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EDUCAÇÃO BÁSICA E A LEITURA NAS AULAS DE LÍNGUA

PORTUGUESA: BREVES REFLEXÕES1

Anderson Soares de Souza2

RESUMO: Este artigo apresenta uma breve reflexão qualitativa acerca da


importância da leitura na educação básica. Tomou-se como metodologia a pesquisa
bibliográfica com o amparo da pesquisa de campo. Dialogou-se, especialmente com
os estudos de Segabinazi (2011), Zilberman (2005), Abramovich (1997) e Cosson
(2006). As análises apontam que há uma problemática chamada de “crise da
leitura” apontada por diferentes autores. Como resultados, são apontados possíveis
caminhos para escola e professores no intuito de levar os educandos a assimilarem
o hábito de leitura nessa fase da educação.

PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Literatura Incentivo a Leitura; Metodologia.

INTRODUÇÃO

O presente ensaio tem por objetivo refletir acerca da importância da leitura de


literaturas nas aulas de língua portuguesa na educação básica. Trata-se de uma
pesquisa bibliográfica com o amparo da pesquisa de campo, momento em que este
estudante do curso de letras teve contato com alunos de uma escola pública
localizada na cidade de São Paulo, no interior de um Centro de Atendimento
Socioeducativo ao Adolescente, doravante CASA.
Utilizou-se para coleta de dados o diário de campo, instrumento este que
segundo Lewgoy e Scavoni (2002, p. 63) é considerado “[...] um documento pessoal-
profissional no qual o estudante fundamenta o conhecimento teórico-prático,
relacionando com a realidade vivenciada no cotidiano profissional, através do relato
de suas experiências e sua participação na vida social”. De imprescindível utilização,
o diário de campo foi de fundamental importância para coletar informações sobre a
dinâmica educativa de adolescentes/alunos no contexto da execução da medida

1
Artigo apresentado como requisito parcial de conclusão do curso de Letras pelo Programa
Especial de Segunda Graduação, no curso de LETRAS, mediante acordo de convênio
consolidado entre os parceiros: FACIG, FAERPI, FAISA e INET em consonância com a
Legislação vigente (Lei nº 9394/96, Parecer CNE/CES nº 744/97 e Lei nº 11.788/08).
2
Aluno do curso de Segunda Graduação em Letras. Matrícula R.A. nº LES-00057.
1
socioeducativa de internação, sobretudo ao observar o modo e a freqüência com
que realizavam leituras diversas, nos momentos de lazer.
Durante o estágio observou-se a ausência de um incentivo por parte dos
professores de língua portuguesa em não contemplarem em suas aulas nenhuma
menção a obras literárias brasileiras tão pouco de outras. Contudo, o cotidiano dos
adolescentes neste CASA, sobretudo no horário de lazer desses educandos, era
permeado de acesso a livros de diversos temas, isto é: auto-ajuda, histórias em
quadrinhos, literatura nacional, e literatura de autores estrangeiros, aventura,
suspense e até mesmo livros didáticos eram disponibilizados.
Esse fato chamou-me a atenção e pude identificar um número significativo de
alunos despertados pela leitura, contudo, sem nenhum direcionamento pelos
professores. Nas aulas observadas, há o predomínio de conteúdos de gramática
sem nenhuma proposta que levassem os educandos a compreenderem o sentido da
literatura nacional.
Assim, enseja-se que as informações aqui apresentadas nos referenciais
bibliográficos durante a pesquisa possibilitem ampliar e desenvolver novos saberes
sobre a temática desenvolvida; e que os resultados possam auxiliar em
apontamentos para um melhor aproveitamento da leitura em suas diversas
possibilidades.

