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Pôr o lcitor directamentcem contacto

com textos Ínârsrntcs d.r história da 6loso6a

a todrs es épocase a todos os tipos


c cstilrs dc 6loso6a,
Drocurandoincluir os tcxtos
mais significatirbs do lrcnsamento6losó6co
nâ sua multiplicidade e riqucza.
Scrá assim um rcflcxo da vibratiÍidadc
do esplrito filosófico pcrantc o scu tempg,
Dcra,ntca qcncla
c o orobìcma do homem
c do mr.rndo.
TextosÍilosóÍicos
DircctorrJaColccção:Artur Morão
ProÍcssor
noDcpanarncnto
dcFilosofirdaFacuklarJc
dcCi0ncias
Ilurnanas da Univcnidudc Carólica Portugucsa
REGRAS
l. Críti<'u du Ru:rirrl'nÍrriz. Inrrn:nul Krnl
2. httcttigução uiltrc o È'l,enlintcnro líuar<rro, Dlrid llunr
PAKAADTRECçÃO
!. Cnpúuttlo ilor ílrúrr, lÌicrlrich Nicrrrchc
4. Dix'urto lc llcntfiti<tt,CtrlíticrÚ Whilhclm triboir
5. Ot l'ntcttor th llcn{Ítin,Jmuucl Kant
DOESPÍKITO
6. Rcg,mtym u Dincçdo do t3píúo. Rcné llscancs
7, l'unthunalluçtio du lletufitico lot Cottumct.l:ticrdltich Nictar<hc
E. À llcio th I'enoncnohryiu,lllnvnJ llusrcrl
9. Dircurn tb llürxlo. Rcré l)csrancs
lO. t\rtto.k ll*, t)t1lütniw du llinlut Obm amt t3crirrr. Sffrn KicrtcgurrJ
ll. Ã l'ihuoftu no hhulc Tnlgico dot Cngor. Fricdrkh Nicrrt|r
12. C.rrril urhn u 7iíralrr<'irr. Jrün lrr\c
13. I'ailcgóncur u ftxh a llcndíúcc f'rrrnr. Inrmrrl Kant
11. Tnnolo ilt Raltntn lo t)úenilinrtrrír. llcnto dc l:rpitxrc
15. Sinlxilinn: Scu Signifituh c Êlcr1o,Âlírcd Nonh Whirchcal
16. t)ttuio Sobn or l\uhr hnaliuos tht Ctuttt'iênciu. llcnti llcrgvn
17. ttrci<lq{úfuúuCihu'iutl:tkrtifintscnlitlnxnc(v/. l).CrrrgìYhillrlnrljricrlrichllcgcl
18. À l\tt l'crttétta, c Outnrt Opút(ulor. Inrnunlrl Krnt
19. Diúhtgo xún c á'aljrrla/c. Santo Ágrntinho
N. I'rincípios tht l:ihutfia do funn. l.ulsig ljcucrbrh
21. Èu'i<lo1>llüt lur Ciènctut t|hróficos cn Ë1úttnc írrrl l/l.Cnrg \Yhillxlm llriclrkh llcgcl
22. ll onnxtitos t)<tnt&nicot. t' rktsrificor. Karl Èl:n
2J. l'ntlrlãutittt lìlorr'fico. Crrrg \\'hilhclm lïicrlrich I lcAcl
21. O Antü rito.lÌicrlrich Nictr.rclx
25. I)ir<'uno y,lrc u Dignühulc tb llmcm. Giovmni Pico rJcllr Minnúrlr
26" tlcc I hnn. lÌicrlrich Nictrschc
27. O llutcrioliwo lüa'irrrrl. Grrtrn llxhclul
2ll. l'riu'Qtüu lltn{íúvs lu Ciènctu ilo Nutunu,l:ric,JÍich Nictr-Í{hc
7). Di<lhryo ile utn l\lót{o Cri*lo c ilc un l:ikttófit Chrirãr. Nicohr Àhlcbne."lr
!J. O Si u cnn ilu lïrla Éritr, Crrrg \ì'hi lhclnr tÌicrtrich I lcacl
31. lntnrhtção à llitóriu ilu l'iloutfia. Cnrg Whillrlnt lÌicJrich llcgcl
12. A t Co fc rê nt iu r /r lÌrrrr. l'rJmunJ I lurrcrl
13 Tcoút lur Cou c14iks lo lttarlo. \\ ilhclm l)ilthcy
It. A Rcligüio not ünitcr ilo Sinl>lcr lfrrcio. Inrnunwl Krnl
75 |lu'ültryúliu ilut Ciiu'üts l:rlottificut cnt tpÍunnc (rr/ /l/J. Ccrrg \\ hillxlnr lÌicrJrich I lcgcl
16 luvttigol,irt t'ilttuifi<'<rt&iltn o |stêncfu du Ulxntutc tlunxnn. F.W J x-lrlling
17. O Cutf ito lu l'rrrrllrrlc. lnrnunucl Krnt
It llone c Sobnritin< i<t.Àhr Schclcr
19. À llu:io m I liÍ.iÍür. Crc(x8Whilhclm lÌicdrich I lcgcl
411. O No*t t)rphito Cicntífrco,Gtt<n llrhchrü
4 |. &ún u ltctofíti<rt ilo Scr no Tonlxt. l lcnriquc rlc Gand
12. t'rincúúts ila t|hutfrt, Rcrú l)csrncs
41. Trutuh ilo l'rüncint l'riucípüt. hül l)un: lircrro
4. Í)rsirt yilrn o ltnhulciru Orig,cm. c rrenuin c fitn thr Govmo Cinl,hilrn lrxlc
15. A Unühulc do hrtclccttt t-tttrtruor Árvrarirlor. Sio Trxnás dc Âquimr
46. À Gucrm c Quciw ilu l\t:.|:lrsnrudc Rdcrúio
17. Uçìr s u ú n u lfucç ão do &ihi o, JrilrannCxrtlicb lichtc
4lf. Llrr l)rrrrr I Ih OlJiciit),Cíecm
4). Do Alnw (lkiairrrr.
9. A Ew,luçdoCrialora, ^íirlúclcr llcnri llcrgsn
Sl. l'útilogio e Ctrn2rcrrlirr. ì\'illrlm l)ilthcy
René
DESCARTES
KEGRAS
PARAADIRECçAO
Título originrl: Regulac
ad Dincticlrteulngcniì
DOESPÍKITO
@ Erliçõcs70

Truluçtrodc lolo Gama

Cap dc EdiçÕcs
70

DcJúsirobgrl n.' 283l0rìE9

tsBN 97244-0599.0

TqJososdircitosrcscrvados Jnraa lÍnguaponugucsa


Jrcr&liçòcs 70

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Far : 213190249
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Estaóra csráprorcgidapclalci. NtropcrlcscrrcpnxJuzi<ta


notodoou cm ÍErtc.qualqucrquc scjr o modoutiliado.
incluindoÍotocópiac xcrocópia.
scmprúviarurorizaçào do Edircr.
Qualqucrtnnsgrcssào à ki dosDircitos<toÂutorscrápassÍvcldc
pmccrlimcnrojudicial.
BREVENOTÍCIA

Unr opúsculoinconrpletode Descanes,mas quão signifi-


cativo! Osestudiososdiscutema dataemgueterãosido rcdigidas
as RegrasParaa Dirccçãodo EspÍrito.As váriasopiniõessiruam
a suarcdacçãoentrc1620e 1635,tendoemcontaalgumas alusões
biográlìcasnas Regras2.4, 10.
SegundoH. Gouhierna suaedição(r), as Regrasnãodevem
seranterioresa 1623:constituiriamumaespéciede rcsukadodo
trobolhointelectualfeitoentrcI6?3 e 1628eloi nesteúltimoano
que Descartesas teria postopor escrito.
Por seuturno,a históriafisicadotextotemalgunsmeandrcs.
Há três nnnuscritosintponantes:a) o manuscritooriginal, que
pertenciaa Clerseliecnlr.sperdeu-se;b) uma cópia quefoi de
Leibnizeseencontnou na bibliotecade Han6ver;e c) a cópiade
quesesemiramos editorcsdosOpusculaposthumana primeira
edição do texto latino ent Amesterdão,1701,e que também
desapareceu. CharlesAdam (e Paul Tannery),na suagrande

(f) Dcscartcs.Rctulacaddinctioncm
ingcnii.Preí&iodcHcnriGouhicr.Puir. Vrin
r9ó5.
cdiçc-ndoscscritoscerte.ïieno-$, OcuvrcsclcDcscancs,I'aris,Ccrf
1908(lulc, cditukx pcla Vrin), ,rlcorrcu ao tc.\to publicado mts
Opusculac às variantcsdo nranuscritodc Hurtôver.
É essetcxto (,to tomo X da ediçtio de Atlam c Thnncry) quc
scrve de busc c\presc,ttc ediçïto c tratluç[io pura português.

Sc o lcitor esrivcrimcrcssado,hú algunns obrusfunduncntuis


quc o podcrão ajutlar a cstudara.sRcgulac:
l) E. Gilson, Irulcx scolastico-carttisictt,l\tris, Alcan, 19/,3.
2) E. Gilson,Rcnél)cscuilcs. Discoursc<lcla Méthcxle.I'c.rut
c co,,tc,rlúrio,I'uris, Vrin 1925,/,967tIR. I)cscurtcs,Discursodo
Métotfo, anotculoe utnrcntadopor E. Gilxn, Ediç't'ics70, Lisboal.
REGRI\ I
3) L J. IJeck,Thc Mcthod of Dcscartcs , u studyof rlrc Rcgu-
lae, Oxfttnl 1952.
A finalidade dos estudos deve ser e orienteÉo do
espírito pere cmitir iuÍzos sólidos e veÍdedeiros sobre
ArturMorão
tudo o que se lhe depara.

