenas no Evangelho de Lucas, embora o
sentimento que ela expressa ocorra em outros lugares dos Evangelhos e
Epístolas.3 Naturalmente, nos lembramos de quando Jesus lavou os pés dos
discípulos, no cenáculo, na noite em que foi traído.
O Exemplo
213
AS PARÁBOLAS DEJESUS
dara. Jesus disse ao hospedeiro que este não devia convidar com interesse
de ser recompensado: “Porque, se amardes os que vos amam, que recom
pensa tendes?” (Mt 5.46). Se o anfitrião convida seus parentes, amigos e
conhecidos para comerem com ele, com a intenção de que eles, depois,
também o convidem, estará pensando no quanto receberá de volta. Mas, se
convida pessoas que são financeira e socialmente impossibilitadas de retri
buir o convite, sua recompensa será paga pelo próprio Deus, por ocasião da
ressurreição.
Quem promoveria um banquete e convidaria a mais baixa classe da
sociedade: os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos? Financeiramente, os
pobres dependem dos ricos, e aqueles que são aleijados, coxos e cegos,
muitas vezes, precisam da ajuda dos que são fisicamente capazes. Essas
pessoas não têm meios nem força para retribuir os favores.
Quando o convite é extensivo às pessoas que não têm acesso aos
prazeres da mesa, gozados pelos ricos, a bênção se torna merecida. Natural
mente, Jesus não estava dizendo que 0 anfitrião deveria convidar apenas os
oprimidos. Ele ensina que os nossos atos devem ser praticados sem que
esperemos reciprocidade. Devem ser executados com espírito de humildade
e amor desinteressados. Tais atos recebem a aprovação divina, pois: “Sem
pre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”
(Mt 25.40). Este ensino universal não se limita ao oferecimento de banque
tes, mas inclui também todas as dádivas que não podem ser retribuídas por
aqueles que as recebem.
214
30_________________________
A Grande Ceia
Lucas 14.15-24
15“Ora, ouvindo tais palavras,
um dos que estavam com ele à
mesa, disse-lhe: Bem-aventurado
aquele que comer pão no reino de
Deus. 15Ele, porém, respondeu:
Certo homem deu uma grande
ceia e convidou a muitos. 17À hora
da ceia enviou o seu servo para
avisar aos convidados: Vinde, por-
lo
que tudo já está preparado. Não
obstante, todos à uma começaram
a escusar-se. Disse o primeiro:
Comprei um campo, e preciso ir
vê-lo; rogo-te que me tenhas por
escusado. 19Outro disse: Comprei
cinco juntas de bois e vou experi
mentá-las; rogo-te que me tenhas
por escusado. 20E outro disse: Ca-
sei-me, e por isso não posso ir.
21Voltando o servo, tudo contou
ao seu senhor. Então, irado, o
dono da casa disse ao seu servo:
Sai depressa para as ruas e becos
da cidade e traze para aqui os po
215
AS PARÁBOLAS DEJESUS
A História
216
A GRANDE CEIA
chefe, ali. Sair de sua fazenda naquele momento, para tomar parte em um
banquete, seria muita irresponsabilidade. Ele expressou profundo pesar e
pediu ao servo que levasse suas saudações ao anfitrião. Tinha certeza de que
o outro entenderia sua situação embaraçosa.
O servo continuou, e bateu à porta do terceiro convidado. A esta altura
já estava preparado para receber resposta negativa ao convite dc seu senhor.
Quando fez ao convidado, o chamado para o banquete, ficou sabendo que
este se casara durante aquela semana, e estaria ocupado com suas próprias
festas. Realmente, ele nem precisava se justificar. Ninguém estranharia o
fato de o noivo querer ficar ao lado de sua noiva.
Depois de ter falado com todos os convidados, o servo voltou ao
anfitrião e transmitiu-lhe todas as desculpas e lembranças enviadas. Com-
preensivelmente, o dono da casa não se sentiu satisfeito. Ficou muito zanga
do. Não podia perder toda a comida preparada. Não tinha outra escolha
senão encher sua casa com outros convidados. Assim, ordenou ao servo que
fosse às ruas e becos da cidade e trouxesse para a ceia os mendigos, aleijados,
cegos e coxos, que encontrasse. O servo cumpriu as ordens do seu amo, mas,
quando os convidados já estavam assentados, ainda sobrava lugar. O senhor
o enviou, para que buscasse todos os marginalizados pela sociedade, que
encontrasse pelos caminhos e atalhos da cidade. O anfitrião queria que todos
os lugares do banquete fossem ocupados, de modo que se algum daqueles
que convidara antes chegasse atrasado, não poderia entrar, pois não haveria
mais lugar.
Interpretação
217
AS PARÁBOLAS DE JESUS
218
A GRANDE CEIA
Colocação
219
AS PARÁBOLAS DE JESUS
9. E. Schürer, A History of the Jewish People in the Time of Jesus Christ, Division II, vol. I
(Edinburgh: T&T Clark, 1885), p. 324.
10. Palmer, “Just Married”, p. 255.
11. Morris. Luke, p. 234. P. H. Ballard, “Reasons for Refusing the Great Supper”, JTS 23 (1972):
345.
220
A GRANDE CEIA
Aplicação
221
AS PARÁBOLAS DE JESUS__________________________________________________
os lugares de seu reino com outros, que virão daqui e dali. Ele quer que sua
casa fique repleta. Ele diz: “Obriga a todos a entrar.”
A parábola tem sentido obviamente missionário. Jesus reúne seu
próprio povo das ruas e becos da cidade, e das estradas e atalhos dos campos.
Ele não se envergonha de chamar de seus irmãos os pobres, os aleijados, os
cegos e os coxos (Hb 2.11). Estes são feitos santos e pertencem à família de
Deus. Numa época em que muitos que pertencem à igreja oferecem fracas
desculpas para não participarem da obra contínua do reino de Deus, os
servos fiéis de Deus devem sair às ruas e becos da vida, com o convite para
que todos aceitem a Jesus Cristo, o Salvador do mundo. Enquanto esses que
se recusam a tomar conhecimento do chamado de Jesus são preteridos e
perdem sua cidadania do reino, estranhos ao reino são convencidos a
responder, pela fé, ao chamado de Cristo.
O convidado precisa ter fé para aceitar o convite. Quando o servo
chega com o recado do hospedeiro: “Vinde, porque tudo já está preparado”,
o convidado vê apenas um homem.17 Quando um ministro da Palavra de
Deus proclama a mensagem de salvação, muitos que ouvem a Palavra vêem
apenas um homem. É preciso fé para que se possa ver e ouvir, através do
pregador, Jesus Cristo, o Salvador, que oferece, de graça, salvação plenária.
