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reaLização:
apoio:
ISBN
Equipe IIEP
Carolina Alvim de Oliveira Freitas
Edméa Barbosa da Luz
Eliane Gonçalves (Lia)
Fabíola Andrade
José Cláudio de Paula
Maria Goretti Rodrigues
Milena Fonseca Fontes
Paula Ribeiro Salles
Pedro Mauricio Garcia Dotto
Rodolfo Machado
Valderi Antão Ruviaro (Valdo)
Vanessa Miyashiro
Yara Silvia Tucunduva
Pesquisadores
Angela Bicalho
Marina Kiriyama
Ronilde Machado
Rosi Aparecida Soares
Sofia Dias Batista
Sueli Bossam
Vicente Garcia Ruiz
Redação e colaboração
André Luzzi
Alana Moraes
Arlete Neves Martins
Claudia Santiago
Danilo Fernandes Costa
Delmira Isabel de Jesus
Josué Medeiros
Maria das Merces Aparecida Apostolo
Maria José Soares
Maria Rosangela Battistoni
Marcelo Antônio Chaves
Paulo Cavalcanti
Paulo Fontes
Reginaldo Moraes
Rodrigo Bruder
Silvia Adoue
Textos autorais
Adriana Gomes Santos
Alípio Freire
Antonio Fernandes Neto (Neto)
Ivan Seixas
Murilo Leal Pereira Neto
* Os membros do Conselho Político e da Equipe IIEP muitas vezes participaram de diversas etapas desse processo. A não repetição dos seus nomes é intencional.
Projeto gráfico e diagramação: Caco Bisol. Revisão de texto: Guilherme Salgado Rocha
Ministro da Justiça
JOSÉ EDUARDO CARDOZO
Secretário-Executivo
MARIVALDO DE CASTRO PEREIRA
Chefe de Gabinete
LARISSA NACIF FONSECA
Coordenador de Pré-análise
RODRIGO LENTZ
investigação operária
A
Comissão de Anistia é um órgão do Esta- pleto fundo documental sobre a ditadura bra-
do brasileiro ligado ao Ministério da Jus- sileira (1964-1985), conjugando documentos
tiça e composto por 26 conselheiros, em oficiais com inúmeros depoimentos e acervos
sua maioria, agentes da sociedade civil ou pro- agregados pelas vítimas. Esse acervo será dis-
fessores universitários, sendo um deles indi- ponibilizado ao público por meio do Memorial
cado pelas vítimas e outro pelo Ministério da da Anistia Política do Brasil, sítio de memó-
Defesa. Criada em 2001, há treze anos, com o ria e homenagem às vítimas, em construção na
objetivo de reparar moral e economicamente cidade de Belo Horizonte. Desde 2008 a Co-
as vítimas de atos de exceção, arbítrio e vio- missão passou a promover diversos projetos de
lações aos direitos humanos cometidas entre educação, cidadania e memória, levando, por
1946 e 1988, a Comissão hoje conta com mais meio das Caravanas de Anistia, as sessões de
de 70 mil pedidos de anistia protocolados. Até apreciação dos pedidos aos locais onde ocorre-
o ano de 2012 havia declarado mais de 35 mil ram às violações, que já superaram 70 edições;
pessoas “anistiadas políticas”, promovendo divulgando chamadas públicas para financia-
o pedido oficial de desculpas do Estado pelas mento a iniciativas sociais de memória, como
violações praticadas. Em aproximadamente 15 a que presentemente contempla este projeto; e
mil destes casos, a Comissão igualmente re- fomentando a cooperação internacional para o
conheceu o direito à reparação econômica. O intercâmbio de práticas e conhecimentos, com
acervo da Comissão de Anistia é o mais com- ênfase nos países do Hemisfério Sul.
investigação operária
PRESIDENTE:
Paulo Abrão
Paulo Abrão é Secretário Nacional de Justiça do Brasil. Presidente do Comitê Nacional para Refugiados, do
Comitê Nacional para o Enfrentamento ao Trafico de Pessoas e da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça
que promove processos de reparação e memória para as vítimas da ditadura militar de 1964-1985. Diretor do
Programa de Cooperação Internacional para o desenvolvimento da Justiça de Transição no Brasil com o PNUD.
Integrou o Grupo de Trabalho que elaborou a Lei que institui a Comissão Nacional da Verdade no Brasil. Juiz
integrante do Tribunal Internacional para a Justiça Restaurativa em El Salvador. Membro diretor da Coalização
Internacional de Sitio de Consciência e presidente do Grupo de Peritos contra a Lavagem de Dinheiro da
Organização dos Estados Americanos. Atualmente coordena o comitê de implantação do Memorial da Anistia
Política no Brasil. Possui doutorado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e é
professor do Curso de Mestrado e Doutorado em Direito da Universidade Pablo de Olavide (Espanha). Possui
publicações publicadas em revistas e obras em língua portuguesa, inglesa, alemã, italiana e espanhol.
VICE-PRESIDENTES:
investigação operária
CONSELHEIROS:
Carol Proner
Conselheira desde 14 de setembro de 2012, nascida em 14 de julho de 1974 em Curitiba/PR. Advogada,
doutora em Direito Internacional pela Universidade Pablo de Olavide de Sevilha (Espanha), Professora de
Direito Internacional da Universidad Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Co-Diretora do Programa Máster-
Doutorado Oficial da União Européia, Derechos Humanos, Interculturalidad y Desarrollo - Universidade Pablo
de Olavide/ Univesidad Internacional da Andaluzia. Concluiu estudos de Pós-Doutorado na École de Hautes
Etudes de Paris (França). É autora de artigos e livros sobre direitos humanos e justiça de transição.
Cristiano Paixão
Conselheiro desde 1º de fevereiro de 2012. Nascido na cidade de Brasília, em 19 de novembro de 1968, é mestre em
Teoria e Filosofia do Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), doutor em Direito Constitucional
pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e fez estágio pós-doutoral em História Moderna na Scuola
Normale Superiore di Pisa (Itália). É Procurador Regional do Trabalho em Brasília e integra a Comissão da Verdade
Anísio Teixeira da Univerisidade de Brasília, onde igualmente é professor da Faculdade de Direito. Foi Professor
visitante do Mestrado em Direito Constitucional da Universidade de Sevilha (2010-2011). Co-líder dos Grupos
de Pesquisa “Direito e história: políticas de memória e justiça de transição” (UnB, Direito e História) e “Percursos,
Narrativas e Fragmentos: História do Direito e do Constitucionalismo” (UFSC-UnB).
investigação operária
Federal de Santa Catarina. É professora da Universidade de Brasília, onde coordena um Grupo de Pesquisa
sobre Justiça de Transição no Brasil, e leciona e orienta na graduação e pós-graduação em direito. Integra
ainda a Comissão Anisio Teixeira da Memória e Verdade da UnB.
investigação operária
pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo/SP. Atuou como defensora pública da União por 22
anos. É funcionária pública desde 1973.
Mário Albuquerque
Conselheiro desde 22 de outubro de 2009. Nascido em Fortaleza/CE, em 21 de novembro de 1948. É membro da
Associação Anistia 64/68. Atualmente preside a Comissão Especial de Anistia Wanda Sidou do Estado do Ceará.
Nilmário Miranda
Conselheiro desde 1º de fevereiro de 2012. Nascido em Belo Horizonte/ MG, em 11 de agosto de 1947, é Jornalista
e mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Foi deputado estadual, deputado
federal e ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH – 2003/2005).
Quando deputado federal Presidiu a Comissão Externa para Mortos e Desaparecidos Políticos. Foi autor do
projeto que criou a Comissão de Direitos Humanos na Câmara, que presidiu em 1995 e 1999. Representou por 07
(sete) anos a Câmara dos Deputados na Comissão Especial dos Mortos e Desaparecidos Políticos. É membro do
Conselho Consultivo do Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil, denominado “Memórias Reveladas”. Foi
presidente da Fundação Perseu Abramo por 05 (cinco) anos. Atualmente é Deputado Federal por Minas Gerais e,
na Câmara dos Deputados, é Vice-Presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, titular da Comissão
de Desenvolvimento Urbano e suplente da Comissão de Legislação Participativa.
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pública aposentada pela Prefeitura do Município de São Paulo. Suas principais atividades profissionais situam-
se na área educacional, do Direito e da gestão pública. Militante política a partir dos anos 1960. Participa do
Núcleo de Preservação da Memória Política de São Paulo e do Coletivo de Mulheres de São Paulo. Conselheira
da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça desde outubro de 2009.
investigação operária
C
riada há dez anos, em 2001, por meio de individual em um processo de reflexão e apren-
medida provisória, a Comissão de Anistia dizado coletivo, fomentando iniciativas locais,
do Ministério da Justiça passou a integrar regionais e nacionais que permitam àqueles que
em definitivo a estrutura do Estado brasileiro viveram um passado sombrio, ou que a seu estu-
no ano de 2002, com a aprovação de Lei n.º do se dedicaram, dividir leituras de mundo que
10.559, que regulamentou o artigo 8º do Ato permitam a reflexão crítica sobre um tempo que
das Disposições Constitucionais Transitórias. precisa ser lembrado e abordado sob auspícios
Tendo por objetivo promover a reparação democráticos. Para atender estes amplos pro-
de violações a direitos fundamentais pratica- pósitos, as ações do Marcas da Memória estão
das entre 1946 e 1988, a Comissão configura- divididas em quatro campos: a) audiências pú-
-se em espaço de reencontro do Brasil com seu blicas; b) projetos de coleta de história oral; c)
passado, subvertendo o senso comum da anis- chamadas públicas de fomento à iniciativas da
tia enquanto esquecimento. A Anistia no Bra- Sociedade Civil, como a que selecionou o pre-
sil significa, a contrário senso, memória. Em sente projeto; d) publicações.
seus 10 anos de atuação, o órgão reuniu milha- O projeto “Marcas da Memória” reúne depoi-
res de páginas de documentação oficial sobre a mentos, sistematiza informações e fomenta ini-
repressão no Brasil e, ainda, centenas de depoi- ciativas educativas, intelectuais e culturais que
mentos, escritos e orais, das vítimas de tal re- permitam a toda sociedade conhecer o passado
pressão. E é deste grande reencontro com a his- e dele extrair lições para o futuro. Seu objetivo é
tória que surgem não apenas os fundamentos descentralizar do Estado o processo de fomento
para a reparação às violações como, também, a à memória histórica sobre as violações aos direi-
necessária reflexão sobre a importância da não tos humanos e de cidadania ocorridos no passa-
repetição destes atos de arbítrio. do, garantindo a insurgência de memórias plu-
É neste contexto que surge o projeto “Marcas da rais, que reflitam a diversidade de perspectivas
Memória”, que expande ainda mais a reparação que o povo brasileiro tem de sua própria história.
14 A lutaPELA VERDADE
15 NOSSA APRESENTAÇÃO
17 O CONTINENTE TRABALHO
19 INTRODUÇÃO
62 O sindicato
85 A ASSOCIAÇÃO ANTI-OPERÁRIA
88 O EMPRESARIADO E A REPRESSÃO
107 A RELAÇÃO PROMÍSCUA ENTRE O EMPRESARIADO E A REPRESSÃO POLÍTICA
IVAN SEIXAS
197 CONCLUSÃO
200 FONTES
investigação operária
E
sse trabalho foi beneficiado pelo momento político que o país atravessa, em que
os perseguidos, vitimados, familiares, amigos conseguiram, após tantos anos,
colocar na pauta política a busca da memória e da verdade. Nossa tarefa é com-
provar, a partir dos testemunhos e da documentação, como esse sistema de terror
atingiu as classes trabalhadoras.
Seria impossível nomear aqui cada uma das associações, entidades, centros de memó-
ria de trabalhadores, organização de trabalhadores ex-presos políticos, centrais sindi-
cais, comissões e comitês da memória e verdade, que foram fontes de informações,
fornecimento de documentos e contatos.
investigação operária
NOSSA APRESENTAÇÃO
“Estes revolucionários de uma outra época envelheceram, mas não parecem cansados. Não sabem o que quer
dizer a frivolidade. Sua moral é muda, mas não dá margem à ambigüidade. Ela já não entende mais o mundo. (...)
Quem os conhece fica espantado ao ver como são pouco indecisos e como carregam tão pouca amargura, muito
menos do que seus visitantes mais jovens. Eles não são melancólicos. Sua cortesia é proletária e a dignidade, de
pessoas que jamais capitularam. Não têm que agradecer a ninguém. Não foram “promovidos” por ninguém. Não
tomaram nada para si, nem consumiram bolsas de estudo. O bem-estar não lhes interessa. Tem a consciência
intacta. Não são tipos acabados: sua disposição física é extraordinária.(...) Não lamentam nada. Suas derrotas
não serviram para ensinar-lhes algo ruim. Sabe que cometeram erros, mas não voltam atrás. Os velhos homens
da revolução são mais fortes do que tudo que veio depois deles.”
(ENZENSBERGER, Hans Magnus. “O Curto Verão da Anarquia”. São Paulo: Companhia Das Letras, 1987)
investigação operária
Mas, a coruja terminou seu vôo? Já pode- os crimes, as violências, as corrupções que a di-
mos conhecer toda a História desse período de tadura cometeu em seus 20 anos de existência.
trevas? Ainda não. Mas isso não está ao nosso alcance, depende de
Este livro levanta o véu de uma parte som- decisões de altas esferas: Executivo, Legislati-
bria que estava encoberta: como os empresá- vo, Judiciário, comando das Forças Armadas.
rios se aliaram aos aparelhos de repressão para E eles só vão se mexer se houver pressão
vigiar, perseguir e prender trabalhadores. E muito forte de baixo. Quando milhões tiverem
depois, com suas “listas negras”, impedir que consciência da importância de conhecer o pas-
esses operários e operárias encontrassem em- sado, conseguiremos evitar que aqueles fantas-
prego para sua sobrevivência. A leitura de de- mas voltem a nos assombrar no futuro. Quando
poimentos, os documentos que foram encon- todos os véus tiverem sido levantados e toda a
trados, mostram a que ponto chegou o ódio de verdade surgir à tona, aí então a coruja de Mi-
empresários contra trabalhadores que só que- nerva terá terminado seu voo.
riam direitos para uma vida digna para eles e Este livro quer ser um vento favorável para
seus filhos. isso.
Outros véus precisam ser levantados, para a
sociedade brasileira conhecer em toda extensão O Conselho
investigação operária
O CONTINENTE TRABALHO
“S
e são excluídos certos momentos prodigio- próprio ou alheio, e não somente como uma uto-
sos e singulares que o destino nos coloca, pia, mas também no aqui e agora.
o amor ao próprio trabalho (que, por des- Como se aquele que sabe trabalhar fosse um
graça, é privilégio de poucos) constitui a maior servo, e como se, ao contrário, quem não trabalhar
aproximação concreta do que seja a felicidade ou trabalhasse mal, ou que não quisesse trabalhar,
na terra, porém esta é uma verdade que poucos fosse por essa mesma razão um homem livre.
conhecem. É tristemente verdade que muitos trabalhos
Esta região sem limites, a região da labuta, não são agradáveis, porém é muito prejudicial
do CURRO, do BOULOT, do JOB, enfim, do entrar no debate carregado de preconceitos e de
trabalho cotidiano, é menos conhecida que a ódio. Quem o faz se condena por toda a vida a
Antártida e, por um triste e misterioso fenôme- odiar não só o trabalho, mas também a si mesmo
no, acontece que os que mais falam dela, e com e ao mundo. Pode-se e deve-se lutar para que o
maior entusiasmo, são precisamente aqueles fruto do trabalho permaneça nas mãos de quem
que menos a percorreram. o realiza, e para que o trabalho como tal não seja
Para exaltar o trabalho, nas cerimônias ofi- apenas um puro penar; porém o amor, como tam-
ciais se mobiliza toda uma retórica insidiosa, ci- bém o ódio em relação à obra são um dado inter-
nicamente fundada nas considerações que um no, originário, que depende mais da história do in-
elogio ou uma medalha rendem mais e custam divíduo do que das estruturas produtivas em cujo
menos que uma melhora salarial. torvelinho se desenvolve o trabalho.”
Porém existe também uma retórica de sinal
contrário, não cínica mas profundamente estúpi- La llave estrella, de Primo Levi, Muchnik
da, que tende a denegri-lo, a pintá-lo como algo editores 2001 Barcelona, pgs 77 e 78.Tradução
vil, como se fosse possível prescindir do trabalho, Giuseppe La Barbera e Elias Stein.
Conselho Político
* Toda a condução do Projeto, assim como as decisões, são de responsabilidade coletiva dos membros do Conselho Político.
investigação operária
IntroduÇÃO
E
ssa obra é parte do esforço na cidade de São Paulo, capital do dos operários, não podia ser posta
coletivo do Projeto Memó- principal Estado industrial e uma em prática apenas pelos militares.
ria Oposição Sindical Meta- das maiores concentrações de tra- Para oprimir os trabalhadores
lúrgica de São Paulo de desven- balhadores do país. em praticamente todos os aspec-
dar a repressão sofrida pela classe A maior prova da existência tos do dia a dia, os militares con-
trabalhadora urbana. A questão dessa luta está no conteúdo fun- taram com a colaboração e com
aqui não é desvalorizar as violên- damental deste livro, que é de- o protagonismo dos patrões, das
cias sentidas por outros setores nunciar a engenharia repressiva elites civis da indústria metalúr-
das classes populares, sejam eles montada contra os trabalhadores gica de São Paulo. Ademais, essa
camponeses, povos indígenas, metalúrgicos de São Paulo pela perseguição total só seria exitosa
classe média. Cada parcela da so- Ditadura, em conjunto com a elite se a estrutura repressiva contasse
ciedade brasileira que se levantou econômica e em parceria com os com a participação de elementos
contra a Ditadura recebeu de volta interventores sindicais nomeados oriundos da própria classe traba-
sua carga de violações, de vigilân- pelos militares, também conheci- lhadora, o que ocorreu com a in-
cia e perseguições, prisões, tortu- dos como pelegos. dicação dos interventores para a
ras e assassinatos. Novamente, ilustrar a repressão direção do Sindicato dos Metalúr-
Mesmo assim, existe um senso vivenciada pela classe trabalhado- gicos de São Paulo, já em 1964.
comum instalado na opinião pú- ra através do exemplo de uma ca- Em nossa investigação, foi
blica do país de que os trabalha- tegoria específica, a dos Metalúr- possível revelar os diversos me-
dores assistiram passivamente ao gicos de São Paulo, não implica canismos que comprovam essa
golpe e que sua mobilização con- em desvalorizar as lutas e os en- aproximação entre civis e milita-
tra o regime teria explodido ape- frentamentos protagonizados por res na perseguição aos trabalha-
nas em 1978, na região do ABC outros setores dos trabalhadores dores, bem como alguns episó-
paulista, quando o então metalúr- brasileiros. Pelo contrário, o que dios de violações que envolvem
gico Luiz Inácio Lula da Silva te- se pretende é utilizar esse estudo particularmente os metalúrgicos
ria liderado as primeiras grandes de caso para jogar luz na situação e militantes sindicais da cidade
greves no Brasil em uma década. vivida pelo conjunto dos setores de São Paulo. Embora focada nos
O intuito é, portanto, descons- das classes subalternas do país or- metalúrgicos, a pesquisa esbarrou
truir esse senso comum, demons- ganizados politicamente, situação em episódios envolvendo outras
trando que a luta dos trabalhado- essa pautada pela contradição en- categorias, e não apenas na cidade
res que explodiu em 1978 foi fruto tre resistência e repressão. de São Paulo.
e resultado de uma resistência Os trabalhadores e militan- A metodologia de trabalho
contínua e incansável de operá- tes sindicais metalúrgicos de São utilizada envolveu cerca de tre-
rios combativos. E mais, é preci- Paulo sofreram com a perseguição zentos metalúrgicos e militantes
so também não deixar dúvidas de política exercida nos locais de tra- reunidos em oficinas de memó-
que tanto essa resistência quanto balho, moradia e militância, com rias regionais e encontros centra-
as lutas de massa que explodem prisões, torturas e assassinatos. lizados, trazendo os participantes
em fins dos anos 1970 ocorreram Uma repressão desse tipo, que en- para um processo de trabalho co-
em outras regiões, principalmente volve todas as dimensões da vida letivo, onde foram priorizados os
investigação operária
testemunhos, seja pela via oral ou dos contra os trabalhadores apro- Organização
escrita, ao longo de dois anos. ximam as esferas civil e militar do livro
Este rico processo se consti- a partir da troca de informações
tuiu em uma inovadora forma de entre as empresas e o DOPS-SP, Com essa perspectiva, orga-
fazer pesquisa e elaborar o livro, bem como do financiamento e co- nizamos o livro. Após o primei-
na qual os trabalhadores, sujeitos laboração de empresários e suas ro capítulo, que busca reconstruir
do processo, não só deram entre- associações, para a estruturação e o contexto histórico e político no
vistas mas participaram, de dife- manutenção de órgãos de repres- qual o golpe militar ocorreu, dos
rentes maneiras, da construção são. Estes mecanismos de colabo- anos 1940 a 1960, o capítulo se-
do livro: levantando e analisando ração reforçam a trama formada guinte conta um pouco da histó-
documentos, escrevendo e discu- pelos militares e empresários para ria do Sindicato dos Metalúrgicos
tindo entre si as interpretações por eliminar qualquer tipo de movi- de São Paulo e dos militantes da
eles elaboradas. Ademais, todas mentação que fugisse às regras
Oposição Sindical Metalúrgica
as reuniões oficiais e os diversos impostas pelo regime de exceção.
de São Paulo (OSM-SP), que lu-
encontros estão registrados em ví- Contudo, não foram apenas
taram fora do sindicato quando a
deo e em fotografias. mecanismos sutis que atingiram
ditadura impôs os pelegos na di-
Foram realizadas pesquisas os trabalhadores. As prisões, tor-
reção. Finalmente, é no terceiro
nos arquivos pessoais dos meta- turas e até mesmo mortes também
capítulo que o corpo principal do
lúrgicos, bem como nos arqui- foram práticas comuns. Alguns
livro aparece, onde apresentamos
vos da resistência como o Cen- assassinatos exemplares seguem
tro de Documentação e Pesquisa sem esclarecimento. Especial- a engenharia repressora montada
Vergueiro (CPV) e o Projeto Me- mente, quatro mortes marcaram a por militares, patrões e pelegos,
mória da OSM-SP, Centro de Do- dinâmica de opressão política aos bem como as resistências e avan-
cumentação e Memória do Sindi- metalúrgicos de São Paulo: Ola- ços na luta dos metalúrgicos de
cato dos Metalúrgicos de Osasco e vo Hanssen, em 1970, Luiz Hirata São Paulo.
Região, Fundação Arquivo e Me- em 1971, Manoel Fiel Filho, em Passemos finalmente à leitura!
mória de Santos, Fundação Per- 1976, Santo Dias, em 1979. A luta é contínua!
seu Abramo, Fundação Maurício A intenção também é, portan-
Grabois, além do acervo do De- to, registrar a importância desses
partamento de Ordem Política e eventos trágicos do processo de
Social (DOPS) do Arquivo Públi- repressão e de resistência dos ope- Nota: O livro apresenta os re-
co do Estado de São Paulo, o Cen- rários metalúrgicos de São Paulo à sultados do projeto Contemos
tro de Memória Sindical e o Cen- ditadura e ao controle dos patrões, a nossa história – Os mecanis-
tro de Documentação e Memória buscando demonstrar que a enge- mos de repressão e persegui-
da UNESP (CEDEM/UNESP). nharia de opressão e perseguição ção política durante a ditadura
Os mecanismos de demissão aos trabalhadores brasileiros, en- – Memória dos Trabalhadores
dos trabalhadores são sutis, nem volveu tentativas de destruição fí- metalúrgicos e militantes de
sempre rastreáveis, porém foram sica, psicológica e moral da classe São Paulo, selecionado em Edi-
eficientes, atingindo o trabalha- trabalhadora. Felizmente, como a tal Público do Projeto Marcas da
dor na sua única fonte de renda, história demonstrou, o resultado Memória da Comissão de Anistia
impedindo-o de vender a sua for- foi outro, e os trabalhadores se- em parceria com o Intercâmbio,
ça de trabalho. guiram resistindo, seguiram de- Informações, Estudos e Pesqui-
Concluímos que os mecanis- fendendo seus valores e seus mo- sas (IIEP).
mos de repressão política utiliza- dos de vida.
O processo de construção
da memória dos trabalhadores
O processo de construção
da memória dos trabalhadores
O
nosso objetivo nesse livro
não foi mostrar apenas os
mecanismos de perseguição
e repressão aos trabalhadores,
mas as resistências, lutas e vitó-
rias dos trabalhadores.
Os metalúrgicos foram e ain-
da são a maior categoria operária
na cidade. Mesmo com a eman-
cipação de Osasco e Guarulhos
no início dos anos 1960, os me-
talúrgicos formaram um contin-
gente de aproximadamente 400
mil trabalhadores nos anos 1970.
Em São Paulo, a característica
era a diversidade da produção (de
pregos a mísseis), com mais de 13
mil estabelecimentos, muitas fá-
bricas pequenas ou oficinas e uma
constelação de grandes empresas,
líderes em sua atividade e grandes
concentrações industriais: Leo-
poldina, Lapa de Baixo, Ilha do
Sapo, Socorro, corredor da Na-
ções Unidas, nomes pelos quais
os trabalhadores se referiam a es-
sas regiões industriais.
Uma eleição dos metalúrgi-
cos exigia a mobilização de mais
de 800 trabalhadores que deve-
riam, durante uma semana fal-
tar ao trabalho para fiscalizar o
processo. Isso quando conseguí-
amos o direito de fiscalizar. Em Revista sobre a história
da Comissão de Fábrica
1978, a eleição sindical foi anu- da Asama.
lada pelo procurador do Minis- O caderno em pdf está dsponível em www.iiep.org.br
investigação operária
Luta dos
trabalhadores
pela preservação
da memória
Lançamento do Projeto
Memória da OSM-SP, 2007
A ideia de recuperar a memória Acervo IIEP/Projeto Memória
da OSM/SP
da Oposição vinha circulando há
anos. Em 2007, após várias reu-
niões, foi lançado oficialmente o
Projeto Memória da OSM-SP e,
finalmente, diversas iniciativas
foram tomadas para recuperar
e, em seguida, divulgar história
que se atreveu a ser chamada de
“Saga da Oposição”. É possível CD com imagens e vídeos
sim denominar uma “saga”, pois sobre a OSM-SP, 2007
Acervo IIEP/Projeto Memória
tivemos nossas grandes batalhas, da OSM/SP
O processo de construção
da memória dos trabalhadores
investigação operária
Oficina na Oeste.
Sindicato dos
Químicos Unificados
de Osasco e Região,
09/07/2011.
Acervo IIEP/Projeto
Memória da OSM/SP
O processo de construção
da memória dos trabalhadores
investigação operária
O processo de construção
da memória dos trabalhadores
investigação operária
O processo de construção
da memória dos trabalhadores
investigação operária
Capítulo 1
a DITaDuRa mILITaR DE 1964-1985
aLÍPIO fREIRE
H
á 50 anos, na noite de 31 de O programa defendido pelo partir de uma cesta básica capaz
março de 1964, uma coluna presidente Goulart, anunciado de atender às reais necessidades
de blindados, caminhões, ji- publicamente no comício que re- de uma família de trabalhadores;
pes e grande contingente huma- alizou no dia 13 de março de 1964 a criação de uma central sindi-
no sob o comando do general frente à Estação Central do Bra- cal (até então proibida); ensino
Mourão Filho, deixa Minas Ge- sil (Rio de Janeiro), e que reuniu público, universal e gratuito em
rais rumo ao Rio. cerca de 200 mil pessoas, impli- todos os níveis; reforma política
Era o golpe. cava as chamadas Reformas de que garantia voto aos analfabetos
Base, que previam, entre outras e o direito de todo cidadão a ser
Chegávamos, assim, ao final medidas, a nacionalização dos candidato, além de tantas outras
de uma disputa – que se estendia setores estratégicos da nossa eco- medidas de interesse popular, vi-
há anos – entre dois programas nomia; reforma agrária; reforma sando o desenvolvimento de um
para o Brasil. urbana – com o controle dos alu- capitalismo nacional, cuja inde-
Um programa de desenvolvi- guéis; taxação das grandes for- pendência implicava também – e
mento nacional independente, tunas; controle das remessas de de modo indispensável – o direi-
fundado na distribuição de ren- lucro pelas empresas estrangei- to de escolher parceiros interna-
da – encabeçado pelo presidente ras para as sua sedes no exterior; cionais para as suas trocas, para
João Goulart – o Jango; e um pro- desenvolvimento da pesquisa e além daqueles “permitidos” por
grama de desenvolvimento na- tecnologia nacionais, o que vi- Washington e o grande capital
cional subordinado ao grande ca- sava o não pagamento de royal- internacional. Ou seja, negociar
pital internacional e à geopolítica ties ao capital internacional e o e manter laços econômicos, polí-
dos Estados Unidos, fundado na uso de tecnologias adequadas ao ticos e de amizade com os países
concentração de renda – defendi- nosso desenvolvimento social; socialistas e do Bloco dos Não-
do pelos golpistas. um salário mínimo calculado a -Alinhados.
investigação operária
Este programa envolvia dife- nia diferentes projetos. As ques- Adido Militar de Washington em
rentes projetos, partilhados pelos tões mais agudas que os unificava nosso país – senhor Vernon Wal-
trabalhistas (então representados era a defesa (que todos faziam) da ters, foi encarregado de articular
pelo Partido Trabalhista Brasi- subordinação absoluta dos inte- os militares brasileiros para o gol-
leiro – o PTB, partido do presi- resses do Brasil à geopolítica dos pe, e deu a palavra final para a in-
dente Goulart); por nacionalistas Estados Unidos e às estratégias dicação do marechal Humberto de
em geral; por setores da demo- do grande capital internacional, Alencar Castello Branco na con-
cracia-cristã; setores socialis- utilizando-se para isto da histeria dição de primeiro presidente do
tas; e mesmo pelo PCB – Partido anticomunista própria da guerra- novo regime, imposto pelo golpe.
Comunista Brasileiro, ainda que -fria e, junto com isto, promover O resultado de tudo isto, co-
este último mantivesse durante um desenvolvimento fundado na nhecemos muito bem: está em
todo o tempo uma postura am- mais dura concentração de rendas todas as dificuldades do Brasil
bígua com relação ao Governo. – na super exploração dos traba- que temos hoje. Para resumir,
Além dos partidos, o programa lhadores e do povo, o que impli- basta lembrarmos que – de acor-
de Reformas de Base encontra- cava, além do arrocho salarial, a do com o DIEESE – o salário mí-
va apoio no movimento sindi- perda de muitos direitos (sociais nimo atual (outubro de 2014), de
cal urbano e rural, nas entidades e políticos) já conquistados – ou R$ 724,00, para ter o mesmo po-
estudantis, e numa série de mo- em vias de serem conquistados – der de compra de uma cesta bá-
vimentos e organizações de tra- pela classe trabalhadora. Como sica semelhante àquela proposta
balhadores e do povo (povo = ex- apenas um dentre muitos exem- pelas Reformas de Base, deveria
plorados e oprimidos), além de plos, citamos a questão da estabi- ser de R$ 2.976,00.
setores nacionalistas e legalistas lidade no emprego. Os golpistas É importante lembrar que o
das Forças Armadas, e dos seto- tinham sua vanguarda política na presidente Goulart o único caso
res progressistas do capital na- UDN – União Democrática Na- em nossa história, de um presiden-
cional – a chamada burguesia na- cional (principal partido de direi- te que foi eleito duas vezes para o
cional progressista. O tamanho ta, entreguista e verdadeiro braço mesmo mandato. Explicamos:
e poder desse setor da burgue- político de Washington em nosso naquele então, o sistema eleitoral
sia minguaram desde o Governo país); o Partido Libertador (PL), brasileiro permitia que o cidadão
Juscelino Kubitscheck, quando os setores mais conservadores do votasse no presidente de uma cha-
muitos capitais nacionais, inves- Partido Social Democrata (PSD) pa, e no vice de outra. Assim, no
tidos em atividades subsidiárias e da Democracia Cristã; a mais pleito de outubro de 1960, o resul-
das grandes plantas industriais alta cúpula da Igreja Católica e o tado foi a eleição de Jânio Qua-
estrangeiras (sobretudo no setor Estado do Vaticano; as grandes dros, cabeça da chapa da direita
de autopeças e no setor quími- empresas internacionais que aqui mais conservadora (União Demo-
co-farmacêutico), acabaram por funcionavam e suas subsidiárias; crática Nacional, Partido Traba-
atrelar seus interesses àqueles do o latifúndio; a Escola Superior de lhista Nacional, Partido Liberta-
grande capital internacional. Guerra e seus discípulos; e o Go- dor, Partido Democrata Cristão e o
verno estadunidense e suas agên- Partido Republicano) e, para vice,
o programa dos golpis- cias de inteligência (CIA, FBI, o vice da outra chapa, encabeçada
tas, por sua vez, ia totalmente à etc.). Neste sentido, vale lembrar pelo marechal Henrique Teixeira
contramão do que propunham o que o embaixador dos EUA no Lott: João Goulart. A chapa Lott-
Governo Goulart e seus aliados. Brasil naquela ocasião, senhor -Goulart tinha o apoio do PTB e
Como as Reformas do presiden- Lincoln Gordon, além de diplo- do PSD, além de imensa popula-
te, o programa dos golpistas reu- mata era funcionário da CIA, e o ridade entre os trabalhadores e o
Capítulo 1
a DITaDuRa mILITaR DE 1964-1985
investigação operária
zação dos mais pobres, dos mais dividida em classes – está for- nosso terreno principal de dispu-
fracos – a presença do Estado nos matado sob a hegemonia da clas- ta de interesses de classe: ruas,
bairros populares se faz quase que se dominante, o grande capital. praças, avenidas, estradas e, so-
unicamente através das PMs, tro- Sim, foram seus representantes, bretudo, nossos locais de traba-
pas de choque, policiais e militares. a força majoritária na Constituin- lho, de moradia e outros espaços
Sem dúvida alguma, não te- te que deu à luz a Carta de 1988. que reúnam trabalhadores e de-
mos o Estado terrorista dos anos Ainda assim, emplacamos mui- mais camadas populares.
da ditadura – tanto assim, que tas conquistas. Sem organizações indepen-
nos permitimos escrever e pu- O problema é que, lutar ape- dentes e autônomas da classe tra-
blicar este texto, o que antes era nas no interior das instituições é balhadora e do povo, dificilmen-
impensável. Ou seja, muitas con- – como fica claro – escolher o ter- te seremos capazes de garantir as
quistas fizemos – e importantes, reno onde o inimigo é mais for- conquistas feitas, e menos ainda
e devemos zelar para não retro- te, como nosso principal (ou até avançar rumo a tanta coisa ainda
cedermos. Mas não dá para dizer exclusivo) campo de disputa, só a ser feita.
que está tudo bem. nos levará a derrotas e asfixia. Só seremos sujeito político, se
Não nos basta intervir nas ins- Sem em momento algum subes- formos um sujeito coletivo.
tâncias do Estado, uma vez que timar essa luta institucional, é in- E só seremos um sujeito cole-
este – como em toda sociedade dispensável que fortaleçamos o tivo, se estivermos organizados.