Os h<lmenscostumam,sempreque reconheccmelgu-
ma semelhança entre duas coisas,avaliarâmbas,mesmo
naquilo cm que são diversas,medianteo que reconhe-
ceram numa dclas como verdadeiro. Rcalizam assim
falsasaproximaçõesentre es ciências,que consistemexclu-
sivamentcno conhccimcntointelectual,e as artes, que
exigenralgum exercícioe hábito corporal; e vêem que
nem todasas artcsdevemser aprendidassimultaneamente
pekr mesmo homem e que só a<1uele que exerceuma
única se transformamais facilmentcnum artista consu-
mado; as mesmasmãosque se dedicama cultivar os câm-
pos c a tocar cítara, ou que se entregama vários ofícios
diferentes,nã<>os podem cxccutar com tanto desafogo
como se a unì só sc dcdicassem. Julgaramque o mesmo
se passarircom as ciênciasc, ao distingui-lasumas das
outrâs segundo a diversidade dos seus objectos, pensa-

IO II
nrm quc cr:r neccsário adquirir cadeurna scplnrdamcnte, rÌì()s6[rcrar; mes, sc nclcs pcÍtsarmosdurentc o estudr.l,
dcixando dc lado todas rs ()utÍ:ls.Iingantram-sc rotunde- fzzcm muitas vcz6 quc omitamos muirrr nrcios ncccssá-
menrc. Glm cfcito, visto quc t(des as ciênciasneda meis rirr Jrrra o conhccinrcnto dc (rutnÉ coisas, F)rquc sc
sàodo quc 1 sebcdorialtumrnr, a qual pcrmtnccc scnìprc úgunri<1, à primcire ()u Íx)uc() útcis ou
-visra, ixruco
une c idênricrr [xrr nruito difercnrcs quc sciam ()s dignos dc intercssc. É, prcciso icrcdinr <1ucr.rdas rs
obicctos e quc sc rpliquc, c rúo reccbc dclcs nreis ciênciasesrãodc ral mrxÌr concxascnrrc si {uc d muitís-
disrinçircsdo que r luz do sol dr varicdrdc das coisas simo nrais fácil aprcndê-las rrxlas a() mcsmo tcmpo
<1ueiluminl, nio há ncccssidadc dc imJxrr atr cspíritos do quc scpamr uma só quc scja drs outras. Porttnto,'se
quais<;ucrlimircs. Ncm () conlrecimcntodc um:l só alguém quiscr inrcsrigar a sdrio a rcrdedc des coises,
vcrda<lc,com() sc firra a práricr dc umt única ane, nos não dcvc cscolhcr uma ciência lnnicular: csrão ruhs
dcsvia da dcscobcnr dc (,utn; pckr contúrio, aiuda- unides cntrc si c dcpcndcnrcs úmas d's ourras; rÌuls
-nos. Scnr dúvide, paÍccc-mc dc cspantar quc a meior pcnT a[rcnascm aumenrera luz narunlda razlo, não 1nm
lnnc indague,c()nì ír nìai()rcntJrcnho,()s c()stumcsdos rcsolvcr csta ()u rquch dificuldedc dc cscoh, mas fan
Iromens, as propricdadcs des phnrrs, ()s movimenttx que, cÍn cede circunsrâncir de vida, o intclccto mostrc
dos astros, as tmnsmutaçirs dos ntctais c os rtbjccttts à vontadc () quc dcvc cscollrcr. D,m brcvc ficaú 6paÍl-
dc scnrcllrrnresdisciplinasc que, entÍctant(),quasc nin- tado dc rcr fcito progrcss()smuito supriorcs atrs dc
gudnr pcnsc no lxrm scns()ou ncla Sabcdoriaunivcrsal, quantossc dcdicrm r csrudospartiorlarcs,c dc rcr obrido
guando rudo o mris dcvc scr eprcciado, nào tlnt() lxrr não só tudo o quc os ourÍos dcsciem, nras rinde coisrs
si mcsnì() qulnto [rkr contributo quc I csta tnü2. mais clcvedes do quc es quc podem 6ÍrcnrÍ.
Assim, ni,r d scm motir() quc Íx)m()scst1 regÍr lntc
de t<xlas as ()uras, Íx)rquc nrdr nos afasta tmto d<>
recto caminho da pr(xur:r da vcrdade como oricnttr oo
atlgdos, nio prrr cstcfint gcral,maslnm dguns 6ns
tì()ss(rs
panicuhrcs. Não falo jâ dos maus c condcúvcis, como
a r'ã glória ou o lucro vergonhoso: c óbvio quc as
rrzr'>csdc nuu quihtc c ()s cmbustcs próprios dos
cspÍritosvulgarcsabrcm ncstcscntidoum caminhomuit<r
mais trntaioso do quc () prdcria ftz.cr t> sólido c<tnhc-
cimcnto da vcrde<lc.I\Ías prctcndo falar drx fins honcs-
r()s c kruvárcis, Íx)Íquc nnis subtilmcntc somos por
clcs ntuitas ïczc cntnnados: F)r cxcmPlo, âo PÍrrcurar-
nros adquirir as ciêncirs útcis parr o bcm-cstarde cxis.
têncir (ru prÍ:l () prezcr quc sc cnc()ntrane contcmplaçàrt
dr rcrdadc, e gue c quasc a única fclicidadc complcte
ncsta vi<lac (luc ncnhumador vcm Jrnurbar. São cstcs
rrs frutos lcgírimos das ciêncirs quc cfcctivamcnrcgxlc-

,2 ,l
os lcvou a não rcflectirsobrc tris conhccinrcntos, c()mo
dcmasiadofáccis c accssír'cis a t()d()s. crÌtantr),
s()u
^\o
dc opiniào dc <1uccstcss:ì(,nruito nraisnunrcr()s()s d()
quc pcnsenì e suficicntes pxra pr()\'ar, c()m ccrtcza,
inúmcrasproposiçircs, accrcsdascluaisnão pudcramdis-
corrcr atci cntlio x lìrìo ser dc un'ta rììrncira provável.
Porquc julgaranr indigrro dc urrr homcm lctrado con-
fcssarquc irnorevr algunrecoisx, hrbituarrm-sedc tal
modo a adornar as suxs íllsrs razòcs quc, inscnsivcl-
nìcntc, acabarantpor a si prriprios sc pcrsuadiremc as
t()rììxrcmc()nì()r'crdadciras.
No cntanto, sc obscrvrrnìosbcm csta rcgra, muito
poucascois:rsse eprcscntanr a cujo cstudo nos possxmos
RE GRÂ II aplicar.Dificilmcntc sc crìconrraránas ciênciasqualquer
qucstãosobrc a qual os lrontcnsversld<lsnão tenham
muitas vezcsdiscordadocntrc si. ìÍas, scmprcquc duas
Importa lidar unicamente com aqueles.obiectos pessoastônr sobrc a ntcsrnl coisa juízos contrários,dc
para cuio conhecimento certo e indubitável os certczrquc pelo nrcn()sutÌìa()u ()utrasc cngana,c nenhu-
irossot espíritos Parecem ser suficientes. ma delasprrece nlesmotcr ciôncia;porquc, se rs razõcs
de uma fossenrccrtas c cvidcntcs, podcria cxpô-las à
ccrto c cvidcnte;
T<ldaa ciônciai utn c<lnhccinrcnto outra de modo a finalmcnte convencer() seu entendi-
mcnt(). I)arcce,pois, cluc sobrc todos os assuntosdeste
géncro podcmos obter opiniires provár'cis, mas úo a
ciência pcrfcita, visto quc nâo nos é pcrmitido scm
temcridade esperar mais de nós mcsmos do que os
outros fizcranr. Âssim, das ciênciasiá encontradas,res-
tam só a Âritméticac a Geometria,às quais nos reduz a
observaçãodesta regra.
Âpesarde tudo, não condcnamospor isso a maneira
de filosofar até agoraencontradapclos outros e, nos esco-
lásticos,a maquinariados silogismosprovávcis,perfei-
tamente adcquadaàs suas guerres. Na verdade, são até
um cxercício para os cspíritos das criançase com certa
emula$o os fazem progredir: é muito mclhor formá-los
mediante opiniões dcstc jaez, ainda que aperentementc
incertas devido às controvérsiasdos eruditos, do que
abandoná-loslivremente a si próprios. Talvez sem guia mais- nuncr resultade uma inferênciaerrada,mas apc-
naq de sc partir dc certasexpcriênciaspouco comprecn-
didas ou dc se cmitirem juízos de nrodo temerârio e
scnr fundanÌento.
De tais consideraçoesinfere-se claramenteporque
é que a r\ritmética c a Gcometriasão muito mais certas
que as ()utras disciplinas:são cfectivamenteas únicas

sermosseriamcntedeterminarpara nós próprios es regras


que nos aiudem a chegar ao cume do conhecimentohu- de todas,e têm um objecto tal como o exigimosjá que,
mano, há que admitir entre as primeirasa que nos prcvine exceptopor inadvcrtêncir,pareccdifícil nelasum homem
contra o abuso d<l ócio, em quc tantos ceem; dcixam de enlÌanar-sc.Âpesardc tudo, não é de espantarquc muitos
lado o que é fácil, só se ocupam de coisasárduassobre espíritos se apliquem espontancanrcnte a outras arres
as quais elaboramengenhosamente coniecturasPor certo ou à filosofia:isto aconteceporquc cadaqual se pcrmite
muito subtisc razões deverasprováveis. IÍas, apósmuito a si mcsmo mais confiadamentcser adivinho em matéria
trabalho, advertemiá tarde que não fizeram mais do que obscurado quc em matéria cvidente, € é muito mais
aumentar o número das dúvidas, sem terem aprcndido
uma ciência.
E agora, por há pouco termos dito que, entre as
disciplinasconhecidaspelos outros, só a Aritnrética e
Geometria estavamisentasde todo o defeito de falsidade ^ mas somenteque, na procura do rccto caminho da ver-
ou de incefteza, vam()s examinar mais atcntamentea dade, não há que ocupar-se de objecto algum sobre
razão disto mesmo, observando que há uma dupla via o qual não se possatcr uma ccrtezaigual às demonstraçõcs
que nos lcva ao conhecimentodas coisas,a sabcr,a exPe- da r\ritméticae da Geometria.
riência ou a dedução.É precisonotar, além disso,que es

ainda o menos racional. E pouco úteis me Parecem


ser pare isso os laços com que os Dialécticos Pensam
governar a ttzão humana,se bem que cu não negue que
scjam muito apropriadospara outros usos. Com efeito,
todo o erro possível- falo dos homens e não dos ani-