LITERATURA: SUA RELEVÂNCIA NA CONSTRUÇÃO DE NOVOS SABERES

Há, sem sombra de dúvidas, uma importância no papel do ensino de literatura


em sala de aula em relação à formação de alunos leitores visando à assimilação e o
despertar da sensibilidade e da criticidade necessárias para o desenvolvimento de
novas habilidades educativas e sociais. Além disso, é inegável entre teóricos e
professores o quanto a literatura contribui ao capacitar o aluno de competências e
habilidades cognitivas bem como a obter inúmeras experiências que auxiliam no
papel da cidadania como um todo.
O letramento literário3 produz alunos leitores, pois ampliam os horizontes de
codificação e decodificação, bem como ampliam o repertório intelectual e a

3
Segundo Cosson (2006, p. 102): “o letramento literário faz parte dessa expansão do uso do termo
letramento, isto é, integra o plural dos letramentos, sendo um dos usos sociais da escrita. Todavia, ao
contrário dos outros letramentos e do emprego mais largo da palavra para designar a construção de
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percepção social. Os alunos, nessa perspectiva aprendem a ler e a escrever
tornando-se pessoas com um diferencial social e com aumento de repertório
lingüístico. O papel relevante da literatura é refletido por Cosson (2006, p.17), o qual
afirma:

Na leitura e na escritura do texto literário encontramos o senso de


nós mesmos e da comunidade a que pertencemos. A literatura nos
diz o que somos e nos incentiva a desejar e a expressar o mundo por
nós mesmos. E isso se dá porque a literatura é uma experiência a
ser realizada. É mais que um conhecimento a ser reelaborado, ela é
a incorporação do outro em mim sem renúncia da minha própria
identidade. No exercício da literatura, podemos ser outros, podemos
viver como os outros, podemos romper os limites do tempo e do
espaço de nossa experiência e, ainda assim, sermos nós mesmos. É
por isso que interiorizamos com mais intensidade as verdades dadas
pela poesia e pela ficção. (...) ficção feita palavra na narrativa e a
palavra feita matéria na poesia são processos formativos tanto da
linguagem quanto do leitor e do escritor.

É possível inferir que as obras literárias fazem com que os alunos sejam
transportados para um mundo não real e ao mesmo tempo trazer esse mundo não
real para a realidade. A literatura pode, assim, transportar o aluno leitor para outros
universos e auxiliar na construção e na reconstrução de sua subjetividade e olhar o
mundo com outras perspectivas.
Abramovich (1997, p.17) destaca que ao ler diferentes obras o aluno pode
sentir emoções importantes, “como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o
medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a tranqüilidade, e tantas outras mais, e
viver profundamente tudo o que as narrativas provocam [...]”. A leitura torna com que
a as pessoas entendam melhor o mundo que as cerca, visando uma comunicação
mais assertiva sobre determinados assuntos ou temas.
Diferentes autores discutem e refletem acerca da importância do ensino de
literatura visando à formação de alunos leitores e apreciadores dos clássicos da
literatura nacional, especialmente, e de outras reconhecidas mundialmente como,
por exemplo, a obra de Fiódor Dostoiévski, dentre outros.
Por esse motivo, essa pesquisa de cunho bibliográfico, com o amparo da
pesquisa de campo, visa trazer em discussão aportes que argumentem a favor
dessa questão, sobretudo o ensino da leitura nas aulas de literatura. Além disso, as

sentido em uma determinada área de atividade ou conhecimento, o letramento literário tem uma
relação diferenciada com a escrita e, por conseqüência, é um tipo de letramento singular”.
3
reflexões advindas neste ensaio visam trazer em discussão possíveis metodologias
que podem favorecer a prática do letramento literário para alunos da educação
básica que tem acesso as aulas de língua portuguesa.