Vamos juntos.
Capítulo 1
A ditadura militar de 1964-1985
contexto político e
antecedentes históricos
E
ste livro narra a luta dos tra- ência democrática de massas no ta política. Os que tiraram Vargas
balhadores metalúrgicos de Brasil, revelam a dimensão da do poder não se conformam com
São Paulo contra a aliança en- disputa de projetos que dividia a a dinâmica da vida democrática.
tre militares, empresários e pele- sociedade brasileira. Tentam impedir a posse do pre-
gos para aumentar a exploração Desde pelo menos o suicídio sidente eleito, Juscelino Kubits-
do operariado brasileiro. É fun- de Getúlio Vargas, em 1954, as chek, e fazem as rebeliões milita-
damental, inicialmente, apresen- classes dominantes desejavam res de Jacareacanga e Aragarças.
tar a contextualização histórica atacar a democracia, com o obje- São anistiados, mas em 1961,
e política sobre o regime militar tivo de não perder o controle das com a renúncia de Jânio, ten-
instalado em 1964, que não sur- mudanças em curso no Brasil, tam impedir a posse do vice João
giu da noite para o dia, tampouco que se modernizava rapidamen- Goulart. A direita quer assumir
se deu como acaso ou fato sem te, com novas indústrias e cresci- o governo a partir de uma inter-
consequências. Pelo contrário, mento das cidades. Da década de venção militar. Dez anos depois
foi o resultado de uma soma de 30 ao final da década de 60, o Bra- do suicídio de Vargas, e de várias
conflitos políticos e sociais. sil deixa de ser um país esmaga- tentativas, o golpe deu certo.
A partir do final da Segunda doramente rural para ter mais de A ditadura consolidou uma
Guerra Mundial, em 1945, o ca- 60% da população nas cidades. modernização capitalista con-
pitalismo internacional busca- A partir da chamada “Revolução servadora, vinculada aos inte-
va articular, em conjunto com as de 30”, em que Getúlio Vargas resses do capital internacional,
elites brasileiras, um projeto para fica 15 anos no poder, passando sem nenhum aspecto democráti-
o Brasil. As sucessivas tentati- pelo fim da Segunda Guerra, e o co ou popular. Ela selou um ciclo
vas de golpe ensaiadas de 1954 a intervalo democrático até 1964, de disputas políticas que ocor-
1964, durante a primeira experi- o Brasil vive uma intensa dispu- riam no Brasil desde a década
investigação operária
Capítulo 1
A ditadura militar de 1964-1985
investigação operária
Capítulo 1
A ditadura militar de 1964-1985
dos EUA. Mais organizadas, com no Brasil, de intensa industriali- lário e salário-família. Em 1962,
recursos muito superiores e forte zação e urbanização. surge o Comando Geral dos Tra-
apoio estrangeiro, reuniam gran- A polarização entre os dois balhadores (CGT), semelhante a
des negócios modernos (bancos, blocos representou uma disputa uma central sindical (ver box p. 8).
indústrias, redes comerciais), a de quase duas décadas. De 1945 É preciso destacar que a partir
velha oligarquia agrária, grupos a 1964 houve intensa discussão de 1955 até o momento do golpe
de ultradireita, oficialidade das sobre qual era o modelo político militar havia uma efervescência
Forças Armadas e hierarquia da econômico que o Brasil deveria cultural e política que favoreceu
Igreja Católica, além de significa- adotar. Durante 20 anos, ocorre- e mobilizou o bloco nacionalista.
tivo apoio da classe média e rela- ram centenas de greves, dezenas O futuro do País era discutido em
tiva presença nos meios operários. de congressos e conferências de praças públicas, fábricas, campo
As duas frentes eram uma res- operários e camponeses. A classe e universidades.
posta das diferentes classes so- operária conquistou aumentos sa- No início dos anos 1960, o
ciais à realidade que se formava lariais e benefícios, como 13º sa- chamado bloco nacionalista sin-
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Capítulo 1
A ditadura militar de 1964-1985
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Capítulo 1
A ditadura militar de 1964-1985
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A ditadura militar de 1964-1985
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Capítulo 1
A ditadura militar de 1964-1985
o desemprego. Paralelamente, as
insatisfações populares aumenta- Greves de Em julho, houve a greve de
Osasco. Nela apareceram novas
vam e o ano de 1968 marca nova Contagem e
formas de organização, que dei-
encruzilhada. As manifestações Osasco xaram a direita assustada: surgem
de rua se intensificavam, com pas- as comissões de fábrica, ao lado da
Contagem é cidade próxima a
seatas de estudantes e adesão de conquista do Sindicato dos Meta-
Belo Horizonte e um dos principais
intelectuais e setores das clas- lúrgicos de Osasco pelos trabalha-
centros industriais do Estado. Em
ses médias. Multiplicavam-se os dores combativos, que derrotaram
março de 1968, 2 mil trabalhadores
protestos contra a política econô- os interventores no ano anterior. A
marcaram presença no ato contra
mica, censura e ditadura. As pas- greve de Osasco trouxe novos ti-
o aumento do custo de vida. Em
seatas cresciam durante o ano: pos de lutas, que marcaram o mo-
16 de abril do mesmo ano, a greve
20 mil, 50 mil, 100 mil pessoas vimento operário brasileiro; entre
explodiu e mais de mil operários da
nas ruas, cada vez mais radica- eles, a ocupação da fábrica e deten-
Belgo-Mineira cruzaram os braços,
lizadas. ção da diretoria dentro da empre-
exigindo 25% de aumento, contra
No meio do ano soou um sinal sa. Havia ainda a proximidade, em
os 10% “concedidos” pelos patrões.
de alarme, pois os trabalhadores Osasco, entre estudantes e operá-
A greve se expandiu, atingindo 20
mostraram que estavam em movi- rios. Diversas lideranças operárias
mil trabalhadores metalúrgicos. A
mento contra a ditadura, em atos eram estudantes secundaristas que
ditadura direcionou a Contagem
de oposição ao aumento do custo participavam, simultaneamente,
uma brutal repressão, com força
de vida e greves operárias, inicia- da organização sindical e da orga-
policial, prisões, intervenção no sin-
tivas rigorosamente proibidas. A nização estudantil, no Centro de
dicato, demissões sumárias e proi-
rebeldia chegava aonde mais in- Estudantes de Osasco – CEO. Mais
bição de aglomerações. O movi-
comodava o capital: a produção ainda: havia aqueles que participa-
mento resistiu poucos dias, e então
da riqueza. Primeiramente, houve vam de organizações políticas de
foi duramente reprimido.
greve em Contagem, Minas Ge- esquerda. Distintas correntes, sur-
Osasco é município vizinho à ca-
rais, e uma vã tentativa de abafar gidas no final da década de 1960,
pital paulista, faz parte da Grande
a sua propagação, haja vista que, criticavam a política nacionalista e
São Paulo e possuía nos anos 1960
em seguida, em Osasco, São Pau- conciliadora do PCB e buscavam
enorme concentração operária e
lo, surge um movimento ainda meios radicais de enfrentamento,
metalúrgica. A greve de 1968 foi
mais radical (ver box). como a guerrilha urbana e rural.
precedida pelo ato do 1º de Maio
A conjuntura política nacio- A greve de Osasco se transfor-
na Sé, promovido pelos sindicalis-
nal piorava para o regime e, além mou no ponto alto da luta operá-
tas interventores, com consenti-
disso, havia divisões no agrupa- ria em 1968. O movimento, que se
mento e presença do governador
mento conservador. Empresários inicia no dia 16 de julho, quando 3
Abreu Sodré, mas operários e mi-
e políticos próximos aos milita- mil operários ocupam a empresa
litantes de base se revoltaram con-
res manifestavam descontenta- Cobrasma, foi preparado durante
tra os pelegos que discursavam.
mento com a política econômica anos. Desde 1965, os trabalhado-
Primeiramente, com vaias e depois
recessiva. Organizações empre- res que faziam oposição aos inter-
atirando objetos, os trabalhado-
sariais criticavam cada vez mais ventores nomeados pela ditadura
res impediram a continuidade dos
fortemente a equipe econômica e organizaram uma Comissão de
discursos oficiais, mostrando a in-
parlamentares faziam ataques e Fábrica na Cobrasma. A Comissão
satisfação da classe trabalhadora
denuncias à ditadura. desenvolvia um trabalho cotidia-
contra o arrocho e o desemprego, e
Mas a evolução da crise foi no na empresa, passando em cada
enfrentando a violência policial.
mais rápida do que a organiza-
continua
investigação operária
Capítulo 1
A ditadura militar de 1964-1985
investigação operária
Capítulo 1
A ditadura militar de 1964-1985
investigação operária
Capítulo 1
A ditadura militar de 1964-1985
56
investigação operária
Capítulo 2
O SINDICaTO, a OPOSIçãO E aS ELEIçõES
O SINDICATO,
A OPOSIÇÃO
E AS ELEIÇÕES
investigação operária
Capítulo 2
O SINDICaTO, a OPOSIçãO E aS ELEIçõES
O
processo da industrialização econômica, social e política de ramo industrial de importância
brasileira desenvolveu-se por grande relevo. estratégica. Socialmente, de todas
aproximadamente seis déca- Economicamente, o diversi- as categorias operárias, foram os
das, dos anos 30 aos anos 80 do ficado parque industrial meta- metalúrgicos os que promoveram
século passado. Neste decurso, do lúrgico de São Paulo abastecia a a “proletarização” do trabalhador
final da década de 1950 a meados indústria brasileira de peças, má- brasileiro de forma mais massiva,
dos anos 1980, os metalúrgicos de quinas, equipamentos, insumos, profunda e consequente, incorpo-
São Paulo cumpriram uma função configurando-se, portanto, como rando trabalhadores rurais, mi-
investigação operária
grantes, peões da construção civil, vos à organização das Comissões ca era constituída por jovens com
mulheres, jovens. Tratou-se de de Fábrica, ao piquete de greve, à idade entre 14 e 18 anos que, por
uma verdadeira “educação para a solidariedade operária. O Sindi- serem em sua maioria considera-
classe” e “para a modernidade”, cato mantém-se sob o controle da dos “aprendizes”, recebiam salá-
no tempo e com as feições da rea- burocracia, mas isto não impede rios 50% menores do que os adul-
lidade brasileira. Finalmente, po- que a Oposição tenha uma parti- tos. Cerca de 8% eram mulheres,
liticamente o movimento operá- cipação significativa na recons- que também recebiam salários
rio foi, cada vez mais fortemente trução do sindicalismo brasileiro mais baixos. Em 1958, 80,5% da
a partir de 1953, influenciado pela combativo e classista. categoria recebia no máximo 1,62
liderança do Sindicato dos Me- Em 1950, os metalúrgicos salários-mínimos mensais. Até o
talúrgicos de São Paulo. Essa in- eram 77.579 na cidade de São final dos anos 1950, as fábricas
fluência pode ser diferenciada em Paulo. Este número mais do que onde esse grande grupo humano
três períodos: dobrou em dez anos, chegando labutava ainda estavam concen-
- De 1953 a 1964: hegemonia a 160.950 em 1960. Vivia-se o tradas nos velhos bairros operá-
dos socialistas e comunistas na di- tempo de um crescimento indus- rios: Brás Mooca, Belém, porém,
reção do Sindicato. Construção trial massivo, que iria prolongar- começavam a se espalhar cada
de Comissões de Fábrica, valori- -se até os anos 1980, e a indústria vez mais pelos quatro cantos da
zação dos delegados sindicais, or- metalúrgica liderava o processo, metrópole.
ganização de greves da categoria ultrapassando a têxtil em número Foi sob um processo de mobi-
e greves gerais, apoio político às de operários, estabelecimentos e lização contínuo de 1953 a 1964
reformas de base e aos projetos produção industrial. Esse cres- – tendo seus momentos culmi-
nacionalistas. O Sindicato desem- cimento deveu-se à nova fase da nantes nas greves dos 300 mil em
penhou função importante na or- industrialização brasileira im- 1953, dos 400 mil em 1957 e dos
ganização da classe operária e no pulsionada pelo Plano de Metas 700 mil em 1963 – que o sindica-
desenvolvimento de suas lutas. do Governo JK, que privilegiou a lismo metalúrgico definiu um per-
- De 1964 a 1978: tomada do produção de máquinas, bens du- fil político classista e combativo.
Sindicato pela burocracia ligada ráveis e veículos a motor. A aliança entre PSB e PCB na di-
ao Ministério do Trabalho, à di- Esses 160.950 metalúrgicos reção do Sindicato, representada
tadura civil/militar, ao sindicalis- estavam espalhados por 3.606 por Remo Forli e José de Araújo
mo norte-americano, aos Círcu- empresas, a maior parte deles Plácido, e a posterior conquista da
los Operários da Igreja Católica (82,4%) em empresas de porte pe- presidência por Afonso Delellis,
e ao empresariado. Delação dos queno e médio (até 49 emprega- do PCB, garantiram a orientação
delegados sindicais, fechamento dos). Vieram do interior do Esta- de classe. Não se tratava, porém,
de subsedes, bloqueio às greves do e também de outros Estados, de uma perspectiva revolucio-
e à solidariedade de classe, apoio principalmente Bahia, Minas Ge- nária ou de ruptura com o proje-
à ditadura. O Sindicato desempe- rais, Pernambuco e Alagoas. Em to nacional-desenvolvimentista,
nhou função importante na con- sua maioria, eram trabalhadores mas influenciar esse projeto com
tenção da classe, na desorganiza- semiespecializados, que apren- as pautas da classe operária.
ção das lutas, na liquidação das diam o ofício na prática, ensina- Em 12 de setembro de 1963,
lideranças. do por colegas de trabalho, ou o presidente do Sindicato dos
- De 1978 a 1987: a Oposição faziam cursos rápidos, de menos Metalúrgicos, Afonso Delellis e
Metalúrgica se fortalece, promo- de um ano de duração em escolas o vice, José de Araújo Plácido,
ve greves, organiza os trabalhado- técnicas. Quase 10% da força de foram presos por determinação
res, retoma e confere novos objeti- trabalho na indústria metalúrgi- do II Exército, sob a acusação
Capítulo 2
O SINDICaTO, a OPOSIçãO E aS ELEIçõES
de terem apoiado a rebelião dos de Arnaldo José França Mazzei sucesso, conquistar o Sindica-
sargentos deflagrada em Brasí- Nogueira, as características do to para seu projeto. Após 1964,
lia. Apenas em janeiro de 1964 setor metalúrgico no município aquela antiga oposição recebeu o
voltaram a assumir a direção do de São Paulo dificultaram a cons- Sindicato dos militares e o man-
Sindicato. Em abril de 1964, o trução da identidade de classe e teve como o bastião mais impor-
Sindicato dos Metalúrgicos so- da unidade de organização e de tante do projeto de moderniza-
freu intervenção, permanecendo ação dos metalúrgicos. A disper- ção conservadora da ditadura no
por dez dias ocupado por agen- são industrial em grande exten- meio operário brasileiro.
tes do DOPS. Foram demitidos são territorial, o equilíbrio entre A Oposição Sindical Metalúr-
advogados, médicos, auxiliares e pequenas e médias empresas, a gica do pós-1964, por sua vez,
funcionários. No dia 10 de abril, diversidade de padrões tecnoló- representou uma retomada e ao
tomou posse a Junta Intervento- gicos, de gestão e organização do mesmo tempo uma negação do
ra liderada pelo assessor jurídico trabalho são fatores que confe- sindicalismo combativo dos anos
da DRT, Breno de Oliveira Ma- riram diferenciação e heteroge- anteriores ao golpe. Retomada
chado, e em 1965 foram realiza- neidade aos metalúrgicos, difi- porque a experiência da organiza-
das eleições. Joaquim dos Santos cultando sua identidade de classe ção nas fábricas, dos piquetes, das
Andrade (Joaquinzão) tornou-se e ações unitárias (NOGUEIRA, greves, das assembleias massivas,
presidente, sendo eleito em cha- 1997, P. 63). O Sindicato, con- estava entranhada em militantes e
pa única e voltou a eleger-se su- duzido pela burocracia ministe- na memória do período anterior.
cessivamente até 1984. rialista, não cumpriu a função de Negação porque os sujeitos e os
Em 1967, a oposição metalúr- compensar estas determinações projetos políticos eram outros. Os
gica se organizou para concor- estruturais: ao contrário, seu pro- militantes ligados à Pastoral Ope-
rer às eleições, lançando a Cha- jeto assistencialista, autoritário e rária passarão a ter um peso im-
pa Verde, liderada por Waldemar desmobilizador alimentava-se e portante, e suas ideias, conheci-
Rossi. Também concorreu con- fortalecia-se com a dispersão e a mento e técnicas de organização
tra a Chapa Azul, de Joaquinzão, heterogeneidade da categoria. pela base influenciarão fortemen-
a Chapa Amarela, liderada por Pode-se afirmar que antes te os destinos do novo movimen-
Santo Rizzo. A Oposição Sindi- de 1964, o movimento operário to metalúrgico. A esquerda crítica
cal em 1967 era constituída por paulistano foi dirigido por uma ao PCB e ao nacionalismo tam-
uma tendência ligada à Pastoral articulação entre três categorias bém terá participação destacada,
Operária e à Juventude Operária principais: metalúrgicos, têxteis fortalecendo as concepções de in-
Católica, por grupos de esquer- e gráficos, cabendo aos primei- dependência de classe.
da, por sindicalistas contrários à ros um papel de liderança a par- A aliança entre governo mi-
diretoria do sindicato e sindica- tir de 1957, aproximadamente. litar e sindicalismo pelego blo-
listas ligados ao PCB. O Sindicato dos Metalúrgicos ti- queou uma organização e ação
Os metalúrgicos de São Pau- nha função ativa nessa constru- de classe mais decisiva por par-
lo mantiveram e até ampliaram ção, permanecendo, de 1953 a te dos metalúrgicos de São Pau-
sua presença no total do pessoal 1964, sob a direção de comunis- lo, mas não impediu que a oposi-
ocupado na indústria no municí- tas, socialistas e nacionalistas. ção ativasse um forte movimento
pio de São Paulo durante os anos Na oposição, os velhos “minis- que manteve toda uma cama-
de chumbo da ditadura. Em 1980 terialistas”, os católicos conser- da dos metalúrgicos ligados aos
eram 387.813 trabalhadores, re- vadores dos Círculos Operários, passos das mudanças políticas e
presentando 40% do pessoal os admiradores do sindicalismo da construção de um novo sindi-
ocupado. Como revela o estudo norte-americano tentavam, sem calismo nos anos 1970 e 1980.
investigação operária
O SINDICATO
Capítulo 2
O SINDICaTO, a OPOSIçãO E aS ELEIçõES
A
ntes de 1964, o Sindica-
to dos Metalúrgicos de São
Paulo exercia intensa e sig-
nificativa liderança no operaria-
do paulistano. A partir dos anos
50, os metalúrgicos passaram a
ter papel de liderança, além de
exemplo de representatividade
e combatividade do movimento
sindical do principal polo indus-
trial brasileiro, até então exer-
cido por marceneiros, têxteis e
gráficos. Afonso Delellis, presi-
dente do Sindicato, cassado pelo
golpe militar em 1964, afirma-
va que “existiam 1600 delega-
dos sindicais metalúrgicos, com
cerca de 400 participando ativa-
mente das assembleias, da vida
do Sindicato”.
De 1951 a 1963, foram 12 gran-
des campanhas salariais organiza-
das pelo Sindicato dos Metalúrgi-
cos. Em sete delas (1951; 1953;
1954; 1957; 1960; 1962; 1963), as
lutas por melhores salários assu-
miram a forma de greves da cate-
goria. O Sindicato, ao lado de ou-
tras categorias, organizará quatro
greves gerais (1953; 1954; 1957;
1963). Em 1961, os metalúrgi-
cos cumpriram papel de destaque
JORNAL DO SINDICATO deFende CuBa e ConVoCa
na organização e mobilização da reunião reGuLar dos ConseLHos sindiCais de
Greve da Legalidade. empresa. dezemBro de 1963.
Nos 20 anos de intervalo entre aCerVo Centro de memória sindiCaL
investigação operária
Capítulo 2
O Sindicato, a Oposição e as eleições
investigação operária
e aos direitos e na superexplora- mais minuciosa que fosse. O período democrático de 1946-
ção da força de trabalho. tratamento dado pelas chefias, 1964, que assegurou os níveis
Cabe lembrar que a fabrica a posição da “chapeira” com os mais elevados do salário mínimo
“fordista” sempre foi um espaço cartões de ponto, mais próxima real em toda a história (apesar
de disputa, o “laboratório secre- do portão de entrada ou da se- de módicos, mesmo assim) e os
to da produção”, onde a jorna- ção do operário, a segurança e coeficientes de Gini de desigual-
da tem de render o máximo em a salubridade, os mecanismos dade social mais baixos, cons-
quantidade de horas e intensida- formais e informais de controle, tituindo o lastro efetivamente
de do trabalho realizado. Desen- todas estas características defi- popular do populismo, esta foi
volve-se diariamente um con- niam os regimes fabris “de fato”, a meta sócioeconômica mais
flito entre o poder disciplinador e foi isto o que mudou significa- importante visada pela ditadura
dos patrões, que se exerce pelas tivamente com o golpe de 1964. civil-militar. O novo regime fabril
chefias, e a resistência aberta Não que antes de 1964 o re- permitiu contabilizar as maiores
ou difusa dos operários, visando gime nas indústrias fosse de- taxas de mark-up do mundo à
impor limites à exploração e ao mocrático ou mais humano. A época, como demonstra Edmil-
despotismo, assegurar direitos extensão do poder patronal, son Costa no livro citado, e para
previstos em lei, inventar “novos dentro e fora do espaço da fá- tanto foi necessário, entre outras
direitos”, organizar-se, circular brica, porém, era, sem dúvida, coisas, prolongar brutalmente
no espaço da fábrica. A conquis- menor. As oficinas realizadas as jornadas de trabalho para 12
ta das leis trabalhistas, desde a pela Investigação Operária, com horas diárias em quase todas as
década de 1920, significou uma a apresentação de dezenas de fábricas de São Paulo, neutra-
primeira “invasão” do território depoimentos de metalúrgicos lizar reações ao incremento da
privado pelo princípio público, e metalúrgicas, foram funda- quantidade de mortos e mutila-
com a defesa do trabalhador por mentais para uma reconstitui- dos por acidentes de trabalho.
meio de garantias dadas pelo Es- ção detalhada das novas formas As páginas deste livro contri-
tado. As leis trabalhistas fizeram de controle social estabelecidas buem para aprofundar a visão
entrar na disputa entre patrões e após 1964, permitindo uma vi- que temos sobre os embates e
empregados um terceiro agen- são mais nítida e em profundida- antagonismos que se proces-
te, o Estado, mas não alteraram de do que foi, verdadeiramente, savam na ditadura civil-militar.
estruturalmente a natureza do a base sócioeconômica do novo Passamos da esfera da resistên-
conflito fabril. Tratava-se, agora, “bloco de poder”. cia política e cultural, onde vía-
de “interpretar” a lei, de “usá-la Pode-se concluir que, embora mos jovens guerrilheiros e ato-
a nosso favor”. Dirigentes ope- delatores, listas negras, repres- res libertários duelando contra
rários e patronais não podiam, são, aliança entre empresários e a repressão política e a censura,
depois da CLT, exercer suas fun- polícia fossem elementos pree- à esfera sócioeconômica, onde
ções sem a assessoria de um xistentes à ditadura civil/militar, encontramos operários resistin-
advogado, sem a formação, no sua articulação, capilarização, do a serem consumidos até a
caso dos operários, de grupos de militarização, produziram um última gota de energia vital pelo
base conhecedores das leis. Mas fenômeno novo, um novo re- apetite do capital protegido e
o conflito fabril ia muito além gime fabril. Quebrar a rede de associado ao autoritarismo dos
dos conteúdos que podiam ser organização operária constru- militares.
regulamentados pela lei, por ída passo a passo, dia a dia, no Murilo Leal
Capítulo 2
O Sindicato, a Oposição e as eleições
investigação operária
Capítulo 2
O Sindicato, a Oposição e as eleições
Serão essenciais na organização Essa característica da OSM- zações clandestinas. Foram assas-
dos movimentos populares por -SP demonstra que foi uma ex- sinados em momentos diferentes:
saneamento, transporte, saúde, periência inovadora e única no Olavo Hanssen em 1970, Luiz Hi-
que marcarão a década de 80. movimento operário e sindical rata em 1971, Manoel Fiel Filho
A terceira fonte que alimentou brasileiro. O desafio para os mi- em 1976, e Santo Dias em 1979.
a militância da OSM-SP foram litantes da OSM-SP era construir As mortes foram eventos centrais
os trabalhadores que desperta- um organismo de intervenção na construção da resistência da so-
ram para a luta diretamente pela autônoma, com enraizamento de lidariedade e da energia militante
questão fabril ou sindical. Eram base nas fábricas, capaz de res- da Oposição Metalúrgica.
operários que tomaram consci- gatar e reelaborar princípios e Nos anos que vão da ressaca
ência da necessidade de se orga- orientações políticas inspiradas do AI-5, 13 dezembro de 1968,
nizar e combater o capital, a di- no pensamento e na experiência até a explosão de lutas em 1978,
tadura e seus aliados na direção do movimento revolucionário se consolida a organicidade da
sindical, a partir de problemas dos trabalhadores. OSM-SP, período muito fértil de
cotidianos na fábrica: vítimas de As teses e polêmicas sobre o discussões, enfrentamentos, de-
acidentes de trabalho; do ritmo caráter da revolução no Brasil, finições que serão influenciadas
da produção e do ambiente asfi- entre outras discussões dos gru- por uma pluralidade de referên-
xiante, das péssimas condições pos de esquerda, estavam pre- cias. Sempre com muita crítica
de trabalho, o não cumprimento sentes nas conversas da direção ao chamado socialismo real, a es-
de direitos previstos em lei. Os da Oposição Sindical Metalúrgi- trutura sindical e uma visão mui-
patrões se aproveitavam da situ- ca. Essas se combinavam com a to classista de não conciliar com
ação e escorchavam ao máximo. luta cotidiana contra a delação do as correntes políticas burguesas.
A prática da OSM-SP foi aglu- Sindicato dirigido pelos ex-in- Eram, por definição, militantes
tinar toda a pluralidade de grupos e terventores, contra a exploração do sindicalismo e revolucioná-
concepções de esquerda que exis- dos patrões, enfim, com a luta rios socialistas. Isso é válido in-
tiam na categoria metalúrgica, em para organizar a classe operária clusive para os de origem cristã.
consequência de seu método de para a luta contra o capitalismo. Parte desse processo de ela-
organização, amplamente demo- Na OSM-SP conviveram, ao borações rumo a uma concepção
crático. Havia trabalho de base longo dos anos, militantes de sindical própria foi alimentada
com operários que começavam a praticamente todas as organi- pela influência de diversos pro-
se unir às suas bandeiras, assem- zações de esquerda existentes. cessos de luta dos trabalhadores
bleias nas quais os trabalhadores Umas de forma mais fugaz, bus- que estavam ocorrendo na Euro-
decidiam todas as ações e inicia- cando fazer entrismo, outras não pa e na América Latina. A década
tivas do grupo: se defenderiam se submetendo à democracia in- de 1970 viu os operários italianos
uma greve, como participariam terna, ou se retirando para cons- criarem fortíssimas experiências
da campanha salarial, como mon- truir força própria na categoria, o de luta operária com ocupações
tariam uma chapa para as eleições que nenhuma conseguiu de ma- de fábrica, sobretudo com a cria-
sindicais ou qual seria o programa neira consistente. ção de organismos autônomos de
da chapa. Nenhuma organização Vivenciaram-se as consequ- luta, recuperando a tradição dos
conseguia ter força para direcio- ências mais trágicas do regime – Conselhos de Fábrica de Turim
nar e dirigir, isoladamente, a luta prisões, torturas e assassinatos. dos anos 1920. O exemplo italia-
dos trabalhadores metalúrgicos. Todos os quatro assassinados da no, suas lutas e suas discussões te-
Todos contribuíam e aceitavam as OSM-SP tinham ligações mais óricas, tiveram influência decisi-
contribuições alheias. ou menos orgânicas com organi- va nos seus debates e definições.
investigação operária
Capítulo 2
O Sindicato, a Oposição e as eleições
As eleições para
o Sindicato dos
Metalúrgicos de
São Paulo entre
1967 e 1993 grande onda de perseguições, tos Andrade, com mais de 50%
intervenções e prisões do golpe dos votos, numa eleição sem
Apesar de a OSM-SP se carac- tinha passado. O grupo da OSM- qualquer democracia, com os
terizar como um movimento que -SP resolveu arriscar. O maior aliados dos militares, todos ex-
priorizava o trabalho de base nas mérito dessa iniciativa foi rearti- -interventores, ditando todas as
fábricas, e não só a conquista do cular forças que estavam disper- regras do pleito. Mas a derro-
Sindicato, as eleições ajudam a re- sas, que combatiam a ditadura e ta não significou a desarticula-
construir a cronologia do sindica- sua política de arrocho salarial. ção da Oposição. Pelo contrá-
lismo metalúrgico de São Paulo. O resultado eleitoral confir- rio, após o primeiro pleito alguns
A primeira chapa montada mou a vitória dos interventores operários seguiram se reunindo
pela OSM-SP foi em 1967. A liderados por Joaquim dos San- para aprofundar suas concepções
investigação operária
e propostas políticas, que ainda tico. Não havia como acompa- com a chapa de oposição por-
apresentavam um grau genérico. nhar a eleição. Nessa época as di- que algum tempo antes a grande
As eleições seguintes ocor- retorias pelegas se preocupavam maioria do pessoal que iria com-
rem no ano de 1969 e nessa dis- em impedir o registro de chapas por a chapa de oposição contra o
puta a OSM-SP não monta uma de oposição e garantir o quórum Joaquinzão tinha sido presa. Na
chapa. Estavam cautelosos com para validar o processo eleitoral. época, se exigia atestado ideoló-
a repressão que recrudescia. Os O resultado do pleito era procla- gico para concorrer ao Sindica-
pelegos, por outro lado, começa- mado. Por sua parte, as eleições to. Obviamente quem tinha saído
vam a se consolidar, legitimados não motivavam os trabalhadores. da prisão encontrava um proble-
pelas eleições de 67 e se benefi- O resultado eleitoral não refletia ma, então não conseguimos fa-
ciando da recuperação econômi- o trabalho da Oposição. Era um zer a chapa de 1975. Mas nessa
ca do País que permitia negociar trabalho em condições dificíli- época começamos a fazer as ar-
algumas concessões aos traba- mas. O colégio eleitoral também ticulações entre as fábricas, para
lhadores. refletia as mudanças no Sindica- trocar experiências, pensar lutas
A ditadura militar muda o es- to e a relação com a base. comuns. A gente usava um mé-
tatuto dos sindicatos e o mandato Havia uma base de apoio dos todo que eu gostava muito, per-
das diretorias passa a ser de três pelegos nos sindicalizados que guntando para os companheiros
anos. A eleição seguinte só ocor- necessitavam dos serviços do como está sua fábrica, com quan-
rerá no ano de 1972. Sindicato. A OSM-SP avalia que tas pessoas conseguiu conversar,
A chapa de 1972 mostra clara- necessita fazer um trabalho mais que tipo de discussão vocês têm
mente as três raízes de militantes consistente na base, organizar lá dentro, que tipo de problemas,
da oposição: os de origem cristã, nos bairros e ter uma base orga- estão pensando em fazer alguma
militantes de organizações po- nizada nas fábricas. Esse traba- coisa? O início das reuniões In-
líticas e vanguarda das fábricas lho subterrâneo brotará em 1978. terfábricas coincide com o final
– sendo que uma caracterização Em 1975, não há chapa de opo- de 1974, 1975. Na Interfábrica
não exclui a outra. O programa sição. Um ano antes, em 1974, da Zona Sul, as pessoas de várias
da chapa já era mais consisten- dezenas dos principais militantes fábricas diferentes da região co-
te do que de 1967, refletindo os da OSM-SP tinham sido presos, meçam a sentar para discutir ex-
avanços da reflexão entre os mi- o que desarticulou o trabalho nas periências e elas tinham diferen-
litantes. Tinham se passado cin- fábricas. Elias Stein explica que tes níveis de experiência. Nosso
co anos desde o último enfren- “um militante fichado não podia trabalho começou a crescer”.
tamento eleitoral. O resultado disputar sindicatos. Era o chama-
divulgado foi de que a situação do atestado de bons anteceden- 1978. A virada
teve 70% dos votos. Para os tes, com frequência usado con-
membros da chapa de Oposição, tra a OSM-SP. Nessa situação de Em 78, o País assistirá à irrup-
estas eleições foram totalmente processados pela Lei de Segu- ção das lutas dos trabalhadores
fraudadas. rança Nacional, não podíamos no cenário político. Há uma epi-
Era o terror da era Médici, ha- concorrer em eleições sindicais. demia de greves no primeiro se-
via um silêncio pesado na socie- Por isso se resolveu não montar mestre em São Paulo, quando em
dade. Expor o nome numa chapa chapa de oposição em 1975”. centenas de fábricas os trabalha-
de Oposição não era arriscar pou- Hélio Bombardi relata a difi- dores paravam e queriam aumen-
co. Não havia acesso a nenhuma culdade de concorrer e o traba- to fora da campanha salarial, que
informação sobre as eleições. lho de articulação das Interfá- seria em outubro. Junto com as
Simplesmente um edital burocrá- bricas: “Não conseguimos sair greves, reivindicar Comissão de
Capítulo 2
O Sindicato, a Oposição e as eleições
investigação operária
Capítulo 2
O Sindicato, a Oposição e as eleições
1981. Infelizmente
divididos
investigação operária
Votos 1º Turno
Chapa 1 Chapa 2 relações entre os resultados elei- a ditadura militar e para a Fiesp,
Situação Oposição torais e as lutas operárias daquele era importante demais para man-
Nas fábricas 15.106 16.737 período. “Ganhamos o Sindicato ter o sindicalismo brasileiro em
Na sede 7.410 2.178 em 1978 e foi anulada a eleição, um rumo. Mas nós queríamos dar
Total 22.516 18.915
aquele trambique total já comen- outro rumo e estávamos dando já
Votos 2º Turno
tado tantas vezes. Veio o minis- outro rumo, na luta cotidiana, no
Chapa 1 Chapa 2
tro Arnaldo Prieto para manter enfrentamento. Só por isso deu
Situação Oposição
Nas fábricas 14.546 17.320
o Sindicato na mão da ditadu- pra fazer frente à máquina sindi-
Na sede 7.916 2.168 ra. Ganhamos de novo em 1981, cal, ao apoio dos patrões, empre-
Total 22.462 19.348 quando vencemos as eleições sários e militares”.
nas fábricas. Dezenas de pessoas As greves e campanha sala-
Essas três eleições (1978, nossas foram feridas naquela ba- riais continuam ocorrendo, mas
1981 e 1984) marcaram o auge talha de 1984 para tentar ganhar em situação cada vez mais desfa-
do movimento combativo dos o Sindicato e simplesmente não vorável. É preciso registrar ain-
metalúrgicos. Vito Giannotti re- ganhamos porque aquele Sindi- da que a categoria começa a ser
sume esse processo a partir das cato era importante demais para atingida pela crise econômica e
Capítulo 2
O Sindicato, a Oposição e as eleições
investigação operária
1987 – Carlúcio,
combativo
cipeiro da Arno,
encabeçou a chapa
da convenção
Cutista. A divisão da
Oposição contribui
para a derrota.