t6 I7
mediante os mais subtis argumentos. Pclo contúrio,
scmprcque tiveram a felicidadede cncontraralgo de ccrto
c evidente, nunca o expõem scnão com rodeios, receando
eparcntementediminuir pcla simplicidade das razõcs
o mérito da invcn$o, ou cntão porque nos inveiam
a verdade às claras.
r\inda que todos f<rssemdc boa índole e francos,
impedindo-nos de tomar coisas duvidosas por verda-
dcirase expondo-nostudo dc boa fé, porque dificilmente
um afirma dgo cuio contrário não seja proposto por
outro, nuncâ sabemosem qual dcles acreditar. E não
valcria dc nada conter os votos para aderir à opinião
panilhada por mais Âutores; porque, sc sc trata dc
REGRAIII uma questão difÍcil, é mais credÍvcl que a sua vcrdadc
tcnhe sido descobertapor um reduzido número do que
por muitos. Mcsmo se todos estivessemdc acordo, o
No quc respeita aos obiectos considerados, há seu ensino não nos bastaria:nunce nos tornaremosmete-
quc pÍocurar não o que os outÌos pensaram ou máticos, por exemplo, embora saibamosde cor todas
o que nós próprios euspeitamos, mas aquilo de as demonstraçõesfeitas pelos outros, se com o espÍrito
que podemos teÌ uma intuição clara e evidente não formos capezcs dc rcsolvcr todo e qualqucr pro-
ou que podemos deduzir com certeza; de nenhum blcnra; nem nos tornaremos filósofos se, terido lido
outro modo se adquire a ciência. todos os raciocÍniosdc Platão c Âristótelcs, não puder-
mos formar um iuízo sólido sobrequento nos é proposto.
Dcvem lcr-seos livros dos Ântigos, pois é uma grandc Com efcito, darÍamos a impressão de termos aprcndido
vantaÍ{cnì podermos aproveitar os trabalhos de um tão não ciências,rns histórias.
elcvado número de honrcnsrQucÍ para conheccras dcs- Âlém disso, somos admoestadosa não misrurar
cobcrtas iá feitas no passadocom êxitor Qu€r também absolutamcntenenhumaconiccturacom os nossosiuízos
para n()s inf<rrmarnrosdo quc ainda falta descobrir cm sobrc a vcrdade das coisas. Esta advertência não é de
todas as disciplinas.FIá, contudo, um grandc pcrigo somenos importância: pois, a melhor razão pela qual
dc se c()rrtraircnìtalvez algumasmanchasde erro na lci- não se cncontra ainda na filosofia vulgar nâda dc tão
tura derrrasiadoatenta desscs livros, manchas que I cvidcnte c tão ccrto que não possa qucstioÍÌaÍ-se,é que
nós se agrrÍanì sejam quais f<-rremas nossesresistências primciramente os cstudiosos, não contentcs com reco-
c prccauçõcs.Com efeito, os escritores costumam tcr nheccr as coisas claras c certes, ousaram defender
um cspírito tal que, todas as vczes que sc cmbrcnham coisas obscuras e dcsconhecidas,quc só por coniecturas
p()r un'ta crcdulidadeirrcflectida na crítica de uma opi- prováveisdcançavam.Depois, pouco a pouco, elcs pró-
niào controverse, se esforçam sempre poÍ nos atrair prios lhcs dcram crédito total e confundiram-nas indis-
tintamentccom as coisasvcrdadcirase cvidcntcs,sem Ora, estaevidênciae estacertezada intui$o não são
podcrcrn tirar ncnhuma conclusãoquc não parecessc apenasexigidasplr.a a: gimpleqenunciações, mas também
dcpendcrdc alguma proposi$o semclhantec quc, por para quaisquerraciocÍnios.Seja, por exemplo, esta con-
conscguintc,não fossc inccrta. s e q u ê n c iaz:e z é i g u a la l m a i sl ; é p r c c i s o v e r i n t u i t i v a -
,\ fim dc não cairmosultcriormenteno mcsmoerro, mentenão só que 2 e z são4, e que ; e r sãoigualmente
vâmos aqui pessarcm rcvista todos os actos do nosso 4, mas,alim disso,que destasduasproposiçõcsse conclui
cntcndimcnt()quc nos pcrmitcm chcgarao conhecimento necessariamente aquelatcrccira.
das coisas,scnr ncnhum rcccio de cngano; admitcnr-se Poderáagora perÍlunrar-sep()rqueé quc à intuiçâo
apcnxsdois, a sabcr, a intuição e a dcdução. juntámos um outro m<ldo de conhecinrento,que se
l'or intniçãocntcndo, nâo a convicção futuantc for- raliza, por dedaçt\oipor cla entcndcmos o que sc con-
necida pclos scntidos ou o iuíz<>cnganador cle uma clui necessariamente de outras coisas conhècidasconr
imaginaçãode conrposiçõcsinadcquldas, nìas o con- certeza-. lìoi imperioso proccdcr assim,porque a maior
ceito dr rììcrìrcpurÍr c atcntatão fácil c distinto que ne- parte drs coisassão conhecidrscom ccrtcza,ômbora não
nhuma dúviclanos 6ca acercado quc conrprccndemos; scjam cm si evidentes,contanto que scjam deduzidas
ou cntã(),() quc é a mcsmac<lisa,O conceitodr mente de princípios vcrdadeiros,c i^ conhecidosrpor um
pura e atcrlta, scm dúvida possívcl,quc nasccapcnas nrovirrrcnrocontínuo c inintcrrupto do pensamento, que
da luz da razio e quc, por scr maissinrplcs,ó aindamais intui nitidamentecada coisa cm particular: eis o único
ccrto do quc a dcdução, sc benr quc cstx última nâ<r nrodo dc sabermosque o último clo dc uma cadeiaestá
possascr nral feita pclo homcm,como acinraobsen'amos. ligado ao primeiro, mesmoque não aprcndanrosintuiti-
r\ssim, cada qual podc ver pcla intuição intelectualque vamentcnum só e mesmoolhar o conjuntodos elosinter-
cxistc, que pcnsa,que unr triângulo é dclinritadoapenas midios, dc quc dependea ligação;bastaque os tenhamos
por trôs linhas, quc r csferao é apcnaspor umr super- cxaminado succssivamente c quc nos lembremosque,
fícic, c outras coisasscrnclhantcs, gue são nruito mais do primeiro ao últinro, cadaum delesestáligado aosstus
numcrosasdo quc a maioria obserr'â,porque nã<l sc vizinhosimediatos.Distinguimosportanto,aqui, a intui-
dignenr aplicar a tììcrìtcr coisastio fáceis. ção intelectual dr dcdu$o certa pclo facto de 9uc,
Quurto ao mris, faço ac;ui unra advcrtônciagcral nesta,se conccbcuma espcície dc movimento ou suceslão
não r'á alguim talvcz surprcender-sccom () novo uso c na outra, não; além disso,para a deduçãonão é neces-
dr palavra intaiçtìr.,c de outras clue igualmente serci sário, como para a intuição, uma evidênciaactual,mts
f<rrçadoa dcsviar da sua significaçãovulgar: não penso i antesà nremóriaque, dc certo nrodo, vai buscara sua
scqucrno nroclocomo cadacxprcssãofoi, nestcsúltimos certez^.Pclo que sc podc dizer quc estas proposições,
tcmpos, usadanas cscolas,porque seria dificílimo scr- qu€ sc concluem imcdiatanrcntcI partir dos primeiros
vir-nre dos mcsnrostermos c exprimir idcias totalmente princípios,são conhecidas,de um ponto de vista dife-
diversas;nìas vou atcr-mc unicamcntcà significaçãode rente,.ora por intuição, ora por dedução,mas que os
cadaprlavracm latim paraquc, à faltade tcrmospróprios, primeiros princípiosse conhccemsomentepor iniuição,
transíiraparx a minha idcia, os que me pareccmmais e, pelo contrário, as conclusõcs distantesió o podem
adcquados. scr por dcdução.

2I
F,is as duas vias mais scgurasÍtarr chcgar à ciôncir;
do hdo <ftrcspírit. não se dcrcm adnritir mais,c trdes
as ()utrasdcvcnt scr rcicitadssc()mo susJritesc pssÍvcis
dc crro; () quc, ap6rr dc tudo, não nos impcdedcacre'
ditar <1uca<luilo quc firi obiccto de rcvch.çãodivine c
ntais ccrto do quc qualqucr ()ulr(t conhccimcnto;c()m
cfciro, a fr:, Jxrr tisrr coisesobscuras,não d um acto
do cspírito, rnrs da vontrdc. F, sc tcnr fundement()sno
cntcntlintcltto, Jxxlcrãrt c dcvcrirl t<xlos clcs ser dcsco-
bcrros Jx,r unri ()u ()utÍìl clrs virs iá indicades' como
trlrcz únr dir o demonstclÍcmosmeis rmphmentc.

REGRÂIv

O mâodo é neccuÁrio para r pnocusrde verdede.

C)slÍorteis sãodominedosÍx)r umt orriosidedcrão


ccgl quc, muitasvczcs,cnvcrcdrmo espÍriropor cemi-
nh<x dcsconhccidos, scm qualqucrcÍrcnrnça razoávcl,
mes unicamcntclÌrçr sc arriscarem1 cncontnrro quc
procunrm:é como sc rlgudm, inccndiedoplo dcscio
tão cstúpidode cncontrerum t6íJuro, vrgucrsscscm
ccsslr plas prags públicr ÍÌlnr vcr se, c?sualmcntc,
cncontÍ:rvarlgum pcrdido [x)r um tnrnscunte.rlssim
cstudemquesctrdos os quimisras,r maiorit dos gcó-
mctnrs c um gmndc número de 6lósofos; nio ncgcr
quc tcnhrm por vcz6 muira s()nc nos scusceminh<>s
crnrntc c encontremalgume vcrdtdc; contudo, não