O carcereiro de Filipos procurou Paulo e Barnabé, e lhe foi dito: “Crê no
Senhor Jesus, e serás salvo, tu e tua casa” (At 16.31).
222
31________________________________________
O Construtor da Torre
e o Rei Guerreiro
Lucas 14.28-33
223
AS PARÁBOLAS DE JESUS
As Duas Parábolas
Para ilustrar o que queria ensinar, Jesus contou duas parábolas relati
vamente curtas. A primeira é tirada do cenário agrícola daqueles dias, e a
segundo de um fato político. As duas parábolas ensinam a mesma lição e,
com simplicidade, vão direto ao objetivo.
Suponhamos, diz Jesus, que um fazendeiro resolva construir uma torre
em sua fazenda. Ele precisa de um lugar onde guardar suas ferramentas e
suas provisões. Quer proteger sua propriedade de estranhos e ladrões. Se
construir a torre obterá respeito na comunidade e sua propriedade aumen
tará seu valor. Reconhece a necessidade da construção,*2 mas não se assenta
1.0 tema “o custo do discipulado” é estudado em livro do mesmo título, de Dietrich Bonhoeffer.
Neste trabalho, Bonhoeffer fala da auto-entrega e do auto-sacrifício dos quais deu pessoal
mente testemunho, quando foi executado em 9 de abril de 1945, numa prisão alemã.
2. Smith, Parables, p. 220, raciocina que, por causa da referência ao custo do alicerce, “algo de
maior valor que o simples erguimento de uma torre de vigia, em uma vinha, deve ser levado
em conta, talvez, uma construção rural.”
224
O CONSTRUTOR DA TORRE E O REI GUERREIRO
Conclusão
225
AS PARÁBOLAS DE JESUS
4. P. G. Jarvis, “Expouding the Parables. V. The Tower-builder and the King going to War
(Luke 14.25-33), ExpT 77 (1966): 197.
226
32______________________________
A Ovelha Perdida
12
“Que vos parece? Se um 4“Qual, dentre vós, é o
homem tiver cem ovelhas, e homem que, possuindo cem
uma delas se extraviar, não dei ovelhas, e perdendo uma
xará ele nos montes as noventa delas, não deixa no deserto
e nove, indo procurar a que se as noventa e nove e vai em
extraviou? 13E, se porventura a busca da que se perdeu, até
encontra, em verdade vos digo encontrá-la? 5Achando-a,
que maior prazer sentirá por põe-na sobre os ombros,
causa desta, do que pelas no cheio de júbilo. 6E, indo
venta e nove, que não se extra para casa, reúne os amigos
viaram. 14Assim, pois, não é da e vizinhos, dizendo-lhes:
vontade de vosso Pai celeste Alegrai-vos comigo, por
que pereça um só destes pe que já achei a minha ovelha
queninos.” perdida. 7Digo-vos que as
sim haverá maior júbilo no
céu por um pecador que se
arrepende, do que por no
venta e nove justos que não
necessitam de arrependi
mento.”
228
A OVELHA PERDIDA
deira a felicidade precisa ser compartilhada. O pastor vai para casa, chama
seus amigos e vizinhos e os convida a se alegrarem com ele, porque, diz o
pastor: já achei a minha ovelha perdida” (Lc 15.6). A tensão que o pastor
sentira enquanto procurava a ovelha extraviada tinha desaparecido, dando
lugar à alegria.7 Ele comemora com seus amigos e vizinhos.
Aplicação
7.0 Evangelho de Tomé, Citação 107, mostra uma tendência gnóstica na parábola, acentuando
o amor do pastor pela ovelha, por causa de seu tamanho: “Disse Jesus: o reino é como um
pastor que possuía cem ovelhas. Uma delas se extraviou; era a maior delas. Ele deixou as
noventa e nove e procurou aquela até encontrá-la. Após o esforço, disse à ovelha: ”Eu te
quero mais que às noventa e nove."
8. Morison, SL Matthew, p. 317.
9. Jeremias, Parables, p. 39, traduz Mt 18.14 da seguinte maneira: “não é da vontade de Deus
que nenhum destes mais pequeninos se perca.” Ele aplica a expressão “mais pequeninos”
aos apóstatas que deveriam receber o cuidado pastoral por parte da comunidade cristã (p.40).
229
AS PARÁBOLAS DE JESUS
10. K. H. Rengstorf, TDNT, 1:327-28, apresenta uma dupla interpretação da palavra pecador,
como era entendida pela hierarquia judaica, (a) O pecador é “um homem que vive em
oposição, consciente ou intencionalmente, à vontade divina (Torá), diferentemente do justo
que faz da submissão a esta vontade sua alegria de viver.” E (b) é o homem “que não se
sujeita aos rituais farisaicos”.
11. As regras religiosas daquele século e do século seguinte falam mais sobre a alegria de Deus
na destruição do ímpio que sobre sua salvação. SB, 11:209.
12. Wallace, Parables, p. 52.
230
33_________________________________
A Dracma Perdida
Lucas 15.8-10
o
“Ou qual é a mulher que, tendo
dez dracmas, se perder uma, não
acende a candeia, varre a casa e a
procura diligentemente até encon
trá-la? 9E, tendo-a achado, reúne
as amigas e vizinhas, dizendo: Ale
grai-vos comigo, porque achei a
dracma que eu tinha perdido. 10Eu
vos afirmo que, de igual modo, há
júbilo diante dos anjos de Deus
por um pecador que se arrepen
de.”
LuC as, muitas vezes, apresenta seus assuntos aos pares. Quando
menciona um homem, com muita probabilidade se refere, também, a uma
mulher. No primeiro capítulo de seu Evangelho, Zacarias e Isabel são
apresentados; e no capítulo seguinte, José e Maria, Simeão e Ana. Nos
capítulos que se sucedem, se refere à viúva de Sarepta e a Naamã, o siro. Nas
parábolas, coloca a do homem com o grão de mostarda junto à da-mulher
que adiciona o fermento à massa. A parábola do pastor que encontra a
ovelha perdida é seguida pela parábola da mulher que encontra uma das
suas moedas de prata.1 Essas duas parábolas formam um par, e transmitem,
1. Alguns estudiosos questionam a ordem em que as parábolas são apresentadas: Armstrong,
Parables, pp. 182,3; Linnemann, Parables, p. 68. Oesterley, Parables, pp. 176-77, se opõe a
qualquer inversão da ordem das parábolas, estabelecendo a diferença entre a mente
ocidental, que busca a seqüência lógica, e a maneira oriental de pensar, que não leva em
conta a simetria lógica.