Acervo IIEP/Projeto
Memória da OSM-SP
Capítulo 2
O Sindicato, a Oposição e as eleições
onde trabalhava Carlúcio, os tra- assim, a Oposição fará em 1990 dários e trabalhando a ideologia
balhadores se recusaram a aca- uma chapa cutista em aliança do “sindicalismo de resultados”.
tar a decisão do apoio, embora o com a Corrente Sindical Classis- Essa tática é desastrosa para os
próprio Carlúcio tivesse pacien- ta (CSC), tendência criada pelo militantes da Oposição.
temente explicado os motivos da PCdoB. Eles tinham sido afas- A estratégia de Medeiros e
decisão e entregue material escri- tados do bloco pelego-reformis- seus seguidores é apontar, para
to nesse sentido. ta e iniciavam uma aproximação os trabalhadores, os membros da
Dessa vez, a OSM-SP foi der- com a CUT. Oposição fazendo aparentes elo-
rotada inclusive nas fábricas, Chico Gordo, da CUT, como gios e, dessa forma, tornando fá-
indicando que o trabalho coti- candidato a presidente, e Eustá- cil sua identificação, música para
diano nas empresas estava cada quio Vital, da CSC, como vice. os ouvidos da segurança das em-
vez mais fragilizado. A direção Chico era deputado estadual e presas que identificam o militan-
do Sindicato se renovava, ago- Vital vereador. Naquela euforia te. A diretoria faz uma forte coop-
ra era dirigido pelo ex-militante do início da breve era Collor, a tação da vanguarda das fábricas
do PCB, Luiz Antonio Medeiros, chapa da Oposição – que era a num período de muito medo do
convertido ao credo neoliberal. chapa da CUT com a CSC – será desemprego. Ao militante de-
cognominada a chapa dos ma- sempregado ou da empresa em
1990. O começo rajás. O mesmo mote que serviu crise é oferecida a oportunida-
do fim para a burguesia entronizar o go- de de ser “assessor” do Sindi-
vernador de Alagoas como o sal- cato. São dezenas de bons luta-
Em 1990 acontece outra virada. vador da pátria servirá para der- dores cooptados. A euforia não
Lucio Bellentani tinha migrado rotar a chapa de Oposição. durará muito, nem o emprego,
para o outro lado e se tornado pre- mas o estrago na vanguarda será
sidente da Confederação Nacio- 1993. Sem permanente. A categoria chegará
nal dos Trabalhadores Metalúrgi- retaguarda em 1993 desmotivada e insegura
cos da Força Sindical. Medeiros quanto ao emprego.
será o homem do “sindicalismo Os anos que antecedem as Para completar, a consolida-
de resultados” e se aliará a Collor eleições de 1993 serão de des- ção da Força Sindical redefine o
que havia derrotado Lula na elei- concerto da esquerda. A CUT, a jogo. É feito um pacto tácito. A
ção presidencial de 1989. O País partir de 90, decide ser proposi- CUT para de tentar ganhar sindi-
estava dividido, a derrota da Fren- tiva e menos contestadora; o PT catos da Força Sindical, a disputa
te Brasil Popular o jogou numa busca uma estratégia e uma ex- é congelada, cada um fica com o
aventura, mas enquanto durou o plicação para a derrota eleitoral que já conquistou. A CUT aban-
desgoverno Collor houve uma en- de 1989; Collor, com a política dona a política de apoio às oposi-
xurrada de derrotas para as clas- dita de abertura e modernização, ções sindicais.
ses trabalhadoras e a esquerda. O causa a liquidação de milhares de A Oposição, penosamente,
mundo soviético estava desmoro- empregos. O complemento sin- monta uma chapa em 1993 enca-
nado. O PT aturdido. dical do período é a ascensão da beçada por, Mauro Farabotti, tra-
Os que tinham passado pela Força Sindical com um ideário balhador da mesma Ford, onde
tentativa de ganhar o Sindicato abertamente neoliberal e priva- havia trabalhado Bellentani. Não
“por dentro” estavam desaloja- tista. A prática sindical de Medei- terá uma convenção, não há en-
dos e, assim como os membros ros é fazer greve “saca-rolhas”, tusiasmo. A maioria da CUT co-
da OSM-SP, com dificuldades de conseguindo vitórias pontuais loca as condições para apoiar,
permanecer nas fábricas. Mesmo nas fábricas por motivos secun- mas todos sabem que o jogo está
investigação operária
Capítulo 2
O Sindicato, a Oposição e as eleições
1979 – o
“Jornal dos
Jornais”
publica
caderninho
sobre as
greves.
Acervo IIEP/
Projeto
Memória da
OSM-SP
1982 –
“Centrais Sindicais
1979 - “Enos – Anampos
Mundiais”
1981/1982” Acervo IIEP/Projeto Memória
Acervo IIEP/Projeto da OSM-SP
Memória da OSM-SP
1980 - “Máquinas
Piratininga” sobre os 35
dias de greve.
Acervo IIEP/Projeto Memória
da OSM-SP
investigação operária
1982 - “Comissões de
Fábrica”. Cadernos
publicados pela OSM-SP.
Acervo IIEP/Projeto Memória
da OSM-SP
Capítulo 2
O SINDICaTO, a OPOSIçãO E aS ELEIçõES
1985 - “ComissÕes de
FáBriCa em são pauLo”. 1986 - “Construir a Cut
dados soBre as peLa Base”
ComissÕes, sua oriGem, aCerVo iiep/proJeto memória da
osm-sp
Lutas, Composição, etC.
aCerVo iiep/proJeto memória da
osm-sp
84
investigação operária
Capítulo 2
O Sindicato, a Oposição e as eleições
A ASSOCIAÇÃO
ANTIOPERÁRIA
investigação operária
Capítulo 3
a aSSOCIaçãO aNTIOPERáRIa
aCerVo pessoaL
“É
FamÍLia deLeLLis
lógico que vi no 64, e eu chamo a atenção que se modificaram
todas as questões. Se interveio em dezenas, em centenas ou mi-
lhares de Sindicatos, interveio em Federações etc etc etc. Se
modificou com um bocado de leis também em cima do golpe de 64,
mas também não se mexeu uma vírgula na estrutura sindical, quer di-
zer, a estrutura sindical continua servindo em todos os regimes, em to-
das as oportunidades, porque é uma estrutura que nós não discutimos,
os trabalhadores não discutiram, os trabalhadores não propuseram,
nós é que tivemos que entrar dentro disso que nós herdamos.
É lógico que vai passar a redemocratização, vai vir golpe. Se mo-
difica tudo, se prende gente, se intervém mas ninguém mexe na estru-
tura sindical, porque isso serve perfeitamente para explorar nossos
trabalhadores, para tirar mais valia dos trabalhadores, para arrancar o
lucro e para até fazer milagre se quiser.”
investigação operária
O EMPRESARIADO
E A REPRESSÃO
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
C
entenas de trabalhadores, par- recerem um desvario e descon- tava no País e começava sua luta
ticularmente metalúrgicos, trole dos esbirros da repressão. por direitos básicos.
participaram de oficinas, reu- Não. A atividade para conter as O País começa a se industria-
niões, gravação de depoimentos, lutas sociais e o direito de organi- lizar para superar a necessidade
para recuperar e tentar entender os zação política dos trabalhadores de importação de bens e produtos
mecanismos de repressão que cei- foi uma ação de Estado organi- dos países capitalistas centrais.
faram tantas lideranças, entre as zada metodicamente pelo menos Em São Paulo, a riqueza advinda
décadas de 60 e 90, de metalúrgi- desde a década de 20, com maior da exportação do café gerará di-
cos na cidade de São Paulo. Mui- ou menor intensidade, conforme visas para a expansão industrial.
tos desses operários trabalharam o momento político. Mas, na dé- Cresce vertiginosamente a mi-
em diversas categorias profissio- cada de 30, já estavam estrutura- gração de mão de obra desde o fi-
nais e vivenciaram distintas ex- dos todos os mecanismos e fun- nal do século XIX. Primeiramen-
periências de luta e enfrentamen- damentos contra a organização te para o café, em seguida para a
to contra a opressão patronal e os dos trabalhadores. O aparato não indústria. Muitos trabalhadores
aparatos do Estado. foi alterado, apenas apropriado e vinham com experiências de lu-
A combinação entre testemu- aperfeiçoado pelo governo em- tas em seus países. O movimen-
nhos e documentos foi a base presarial-civil-militar, que ten- to operário vai, gradualmente, se
de todo o trabalho de pesquisa. tou manietar a vida democrática articulando e se organizando. A
Todas as afirmações feitas nes- a partir de 1964. luta da classe operária era, fun-
te livro são baseadas em docu- Nisso, emerge sinistramente o damentalmente, por melhores
mentações, provas e evidências DOPS. Todos os poderes do Es- condições de vida e de trabalho,
coletadas ao longo do processo tado e suas instituições têm sua por aumento salarial e proteção
de pesquisa. A cada descoberta cota antiluta dos trabalhadores. As social. A contragosto, o alto em-
de documentos com novas in- Forças Armadas, os órgãos minis- presariado e o Estado tinham que
formações, foram buscados os teriais – inclusive os supostamen- se curvar a determinadas reivin-
testemunhos de trabalhadores e te reguladores ou de defesa dos dicações dos trabalhadores, a fim
militantes que confirmassem os trabalhadores, como os do Minis- de evitar greves.
dados encontrados. tério do Trabalho ou as Delega- A greve geral de 1917, em São
Nas atividades, os coordena- cias Regionais do Trabalho – atu- Paulo, comandada pelos anarquis-
dores da Investigação Operária aram mancomunados. O DOPS é tas, foi o primeiro grande movi-
conviveram intensamente com uma espécie de espinha dorsal do mento da classe operária nascen-
outros ex-presos políticos, estu- mecanismo antitrabalhadores. É o te no País. A corrente anarquista
diosos, especialistas da memó- que pretendemos demonstrar. tinha enorme importância dentro
ria política. Algumas conclusões A célebre frase “a questão so- do movimento operário naquele
foram se firmando: a primeira, cial é caso de polícia”, atribuída momento histórico e passa a so-
mais forte e definitiva, de que o ao ex-presidente Washington Luís frer disputa com os comunistas
golpe de 64 foi um movimento (1926-1930), resume bem a pos- que, no ano de 1922, fundam o
civil-militar, objetivamente ne- tura dominante em relação às rei- Partido Comunista do Brasil.
cessário e direcionado para os in- vindicações dos trabalhadores no Os empresários começam a
teresses empresariais. A segun- curso da República Velha (1889- se organizar no mesmo período
da, ao estudar os mecanismos de 1930) no Brasil. Com o processo para fazer frente ao avanço da
repressão, nos convencemos que de industrialização já no fim do classe operária. Em 1928, criam
a repressão era sistêmica, orien- século XIX, mas intensificado no o Centro das Indústrias do Esta-
tada e programada, apesar de período da Primeira Guerra Mun- do de São Paulo (CIESP), em-
tantas torturas e assassinatos pa- dial, uma classe operária despon- brião da futura e poderosa Fede-
investigação operária
ração das Indústrias do Estado de que se aparelhou a polícia. Um nas décadas seguintes na política
São Paulo (FIESP). órgão para centralizar a vigilân- brasileira: edulcorados pela aura
O DOPS é criado pela Lei cia e efetuar a prisão daqueles de lutadores pela justiça estarão
nº. 2034, de 30 de dezembro de que, na visão governamental e esmagadoramente a serviço das
1924. Em alguns momentos terá empresarial, perturbassem a “or- classes dominantes.
a sigla DEOPS. O Brasil era go- dem pública”, isto é, que se in- Com a Revolução de 1930,
vernado, sob estado de sítio, por surgissem socialmente contra as tem início a Era Vargas, com
Arthur Bernardes, enquanto São classes dominantes. Toda a lógi- o Governo Provisório (1930-
Paulo é governado por Carlos de ca da intervenção do DOPS nos 1934). Houve um relativo are-
Campos. A polícia paulista é re- movimentos dos trabalhadores, jamento político: estava em cur-
organizada com a criação de sete desde sua criação, é para garan- so um rearranjo entre as classes
delegacias especializadas. tir que não haja nenhuma pertur- dominantes, e a sociedade, saída
Não bastava tratar a questão bação no local de trabalho ou de dos velhos costumes, pressiona-
social como caso de polícia. Pre- moradia dos trabalhadores para va por um ambiente democráti-
cisavam de método, estratégia e não ameaçar o dia a dia de explo- co. Mas a repressão aos trabalha-
especialistas dedicados a isso. O ração das classes populares. dores e ao movimento sindical,
estudioso Marcos Tarcísio Flo- Nos 60 anos de sua existên- mesmo amenizada, não prescin-
rindo (2006, 27) ressalta: cia, passando pelos governos da diu do mecanismo de deportação
A formação da polícia especia- República Velha e Estado Novo, de lideranças e há registros de
lizada de ordem política social o chamado intervalo democráti- muitas prisões:
de São Paulo, em 1924, foi par- co de 1946 a 1964, e, particular- (...) Na tentativa de marcar
te integrante dessa estratégia mente, na Ditadura Civil-Militar suas diferenças em relação ao
de readequação do aparato es- de 1964 à 1988, o DOPS, além governo deposto, os políticos
tatal de controle e vigilância da de servir aos propósitos políticos da Aliança Liberal, no entan-
sociedade às transformações de qualquer governo, foi o centro to, suspenderam temporaria-
ocorridas no mundo do traba- nevrálgico da vigilância, contro- mente o intenso controle po-
lho. A modernização requeria le, perseguição e repressão aos licial sobre as organizações
do Estado um maior zelo em re- movimentos dos trabalhadores e sindicais. Isso possibilitou ao
lação à administração de suas de suas organizações políticas. movimento operário um respi-
instituições e ao preparo do seu Na década de 1920, a Colu- ro depois de anos ininterruptos
pessoal. na Prestes, movimento político- de perseguição às suas organi-
(...) A polícia adentrava no tem- -militar brasileiro originário do zações. Convém lembrar que
po dos especialistas, da forma- tenentismo e que lutava pela mu- esse vácuo durou pouco, não
ção de agentes com treinamen- dança da ordem social da Repú- mais que o tempo necessário
to específico para o combate às blica Velha, ficou no imaginário à reorganização da adminis-
diferentes modalidades do cri- da população como proposta al- tração dos órgãos do Estado.
me e do criminoso... ternativa de organização políti- Como já afirmamos, o novo
ca e social. A Coluna nunca der- governo, em sua visão dos pe-
Era papel da polícia velar pela rotada militarmente se exaure, rigos oriundos das classes su-
própria versão moderna de li- seus remanescentes se dividem. balternas, não diferia das ve-
berdade da sociedade capitalis- Dos movimentos de militares da lhas oligarquias depostas. O
ta, não mais relacionada ao não década de 20, sairão diferentes relaxamento esteve provavel-
trabalho, e sim à venda da mão correntes. Prestes aderirá ao co- mente relacionado à própria
de obra. Nesse sentido, foi para munismo e outros derivam para confusão reinante no aparelho
controlar o mundo do trabalho a direita e serão figuras de proa político após o golpe, princi-
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
investigação operária
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
investigação operária
QUESTIONáRIO
DOPS
respondido
peLa
BardeLLa em
1944.
aCerVo apesp/
dops os 109391
DOSSIÊ
COOPERAÇÃO
BardeLLa/
dops
aCerVo apesp/
dops os 108070
Capítulo 3
a aSSOCIaçãO aNTIOPERáRIa
Tecnoforjas em 1979: em
relatório do delegado adjunto
da Divisão de Ordem Social do
DOPS, Olavo Reino Francisco,
do dia 12 de novembro de 1979,
é citado que o superintendente da
Tecnoforjas, sr. Fontana, forne-
RENY FRANCO E ROSELI dantas ViGiados peLa ViLLares ceu informações dos trabalhado-
aCerVo pessoaL reny FranCo
res grevista para o DOPS:
investigação operária
mações trocadas entre empresa “MWM. Totalmente parada – ções industriais, que 40% dos
e DOPS sobre paralisações dos informação do porteiro Lino. operários estão trabalhando.
trabalhadores. Durante as greves Parada em virtude de ameaça Na porta permanece um pique-
é comum achar documentos que dos piquetes, de invadirem a te de 500 pessoas. Frezimbra –
informam o percentual de para- empresa. Villares – Informou Informou o sr. Walter que a em-
lisação dentro das fábricas – in- o senhor Roberto Loew, che- presa possui 500 operários e
formações que só podem ser for- fe de segurança que as ativi- somente 15% estão parados”.
necidas pela própria fábrica. Um dades da firma foram encer-
dos documentos sobre a greve radas em virtude de terem Com informações da mesma
de 1979 relata o nome da fábri- feito acordo com os piquetes natureza, telegramas são troca-
ca, percentual de paralisação e que estavam na porta. Cater- dos entre a DRT e o DOPS. Um
nome e função de quem passou pillar – Informou o sr. Nelson deles, do dia 3 de julho de 1978,
a informação: Fernandes, do setor de rela- informa paralisações nas fábri-
Capítulo 3
a aSSOCIaçãO aNTIOPERáRIa
cas Inducon, Telefunken, Philco, Caze do Brasil e Swift-Armour exemplo, o documento mais an-
L. Figueiredo Armazéns Gerais de Osasco e Lacom de Campi- tigo dessa natureza encontrado
e Filizolla de São Paulo; Lavre nas. Durante a mesma greve de data de 26 de novembro de 1969
Laminação Volta Redonda de 1978, um relatório do plantão, e relata a panfletagem em frente à
Guarulhos; Indústria Mecânica do dia 13 de julho de 1978, da fábrica de molas Scripelliti.
Miotto de São Bernardo; Sarco Delegacia Auxiliar da Quinta Há também, do dia 31 de ou-
de Cotia; e Seikan de Osasco. Divisão Policial do DOPS, in- tubro de 1980, informe sobre a
Um telegrama do dia 10 de forma sobre a situação de parali- presença de perua do Sindicato
julho de 1978 informa paralisa- sação da Metalúrgica Alfa. estacionada em frente à empre-
ções nas fábricas Luwa Clima- Relatórios de agentes do sa Meridional. Menciona que os
tecnica, Indsteel, Laborterápica DOPS com informações sobre seus ocupantes têm feito panfle-
Bristol, Olympia do Brasil, GTE movimentação em frente às fá- tagem e conversado com os tra-
e Filtros Mann de São Paulo; bricas eram muito comuns. Por balhadores; outro relato, do dia
investigação operária
Capítulo 3
a aSSOCIaçãO aNTIOPERáRIa
solvido a greve: em 1946, dia 13 nos dias 12 e 13 de fevereiro de Andrade, na Grampos Aço, Tatu-
de fevereiro, portanto no perío- 1946.” apé. Um dos casos que demons-
do democrático do pós-guerra, tram a postura da empresa em re-
Antonio Bardella, diretor-presi- PRISÃO NAS FáBRICAS lação à presença da polícia para
dente da empresa Bardella, em A Oposição teve alguns mi- prender no local da fábrica é o de
papel timbrado, agradece ao de- litantes presos dentro das fábri- Aurélio Peres.
legado do DOPS a “assistência cas. Raimundo Moreira de Oli-
prestada pelos agentes Alcides veira na Carmo, Mooca, Arleide Violação de intimidade e
Garbini e Guaraci Cavalcanti Alves, na Colmeia, Tatuapé, Jor- tentativa de prisão na Fábrica
de Oliveira para findar a greve ge Luís dos Santos, na Horasa, Schaeffler: Aurélio Peres, preso
realizada pelos trabalhadores Santo Amaro, José Zico Prado de em 1974, é confrontado sobre ma-
investigação operária
MILITARIZAÇÃO Manoel Aurélio Lopes, ex-escri- nunca ligava o torno, ele ficava na
vão do Doi-Codi, em depoimento empresa 8 horas e não ligava o
DAS FÁBRICAS
à Comissão Rubens Paiva, afirmou torno. Eram militares com barba,
Setores como telecomunica- que o stand de tiro do DOPS foi re- cabeludo que nem a gente usava
ções, siderurgia, fornecedores de vestido pela Cofres Bernardini e que na época.
equipamentos para as Forças Ar- os aparelhos de proteção auricular Se por uma bobeira a gente co-
madas, foram militarizados como foram doados pela General Motors. mentasse alguma coisa num local
disciplinamento militar, presença A Bernardini foi uma fábrica mi- onde tinha agentes não durava
ostensiva de militares e infiltrações litarizada durante certo período, muito tempo e era mandado em-
entre os trabalhadores, critérios rí- quando reconvertida para moder- bora. Qualquer trabalhador que
gidos de admissão, como ser reser- nizar os tanques Urutu. Um dos tra- falasse um pouco diferente ali
vista de primeira categoria. balhadores que passaram por lá, o dentro da empresa não ficava em-
A legislação que trata da temáti- Renatão, Renato Carvalho Zulato, pregado.
ca das empresas de interesse para a testemunha: Nosso material da chapa da Opo-
segurança nacional data de 5 de ju- Um dos donos da empresa era do sição Metalúrgica (Carlúcio enca-
lho de 1955 (Lei n°. 2.597), durante exército, acho que era Ricardo o beçava nossa chapa), era verme-
do governo de Café Filho. Na dita- nome. Esse era o comentário que lho, nosso adesivo era vermelho e
dura, na cidade de São Paulo, três os trabalhadores faziam. A postu- chegou um dia que nós cismamos
fábricas foram militarizadas. A Si- ra dele era de militar, ele cobrava de avermelhar a empresa todinha,
teltra do Grupo Telefunken, na Zona uma postura muito rígida, com botamos adesivo vermelho na
Sul (Campo Grande), do setor de cumprimento de horário, discipli- empresa, naqueles equipamentos
telecomunicações, dentro do pla- na nas máquinas, você não podia militares. Mas passou a eleição, se
no do ministro Higino Corsetti, que conversar com os companheiros eu não me engano o Medeiros foi
enquadrou outras empresas como da frente e do lado. Era uma fá- eleito, 1o mandato do Luis Antonio
a NEC, GTE, Ericson, tendo a finali- brica normal, mas que tinha um Medeiros como Presidente, já sus-
dade de modernizar a infraesturtura controle disciplinar bem militari- cedendo Joaquinzão. Não passou
de telecomunicações no país, a En- zado e, por ter militares lá dentro, dois meses e ninguém mais daque-
gesa também na Zona Sul, na Ave- fugia totalmente da característica la turma estava dentro, niguém
nida Nações Unidas, subsidiária da de uma indústria. conseguiu ficar dentro da Bernadi-
fábrica maior de São josé dos Cam- Às vezes, a noite, você via chegar ni. Depois de 88, 89, 90, quando a
pos, que produzia armamento para carro, com 5, 6, 8 militares com ditadura militar “saiu do cenário”,
a guerra entre Iraque e Irã, e a antiga patente e andando dentro da fá- a Bernadini faliu, porque ela não
fábrica de cofres Bernardini. brica.Tinha torneiro mecânico que tinha para quem produzir mais.
terial encontrado no seu armário cidade do preso e plantar provas gada pela equipe “C” do DOPS,
na empresa onde trabalhava em contra ele, registrando essa viola- Aurélio dignamente depõe que
Santo Amaro. O DOPS autentica ção num documento oficial. “o material apreendido em seu ar-
que não cumpriu nenhum proce- Na sua ficha de interrogatório mário, na Fábrica de Rolamentos
dimento legal ao violar a priva- feito às três (!) horas da madru- Schacefler S.A. sito a Rua Cam-
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
pos Sales, 700, não lhe perten- de Leonor havia sido preso. Na fábrica, fui direto para a
ce, não sabe de sua procedência Ele era da mesma comunida- diretoria e eles disseram que
e considera ter sido ali colocado, de do Aurélio Péres. teriam que chamar a polícia,
com o intuito de prejudica-lo”. Fui trabalhar no dia seguinte. que eu esperasse, mas que da
Respondendo ainda sobre ter Por precaução, solicitei férias parte deles não tinham nada
sido encontrado um papel em seu antecipadas no dia seguin- contra mim. Disse que não ti-
poder com o nome dos advogados te, que me foram concedidas nha nada a temer e que espe-
Airton Esteves Soares, Luiz Edu- sem problemas. Sumi de casa. raria. Eles me disseram que
ardo de tal, Idibal de Almeida Pi- Dom Paulo Evaristo Arns caso estivesse livre, poderia
veta e Pedro Egídio de Carvalho orientou que o padre Fernan- reassumir meu trabalho.
– estes conhecidos advogados de do fosse meu diretor espiritu-
presos políticos à época. Respon- al. Este padre era da Cidade Rita foi conduzida numa via-
de que “…lhes foram passados Leonor. Ele deixou orientação tura para o DOI-CODI em alta
pelo Padre Angelo, vigário epis- para procurar o advogado velocidade, para despistar o pa-
copal da região sul, com a finalida- José Carlos Dias, caso preci- dre e sua mãe, que foram proibi-
de de que os advogados mencio- sasse. dos de acompanhá-la no mesmo
nados defendessem os envolvidos Tive informação que uma ga- carro. Durante sua permanência
em problemas trabalhistas”. rota do setor da Manutenção, no órgão, os agentes reclamavam
Nota: o relatório foi transcri- com quem eu tinha contato e que os dois acompanhantes esta-
to com a grafia original. O advo- passei o Boletim que explica- vam de vigília, esperando-a.
gado que não conseguiram es- va sobre a Campanha Sala- Ela ainda narra:
crever o nome é Luiz Eduardo rial, havia sido presa e tortu- Fiquei o dia todo responden-
Greenhalgh. O nome correto da rada porque o irmão dela, da do ao interrogatório. Estava
empresa é Schaeffler, multina- Vila das Belezas, devia ter al- certa que a questão era do
cional de autopeças. guma participação mais com- boletim da Campanha Sa-
Nessa mesma empresa, o prometida e estava encarce- larial. Mas, como no início
DOPS entra para prender Maria rado, sob forte tortura. eles mostraram as fotos dela
Rita Marques Pereira, uma das Ela logo saiu da prisão e pôde e eu negava conhecê-la, fo-
poucas operárias militantes da dizer como é que estavam os ram buscá-la na Vila das Be-
OSM-SP que participavam das depoimentos: disse que che- lezas para nos colocar fren-
atividades no Sindicato. No seu gou a falar de mim, porque te a frente. E a questão não
testemunho, diz: havia dado o Boletim, mas era o boletim, mas um recorte
Na semana das prisões, tinha que eles estavam mesmo pro- de jornal do Estadão que di-
um encontro marcado com o curando a Eny. Essa moça zia sobre a tomada da fábri-
Aurélio para conversarmos abandonou o trabalho porque ca pelos operários da LIP, na
sobre uma futura reunião com ficou muito assustada e voltou França.
alguns ferramenteiros, por- para Minas. Então, quando Minha sorte foi a fábrica ter
que estávamos às vésperas da teria que retornar das férias, uma sala de convivência, que
Campanha de Antecipação fui com o meu diretor espiritu- era recente, com jornais e re-
Salarial. al e minha mãe para a fábrica, vistas - e disse à polícia, que
No dia do encontro, ele não porque a polícia já tinha ido só podia ser de lá que eu ti-
foi. Quando cheguei em casa, em casa - que alás, quase le- nha pego e que, na hora do
soube, pelos padres, que Dir- vou minha irmã, como se ela almoço, teria visto e mostra-
ceu, da comunidade da Cida- fosse eu. do a ela. Embora a notícia
investigação operária
LINHa DIRETa
ENTRE a EmPRESa
E a POLÍCIa
fEDERaL em telex ao governador e ao se- fiança entre os administradores
cretário do Trabalho. de pessoal, um simples telefone-
Caso Sprecher: a desfaça- ma bastava para a não admissão
tez das empresas no trato com a O TRabaLHO de um trabalhador – o tradicional
repressão chega ao nível de exi- mETóDICO Da “pedido de referências”.
gir uma intervenção da Polícia DELaçãO Santo Amaro, na Zona Sul da
Federal para limpar a fábrica, cidade, sofreu uma vertigino-
ocupada pelos grevistas, porque É muito difícil demonstrar sa expansão industrial nos anos
a Justiça do Trabalho demora- como eram elaboradas as listas 70. Indústrias modernas, grandes
ria ainda quatro dias para jukgar negras, a não ser quando foram multinacionais e um operariado
o caso e seguramente mandaria fisicamente encontradas, ou por jovem, que rapidamente se cons-
que desocupassem a empresa. A testemunho de alguém que tenha tituiu como agente político, sur-
tranquilidade do diretor da em- participado de sua elaboração. giram. As grandes concentrações
presa é tanta que oficia também Como havia uma relação de con- industriais, como Nações Uni-
Capítulo 3
a aSSOCIaçãO aNTIOPERáRIa
ATENCIOSAMENTE,
PREBEN N. HAAGENSEN
DIRETOR PRESIDENTE
SPRECHER + SCHUH DO BRASIL S.A.