nrturd c ccgemos cspÍriros.Qucm sc ecosrunua andar

,t
assim nis tÍcì'as cnfnquccc dc ral nt.rdo a acuidrdc d,t Umr vcz quc. utilidedcdestc múrdo é tio grendc
ollrrr que, dcJxris,nio Jxdc suÍx)ntr r luz do plcn,r dir. quc o cultivo das lctras 1Ìrrece,scm ele, dcstinedo a scr
Ê r cxpcriôncirquc o cliz: \'cnì(rsntuitíssimrsvczcti()s nuis prciudiciel do quc úril, facilmcntc mc convcnço
quc nunc? sc clcdicrrrm às lsras iulgar o guc sc llrcs dc quc os cspÍritos supcri<.rrcs,mcsmo só sob 1 condutl
dçrrr conì nruito nttrior s,rlidezc clarczado <pc acluclcs de naturez:, já entcs o divisrram de dg;ume mencirr.
quc scnìprcfrc<;ucntamnt ls cscohs.Iintcndo Jxrrn:ct<xftr (nm cfciro, I mcnte humenr tem não sci quê dc divino,
Ícgrrs ccnasc fáccis,<;ucpcrnritenìI guenì cxadinìentc cm quc as primcins scmentc dos Jrnsrmcntos úteis
as obscrrar nuncl tottìtrÍ Jxrr vcrdrdciro elg,r dc falso firram hngrdas de tal mrrdo quc, muitrs vc:26, rinde
c, scrììtlcspcrrligrrinutilntcntcncnltuntcsf<rrço <h tttcnte, cluc dcso.rradrsc abafadesp>r cstudos fcitos indirccra-
(,
nìtrsaurììcntr:tdosctììpÍcgradurlrrrcntc stl)cr, atingir rr mente, prrxluzcm um fruto 6pontânc(r. É o <1uccrgrri-
conlrccirttcntovcrdrdciro dc tudo () quc scrá crPrz mentlmos, nrs ciôncirs meis fáccis, r r\rirméticl c a
dc srbcr. Gcomctria: dc facto, r'emos bastrntc bcm quc os mtigos
(icrinrcrms urilizerem ume cspdciedc aúlisc quc elten-
r\c;rri,hi durs obscrraçircsa frzcr: nào totlìaÍ ebso'
diarrr à soluçãr>dc trxftrs os problemrs, ainde quc Íúo
lutantcntclredadc frlso Jr,'rvcrchdcir,t,c cltcgara<tconhc'
r tcnham transrrritido à lxrsteridrdc. E agora ílorcscc
cin:cntoclctud,t.(ìrnr cfcito,sc i:llt,rrarttì,rstltlo dc <1uent,r
(,u um gdncroclc Aritnritica,quc se chamar\lgcbra,quc pcr-
Jxxlcmos srlrcr c apcnrs [x)rquc nuncl divisámos
mitc frzcr prnr r)s núntcros o quc os .'\ntitlos frzirm
umr tir quc n()sconduzissea td conltccimentrr, ()u [x)r-
prm as figurrs. l'lstasdurs coises nio prssam de frutos
quc crínros no crÍ() ()[x)st().
]las sc o nritrxlr nrts dá
csgrntâncos dos princípios naturris do n()ss()m&odo,
unrr crplic:rçio pcrfcitr do uso dl inruiçio intclcctuel c não mc admir<lquc tcnhe sido ncstrs encs, cujos obicc-
prrr nào clirmos n(, cÍrr) contrârioà rcrdrdc, c d<l nrcio tos slo muito simplcs,quc clcs atd aqui cÍccctlm com
dc cnc,,ntrrr dcduçr'rs plra clreger ao cottltc<imcnto mais frcilidedc do quc nrs ()urÍ:ls, on<lc meiorcs obstâ-
dc rurl,r, prrccc-nrc quc nrdr mais sc crigc prn clc culos gcralmcntc ()s c()srurrulnrabafer, mas onde tam-
scr conrplcto,ii quc ncnlruntr cii'rtci.tsc gxlc rdquirir bém, no cntlnro, sc sc cultiveÍcm com sum() cuidedo,
a n:ro scr pch intuigâo intclccturl ()u pch dccluçio, sc frrio infalivclmcntc chcger à pcrfcire meturidedc.
c()nì() anrcs f ic,,rr ditrr. Ncnt clc sc Ítxlc cstcndcr lìri o quc mc pÍopus principrlnrcntc fazcr ncsteTra-
atc:ensinrr conì() sc dcrcrtt íazcr cstasoPcr:rç('És, Íx)Íquc rado. frlle daria nruira inrJxrrtânciae 6ras ÍcgÍas, sc
sào as nraissirrrplcsc printcirasdc t<xlas,dc rrl mancira sri scrvisscmpara rcsolvcr os r'âos problcmrs com quc
que, sc (, Ít()ssocntcnclintcnt() as nã()pudcsseuslr trnlcst costumam cntÍcter-sc os elcuhd()rcs ()u ()s gcómctms
nào conrprccndcrirncnltuntrlosprcccitosdo priprio ntd- nos scus passrrcmpm: iulgaria, ncsrc curo, não rer drdo
1ralo,Jxrr rrraisficcis cluc fosscnt.Quento às outrts ttJrc. outm provl dc suJrrioridadc quc I dc mc cnrpr dc
rrçips intclccturis,quc a Dialccricrsc csfirrçayrr rtricntar bagatclas,trlvcz conr nuis subrilczado quc ()s outros.
c()tìra ajudr dcsrrsprinrcirrs,sio rqui inútcis,()u antcsr Ë ainde quc cstciadccidido r frl:rr rqui muito dc figrras
dcrcnr corìrer-sccntrc ()s obstáculos,ji quc nio lri nadr c de númcros, lx)rquc não sc g>dcm pdir a ncnhume
quc sc F)ssaiuntar à pur:r luz da nzào, scnrI obscurcccr das ()utms disciplinas ercmplos tã<>cvidcntcs c tio
dc unra ou dc outra mencirr. cert()s,qucnr, no entânto,pÍ6rar etcnçãoà minha idcie,

2t
apcrccbcÍ-se-áfrcilmcntc dc gue 6t()u r pcnsar nede que () âçls() faz meis dcscobcrtas do quc I lnc c quc
mcn(rsdo quc nas .\lrtcnráricrs vulgarcsc quc cxpoúo sc dirigcm mais aos olhr>sc à imagine$o do quc 1<l
umtr ()utm disciplinadc quc clas são mris roulagcnr d<r cntendimcnto, nrda de mais fútil do quc a clas sc
quc ÍÌlÍ16. Ibra disciplinadcvc efcctivamcntcc()nteÍ()s aplicar âo 1x)ntodc pcrdcrmos,dc elgum modo, o hábito
Primciros rudimcntos {a rrzj' humanl c cstcnder-sc dc urilizer r própria ruÀo. r\o mcsmo tcm[x), mdr d
lnn hzet brrrtar vcrdadcse rcslrcitgdc quelqucrlttsunto; meis complicrdo do quc - c()m scmclh2ntcmancirr dc
c, prÊl faler livrcrncnre!d prcfcrÍvcl a trxÌr o ()utÍo fazcr dcmonstraçitcs- supcr:rrn(rTâsdificuldadcs6con-
conhccimcnf(,trtrnsnritidolrumanamcnle,visto quc d a dides numr desordcmdc númcrrn.
filntc dC trxl,rs r)s (rutÍ()S:c cstt e minlrr pCrSurSiíJ. Scguidamcntc, intcrroguci-mc sobrc t nzl<> quc
Sc falci dc roupagcnt nào sirlnificequc cu qucirr cobrir ()utr(rçl lcvou .o çiildorcs da FikxoÍir 1 não qucrcrcm
c cnrolvcr cstccnsinoparaeÍast:rro tulgo, 1nt6 o qucÍo admirir n() cstudo dr srbcdoria ningudm quc fossc
vcstirc rdornarprrr nrclhorscadaptarao cspíritohumrno. ignoranrccnr ìÍatcnráticr, como sc dc t<dascstadisciplina
Qurndo prinrciranrcntcnìc rplicluci às disciplinas lhcs prcccssc r meis fácil c neccssáÍiaÍ)ara cnsinâÍ c pÍc-
metcmáticas,li logo intcgralnrcnrcr nreior prnc das prmÍ os cspÍritos prm ()utnrsciênciasmais imponantc.
coisasquc habirualnrcntc()s scus pr()nìot()r6 ensinrm c Suspitci cntão que tivcsscm conlrccido umâ cs[Éie
culrirci dc prcfcrt'nciar Âritnrcticac a (ìconrctrir, Jxrr- de lUatcmáticanruito difcrcntc dr lÍarcmátice vulgar de
quc cr:rm - <lizir-sc- as meis sinrJxls c como gue n()ssaé1xxr, scm quc lxrr isso lrnsessc que dcla tivcs-
uma scnda para rs Í6t1ntcs. Ilas, tant<)numr c()mo scm tido um conhecimcntoJrrfcito, pois rs suâs loucrs
n()utm, nào tivc tr s()nc dc mc rircm às mãos Âutorcs dcgrirs c srcrifícios lxlr irrelcvrntcs invcnç<)csm()strun
anÍn:zcs clcnrc satisfrzcrplcnrrncnrc;lir nclcs,ccnamente, claramcntc com() cmm incultos. Ncm me dcmovem
ntuitascorstrsaccrcados núntcros,cujo cilcukr rrtc fazie dt minha opiniio elgunus das suas máquims cclcbra-
coÍÌstatrr a vcrdrclc; <;uento às figuras, hevir muitas das pckrs llistoriadorcs, Jxris, rpcsr ulvcz d. sur
coisas quc dc rlgunre mencirr clcs nrc metirrrr 5rclos ertrcnu simplicidadc, facilmcntc conseguiremcm cclc-
rillrrn dcntr,r c quc crtrnl () rcsultadodc conscqui'ncias bridadc scr clcvrdos à catcgorir dc pr<xlígiospla muki-
rigorosas; nust Íx,Í(luc c c;uc cnr assrnre conto lá se dão ignorantc c cmbrsbrcade.Grntudo,cstou pcrsuadido
chcgara nio n1s parccir {uc . pttcnt€sscnì bastrntc dc quc as primcins scnìcntc dc vcrdadcs, dcposirades
à rttcntc; Jxrr isso, nào ficava surprccnclid,,eo ver I pcla neturczan()s cspÍritrx humantr c Íxrr nós abrfrdr,
maior partc d,r lrontcns,nlcsmo os bcnr drxadosc cru- dcvido à lcitura ou à audiçãogurxidirnas de tantos crro6,
clitos,aíÌ,rar cstrs anes prrr logo as aband,rntÍcnìc()nìo rinham nl forga naquclarudc c simplcsanriguidadcquc
rnfantisc inútcis ou, pclr conrrário,dctcr-scà cntrrdr, os homcns, mcdiantc e mcsma luz intclcctud com que
dissurdid,,sdc as aprcndcrJxla itlcir dc t;trc cmnt cxtre- viam hrvcr que prcfcrir a tinudc ro pÍ:r:zcre o honcsto
nìlnlcntc difíccis c inrrincadrs.(ìrnt cfcit,r, nrde lrá dc ao útil, cmbore ignorrscnì Íx)rquc cra assim, também
nnis inútil do quc lidrr dc tel nrrxl,, conr simplcs chcgrram e conhcccr as idcirs rcrdrdciras dr Filosofie
núntcrrx c figuras inrrginárias (luc e n()ssrvontadc c da l\Írtcmática, sem tcrcm ainde Sxdido alcançarpr-
plÍccc satisfrzcr-scc()m o conlrccinrcnrodc scnrclhan- feitamcnrccstasm6Ínes ciôncias.Na vcrdrdc, lrtrGce-mc
rcs banrlidadcs;c n6tas clcm<,nstraçirs supcrficiais,cm que alguns vcstígiosdcstr vcrdedeiraltlarcmáticasurgcm