LITERATURA NA EDUCAÇÃO BÁSICA: ASPECTOS TEÓRICOS

De acordo com Segabinazi e Lucena (2016) alguns aspectos podem apontar


e situar acerca da trajetória que percorreu a literatura em nossa sociedade brasileira.
No Brasil Império as práticas do ensino de literatura nas escolas são heranças do
pensamento Europeu no que diz respeito a uma perspectiva de formação intelectual.
Por conta dessa influência a escola brasileira mantém uma prática e uma ação
conservadora misturada com novas teorias, trazendo certa confusão nas
concepções e nas práticas docentes.
Neste âmbito, pode-se aferir que as problemáticas que envolvem a leitura e o
ensino de literatura possuem suas raízes desde os primórdios da escola brasileira.
As questões que levam professores e teóricos em torno da preocupação na
formação de alunos leitores não é restrito a este momento contemporâneo no Brasil,
mas decorre há diversas décadas, sobretudo a partir do ano de 1840, conforme
estudos de Zeberman e Lajolo (1998, p. 15). Essas autoras também analisam que o
ensino obrigatório também foi um aspecto importante para que a leitura se tornasse
uma pratica social:
Para a leitura se expandir a ponto de se transformar em prática
social, foi também necessária outra mudança: deu-se uma então
inédita a partir daí permanente valorização da família. Até o século
XVIII, predominavam, entre as elites, os grupos unidos por laços de
parentesco, que, graças a matrimônios de conveniências, formavam
alianças políticas poderosas; entre as classes baixas, prevaleciam as
corporações profissionais, expediente a que recorriam para se
proteger da violência dos senhores feudais.

Desde modo, a dinâmica familiar burguesa compreendida com seus afetos


entre os membros produziu um entrelaçamento capaz de cercar todas as
possibilidades de intervenção de outras culturas menos letradas.
A família torna-se ainda tomada com um agrupamento político. Em seu meio
havia a disseminação pelo gosto da leitura. É neste momento histórico-social que a
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formação moral das pessoas passa necessariamente pelo domínio da habilidade
leitora como meio de propagar os ideais intelectuais.
Ainda de acordo com de Zeberman e Lajolo (1998) é possível identificar que a
presença de leitores desde o século XIX esteve presente em nossa sociedade por
meio da influência da família burguesa. O processo de escrita foi consolidado como
código e o processo de leitura como uma prática coletiva. Ler um livro ou qualquer
outro recurso literário virou não só um hábito nas particularidades dos lares, mas a
forma como pessoas leitoras foram vistas ampliou a sua importância para a
economia no que se refere aos interesses de empresas e dos comércios no sentido
de entenderem ser leitores um público que consome cada vez mais e com certa
freqüência.
Ao se entender que a prática da leitura era algo necessário ao
desenvolvimento social no cenário brasileiro, houve a necessidade de criação de
ambientes relevantes para o incentivo da leitura, como bibliotecas e livrarias. O
espaço escolar tornou-se o lócus principal no qual o texto literário esteve presente,
apesar de se acreditar que a sua inclusão estivesse alicerçada aos aspectos
culturais e políticos e que ideologicamente o ensino propagasse ações e práticas
autoritárias por meio das quais houvesse a transmissão dos valores de um sistema
social burguês.
No início do século XIX os livros dos grandes escritores foram os primeiros a
serem utilizados nas escolas para o ensino de literatura, por serem tidos como
clássicos e por serem entendidos como modelos para a efetivação do uso de língua.
A titulo de exemplo é possível citar, dentre outros, as seguintes obras
clássicas: “A Moreninha” (Joaquim Manuel de Macedo, 1844); “Memórias de um
Sargento de Milícias” (Manuel Antônio de Almeida, 1854); “Noite na Taverna”
(Álvares de Azevedo, 1855) e “O Guarani” (José de Alencar, 1857). Essas obras
passaram a desempenhar extrema importância e adoração entre alunos e
professores, sendo até os dias atuais, títulos de grande valia e relevância, sobretudo
porque contam parte da história do Brasil.
Ao percorrer e refletir sobre o ensino de literatura é possível identificar que
essa dinâmica se consolidou no ambiente familiar e subseqüentemente como ensino
nas escolas. Contudo, de acordo com Candido (2013) ocorreu um rompimento