TELEFONES 548 70 44 – FÁBRICA
66 93 63 – DIR. RELACOES INDUSTRIAIS”
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das, Pedreira, Socorro, Cháca- do Pessoal de Santo Amaro, cas com a participação da di-
ra Santo Antônio, são os lugares e lá se partilhavam os conhe- reção do Sindicato, que apon-
onde foram gestadas as Interfá- cimentos da área de recursos tava os elementos da oposição
bricas e na greve de 1979 irrom- humanos e também vinham nessas fábricas. Muitos com-
peram os piquetões, com até dez informações sobre listas de panheiros estavam fora da
mil trabalhadores em greve que pessoas que a gente teria que produção. Com dificuldade de
circulavam pela região fazendo ter cuidado para contratar, encontrar trabalho, tinham
convencimento para ampliar a porque eram pessoas ditas que mudar de cidade, sair da
greve ou pressionando as empre- ‘ativistas’, pessoas que iriam categoria.
sas que montaram sistemas du- articular dentro das fábricas.
ros para impedir a participação Lembro que alguns que a Stanislaw Szermeta, conhe-
de seus funcionários. gente conhecia pessoalmen- cido no movimento como Stan,
Diante da expansão industrial te como o Jorge Preto e o Zé conta como os operários tenta-
e da crescente organização dos Cláudio. Eu mandei avisar vam se proteger dessa situação,
trabalhadores, não apenas meta- que não adiantava eles procu- muitas vezes em vão:
lúrgicos, as empresas se associa- rarem emprego na Zona Sul. Era um período em que traba-
ram na AAPSA - Associação dos lhávamos com boletins clan-
Administradores de Pessoal de Há um número incalculável destinos. Fazíamos pequenos
Santo Amaro, hoje denominada de cópias das fichas de registro boletins que eram passados
Associação Paulista de Recursos de empregados no arquivo do para as pessoas de confiança.
Humanos e de Gestores de Pes- DOPS. Tudo indica que existe Mesmo procurando preservar
soas. A entidade foi um mecanis- orientação de enviar as reprodu- minha pessoa, porque eu tinha
mo importante para identificar ções dessas fichas, que serviam ficha no DOPS, com o tempo
trabalhadores ativistas. como controle de fiscalização acabaram descobrindo quem
Foi possível documentar a por parte do Ministério do Tra- eu era e acabaram me man-
partir do testemunho de uma ex- balho das empresas na relação dando embora. Trabalhar na
-funcionária do Departamento de com seus empregados. Existem, época era muito difícil: se se
Pessoal da empresa suíça Sulzer, inclusive, fichas originais nos ar- associava no Sindicato, o Sin-
que por vezes substituía o titular quivos, enviadas pelas empresas. dicato acaba sabendo quem
nas reuniões da AAPSA, a ma- A melhor definição do cruel você era e em que fábrica tra-
neira como eram feitas as listas processo que impedia um traba- balhava. O Sindicato em 73,
dos trabalhadores que não deve- lhador de exercer sua profissão 74, ainda não tinha esse ma-
riam ser admitidos nas empresas. foi dada por Waldemar Rossi: peamento todo da categoria.
Terezinha e o marido, José Vi- Nas fábricas, à medida que Ele tinha mapeamento, acre-
torino Bispo, eram cristãos par- as pessoas eram detectadas dito, de regionais onde havia
ticipantes das CEBs e militantes como membros da oposição, conflitos maiores, que nem a
da Pastoral Operária. Sentia-se discretamente eram dispensa- Zona Leste. Na Zona Sul era
constrangida nas reuniões, ficava das. E corria aquela chamada meio verde, o Sindicato não ti-
calada, mas repassava aos com- ‘lista’, que não quero chamar nha o mapeamento de todo o
panheiros o que conseguia de in- de ‘negra’, porque isso é uma pessoal que trabalhava.
formações: discriminação incrível, mas
Eu trabalhei com uma enti- era a ‘lista vermelha’, marca- Anízio Batista relata sua expe-
dade chamada AAPSA, Asso- da pelo sangue da repressão, riência com as práticas de repres-
ciação dos Administradores que circulava entre as fábri- são e controle dos trabalhadores:
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
Havia perseguição, demis- carteira, de demissão de 12 A gente tinha que ter mil e um
são e deduragem de direto- de maio’. Era o dia em que ti- artifícios pra continuar ten-
res sindicais do Sindicato dos nha terminado a greve de 80. tando um lugar dentro de fá-
Metalúrgicos de São Paulo. Pensei na hora: ‘caramba, brica. Todas as pessoas que
Infiltração de delatores em então é isso!’. Peguei minha estavam caracterizadas como
fábrica de médio e grande carteira de trabalho, cheguei organizadores, como dirigen-
porte. A ‘lista negra’ já exis- em casa, arrumei água sani- tes da OSM-SP, tiveram essa
tia em 1980, na Metalúrgica tária e, com muito cuidado, perseguição.
Atlas, do grupo Ermírio de misturei um pouco de água
Moraes. Nas fichas de admis- nela; aí apaguei ‘maio’ e es- Da empresa Monark foram lo-
são perguntavam ‘Qual é a crevi ‘agosto’, ‘12 de agosto calizadas mais de 200 fichas de
sua religião?’, ‘Você é filia- de 1980’ na data de demissão. trabalhadores no DOPS.
do ao Sindicato?’, perguntas Dois dias depois consegui em- Vicente Espanhol (Vicente
desse tipo. Mas aí eu já esta- prego, mesmo sendo em uma Garcia Ruiz), ferramenteiro, mi-
va na ‘lista negra’. Fiz o teste boca de porco. Não conse- litante da Oposição Sindical Me-
para torneiro vertical, teórico gui mais emprego em fábrica talúrgica, relata:
e prático. Fui aprovado: che- grande. Cheguei à conclusão No mês de outubro de 1979,
guei ao DP e mandaram espe- que tinha encerrado a minha trabalhava na Indústria Villa-
rar 30 minutos. Nem me dei- carreira metalúrgica. res, na Estrada Interlagos
xaram pegar a profissional, à 4455 (Santo Amaro). Um dia
trouxeram na portaria. Cleodon Silva revela as difi- recebi, nessa empresa, uma
culdades enfrentadas pelos tra- intimação para me apresen-
A mesma história foi vivida balhadores que desejavam orga- tar no DOPS. Quando voltei
por Elias Stein: nizar a luta: para o trabalho na Villares,
Fui obrigado a procurar A partir de 1978, amplia- não me deixaram entrar. Fui
agências de empregos, coi- ram-se as demissões, per- despedido no Departamento
sa que nem me passava pela seguições, a ‘lista negra’, a de Pessoal. Só recolhi minhas
cabeça antes, mas já fazia perseguição direta mesmo, in- coisas acompanhado pelo
três meses que estava parado. clusive com a contribuição da guarda. O chefe me falou:
Cheguei lá na agência, o cara diretoria do Sindicato. Onde ”Você é um excelente profis-
pegou minha ficha e falou que havia muita gente trabalhan- sional, mas infelizmente te-
uma firma estava precisan- do demitiam mesmo, não de- nho que te mandar embora”.
do de fresador. Cinco anos de ram sossego, foi um combate Poucos dias antes, fizemos
experiência. Era a fábrica da aberto. Para você conseguir uma reunião de preparação
Philips, em Mauá. A secretá- um trabalho na fábrica você da greve dos metalúrgicos de
ria chamou, por telefone, o fazia um milagre. Me lembro São Paulo no Arco Íris, sub-
gerente da agência, que saiu que eu passei 79, 80...82... sede da região Sul (Av. Inter-
da sala. Ele deixou a ficha em quando fui trabalhar na Mo- lagos). Fui surpreendido com
cima da mesa. Fui lá e peguei, nark, tive que fazer um verda- a presença de uma pessoa do
por curiosidade, a ficha, com deiro disfarce: tirar a barba, departamento de pessoal da
os dados do que precisava a emagrecer 20 quilos porque Telefunken na reunião. Essa
empresa. Vi escrito lá embai- com a minha figura de 79 era pessoa nunca tinha partici-
xo: ‘observação: não man- impossível arrumar empre- pado e nunca mais a vi.
dar ninguém com a data, na go na zona sul de São Paulo. A delação me pareceu evi-
investigação operária
dente: ela comunicou sobre peitas de deduragem para o 2319 (Santo Amaro), e ser
minha participação na greve Sindicato acabar com a opo- despedido por liderar uma
de 1978 na Telefunken para a sição metalúrgica dentro das greve de ocupação da fábrica
Villares. A polícia e o pessoal fábricas. A veracidade des- por nove dias, fui trabalhar na
do DOPS já me conhecia, pois sa suspeita foi confirmada no Usimolde, na av. Armando Ar-
eles acompanharam a greve dia que veio, do Arquivo Pú- ruda Pereira, 394, Jabaqua-
da Telefunken no ano 1978, blico Estadual, o relatório so- ra, São Paulo. Um dia um dos
simulando proteção e fichan- bre a minha pessoa, pois veio diretores da Pial visita a Usi-
do todos nós. Notemos que a acompanhado da ficha de ad- molde, pois fazíamos moldes
greve estourou em outubro e missão na Telefunken junto para eles, e deu de cara comi-
no dia 30 morreu Santo Dias. com o panfleto que distribuí go. Trocamos aquele sorriso
Trabalhei na Villares cinco na porta dessa empresa. azedo. Depois de uma semana
meses. Vários lideres eram fui mandado embora apesar
despedidos enquanto o To- Vicente Espanhol relata ainda de meu profissionalismo. Por
ninho, representante do Sin- que esse caso de perseguição não que será? Quando colocamos
dicato, permanecia lá. Isso foi o único da sua carreira de me- em perigo a produção, fonte
aumentava a certeza de que talúrgico: de seus lucros, não tem profis-
nunca se comprometia nas Depois de trabalhar na Pial sionalismo que segure dentro
lutas e aumentavam as sus- Legrand, na av. João Dias, da fábrica.
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
investigação operária
CADERNO DE REGISTRO
Caderno de reGistro de
entrada do dops, em Que
Constam os nomes de
GeraLdo resende de mattos
e CLaris HaLLiweLL
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
A relação entre o empresaria- ros blindados, caminhões e até Aliás, há uma entrada sem re-
do paulista e o DOPS é detalhada refeições pré-cozidas. gistro de saída de Claris Halliwell
pela reportagem do jornal O Glo- e Ênio Pimentel Silveira quando
bo, de 10.03.2013, assinada por A matéria ainda traz nomes de da prisão de Devanir José de Car-
José Casado e Chico Otávio. figuras que despontavam nesse valho, militante e líder sindical.
Geraldo Resende de Mattos, segmento industrial colaborador, Devanir foi torturado durante três
segundo a matéria, além do próprio Nadir Figueire- dias e assassinado no dia 7 de abril
frequentava os andares do do: Pery Igel, principal acionista de 1971. A entrada de Halliwell e
DOPS onde funcionavam as do grupo Ultra, Albert H. Boile- do capitão Ênio, conhecido tortu-
seções de Política e de Infor- sen, presidente do Ultra e diretor rador e assassino do DOI-CODI,
mações, três a quatro vezes por da FIESP/CIESP, Gastão Vidigal, no mesmo horário, mostra que
semana, no final do expedien- presidente do Banco Mercantil amSESIbos foram ao DOPS para
te. Essa foi sua rotina durante de São Paulo, Sebastião Camar- participar do longo processo de
sete anos, de 1971 a 1978 (…) go, sócio da construtora Camargo torturas de Devanir.
Tinha 52 anos e estava há 28 Correa, Adolpho S. Gordo, presi- Ainda, são verificadas recor-
no Serviço Social da Indústria dente do Banco Português, e Pau- rentemente, como mostra a ma-
(SESI), vinculado à FIESP. En- lo Ayres Filho, presidente da Pi- téria mencionada, as passagens
trou como “auxiliar” e cresceu nheiros Farmacêutica. do representante do SESI/FIESP,
a partir de uma relação de con- No Arquivo Público do Estado Geraldo Resende de Mattos, com
fiança com o industrial Nadir de São Paulo, foram encontrados destaque para os horários inusita-
Dias Figueiredo. alguns livros de registro de entra- dos e pouco convencionais em que
da no DOPS. Muitos nomes liga- aconteciam, em plena madrugada.
O empresário mencionado, Na- dos ao setores empresarial e mili- Geraldo Resende de Mattos,
dir Dias de Figueiredo, foi respon- tar aparecem nesses documentos. muito embora fosse formalmen-
sável pela eleição dos presidentes Algumas figuras importantes, te funcionário do SESI, trabalha-
da FIESP ao longo de três déca- como o cônsul norte-americano, va para a direção da FIESP. As re-
das. Era importante peça entre os Claris Halliwell, que teve envol- lações incestuosas e obscuras das
industriais na articulação com os vimento comprovado com os re- Federações das Indústrias com
militares. gimes ditatoriais no Chile e no os chamados “Serviços Sociais”,
A FIESP organizava fundos de Equador depois de sua estada no como SESI e SENAI, merecem
grandes somas de dinheiro para Brasil, o capitão Ênio Pimentel uma profunda investigação.
contribuir com o aparato repres- Silveira, do DOI-CODI, Alcides São contratos de consultoria,
sivo, frequentemente em reuniões Cintra Bueno, delegado responsá- prestação de serviços, emprésti-
promovidas por Gastão de vel por garantir os laudos falsifi- mos de funcionários, gastos lan-
Bueno Vidigal (Banco Mercan- cados das mortes dos presos polí- çados de uma para outra entidade.
til de São Paulo), João Batis- ticos junto à equipe do IML, além Não é de hoje a denúncia de que o
ta Leopoldo Figueiredo (Itaú de representantes da cúpula do II Sistema S é uma caixa preta.
e Scania), Paulo Ayres Filho Exército, possuem suas entradas As centrais sindicais nos anos
(Pinheiros Produtos Farma- registradas, frequentemente casa- 90 firmaram posição comum de
cêuticos), e o advogado Pau- das com datas de repressões espe- reivindicar a gestão tripartite do
lo Sawaia, entre outros. Em- ciais no DOPS, como assassina- Sistema S como forma de garantir
presas como Ultragaz, Ford, to de presos políticos e prisões de a transparência na administração
Volkswagen, Chrysler e Super- grupos perseguidos, segundo in- dos recursos públicos, apropria-
gel auxiliaram também na in- vestigações da Comissão Estadu- dos de maneira privada pelo em-
fraestrutura, fornecendo car- al da Verdade de São Paulo. presariado.
investigação operária
A FáBRICA
DE MORTOS
ALIPERTI:
A FáBRICA DE
HORRORES tamBém
UM CAMPO DE
preJudiCaVa a
popuLação. são
CONCENTRAÇÃO
pauLo/sp, 1979.
riCardo aLVes
aCerVo iiep/proJeto
memória osm-sp
NO BRASIL
I
magine uma fábrica no século XX com condições de traba-
lho do século XVIII. A segurança interna utilizando carabinas
contra os trabalhadores, a presença da polícia dentro da fá-
brica. Como explicar a ocorrência de 12 mortes de trabalhadores
dentro da empresa de 1986 a 1989, em apenas três anos?
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
investigação operária
Greve por
segurança no
trabalho
Capítulo
a fábrica 3
de mortos
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
A fábrica parou
para, pela primeira vez,
acompanhar o enterro
do operário Gregório
morto. São Paulo/SP, 1986.
Acervo IIEP/Projeto
Memória OSM-SP
Raimundo Perillat
em ato religioso sobre
a morte de operário.
São Paulo/SP, 1986.
Acervo IIEP/Projeto Memória OSM-SP
investigação operária
Capítulo 3
a aSSOCIaçãO aNTIOPERáRIa
TECNOFORJAS:
EMPRESA, DOPS E
TUMA CONTRA OS
TRABALHADORES
investigação operária
O CASO ALBINO
A
lbino Barzi sempre achou em razão do Sindicato pedir Os documentos encontrados
que suas demissões tinham para fazer levantamento so- permitem reconstruir toda a tra-
a ver com a participação em bre a minha pessoa. Um com- ma: cooperação aberta da em-
lutas reivindicatórias nas empre- panheiro meu, que trabalhava presa com o DOPS , o DOPS
sas. Desconfiava dos diretores do junto comigo, que era tornei- falando em nome da Delegacia
Sindicato dos Metalúrgicos. Na ro mecânico, me disse: ‘Al- Regional do Trabalho – DRT e
oficina da Investigação Operária bino, você vai ser mandado do ministro do Trabalho Murilo
da Zona Leste, em 11 de agosto embora ainda hoje porque o Macedo. No dia 15 de novem-
de 2012, afirmou: Sindicato esteve aqui e dedou bro de 1979 no jornal Repúbli-
“Sim, fui dedurado na Meta- você’. E realmente aconteceu, ca, Ricardo Carvalho na maté-
lúrgica São Rafael pelo Sin- naquele dia fui mandado em- ria “Um entrosamento perfeito”,
dicato. Companheiros da bora. Antes eu trabalhava na disse que na sala do Sr. Fontana,
empresa receberam a infor- Tecnoforjas, e o Sindicato pe- diretor superintendente da Tec-
mação pela pessoa que traba- diu a essa empresa que fizesse noforjas, acompanhou o diálogo
lhava no departamento pes- um levantamento a meu res- com um Dr. Otávio, que prome-
soal, que eu seria demitido peito”. teu enviar dois investigadores e,
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
investigação operária
RELATÓRIO DO DOPS:
diretor da teCnoForJas entreGa as
FiCHas pessoais dos FunCionários
GreVistas.
apesp/Fundo dops 43-z-0 5115
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
a diretoria. A repressão poli- dade das refeições; adicional de go com o padre Patrick Mac Na-
cial veio pelo DOPS. A gente insalubridade na forjaria; solda mara, que cedia o espaço para as
teve uma repressão bastante e lixadeiras; ampliação e melhor reuniões dos trabalhadores.
pesada, com várias negocia- atendimento na enfermaria; uni- Fala com o Pereirinha, inda-
ções, inclusive com a presen- forme gratuito e equipamentos ga onde trabalha e o seu papel de
ça do assessor do Ministério de proteção e higiene nos ves- mediador pela Comissão de Sa-
do Trabalho, o Murilo Mace- tiários. São reivindicações de lários.
do, que as negociações não condições básicas de trabalho. O policial, em seu relatório,
andavam e a gente acabou Exigem a instalação da CIPA - atesta que foi “bem recebido pe-
ficando, acabou a greve dos Comissão Interna de Prevenção los grevistas”, que forneceram os
metalúrgicos de São Paulo e de Acidentes - obrigação legal dados que possibilitaram o rela-
a nossa greve continuou. Essa da empresa. Pelas reivindica- tório. Como policial, os intimou
greve vinha em razões de pro- ções apresentadas, ficam evi- a prestar, posteriormente, escla-
blemas de um companheiro dentes as péssimas condições recimentos no DOPS. Intimou
que na madrugada, de tanto de trabalho que os 550 operários um membro da Comissão de Fá-
fazer hora extra, perdeu parte dessa empresa enfrentavam no brica e o Pereirinha.
da mão. Por isso que começou seu dia a dia. O que a matéria do jornal Re-
um dia antes da greve geral As outras exigências mostram pública desvenda é a firmeza dos
dos metalúrgicos de São Pau- a organização dos trabalhadores trabalhadores “ou o patrão fecha
lo e ela terminou depois. Nós e seu nível de participação: rea- a firma ou volta a negociar”. Re-
tivemos a presença do delega- dmissão dos demitidos e insta- lata o clima fraterno. Uma peque-
do Romeu Tuma; ele deu voz lação e reconhecimento da Co- na dispensa nos fundos da igreja,
de prisão tanto pra mim, pro missão de Fábrica eleita pelos a sopa para quem está em vigí-
Pereirinha, dentro da Sagra- trabalhadores com estabilidade lia. O apoio do Sindicato dos me-
da Face.” de dois anos. talúrgicos de Santo André e São
Apesar da ameaça da empre- Bernardo. A divisão dos alimen-
O assessor do ministro citado sa de demitir todos os grevistas, tos arrecadados entre as famílias,
era José Victorio Moro. de ampliar o turno da minoria o rateio para pagar o aluguel de
O relatório do policial diz que que estava trabalhando, a greve alguém.
foram acionados pela empresa segue firme na exigência da Co- A reportagem conta o que o
na pessoa do diretor A. Fontana, missão de Fábrica. A empresa já dr. Olavo omite. “[...] estão, en-
que apontou como agitadores tinha concordado com as outras tretanto, um pouco tensos com a
quatro trabalhadores, que foram reivindicações. pressão policial, principalmen-
demitidos, entre eles, Albino A exigência da Comissão te em cima do Pedro Pereira do
Barzi. A empresa entregou as da Fábrica gera o impasse. E o Nascimento, que é da Comissão
fichas funcionais dos operários DOPS, na pessoa de Dr. Olavo de Campanha Salarial do Sindi-
ao policial. São fotocópias do li- Reino Francisco, faz a negocia- cato e que, na segunda-feira só
vro de registro dos funcionários. ção no lugar da DRT. não foi levado ao DOPS – que
O policial lista as reivindicações O policial reconhece que a chegou a entrar na igreja à sua
dos trabalhadores em greve, que greve não necessita de piquetes, procura – porque os outros ope-
evidenciam as péssimas condi- os trabalhadores estão unidos rários fizeram logo um cerco e o
ções de trabalho: ampliação do e organizados. Relata sua ida à delegado Olavo preferiu conver-
horário de café; preço e quali- Igreja da Sagrada Face, o diálo- sar na igreja mesmo”..
investigação operária
nem todos
Colaboraram
exercendo trabalho que desen-
volvia na França no ramo empre-
sarial da eletricidade. No ano de
1968, casado com a fotógrafa Nair
Benedicto, engajou-se e apoiou as
mobilizações estudantis e operá-
rias. Em seguida, deu apoio logís-
tico à ALN (Aliança Libertadora
Nacional), sendo preso no episó-
dio do sequestro do embaixador
norte-americano. Após 13 meses
de prisão, Jacques retomou sua
vida de empresário e apoiou vá-
rios companheiros militantes, per-
seguidos ou recém-saídos da pri-
são, oferecendo emprego na sua
JACQUES BREYTON, da LÉO MARCONI, da empresa. Não fazia benemerên-
teLem s/a. metaLÚrGiCa Grampos aço. cia, mas fornecia apoio político.
aCerVo FamÍLia Breyton aCerVo pessoaL Léo marConi
A empresa tinha critérios normais
de admissão, só abria exceção aos
perseguidos. Para completar a sua
A
trajetória, participou da luta pela
colaboração da maioria es- proprietários de empresas e, por anistia e da formação do Partido
magadora das grandes em- isso, estavam mais vulneráveis à dos Trabalhadores.
presas e das associações pressão da fiscalização de autori- Era vigiado pelo DOPS, em
patronais com os órgãos da re- dades do fisco, do trabalho e, até cujos documentos consta o regis-
pressão durante a ditadura con- mesmo da repressão, diretamen- tro do veículo de propriedade da
firma, cada vez mais, a tese que te. Ambos são imigrantes. Um é empresa usado por Nair Benedic-
a ditadura foi empresarial-civil- francês, o outro, italiano. to no apoio à Chapa da OSM-SP
-militar. Mas eram os empresá- nas eleições fraudadas no Sindi-
rios obrigados a cooperar? E os jaCquES cato dos Metalúrgicos em 1978. É
que não cooperavam? de Nair o mais importante regis-
Dois empresários da cidade de Jacques Breyton (1921 - 2005), tro das eleições, inclusive as fo-
São Paulo, do ramo metalúrgico, o francês, proprietário da empresa tos do material de campanha da
não foram colaboradores da dita- de iluminação e cenotecnia Telem- Chapa de Oposição encabeçada
dura. Coerentes com suas convic- -Técnicas Eletromecânicas S/A, por Anízio Batista. O seu trabalho
ções políticas, participaram a seu foi da Resistência Francesa con- será usado, anos depois, no livro
modo da resistência ao regime tra a ocupação alemã na Segun- “Santo Dias: quando o passado se
militar e da luta pela democrati- da Guerra. No final da década de transforma em História”, do qual
zação do País. Não eram grandes 1950 estabeleceu-se no Brasil, é autora com Jô Azevedo e Lucia-
Capítulo 3
a aSSOCIaçãO aNTIOPERáRIa
LÉO
investigação operária
O SINDICALISMO
A SERvIÇO
DE DOIS SENHORES
O ESTADO E O PATRÃO
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
investigação operária
A
Pelos militares adestrados Vai ser prejuízo pra categoria importância do Sindica-
Formavam os pelegos do estado Que desta equipe só viu to dos Metalúrgicos de São
Deixando os patrões deslealdade Paulo ganha relevo político
contentados principalmente a partir da déca-
Prisão e exílio pros lutadores Pra completar meu recado da de 1950. A categoria teve forte
Foi a grande obra dos delatores Quero lembrar um fato presença nas lutas dos trabalha-
Sendo por isso premiados Sebastião de Paula Coelho
Foi advogado do Sindicato dores no período pós-Segunda
Na estratégia dos militares Do Departamento Jurídico foi o Guerra Mundial, fortalecendo
A coisa tava bem bolada chefão ativamente as massivas greves
Limpar os sindicatos menores Encarregado de defender o peão gerais.
No mais forte juntar a pelegada Poucos sabiam que era um rato Em 1953, a Greve dos 300 Mil
São Paulo teve a concentração durou de 26 de março a 23 de
Dos mestres da traição Por ter prestado “bons abril e contou com participação
Pra sustentar barra pesada serviços” dos têxteis, metalúrgicos, gráfi-
Por MALUF foi premiado cos, vidreiros e marceneiros. O
O sindicato dos Metalúrgicos movimento conseguiu 32% de
É uma grande força da nação Ele é SECRETÁRIO DO
reajuste salarial, a libertação de
Reúne 426 mil trabalhadores TRABALHO
E significa grande união E começa a ser falado grevistas que tinham sido pre-
Só em São Paulo - Capital Hoje é homem de confiança sos ao longo da mobilização, e o
É uma força vital Acertou o passo da dança compromisso de não descontar
Que põe medo no patrão Com o governador do estado os dias parados. Em 1957, houve
a Greve dos 400 Mil, que durou
Por ser uma força vital Cito este fato real de 15 a 24 de outubro de 1957.
Ele é muito cobiçado Para que ninguém esqueça Essa greve foi ainda mais mas-
Governo, partidos e políticos Pois o pelego é Camaleão siva que a greve de 53, não ape-
Querem ter ele controlado Com cara nova pode ser que nas pela participação de número
Afastar os trabalhadores apareça
mais amplo de categorias, mas
Colocar enganadores Muda de cor quando lhe convém
Sempre é o plano traçado A vergonha não lhe detêm também porque retomou uma
Tá com MALUF na cabeça. paralisação geral contra o custo
Dezessete anos passaram de vida. Destaca-se também his-
De arrocho, miséria e traição toricamente a Greve dos 700 Mil
Fizeram “milagre” com nosso Os cordéis de Pedro Ma- em 1963, de 29 de outubro a 3 de
sangue cambira eram instrumentos de novembro, que mobilizou 14 ca-
Controlando nossa organização combate. Circulavam nas fá- tegorias. A greve foi mais ampla
Prendendo e matando lutadores bricas como instrumento de in- e mais organizada do que as an-
Ajudados pelos traidores tervenção política. Macambi- teriores, unificando uma grande
Aumentaram o lucro do patrão
ra era Cleodon Silva, dirigente campanha salarial; o Sindicato
Estamos em tempo de eleição da OSM-SP. A sua coletânea de dos Metalúrgicos conseguiu pa-
É grande oportunidade cordéis mereceu a atenção res- ralisar 90% das empresas. Mes-
Afastar esta equipe de peitosa de Florestan Fernandes, mo assim, o realinhamento das
interventores que fez a apresentação. Os cor- forças repressivas nesse momen-
Que tem por chefe Joaquim déis podem ser encontrados no to resultou nos números de 2 mil
Andrade endereço eletrônico www.iiep. trabalhadores presos e 8 mil es-
Mais três anos com esta diretoria org.br pancados.
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
Desde a década de 1950 até o Movimento Sindical Renovador. “efeito demonstração” pre-
golpe militar, a direção do Sindi- Sobre essas organizações: tendia-se, a partir de peque-
cato era identificada com a esquer- “A formação de líderes, orien- nos núcleos bem formados,
da brasileira, com hegemonia dos tação estratégica que sempre a difusão e transferência dos
militantes do Partido Comunista norteou a ação dos jesuítas valores cristãos da organiza-
Brasileiro, iniciada com a eleição no Brasil, os incentivadores e ção à sociedade“.
de Remo Forli em 1953. Os comu- assistentes dos Círculos Ope-
nistas Forli, José de Araújo Pláci- rários, visava formar traba- Esse segmento da categoria
do, José Bustos, Eugenio Chemp, lhadores segundo a sua orien- dos metalúrgicos sempre teve
Fortunato Martinelli e Afonso De- tação religiosa tradicional e como visão política a coopera-
lellis serão o núcleo da direção do politicamente legalista e re- ção de classe, agindo para faci-
Sindicato até 1964. formista, para que estes vies- litar o interesse do empresariado
Havia uma oposição de direi- sem a ter uma participação nos seus conflitos com os traba-
ta consideravelmente consolida- junto às organizações leigas lhadores. Nesse sentido, será um
da, que vinha tanto dos Círculos de caráter político sindical, setor importante na articulação do
Operários Católicos como do empresarial etc. Assim, pelo golpe de 1964. Parte considerável
investigação operária
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
investigação operária
Capítulo 3
a aSSOCIaçãO aNTIOPERáRIa
POR QUE OS
DOCUMENTOS DAS
ELEIÇÕES DO
SINDICATO
ESTAvAM NO DOPS?
Há um dossiê completo no
DOPS de relatórios e materiais
das eleições de 1978 do Sindica-
to, possivelmente encaminhado
pela DRT. A diretoria do Sindicato
oficiava tudo minuciosamente à
DRT, mas a correspondência de-
monstra que tinham plena ciência
de que tudo chegaria ao DOPS.
aCerVo apesp/dops 50-B-58 2506
Isso fica evidente quando Jo-
aquinzão, presidente do Sindica-
to, solicita “realização de policia-
mento preventivo, no local dos
trabalhos das mesas apuradoras,
bem como nas dependências de aCerVo apesp/dops 50-B-58-2504
investigação operária
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
ta do Sindicato é elemento im- neutralizar a organização dos tra- com esses diretores, são algumas
portante para o fortalecimento balhadores em luta. situações que antecediam em pou-
do eleitorado conservador que cos dias a demissão de muitos ati-
garante a manutenção dessa di- Hamilton Barreto sintetiza: vistas. Esse tipo de recorrência
retoria. “A diretoria do Sindicato dos fazia com que militantes da OSM-
É desenvolvido um trabalho Metalúrgicos age em três pla- -SP evitassem aparecer na frente
de extremo cuidado e atenção nos principais: (1) no plano do núcleo da diretoria do Sindica-
aos trabalhadores aposentados, a burocrático-legal, em perfeita to para se proteger.
partir da estruturação de serviços sintonia com a estrutura sin- Militantes da OSM-SP deram
de assistência médica e ambula- dical vigente, legitimando sua uma série de depoimentos sobre
torial. Em 1975, é criado o ambu- ação através de eleições sindi- a cooperação entre o Sindicato e
latório do Sindicato e disponibi- cais, participando das campa- as empresas.
lizada uma equipe que chegou a nhas salariais sem empenho, Francisco de Souza, o “Chico
contar com 60 médicos. Os asso- apenas para cumprir as for- Gordo”, ressalta:
ciados ainda recebiam medica- malidades da lei; (2) no plano “Quando a OSM-SP cresceu
mentos gratuitamente, forneci- assistencial (Cooperativa de muito nas fábricas, ficou cla-
dos pelo governo federal. Consumo criada em 1965, am- ra a aliança dos empresários
A respeito, Waldemar Rossi, pliação da assistência médica, com a diretoria sindical pra
militante da OSM-SP, comenta: construção da colônia de fé- combater a OSM-SP. Isso se
“Veio o golpe de 1964, cassou rias, distribuição de bolsas de dava através da repressão di-
as direções sindicais, fez um estudo para filhos de associa- reta, com demissões seletivas.
corte naquele processo de mo- dos etc.; (3) no plano policial Eles tinham um programa no
vimento sindical muito com- (entrosamento com órgãos po- Sindicato que visitei com o
bativo dos anos 1950 e 1960, liciais, delação de delegados Sérgio Matte, presidente da
nomeou interventores, fez um sindicais, ameaças a trabalha- Federação dos Metalúrgi-
processo de cassação, de cen- dores de oposição que se opu- cos do Rio Grande do Sul. Ele
tenas ou milhares de delega- nham à diretoria etc.)”. foi recebido como dirigen-
dos sindicais e inicia um novo te sindical e eu acompanhei.
processo. E esse novo proces- São inúmeros os depoimen- No Sindicato eles tinham um
so era transformar um sindi- tos de trabalhadores militantes, mapeamento das fábricas im-
cato de lutas em um sindicato organizadores de trabalhos nas pressionante, sabiam se en-
assistencialista. Aí começa a fábricas, que mencionam a sus- travam militantes de esquerda
entrar ambulatórios médicos, peita de delação de operários pe- da OSM-SP ou não na empre-
fornecimento de medicamen- los membros da diretoria do Sin- sa. ‘Vamos ver quem entrou
tos gratuitos, cooperativas de dicato, em conluio permanente nesse último ano, de que fábri-
consumo, cooperativas habi- com as empresas, que resultará ca veio, qual a situação’. Era
tacionais.” numa série de demissões. muito fácil o mapeamento, a
Encontros fortuitos com direto- delação e a demissão. Isso di-
Se, por um lado, a direção do res do Sindicato em visita nas fá- ficultou muito o trabalho de
Sindicato consegue o apoio de um bricas, entregas de abaixo-assina- oposição, não eliminou, mas
número expressivo de trabalhado- dos por qualquer demanda, greves dificultou muito. Eles provo-
res em decorrência da estrutura- nas empresas, momentos quais- cavam várias greves e o mili-
ção dessa lógica assistencialista, quer de reivindicação em que os tante que estava lá não tinha
por outro, agirá fortemente para ativistas sindicais se deparavam como se safar dessa situação.
investigação operária
Então participava e depois retor do Sindicato. Ele tinha retirar da Chapa 3 de 1978 e
era indicado pra ser demitido. alguns informantes na Bras- apoiar o Joaquim de Andrade
Eu trabalhei na Taito e fui de- tubo. Quando me candidatei na chapa que apoiava os pa-
mitido por delação. Eu estava na Cipa, eu militava na Con- trões e a ditadura. Como não
muito bem dentro da empresa, vergência Socialista, os tra- aceitei, fui mandado embora”.
cheguei um dia de tarde, tinha balhadores estavam certos de
ido fazer implantação de es- me elegerem. Mas o Jaime e José Felix, o Zezinho, mais
tamparia externa e, quando o patrão inviabilizaram a mi- antigo militante na Aliperti, uma
voltei, estava o gerente do RH nha eleição. Na outra fábrica, fábrica exemplar dos processos
me caçando. Meu chefe rece- Duratex, pelo Barroca, dire- de repressão, conta a história da
beu ordens pra me demitir na- tor do Sindicato. É fato que ação do sindicato na empresa:
quela hora, o gerente tentou quando fomos presos na greve “O Sindicato era desacredi-
questionar por que. Era uma de 1979 (eu, Joaquim Venturi- tado lá. O Joaquinzão botou
delação clara do Sindicato.” ni e Walfrido), o agente nos fa- o José Policarpo na chapa
lou que o Amável Barroca ha- da diretoria pelega em 1972.