231
AS PARÁBOLAS DE JESUS
232
A DRACMA PERDIDA
5. A. F. Walls, “In the Presence of the Angels (Luke XV.10), NovT 3 (1959): 316; SB, 11:212.
233
34___________________________
O Filho Pródigo
Lucas 15.11-32
11 ♦
“Continuou: Certo homem ti
nha dois filhos; 12o mais moço de
les disse ao pai: Pai, dá-me a parte
dos bens que me cabe. E ele lhes
repartiu os haveres. 13Passados
não muitos dias, o filho mais moço,
ajuntando tudo o que era seu, par
tiu para uma terra distante, e lá
dissipou todos os seus bens, viven
do dissolutamente. 14Depois de ter
consumido tudo, sobreveio àquele
país uma grande fome, e ele come
çou a passar necessidade. 15Então
ele foi e se agregou a um dos cida
dãos daquela terra, e este o man
dou para os seus campos a guardar
porcos. 16Ali desejava ele fartar-se
das alfarrobas que os porcos co
miam; mas ninguém lhe dava nada.
17E n tão , caindo em si, disse:
Quantos trabalhadores de meu pai
têm pão com fartura, e eu aqui
235
AS PARÁBOLAS DE JESUS
As Circunstâncias
1. Jeremias, Parables, p. 128, afirma que a parábola não é uma alegoria, “mas uma história
tirada da vida.” Veja-se, também, Linnemann, Parables, p. 74, e Mánek, Frucht, p. 103.
Hunter, Parables, p. 59, discorda porque “o pai e seus dois filhos... são uma representação
diretamente significativa.”
2. G. Quell, TDNT, V:972-74; e G. Schrenk, TDNT, V:978.
237
AS PARÁBOLAS DE JESUS
3. Uma parábola remotamente semelhante à do filho pródigo vem do Rabino Meir: “Isto é
semelhante ao filho de um rei que tomou o caminho do mal. O rei enviou um tutor para lhe
fazer apelos, dizendo: ‘Arrepende-te, meu filho.’ O filho, no entanto, o mandou de volta a
seu pai com a mensagem: ‘Como posso ter a desfaçatez de voltar? Estou envergonhado
diante de ti.’ Então seu pai lhe mandou dizer: ‘Meu filho, como pode um filho, jamais, se
envergonhar de voltar para seu pai? E não é para teu pai que estarás retornando.”’ The
Midrash, Deuteronomy (London: n.p., 1961), p. 53. Consulte-se, também, em F. W. Danker,
Jesus and lhe New Age (St. Louis, Clayton Pub. House, 1972), p. 170, o texto de uma carta
em papiro que contém o apelo de um filho desviado, pedindo perdão a sua mãe.
4. Sair de Israel e fazer parte da diáspora era muito comum. Tem sido ensinado que havia cerca
de oito vezes mais judeus (quatro milhões) que viviam em dispersão, do que em Israel (meio
milhão). Jeremias, Parables, p. 129.
5. Para um estudo mais detalhado, consulte-se Derrett, Law in the New Testament, p. 107.
238
O FILHO PRÓDIGO
6 .0 pai deve ter seguido o costume daqueles dias, como encontramos em Eclesiástico 33.22,23:
“Em todas as tuas obras conserva a tua superioridade. Não manches a tua reputação. Deixa
seguir o curso da tua vida e, no tempo da tua morte, reparte a tua herança” (NEB).
7. W. Foerster, TDNT, 1:507.
8. Os judeus estavam estritamente proibidos de criar porcos. “Não é permitido criar porcos,
onde quer que seja”; “Amaldiçoado seja o homem que criar porcos”. Baba Kamma 82b,
Nezikin I, The Babylonian Talmud, pp. 469,70.
9. Jeremias, Parables, p. 129, comenta que o homem foi “praticamente forçado a abandonar a
prática regular de sua religião”.
239
AS PARÁBOLAS DE JESUS
para acalmar suas dores de fome. Queria até mesmo comer da comida dada
aos porcos, as vagens da alfarrobeira.10
A falta de consideração mostrada para com um pastor faminto era
mais do que o rapaz podia agüentar. Esse foi para ele o ponto máximo.
Buscara a bondade humana e não a pudera achar.
As notícias a respeito da fome o fizeram pensar em sua terra natal.
Começou a pensar em sua casa. Devia voltar? Quando essa idéia lhe passou
pela cabeça, primeiro ele a afastou. Os servos e os contratados dificilmente
esconderiam seu escárnio. Seu irmão mais velho, de modo algum, o receberia
bem se voltasse para casa, para uma propriedade a que não mais tinha
direito. Seu pai veria seu segundo filho descalço e vestido como um pastor.
Voltando, assim, para casa, ele seria a figura abjeta de um mendigo.
O filho começou a pensar em seu pai — como o tinha magoado, como
seu pai lhe havia dado a parte da herança que ele, filho pródigo, tinha
esbanjado. Começou a falar consigo mesmo: “quantos trabalhadores de meu
pai têm pão com fartura, e eu aqui morro de fome!” Ele se comparou, não
com os servos que tinham emprego estável, mas aos trabalhadores ajustados
temporariamente. Assalariados, como ele era na ocasião, viviam regiamente
na fazenda de seu pai.
Ele sabia que o amor de seu pai se estendia a todos aqueles que
pertenciam ao amplo círculo de sua família. Sabia, também, que tinha
desobedecido o mandamento: “Honra a teu pai e a tua mãe, para que se
prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR teu Deus te dá” (Ex
20.12). 1 Ele tinha pecado contra Deus.
Quando caiu em si, estava pronto para confessar seus pecados contra
Deus e contra seu pai. Ele disse a si mesmo: “Levantar-me-ei e irei ter com
meu pai e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti.” Sabia que tinha
transgredido o mandamento de Deus, e que, agindo assim, ofendera e
magoara seu pai. Queria se corrigir. Procuraria o pai e lhe diria: “Já não sou
digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores.”*1
10. Vagens e sementes de locusta (alfarrobeira) são usadas como forragem para o gado e para
os porcos e, às vezes, são comidas pelos pobres. Não há necessidade de dizer, como alguns
estudiosos fazem, que o jovem roubava as vagens para satisfazer sua fome. A máxima
universal: “Não atarás a boca do boi, quando debulha” (Dt 25.4), pode ser, certamente,
aplicada.