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considerável em relação à disseminação do ensino de literatura e do costume de
leitura e inaugurou-se, sobretudo no século XXI a conhecida “Crise da Leitura”.
Em princípio, diferentes autores destacam que essa crise ficou presente no
ambiente escolar, tendo em vista a entrada de alunos que faziam parte de uma
camada social com menos recursos financeiros ou de pouco ou nenhum acesso aos
bens materiais/culturais considerados eruditos.
A leitura era um bem efetivado entre os alunos mais favorecidos
financeiramente e culturalmente, ou seja, não ocupava o mesmo lugar no contexto
social e familiar de alunos pobres os quais começavam a adentrarem no ambiente
escolar no início do século XX (SEGABINAZI, 2013).
A ausência de contato com as obras literárias poderia estar relacionada aos
aspectos econômicos, uma vez que a grande maioria dos pais e responsáveis pelos
alunos menos favorecidos economicamente eram trabalhadores operários. Nessas
famílias não havia tradição nem tão pouco incentivo a leitura. Já os alunos das
classes burguesas eram incluídos, desde a infância, num universo cujos pais eram
leitores em meio a uma quantidade de recursos que poderiam promover o hábito da
leitura bem como o incentivo a essa prática.
A ausência do hábito pela leitura foi atribuída a esses novos alunos por um
longo período, isto é, responsabilizou-se a eles o esvaziamento pelo gosto e pelo
costume das obras literárias.
De acordo com Nobile (2003, p. 29): “o primeiro passo para a formação do
hábito de leitura é a oferta de livros próximos à realidade do leitor, que levantem
questões significativas a ele. Também o trabalho com a literatura requer o mesmo
direcionamento”. Essa proposta talvez seja uma dos elementos que auxiliem no
incentivo à leitura; o professor é, portanto, o mediador responsável por essa ação.
No início do século XX, até os dias atuais, houve a necessidade de a escola
adequar-se a esses alunos e buscar formas de mostrar-lhes as obras literárias
visando à assimilação pelo gosto da leitura. Além disso, houve a necessidade criar
políticas públicas educacionais de incentivo a leitura e um aparelhamento qualitativo
de acervo das bibliotecas escolares como aponta Vieira (2008).
Contudo, os aspectos concernentes ao distanciamento do hábito pela leitura
nas escolas deveriam estar muito além da simples quantidade de acervos

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bibliográficos, mas de metodologias que incentivassem o acesso dessas obras com
um direcionamento didático que conquistasse os alunos.
Inúmeros questionamentos em relação à organização dos espaços das
bibliotecas de escolas públicas em relação aos profissionais que seriam destinados
por mediar o livro e o aluno-leitor foram investigados conforme apontam as
pesquisas de Paulino (2006), Cosson (2006) e Rösing (2009).
Vieira (2008) constata que boa parte das bibliotecas presentes em escolas
brasileiras possuía profissionais sem capacitação e formação na área de atuação,
fato este que resultava numa problemática para, por exemplo, indicar a leitura dos
grandes clássicos da literatura. Além disso, essa carência na formação desses
profissionais impossibilitava que planejassem ações pedagógicas que pudessem
ampliar a forma que os alunos encaravam o ambiente da biblioteca.
Estamos no ano de 2017 e anos se passaram desde que Ziberman (1991)
trouxe em discussão o que chamou de “Crise na leitura”. O que parece, tendo em
vista pesquisas neste âmbito, é que estamos cotidianamente mergulhados no
excesso de julgamentos cujo centro está a ausência de educandos leitores nas
escolas.
Diversas pesquisas são realizadas visando à compreensão das possíveis
causas que culminaram no rompimento do habito da leitura em salsa de aula na
contemporaneidade em face à valorização das aulas de literatura no ambiente
escolar. Arana e Klebis (2015, p. 26671) refletem o quanto a escola despreparada
em suas dimensoes administrativas e pedagógicas produz a falta de incentivo para
alunos e alunas sentirem-se atraídas pela leitura. Para essas autoras:

Uma das formas de incentivar as crianças a lerem é apresentá-las a


livros que estimulem o hábito de ler pelo prazer. A partir daí elenca-
se diversas vantagens, como a de que elas conheçam mundos novos
e realidades diferentes para que, desta forma, elas possam construir
sua própria linguagem, oralidade, valores, sentimentos e ideias,
essas tais, que a criança levará para o resto da vida.