A mesma situação é relatada via nos entregado e que estava A Aliperti sempre botou dois,
por Anízio Batista: sempre lá no DOPS”. três na chapa deles. O Zé Po-
“Fui dedurado em algumas licarpo era meu encarregado
fábricas: na greve da Villares, Albino Barzi também respon- das pontes rolantes e até hoje
em 1973, pelo Sindicato. Na de sobre a delação por parte do ele é vivo, está sempre lá no
Caterpillar, havia um curso sindicato: Sindicato. Mas quem coloca-
para supervisor que eu esta- “Fui dedurado na Metalúrgi- va esse pessoal na chapa? O
va indicado. Faltava uma se- ca São Rafael pelo Sindicato. Medeiros queria que eu e o
mana e fui demitido: delação Companheiros da empresa re- Marcolino fôssemos para a
do sindicato. Não tenho como ceberam a informação pela chapa dele na época e quase
provar, mas podemos afirmar pessoa que trabalhava no de- fomos mesmo. Mas aí, como
que éramos da Oposição, com partamento pessoal, que seria a gente participava da Oposi-
certeza o Sindicato foi o dela- demitido em razão do Sindica- ção e tudo, fizemos uma reu-
tor. A verdade é que na época to pedir para fazer um levan- nião, teve uma pressãozinha.
da repressão, podemos afir- tamento sobre mim. Um com- Bem, pra mim não acrescen-
mar, com certeza, que em qua- panheiro meu, que trabalhava tava nada, não fui”.
se todas as fábricas, médias junto comigo e era torneiro
e grandes, tinha dedo-duro. mecânico, me disse: ‘Albino, Absolon completa o relato so-
Não dá para lembrar os no- você vai ser mandado embora bre a Aliperti:
mes. Mas nós desconfiávamos ainda hoje porque o Sindicato “O Zezinho não foi demitido
de alguns trabalhadores”. esteve aqui e dedou você’. E porque ele tinha estabilidade,
realmente aconteceu: naquele era da lei velha, não podia ser
José Lima Soares, conhecido dia fui mandado embora”. mandado embora. Mas eu ti-
nos meios operários como “Soa- nha tido dois mandatos de vi-
rão”, se soma aos relatos: Fernando do Ó Veloso: ce-presidente da Cipa e nessa
“Fui dedurado várias vezes. “Olha, acho que a diretoria época estava na Comissão de
Em duas delas, na Ferra- do Sindicato me dedurou. Na Fábrica. Infelizmente, o An-
mentaria Ravito e na Brastu- Indústria de Máquinas Ferdi- tônio Medeiros cassou meu
bo. Não tenho como duvidar, nand Vaders, o dono da fábri- mandato e perdi o emprego.
fui dedurado pelo Jaime, di- ca tentou me comprar para me Quando perdemos a eleição,
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
ele me convidou para traba- greve da Telefunken simulando o assunto, que tava lá de pas-
lhar no Sindicato e respondi proteção e fichando todos nós. sagem só”.
assim: ‘Não dá para traba- Notemos que a greve estourou
lhar com vocês porque a vi- em outubro e no dia 30 mor- Além das delações reportadas
são de sindicato é outra e in- reu Santo Dias. Trabalhei na às empresas, existem documen-
felizmente não vai dar’. Fui Villares por cinco meses. Vá- tos disponíveis (principalmente
trabalhar na Stevaux, da Via rios líderes eram despedidos no Arquivo Público do Estado de
Anchieta, mas a perseguição enquanto o Toninho, represen- São Paulo) que mostram como
continuou. Fui demitido de lá tante do sindicato, permanecia esses interventores se perpetua-
também, porque me recusei a lá. Isso aumentava a certeza de ram como diretores do Sindicato
aderir a eles”. que nunca se comprometia nas dos Metalúrgicos, colaborando
lutas, e aumentava as suspeitas diretamente com o DOPS e com
Mais uma história de delação de deduragem para o Sindicato os órgãos do Estado de controle e
é relatada por Vicente Espanhol: acabar com a Oposição Meta- repressão.
“Nos meses de setembro e ou- lúrgica dentro das fábricas”. O papel do DOPS nesse con-
tubro de 1979, trabalhava na texto era garantir que a produção
Indústria Villares. Um dia re- Cloves de Castro, conhecido econômica crescesse sem obstá-
cebi na empresa uma intima- como Cloves Preto, narra um in- culos, que os trabalhadores con-
ção para me apresentar no cidente grave, envolvendo Se- tinuassem trabalhando sem se
Dops. Quando voltei para o bastião de Paula Coelho, que foi levantarem contra as suas condi-
trabalho na Villares não me coordenador do Departamento ções de trabalho. Por isso, tinha
deixaram entrar. Fui despe- Jurídico do Sindicato dos Me- a missão de intervir nos conflitos
dido no departamento de pes- talúrgicos de São Paulo, asses- trabalhistas.
soal. Só recolhi minhas coisas sor por muitos anos da diretoria, O esforço da diretoria do Sindi-
acompanhado pelo guarda. O com tarefas importantes, como cato dos Metalúrgicos em abafar
chefe me falou: ‘Você é um ex- coordenar as eleições sindicais levantes e greves nas fábricas fica
celente profissional, mas infe- e representar o Sindicato. Sebas- evidente no episódio em que na In-
lizmente tenho que te mandar tião Coelho sempre foi alvo de dústria de Máquinas Têxteis Santa
embora’. suspeitas pela esquerda. Foi se- Clara Ltda., no ano de 1968, num
Poucos dias antes, fizemos cretário de Relações de Trabalho dia em que se principiou uma gre-
uma reunião de preparação do governo Maluf em 1981. ve por reajuste salarial, o DOPS
da greve dos metalúrgicos de “Tava preso no Doi-Codi em solicitou diretamente ao diretor
São Paulo no Arco Íris, sub- 14 de dezembro de 1969. Me do Sindicato, Orlando Malvezzi,
sede da região Sul. Fui sur- espantei quando fui condu- presença na fábrica para mediar o
preendido com a presença de zido pra tortura, porque vi conflito entre trabalhadores e di-
uma pessoa do departamento num espaço embaixo da esca- retores da empresa:
de pessoal da Telefunken na da o Sebastião de Paula Co- “Estivemos na manhã de hoje,
reunião. Essa pessoa nunca ti- elho trabalhando numa má- às 10,30 horas na Indústria
nha participado e nunca mais a quina de escrever. Na eleição de Máquinas Têxteis Santa
vi. A dedução me pareceu evi- do Sindicato em 1978, Coelho Clara Ltda, à Rua Domingos
dente: ela passou minha par- tava na coordenação da elei- Afonso, 460, Vila Santa Cla-
ticipação na greve de 1978 na ção. Disse pra ele “Lembro de ra, onde segundo informações
Telefunken para a Villares. O você, te vi na Oban em 69. Eu da própria empresa, havia um
pessoal do DOPS já me conhe- tava lá”. Ele, meio sem gra- princípio de greve numa de
cia, pois eles acompanharam a ça, disse, querendo dispersar suas seções.
investigação operária
A indústria, que tem aproxi- Anexo estão duas relações a infiltração de indivíduo no Sin-
madamente 250 operários, com os nomes dos operários dicato dos Metalúrgicos. Ele re-
está dividida em diversas sec- grevistas, sendo que a relação passa ao investigador do DOPS
ções, e uma delas, a de torne- que contém 11 nomes trata-se informativo da missa de um mês
aria, que tem 60 operários, dos que iniciaram o movimen- da morte de Olavo Hanssen:
até aquele momento não havia to” (documento 50B/58/1872/ “Cumpre-nos informar a V.S.
começado o trabalho, perma- DOPS – nº. 9157). que no dia de ontem o Inves-
necendo os operários junto às tigador desta Sub-Chefia que
máquinas, de braços cruzados Avisado pela repressão, o di- se acha infiltrado no Sindicato
(...) retor Malvezzi mantém toda a dos Metalúrgicos de São Pau-
Subimos posteriormente à re- negociação com a empresa e os lo, recebeu dentro do referido
ferida secção, onde reunimos trabalhadores com a presença sindicato o volante anexo, ten-
os operários e lhes informa- do agente do DOPS. Este agente do ainda informado que na-
mos sobre a ilegalidade da- comunica formalmente que está quele órgão classista existem
quele movimento, sendo que levando a lista com o nome das vários pacotes dos menciona-
os mesmos deveriam retornar lideranças grevistas. É uma das dos panfletos.
ao trabalho logo depois do al- evidências de que o DOPS fun- Era o que nos cumpria infor-
moço (…) cionava como instrumento do mar.
Às 14,00 horas chegou ao lo- Estado na solução de demandas Obs. Após a feitura deste re-
cal, a nosso pedido, o Sr. Or- trabalhistas e que utilizava os di- latório, fomos informados por
lando Malvesi, diretor do Sin- retores sindicais como suporte um elemento da diretoria do
dicato dos Metalúrgicos, que para esse fim. sindicato de que organizarão
foi colocado a par da situação O Sindicato passa a funcionar uma espécie de corpo de segu-
e imediatamente promoveu como território livre para o trân- rança, pois temem que elemen-
um contato com os grevistas, sito dos espiões e investigadores tos esquerdistas se aproveitem
tomando mairoses, digo maio- das forças de repressão. São pou- do evento para provocar dis-
res esclarecimentos a respei- cos os documentos que trazem túrbios e distribuição de pan-
to, e nomeando entre os mais os nomes dos agentes, mas são fletos subversivos” (documen-
velhos de casa, uma comissão diversos os documentos que de- to 50B/58/1932 – nº. 9104).
para imediatamente debate- monstram a presença infiltrada
rem os problemas com os dire- de agentes no Sindicato. Como Em momento algum é encon-
tores da emprêsa (…) exemplo, em 1970 é constadada trado nos arquivos algum conte-
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
údo que mostre atitude hostil ou isso, destacado elementos de Departamento Pessoal e, che-
conflitante dos diretores com os sua confiança” (documento gando lá, fui recebido pelo
agentes do DOPS, mesmo quan- 50B/58/1989). vice-presidente do Sindicato,
do esses agentes eram denun- Orlando Malvezzi, interven-
ciados pelos trabalhadores. Por Esse papel dos sindicalistas tor em 1964.
outro lado, nunca os agentes qua- conservadores também é explí- Ao lado dele, estavam dois
lificam negativamente a diretoria cito no relato de Vito Giannotti, policiais à paisana que me
nos seus relatórios. ao comentar sobre sua prisão em decretaram prisão. Me segu-
Ainda em 1970, a impressão 1979, quando trabalhava na Má- raram na saleta do DP e me
do DOPS sobre a fala do traba- quinas Piratininga, no bairro da deram ordem de segui-los.
lhador Júlio Ferreira dos Santos Mooca: Perguntei o porquê e de onde
numa assembleia do Sindicato “A partir do 1º de Maio, tra- vinha a ordem. Eles respon-
dos Metalúrgicos: balhadores de várias fábricas deram que quem perguntava
“este orador provocou gran- metalúrgicas de São Paulo era eles e não eu. Me fizeram
de confusão no plenário, pois começaram a preparar gre- subir num carro não identifi-
acusou o Sr. João Vicente, que ves, estimulados pelo exemplo cado estacionado na frente da
nesse momento não se encon- de São Bernardo. Essa prepa- fábrica e me levaram para a
trava no plenário, de ter for- ração foi muito intensa entre Delegacia de Polícia da Rua
necido o seu nome ao DOPS, os setores da OSM-SP. Na re- Jumana. Lá me interrogaram,
ocasionando a sua prisão” gião da Mooca, devido ao tra- sem muito interesse.
(documento 50B/58/1932 – balho profundo de interfábri- O objetivo era fazer hora para
nº. 9102-9103). cas, várias greves passaram ver se a greve aconteceria
a ser preparadas – especial- mesmo sem mim. Foi isso que
João Vicente era do núcleo de mente na Gutmann e na Má- aconteceu: às 8h10 iniciou a
interventores. quinas Piratininga. greve na Máquinas Piratinin-
Um informante do DOPS, No começo de maio, os com- ga e lá pelas 10h00 fui solto e
em 1972, descreve que boletins panheiros da Piratininga co- voltei para a porta da fábrica.
e panfletos da OSM-SP estavam meçaram um curso noturno Lá, o Departamento Pessoal
sendo distribuídos nas portarias de trigonometria e álgebra. me disse que estava demitido”.
de diversas indústrias, Na verdade, era um disfarce
“especialmente no bairro de para reunião e preparação da Num episódio em 1978, José
Santa Clara, Máquinas Gut- greve. No começo de junho de Maria Vicentino, membro da
mann, Mecânica Gráfica, em 1978, estava tudo pronto para executiva do Sindicato em vá-
Santo Amaro, Metal Leve, e estourar a primeira greve na rias gestões, assina documen-
também nas indústrias Arno e história da Máquinas Pirati- to, dirigido ao diretor do DOPS,
Lorenzetti, e outras em toda S. ninga. Romeu Tuma, com a seguinte
Paulo”. (No original, o nome O comando de greve marcou o mensagem:
das fábricas estão redigidos início da greve para as 8h10, “O SINDICATO DOS TRA-
com erros). logo depois do café que era BALHADORES NAS INDÚS-
servido. Quando deu 7h55, TRIAS METALÚRGICAS,
Menciona, com destaque, que um guarda veio na minha má- MECÂNCIAS E DE MATE-
a diretoria do Sindicato quina e disse para segui-lo até RIAL ELÉTRICO DE SÃO
“está empenhada em pegar o escritório. Logicamente, o PAULO, através de seu di-
em ação os distribuidores plano de greve tinha sido des- retor infra-assinado, repor-
dos boletins. Tendo já para coberto. Segui o guarda até o tando-se ao ofício SE/169/78/
investigação operária
Arq.1-3d-JMV, datado de 03
de março do corrente ano,
prestar seus agradecimen-
tos pela valiosa colaboração
prestada por esse conceitu-
ado Departamento, sob sua
direção, no caso entre o em-
pregado e nosso associado
JACOMIAS DOS SANTOS e a
empresa MASSARI S/A. IND.
DE VIATURAS.
Outrossim, queremos esten-
der os nossos agradecimentos
aos senhores Dr. ORLANDO
DOMINGUES JERONYMO,
Dr. ANTONIO CESAR DON-
GHIA, VALDIR ANTÔNIO
CREPALDI, DAVID ALVES
DE CAMPOS e ANTONIO
LOURENÇO CARNAUBA,
que trabalharam na presente
ocorrência, solucionando-a
de maneira favorável ao nos- aCerVo apesp/dops os 291p14
so representado” (documento
nº. 8576/DOPS).
Capítulo 3
a aSSOCIaçãO aNTIOPERáRIa
AS PRISÕES DE 74:
“CAIU A COORDENAÇÃO
DA OPOSIÇÃO...”
investigação operária
E
m 1972, a Oposição Sindical chegar aos trabalhadores nos Voltou clandestino no início
Metalúrgica de São Paulo con- bairros, nas paróquias que eles dos anos 1970 e abriu um “es-
corre às eleições com a Chapa frequentavam. A Pastoral Operá- critório de fachada” na rua Xa-
Verde e é derrotada: 18 mil votos ria (e Waldemar Rossi) terá um vier de Toledo. Afastou-se do
dos pelegos e apenas 6 mil para a papel fundamental no processo. Partidão e juntou-se a um gru-
Oposição. Foi uma eleição típica Fundada em 1970, e com o apoio po que tinha participado do Mo-
daquele Sindicato, dirigido por decidido do cardeal Dom Paulo vimento Popular de Libertação
ex-interventores, pelegos que não Evaristo Arns, a PO abriu as por- (MPL), criado por Miguel Arra-
aplicavam nenhuma norma de- tas de muitas igrejas para desen- es na Argélia, onde estava exi-
mocrática nas eleições sindicais. volvermos nosso trabalho: fazer lado. Nos anos 70, o MPL era
A Coordenação da Oposição, reuniões, conhecer metalúrgicos praticamente desconhecido no
ao analisar essas eleições, con- de pequenas empresas e aposen- Brasil. Em 1971 e 1972, alguns
cluiu que aquele trabalho de for- tados, colocar nossas propostas metalúrgicos passaram a se reu-
miguinha feito pelos militantes de um Sindicato sem pelegos, in- niu com Delellis e outros mili-
nas fábricas, apesar de muito im- dependente do governo e com- tantes, e se começou a falar do
portante, não seria capaz de atin- prometido com os verdadeiros MPL e a discutir o trabalho na
gir os milhares de metalúrgicos interesses da classe trabalhadora. Oposição Metalúrgica. Profis-
de São Paulo, em sua maioria tra- Além das igrejas, procuramos sionais de diversas áreas, in-
balhando em pequenas empresas, a FASE [Federação de Órgãos cluindo professores, se reuni-
de 20, 30 operários. Como não ti- para Assistência Social e Educa- ram na perspectiva de criar um
nham nenhum tipo de assistência cional], entidade que se preocu- núcleo do MPL em São Paulo.
pública decente, dependiam dos pava com a formação política e O núcleo dirigente da OSM-SP
médicos, dentistas e remédios que profissional dos operários, cujos não tinha conhecimento da ideia
o Sindicato fornecia gratuitamen- objetivos eram muito parecidos de organizar o MPL. Alguns
te. Essa massa de trabalhadores com os nossos: trabalho de base, metalúrgicos participavam des-
era eleitorado cativo dos pelegos, formação e conscientização. sa iniciativa, como outros esta-
à qual se juntavam os aposenta- vam ligados a distintos grupos
dos, que também dependiam do TRABALHO políticos clandestinos.
assistencialismo do Sindicato. CLANDESTINO Pelo fato de Delellis ser figura
Sem esquecer que a ditadura in- clandestina, tínhamos por nor-
centivava e financiava essa políti- Na ampliação dos nossos tra- ma ir ao seu escritório somen-
ca sindical. balhos, entramos em contato te em condições muito segu-
Para enfrentar a terrível con- com Afonso Delellis, presidente ras. Ninguém devia sair de uma
juntura, precisávamos ampliar do Sindicato dos Metalúrgicos reunião ou do Sindicato e ir até
nosso trabalho. de São Paulo em 1964. Como lá. Mas o DOPS seguia os pas-
centenas de outros dirigentes sin- sos das pessoas que discutiam o
TRABALHOS NOS dicais, Delellis foi cassado pela MPL. O local foi descoberto e
BAIRROS ditadura. Perseguido, conseguiu vigiado. O DOPS ocupou uma
fugir do País e, por meio de sua sala ao lado e instalou no escri-
Comecemos pelo começo: de- ligação com o PCB, exilou-se na tório do Delellis um esquema de
víamos saber como poderíamos Tchecoslováquia. escuta. Quando Adilio Roque (o
Capítulo 3
a aSSOCIaçãO aNTIOPERáRIa
investigação operária
CRImINIaLIzaçãO
fORçaDa
COMO CONCILIAR UM TRABALHO na FáBriCa Com essa (Texto baseado nos relatos de
eXiGênCia? a menaGem era um instrumento de ControLe de
ControLe e Coerção, mas tamBém de desartiCuLação da Adílio Roque, Elias Stein, Vito
Vida proFissionaL e poLÍtiCa do perseGuido. Giannotti e Waldemar Rossi)
Capítulo 3
a aSSOCIaçãO aNTIOPERáRIa
a oposição
sindiCal no exílio
aos olHos
da repressão
CARTAz DO
ENCONTRO
da oposição
sindiCaL
no eXÍLio.
aCerVo iiep/
proJeto
memória
osm-sp
investigação operária
E
m 1979, com o ressurgimento divulgação da intensa exploração das atividades na Espanha, Itália
das greves operárias no Bra- a que estava submetida a classe e Iugoslávia, estão nos arquivos
sil e a multiplicação das Opo- trabalhadora brasileira sob o re- DOPS-SP, com a identificação
sições Sindicais, os sindicalistas gime ditatorial. Para isso, além da dos participantes, os prontuários
no exílio convocam o Encontro publicação em vários idiomas de de alguns que passaram por pri-
Internacional da Oposição Sindi- quatro edições do Boletim Unité são ou inquéritos no Brasil e as
cal Brasileira em 31 de abril, 1 e Syndicale, o GAOS travou con- cópias de interrogatórios de al-
2 de maio de 1979, em Bruxelas. tato com as principais organiza- guns deles.
Essa iniciativa foi organizada pelo ções sindicais europeias, com as Helio Bombardi, um dos con-
GAOS (Grupo de Apoio à Oposi- de outros países e continentes, ar- vidados ao Encontro em Bruxe-
ção Sindical), com sede em Paris e ticulando formas efetivas de soli- las, foi o mais conhecido diri-
apoiado principalmente pela Con- dariedade dos trabalhadores das gente da Comissão de Fábrica da
fédération française démocrati- empresas multinacionais com os Massey-Ferguson e membro da
que du travail (CFDT). Partici- trabalhadores das filiais dessas chapa da OSM-SP nas eleições
pavam dessa articulação diversos empresas no Brasil. em 1978. Ao ser preso na greve
trabalhadores exilados, entre eles O GAOS, apoiado por um am- dos metalúrgicos de 1979 passa
o “calejado” dirigente sindical co- plo arco de entidades sindicais por um interrogatório em que a
munista Rolando Fratti, lutador (cristãs, socialistas e comunistas), polícia, tendo em mãos cópias da
desde os anos 40 e sindicalista das custeará a viagem de quatro lide- fotos do Encontro, bem como ou-
lutas dos anos 60; os companhei- ranças da nova safra de lutadores. tros dados da Oposição no exílio,
ros de Osasco, José Ibrahim, Ro- São eles: Zé Pedro (Metalúrgicos pergunta a Bombardi os países
que Aparecido e Luis “Luisão” de Osasco/SP); Hélio Bombar- pelos quais os sindicalistas pas-
Cardoso; de São Bernardo, José di (Metalúrgicos de São Paulo); saram, quem financiou a viagem,
Barbosa; do Maranhão, Manoel Ademir de Oliveira (Metalúrgi- o objetivo do encontro, os nomes
da Conceição; do Rio de Janeiro, cos de Contagem/MG) e Antônio e as entidades participantes, en-
José “Ferreirinha” Cardoso, e de Portella (Bancários de SP). Parti- tre outras informações.
São Paulo, Afonso Delellis. ciparão do Encontro em Bruxelas Os quatro convidados ao vol-
e farão contatos em alguns países. tarem não trouxeram nada que os
O GAOS como Sinal dos tempos: a Oposição pudesse incriminar. As fotos fo-
articulador Bancária, na cidade de São Pau- ram trazidas por uma portadora de
lo, tinha acabado de ganhar as confiança. Outras cópias ficaram
Durante sua existência, o eleições e a anistia política estava com os europeus e exilados.As fo-
GAOS realizou importantes tra- anunciada, prenunciando a volta tos que chegaram ao Brasil e al-
balhos: de recepção e acolhimen- dos exilados. guns documentos desapareceram
to dos militantes operários que to- do Sindicato dos Bancários de São
mavam o caminho do estrangeiro Como o DOPS Paulo.A imprensa na Europa e no
como única forma de garantir a in- conseguiu ‘as fotos Brasil noticiou o Encontro. De
tegridade física; de denúncia, jun- Encontro’? alguma maneiraa polícia montou
to a organismos internacionais, um dossiê canhestro com muitas
das péssimas condições de traba- As fotos e registros do encon- incorreções, mas o suficiente para
lho nas fábricas e no campo; e de tro realizado em Bruxelas, além incriminar os participantes.
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
Atividade na Iugoslávia:
Dois iugoslavos,
Bombardi, Fratti,
tradutora, Ademir,
Luisão e Antonio
Portella. Ao fundo, a
efígie do Marechal Tito
(Josip Broz Tito 1892-1980)
presidente da Iugoslávia.
Os partisans iugoslavos
comandados por Tito se
orgulhavam de terem
derrotado os nazistas
ocupantes na II Guerra
Mundial sem ajuda
estrangeira. (esq.p/dir)
Acervo pessoal Claudio
Nascimento.
investigação operária
Conexão
Europa-Mooca
Como uma atividade realiza- O trabalho da OSM-SP na Arno denúncia sobre a participação de
da na Europa resulta em demis- será derrubado depois de quase Helio Bombardi no Encontro da
sões numa fábrica na Mooca? 20 anos ininterruptos, por uma Oposição Sindical no Exílio.
Capítulo 3
a aSSOCIaçãO aNTIOPERáRIa
greves
DAS PRISÕES SELETIvAS
À REPRESSÃO EM MASSA
FAIxA DA OPOSIÇÃO no
inÍCio da GreVe de 1979.
aCerVo oBoré
investigação operária
A
s greves operárias no Brasil turalmente objeto de atenção do Em 1978, houve um caso es-
historicamente foram tra- empresariado, chegando a ser cabroso do assassinato de um
tadas como caso de polícia analisada na Visão, revista de trabalhador pelo advogado da
pelo Estado e empresas. No perí- negócios da época. Depois dela, Metalúrgica Alfa, Cássio Scate-
odo que vai do Ato Institucional várias demissões ocorreram e na, dentro da empresa. O traba-
nº 5 aos levantes de 1978, nor- os trabalhadores reconhecidos lhador, Nelson Pereira de Jesus,
malmente o aparato policial en- como dirigentes da mobilização ao discutir um pagamento, foi
frentava as mobilizações de tra- e suas informações foram espa- baleado pelas costas. A questão
balhadores. Havia casos em que lhadas às grandes empresas da trabalhista virou efetivamente
a repressão se personalizava no região sul de São Paulo para não um caso de polícia. No clima das
DOPS, e outros em que a Polícia serem mais contratados por ne- mobilizações daquele ano, houve
Militar se tornava o órgão res- nhuma delas. grande indignação, gerando mo-
ponsável. Os trabalhadores organizados bilizações de setores democráti-
Qualquer tipo de movimenta- politicamente sempre foram os cos. Cássio Scatena é conhecido
ção, como panfletagem na porta alvos especiais e prioritários das como membro do Comando de
da fábrica, transformava-se em forças repressivas. Normalmen- Caça aos Comunistas, com vasto
motivo de insinuação de gre- te, as empresas detectavam essas histórico de violência.
ve. No caso das panfletagens, a lideranças, incorporadas às “lis- Salvador Pires lembra:
segurança privada da empresa tas negras”. Em regra, as greves Vou falar de uma repressão
apreendia os materiais. A segu- tinham conteúdo reivindicató- dura, muito complicada, que
rança chamava recorrentemente rio, por questões básicas ou rea- se deu na fábrica, que foi o as-
a Polícia Militar ao primeiro si- juste salarial, por isso toleradas sassinato do operário Nelson
nal de agitação. Muitos trabalha- pela forças policiais e patrões, Pereira de Jesus, na fábrica de
dores foram detidos pela polícia pois faziam parte do dia a dia. fogões Alfa, em 1978. Ele es-
simplesmente porque distribuí- Ao mesmo tempo em que havia teve para ser sepultado como
am material. essa legitimação, na surdina per- indigente. A FNT e a Pastoral
Enquanto a PM tinha o pa- seguiam-se as lideranças, demi- Operária confrontaram os pe-
pel de agir em cenas mais cor- tidas quase sempre. legos. Houve uma assembleia
riqueiras, de averiguar qualquer No ano de 1978, uma onda de dos companheiros, que entra-
situação que “cheirasse mal” ao greves no Estado de São Paulo, ram em greve e decidiram que
empresário, o DOPS cumpria a iniciada na fábrica Scania, em São o enterro do Nelson passaria
função de identificar os “cabe- Bernardo, espalhou-se pelo Bra- em frente à Alfa.
ças” do movimento, aqueles que sil. Há uma explosão de greves nas
deveriam ser alvo de suspeita fábricas na cidade de São Paulo, Salvador Pires foi presidente
permanente. iniciada na Toshiba – na qual tra- da Frente Nacional dos Traba-
Na chamada Greve do Gato balhava Anízio Batista, candida- lhadores. Em 1980, a FNT cen-
Selvagem, na Villares, em 1973, to a presidente do Sindicato pela tralizava a coleta de mantimen-
os trabalhadores paralisaram as Oposição –, que se torna incontro- tos para apoiar as famílias dos
atividades de cada seção da em- lável pela diretoria do Sindicato. metalúrgicos do ABC em greve.
presa em momentos alternados, A ideia de Comissões de Fábrica A repressão tinha aprendido a li-
o que dificultou o controle pela se generaliza e as greves passam a dar com greves e mobilizações
repressão empresarial e militar. ser irreprimíveis pelas forças poli- massivas, mas mantinha a re-
Essa greve, caso raro na época, ciais, que age apenas localmente pressão seletiva aos organizado-
foi comentada na esquerda e na- contra as mobilizações. res e dirigentes.
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
Eu estava na coordenação do
fundo de greve de apoio aos
metalúrgicos do ABC, pela
Frente Nacional dos Traba-
lhadores. No dia de prender a
diretoria do Sindicato de São
Bernardo, eles queriam pren-
der as lideranças e prender o
apoio. E foram à minha pro-
cura. Não me encontraram,
cercaram a rua, ficaram ba-
sicamente 24 horas com a rua
cercada. No dia seguinte, che-
garam cedo à minha casa já
despachando para me prender,
e eu não estava. Começaram a
Em 1978, a exigência por comissões de fábrica é
gritar com a minha mulher, e
assumida pelos trabalhadores em greve.
ela pediu para eles dizerem o Acervo Oboré
que estava acontecendo. Iden-
tificaram-se como policiais:
‘Se vocês tivessem dito ontem
que eram policiais, eu tinha fa-
lado para o meu marido e ele “Em 1978 entrei na Tecnofor- uma repressão muito grande,
estaria aqui’. Minha mulher jas. Entrei e fui percebendo os muito pesada, da polícia den-
fez um enfrentamento interes- problemas que havia dentro tro da empresa, eram exérci-
sante. da empresa. Eram acidentes tos de policiais dentro e fora.