,7
einda Pappusc Diofanto, os quais, senr seremdos e o que pertenccàs outras disciplinas.Reflectindornais
.cnr
prinrciros tcmp()s, \'tveranì n() entant() rrruitOsséculos atentamente,pareceu-mePor 6m óbvio relacionar com
antesda n()ssacra. I'l nio nre custaacrcditarquc, ulterior- a }Íatemática tudo aquilo enì que apenasse examina
rììcntc, rls próprit)s aut()resa fizeram dcsaparcccrpor a clrdcmc rnedida,scm tcr em conta se é em números,
urnacspcícic de astúciapcrniciosa.Cont cfeito,assinrcomo 6guras, astros, sons, ou cm qualqucr outro obiecto
sc rcconhcceu(luc nruitosarrcsirlstinharrrprrrcedidorcla- que semelhantemedida se deve procurar; e, por con-
rivarr:crrtcàs strrs irrvcnçr'les,
rccearinì clcs quc talvez, seguintc, deve lnver uma ciência geral que expliquc
dcvicl,rà sur {rrnclc facilidadce sinrplicidade,se desva- tudo o que se podc investigar acercada ordem e da
Iorizesscpcla sue divulgaçãt>, c prcferiram,para se faze- medida,sem as aplicara uma mxtériacspccial:estaciên-
renr edmirer, rprcscÍrrxr-n()s cnì scu lugar algunìasver- cia designa-se,não pelo vocábulo suposto, mes pelo
dadesestcreisdcnrrxrstradas c()r'rìurn subtil rigor lógic<r r'ocábulo já antigo e aceitc pelo uso de l\Íatcmáticauni-
como efeitos ch sua erte, enì r'ez dc nos cnsinarema vcrsal, porque esta contim tudr-ro que contribui para
prdrprir xrtc, quc clirrrinrriatotalmcntea nossaadnri- que as outras ciências se chamem partes da ÌVatcmá-
reçà<1. ll<>uvc,cníinr,ilgtrns honrensmuito engenhosos tica. Quanto a illatemáticauniversalsobrepujaem uti-
quc sc esforça.rlnrn() n()sso sciculop()r- rcssuscitara lidadee facilidadeas outrasciênciasque lhe estãosubor-
rììcsrììearte,p<lisx quc sc dcsiqnac()nì() bárbaronomc dinadas,r'ê-seperfcitamenteno facto de abarcaros mes-
dc .\lqebrt nìo parcce ser outri coisa, c()ntant()que mos objectos que estas últimas e, além disso, muitos
apcnesscir dc tal nrodo libcrtados múltiplosnúnrcrose outros; no facto ainda de quc as suasdificuldades,se é
incxplicár'cisfi.r;urasque a complicrm, cluc não nraislhe que contém algumas, existem tambinr nestas últimas
falte aquclc qriu dc pcrspicácil c facilidaclecxtremas ciências,conì outras ainda provenicntesdos seusobiec-
quc, p()r suposiçàon()ssx,devenr cxistir na verdadeira ros particularesc que ela não tem. E agora, visto que
\latcuráticr.\'isto quc cstcs pcnsxmenros nìe levaram todos sabemo scu nonìe e aquilo de que trata, embora
dos cstucìosprrticulercsda r\ritrréticae da Geometria não lhe prestem atenção, como explicar que a maior
p.lr'r urììe invcsrisaçìo aprofundadae .qeralda ìÍate- parte invcstigue laboriosamcnteas outras disciplinas,
rrrática,intcrrtl.quei-tÌìc,
antes de nrais, acercado que que dela dependem, e que ninguém se preocupe por
todos cntcndcrrrcxactrrÌìcntcp()r cssapalavra,e porquc aprendercsta?Âdmirar-mc-iacertamcntese não soubcsse
d quc rìào srìoxpcrìxses ciclncias, dc rluc já sc falou, que que todos a consideranrrnuito fácil e senão tivcssenotado,
sedizcrttprrtc clasìlrtcmáticas,nì:ìsrinda a .r\stronomia, a há muito, que o espírit<,r humano dcixa semprede lado
\lúrsicr, r. ()ptica, :r \lccinicr c nruitas ourras. Nào () que iulga podcr. falzerfacilmentee. se precipita logo
brstr rclui cousiderara oriqcurda palavra;uma vez que para o que é novidade e mais clevado.
() tcrt'tìo\latcrrrática
tcnì rrpcrì.ts
o scntidodc disciplina, Eu, porim, conscienteda nrinha fraqueza, decidi
as ciôrtcirsrcinn citadasnào tôrrrnìen()sdireito do que obsen'ar pertinazmentena busca do conhecimentodas
e (ìc,''u:ctriaà dcsrtnrçrìodc \l:rtcrrráricas.Conrovcmos, coisasuma ordem tal que, principiando sempre pclos
nào há qursc ningucur,dcsdcquc rcnhaapenaspisado objectosmais simplese mais fáceis,nunca passca outros
,' liurirr drs cscoles,Quc nào distin.qafacilmente,erìtre senì me parccerquc os primeiros nada mais me deixam
t, !uc sc lhc xprcscntr.aquiloque perrenceà ì\latemáticlr para desejar.Foi por isso que cultivei até agora, tanto
gulnt(, pudc, cssa .\Íarcmárice univcrsal, de mencira
quc julgo SxxlcrtÍ:lttr drqui grr dirntc as ciêncirsmeis
clcvedas,scm r clas prcmarurâmcntemc aplicer. IÍas,
antcs de ir cm frcntc, rudo o quc achei dc mais dign<r
dc n()ta n()s nreus cstudos antcriorc, csfirrger-mc.ci
[x)r c()ngÍcgá-lonunr trxÌr c o Jx)r cm ordcm, qucr [Ìrra
() rctotn:lr um dir com<danrcntcnestc opúsculo, sc iss()
frrr ncccssáriocm virtudc da dirninuigâo da mcmória
c()m o aumcnt()da idadc, qucr ÍÌrm diviar a mcmórir
c mc gxlcr aplicar a(, 1cslrr conr maior libcrchdc dc
cspírito.

RI:GRÂ \'

Todo o método concistc na ordem c na diepo-


cigão doe obiectos para oe quaie é necccúrio
dirigir e pcnetragão da mcnte, a 6m dc dcco-
brirmog alguma verdadc. E obecryá-lo-cmoo 6el-
mcnte, sc rcduzirmoe gradualmcnte .s pÍopo-
eigõce complicadar e obscures . propoeiçõce
maie eimplcs c rc, em ocguid., e panir da intui-
$o das meie eimples dc todac, tcnterrnor clever-
-nor pcloi mcrmoe dcgraur ao conhccimcnro
de todas ar outrrr.

Ê nist,r rpcnas quc sc c()ntdnì() Íesum(, dc trxla


t lturtrenaindústrir, c cste rc1;ratlcvc scr scguicla[x)r
qucnr anscia pclo conlrccinrcntodas coisrs nào nrcnos
do quc o fro dc Tcscu per:l qucnr dcsciasscpcnctrer
no labirinro. .\t6, ltá ntuitos <;ucnão rcílcctcnrn() gue
cla prcscrcvc,()u r ignoranr r()ttlnìcnrcrou pÍGunrcm
dch não tcr ncccssicladc, c rrruitasì'crzcscxaminamqucs-
rocsdificilinrasdc unr nrrxlr tào dcsor<lcnackrquc pareccm
prrrcdcr c(rm(, sc tcntesscnrchegar, conì um só selto,

n
dc um cclifício,dcscurand<'
da partc rttaishrisa ao fasti.r;io
as óscedes dcstinadasx cste uso, ()u não notand()até quc
cxistcm unrascscadas.r\ssittt fazcnt todos os astrólt>gos

pccxrìÌ cvidcntcntcntccontra csta rcgra. ì[as, porquc


ruruitasvczcs a ordcttr quc aqui sc csi.r;c i dc tll REGRA VI
nr<xloobscurr c conrplicadaquc n:ìo cstá ao alcaqcede
todos rcconltcccr qual scia ch, dificilmcntc t()marão
prccauçircssuficientespara não sc perclcrem'a nã() scr Para dietinguir as coisas mais simplee dae maig
que cll>scrvcntcuidadosantcntc () quc scrá expost()nÍt
complex$ e pÍosseguir ordenadamente na inves-
ProPosrçr() scqulntc. tigação, é necessário, em cada série de coises
em que directamente deduzimos algumes veÍ-
dades umas das outras, notar o que é maig
simples e como todo o resto dele cetá mais,
ou menos, ou igualmente afastado.