Certamente há inúmeras reflexões que apontam aspectos que colaboram


para desaparecimento da leitura nas aulas de literatura no seio escolar. Pesquisas
realizadas por Silva (2012) identificam que o texto literário e as aulas de leitura têm
sido substituídos pelo ensino de língua. Em outras investigações as análises dessa

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autora apontam uma tendência, por parte dos professores, de utilizarem a literatura
para realização de exercícios e análises gramaticais.
Ainda conforme Silva (2012) alguns professores indicam uma falta de
interesse dos alunos por textos literários em detrimento da utilização das novas
tecnologias, sobretudo as redes sociais facilmente e atrativamente acessadas por
aparelhos celulares.
Ao que parece os textos literários tem desaparecido no ambiente escolar e
seu uso não tem sido aproveitado para que o aluno compreenda a importância no
seu desenvolvimento educativo escolar e como meio de analisar e compreender a
sociedade em que vive.
No próximo tópico traçam-se alguns apontamentos teóricos que visam refletir
possíveis metodologias para que professores encontrem possíveis caminhos de
incentivo a leitura na educação básica.

NOTAS METODOLÓGICAS EM FACE AO REFLETIDO NA TEORIA

Mediante as constatações teóricas supramencionadas, torna-se necessário


pensar em metodológicas que visem aparelhar professores para que pensem em
estratégias de trabalho voltadas as aulas de leitura, sobretudo no ensino de
literatura. Tornar as aulas de literatura como vivas e fazendo parte da realidade dos
educando, esse talvez seja um dos maiores desafios que cercam professores no
sentido de incentivar e de criar alunos leitores.
Inegavelmente, cabe ao docente o planejamento, por meio do plano de aula
sobre a leitura. É imprescindível que o professores dediquem seu tempo e ofereça
uma organização para o alcance do processo cognitivo dos alunos. Os
procedimentos didáticos devem tornar as aulas mais que um momento de contar
histórias, mas um momento vivo em que a literatura faça sentido e significado aos
alunos. Isso exige como já foi dito, planejamento e organização.
Para que isso se concretize, é importante que o professor faça uma seleção
de obras literárias que chamem a atenção dos alunos. Os discentes devem ser
despertados e quererem saber que história tem naquele livro, visando motivá-los a
querer ouvir e também ler/compartilhar a leitura.

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Diferentes e variadas investigações científicas da área de humanas afirmam
que a escola deixa a leitura à deriva sem rumo, apenas ensinando sobre a leitura
sem ter profundidade no assunto, não formando verdadeiros leitores.
Conforme já apontamos, existe uma situação de crise nas escolas, pois o
desafio é formar leitores com criticidade, posto que ela [a leitura] é uma mera
decodificação, e o leitor como alfabetizado. Silva (1989) confirma esse cenário e dá
ênfase à crise “da leitura na escola” ao identificar a relação triangular existente entre
o leitor, o texto e a realidade social.
Neste âmbito de crise “da leitura na escola”, Perroti (1993, p. 83) considera
que promover a leitura de forma isolada já não basta mais. “É imprescindível refleti-
la no contexto de um processo de produção cultural da sociedade e da escola”.
Os PCN (BRASIL, 1998, p. 14) orientam em relação “à compreensão da
leitura como uma pratica social complexa, e isso requer sua inserção, em sala de
aula”. A leitura é de suma importância e essencial na concretização do processo
ensino-aprendizagem dos educandos. Ler obras literárias abre espaço para a
criação de uma dependência leitora, fator este que facilita aos alunos a
compreensão de outros sabres advindos de diferentes disciplinas.
Assim, as práticas de leitura em sala de aula com o incentivo e esforço do
professor podem tornar cada aluno leitor fiel. Ainda de acordo com as orientações
dos PCNs:
Um leitor competente é alguém que, por iniciativa própria, é capaz de
selecionar, dentre os trechos que circulam socialmente, aqueles que
podem atender a uma necessidade sua. Que consegue utilizar
estratégias de leitura adequada para abordá-los de formas a atender
a essa necessidade (BRASIL, 1998; p. 15).