Quando ela percebeu que a muito graves. Um companhei- Mas foi uma luta que durou do
coisa estava ficando muito di- ro emendou a noite no dia, dia 26 de outubro ao dia 23
fícil telefonou pedindo socor- e quando eram três da ma- de novembro. Nós levávamos
ro para dom Paulo Evaristo, e nhã ele perdeu parte da mão. as reivindicações da CIPA, da
ele pediu para passar o telefo- Quando a greve dos metalúr- Comissão de Fábrica, o retor-
ne aos policiais, e ele disse aos gicos de São Paulo veio sendo no dos companheiros presos
policiais: ‘Olha, o Salvador declarada, suspendemos as que foram mandados embora
está comigo aqui na diocese, novas reivindicações e conti- e outras reivindicações”.
venham buscá-lo, mas deixem nuamos com as reivindicações
a família dele em paz’, e os ca- da greve dos metalúrgicos de Passado esses anos todos,
ras puxaram o carro. Fiquei São Paulo. Assim, termina- “O pessoal falava que o meu
21 dias refugiado na Assem- da a greve dos metalúrgicos nome estava no DOPS, e eu
bleia Legislativa, na Coorde- de São Paulo, continuamos não acreditava. Aí fui lá buscar
nação do Fundo de Greve”. com a nossa greve, porque tí- esse documento. E li esse docu-
nhamos as nossas reivindica- mento e senti força de vontade,
Ainda de 1978 é o relato de ções a serem feitas. Foi mui- porque vi a verdade. A perse-
Albino Barzi: to difícil, muito complicado, guição política, onde ela esta-
investigação operária
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
investigação operária
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
investigação operária
86 companheiros, na primei- nome lá, constando que tinha Lembrando que 80% dos tra-
ra leva que foi presa e, para problemas com a justiça. balhadores da Philco eram
nossa surpresa, apesar de ser mulheres.
a Polícia Militar que estava, Sofia Dias Batista trabalhou Em 1978, na Philco, fizemos
todos nós fomos encaminha- na Philco de 1977 a 1979, pas- uma greve de ocupação da fá-
dos diretamente ao DOPS ali sando por duas grandes greves. brica por uma semana. Éra-
na Estação da Luz. Na greve de 1978, os trabalha- mos mais ou menos 8 mil tra-
Quando nós chegamos, tam- dores compreenderam a neces- balhadores. A firma sabia que
bém já tinha vários compa- sidade da greve geral dos meta- a gente tinha condições de
nheiros de outras regiões lúrgicos e de ter uma campanha mobilizar.
que estavam vindo, que esta- participativa e democrática por-
vam sendo deslocados para que aprenderam a não confiar na A greve dos metalúrgicos da
o DOPS. A situação de como diretoria do Sindicato. Na greve capital em 1979 escancara os li-
chegaram... No primeiro pon- de 1979 enfrentaram o peso do mites da abertura política. O País
to de vista é indescritível, é aparato repressivo ao chegarem estava sendo comandado pelo
com extrema violência, é para próximos à fábrica. general da cavalaria João Figuei-
chegar e abafar, com operá- Fomos presos na porta da redo (que dizia preferir o cheiro
rios de fábricas, era como se Philco: eu, Maria José, o Jus- de cavalo ao cheiro do povo), o
estivesse atacando o pior ini- celino, o Joãozinho. Puseram Estado de São Paulo governado
migo, nem bandido da pior es- a gente num camburão, o que pelo inapresentável Paulo Ma-
pécie era tratado como eles nos causou muito constrangi- luf, e a Polícia Federal dirigida
chegavam para tratar o grupo mento, pois estávamos juntos por Romeu Tuma. Essas figu-
de trabalhadores. Foram vá- com os companheiros da fá- ras coordenaram um tipo de re-
rios camburões. A maioria do brica. A greve de 1979 não foi pressão em massa vista somente
pessoal ficou o resto da noite como na de 1978, que pegou em São Paulo em 1963, na greve
mais o outro dia. Foi libera- os patrões de surpresa. Em dos 700 mil, quando a polícia do
do o pessoal no dia 29, que já 1979, quando chegamos para governador Adhemar de Barros
tinha começado a greve, e o panfletar na porta da fábrica, prendeu 2 mil trabalhadores. Na
pessoal foi segurado no DOPS em plena campanha salarial, época criou um verdadeiro “es-
até o dia 29 à noite. Aí solta- havia um corredor polonês de tado de sítio”, uma tensão polí-
ram todo mundo. A princípio, militares. O corredor polonês tico-social extraordinária como
todos aqueles que foram pre- era mais ou menos de 600 me- senha para o enfrentamento com
sos de imediato já perderam o tros, ia da avenida Celso Gar- o governo de Jango, que que-
emprego, isso era uma regra. cia, onde passavam os ônibus, riam derrubar. A greve de 1979
Mesmo a gente participando ali na rua Santa Virgínia, até causou nas concentrações indus-
da greve dentro das fábricas, a porta da fábrica, só tinha triais uma nunca vista mobiliza-
tentando fazer o mais escon- polícia. Nos dois lados da cal- ção policial na cidade.
dido possível, a partir do mo- çada havia policiais com cas- Apesar da postura vacilante e
mento em que era descoberto, setetes, capacete, preparados suspeita da diretoria do Sindica-
que participou do movimen- para a guerra. Esse apara- to, da prisão dos 334 trabalha-
to, estava na rua... Essa lista to policial deixava claro que dores e do assassinato de um di-
do DOPS por vários e vários a polícia estava a serviço da rigente grevista em um piquete
anos, quando consultava para empresa. Mesmo assim, a gre- pacífico, a greve foi um suces-
tirar identidade, aparecia o ve aconteceu. Paramos 100%. so.
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
investigação operária
Filiação: João Francisco dos Maria Antonia da Silva 66 – Guerino Gomes de Souza
Santos e Maria do Carmo dos Filiação: Francisco Assis de Souza
Santos 49 – Antonio Carlos de Campos e Maria Jose de Souza
Filiação: Antonio de Campos e
32 – Paulo Pereira da Silva Laura dos Santos Campos 67 – Geraldino Pereira dos Santos
Filiação: Benedito Pereira da Silva Filiação: Jose Ferreira dos Santos
e Tereza Durval 50 – Antonio Tavares e Elvira Pereira dos Santos
Filiação: Jeronymo Tavares e
33 – Paulo Rodrigues dos Santos Geralda da Silva Tavares 68 – Helio Bombardi
Filiação: Gabriel Rodrigues dos Filiação: Francisco Bombardi e
Santos e Maria de Freitas dos 51 – Clovis Brandão de Moraes Ursulina Balasso Bombardi
Santos Filiação: João Cabral de Moraes e
Adelina Brandão de Moraes 69 – João Barreto Batista
34 – Paulo Francisco Moura Filiação: Benedito Barreto de
Filiação: Manoel Francisco Moura 52 – Diogenes Carvalho Alves Lima e Maria Bertone de Lima
e Rosa Delgado Moura Filiação: Jose Domingos Alves e
Corina Carvalho dos Santos 70 – João Bosco Viana
35 – Antonio Lauro Campanha Filiação: Jose Roberto Viana e
Filiação: João Campanha e Maria 53 – Franco Farinazzo Adelina Martins da Silva
Botaro Campanha Filiação: Nereo Farinazzo e Ida
Roveroni Farinazzo 71 – João Francisco dos Santos
36 – Clemiltre Guedes da Silva Filiação: Manoel Francisco dos
Filiação: Jose Guedes da Silva e 54 – Jose Genivaldo de Santana Santos e Maria Francisca de Jesus
Alzira Augusto da Silva Filiação: Maurilio Olimpio de
Santana e Maurina Alexandrina 72 – João Alves de Lima
37 – Manoel Luiz da Silva de Santana Filiação: Zacarias Alves de Lima e
Filiação: Antonio Luiz Soarez e Maria de Lourdes de Lima
Antonia Felizmina de Jesus 55 – Lourdes Sola de Paula Vieira
Filiação: Waldemar Sola 73 – João Oliveira de Souza
38 – Teofanes Roberto Rodrigues e Luiza de Paula Sola Filiação: Amaro Jose de Souza e
Filiação: Tiago Roberto e Hilda Maria Oliveira de Souza
Pereira de Melo 56 – Marcos Antonio Pereira
Filiação: João Gabriel Pereira e 74 – João Soares da Cruz
39 – Aparecida Malavazi Djanira Pereira de Carvalho Filiação: Antonio Marques de Cruz
Filiação: Aribaldo Malavazi e e Maria Soares de Cruz
Aparecida Jorge Malavazi 57 – Virginio Demadone
Filiação: Enrico Sansoni e 75 – Joracy Soares
40 – Francisco Jose de Oliveira Alessandra Sansoni Filiação: Jose Soares e Virgilina
Filiação: Jose Elpidio de Souza e Louzada Soares
Carmelita Coelho de Oliveira 58 – Waldemar Soares do
Nascimento 76 – Jose Martin de Oliveira
41 – Jose da Costa Prado Filiação: Evaristo Soares Filiação: Jose Domingos de
Filiação: Pedro Costa Prado e de Souza e Maria Rodrigues Oliveira e Maria de Lourdes Freire
Carmelita Francisca de Paula do Nascimento
77 – Jose de Freitas Nobre
42 – João Augusto Moura 59 – Francisco Balduino Filiação: Antonio de Freitas Nobre
Filiação: Francisco Moura e Filiação: Maria Merces Cavalcanti e Raimunda Otaviano da Costa
Edmeia Castro Moura
60 – Julio Joaquim de Araujo 78 – João Roberto Quirino
43 – Jose Hedwiges de Oliveira Filiação: Jose Joaquim de Araujo e Filiação: Dorvalina Maria de Jesus
Filiação: João Candido de Oliveira Maria Isabel de Araujo
e Maria Aparecida de Oliveira 79 – João de Souza Pena
61 – Jair Gallo Filiação: Nestor Pena e Laura da
44 – Maria do Carmo de Melo Filiação: Afonso Gallo e Nairo Mata e Souza
Filiação: João Gomes de Lima e Ana Ponso Gallo
Genoveva de Lima 80 – João Pereira dos Santos
62 – Francisco Ferreira Filho Filiação: Oscar Pereira dos
45 – Maria Rita Marques da Silva Filiação: Francisco Ferreira Santos e Sebastiana M. de
Filiação: João Marques da Silva e Cavalcante e Antonia Nunes Albuquerque
Maria Gomes da Silva Bezerra
81 – Jorge Luiz dos Santos
46 – Jose Alves da Silva 63 – Fernando do Ó Velozo Filiação: Francisco Lopes de
Filiação: Waldemar Gama dos Filiação: Rodrigo Pereira Velozo e Oliveira e Joanita Helena dos S.
Santos e Carmelita Alves da Silva Maria do Ó do Nascimento Oliveira
47 – Paulo Luna dos Santos 64 – Fidelcino Antonio de Oliveira 82 – Jose Augusto Gomes de Moura
Filiação: Francisco de Luna e Olga Filiação: Ana Maria de Jesus Filiação: Joana Gomes de Moura
Vieira dos Santos
65 – Geraldo Resende Sobrinho 83 – Jose Costa Silva
48 – Pedro de Lima Filiação: Jose Noberto de Souza e Filiação: Vicente Marques da Silva
Filiação: Antonio Pedro de Lima e Jandira Candida de Oliveira e Efigenia Rosalina da Costa
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
84 – Jose Jacinto Sobrinho 101 – Osvaldo Dantas de Araujo Filiação: Maneol Cursino Filho e
Filiação: João Jacinto Cavalcante Filiação: Maria Lopes da Silva Rosenice de Novais Cursino
e Jacira Maria da Conceição
102 – Oscar Rufino Pereira 120 – Walmir Barbosa de Oliveira
85 – Joaquim Rodrigues dos Filiação: Euclides Pereira e Maria Filiação: Waldemar Barbosa de
Santos Rufino Pereira Oliveira e Maria Ferreira de
Filiação: Artur Pestana de Oliveira
Oliveira e Maria Rodrigues dos 103 – Onivaldo Gonçalves Coimbra
Santos Filiação: Floripes Gonçalves 121 – Waltair Barbosa Cordeiro
Coimbra e Maria Francisca de Filiação: Durval Pereira Barbosa
86 – Jose Xavier de Souza Jesus e Eunice Cordeiro Barbosa
Filiação: Glicerio Xavier de Souza
e Vitoria Xavier de Souza 104 – Pedro Domingos de Oliveira 122 – Wagner de Almeida
Filiação: Maria de Lourdes Freires Filiação: Tapi de Almeida e
87 – Jose Ribeiro dos Santos Angelina Scorsi de Almeida
Filiação: Ernestino Ribeiro dos 105 – Paulo Roberto Leandro
Santos e Maria Santa dos Santos Filiação: Manoel Roberto Leandro 123 – Vicente de Oliveira
e Edite Maria de Leandro Filiação: Jose Francisco Oliveira e
88 – Jose Maria de Carvalho Maria Gonçalves de Oliveira
Filiação: Maria Rosa 106 – Paulo Cezar Martins
Filiação: Milton Martins e Isabel 124 – Jose Cornelio da Silva
89 – Jose Antonio Mario de Peres Filiação: Jose Maciel da Silva e
Oliveira Quiteria Maria
Filiação: João Magno Batista e 107 – Raimundo Elias de Souza
Alzira Maria de Oliveira Filiação: Pulquerio Eliza de Souza 125 – Pedro Marques Pereira
e Clarinda Rozenda Palma Filiação: Antonio Alves Pereira e
90 – Juvenal Francisco Rodrigues Izolina Marques de Brito
Filiação: Francisco Jose 108 – Reginaldo Jose da Silva
Rodrigues e Prezelina Alves Filiação: Josefa Sobral da Silva 126 – Antonio dos Reis Alves de
Rodrigues Souza
109 - Reginaldo Jose Severino Filiação: Jose Alves de Moraes e
91 – Jose da Silva Mota Filiação: Jose Severino Filho e Benta Pereira Alves
Filiação: Heliodorio Francisco Severina Augusta Alexandre
Mota e Rosalina da Silva Mota 127 – Maria Lucia Torres
110 – Rui Fernandes de Oliveira Filiação: Nico Torres e Maria Alves
92 – Jose Carlos de Lima Filiação: João Joaquim de Oliveira Mendes Torres
Filiação: Alzira Barros de Lima e Maria Fernandes de Oliveira
128 – Antonio Ferreira de Oliveira
93 – Jose Ailton Gomes Oliveira 111 – Sebastião Martins Sobrinho Filiação: Ananias Ferreira de
Filiação: Edivaldo Gomes de Filiação: João Martins Pereira e Oliveira e Josefa Nazaré de
Cerqueira e Eurides de Oliveira Lindore Francisca Pereira Oliveira
Santos
112 – Stanislaw Szermeta 129 – Francisco Nelson da Costa
94 – Jose Ademar de Oliveira Filiação: Jose Szermeta e Galvão
Filiação: Maria Fernandes de Anastacia Szermeta Filiação: Francisco Chagas Galvão
Oliveira e Isabel da Costa Galvão
113 – Sebastião Andrade de Souza
95 – Lino Adão da Silva Filiação: João Batista de Souza e 130 – Salvador Pereira de Azevedo
Filiação: Adão Alves de Figueiredo Maria Jose Conceição Filiação: Francisco de Assis
e Rosa Joana do Espirito Santo Azevedo e Albertina Pereira de
114 – Sergio Luiz Mattedi Azevedo
96 – Mauricio de Souza Bello Filiação: Alfredo Mattedi e Izaura
Filiação: Antonio de Andrade Mattedi 131 – Jose Carlos Pereira de
Bello e Isaura Laura Souza Almeida
115 – Tadeu Jose Szermeta Filiação: Euclides Alves de Almeida
97 – Nilton Vitorino dos Santos Filiação: Jose Szermeta e e Isaltina Bastos de Almeida
Filiação: Marcolino V. Santos e Anastacia Szermeta
Miqueline Maria de Jesus 132 – Gabriel Arcanjo do Espirito
116 – Tarcísio Mendes da Silva Santo
98 – Manoel Nonato de Freitas Filiação: Olavo Amansueto da Filiação: Raimundo Pedro do
Filiação: Raimundo Nonato de Silva e Maria da Conceição Espirito Santo e Maria Generosa
Freitas e Francisca das Chagas de Oliveira da Silva
Freitas 117 – Ulicio Gonçalves da Silva
Filiação: Jose Gonçalves da Silva e 133 – Adnaldo Figueiredo Ribeiro
99 – Nilson Pereira Zulmira Maria da Conceição Filiação: Augusto Ribeiro dos
Filiação: Adamastor Pereira e Santos e Placida Idelfina
Olivia Maria da Penha Pereira 118 – Vicente Eduardo do Prado Figueiredo
Filiação: Jose Nicolau do Prado e
100 – Norris de Almeida Coll Ides Inacia do Prado 134 – Antonio Luiz Marchioni
Filiação: Heitor Coll de Oliveira e Filiação: Adilio Marchioni e Olivia
Maria Eva de Almeida Coll 119 – Honorides Cursino da Rocha Matheus Marchioni
investigação operária
135 – Assis Donizeti de Carvalho 152 – Carlos Souza Joana Dias dos Santos
Filiação: Francisco de Carvalho e Filiação: José Antonio de Souza
Terezinha Meli de Carvalho Neto e Alaide de Almeida Souza 169 – Cleri Gomes Muniz
Filiação: Jose Paulo Muniz e
136 – Clovis Lopes Granado 153 – Ademar Marcili Maria Gomes Santos
Filiação: João Manoel Lopes da Filiação: Antonio Marcili e Ana
Silva e Epifenia Bartolomeu Lamonica Marcili 170 – Natalicio Gregorio da Silva
Granado Filiação: Jose Gregorio da Silva e
154 – Reginaldo Pereira de Hungria Maria Jose da Conceição
137 – João Antonio da Silva Filho Filiação: Raimundo Pereira de
Filiação: João Antonio da Silva e Hungria e Rosa Joana de Jesus 171 – Mauro Francisco de Almeida
Euculatica Maria da Rocha Filiação: Catarino Francisco de
155 – Nelson Pires Almeida e Antonia Almeida
138 – Renato Silveira Martins Filiação: Otaviano Pires e Ana de
Filiação: Mario Alves Martins e Lima 172 – Cirilo Ferreira do Nascimento
Guiomar Silveira Martins Filiação: Manoel Ferreira do
156 – João Tiago da Silva Nascimento e Maria Ferreira da
139 – Sandoval Tavares da Silva Filiação: Felipe Tiagno Apostolo e Conceição
Filiação: João Tavares da Silva e Maria Alves Pereira
Josefa Severina da Conceição 173 – Rubens Eufrosino Filho
157 – Ademir Salvador dos Santos Filiação: Rubens Eufrosino e
140 – Lexinaldo de Oliveira Silva Filiação: José Salvador dos Odete C. Eufrosino
Filiação: Joel Reis e Maria de Santos e Hilda de Oliveira dos
Lourdes Oliveira Silva Santos 174 – Sebastião Figueiredode Lima
Filiação: Aurélio Figueiredo de
141 – Paulo Gomes de Oliveira 158 – Francisco de Paula Vitor Lima e Maria de Lourdes Pereira
Filiação: Jose Gomes de Oliveira e Monteiro de Lima
Antonia Bezerra de Oliveira Filiação: Antonio Paulo e Aba
Candida Monteiro 175 – José Lima Soares
142 – Francisco de Assis Neves Filiação: Francisco Soares e
Filiação: Guilherme Machado das 159 – Antonio Salvador dos Santos Isaura Maria de Lima
Neves e Valdevina Santos das Filiação: José Salvador dos
Neves Santos e Hilda Oliveira dos 176 – Joaquim Venturini Filho
Santos Filiação: Joaquim Venturini e
143 – Clovis Alves Souza Elvira Pezzi
Filiação: Manoel Alves de 160 – Clementino Filho
Carvalho e Maria Candida Alves Filiação: Clemente José dos 177 – Walfrido Sebastião Martins
de Souza Santos e Senhorinha José dos Filiação: Joaquim Gomes Martins e
Santos Elidia Gomes Martins
144 – Joaquim Agripino Teixeira
Filiação: Gentil Teixeira e Cecilia 161 – Edivaldo Tavares Santos 178 – Vera Lucia de Oliveira
Castorina de Lana Filiação: Clemente José Tavares e Machado
Maria de Lourdes Santos Filiação: Joaquim Machado e Maria
145 – Francisco João da Costa de Oliveira Machado
Filiação: João José da Costa e Jose 162 – Severino dos Santos Nunes
Maria da Conceição Filiação: Cordeiro de Vasconcelos 179 – Verônica Antonia Silva
Filiação: Cícero Silveira da Silva e
146 – Antonio Pimenta da Silva 163 – Evondi Ferreira da Silva Antonia Francisca da Conceição
Filiação: José Guilherme da Silva e Filiação: Faustino Ferreira de
Ana Moraes da Silva Azevedo e Antonia Maria da 180 – João Fernandes de Oliveira
Conceição Filiação: Virgilio Claudino
147 – Alcebino Vieira dos Santos Fernandes
Filiação: Ramiro Vieira dos Santos 164 – Edson Alexandre Bezerra e Maria Ciça de Oliveira
e Izabel Maria da Conceição Filiação: Cesario F. Campos e
Abigamir Maria Bezerrra 181 – Mário Itamar dos Reis
148 – João Honorio da Silva Filiação: Silvério Nunes Reis e
Filiação: Antonio Honório da Silva 165 – Jose Francisco Campos Nair Nunes Reis
e Luzia Zeferina Leite Filiação: Cesario F. Campos e
Severina Maria Campos 182 – Aristeu Genuino do
149 – Antonio Aecio Bezerra Leite Nascimento
Filiação: Antonio Ferreira Leite e 166 – Antonio Laurindo da Silva Filiação: Mariano Genuino do
Alice Bezerra Leite Filiação: Sebastião Laurindo da Nascimento e Bernardina Pereira
Silva e Sebastiana Francisca da de Souza
150 – Elizeu Camargo Magalhães Silva
Filiação: Francisco Pereira 183 – Almerino França
Magalhães 167 – Antonio de Resende Lima Filiação: Cristino de França
e Elisa Camargo Magalhães Filiação: Maria Gracieta de Antunes e Maria Feitosa de Souza
Resende Lima
151 – João Ferreira dos Santos 184 – Manoel Luiz da Silva
Filiação: José Ferreira dos Santos 168 – Manoel Divino Dias da Rocha Filiação: Antonio Luiz Soares e
e Corina da Silva Filiação: Basilio Dias da Rocha e Antonia Felismina de Jesus
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
186 – Antonio Carlos Garcia 204 – Adão Raimundo de Melo 221 – Joaquim Luiz de França
Filiação: Pedro Dutra Garcia e Filiação: Miguel Raimundo de Melo Filiação: Valdemar Luiz de França
Benedita Candida Garcia e Olindina Maria de Melo e Maria Feline da Silva
187 – Antonio Sertorio Filho 205 – Israel Fernandes do 222 – Alonso Alvarez Lopes
Filiação: Antonio Sertorio e Nascimento Filiação: Jesus Alvarez Prieto e
Filomena de Marcos Sertorio Filiação: Francisco Fernandes do Olívia Alvarez de Almeida Alvarez
Nascimento e Isabel Maria da Prieto
188 – Aparecido Cardoso Conceição
Filiação: Benedito Cardoso e 223 – Antonio Vieira de Barros
Olivia Maria de Jesus 206 – Antonia Ribeiro da Silva Filiação: Leobina Vieira de Barros
Filiação: José Paulo da Silva e
189 – Jose Carlos Souza Iracema Ribeiro da Silva 224 – Cacilia Elizabeth Hansen
Filiação: Tiburcio de Souza e Ana Filiação: Martin Hansen e Katarina
Maganha de Souza 207 – Eovaldo Pedro de Nolacio Hansen Lenges
Filiação: Manoel Pedro Nolacio e
190 – Jose Noel da Costa Antonia Pereira Nascimento 225 – Hollis Ann Chenery
Filiação: Josefa Noel da Costa Filiação: Hollis Burley Chenery e
208 – Afro Almeida e Silva Nancy Loise Seimster
191 – Levy Pereira Filiação: Severino Francisco da
Filiação: Gumercindo Pereira e Silva e Joana Almeida e Silva 226 – Marco Antonio Longhini
Petronilia Daniel Pereira Barbosa
209 – Jose Pereira Costa Filiação: Palmenio Pio Barbosa e
192 – Manoel da Silva de Jesus Filiação: Arlindo Ferreira Costa e Iracema Longhini
Filiação: Laura Maria de Jesus Lourdes Gonçalves
227 – Pedro Jose Coelho
193 – Sebastião Cassiano de Fora 210 – Divino Aparecido Nascimento Filiação: Francisco José de Abreu
Filiação: João Cassiano de Fora e Filiação: Jose Sebastião e Maria José de Jesus
Maria Aparecida Nascimento
e Ana Camilo Nascimento 228 – Cenerino Evangelista de
194 – Waldemar Rossi Andrade
Filiação: Atilio Rossi e Rosa 211 – Rubens de Paula Fernandes Filiação: Luiz Evangelistade
Bolean Filiação: Eliziario Inacio Andrade e Brasília Maria de Jesus
Fernandes
195 – Antonio Maqueda e Lidia de Paula Fernandes 229 – Afonso Barbosa de Souza
Filiação: Francisco Maqueda Vera Filiação: José Barbosa da Silva e
e Francisca Candida Vera 212 – Luiz Leite da Silva Anita Barbosa de Souza
Filiação: Alfredo Leite da Silva e
196 – Luiz de Moraes Belisa Alves Leite 230 – Maria Arleide Alves
Filiação: Augusto Avelino de Filiação: Antonio Firmino Alves e
Moraes e Maria Vaz Domingues 213 – Claudio Peanho Aurelina Santos Alves
Filiação: Antonio Peanho e Maria
197 – Jose Benedito Bento Esperança Otero Peanho 231 – Maria das Mercês Pereira
Filiação: Luiz Isac Bento e Benedita Apostolo
Ezequiel Bento 214 – Sofia Dias Batista Filiação: Deoclaciano Pereira
Filiação: Alberto Dias Batista e Apóstolo e Rita Ferreira de
198 – Osvaldo Angelo Chaves Maria A. Dias Batista Oliveira
Filiação: Geraldo Angelo da Silva
e Sebastiana Chaves F. S. 215 – Severino Jose Andrade 232 – Elcio Marques Fernandes
Filiação: Jose Luiz de Andrade e Filiação: Osmar Fernandes e
199 – Nelson de Oliveira Leite Etelvina Helena de Jesus Eunice Marques Fernandes
Filiação: Isaltino Francisco Leite e
Geralda Filomena Jesus 216 – Antonio Ribeiro Barcelos 233 – Arsenio Rodrigues da Silva
Filiação: José Ribeiro de Farias e Filiação: Jerônimo Rodrigues da
200 – Anedino Vicente de Araujo Conceição Cassiano Barcelos Silva e Cândida Pereira da Silva
Filiação: José Vicente de Araujo e
Amalia Maria Nascimento 217 – Roberto Bueno 234 – Paulo Ribeiro da Silva
Filiação: Antonio Bueno e Filiação: Luiz Ribeiro da Silva e
201 – Jose Cicero da Silva Mercedes da Silva Bueno Zilda Ribeiro da Silva
Filiação: Cicero João da Silva e
Rita Ana da Conceição 218 – Paulo Rogerio Polido 235 – Milton Loiola
Filiação: Manoel Batista Polido e Filiação: Orlando Moreira e
202 – Cristovão Lopes Amancio Julia Maria da Conceição Leoniza Loiola
Filiação: Clementino Amancio e
Raimunda Martins Lopes 219 – Luiz da Silva 236 – Luiz Eduardo de Oliveira
Filiação: Manoel da Silva e Filiação: Miguel Antonio de
203 – Raimundo Nonato de Francisca Rodrigues da Silva Oliveira e Rosa Maria de Oliveira
investigação operária
237 – Jonas Alves Portugal 254 – Raymundo Nonato Silva Filiação: Gastão Afonso e Beatriz
Filiação: Josino Alves Portugal e Filiação: Raymundo Cirillo dos A. Afonso
Maria Bela Portugal Ferreira
e Ana Martins de Vasconcellos 271 – Joaquim Santana da Silva
238 – Lucio Caetano de Pinho Filiação: Eufranio Ferreira da
Filiação: Leonino Caetano de 255 – Antonio Jose Gomes Silva e Amalia Santana Bispo
Pinho e Joana Caetano de Pinho Filiação: Sebastião Pascoal Gomes
e Ana da Silva Gomes 272 – Braz Santiago
239 – Francisco Alves Costa Filiação: Antonio Noberto
Filiação: João Alves das Mercê e 256 – Sebastião Machado Fagundes Santiago e Rita Ana Feitosa
Maria Moreira Alves Neto
Filiação: Francisco Machado 273 – Manoel Sena Dias
240 – Jonival Jose Ferreira Fagundes e Maria Lucea Fagundes Filiação: José Sena Dias e Idalina
Filiação: Manoel José Ferreira e Ferreira Dias
Maria Olindina Ferreira 257 – Vadir Pereira de Andrade
Filiação: Olindo Pereira de 274 – João Vieira
241 – Percival Joaquim do Andrade e Maria Coelho da Silva Filiação: Manoel Vieira e Raimunda
Nascimento Alves Vieira
Filiação: Joaquim Valdevindo 258 – Zacarias dos Santos
Nascimento e Maria Mailde do Filiação: José Lourenço dos
Nascimento Santos e Maria Eunice dos Santos 275 – Apolonio Antonio Macedo
Filiação: Antonio Francisco de
242 – Leonildo Rodrigues 259 – João Vasconcelos Macedo e Izabel Maria da
Filiação: Lourenço Bueno Filiação: Raimundo Cirillo Conceição
Rodrigues e Maria Franco Ferreira e Ana Martins de
Rodrigues Vasconcelos 276 – Edison Ribeiro Lima
Filiação: Joaquim Isidoro Lima e
243 – Osmar Freitas de Jesus 260 – Milton Moraes da Cruz Ana Ribeiro Lima
Filiação: Oswaldo de Jesus e Edith Filiação: Antonio Moraes da Cruz
Freitas de Jesus e Hilda Xavier da Cruz 277 – Geraldo Aniceto do
Nascimento
244 – Amauri Caparroz Marques 261 – Roberto Mariano do Prado Filiação: Waldemar Aniceto do
Filiação: Manoel Caparroz e Olivia Filiação: Pedro Mariano do Prado Nascimento e Maria da Conceição
Marques Caparroz e Helena Cada do Prado da Silva
245 – Samuel Barbosa da Silva 262 – Wilson Dutra Valle 278 – Jose Agostinho Neto
Filiação: Antonio Barbosa da Silva Filiação: Washington Dutra Valle Filiação: Aristeu Agostinho do
e Maria Severino da Silva e Idalina da Silva Nascimento e e Etevilna Joana da
Conceição
246 – Israel Alves dos Santos 263 – João Carlos Batista da
Filiação: Abidias Alves dos Santos Rocha 279 – Edvaldo Antonio de Brito
e Antonia Alves dos Santos Filiação: Osório Dias Batista e Filiação: Antonio José de Brito e
Rosaria Florencio da Rocha Cezarina da Silva Brito
247 – Miguel Tadeu de Carvalho
Filiação: Geraldo L. de Carvalho 264 – Silvio Luiz Teofilo 280 – Jose Aloisio de Souza
e Geralda Bastos de Carvalho Filiação: Valdomiro Antonio Filiação: João Antonio de Souza e
Teofilo e Aparecida Nogueira Conceição Dias de Souza
248 – André Luiz dos Santos
Filiação: Joaquim Pedro dos 265 – Fernando Albiere Godoy 281 – Jose Alves Leite
Santos Filiação: Lazaro de Almeida Godoy Filiação: João Alves Leite e Clara
e Alice Otávia dos Santos e Ermogene Alhiere de Godoy Nercina Leite
249 – Elso Bortolo 266 – Islandi Baptista Abrunheiro 282 – Jose Luiz da Silva
Filiação: Sebastião Bortolo e Vinia Filiação: João Baptista Filiação: Luis Mendes da Silva e
Sartório Bortolo Abrunheiro e Felicidade Maria de Oliveiras
Abrunheiro
250 – Vitor Generoso Sobrinho 283 – Raimundo Soares Ramos
Filiação: José Generoso Pacheco e 267 – Francisco Cardoso Filho Filiação: Cicero Soares Ramos e
Eduvirges Rodrigues Pacheco Filiação: Francisco Cardoso da Maria Correira Lima
Silva e Francisca Gonçalvesde
251 – Valdir Romualdo Ribeiro Carvalho 284 – Salvino Rodrigues de Freitas
Filiação: Adolfo Romualdo Ribeiro Filiação: Luiz Rodrigues e Maria
e Deorides Bonifácio Gomes 268 – João Batista da Silva Luiza de Freitas
Filiação: Severino Correa da Silva
252 – Benedito Aparecido do Prado e Laura Oliveira dos Santos 285 – Waldir Antunes da Silva
Filiação: Milton Mendes Prado e Filiação: Jonas Neves da Silva e
Vicentina Floriano Prado 269 – Sebastião Marques da Silva Valdevina Antunes da Silva
Filiação: Alice Maria da
253 – Irineu Campagnucci Conceição 286 – Walter França da Silva
Filiação: Alcides Campagnucci e Filiação: João França da Silva e
Florinda Lopes Campagnucci 270 – Orlando dos Santos Afonso Maria Joana da Conceição
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
287 – Antonio Aparecido 303 – Marcelo Fortes Barbieri 320 – José Pietrobom Rotta
de Morais Filiação: Nelson Barbieri e Maria Filiação: Augusto Rotta e Synyra
Filiação: Joaquim Gomes de Morais Silvestre Campos Pietrobom Rotta
e Sebastiana Alves da Rosa
304 – Orlando Silvestre Campos 321 – João Manoel Vieira Soares
288 – Decio Guerreiro Parentes Filiação: José Campos Ramos e Filiação: Manoel M. Soares de Melo
Filiação: Ramom Guerreiro e Rosa Silvestre Campos e Julieta do E.E. Vieira
Carmem Guerreiro Parentes
305 – Paulo Garcia Lelis 322 – Xavier Uytdenbroek
289 – Eduardo dos Santos Filiação: Sebastião Garcia Filiação: Carlos Uytdenbroek e
Ferreira Lelis e Leda Alves Ferreira Joana Uytdenbroek
Filiação: Erotides Basilio Ferreira Garcia Lelis
e Ernestina Marcionilia dos 323 – Mario Tafner Filho
Santos 306 – Renato Russo Martins Filiação: Mario Tafner e Angelina
Filiação: João Martins e Dea Russo Fernandes Tafner
290 - Irineu Molina Martins
Filiação: Antonio Molina e Narcisa 324 – Edson de Melo
Gonçalves Molina 307 – Wang Jiang Horng Filiação: Autamiro de Melo e Maria
Filiação: Wang Lee Chun e Thereza Andrade de Melo
291 – Jose Airton de Souza Wang Shy Jyuln
Filiação: José Savero de Souza e 325 – José João da Silva
Francisca Angélica de Souza 308 – Paulo Francisco da Silva Filiação: João Braz Catarino e
Filiação: Ignacio Francisco da Lourentina Maria de Jesus
292 – Josequias Rodrigues da Silva Silva e Ivonete Matias da Silva
Filiação: José Rodrigues da Silva e 326 – Natalino do Carmo
Ana Maria da C. Rodrigues 309 – Eduardo Rodrigues Lacerda
Moreira Filiação: Antonio Nerei Lacerda e
293 – Juares Pereira Martins Filiação: Doneliro Moreira e Eugenia do Carmo Lacerda
Filiação: Plinio Pereira do Clarinda Rodrigues Moreira
Nascimento e Darcy Martins 327 – Olivio Fernandes
Pereira 310 – Manoel Filgueira Barral Filiação: José Fidelis e Maria
Filiação: Faustino Filgueira Antonian
294 – Jurismar Oliveira de Menezes Franco e Maria Luiza Barral
Filiação: Juraci Oliveira de Martines 328 – Vitor Lopes
Menezes e Geralda Lins de Menezes Filiação: João Lopes e Elídia
311 – Leopoldina Duarte Mota ou Chuca Lopes
295 – Mario Itamar Nunes dos Reis Leopoldina Braz Duarte
Filiação: Silverio Reis e Nair Nunes Filiação: João Duarte e Emilia Braz 329 – Jose Justino da Silva
dos Reis Filiação: Justino Arcajo da Silva e
312 – Alcides Aggio Sobrinho Josefa Maria dos Anjos
296 – Mario Ivo Moraes de Arruda Filiação: Luiz Aggio e Lais
Filiação: Antonio Arruda Neto e AparecidaLupato Aggio 330 – Elmo Pinheiro Maciel
Jacira Moraes dos Reis Filiação: Antonio Pinheiro Maciel e
313 – Paulo Rodrigues dos Santos Maria do Carmo Silva
297 – Normando Marcial Lacerda Filiação: Gabriel Rodrigues dos
Filiação: Antonio Lacerda Santos 331 – João Pedro de Melo Neto
Alexandre e Yolanda Marcial e Maria de Freitas dos Santos Filiação: José Pedroso de Moraes
Lacerda e Maria Aparecida Rodrigues de
314 – Anna Maria Martins Moraes
298 – Ornelimno de Souza Silva Filiação: João Martins e Victoria
Filiação: Lidio de Souza Silva e Nunes Martins 332 – Manoel da Silva Lima
Augusto Alves de Souza Filiação: Maria Simão da Silva
315 – Osvaldo Francisco Ramos
299 – Paulo Raimundo Vieira de Filiação: Albino Francisco Ramos 333 – Manoel Messias Theodoro
Santana e Otacilia Miranda Filiação: Antonio de Souza
Filiação: Assuelo Alves de Theodoro e Margarida Maria
Santana e Cleonice Vieira de 316 – Wagner Gomes Theodoro
Santana-SP Filiação: João Joaquim Gomes e
Jacira Gomes 334 – Antonio Estevam da Silva
300 – Gilmar Gomes de Souza Neto
Filiação: João Gomes de Souza e 317 – Sergio Balieiro Nigro Filiação: Geraldo Estevam da Silva
Edna do Carmo de Souza Filiação: Willian Nigro e Lia e Aristelis Pialho da Silva
Balieiro Nigro
301 – Raimundo Xavier
Filiação: José Roque Xavier e 318 – Antonio Cardoso da Silva
Maria Aparecida Xavier Filiação: Quirino Cardoso da Silva A lista dos presos aqui
e Maria Rodrigues da Rocha transcrita pode ser
302 – Eliaquim Pereira Rocha
Filiação: Joaquim Pereira da 319 – Carlos Augusto da Costa
encontrada no Acervo
Rocha e Donail Fortunato de Filiação: José Lopes da Costa e APESP/DOPS, sob o código
Rocha Izidora Ferreirada Costa 20-C-44 7029.
investigação operária
nossas bravas
mulHeres
Capítulo 3
a aSSOCIaçãO aNTIOPERáRIa
A
participação de mulheres nas
lutas operárias, quase sem-
pre protagonizando as orga-
nizações nos bairros, as reivindi-
cações por serviços básicos nas
comunidades, mostra o entrela-
çamento entre a luta política e a
vida cotidiana dos trabalhadores.