Se bcm que csta proposiçã<-rnão parcça ensinar


nada clc totalmente novo, contém, no entanto, o prin-
cipal segrcdoda ârte e nenhumahá mais útil em todo
este Tratado. Ensina-nos, com efcito, que todas as
coisas se podem dispor em certâs séries, não cviden-
tenÌenteenquantose referem a algum género de scr, tais
como as dividiram os Filósofos nas suascategorias,mas
enquanto uÍrÌas se podem conhecer a partir das outras,
de tal modo que, semprcque se aprescnteuma dificuldade,
possemosimcdiatamcnteadvcrtir se será útil examinar
algumas outras, quais, c por quc ordem.
.t2
dependc dos indivlduos para existir, etc. Do mcsmo
modo, certas coisassão por vezes realmentemais abso-
lutas que outres sem, no entanto, sereÍn ainda as mais
absolutasde todas; por exemplo, se tornrmos em con-
isoladamcnte,mas as conìParamosentrc st Para as sideraçãoos indivÍduos, a espécieé algo dc absoluto;
conhccer umas a Partit das outras- sc podcm dizcr sc nos referirmos ao género, cla é algo de rclativo;
ou absolutasou rclativas. entrc os objectos mensuráveis,a extensão é qualquer
coisa de absoluto, mas, entÍe as cspéciesde extensão,é
o comprimento que é absoluto, etc. Da mesmamaneira,
por 6m, para melhor se comproendcrque consideramos
aqui sériesde coisasa conhccerc não â naturezede cada
uma delas, foi de propósito que contámos â causa e
nrais sinrplcs e o mais fácil, cm função do uso quc r.r igual entre as coisas absolutas,cmbora as surs nâru-
dclc farcnx)sna rcsoluçãodas questõcs. rezas sejam verdadeiramentcrelativas. Com efeitor para
Quanto ao rclativo, é o que ParticiPadcsta nresma os Filósofos, a causae o efeito são coisascorrclativas;
naturcza()u, ao menos, de alg'unrd<ls scus elcmentos; aqui, porém, se invcstigarmos o que é um efeito,
por isso, podc rcfcrir-scao absoluto,e delc se deduzir importa antes conhecer a causa, e não inversamente.
nrcdiantcuma certa série; mas, além diss<-r, enccrrano Âs coisasiguaistambémsc corrcspondcmumasàs outras,
scu conceito outras coisas,quc chamo relaçt-rs;assim mes só reconhecemosas desiguais comparando-asàs
i tudo o que se diz depcndentc,cfcito, conìPosto' Par- iguais, e não inversamente,etc.
ticular, múltiplo, desigual,dissemelhante,obliqut)' etc. Ë nccessárionotar, em scgundo lugar, que são
Dstas coisas rclativas afastam-setento mais das poucas as naturezaspuras e simplcs, que se podcm ver
absolutasquanto mais relaçricsdestetipo contôm, subor- p<lr intuição imediatamentee por si nÌesnìâs,indepen-
dinadasudrasàs outras; e e Prescnteregra advcrtc-nt>s dcntcmentede quaisqueroutras, mas nas próprias expc-
quc é prccisodistinguir todrs estasrclaçõcs,e atcntarna riênciasou graças a uma certa luz que nos é inata;
sur c,inexãomútua c na sue ordcm natural, de modo dizcnros que importa considerá-lasdiligcntemente,por-
que são as mesmasque, em cada série, chamamosas
mais simples.Quanto a todas es outras, só podem ser
perccbidasdeduzindo-asdas primciras, quer por uma
infcrência imediata e próximar Tucr apenas mediante
duas, três ou mais conclusõesdiferentes, cuio número
al13rrna,sob um ponto de vista, mais absolutas do também deve ser notado, a fim dc sabcrmosse mais ou
de outra mancira,são
quc outras, mas que, considcradas- mcnos graus as afastamda proposição gue é a primeira
mais relativas.r\isim, o universalé mais absoluto que c a mais simples.Tal é, em todo o lado, o cncadeamento
o particular,Porque tem uÍne naturezamais simples'ma:; das consequênciasquc origina estâs séries dc obiectos
pode dizcr-sé mais rclativo do que este ütimo' Porque de invcstigação,aos quais se dcvc rcduzir todr a questão,
pare que examinar se possa com unì mitodo seguro. por, c a ordem que a sua invcstigaÉo exige: só isso
Ìrías, como não é fácil a totlas rcccnseâr,e, além disso, abrange o conjunto de toda a ciência das matcmáticas
como é nrais importante discerni-laspor uma ccrta Puras.
pcnctraçãodo espÍrito do que retê-lasna memória, há
que procurar um mcio de dar aos espÍritos uma fcrr-
nração que lhcs permita reconhecê-lasimediatamcntc,
sempre quc for necessário.Para tal, certamente,nada é
nraisconveniente,segundoa minha cxpcriência,do que
habituar-nosa reíìcctir com certe perspicáciasobre cada mesmaproporção. Não se muda e naturezada dificuldadc
uma das mÍnimas coisas que já vimos antcriormente. quando se procÌrÍiln t ou 4 grandczasou mesmo mais,
Note-se, finalmente, em tercciro lugar, que não se porque - como é evidente- têm de cncontrar-seuma
dcvcm começer os estudos pela investigaçãodas coisas a uma separadamcntce sem relaçãoàs outras. Observo,
difíceis, mas que importa, antes de nos aprontarmos em..scguida,que, dadas as grandezest e 6, apcsar da
para algumas qucstõcs determinadas,rccolhcr previa- facilidade que há em achar uma terceire quc elteia em
mentc, sem fazer nenhunraescolha,as verdadcs que se propor$o contÍnua, ou seja, rz, não é, no entanto,
apresentcnìespontaneamntc,r'er dcpois, gradualmente, tão fácil, dadasduas grandezasextremas,a sabery e 12,
se outras dclasse p<ldemdeduzir,e dcstasoutrâs ainda, poder achar a grandezamédia, isto é, 6, porque, para
c assimpor diante. Feito isto, é prccis<.r
reflcctiratenta- qucm disto examina intuitivamentc a, razão,-é claro
nìcntc nas verdadcs cncontradasc examinar cuidadosa- qrre existe um ou outÍo género de dificuldade, que
rÌìcntc p()rque é quc pudcmos acltar umas nrais cedo e difcrc muito do precedcnte.Com cfeito, para achar úm
mais facilmcntedo quc outras c quais são essas.Âssint meio proporcional, é preciso prestâr aten$o, eo mcsmo
sabcrcmosjulgar, ao abordar uma determinadaquestão,
e quc outras investigaçõcsscrá útil cntregar-nosprcvia-
nìcntc. Por cxemplo, se nre viesseao pensâmentoquc ()
númcro 6 c o dobro de três, procurariaem seguidao
dobro do número 6, qucr dizer rz; procuraria igual-
mcntc, sc bcnr nìc parece,o dobro destc último, ou
scja, 2,4,e tanrbénro dobro deste último, a saber,48,
etc. Daqui dcduziria facilmente quc há a mesnìarclaçãr.r
entre , c 6 que entrc 6 c rz, igualnìenteentrc 12 e 24,
ctc., e que, por conscquência, os núnreros1,6, rz, 24,
48, etc., são continuanlente proporcionais. Do mcsmo a duas, mas a três diferentes ao mesmo tempo, perÍr
nrodo,aindaquc tudo isto scjatão claro que quasepercce achar uma quarta. É permitido ir mais longc-ainàa e
infantil, unrarcflcxãoatcntafaz-nrecomprecndera maneira ver se, dados epenas) e 48, teria sido mais difícil achar
conì() se complicanr todas as questricsrelativas às pro- uma das três médias proporcionais,ou scia, 6, tz e 24.
porçõcs ou rclaçõesentre as coisas que sc podem pro- De facto, perece ser assim, à primeira vista; mas logo

36
nos (rc()rreque estadificuldadese pode dividir e simpli-
6car s€, obviamcnte, se procurar primeiro ume só
nrédia proporcionalcntrc t e 48, ou seja, 12, c sc se
procurar scguidanrenteuma outre média proporcional
entrc t e 12, ou seia6, e uma outra entre rz e 48, ist<>
é 24. Destc modo sc reduz ela ao scgundo géncro de
dificuldadejá cxposto.
Tudo isto nre permiteobservar,além disso,c()mose
podc buscar o conhecimentoda mesmacoisa por vias
difcrentes, cm que uma é nruito mais difícil c obscura
que a outra. Por exemplo: achar estes quatro tcrnìos
continuamcnteproporcionais: 3, 6, 12, 24. Se supu-
scrnìosdois se.rguidos,ou scja, 3 c 6, ou 6 e tz, ou 12
REGRA VII
c 24, será facilimo achar os outros c direnros entã()
quc a proporçãoa encontraré dircctamentecxaminada.
Sc supuscrmosdois alternados,isto é, t e 12,ou 6 e 24,
Para completar a ciência, é precieo analisar,
para acharnìosos ()utros, então diremos que a dificul-
uma poÍ uma, todas as coisae que Be telacionam
dadc é exanúnadaindircctamentcda primcira nrancira.
com o nosso obiectivo, por um movimento
Sc igualnrcntesupuserm()s os dois externos,, c 24,p^Ít
contlnuo e iamais interrompido do p€nsamento,
atravis dclcs sc procurarcnros intermcdiári<;s 6 e tz,
abarcando-as numa enumeração suficiente e me-
cntão cla será examinadaindirectamenteda scgunda
tódica. .
maneira.Podcria ainda continuar assim e extrair destc
único cxcnrplo muitas outras deduçõcs:estas bastarão
A observa$o do quc aqui se propõe é neccssária
para quc <>lcitor compreendao quc cu prctendoao clizcr para admitir como certas as verdades que, dissemo-lo
quc uma propr>sição se dcduz directaou indircctanlcnte,
mais acima, se deduzem dos princlpios primeiros c
c pcnsequc, a partir do que há de mais fácil e do que se conhecidosem si mesmos, mas não de um modo ime-
conhccc cgr primciro lu13ar,nruitas dcscobcrtaspodcm
diato. Com efcito, isto faz-sepor vezespoÍ um encadea-
scr fcitas rnesnìo n()utras disciplinaspor aquclcs que mento tão longo de conscquênciasque, após termos
rcílcctcnr com atcnçã<lc sc cntrcganÌ às investigaçrjcs
alcançadocstasverdades,não é fácil lcmbrar-nosde todo
conr argúcia.
o caminho que até aí n'os levou; por isso dizemos quc
é preciso remediar e fraqueza da memória por uma
cspécie de movimento continuo do pcnsamento. Por
exemplo, sc divcrsas operaçõesmc lcvaram primeira-
mente ao conhecimento da rela$o entre as grandezas
A e B, depois entre B e C, em seguidaentre C e D e,

JE
por 6nì, entre D e E, nem por isso vejo qual é a quc cebermosdc quc não poderÍamosencontrálo por nenhu-
cxistc entrc A e E, e não posso fazer umr ideia prccisa ma das vias de nós conhecidas;e que se,por acâso,como
a pa,rtir das relaçc-rcsjá conhecidas,a não ser que me nruitas vezcs acontece,pudemos pcrcorrer todas as vias
recordc dc todas. Por isso, pcrcorrê-las-civárias vezes pelasquaisos homensal chegam,nos seiapermitido afir-
por unìa csyrccicde nrovinrentocontlnuo da imaginação nrar audaci<>samcnte que o scu conhecimentoestá fora
quc r'ô intuitivanrcntecadaobjcctoenrpsrticularenquant() de todo o alcancedo esplrito humano.
vai passanckr aos outr()s,ati tcr aprendid<la transitarda t
Note-se,alim dissor iluc, por enumcra$o suficicnte
primeira rclaçãopara a últinra conr tal rapidczque, sem ou indu$o, entendemosapenas aquela que nos dá a
dcixar quasc ncnhum papcl à menrória,rìÌe pxrcça vcr verdadena sua conclusãocom mais certezado que todo
simultaneamcntc o todo por intuição. Assinr, ao ajudar () outro género de prova, salvo a simples intuição.
a mcnrória, corrige-sc tanrbém a lcntidão do csplrito Senrpre quc não é possÍvel reduzir um conhecimento
e aumcnta-scde certo modo a sua capacidadc.
à intuição, depois de reieitadostodos os encadeamentos
Âcrcscentamos, porénÌ,que cstcnrovinrentonão deve
dos silogismos,reste-nosunicamentcesta vie, na qual
interronrpcr-scenl nenhunraparte; frcqucntcrmente, os
devemos totalmente acreditar. Pois, todas as coisasquc
quc tcntarÌì fazer algunra dedução dernasiadorápida,
deduzimosimediatanrente unìas das outras, se a ilação
partin<l,rdc princÍpios rcnrotos,não pcrc()rrcnÌtod<l o
cncadcanrento das conclusricsintermédiascom o cuidad<r tivcr sido evidente,foram já reduzidasâ uma verdadeira
suficientcpara não onritircm nruitasinconsidera<larnentc. intuição.ìÍas, se tirarmosuma únicaconsequência de um
Todavia, é cert<.rque nrcsmo a mcnor das onrissricsfaz grandc núnrerodc coisasseparadas, nruitasvezesa capa-
imcdiatamcntequcbrar a cadciae arruinaco:npletarr,cnte cidadc do nosso entendimentonão é suficiente p^r^
l ccrtcz^ da conclusão. conscguir abrangê-las a todas nume única intuição;
r\linr disso,dizcmosaqui que a cnunÌeração é exigida nesteceso,deve contentar-secom e certezadessaopcra-
para c()nrplctara ciência; pois, se ()s outr()s prcccitos ção. Do mesmo modo, não podcmos por meio de uma
nos scrvcrn, ccrtamentc,para rcsolvcr a maioria das única intuição da vista distinguir todos os clos de uma
qucstfos, st'ra cnunrcraçãonos podc ajudar a aplicar o cadeia demasiadocomprida; no entanto, se virmos a
n()sso cspírito a qualquer unra delas, a, ftzer sempre ligaçã<ldc cada elo com os seguintes,isso bastarápara
sobrc ela unr juizr>seguro e certo c, por consequência, dizermostambémque percebemos como é quc o últirno
a não dcixar escapar absolutamentenada, pareccndo se li.gaao primeiro.
assinrque dc todas sallcm<ls algunracoisa.
Ilsta cnumeração, ou indução,é, pois, a investigação
dc tutlo () que se rclacionacom uma questã()proposta,
investigaçãotão diligentee tão cuidadaque dcla tirem<>s
a conclusão ccrta c evidente de que nada omitimos / pcrfeitamenteevidentes,se, apesarde tudo, cometcrmos
por descuido; de tal forma que, depois dc a termos a menor omissão,dá-sea ruptura da cadeiac toda a cer-
usado, se o objecto da nossa investigaçãocontinuar tezl. de conclusãose dcsvanèce.Às vezes,também esta-
oculto, fiquemos pelo nrenos mais sábios por nos aper- mos certos de tudo abarcarcom uma enumcração,mas