Ao docente cabe o trabalho de auxiliar o aluno nas escolhas dos gêneros


literários. Contudo, essa escolha deve, obrigatoriamente passar pela avaliação do
educando, familiarizando-se com esse universo e descobrir o que mais gosta de ler.
Tal dinâmica deve oportunizar/objetivar que fora da escola ele possa saber escolher
suas leituras. “É preciso trabalhar o componente livre da leitura, caso contrario, ao
sair da escola, os livros ficarão para trás”. (BRASIL, 1998; p. 17).
É possível ainda que os professores de língua portuguesa organizem saraus
poéticos ou literários visando dar vida as leituras realizadas. A organização de um

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projeto/sarau pode levar a formação de um leitor competente e por que não na
formação de leitores e escritores/produtores de poemas e outros gêneros.
No estágio realizado para compor parte da formação em letras, pude observar
o quanto os alunos/adolescentes internos da Fundação Casa estão ávidos pela
leitura. Talvez o confinamento lhe proporcione um comportamento de introspecção o
qual por meio da leitura encontram mais sentido neste momento em que vivem.
Ao que pude constatar, faltam propostas de incentivo a leitura de uma
maneira sistemática, sobretudo voltada às atribuições dos professores. Nas aulas de
língua portuguesa, há o predomínio de exercícios gramaticais e pouca ou quase
nenhuma menção as obras literárias brasileiras.
Não foi possível identificar também nenhuma orientação de leitura seja ela
qual for. Mas, os alunos em momentos de lazer eram vistos, em sua maioria,
realizando leituras diversas como já pontuamos no início deste artigo. Falta-lhes um
direcionamento para que compreendam o que aduz Marcushi (2010), isto é, que
sintam na leitura o vínculo com “a vida cultural e social” e saibam dessa importância
para vivenciarem atmosferas educativas que garantam o seu ser-estar no mundo
como reflete Freire (1998).
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse artigo teceu reflexões das possibilidades de incentivo à leitura na


educação básica (Ensino Fundamental e Ensino Médio), tomando como exemplo
emblemático uma escola pública da rede municipal de São Paulo, por meio da
pesquisa bibliográfica com o amparo da pesquisa de campo. Esses aportes teóricos
puderam ampliar o olhar deste pesquisador acerca da história de inclusão da leitura
e da literatura no ambiente escolar bem como de pensar em estratégias de ensino
voltadas ao tema.
É possível destacar, tanto por meio dos aportes teóricos quanto das análises
de campo, como professores e gestores escolares tem um papel fundamental para
auxiliarem no desenvolvimento do aluno pelo gosto leitura nessa fase de
escolarização.
Diante da diversidade de contextos educacionais dentro da sociedade
brasileira, é relevante considerar que as discussões e considerações apresentadas
são de ordem específica do contexto escolar com o qual mantivemos contato ao

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longo da vivência de estágio para regência e observação das aulas de língua
portuguesa. Essa experiência revelou que dos três docentes que ministram aulas de
língua portuguesa, há a ausência de uma metodologia voltada para o ensino de
literatura, o que corrobora com as reflexões teóricas no que tange ao esvaziamento
dessa prática nos tempos atuais.
É importante também citar, que na escola pesquisada não havia um ambiente
voltado à biblioteca. Os alunos recebiam os livros dos pedagogos socioeducativos
uma vez por semana, por meio do que eles chamavam de biblioteca itinerante. Os
livros ficavam disponíveis numa caixa de plástico e os alunos os pegavam nos
momentos de lazer ou com o tempo livre.
Isto posto, é evidente que professores de língua portuguesa, pedagogos e
pais tem sua parcela de colaboração no sentido de investirem na formação de
leitores quando da passagem destes na educação básica. Certamente dado esse
incentivo, sobretudo pela escola, pode haver um maior sucesso não só no
desenvolvimento do hábito de ler dos educandos, como também no aprimoramento
de aspectos sociais, cognitivos, lingüísticos e criativos tão importantes na formação
da cidadania.
Para que essa proposta ganhe copo, é importante e imprescindível que a
formação docente seja dinâmica e constante visando desenvolver novas e
inovadoras práticas de incentivo à leitura. Isso certamente passa por uma formação
em que o docente também seja por experiência um leitor. A escola, por meio do
ensino de Literatura, deve, assim, ser um espaço que estabeleça a mediação para
que os educandos despertem na leitura um momento de prazer, de lazer e de
emoção.

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