Uma importante expressão dis-
so foi o MCV – Movimento do
Custo de Vida, surgido principal-
mente na zona sul de São Paulo.
Ana Dias relata:
“Quando começou a surgir o
pessoal da Pastoral, grupos
de mães, associação e o pes- ANA E SANTO DIAS
soal da Oposição, foi assim aCerVo moVimento
investigação operária
O Movimento do Custo de Vida. Então nós éramos pionei- marido continuar parado a
Vida, organizado por essas mu- ras. A primeira carta eu tinha o negociação vai acontecer. En-
lheres moradoras de comuni- rascunho dela até pouco tempo, tão quantas pessoas conta-
dades da periferia de São Paulo a primeira carta que foi feita pelo vam histórias e eu lembro des-
com o apoio das Pastorais, foi Custo de Vida. Até teve um pro- sa da dona Hipólita. Gente!
um momento importante no acú- fessor que era lá do ‘Instituto Be- Era uma coisa bonita porque
mulo de forças das lutas sociais atíssima’ onde a Irma era freira tenho um pão e divido a meta-
naquele período. Conseguia-se antes, que foi torturado por causa de, e a gente consegue comer
dialogar com aquele trabalhador dessa carta porque ele tinha uma um pouquinho, eu e você, e
ou trabalhadora que não estavam cópia dessa carta no bolso quan- nós conseguimos andar mais
diretamente envolvidos na luta do ele foi preso, e eles queriam um tanto. Porque a mulhera-
contra a ditadura, mas que per- saber quem era que escreveu. da não tinha medo, né? E era
cebiam o aumento do custo de Naquele tempo a gente apanha- na política também, no Cus-
vida em seu cotidiano. Como as va, mas não contava quem era” to de Vida, na porta das, fá-
mulheres sempre exerceram um O protagonismo das mulhe- bricas, quantos panfletos nos
papel importante de verdadeiras res fica evidente em diversos mo- fizemos? Tanto que quando
mediadoras entre o espaço do- mentos. Durante o período de o Santo morreu eu estava na
méstico e a comunidade, seja a greve era comum que elas organi- porta de fábrica. Então, isso
partir das relações construídas zassem campanhas para doações que o Anízio falou era muito
na vizinhança, da troca de favo- de alimentos para os trabalhado- forte, e eu e a Albertina bri-
res ou dos cuidados das crianças, res grevistas. Segundo Ana Dias: gamos muito, eu com o Santo
nesse período de intensa mobili- “Nas primeiras greves, o que e ela com o Anízio, porque a
zação, elas se legitimaram como acontecia? Saía nós pra rua, gente tinha cuidado com eles
porta-vozes importantes dos pro- pedindo mantimento pra fazer também. Porque a gente gos-
blemas cotidianos que afetavam comida nas portas das casas tava, sabia que eles tinham
toda a comunidade. Ana Dias ou no bairro do Socorro, pra compromissos, mas tinham
fala do Movimento: mandar comida pro pessoal família, tinha o medo e o amor
“Olha, o Custo de Vida nasceu grevista. As mães vinham com que a gente tinha por eles que
do grupo que eu coordenava lá sacolinh as que nem esmola era mais forte”
no Jardim Nakamura. Começou pra trazer pra nós. Tinha uma
com uma conversa, eu, a Irma senhorinha, a dona Hipólita, Em vários pontos da cidade
Passoni, naquele tempo a gen- de Minas, velhinha, ela já era houve a eclosão dos movimentos
te começou a falar do aumento velha naquela época. Já fale- populares por saneamento, mora-
da carestia e tinha um momento ceu hoje. Ela ia nas portas e dia, transporte, creches. A Zona
de discussão no nosso grupinho, quando chegava nas portas: Leste, a mais populosa da cida-
desse grupinho foi pensando que “Ah! Dona, mas eu to só com de, foi celeiro de muitas iniciati-
já tinha um grupo de coordena- um pouquinho, mas eu vou di- vas. A resistência operária, feita
ção e nesse grupo de coordena- vidir porque se a greve conti- pela OSM-SP, tinha uma grande
ção foi tirada uma carta. Uma nuar meu marido também vai participação de mulheres na re-
carta que foi levada pra Brasí- ganhar”. Cê tá entendendo? gião. Essa organização regional
lia. Em Brasília, saiu na “Hora Então a ligação que ela fazia: da Oposição era fortemente com-
do Brasil” e eu era uma das que se meu marido não tem comi- posta por militantes oriundos das
coordenava junto com as outras da e volta pra trabalhar nós Comunidades Eclesiais de Base,
mães esse Movimento Custo de vamos perder, agora se meu Pastoral da Juventude, Pastoral
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
investigação operária
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
investigação operária
A AÇÃO DO
II ExÉRCITO NO
“ENCONTRO DOS
TRABALHADORES
COM O PAPA”
Capítulo 3
a aSSOCIaçãO aNTIOPERáRIa
O
metalúrgico Waldemar Ros- visita do Papa à capital paulis- da OAB, Eduardo Seabra Fagun-
si, do Movimento de Opo- ta, era de forte tensão entre o Co- des, que matou a chefe da secre-
sição Sindical Metalúrgica mandante do 2º Exército, gene- taria da instituição, Lyda Mon-
e da Pastoral Operária, foi esco- ral Milton Tavares de Souza e D. teiro da Silva, em 27 de agosto
lhido para ser o único orador no Paulo, por conta das denúncias de 1980.
chamado “Encontro dos traba- que o cardeal e a CJP vinham fa- Um dia antes do encontro do
lhadores com o Papa”, na visita zendo dos crimes cometidos pe- Papa com os trabalhadores no
de João Paulo II à São Paulo, em los órgãos de repressão, como Estádio, houve o sequestro do
3 de julho de 1980, no estádio do as dos assassinatos de Vladimir presidente da Comissão de Justi-
Morumbi. Herzog e Manuel Fiel Filho no ça e Paz, Dalmo de Abreu Dalla-
O convite foi iniciativa de D. DOI-CODI, e as de Santo Dias ri, abandonado com o corpo ris-
Paulo Evaristo Arns, então car- pela Polícia Militar, em plena cado à faca num matagal perto de
deal de São Paulo. D. Paulo acu- greve pacífica. Crime ocorri- sua casa.
mulava alguns conflitos com as do oito meses antes do encontro Hospitalizado, Dalmo foi con-
autoridades policiais militares com o Papa. duzido de maca, no dia seguinte,
por defender a dignidade e a vida A Oposição Metalúrgica, os ao Campo de Marte, para parti-
dos presos políticos. Em 1971, movimentos populares e as Co- cipar da liturgia na missa que o
recentemente nomeado para o munidades Eclesiais de Base, Papa celebraria naquela manhã
posto, denunciou a tortura aos re- apoiados pelos religiosos pro- do dia 3. A presença de Dalla-
ligiosos Giulio Vicini e Yara Spa- gressistas, aproveitaram a vinda ri no Campo de Marte possibi-
dini, que faziam trabalho social do Papa para denunciar a ditadu- litou a denúncia pública de seu
nos bairros. Durante a sécada de ra, num momento de ascenso das sequestro e agressão física pelas
70 terá vários conflitos, particu- lutas populares e operárias. Era forças de segurança.
larmente com o comando do II um período de acirramento dos Por conta desse sequestro, D.
Exército. conflitos, em que parte da direi- Paulo estava muito cauteloso.
Em 1972, Rossi já havia sido ta organizada e grupos paramili- Rossi relembra que “D. Paulo pe-
nomeado pelo cardeal para a tares não aceitavam a inevitável diu para não contar nem para mi-
composição da Comissão de Jus- participação popular que em- nha esposa. Ele sabia do risco”.
tiça e Paz (CJP) da Arquidiocese, purrava a ditadura cambalean- A proposta para que dormisse na
comissão que atuou durante “os te, promovendo ações terroris- Cúria diocesana foi rejeitada de
anos de chumbo” denunciando tas e de intimidação. Entre elas, imediato: “Tenho família e vou
os crimes da ditadura, defenden- o sequestro do bispo D. Adriano dormir em minha casa com mi-
do presos políticos e amparando Hipólito, espancado, despido e nha esposa e meus filhos. Se qui-
suas famílias. abandonado com o corpo pinta- serem me matar que o façam”.
do de vermelho num matagal em A visita do Papa equivale à de
O TERRORISmO Da Jacarepaguá, em 22 de setembro um chefe de Estado. A seguran-
DIREITa PaRamILITaR de 1976, e a explosão de uma car- ça de todo o evento ficou a cargo
ta-bomba, endereçada ao então do II Exército, que recusou a cre-
O clima político, quando da presidente do Conselho Federal dencial do operário cristão, tido
investigação operária
A DENÚNCIA DA
DITADURA, DA
OPRESSÃO NAS
FÁBRICAS E DAS
CONDIÇÕES DE VIDA
Capítulo 3
a aSSOCIaçãO aNTIOPERáRIa
investigação operária
Toda essa repressão é reforçada pela estrutura sindical brasileira, inspirada no modelo corporativo vertical
e fascista de Mussolini. Estrutura sindical que impede e reprime a organização independente do trabalhador,
especialmente dentro das empresas; que se constitui oficialmente em órgão de colaboração com o governo
e, praticamente, está a serviço dos patrões; que é controlada à mão de ferro pelo Ministério do Trabalho; que
alimenta a carreira do peleguismo, impedindo que o trabalhador controle o seu sindicato. No Brasil, a luta
operária é considerada caso de polícia ou de segurança nacional. Os trabalhadores, quando lutam por melho-
res salários e condições de trabalho são reprimidos, presos ou até assassinados, como foi ocaso dos nossos
companheiros Santo Dias da Silva, líder operário e Raimundo Ferreira Lima, o Gringo, líder camponês, ambos
militantes da pastoral. As direções sindicais mais combativas são presas e cassadas, a exemplo dos bancários
de Porto Alegre e São Paulo e dos metalúrgicos de Santo André e São Bernardo. Enquanto isso, os boicotes
patronais ao leite, à carne e aos remédios são beneficiados com gordos reajustes em seus preços. A legislação
trabalhista e a Justiça do Trabalho estão voltadas para os interesses patronais, em prejuízo do direito do tra-
balhador explorado.
Entendemos, caro companheiro, que a causa fundamental da situação desesperadora em que vive a classe
operária é o sistema econômico e político implantado em nosso país para produzir riquezas, não importa quais e
nem a que preço. Para atingir seu objetivo único – o lucro exorbitante – o capitalismo impõe condições violentas
de trabalho, suborna e corrompe, determina suas próprias leis. É o capitalismo selvagem das multinacionais.
Diante de tudo isso, o Evangelho nos exige “fome e sede de justiça”, nos lembra que somos “o sal da terra”
e aumenta em nós o compromisso com a transformação da sociedade. Entre aquilo que nos prometem e nos
permitem, nós trabalhadores vamos tomando consciência de nossa condição de explorados, organizando
grupos nas empresas e nos bairros, ocupando nossos sindicatos, entre derrotas e vitórias. Em nossas lutas
acumulamos experiências, renovamos nossas forças, encontramos nossa união. Situando-nos na História,
vamos conquistando nossa liberdade.Lutamos hoje, no Brasil, por salários menos injustos e por melhores
condições de trabalho. Mas lutamos também para conquistar um sindicato livre e independente. Queremos
a liberdade de organização e de expressão. Queremos o fim das medidas e instrumentos de repressão. Que-
remos ainda, companheiro, ter direito à nossa organização e representação sindical a partir das empresas.
Reivindicamos menor jornada de trabalho. Lutamos para termos a garantia de trabalho: somos seres huma-
nos, filhos de Deus, e não peças de reposição da indústria capitalista. Queremos sentir a alegria de viver
com segurança.
Caríssimo pai: os trabalhadores cristãos estão fortemente engajados nas lutas do movimento operário
brasileiro. A Igreja no Brasil e, particularmente em São Paulo, através de suas prioridades pastorais e, em
especial a Pastoral Operária, vem desenvolvendo intenso trabalho junto aos operários, abrindo espaços para
que eles descubram amplamente sua realidade de vida. Queremos que os trabalhadores, dotados de agu-
da consciência crítica, estejam capacitados a assumir as responsabilidades que o momento histórico exige.
Queremos que o trabalhador rompa com a barreira imposta pelo sistema político que nos governa e, saindo
da passividade, se torne agente das transformações sociais. Buscamos uma nova ordem, onde o trabalhador
usufrua o produto do seu trabalho e, mais que isso, decida sobre os seus destinos.
Como cristãos, procuramos descobrir, sempre mais, a vontade do Pai, em nosso empenho de construir
o Reino de Deus a partir da vida terrena e que alcança sua plenitude na vida eterna. Queremos, na grande
batalha do dia a dia, ser testemunhas vivas do Evangelho.
Aguardando ansiosos sua orientação e sua benção. Esperamos também que seu esforço pastoral seja
no sentido de que a Igreja Universal se irmane e se comprometa cada vez mais nesta caminhada do Povo de
Deus em direção ao Reino. O Espírito de Deus o ilumine sempre.
Capítulo 3
a aSSOCIaçãO aNTIOPERáRIa
OPERáRIOS NO
PARLAMENTO
OS PARLAMENTARES OPERáRIOS
estiVeram na LinHa de Frente do
enFrentamento Com a repressão.
ACERvO MOvIMENTO
investigação operária
L
ogo após o golpe de 1964, os
parlamentares operários Clo-
desmidit Riani, Sinval Bam-
birra e Dazinho, de Minas Ge-
rais, Floriano Bezerra do Rio
Grande do Norte, e Mário Lima,
da Bahia, foram presos e, a sua
maioria, torturados. No fim dos
anos 70, na transição política, al-
guns militantes da Oposição Sin-
dical Metalúrgica foram disputar
espaço no Parlamento, tornando-
-se vereadores ou deputados.
Tratamos aqui de quatro com-
panheiros que foram parlamentares
enquanto a OSM-SP concorreu as
eleições no Sindicato.
Os mandatos são expressão da
forte ligação dos militantes com a
base dos operários nas fábricas e
nos bairros. A presença desses de- Anizio
putados nos conflitos trabalhistas Batista
(acima)
e políticos foi essencial para con-
ter ou amenizar a repressão policial Aurélio
contra os trabalhadores. Esses par- Peres
(abaixo)
lamentares não eram “políticos pro-
fissionais”, mas sim operários. Por
isso, voltaram seu mandato para o
suporte das lutas. Como trabalhado-
res parlamentares, participaram de
greves, realizaram piquetes, enfren-
taram as forças policiais.
ANIZIO BATISTA
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
investigação operária
Nos anos 80, Chico já era uma vo de tentar modificar elementos da pelo Partido Comunista do Brasil
figura altamente conhecida pelos estrutura de repressão do Estado. Na (PCdoB) na coligação encabeçada
trabalhadores, pelos moradores Comissão, apresentou propostas que por Luiza Erundina. Exerce o cargo
de bairros da Zona Sul e pela pró- obrigavam a PM a informar a cada parlamentar de 1988 a 1996.
pria polícia. Como parlamentar, três meses as ações repressivas ao Na fábrica Metal Leve, da qual
apoiava greves e se fazia constan- crime e as ações repressivas ao mo- Vital já havia sido funcionário, o
temente presente nos conflitos que vimento de trabalhadores. grupo de fábrica ligado à Oposi-
envolviam diversas categorias de Seu mandato esteve muito volta- ção Sindical conseguiu eleger onze
trabalhadores. Em uma atividade do à luta sindical, ao mesmo tempo membros nas treze vagas da Comis-
do Sindicato dos Plásticos na re- com firme atuação na Constituinte, são Interna de Prevenção de Aci-
gião de Socorro, Zona Sul da ca- a fim de serem amparados os inte- dentes (CIPA). Em 1990, seus tra-
pital paulista, os metalúrgicos que resses da classe trabalhadora. Res- balhadores fizeram uma greve de 25
estavam ajudando as mobilizações salta que o objetivo de ser deputado dias contra o Plano Collor, que re-
foram presos e liberados pela inter- era “estar a serviço do movimento sultou em algumas conquistas eco-
venção de Chico. Em outros episó- sindical, principalmente para inibir nômicas, mas também na demissão
dios, como as greves na Metal Leve, a repressão”. de 100 trabalhadores.
Santo Amaro; na Levis; dos profes- Sobre todas as experiências, e A empresa, em represália, reú-
sores na avenida Paulista; bancários por ser um parlamentar de origem ne os cipeiros, os acusa de aprovei-
na Zona Sul, o mandato foi essen- trabalhadora, afirma: “Meu man- tarem a estabilidade do mandato
cial para inibir a repressão policial. dato era a extensão da luta sindical, de cipeiros para organizar a greve
Participou da defesa dos trabalha- era minha prioridade. Havia esse e informa a demissão de 11 deles,
dores da empresa Bereta (atual Tau- compromisso quando me elegi: de- pagando os direitos trabalhistas.
rus), fábrica de armas, na qual houve fender os trabalhadores e inserir na Ou seja, são indenizados, mas não
greve de vários dias. A polícia, após Constituição Estadual normas que cumpriram o mandato. A diretoria
acabar o movimento grevista e a op- pudessem trazer benefícios a eles”. do Sindicato se omite. Os cipeiros,
ção pelo retorno ao trabalho, fazia ligados à OSM-SP, não têm respal-
triagens de trabalhadores que entra- EUSTÁQUIO VITAL do para uma batalha jurídica e são
riam na fábrica – Chico se posicio- demitidos, derrotados.
nou, alegando crime contra a orga- O metalúrgico Eustáquio Vital Nessa disputa, os trabalhadores
nização do trabalho. Por essa razão, Nolasco foi um militante muito ati- organizam vários protestos. Um
deu voz de prisão ao tenente respon- vo da Zona Sul de São Paulo e co- dia, os trabalhadores, ao chegarem
sável pela operação e o conduziu à nhecido nos espaços populares e de , encontram a portaria coalhada de
delegacia, onde foi feito o registro trabalhadores desde a eclosão das policiais e um grande aparato de re-
da ocorrência. Ele comenta: “Tinha lutas no final dos anos 70. Passou pressão para forçar a entrada “de
que me impor. Uma coisa que apren- por muitas situações de enfrenta- quem quisesse trabalhar”.
di: tinha que fazer o soldado bater mento, principalmente com a Po- Vital, pelo aparelho de som, pro-
continência, porque era um mandato lícia Militar. Em 1986, após par- pôs aos trabalhadores que ninguém
popular, e tinha que exercer a autori- ticipar do ato da campanha “Xô, entrasse no trabalho antes da desobs-
dade. Ainda assim, de vez em quan- Sarney”, no Largo 13, é preso com trução por parte da polícia. Vital ne-
do eles desciam a borracha”. sua companheira Ester, numa ma- gocia com o comando da tropa sem
Participou, na Assembleia Legis- nifestação marcada por repressão resultado positivo. Houve bate-boca
lativa, da Comissão da Defesa dos e violência. Solto da cadeia, é ins- e enfrentamento com a polícia. A si-
Interesses do Estado, do Cidadão e taurado um processo criminal con- tuação se prolonga, estoura o horário
da Segurança Pública, com o objeti- tra ele. Em 1988, foi eleito vereador de entrada. O impasse se mantém e
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
Chico
Gordo
(esq.)
EUSTÁQUIO
VITAL com
Nelson
Mandela
(Dir.)
somente é resolvido quando a Polícia “Vocês vão colocar a polícia para rogado dentro da fábrica. Teve a sua
se afasta dos portões da fábrica. fabricar pistão?”. A Tropa de Cho- casa invadida, e decide fugir para São
Em outra ocasião, em greve na que ainda estava dentro da fábrica Paulo. Vital militava na Ação Popu-
fábrica Metal Leve, os trabalhado- e se preparava para agir brutalmen- lar (AP) e, em seguida, no Partido
res impedem a saída dos caminhões te. Após negociação com o diretor, Comunista do Brasil (PCdoB).
de produto. A empresa chama a Tro- enfim, Vital e Chico Gordo conse- Em São Paulo, começa a militar
pa de Choque para ocupar a porta guem evitar a repressão na fábrica. na Oposição Sindical Metalúrgi-
da fábrica. Há ameaça de repressão Essas escaramuças faziam parte do ca. Na onda de repressão e da pri-
e o clima fica muito tenso. O tam- seu mandato de vereador. são de integrantes da OSM-SP em
bém metalúrgico Chico Gordo, de- Além disso, durante a vereança, 1974, sabendo que também pode-
putado estadual pelo Partido dos Vital foi o relator da CPI da Vala de ria ser preso, abandona seu traba-
Trabalhadores (PT), e Vital, ainda Perus (Comissão Parlamentar de lho na Philco. Quando da homolo-
com mandato de vereador, vão para Inquérito – Perus: desaparecidos gação da demissão do seu emprego
a Metal Leve. Os parlamentares não políticos). na Delegacia Regional do Trabalho
conseguem convencer o coman- A trajetória de militância de Vital (DRT), para dar baixa na carteira
dante da Tropa de Choque a mu- tem origem na direção estadual da de trabalho, mas os dias 12 e 13 de
dar a postura, e decidem falar com Juventude Operária Católica (JOC) março,Vital é preso.
um dos diretores da empresa, Luís de Minas Gerais. Participa ativamen- Fica preso por 40 dias no DOI-
Antonio, para tentar uma negocia- te da histórica greve de Contagem de -CODI e dez no DEOPS, sendo tor-
ção. O diretor ameaçou desobstruir 1968, à época em que trabalhava na turado nos primeiros 20 dias. Tam-
a passagem dos caminhões a qual- empresa de recuperação de máquinas bém prenderam sua irmã, torturada
quer custo, ao que Vital respondeu: têxteis Santex, foi perseguido e inter- diante dele.
investigação operária
NOSSOS
MORTOS
Capítulo 3
a aSSOCIaçãO aNTIOPERáRIa
investigação operária
Capítulo 3
a aSSOCIaçãO aNTIOPERáRIa
PRESOS JUNTOS
Presos na mesma ocasião:
Guacira Gouvea, Isolda Gouvea,
Haroldo Luiz Brandmiller, Geraldo
Augusto de Siqueira Filho, Marce-
leuze Melquíades de Araújo, Leni-
ta Maria de Souza, Leda Leal Fer-
reira, Helena Iono, Karin Bakke,
Ana Lúcia Berça Hernandes, Helio
Muniz, Dulce Quirino de Carvalho
Muniz, Tadeu Roberto Dias, Joel MARIA zÉLIA: HomenaGem a oLaVo 43 anos depois no
Evaldo de Oliveira Keistein, Ricar- mesmo LoCaL em Que Foi preso no dia 1º de maio de 1970.
do Andrade da Silva Teles e Flávio na mesa seus CompanHeiros, os orGanizadores do ato
em 70 e miLitantes Que estiVeram presos Com eLe. tuLLo
Borges Botelho Filho. ViGeVani, FranCo Farinazzo, aLiCe Hanssen, duLCe muniz,
Testemunhas / pessoas que es- seBastião neto (em pé), ana LÚCia di GiorGi, rapHaeL
tiveram presas com ele:Vitório Chi- martineLLi e GeraLdo siQueira FiLHo.
Vera Jursys
naglia, Raphael Martinelli, Patrocí-
nio Henrique dos Santos, Maurice
Politi, Gilberto Beloque, Sonia Hi-
pólito, Tarcísio Sigristi, Marco An-
tônio Moro, Bety Chachamovith,
Carlos Russo Jr., Waldemar Tebaldi
Filho, José Claudio Barighelli, Nor-
ma Freire, Humberto Veliame, Fer-
nando Casadei Salles, João Manoel
de Souza, Jacob Gorender, Maria
do Carmo e outros.
investigação operária
circunstâncias da morte de Ola- novembro, só foi levado para in- assinado pelos médicos legistas
vo. Essas pessoas foram presas terrogatórios e sessões de tortu- registra que “a vítima foi admi-
com ele ou estiveram com ele no ra por volta do dia 11 de dezem- tida no Hospital das Clínicas às
DOPS. bro. Em todos esses dias, Hirata 20h15 do dia 16/12/71 (…) e veio
acompanhou os seus companhei- a falecer às 8h30 do dia 20/12/71,
LUIZ HIRATA ros de cela indo e voltando da tor- traumatizado há oito dias. Insufi-
tura, sabendo que seu dia chega- ciência renal crônica”.
Luiz Hirata, da coordenação ria. Segundo Antonio Prado de Os relatórios do Ministério
da OSM-SP, foi preso em 24 de Andrade, o “Tico”, que estava da Marinha e do Ministério da
novembro de 1971 e assassina- preso na mesma cela: Aeronáutica mencionam que a
do, depois de uma série de tor- “[...] foram deixando o Luiz morte se deu em decorrência de
turas, no DOPS-SP. Preso junta- para o final. Os torturadores, lesões durante uma tentativa de
mente com vários militantes da quando passavam pelos cor- fuga. Os policiais forjaram a ver-
Ação Popular, entre os quais Rai- redores, em frente às celas, são de que, ao tentar fugir, Hirata
mundo Moreira Oliveira, o Rai- olhavam para a nossa jane- colidira com a traseira de um ôni-
mundinho, depois da delação de linha e ao avistá-lo, diziam: bus, o que serviria para explicar
Hugo de Faria Ramos, o “Dani- “Você que é o Hirata? Vai as graves lesões.
lo”, militante dessa organização. chegar a sua vez!”. O médico Fausto Figueira,
A primeira fábrica em que tra- que por coincidência trabalhava
balhou foi a Bussing do Brasil e A sua vez chegou e os poli- no HC, atendeu Hirata e relem-
a última foi a Mangels, ambas ciais retiraram Hirata logo cedo bra:
do ramo de autopeças e situadas da cela. Quando voltou, já no iní- Contaram-me de sua cora-
na Mooca. Antes de se transferir cio da noite, estava muito ma- gem, tentando com suas mãos
para São Paulo, Luiz, o sétimo chucado, como relata Tico: ajudar o médico que tenta-
dos dez filhos de uma família de Foi carregado pelos torturado- va entubá-lo, para colocá-lo
budistas convertidos cristãos, de res, que o jogaram na cela todo num respirador... Queria mais
origem camponesa da cidade de machucado e muito inchado, do que nunca viver. Seu cor-
Guaiçara, em São Paulo, cursou o rosto irreconhecível de tanto po foi rapidamente retirado,
Agronomia na USP de Piracica- apanhar. Disse que ficou o dia in- como sempre acontecia nes-
ba, mas abandonou os estudos teiro no pau de arara. sas ocasiões. Sabia que seria
em 1969, antes de se formar. Du- Seu estado de saúde foi se enterrado como indigente,
rante o período em que era uni- agravando; companheiros de que desapareceriam com sua
versitário, dava aulas de alfabeti- cela que estudavam medicina so- identidade, que um ‘Shibata’
zação para trabalhadores rurais e licitaram várias vezes aos carce- da vida iria atestar o que qui-
cortadores de cana. reiros atendimento médico. De- sesse.