11. Derrett, Law in the New Testament, p. 111.
12. A palavra céu é um circunlóquio judaico para “Deus”. SB, 11:217.
240
O FILHO PRÓDIGO
Tudo que ousava pedir era um emprego temporário.13 Ansiava pela recon
ciliação, sem esperar reintegração. Levantou-se e foi para casa.
O Pai
13. Numa fazenda judaica havia três tipos de servos: primeiro, o escravo, que pertencia à família
de seu senhor e que gozava de inúmeros privilégios; depois a classe inferior de criados e
criadas (veja-se Lc 12.45); e, terceiro, os trabalhadores temporários. Consulte-se Oesterley,
Parables, pp. 185,86.
14. Michaelis, Gleichnisse, p. 138, pensa que o pai estava orgulhoso porque o filho partira para
terras estrangeiras.
241
AS PARÁBOLAS DE JESUS
242
O FILHO PRÓDIGO
“Porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi
achado.” O pai se referia ao fato de que o filho, deixando de ter parte na
herança da família, e dando por acabada sua obrigação moral e material para
com o pai, tinha-se desligado, voluntariamente, de casa. Na prática, o filho
estava morto.20 Na verdade ele não tinha mais nada a reclamar sobre a
propriedade, quando o pai morresse. “Este meu filho estava morto e revi
veu”, disse o pai.
A parábola não diz como foram resolvidos os aspectos legais dos
direitos envolvidos com relação à herança.21 Esse não é o objetivo. O ponto
importante é a volta do jovem e o fato de ter sido aceito plenamente como
filho.
20. Rengstorf, Re-Investitur, p. 22, se refere ao costume legal, chamado Ketsatsah, que é o
desligamento de um membro da comunidade judaica, por causa de conflito de interesse.
Derrett, Law in the New Testament, p, 116, faz notar que esse costume legal não se aplica
às circunstâncias do filho pródigo, porque ele não foi penalizado nem banido da família.
21. Consulte-se L. Schottroff, “Das Gleichnis vom Verlorenen Sohn”, ZTK 68 (1971); 39-41.
22. Entre outros, J. T. Sanders, em “Tradition and Redaction in Lk XVG: 11-32,” NTS 15
(1968-69): 433-38, argumenta que há duas parábolas separadas. Veja-se, também, J. J-
O’Rourke, “Some Notes on Luke XV, 11-32, NTS 18 (1971-72): 431-33, e Jeremias, ’’Tradi
tion und Redaktion in Lukas 15", NW 62 (1971): 172-89, que refuta o argumento.
23. Rengstorf, Re-Invetitur, p. 54, faz perguntas sobre a expressão “no campo”. Seria indício
de que o filho não convivia bem com o pai e permanecesse longe de casa?
243
AS PARÁBOLAS DE JESUS
244
O FILHO PRÓDIGO
esse teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado”. A
28
questão do relacionamento entre os filhos estava proposta. O filho mais
velho, que fielmente tinha servido o pai, na fazenda da família, aceitaria ficar
ao lado do pai quando este celebrava a volta do mais jovem?
A parábola termina com um refrão: “Porque esse teu irmão estava
morto e reviveu, estava perdido e foi achado.” Estas palavras repetem as
proferidas na conclusão da parte que focaliza o filho mais novo. As palavras
ligam, inseparavelmente, os irmãos um ao outro e ao pai.
Jesus não disse o que aconteceu depois. Parou ali, propositalmente.
Se tivesse mostrado a recusa do filho mais velho de entrar em casa, teria
fechado a porta. Dentando inacabada a história, indicava que a porta per
manecia aberta. O pai convidou o filho a participar das festas; o filho tinha
que se decidir. Cabia a ele a decisão.
Aplicação
28. Celebrar a volta do filho pródigo “era uma obrigação que o filho mais velho não quis
reconhecer.” Plummer, S t Luke, p. 379. Jeremias, Parables, p. 131, percebe um tom de
reprovação na voz do pai, quando diz a seu filho: “Devias te alegrar e festejar, pois é o teu
irmão que voltou para casa.”
245
AS PARÁBOLAS DE JESUS
246
O FILHO PRÓDIGO
247
35__________________________________________
O Administrador Infiel
Lucas 16.1-9
1“Disse Jesus também aos discí
pulos: Havia um homem rico que
tinha um administrador; e este lhe
foi denunciado como quem estava
a defraudar os seus bens.2 Então,
mandando-o chamar, lhe disse:
Que é isto que ouço a teu respeito?
Presta contas da tua administra
ção, porque já não podes mais con-
tin u a r n ela. 3D isse o
adm inistrador consigo mesmo:
Que farei, pois que o meu senhor
me tira a administração? Traba
lhar na terra, não posso; também
de mendigar tenho vergonha. 4Eu
sei o que farei, para que, quando
for demitido da administração, me
recebam em suas casas. '’Tendo
chamado cada um dos devedores
do seu senhor, disse ao primeiro:
Quanto deves ao meu patrão?
6Respondeu ele: Cem cados de
azeite. Então disse: Toma a tua
conta, assenta-te depressa e escre-
249
AS PARÁBOLAS DE JESUS
♦ 7 ♦
ve cinqüenta. Depois perguntou a
outro: Tu, quanto deves? Respon
deu ele: Cem coros de trigo. Dis
se-lhe: Toma
o
a tua conta e escreve
oitenta. E elogiou o senhor o ad
ministrador infiel porque se hou
vera atiladam ente, p o rq u e os
filhos do mundo são mais hábeis
em sua própria geração do que os
filhos da luz. 9E eu vos recomendo:
Das riquezas de origem iníqua fa
zei amigos; para que, quando estas
vos faltarem, esses amigos vos re
cebam nos tabernáculos eternos.”
2 50
O ADMINISTRADOR INFIEL
Composição
251
AS PARÁBOLAS DE JESUS
A História
Jesus contou uma história que poderia muito bem acontecer nos dias
de hoje. Fala de um homem rico que escolheu um administrador para os seus
negócios. Ele tinha inteira confiança no escolhido, mas quando soube que
ele estava dissipando seus bens, chamou-o e disse-lhe para apresentar seus
livros e prestar contas de sua administração, pois estava despedido. Poderia
procurar outro emprego.