1l
scm distinguirmos as coisas uÍnâ por uma, de forma dispusermostodâs estascoisasna melhor ordem, redu-
quc só conhcccmoso todo confusamcnte. zir-se-ão tanto quento possÍvel a detcrminedasclasses,
Álim disso, essa cnuneração deve, às vezes, ser das quais bastará examiner cuidadosamenteou uma
conrplcta,()utras,distinta e, de tempos a tempos, nem única, ou algum pormenor de cada ume em particular,
unìa colsa ncm outrai por iss<l se disse apenasque ou então, algumas mais do que outras ou, pelo menos,
dcvc scr suficicnte.Com efeito, se quisessepr()var por nada algum^ vez percorreremos em vã<l duas vezes;
cnumeraçãoquant()sgéneroshá de serescorporais ou esta maneira de proceder é tão útil que, muitas vezes,
conìo são aprccndidospelos sentidos,não afirnrariaque por causa de uma ordem bem estabelccida,se levam
há uma dcternrinadaquantidade e não nrais, a nã<r a cabo, ao fim de pouco tempo - e graçasa um trabalho
scr quc, antes,soubcsscscguranìente que os comprcendi fácil - numerosastarefasque, à primeira vista, pareciam
toclosna minha cnumeraçãoe os distingui em particular enormes.
uns dos outros. Suponhamos,p()r outro lado, que, pela Quanto à ordem dc enumera$o das coisas, pode
nrcsnìavia, queria mostrar que e alma racional não é geralmente variar c depende do arbítrio de cada um;
corporal; não será dc modo algum necessárioquc a por isso, para que o pensamentoesteia em condições
enunrcraçãoscia conrplcta,mas bastarájuntar simulta- de a cstabclecercom mais acuidadc,i prcciso recordar o
neantcntctodos os corpos em algunsgrupos,de nrancira que se dissc na quinta proposi$o. Há ainda muitas
a dcmonstrarque a alma racionala ncnhumdelesse pode coisas,nas artes humanasde menor importância, que se
rcfcrir. Suponhamos,por fim, quc cu queria mostrar, descobremfazendo consistir todo o mit<>dono estabe-
por nrcio cla enumeração,quc a supcrficiedo círculo é lecimento dcsta ordem. Âssim, sc se quiser fazer um
maior quc todasas sulrcrficiesdas ()utrasfiguras de igual anaÍyamapcrfeito transpclndoas lctras de um nome, não
pcrimctro: tanrbérnnão é necessáriopassarem rcvista é nccessáriopassar do mais fácil para o mais difÍcil,
t<rdas as figuras, mas basta Íazct csta demonstração nem distinguir as coisasabsolutasdas relativas:nem isso
para algumascm particuler,a 6m dc daÍ cxtrair, igual- tem lugar aqui. Bastará propor-se, pelo exame das
mcntc por indução,idônticaconclusãoa respcitode todas transposiçõcsdas letras, uma ordem tal que nunca se
as ()utras. percorram duas vezes as mesmase quc o seu número
Âcrcscenteitambim quc a enumeraçãodcve ser seja,por exemplo, repartido por determinadasclasses,de
mctódica, não sCrporque não há rcnridio mais efiaz tal modo que se veja logo em quais há mais hipótesesde
c()ntra os dcfeitos iá cnumerados do clue aprofundar se achar o que se procura. Por este meio, com efeito,
tudo conr ordem, mas também porquc acontece fre- muitas vezes o trabalho não será longo, Ínâs âpeÍrâs
quentemcnte que, se fosse preciso percorrer separada- uma brincadeirade crianças.
mente cada uma das coisasem perticular que se rcla- De resto, estastrês últimas proposiçõesnão devem
cionam com o obiecto proposto,nenhumavida humana ser separadas,porque é preciso, geralmentc, rcflectir
bastariapara tal, quer por causado seu núnrcro cxcessivo, nelas ao mesmo tempo e porque todas contribuem
quer em virtude das repetições demasiado frequentes igualmentcp^r^ perfeiçãodo método. Não teria grande
quc sc aprcsentariamdos mesmos objcctos. ÌtÍas, se ^ qud dclassedeveensinarem primeiro
interessedeterminar

1t
lugar; explicánro-lasaqui em poucas palavras,Porque
quase nrais nada temos t fazer no resto do Tratado, em
quc m()strircmoscm pormenor o quc aqui abordámos
cnr gcral.

REGRÂ VIII

Se, na eérie de obiectos a pÌocuÍaÍ, depararmos


com alguma coisa que o nosso entendimento
não possa intuir suficientemente bem, há que
deter-se aÍ, sem examinar o que segue e evitando
'um
úabalho supérfluo.

Ás três rcgres precedentcsprescrevema ordem e


explicam-na;esta agore mostra em que casosé absoluta-
nìente necessáriae em que casos é apenas útil. Com
efeito,o que constitui um greu completona sérieque serve
para ir das coisasrelativasao absoluto, ou inversamente,
deve necessariamente ser examinadoantesde tudo o que
se lhe segue. Se, por outro lado, como frequentemente
acontece,muitas coisas sc referem ao mesmo grau, é
sem dúvida útil passá-lassempreem revista por ordem.
Quanto à ordem, não somos contudo obrigados
^
observá-latão estrita e rigorosamente;Íegra geral, ainda
que não conhccêssemos claramentetodas as coisas,mas
apeÍìas um reduzido número ou urn só, pode, no
cntento, passer-scà frente.