Já militante da Ação Popular, pois de alguns dias do retorno da
mudou-se para São Paulo. Foi tortura, dois homens o levaram Luiz Hirata teria sido enterra-
trabalhar nas indústrias metalúr- do DOPS. Foi a última vez que do como indigente em uma vala
gicas e entrou para a Oposição seus companheiros o viram. comum no Cemitério de Perus,
Sindical Metalúrgica. Em 1971 Conduzido à enfermaria de mas seu corpo permanece não
foi preso com seus companhei- Nefrologia do Hospital das Clí- localizado. Desde a abertura da
ros Isamu Ito e Raimundo Mo- nicas para atendimento de urgên- Vala de Perus, em 1990, pela Co-
reira de Oliveira, com quem divi- cia, por causa das suas graves missão Parlamentar de Inquérito
dia uma casa. Preso desde 25 de complicações nos rins, o laudo da Câmara Municipal, durante a
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
investigação operária
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
tos a zero Herculano acabou ab- Ele foi expulso da fazenda em dical. Os trabalhadores não su-
solvido. A acusação recorreu ao 1959, porque lutou para o patrão portavam o arrocho salarial e o
Superior Tribunal Militar, mas o assinar a carteira dos trabalha- aumento dos preços. Nesse ano,
recurso sequer foi recebido. dores rurais. Santo Dias é candidato a vice-
O soldado Herculano Leonel, Expulso com toda a família, -presidente na chapa da OSM
então com 37 anos, natural de viu-se obrigado a trabalhar como para a direção do Sindicato dos
Valparaíso, interior de São Pau- boia-fria, começando nesse pe- Metalúrgicos de São Paulo, que
lo, estava definitivamente livre. ríodo sua aproximação mais in- teve Anízio Batista como can-
Cumprira apenas 60 dias de prisão tensa com sindicatos de trabalha- didato a presidente, ambos li-
preventiva no Presídio Militar Ro- dores rurais. Já participante ativo deranças populares da Pastoral
mão Gomes, região do bairro San- das atividades da Igreja Católica, Operária e das mobilizações dos
tana, na cidade de São Paulo. permaneceu poucos meses como bairros. As eleições foram tu-
Um dos momentos mais boia-fria, decidindo se transferir multuadas e repletas de irregula-
emocionantes de todos os fatos para a capital, com todos os fami- ridades. Um procurador da Justi-
que envolveram o assassina- liares, em 1962. Quando chegou ça do Trabalho anulou a eleição
to do operário Santo Dias ocor- a São Paulo foi trabalhar como por conta de fraudes evidentes,
reu quando dom Paulo Evaristo metalúrgico na Metal Leve, em- mas o Ministério do Trabalho re-
Arns, cardeal de São Paulo, en- presa na qual permaneceu vários conheceu a vitória de Joaquin-
trou na sala do IML, onde esta- anos. Era o período da luta pela zão, liderança dos pelegos.
va o corpo. Ele apontava com o consolidação do 13º salário, de No ano seguinte, 1979, o pre-
dedo indicador o orifício de en- greves e paralisações pelos di- sidente era o militar João Batista
trada da bala e repetia aos po- reitos dos trabalhadores. E a essa Figueiredo e o governador Pau-
liciais espalhados pelo local: luta ele rapidamente se aliou. A lo Maluf. No dia 28 de outubro
“Olhem o que vocês fizeram...! Igreja também passava por pro- daquele ano, um domingo, uma
Olhem o que vocês fizeram...!”. fundas transformações, a partir grande assembleia dos metalúr-
Nenhum deles reagia. Todos do Concílio Vaticano II, que mar- gicos decide decretar greve. Na
permaneciam de cabeça baixa, cariam a vida da instituição e do mesma noite começa a repressão
e dom Paulo insistia: “Olhem o operário metalúrgico. policial. A PM invade locais dos
que vocês fizeram...!”. Ana e Santo se casaram no dia comandos de greve, o que resul-
Santo é uma das maiores fi- 6 de fevereiro de 1965, ano em tará na prisão de 334 dirigentes
guras da luta operária do País no que Santo se aproxima da Oposi- e militantes operários. Em Santo
caminho em direção à democra- ção Sindical Metalúrgica de São Amaro, na invasão da Rota, com
cia, retrato da mobilização po- Paulo; percebe rapidamente que armamento pesado, os trabalha-
pular e operária que produziu diante da pesada e poderosa estru- dores são presos e levados para
marcas definitivas na história tura sindical dos “pelegos” restava as celas do DOPS. Mas no dia se-
política do Brasil. se manter no chão da fábrica, co- guinte, 29 de outubro, Santo já
Santo Dias da Silva nasceu nhecer os problemas e expectati- estava na rua, ajudando a organi-
em Terra Roxa, interior de São vas dos trabalhadores. Santo é um zar a greve.
Paulo, a 22 de fevereiro de 1942, dos participantes desde o início da Na tarde de 30 de outubro
mesma região em que conheceu Pastoral Operária, em 1970. ele estava na porta da Sylvania.
Ana, sua futura mulher, nascida Em 1978, as comissões de Quando o grupo de Santo deixa-
na cidade de Pitangueiras. Tra- fábrica já eram recorrentes em va a porta da fábrica para relatar
balhou como lavrador, depois várias empresas de São Paulo, o andamento da greve, foram pa-
foi meeiro; Ana era boia-fria. organizadas pela Oposição Sin- rados por soldados da PM que in-
investigação operária
LUCIANA, ANA E SANTINHO. AFONSO DAS NEvES ABRAÇA João pereira (CHorando), Que
riCardo aLVes estaVa Com santo no momento de seu assassinato.
aCerVo iiep/proJeto memória ennio Brauns
da osm-sp
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
investigação operária
Saída do corpo de Santo da Catedral da Sé. à frente, Chico Viola e Waldemar Rossi.
Ricardo Alves
Acervo IIEP/Projeto Memória da OSM-SP
nhora de Sabará chegaram duas seus filhos da puta”, falavam. lho e Luciana. Ana, a incansável
viaturas. Eles eram mais. Quero dizer Ana, que encontrou nos parentes,
Desceram dando rasteira em que havia mais policiais do amigos da Pastoral Operária e nos
nós. Eu rodei pelo chão e es- que piqueteiros, sendo que nós filhos força suficiente para supor-
cutei uns tiros que pensei que não tínhamos nada para reagir, tar a dor, seguia em outro carro,
eram para o ar. Nem percebi nem pretendíamos isso. logo atrás.
que tinham atingido alguém. Por que mataram o Santo? Ele está enterrado no Cemité-
Voltei para a Capela do Socor- Nos não oferecíamos nenhum rio de Campo Grande, Zona Sul
ro. Pelo rádio escutei a notícia perigo, muito menos o Santo, da capital. Todos os anos a Pasto-
da morte de Santo. Talvez por que era o mais pacífico. ral Operária, no dia 30 de outubro,
isto surgiu o boato de que tinha organiza uma celebração, de vida
um espanhol armado que tinha No dia 31 de outubro, por vol- e ressurreição, em sua memória.
divergências com Santo e po- ta das 11h, mais de 15 mil pesso- Na lápide, está registrado: “San-
deria tê-lo matado e fugido. as levam seu corpo, da Igreja da to Dias da Silva, operário cris-
Devo ressaltar que quando es- Consolação, onde estava sendo tão. (1942-1979). Foi assassina-
távamos nos retirando a po- velado, à Catedral da Sé. À frente do pela polícia militar na luta pelo
lícia partiu para cima de nós: do cortejo seguia o carro do carde- povo oprimido. Santo, na força de
“Eu quero ver vocês fugirem, al Arns, no qual estavam Santo Fi- sua memória faremos justiça”.
Capítulo 3
a aSSOCIaçãO aNTIOPERáRIa
MASSACRES,
TORTURAS E
PRISÕES
investigação operária
O Estado contra
os trabalhadores brasileiros
A
violência sistemática e cruel em 19 de dezembro de 2012, eles barbáries do regime de exceção.
contra os trabalhadores é uma escrevem que: “A máquina poli- Vários fóruns, comissões, organi-
das principais características da cial do Estado nunca olhou o tem- zação se engajaram para trazer à
ação política das classes dominan- po histórico para tratar revoltosos luz as barbáries cometidas entre os
tes no Brasil em toda a sua história. dos sertões. A fúria da repressão anos de 1964 e 1988 contra a po-
Sempre articulando poder econô- foi igual em momentos de exceção pulação brasileira. Esse processo
mico e político, as elites promove- ou de democracia”. Casos como teve um impulso maior com os tra-
ram diversos massacres contra as as rebeliões populares de Pinhei- balhos de investigação pela CNV.
classes trabalhadoras, bem como rinho (1902), da Vargem Bonita Aqui nós vamos tratar das gra-
inúmeros casos de prisões em mas- (1913), do Quebra Milho (1943 ves violações relacionadas aos tra-
sa. Além disso, a prática da tortura e 1951), dos Posseiros (1957), e balhadores, com os casos de mas-
foi constantemente utilizada. a guerra que o Estado promoveu sacre, as práticas de tortura e as
A forma com que o Estado bra- para liquidá-las evidencia essa prisões em local degradante. Tam-
sileiro lidou com as classes subal- tradição das classes dominantes bém vamos cuidar do padrão de re-
ternas ao longo de toda sua his- em seu trato com as classes subal- pressão seletiva sobre as lideranças
tória foi marcada pela violência, ternas. Mais do que meros episó- sindicais, como tática de dissuasão,
repressão e perseguição aos seus dios históricos, tais guerras assi- a qual objetiva criar um “ambien-
opositores políticos. Isso criou nalam essa lógica de combate às te de terror”. O Estado criminaliza
uma lógica do inimigo interno que classes populares que é constituti- qualquer ação política contestató-
foi incorporada e intensificada va do Estado brasileiro. ria, de modo a submeter os trabalha-
pela doutrina militar com o golpe À medida que as classes popu- dores a um regime de medo, com o
de 1964. Na formação política do lares foram se constituindo como fim último de incutir em seu espírito
Estado Brasileiro, o Exército atu- classes trabalhadoras, ao longo do a ideia de que o não envolvimento
ava como elemento unificador da desenvolvimento industrial no País, político seria mais prudente. O co-
nossa nação, dizimando as revol- essa mesma cultura de repressão foi ronel Jarbas Passarinho, ministro
tas separatistas e as contestações aplicada aos trabalhadores. Em São da Educação e do Trabalho duran-
ao poder imperial. Paulo, a partir dos anos 50, vai se te o regime de exceção, responsável
Ao longo do século XX, o Bra- consolidando a categoria dos meta- pela ocupação militar e repressão às
sil passa de um País de pouca re- lúrgicos pela sua importância eco- greves de Contagem e Osasco em
levância no cenário internacional, nômica e pelo peso político de seu 1968, cunhou a expressão: “Estu-
para se constituir como uma po- Sindicato. A repressão aos trabalha- dante tem é que estudar e trabalha-
tência econômica de alta expres- dores metalúrgicos de São Paulo foi dor trabalhar.”
são, atravessando um processo de exacerbada com a implementação
industrialização e de moderniza- do regime militar, e estava inserida Massacres
ção econômica. No caderno es- dentro de um quadro de violência
pecial Guerras desconhecidas do sistemática a toda e qualquer tipo de Os massacres não foram uma
Brasil: histórias de um país sem contestação política ao regime. invenção da ditadura civil-militar.
memórias, feito por Leonencio Nos últimos anos, foi se com- Antes de 1964, existiram três mas-
Nossa e Celso Júnior, publicado provando aquilo que os persegui- sacres de trabalhadores: em 1949,
no jornal O Estado de São Paulo, dos políticos afirmavam sobre as na Mina de Ouro Morro Velho,
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
investigação operária
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
ponsabilidade; a Polícia Militar 4° Batalhão da Polícia Militar do ponsáveis pela segurança da usina,
disse que os soldados foram pro- Estado do Pará, armados de fuzis como o coronel Bismark e o coro-
cessados e absolvidos. Mas ficou e metralhadoras, executaram um nel Mario Pitaluga, são citados pe-
consolidado que, pelos testemu- fuzilamento que durou cerca de los trabalhadores sindicalistas nos
nhos e documentação recolhidos 15 minutos. Havia uma unidade testemunhos atuais sobre o funcio-
na região, zelosamente guardados do Exército acompanhando toda a namento da segurança na empresa
por trabalhadores, militantes e pes- operação. Até hoje não há consen- à época.
quisadores, que o massacre, embo- so sobre o número de vítimas des- Os operários da Companhia Si-
ra difícil de quantificar o número se massacre. Predomina, contudo, derúrgica Nacional (CSN) entra-
total de vítimas, seguramente, foi o entendimento de que a operação ram em greve no dia 7 de novem-
várias vezes superior ao que foi policial realizada na região pro- bro para reivindicar a implantação
possível demonstrar. vocou 79 desaparecimentos e 10 do turno de 6 horas, além da repo-
Em 29 de dezembro de 1987, mortes de trabalhadores e seus fa- sição de salários usurpados pelos
ocorreu o massacre da Serra Pela- miliares. planos econômicos e reintegração
da, no Pará. As imagens do chama- Serra Pelada era explorada por dos demitidos por atuação sindical.
do “formigueiro humano”, que se uma associação de empresas de ca- No segundo dia de greve, as tropas
transformou o garimpo na região, pital nacional e estrangeiro, forma- do Exército, sob o comando do ge-
são conhecidas no mundo inteiro da pela Atlântica Boa Vista (grupo neral José Luiz Lopes, matou três
através das lentes de Sebastião Sal- Bradesco), a Globo (grupo Rober- operários: dois deles por tiros no
gado. O controle do garimpo era to Marinho), a Monteiro Aranha, peito e outro com o crânio esmaga-
feito pelo major Curió, conhecido além das firmas multinacionais do por pancadas A Polícia Militar
oficial do Exército Brasileiro, atu- British Petroleum e a Anglo Ame- estava junta em toda a operação,
ante na repressão em diversos con- rican Corporation. Os diretores porém, a responsabilidade do mas-
flitos, como na Guerrilha do Ara- executivos eram Eike Batista e An- sacre é das tropas do Exército, que
guaia e na Encruzilhada Natalino, tonio Dias Leite Junior. adentraram a usina. Os trabalhado-
sempre quando era necessária uma O massacre de Volta Redon- res assassinados, Carlos Augusto
voz de comando com muita autori- da ocorreu em 9 de novembro de Barroso, Valmir Freitas Monteiro
dade e intimidade com o poder. A 1988, logo após a Constituinte, em e William Fernandes Leite; foram
forma de trabalho braçal caminha- meio à greve na Companhia Side- homenageados por um monumen-
va para o esgotamento, a não ser rúrgica Nacional, em Volta Redon- to projetado por Oscar Niemeyer
que houvesse a possibilidade de da, no Vale do Paraíba fluminense. no centro da cidade. O monumento
autorizar o rebaixamento da cava Antes mesmo da instauração do foi alvo de um atentado, assumido
para ampliar a exploração. Por trás regime militar, havia uma relação por paramilitares, nunca identifica-
da questão estava o interesse em orgânica entre as Forças Armadas dos. É mantido no centro da cidade
transformar a descoberta e a explo- e a direção da Usina. Com o regi- como exemplo da persistência dos
ração do minério na região em uma me militar, a cidade virou área de trabalhadores, para que ficassem
atividade empresarial. segurança nacional, até 1985, com conscientes de que o ataque não foi
Os garimpeiros se organizaram prefeitos nomeados pelo regime. fortuito e que os inimigos continu-
politicamente para pedir o rebai- Nas empresas estatais, como a Usi- am à espreita.
xamento da cava do garimpo, de minas, a Vale do Rio Doce e a CSN, O Massacre de Volta Redonda
modo a manter o trabalho. Bloque- a segurança era realizada direta- ocorre, ironicamente, após a con-
aram o acesso na Ponte Mista de mente pelo Exército. O Batalhão clusão dos trabalhos da Assem-
Marabá que liga o centro à região de Infantaria Motorizada (BIM) bleia Nacional Constituinte, que
periférica, a fim de atrair atenção permaneceu dentro da área de em- seria o marco institucional da rede-
à sua manifestação. Integrantes do presa desde 1964. Nomes dos res- mocratização do País.
investigação operária
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
investigação operária
turado com seu irmão, Sidney Cân- Torturado no 16º RI, sofreu afo-
dido da Silva. Newton passou pela gamentos e simulação de fuzila-
“cadeira do dragão”, e por vários mento, entre outras violências, por
dias teve seu corpo queimado com uma equipe de militares cearenses
cigarros. Sua mulher, Célia, foi pre- deslocados para aquele Estado. Ao
sa em seguida, sendo torturada com seu lado, dezenas de trabalhadores
choques na vagina. Seus dois filhos, e sindicalistas foram presos e tor-
Regina e Ronaldo, e sua cunhada, turados.
Bernadete, sofreram sessões con- Na Bahia, quatro sindicalistas
juntas de tortura, com choques elé- foram presos dentro da Refina-
tricos, “telefone” e espancamentos. ria Landulpho Alves, em abril de
A situação foi tão traumática que, 1964, e transportados em viatu-
nos anos seguintes, Célia tentou sui- ra, hoje identificada, da Petrobras.
cídio quatro vezes, necessitando de Clodesmidt Riani, Entre eles, o dirigente do Sindica-
acompanhamento psiquiátrico per- eletricitário e presidente to dos Petroleiros da Bahia e depu-
manente até o final da vida. do CGT, em 1964. Cassado tado do PSB, Mário Soares Lima,
como deputado Estadual
em Minas Gerais e preso
que ficou preso com mais 100 pes-
Perseguição e político. soas, maioria trabalhadores no
tortura aos Acervo IIEP/Projeto Memória OSM-SP Quartel de Barbalho, sofrendo es-
deputados pancamentos, torturas e simula-
estaduais ções de fuzilamento.
trabalhadores
Prisões em massa
No dia 9 de abril de 1964, a As- Riani relata em Clodesmidt Ria-
senbleia Legislativa de Minas Ge- ni: Trajetória, que Sinval Bambir- Antes mesmo do golpe de 1964,
rais cassou os mandatos dos depu- ra foi duramente torturado pelos as prisões em massa de grevistas e
tados estaduais Sinval Bambirra, do agentes da repressão. Riani conta trabalhadores militantes já eram
PTB, do José Gomes Pimenta (“Da- que Bambirra “saiu com o tímpa- prática corriqueira. Para ficar só
zinho”), do PDC, Clodesmidt Ria- no arrebentado de apanhar; saiu en- em São Paulo: a “Greve de Parida-
ni, do PTB, três destacados dirigen- sanguentado, isso eu vi.” Dazinho de”, em 1960, foi decretada ilegal e
tes sindicais em âmbito nacional. também sofreu tortura depois da nos seus primeiros dias mais de 100
Bambirra era do Sindicato dos Têx- cassação e ficou preso por 2 anos e operários foram jogados nos cárce-
teis, Dazinho dos Mineiros de Nova 8 meses na penitenciária de Neves. res e, na greve dos 700 mil, ocorri-
Lima e Riani dos Eletricitários de Riani, após cumprir a pena inicial de da em 1963, o governo Ademar de
Juiz de Fora e presidente nacional quase dois anos, é enredado numa Barros mandou prender aproxima-
do Comando Geral dos Trabalha- falsa acusação de desvio de recur- damente 2 mil trabalhadores.
dores (CGT). Os mandatos dos três sos em 1969, ficando como preso Com o processo de instaura-
militantes operários foram cassados comum na Ilha Grande e permane- ção da ditadura, houve prisões em
pela subversiviência da quase una- cendo por um ano e meio proibido massa por todo o País. Certamen-
nimidade da acovardada Assem- de receber visitas familiares. te, as prisões foram mais recorren-
bleia Legislativa de Minas Gerais. Floriano Bezerra de Araújo, di- tes onde a classe trabalhadora era
O requerimento da cassação foi as- rigente do Sindicato dos Salinei- mais numerosa ou organizada, isto
sinado pela unanimidade dos pre- ros de Macau e deputado estadual é, em grandes polos urbanos e in-
sentes, isto é, 69 parlamentares, con- pelo PTB do Rio Grande do Norte, dustriais como São Paulo e Rio de
siderando que havia dois ausentes. foi preso em 15 de abril de 1964. Janeiro. Do mesmo modo, nos Es-
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
investigação operária
Capítulo 3
a aSSOCIaçãO aNTIOPERáRIa
CONCLUSÃO
C
om o golpe de 1964, os con- com delegados sindicais, presen- e assessores, conforme denun-
flitos entre o capital e o tra- ça nas articulações nacionais do ciam diversos operários e ope-
balho ganharam uma nova movimento sindical, apoiando e rárias que deram depoimentos
dimensão no Brasil, seja do pon- estimulando greves de todo tipo, nas oficinas regionais realizadas
to de vista estrutural – fim do re- desde as localizadas dentro das pelo projeto Memória Operária:
gime democrático, política de ar- fábricas até aquelas generaliza- contemos nossa história.
rocho salarial –, seja do ponto de das para toda a categoria, além Em suma, não bastasse a estru-
vista do cotidiano fabril. das greves gerais organizadas tura repressiva que os capitalistas
Nessa dimensão, o regime mi- por várias categorias. historicamente sempre montaram
litar permitiu o estabelecimento Na nova situação política pós- em suas fábricas, que facilitava
de novas formas de controle pa- 64, estruturou-se um regime fa- toda sorte de perseguição durante
tronal dos operários, a partir de bril em que a participação nas a ditadura patronal–militar, conta-
uma forte associação entre em- greves frequentemente acarretava ram com a fiel colaboração de di-
presários, agentes da repressão demissão por justa causa, prisão, rigentes sindicais delatores.
e interventores nos sindicatos. fichamento nas chamadas “listas
O que vimos até aqui foi a forma negras” das empresas ou mesmo 2 – PRESENça DE
como essa engenharia repressi- no DOPS, e, às vezes, desempre- POLICIaIS DENTRO Da
va se manifestou ao longo dos 20 go por meses e até anos. Tudo isso fábRICa:
anos de ditadura. com protagonismo dos interven- Outra característica da nova
Não que antes de 1964 o regime tores e, no caso aqui abordado, da realidade fabril foi o papel cum-
fabril fosse democrático ou ame- nova diretoria do Sindicato dos prido pelas polícias. Infiltração
no. A extensão do poder patronal, Metalúrgicos de São Paulo. Cabe no ambiente das fábricas, a pre-
dentro e fora do espaço fabril, po- então um pequeno resumo do que sença intimidatória nas portas e a
rém, era sem dúvida menor. Mes- vimos até agora. intervenção ostensiva em quais-
mo com os limites da estrutura quer conflitos foram constantes
sindical, os trabalhadores tinham 1 – REDE DE DELaTORES: em várias empresas e, de um jeito
condição, a partir da sua própria Parte essencial desse “regime ou de outro, perduram até hoje.
organização, de estabelecer me- fabril” era a rede de delatores. O
canismos de resistência. mecanismo funcionava antes de 3 – LISTaS DE
O Sindicato dos Metalúrgicos 1964, mas foi imensamente re- mILITaNTES quE NãO
foi um exemplo dos mais ilustra- forçado, ampliado, sofisticado PODIam aRRumaR
tivos dessa mudança. Como já e intensificado depois do golpe. EmPREgO:
vimos, possuía uma importância Passou a fazer parte do sistema Um terceiro elemento da en-
estratégica na luta de classes em a diretoria do Sindicato dos Me- genharia repressiva militares-
âmbito nacional. Antes do gol- talúrgicos de São Paulo, ou, pelo -patrões-pelegos eram as listas
pe, era uma entidade mobilizada, menos, alguns de seus membros negras, pelas quais as empresas
investigação operária
mapeavam o histórico de vida do ção. Enfim, a repressão buscou instituições democráticas, reali-
operário e com isso impediam o desmantelar essas organizações zava eleições, permitia a plurali-
militante de arrumar emprego. comunitárias. Muitos trabalhado- dade partidária, em um processo
res afirmam que suas casas foram que culminou na promulgação da
4 – RELaçãO DIRETa invadidas. Constituição de 1988. É preciso
DaS EmPRESaS Em que pese todo o aparato registrar que o capital e os partidos
COm a ESTRuTuRa repressivo montado pelas elites de direita em acordo com os mili-
REPRESSIVa DO dominantes do capital no Brasil, tares, fizeram de tudo para contro-
ESTaDO: em coligação com os militares, lar o processo de transição demo-
Por fim, o último elemento diversos órgãos públicos e com crática, mas os trabalhadores e as
deste esquema era a relação di- os pelegos, os trabalhadores ob- forças populares conseguiram im-
reta das empresas com os apa- tiveram muitas vitórias, levando portantes vitórias, como atestam
relhos de repressão, algo farta- a luta de classes constantemente os direitos sociais constitucionais.
mente relatado pelos operários a um patamar superior, se tornan- Não obstante essas vitórias, o
e que pôde ser confirmado nos do portanto uma força política capital não tardou em reorganizar
arquivos do DOPS. Em geral, as decisiva para o fim da ditadura. seu projeto, com o projeto neoli-
fábricas buscavam o chamado Outras vitórias podem ser con- beral, que desestruturou a classe
“atestado de bons antecedentes”, tadas, tais como as muitas Co- trabalhadora por meio dos pro-
para saber se o trabalhador que missões de Fábrica organizadas cessos de restruturação produti-
se candidatava à vaga já tinha so- pelos trabalhadores, propostas va, cuja principal consequência
frido algum processo político e, pela OSM-SP, que se generaliza- foram o desemprego estrutural
ao mesmo tempo, forneciam ao ram no ascenso das lutas no final e as privatizações, que diminu-
DOPS a documentação pedida dos anos 70. Na empresa Asama, íram o aparelho estatal e conse-
sobre algum trabalhador, desde os operários organizaram uma quentemente o sindicalismo dos
endereço até a função exercida. das Comissões de Fábrica mais funcionários públicos. Também
Vale ressaltar ainda que este or- representativas e exemplares do os pelegos se adaptaram aos no-
ganizado esquema de repressão movimento sindical paulista. vos tempos e, exatamente a par-
não se contentou em perseguir os Durante os anos 1980, os tra- tir do Sindicato dos Metalúrgicos
operários no seu local de trabalho. balhadores brasileiros já eram de São Paulo, nasceram o sindica-
Os militares sabiam que os bairros um fator determinante para a de- lismo de resultados e uma central
eram territórios da luta política da mocratização do país. A própria sindical com ideário neoliberal, a
esquerda e dos trabalhadores, que criação da Central Única dos Força Sindical.
articulavam vizinhos, familiares, Trabalhadores era um exemplo Mas essas são outras histó-
Igreja, o futebol, para aprofundar da força do movimento sindical, rias e infelizmente não podemos
a organização, combater o aumen- pois pela primeira vez na histó- aprofundar esses assuntos. O que
to do custo de vida, lutar por di- ria do Brasil uma central sindical importa aqui é que tenhamos
reitos como moradia e transpor- com representatividade nacional conseguido demonstrar a força
te. Muitas vezes um metalúrgico e em várias categorias foi organi- que a repressão usou contra ope-
acuado dentro da fábrica, que não zada, mesmo que isso fosse proi- rários metalúrgicos de São Pau-
se metia em conflitos com patrões bido pela estrutura sindical. lo, articulando empresários, mi-
para não perder o emprego, era A repressão propriamente dita litares e pelegos. E deixar claro
um cidadão engajado na sua rua, da ditadura militar foi diminuin- que a voz dos trabalhadores não
brigando por saneamento básico, do aos poucos, na medida em foi calada pelo violência, pelas
fazendo parte de alguma associa- que o Brasil restabelecia novas torturas e pelas demissões.
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
FONTES
investigação operária
NOGUEIRA, Arnaldo José França Mazzei. A modernização conservadora do sindicalismo brasileiro: a experiência do Sin-
dicato dos Metalúrgicos de São Paulo. São Paulo: EDUC, 1997.
TELLES, Jover. O Movimento Sindical no Brasil. São Paulo: Livraria Editora Ciências Humanas, 1981.
Testemunhos:
Depoimento de Elias Stein ao Projeto Memória da OSM-SP, 2013.
Depoimento de Hélio Bombardi ao Projeto Memória da OSM-SP, 2012.
Depoimento de Vito Giannotti ao Projeto Memória da OSM-SP, 2012.
Depoimento de Waldemar Rossi ao Projeto Memória da OSM-SP, 2012.
Documentos
LAMPARINA. Informativo da Corrente Sindical. “Lavradores Unidos” – nº10, fevereiro de 1980. Acervo CPV.
Jornal “O Metalúrgico” do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Dezembro de 1963 – Centro de Memória Sindical.
A Aliança Anti-operária
O empresariado e a repressão
CHAVES, Marcelo Antônio. A trajetória do Departamento estadual do Trabalho e Mediação das Relações de Trabalho (1911-
1937). São Paulo: LTr, 2012.
FLORINDO, Marcos Tarcísio. O serviço reservado da Delegacia de Ordem Política e Social de São Paulo na Era Vargas. São
Paulo: Editora Unesp, 2006.
SOUZA, Percival de. Autópsia do medo: vida e morte do delegado Sérgio Paranhos Fleury. Editora Globo, 2000.
Documentos do Fundo DOPS/Arquivo Público do Estado de São Paulo
Bardella: Prontuário OS 109391 e OS 108070– Ordem Política
Bristan: 43-Z-0 4570
Fábrica de Rolamentos Schaeffler: 50-Z-9 38086
Fundição Brasil: 50-B-58 2593
Informe do Sérgio Paranhos Fleury para Romeu Tuma sobre apreensão de material da Oposição: OS 291 P14
Mapri: Prontuário 112486 – Ordem Política
Meridional SA Comércio e Indústria: 50-B-58 2901
Monark: OS 1180
Prontuário 108070 – Ordem Política
Relatório de agente do DOPS: 50-B-58 1890, 50-B-58 2901, 50-B-58 2899 e OS 291 P14 8641
Relatórios sobre a situação das fábricas durante as greves (1978, 1979 e 1980): 50-B-58 2650, 43-Z-0 4573, 43-Z0 4592
e 43-Z-0 4614
Scripelliti: 50-B-58 1890
Tecnoforjas: 43-Z-0 5115, 43-Z-0 5113 e 43-Z-0 5114
Tecnolix SA: 50-Z-129 15341
Outras fontes:
APSA (Associação dos Administradores de Pessoal de Santo Amaro): Depoimento Terezinha Bispo, ao Projeto Memória
da OSM-SP, maio de 2012.
Sprecher Schuh: Acervo CPV
A Fábrica de Mortos
Testemunhos:
Depoimento de Absolon Gaspar ao Projeto Memória da OSM-SP, 23 de junho de 2012 – Oficina Investigação Operária Sudeste.
Depoimento de Anízio Batista ao Projeto Memória da OSM-SP, 23 de junho de 2012 – Oficina Investigação Operária.
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
Depoimento de José Felix, Zezinho, ao Projeto Memória da OSM-SP, 23 de junho de 2012 – Oficina Investigação Operária Sudeste.
Depoimento de Raimundo Perillat ao Projeto Memória da OSM-SP, 23 de junho de 2012 – Oficina Investigação Operária.
Documentos do Fundo DOPS /Arquivo Público do Estado de São Paulo
Relatório do DOPS: 50-B-58-2899.
investigação operária
Operários no parlamento
Eustáquio Vital Nolasco
Capítulo 3
A ASSOCIAÇÃO ANTIOPERÁRIA
Repressão e direito à resistência: os comunistas na luta contra a Ditadura (1964-1985). São Paulo: Anita Garibaldi, coedição
com a Fundação Maurício Grabois, 2013.
Revista Oposição Metalúrgica: os militantes de A a Z. Memória em imagens. Publicação: Associação Projeto Memória da
Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo. Apoio: IIEP – Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas.
Testemunhos:
Depoimento de Eustáquio Vital Nolasco ao Projeto Memória da OSM-SP, 05 de novembro de 2013.
Aurélio Peres
Repressão e direito à resistência: os comunistas na luta contra a Ditadura (1964-1985). São Paulo: Anita Garibaldi, coedição
com a Fundação Maurício Grabois, 2013.
Entrevista concedida por Aurélio Peres a Mariana Viel, publicada em 14 de janeiro de 2011 no Portal Vermelho. Disponível
em http://www.vermelho.org.br/noticia/145476. Acessado em 15 de outubro de 2014.
Chico Gordo
Depoimento de Chico Gordo ao Projeto Memória da OSM-SP, 05 de novembro de 2013.
Anizio Batista
Depoimento de Anízio Batista ao Projeto Memória da OSM-SP, 05 de novembro de 2013.
Nossos mortos
Olavo Hanssen
LEAL, Murilo. Olavo Hanssen: uma vida em desafio. 1ª ed., São Paulo: Cultura Acadêmica, 2013.
Boletim Especial Olavo Hanssen. São Paulo, maio de 2013. IIEP e Projeto Memória OSM-SP.
O Metalúrgico (jornal do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo), nº232, abr./mai. 1970.
Direito à Memória e à Verdade. Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.. Secretaria Especial de Direitos
Humanos, 2007.
Inquérito da Secretaria de Segurança. Folhas 112 e 113.
Luiz Hirata
ANDRADE, Antonio Prado de. Um tempo para não esquecer: Ditadura: Anos de Chumbo. Rio de Janeiro: NPC Piratininga
Cursos Livres e Editora Ltda, 2014.
Laudo Necroscópico. 50-Z-9 22948. Documento do DOPS/APESP.
Manoel Fiel Filho
LUPPI, Carlos Alberto. Manoel Fiel Filho. Quem vai pagar por esse crime? São Paulo: Editora Escrita, 1980.
FILME: Perdão Mister Fiel. Direção: Jorge Oliveira. Co-direção: Pedro Zoca. Brasília. 95 min. Documentário, 2009.
Santo Dias da Silva
ROCHA, Guilherme Salgado. Construtores da Justiça e da Paz: Santo Dias da Silva. São Paulo: Salesiana Dom Bosco, 1996.
DIAS, Luciana; AZEVEDO, Jô e BENEDICTO, Nair. Santo Dias: quando o passado se transforma em História. São Paulo:
Cortez Editora, 2004.
Dossiê de fotos sobre a greve de 1979 e a morte de Santo Dias: 50-B-58 2698 a 2672, Documentos do DOPS/APESP.
investigação operária
FERNANDES, Edvaldo (org.) Massacre de Ipatinga: quadro a quadro. Brasília: Ministério da Justiça, Comissão de Anistia,
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SOUSA, Nair Heloisa Bicalho de. “Massacre da Pacheco Fernandes Dantas em 1959: Memória dos trabalhadores da constru-
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PAULA, Hilda Rezende e CAMPOS, Nilo de Araújo (orgs.). Clodesmidt Riani: Trajetória. Juiz de Fora (MG) : FUNALFA
Edições, 2005.
KOTSCHO, Ricardo. Serra Pelada. Uma ferida aberta na selva. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984.
Documentos do Fundo DOPS /Arquivo Público do Estado de São Paulo
Fichas da prisão da família Prado de Andrade: 50-Z-009. Documentos do DOPS/APESP.