O administrador sabia que as acusações contra ele eram verdadeiras,
que tinha abusado da confiança de seu senhor, e que não poderia pedir
misericórdia.9 Sabia que um sucessor tomaria seu lugar. O que o futuro
7. Derrett, Law, p. 71.
8. Fitzmyer, em Essa}«, p. 177, é de opinião que o administrador recebia comissões nas
transações. Derrett, Law, p.74, mostra que o dinheiro envolvido em transações de emprés
timo pertencia ao senhor. Além disso, o administrador da parábola de Jesus não tinha bens
próprios e, por isso, fazia reservas para o futuro.
9. Ao contrário, o ministro das finanças, na parábola do credor incompassivo (Mt 18.21-35),
ajoelhou-se e pediu a seu senhor que fosse paciente.
252
O ADMINISTRADOR INFIEL
253
AS PARÁBOLAS DE JESUS
Aplicação
254
O ADMINISTRADOR INFIEL
Das riquezas de origem iníqua fazei amigos; para que, quando estas vos
faltarem, esses amigos vos recebam nos tabernáculos eternos.”19
O ponto que a parábola focaliza é o fato de que o administrador, que
tinha fama de desonesto, compreendendo que seu futuro estava em perigo,
procurou aprovação, sendo honesto e generoso com os devedores de seu
senhor. Não procurou riquezas do mundo, mas distribuiu-as àqueles que
deviam a seu senhor, embora o dinheiro não fosse seu, e, num certo sentido,
nem mesmo de seu patrão. Do mesmo modo, os filhos da luz não devem
colocar seus corações em bens terrenos. Devem ser generosos e repartir
parte do que possuem. Podem agir assim porque essas posses não lhes
pertencem, mas, sim, a Deus. Quando doam dinheiro aos pobres, estão
redistribuindo a riqueza que lhes for confiada por Deus.20 Jesus repetiu essa
verdade quando disse: “Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a
terra... mas ajuntai para vós outros tesouros no céu” (Mt 6.19,20). O que
Jesus ensinou tem raízes, de muitas formas e maneiras, nos ensinamentos do
Velho Testamento. Davi, na presença do povo de Deus, orou: “Porque quem
sou eu, e quem é o meu povo para que pudéssemos dar voluntariamente estas
coisas? Porque tudo vem de ti, e das tuas mãos to damos” (1 Cr 29.14). Por
intermédio da parábola do administrador infiel, Jesus aconselha seus segui
dores a dar de seu dinheiro tanto quanto possível para que possam receber
aprovação de Deus e serem bem-vindos à sua casa, para ali viverem eterna
mente. 1
Aqui encontramos, implícito, um ponto de contraste. Indiretamente,
Jesus diz: o administrador infiel, reduzindo o total das dívidas, olhou para o
futuro; muito mais deve o povo de Deus repartir seus bens e olhar adiante,
para sua casa eterna. O povo de Deus deve usar suas posses materiais para
fazer um investimento espiritual, assim como o filho do mundo usa seu
dinheiro para obter lucros materiais. O tempo vem quando o dinheiro será
coisa do passado. Ao vir a morte, o espírito do homem volta para Deus, que
o deu (Ec 12.7). Deus recebe com alegria todos aqueles que não têm
colocado seu coração em tesouros da terra, mas têm ajuntado tesouros nos
- 22
ceus.
19. Traduções mais antigas, seguindo literalmente o texto grego, obscurecem, de algum modo,
o significado da passagem. A NEB traduz Lucas 16.9 quase do mesmo modo que a NIV:
“Eu vos digo: Usai vossas riquezas materiais para fazer amigos para vós mesmos, de modo
que, quando o dinheiro for coisa do passado, possais ser recebidos no lar eterno.”
20. Derrett, Law, p. 74.
21. SB, 11:221. Consulte-se, também, Willians, “Almsgiving”, p. 294; Lunt, “Parable”, p. 134.
22. Com base nos estudos dos textos de Cunrã, a expressão “riquezas materiais”, o mamom da
injustiça, deve ser contrastada com as riquezas celestiais. Marshall, Luke, p. 621.
255
AS PARÁBOLAS DE JESUS
256
36___________________________
O Rico e Lázaro
Lucas 16.19-31
257
AS PARÁBOLAS DE JESUS
258
O RICO E LÁZARO
Aqui e Agora
1. Antes dos dias de Jesus, uma história popular egípcia descrevia um rico vestido de fino linho
e um pobre numa esteira de palha, cujos papéis se invertiam após a morte. Veja F. L. Griffith,
Stories of the High Priests of Memphis (Oxford: n.p. 1900), e H. Gresssmann, Vom reichen
Man und armen Lazarus (Berlim n.p. 1918). Esse conto popular foi trazido a Israel pelos
judeus de Alexandria. Alterado, tomou-se parte do folclore judaico. Na história modificada,
um rico coletor de impostos chamado Bar Ma’jan e um pobre mestre da lei foram sepultados.
Após a morte, o mestre da lei passeava ao longo dos riachos do paraíso, enquanto o coletor
de impostos, mesmo junto das águas, era incapaz de alcançá-las para mitigar sua sede. G.
Dalman Aramaische Dialektproben (Leipzig: Deichert, 1927), pp. 33-34.
2. A tinta púrpura era obtida do caramujo púrpura. SB, 11:220.
3. O nome Dives é o adjetivo latino para a palavra rico, em todas as versões latinas. Ao rico
têm sido dados nomes como Amonofis, Finees, Finaeus, Nineue, e Neves, em vários
manuscritos. H. J. Cadbuiy “A Proper Name for Dives”, JBL 81, (1962):339402; H. J.
Cadbury, “The Name of Dives”, JBL 84 (1965): 73; K. Grobel, “... Whose Name was Neves”,
NTS 10 (1963-64):373-82.
4. Os hóspedes, â mesa de um rico, usavam pedaços de pão para limpar a gordura de entre os
dedos. Esses pedaços não deviam ser colocados no prato da carne ou do molho e não eram
comidos pelos convidados. Era costume jogá-los para debaixo da mesa. Oesterley, Parables,
p. 205; Jeremias, Parables, p. 184.
259
AS PARÁBOLAS DEJESUS
Então e Além
260
O RICO E LÁZARO
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AS PARÁBOLAS DE JESUS
262
O RICO E LÁZARO
15. Michaelis, Gleichnisse, p. 264, ne 151, sugere que Lázaro poderia aparecer, em sonho ou
visão, aos irmãos do rico. Entretanto, se este fosse o caso, o próprio homem rico poderia
fazer isso com muito mais eficácia.
16. A dedução não é que um crente deva viver na pobreza para entrar nos céus. Abraão, durante
sua vida na terra, era considerado rico. O ponto em questão é a relação com Deus e com o
próximo. Mánek, Frucht, p. 108.
263
AS PARÁBOLAS DE JESUS
Aplicação
264
O RICO E LÁZARO
retrata dois homens, um rico e o outro pobre. O rico viveu uma vida
respeitável, chamava Abraão de pai, e foi viver a eternidade no inferno. O
pobre jamais abriu a boca, na terra ou no céu, embora ocupasse lugar de
honra junto ao pai Abraão.
Os fariseus foram capazes de se reconhecer no homem rico. Reagiram
veementemente contra a afirmação de Jesus de que não poderiam servir a
Deus e às riquezas. Ridicularizando Jesus, ostensivamente revelaram que
eram aqueles que amavam o dinheiro. Eram, também, os únicos que pron
tamente chamavam Abraão de pai e pensavam que seu parentesco com o
patriarca lhes assegurava o futuro. Três vezes o rico chamou Abraão de pai.
Mas, Abraão, embora aceitando a descendência física, chamando-o de
“filho”, na primeira vez, deixou claro, nas respostas subseqüentes, que um
parentesco físico era insuficiente.21 Portanto, os fariseus não podiam contar
com o fato de serem da linhagem de Abraão para terem garantido um lugar
no céu.
Além disso, os fariseus eram os que ensinavam a lei da retribuição, em
relação à vida futura. Essa doutrina, simplesmente, não é compatível com o
ensino de Jesus.22 É estranha a ele. Mas Jesus pôs a doutrina dos fariseus na
boca de Abraão: “Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida,
e Lázaro igualmente os males; agora, porém, aqui, ele está consolado; tu, em
tormentos.” Jesus aplicou a lei da retribuição aos fariseus, que ouviram sua
própria teologia dos lábios de Abraão. Eles tinham criado um grande abismo
entre eles próprios e os proscritos morais e sociais. Esses, banidos da
sociedade, viviam em completa pobreza religiosa e econômica. Ninguém da
comunidade judaica lhes fornecia alimento espiritual; estavam condenados
a morrer de fome. Se alguém, alguma vez, questionasse a atitude dos fariseus
em relação a esses marginalizados, ouviria como resposta que eles tinham
Moisés e os profetas, que ouvissem a lei e se arrependessem. Os fariseus
ouviam suas próprias palavras distinta e diretamente de Abraão. Estavam
retratados pelo rico, no inferno, e Lázaro representava os marginalizados.
Os fariseus, mais que uma vez, haviam pedido a Jesus que lhes desse
um sinal dos céus.23 Pediam isso com o propósito de testá-lo. Provavelmente
não teriam acreditado nele, mesmo que lhes apresentasse um sinal sobrena
tural. Agora, esses mesmos fariseus ouviam o rico da parábola pedir a
Abraão um sinal dos céus. Abraão recusou. Ele disse: “Se não ouvem a
Moisés e aos profetas, tão pouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite
alguém dentre os mortos.” No pedido do rico, os fariseus ouviram o eco de
suas próprias palavras. A parábola era endereçada a eles.24
21. F. H. Capron, “Son in the Parable of the Rich Man and Lazarus”, ExpT 13 (1901): 523.
22. Schippers, Geiykenissen, p. 160.
23. Mt 12.38; 16.1; Mc 8.11; Lc 11.16; Jo 6.30.
24. Schippers, Gelykenissen, p. 161.
265
AS PARÁBOLAS DE JESUS
Conclusão
25. O Glombitza, “Der reiche Mann und der arme Larzarus. Luk. X V I19-31. Zur Frage nach
der Botschaft des Texts”, NovT 12(1970): 173.
266
37________________________________________
O Fazendeiro e o Servo
Lucas 17.7-10
7“Qual de vós, tendo um servo
ocupado na lavoura ou em guardar
o gado, lhe dirá quando ele voltar
do campo: Vem já e põe-te à
mesa? 8E que antes não lhe diga:
Prepara-me a ceia, cinge-te e ser
ve-me, enquanto eu como e bebo;
depois comerás tu e beberás?
9Porventura terá de agradecer ao
servo por ter este feito o que lhe
havia ordenado? 10Assim, também
vós, depois de haverdes feito quan
to vos foi ordenado, dizei: Somos
servos inúteis, porque fizemos
apenas o que devíamos fazer.”
267
AS PARÁBOLAS DE JESUS
1. O adjetivo “inúteis”, na sentença “somos servos inúteis”, não tem o sentido de imprestável
ou sem serventia. É mais uma expressão de modéstia no sentido de falta de merecimento.
“Somos servos, e não merecemos elogios” (NEB).
2. Mt 18.1; 20.21; Mc 9.34; 10.37; Lc 9.46; 22.24; e veja Mt 23.11.
3. Na parábola dos servos vigilantes (Lc 12.35-38), o senhor, quando chega, prepara a refeição
dos servos e os serve.
268
O FAZENDEIRO E O SERVO
269
38_______________________
O Juiz Iníquo
Lucas 18.1-8
A Viúva e o Juiz
272
O JU IZ INÍQUO
2. Derrett, “Law in the New Testament: The Unjust Judge”, NTS 18 (1971-72): 188, publicado
em Studies in the New Testament (Leiden: Brill, 1977), 1:42.
3. De acordo com a lei dos fariseus, o judeu estava proibido de procurar tribunais não judaicos.
Paulo revela que na igreja primitiva esta mesma regra devia ser seguida (1 Co 5.12 — 6.8).
Muitas vezes, o povo procurava juizes gentios “se por esse intermédio, apelando para algum
argumento político ou fiscal, pudessem ter frustrados os direitos de seus oponentes ou
pudessem forçá-los a fazer o que a lei ordinária deixara de fazer”. Derrett, “Law in the New
Testament”, p. 184, Consulte-se, também, Smith, Parables, p. 149.
4. Porque os casamentos eram contratados quando a moça tinha catorze ou quinze anos, uma
viúva podia ser bem jovem. Consulte-se SB, II: 374; Jeremias, Parables, p. 153.
5. Derrett, “Law in the New Testament”, p. 187, Schrenk, TDNT, II: 443.
6. As traduções da palavra grega hypopiaze variam, e vão de um insulto ao cometimento de
um ato de violência — “acertar um soco no olho”. Derrett, “Law in the New Testament”, p.
191, interpreta a palavra, como significando “perda de prestígio”. É, portanto, comparável
à palavra anaideia, de Lc 11.8, que pode ter o sentido de “não ser alvo de reprovação; manter
a aparência”. Veja-se D. R. Catchpole, “The Son of Man’s Search for Faith (Luke XVIII
8b)” NovT19 (1977):89.1 Co 9.27 é o outro lugar, no Novo Testamento, onde a palavra
hypopiaze é usada.
273
AS PARÁBOLAS DEJESUS
dela fazia aflorar o seu lado bom. Em lugar de ir embora, quieta, que era o
que ele esperava, ela voltava, sempre, com o mesmo pedido. O juiz não podia
suportar mais a insistência da mulher. Ele cede, investiga o caso e aplica a
justiça.
Aplicação
274
O JU IZ INÍQUO
275
AS PARÁBOLAS DE JESUS
276
39______________________
O Fariseu e o
Publicano
Lucas 18.9-14
277
AS PARÁBOLAS DE JESUS
O Fariseu
278
O FARISEU E O PUBLICANO
279
AS PARÁBOLAS DE JESUS
O Publicano
280
O FARISEU E O PUBLICANO
extorquiu, ou o depósito que lhe foi dado, ou o perdido que achou, ou tudo
aquilo sobre que jurou falsamente; e o restituirá por inteiro, e ainda a isso
acrescentará a quinta parte; àquele a quem pertence, lho dará no dia da sua
oferta pela culpa” (Lv 6.2-5). O publicano não tinha coragem para aproxi
mar-se do altar e dirigir-se ao sacerdote com sua oferta pela culpa. Ficou
distante do altar. Não tinha para onde ir a não ser para Deus, em oração.
Por causa de sua profissão tinha negligenciado a adoração a Deus, na
sinagoga e no templo. Agora, era chegado o momento de confessar seus
pecados diante de Deus, mesmo que não pudesse pensar em apresentar sua
oferta pelas suas culpas. Seus débitos para com o povo eram grandes e
variados demais. Pecara excessivamente para poder fazer uma oferta pela
sua culpa. Tudo o que podia fazer era orar a Deus. Mas, porque negligen
ciara, por tanto tempo, sua vida espiritual, nem mesmo sabia orar. Faltavam-
lhe palavras de louvor, adoração e gratidão. O fardo do pecado o oprimia.
Queria expressar sua culpa e só conseguia clamar por misericórdia. Rogava:
“Ó Deus, sê propício a mim, pecador!” E, enquanto pedia, batia no peito
como querendo mostrar a fonte do pecado — seu coração.
O pecador, como o publicano chamava a si mesmo, chegou diante de
Deus com as mãos vazias. Não apresentava méritos, nem exigências. Não
usou desculpas ou explicações. Comparar-se a outros estava fora de cogita
ção. Ele sabia que era o pecador implorando misericórdia. Seu grito: “O
Deus, sê propício a mim” era um pedido para que Deus perdoasse seus
pecados e afastasse dele a sua ira.101Pedia misericórdia, e era tudo o que se
atrevia a pedir.11 Orou e esperou pela resposta de Deus.
Respostas
10. Consulte-se o estudo sobre o verbo hilaskomai, de F. Büchsei, TONT 111:316. The Modem
Language Bible (New Berkeley) fornece uma tradução literal do texto grego: “Deus, tem
misericórdia de mim, pecador” (Lc 18.13).
11. Manson, Sayings, p. 312.
281
AS PARÁBOLAS DE JESUS
282
40_______________________
As Dez Minas
Lucas 19.11-27
n “Ouvindo eles estas coisas,
Jesus propôs uma parábola, visto
estar perto de Jerusalém e lhes pa
recer que o reino de Deus havia de
m an ifestar-se im ediatam ente.
12Então disse: Certo homem no
bre partiu para uma terra distante,
com o fim de tomar posse de um
reino, e voltar. ^Cham ou dez ser
vos seus, confiou-lhes dez minas e
disse-lhes: Negociai até que eu vol
te. 14Mas os seus concidadãos o
odiavam, e enviaram após ele uma
embaixada, dizendo: Não quere
mos que este reine sobre nós.
15Quando ele voltou, depois de ha
ver tomado posse do reino, man
dou chamar os servos a quem dera
o dinheiro, a fim de saber que ne
gócio cada um teria conseguido.
^Com pareceu o primeiro e disse:
Senhor, a tua mina rendeu dez.
17Respondeu-lhe o senhor: Muito
bem, servo bom, porque foste fiel
283
AS PARÁBOLAS DE JESUS
284
AS DEZ MINAS
A História
285
AS PARÁBOLAS DE JESUS
286
AS D EZ MINAS
8. Derrett, Law in the New Testament, p. 23, mostra que a cobrança de altas taxas de juros não
era incomum no mundo antigo. Como exemplo, se refere às taxas de empréstimos cobradas
por Catão, o Antigo.
9. Alguns estudiosos têm conjecturado se a palavra cidades entrou no texto por um engano da
palavra aramaica para talentos. Em aramaico, as duas expressões são bastante semelhantes:
cidades é kerakin e talentos é kakerin. E. Nestle sugere um possível erro de leitura do texto,
em um artigo publicado no Theologische Literaturzeitung, n9 22,1985. M. Black, Aramaic
Approach, p. 2, defende a sugestão de Nestle, embora Dalman, Words of Jesus, p. 67, tenha
destacado que no paralelo de Mt 25.21,23, os servos não recebem talentos, mas são colocados
responsáveis por muitas coisas. Lucas usa a palavra cidades para expressar o conceito geral
de muitas coisas. Além disso, um rei, tomando posse de seu reino, podia investir seus servos
de autoridade sobre cidades, o que não poderia (Mt 25) ser feito por um senhor.
10. Lucas usa o artigo definido masculino com heteros ( = outro) no sentido de “diferente”.
Plummer, SL Luke, p. 441.
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AS PARÁBOLAS DE JESUS
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AS D EZ MINAS
Interpretação
289
AS PARÁBOLAS DE JESUS
290
AS D EZ MINAS
291
Conclusão
A s parábolas de Jesus são únicas no contexto das Escrituras. Embora
algumas parábolas tenham sido registradas no Velho Testamento, nos Evan
gelhos o grande número de parábolas e de declarações em forma de parábola
é marcante. Alguns exemplos encontrados no Velho Testamento indicam
que o hábito de contar histórias não era desconhecido. O profeta Natã, por
exemplo, contou a Davi a história de um homem pobre cuja cordeirinha lhe
foi tomada por um homem rico. A aplicação: “Tu és o homem”, foi bastante
direta.1 Nos escritos dos rabinos, também encontramos o ensino em forma
de parábolas, mas é realmente difícil podermos atribuir mais que duas
parábolas a uma única pessoa.*2 Entretanto, estima-se que um terço dos
ensinos de Jesus foi feito em forma de parábola. Contando as parábolas e as
ilustrações figurativas, alguns estudiosos chegaram a um total de sessenta
delas.3 Todas são chamadas de parábolas de Jesus.
Como, na conclusão de seu Evangelho, João escreve que nem tudo que
Jesus fez foi relatado (Jo 21.25), podemos presumir que nem todas as
parábolas contadas por ele foram registradas. Talvez algumas das histórias
atribuídas a Jesus, que encontramos em outras fontes que não o Novo
Testamento, sejam autênticas.4 Também, ensinando oralmente como os
mestres de seus dias costumavam fazer, Jesus repetia o que ensinava. Como
mestre, ele tinha toda a liberdade para contar determinada parábola mais
que uma vez, de formas diferentes, em cada caso. Quando viajou de Jericó
1.2 Sm 12.1-4. Outros exemplos são a parábola da mulher tecoíta (2 Sm 14.4-7): e a mensagem
de Jeoás a Amazias (2 Rs 14.9).
2. Hunter, Parables, p. 15.
3. T. W. Manson, The Teaching of Jesus (Cambridge: University Press, 1951), p. 69, conta um
total de sessenta e cinco parábolas. A. M. Hunter, Interpreting the Parables (Philadelphia:
Westminster Press, I960), p. 11, apresenta o número como “cerca de sessenta”.
4. J. Jeremias, Unknown Sayings of Jesus (London: S. P. C. K., 1958), p. 2.
293
AS PARÁBOLAS DE JESUS__________________________________________________
para Jerusalém, a fim de celebrar a Páscoa pela última vez, ele contou a
parábola das minas, baseando-a na circunstância histórica da ida de Arque-
lau para um país distante para ser escolhido rei. Alguns dias mais tarde, Jesus
contou a seus discípulos a parábola dos talentos. As duas, sem dúvida, têm
muito em comum, embora apresentem finalidade e propósito diferentes.
Jesus não apenas contou as parábolas; contou-as muito bem. Muitas
delas se destacam por serem breves, e, mesmo sendo curtas, são brilhantes.
Jesus buscou seu material em diversas fontes. As vezes, voltava-se para o
Velho Testamento — como fez na parábola da vinha e dos lavradores maus,
tomando seu tema do “Cântico da Vinha”, registrado em Isaías 5. Em outras
ocasiões, tirava seus exemplos diretamente da época, cultura e meio ambien
te em que vivia. Parábolas como a do semeador, da figueira estéril e do juiz
iníquo, são exemplos disto. Jesus, também, se baseava em acontecimentos
que eram bem conhecidos daqueles que o ouviam: o nobre que partiu para
um país distante, para ser escolhido rei, e o homem desventurado que caiu
nas mãos de salteadores, na estrada de Jericó. Jesus é o Grande Mestre de
todas estas parábolas. Embora os evangelistas as tenham transmitido, nas
parábolas nos deparamos como os ensinamentos de Jesus. Elas são suas. Isto
é, não tiveram origem na mente de um evangelista,5 e não foram criadas pela
comunidade cristã primitiva, que necessitava de uma história particular,
para com ela ilustrar o ensino de uma doutrina.67As parábolas são original
mente de Jesus.
Naturalmente, os evangelistas registraram as parábolas de Jesus, e, em
seu ofício de escrever os Evangelhos, mostraram sua própria individualida
de. Diferenças de expressão, nos relatos paralelos das mesmas parábolas,
revelam, claramente, o seu trabalho individual. Além disso, o próprio fato
de Jesus ter contado suas parábolas em aramaico, enquanto que os Evange
lhos as apresentam na língua grega, deixa claro que o restabelecimento das
palavras exatas de Jesus constitui um problem a.'A questão da origem, não
a autoridade, em relação à maneira específica de se expressar numa deter
minada parábola, nem sempre é fácil de resolver. Se uma parábola foi
registrada apenas por um evangelista, a autenticidade das palavras de Jesus
não precisa ser discutida. Mas, quando uma parábola ocorre em relatos
paralelos do Evangelho e mostra variação na maneira de narrar, a questão
5. Jeremias, Parables, pp. 84-85, afirma que “é impossível deixar de concluir que a interpretação
da parábola do joio é do próprio Mateus”. Ele chegou a esta conclusão baseando-se em
considerações lingüísticas.
6. Jülicher, Gleichnisreden, 2:385-406, considera a parábola da vinha e dos lavradores maus,
uma criação da igreja primitiva. Do mesmo modo, R. Bultmann, The History of the. Synoptic
Tradition (New York: Harper and Row, 1963), p. 177.
7. Marshall, Eschatology and the Parables, p. 11.
294
CONCLUSÃO
Características Gerais
295
AS PARÁBOLAS DE JESUS____________ ;_____________________________________
2%
CONCLUSÃO
Características Literárias
297
AS PARÁBOLAS DE JESUS__________________________________________________
Características Teológicas
15. A. Wikenhauser, New Testament Introduction (New York: Herder and Herder, 1965), p.
217.
298
CONCLUSÃO
299
AS PARÁBOLASDEJESUS__________________________________________________
300
CONCLUSÃO
Destinatários e Resposta
301
AS PARÁPOLAS DE JESUS__________________________________________________
20. Jeremias, Parables, p. 41, admite a possibilidade de Jesus ter repetido suas parábolas a mais
de uma assistência. Ao mesmo tempo, insinua que Mateus e Lucas se contradizem quando
apresentam as palavras de Jesus como dirigidas a uma multidão, em um exemplo, e aos
discípulos em outro. Esse juízo parece um tanto sem propósito à luz do ensinamento oral
repetitivo usado por Jesus.
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CONCLUSÃO
Representação
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AS PARÁBOLAS DEJESUS
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Bibliografia
Selecionada
Comentários
305
AS PARABOLAS DEJESUS_______________________________
Estudos
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BIBLIOGRAFIA SELECIONADA
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AS 1'ARÄHOl AS DEJESUS________________________________________________ __
Ferra inentas
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