44
Iìsta regra decorre nccessariamente das raz<icsdadas pois pecaria conma e regra terceira. Âlém disso, esta
para a scgunda.Contudo, não se iulgue quc cla nada proposi$o é ainde composta e relativa; ora, só de
contim de novo pareprom()vera erudição,emboraparcça coisaspuramentesimples e absolutasé quc se pode ter
quc apenasnos desvia da investigaçãodc ccrtascoisas, uma experiênciaccrta; dir-sc-á no seu lugar. Seria tam-
nãr> nos cxpondo vcrdade algy1l. Claro quc apenas bém inútil supor entre os ângulos em questãouma rela-
ensinaos principiantesa não trabalharemem vão, quase
$o que, por suspeita,lhe parecessca mais verdadeira
pclo mcsmo motivo que a scgundaregra. Ì\Ías,aos que de todas, pois iá não procuraria,e xvclâstica, mas epenes
conhecercm perfeitamcnte as sete relÌras precedentes, uma linha quc scria a conscquência lógica da sua
cla mostrapor quc ttzio a si mcsmosse podemcontentar suposi$o.
cm qualquerciência,ao ponto de nadamaistercma deseiar. Se, por outro lado, alguém que não se dedique só
Pois, quem quer que tenha observadocuidadosamente às ÌrÍatemáticas,mes que, segundo a primeira regra,
as regras prccedcntespara resolver alguma dificuldade deseje procurar a verdade em tudo quanto se lhe
c scja, no cntanto, obrigado por esta última regra a
depare,cair na mesmadificuldade,descobrirá,além disso,
dcter-secm alguma partc, saberáentão certamentcque,
que a relaçãoentre os ângulosde incidênciac os ângulos
apcsarde t<da a sua aplicação,nunca poderá encontrar
de refrac$o depcndeda sua mudança dcvido à diversi-
a ciência quc procura, e isso não por culpa do seu
dadedos meios; que, por seuturno, estamudang depende
espírito,maspelo impcdimcntoprocedenteda naturezada
própria dificuldade,ou pela sua condição de homem. da mancira como o raio penctra aravés de todo o corpo
Estc conhccimcntonão é uma ciênciamenor do que a que diáfano, e que o conhecimcnto desta penetra$o supõc
manifcstaa naturezada própria coisa; e quem lcvasse o conhecimento da natureza da ac$o da luz; e quc,
mais longc a sua curiosidadenão pareceriater bom por fim, pâra compreendera ac$o da luz, é preciso
scns(). saber o que é cm geral uma potência natural: é, cm
Tudo isto deve ser ilustradopor um ou dois exem- última análise,o que há de mais absoluto em toda csta
plos. Âssim, suponhamosque alguém procura, entre- série. Ponanto, dcpois de ter feito claramentee em por-
gando-seexclusivamente essalinha que
às Ìríatemáticas, menor esteexameatravésda intuição intelectual,voltará
em Dióptrica se chama anaclástica, ou seja,aquelaem a pessarpelos mesmosgraus, seguindo a quinta regre,
quc ()s raios paralelosse rcfractamde tal forma que todos, e se, a partir do segundo grau, não puder descobrir
depois da refracção,têm um só ponto de intersecção. a naturezeda acçãoda luz, enumerará,de acordo com e
Facilnrcnteobservará,sem dúvida, segundo âs regras sétima regra, todas as outres potênciasnaturais,a 6m dc
quinta e scxta,que a dcterminaçãodesta linha depende que o conhccimento dc alguma dcstas potências lhe
da rclaçãoque os ângul<lsde refracçãomantêm com os faça compreender cssa ac$o, pclo mcnos por anâlogia;
ângulos.deincidência;mas,como não serác p^z 9" p-- falaremos, depois, da andogia. Feito isto, investig"ú
curar mrnuctosamente esta rclação,que diz respeitonão de que maneira o raio penetra através de todo o co{po
à Ìrlatcmáticamas à Física, será forçado a dctcr-seaqui diáfano e procederá assim por ordem cm tudo o mais,
no limiar. Dc nada lhe servirá querer aprender este até chcgar à própria anaclástica.Esta constituiu até hoic
conhccimcnto dos Filósofcrsou cxtraí-lo da experiência, cm vão o obiccto de muitas inquiriçõcs; contudo, nada
veio que possaimpedir alguém de vir a cr.rnhecê-la de muitas vezes se possam propor-lhc muitas coisas,cuia
manciraevidentc,pclo uso correcto do nosso método. investigaçãolhe será proibida por esta regra, devido ao
facto de, no entanto, ter a percepçãoclara de que elas
ÀÍasdemoso exemplomaisnobrede todos.Sealguém
se propuser como questãoa análisede todas as verdades estão fora do alcancedo espírito humano, nem por isso
pare cujo conhecimento a razão humrna. é suficiente se julgará mais ignorante; mâs o sabersimplesmentcque
aquilo que procura não pode ser sabido por ninguém,
- e parcce-mequc isso deve ser feito ume vez na vida
por todos os que sc esfcrrçamseriamentepor alcançar satisfaráplcnamente a sua curiosidade, se for sensato.
a sabedoria Ora, para não ficarmos semprena incertezaquanto
- descobrirácertamentc,e partir das regras
cladas,que nadase pode conhecerantesdo entendimento, à capacidadeda inteligênciae para que ela não trabalhe
visto que dele dependeo conhccimetnode todo o mais, em vão e ao acâso, antes de nos preparermos para
c não o inverso.Depois de, em seguida,ter examinado conhecer as coisas em panicular, importa uÍÌvr vez, rra
vida ter investigado cuidadosamentede que conheci-
cm pormenor tudo o que vcm imediatamentea seguir
ao conhecimentodo entendimentopuro, enumerará,no mentosa.razãohumanaé ca;parz. Paramelhor o fazer,entre
rcst(), todos os outros instrumentosde conhecimentcr as coisasigualmcntefáceisde conhecer,é por aquilo que
quc temosalinr do entendimento,e que são apenasdois: há de mais útil que se deve encetar a inquirição.
a imaginaçãoc os sentidos.Empregará,pois, todo o seu Estc método, na vcrdade, assemelha-se ao das anes
cuidado em distinguir e enr examinarestestrês modos mecânicasque não precisamda ajudadas outras, mas elas
de conhccimcnto,c ao vcr quc, propriamcnte,a vcr- mestnasfornecemo meio de fabricaros seusinstrumcntos.
cladcc () erro sri podem existir no entendimento,embora Se, com efeito, alguém quisesseexerceruma destasartes,
dcrivcnr frequentementea sua origem dos outros dois por.cxcmplo, a dc ferreiro, e estivesseprivado-de todos
modos dc conhecimento,prcstarácuidadosaatençãoa os instrumentos, seria certamente forçado, de inÍcio,
tudcl quanto o possaenÍlanarpara se precaver,e enu- a servir-sc de uma pedra dura ou de qualquer bloco
mcrará exactamentctodas as vias abertasaos homens informe de ferro como bigorna, e pegar num calhaupara
parx a vcrdade,a fim de seguir uma que scja segura: martelo, a dispor de pedaçosde madcira em forma de
ncm elas, com efeito, são tão numerosasque as nã<> tenÍrzesc e iuntar, conforme âs necessidades,outros
achca trdas facilmentce por unìa enumeração obiectos deste género. Âpós tais prcpararivos, não se
suficiente.
csforçarialogo por foriar, perâ uso dos outros, espadas
E -:, que parccerámaravilhosoe incrívelaos que o não
c cÍrpacetesou quaisqueroutros objectos de ferro; mas,
espcrinrcntaram - logo após ter distinguido, a propó- antes de mais, fabricaria manelos, uma bigorna, teÍrâzes
sito dc cadr objccto em perticular, os conhecimentos
e tudo o mais que lhe viesse a scr útil. Este exemplo
quc cnchcm ou apcnasornamentama memóriados que
ensina-nosgue, no princípio, depoisde tcrmosencontrado
sã<>r'erdadeiramente causapor que um homcm sc deva
apenâsdguns preceitos rudimentaresque mais parecem
dizcr mais crudito, o que será einda fácil de Ítzer...,
inatos às nossasmentesdo que fornecidos pela arte, não
scntirá inteiramentequc nada mais ignora por falta de
é preciso tenter logo, com o seu auxílio, resolver os
cspírito ou de arte, e que nada há que outro homem
diferendos dos Filósof<rsou tirar de âpuros os l\íate-
possa saber, sem que ele próprio também o consiga,
máticos; mes importa delcs nos scrvirmos primeiro
bastandoaplicar a sue mente como convém. Âinda que

4E
para procurar com o maior cuidado tudo o que há de que se podem conhecer. Vamos discutir separadamente
mais ncccssárioao exameda verdade,sobrcrudo quando estesdois pontos.
não lrouvcr razãoque t frcp,perecermaisdifícil de encon- Na verdadc, advertimos que em nós só o entendi-
trar do que algumas das qucstí5espropostesgeralmente
na Gcomctria,ou na Físicac nas outras disciplinas.
Por ()utro lado, nada podc havcr aqui de mais útil
do quc invcstigar o que é o conhecimentohumano e até
onde se estende. Eis p()rque trataremos este
^gor^
assuntonuma só qucstãoc pcnsamosque é precisoexa- a fim dc nos precaveffnos;ou então, em que é que elas
miná-la como a primcira dc todas, scgundo as regras nos podem ser úteis, dc modo a lançarmosmão de todos
já antcriormcntccstabclccidas. É o que deve fazcr uma os rccursos.Assim,estapartescrádiscutidamcdianteuma
enumeraçãosuficientc,sujeitaà discussão,como se mos-
vcz na vid:r qucnr qucr quc amc um Pouco a verdade,
trará na proposiçãoseguinte.
pois a invcstigaçãoaprofundadr dcstc ponto contém
Em scguida,importa vir às própriascoisasc consi-
r>svcrdadcirosinstrumcntos do sabcr c todo o método.
derá-lassó enquanto o cntendimentoas atingc. Ncste
E, nada mc parece mais inadcquado do quc disputar sentido,dividimo-lascm naturczasintciramcntesimples
audaznrcntcsobrc os scgredosda naturca, influência c em complexasou compostas.Entre as naturezassim-
^
dos cius no nosso mundo infcrior, a predição do plcs, só podc haver naturczasespirituais,ou corporais,
futuro c coisas scmclhntcs, como muitos fazcm, scm, ou pertcncentcsa ambas ao mcsmo tempo; por fim,
n() cntanto, jamais tcrcm inquirido se a razão humana entre as naturczascompostas,umas são dc facto captadas
podc fazcr tais dcscobcrtas.E não deve considerar-sc como tais pclo cntendimento,antesdc ele as dcterminar
tarcfa árdua ou difícil detcrminar os limites deste espí- por um iuízo, cnquantoas outras são por elc compostas.
rito, quc em nós próprios sentimos, quando, muitas Far-se-á uma exposição mais pormenorizada dC tudo
vczcs, não hcsitamoscm formular um juÍzo sobre o isto na duodécima proposição,com a demonstraçãodc
quc cxistc fora de nr'rs c que nos é completamente que só pode havcr crro ncstas últimas naturezascom-
cstranho. E não é um trabalho inrenso querer abarcar postas pcla inteligência.Eis porque distinguimos,nas
pck> pcnsamento todas as coisas contides neste uni- naturczascornpostâs,as que sc deduzcm das naturezas
vcrso,.para Ícconhcccr como cada uma_cm particular mais simplcs e são conhecidaspor si mesmas,das quais
sc sujcitaao cxamc da nossamcnte. Nada há, com efeito, trataremosem todo o livro seguintc,e as que pressu-
tão múltiplo ou tão dispcrsoquc não se possa,mediante põcm outras, cuja experiêncianos mostra a composição
a enunrcração,dc que tratánros,incluir cm limites detcr- na rcalidade, e a cuja explicação dcstinamos todo o
nrinad<-rse rcduzir a alguns pontos essenciais.Para disso tcrceiro livro.
fa;zert cxpcriônciana qucstão proposta, dividimos pri- Em todo cste Tratado, csforçar-nos-emospor pro-
mciro tudo o quc lhc diz respcito em duas partes: curar com tanto cuidado c tornar tão fáceis todas as
pois, há que relacioná-lor lu€r coÍrnosco que somos vias abcrtasaoshomensparao conhecimcntoda verdade,
capazesde conhecimcntos,quer com as próprias coisas que quem quer que tenha perfeitamenteaprendido todo
o nosso método - ainda que seja o mais mcdíocrc dos
espíritos- verá que nenhuma dcstasvias lhe está mds
vedadado que aos outros e que iá nada ignora por falta
de espíritoou de arte. trlas,semprcque aplicara suamente
cclnhecimentode alguma coisa, ou a encontrará
^o
complctamente,ou aperceber-se-á, pelo menos, de que
ela dependedc uma experiênciaque não estáem seupoder,
e é p<lr isso que não se queixarádo seu espírito, se bem
que seja.forçadoa deter-se;ou, por 6m, demonstraú
quc a coisa procurada ultrapassatotalmente a aprecnsão
do espírito humano e, por conseguinte,nlo se julgará
por isso como mais ignorante, porque não há menos
ciônciancste conhecimentodo quc cm qualqueroutro.
REGRÂ IX

É precieo diÍigiÍ toda a acuidade do eepÍrito


peÍa as coieas menos importantes e mais fáceis
e nelas noe determos tempo euficiente até nog
' habituarmoE e ver a verdade por intuifo de uma
maneira dietinta e clara.

Dçois de termos exposto as duas opcraçõcsdo nosso


cntendimcnto, a inruiÉo c a dedu$o, que são as únicas
dc quc nos dcvcmos scrvir par:r aprender as ciências,
como dissemos,vamos cxplicar, ncste pÍoposi$o
c na scguinte, como nos^Bor^
podcmos tornar meis aptos
ptra, fuer cstasopcrâçõcse cultivar, ao mcsmo tempo, as
duas principais faculdadesdo nosso cspírito, a saber, a
pcrspidcia, vendo distintamcntc por inrui$o cada coisa
cm pefticuler, e a sagacidadc,dcduzindo-as com arte
umas das outras.
Conhecemosceftamentc a maneira como utilizar a
innri$o intclcctual,quento mais não scia por compara$o
com os nossosolhos. Pois, quem quiscr obscrvar mútos
obiectos eo mcsmo tempo com um só olhar, não vê
52
5t
distintamentenenhum deles; e, do mesmo modo, quem tornar também os csplritos müto mais aptos. A única
tiver o costunìe de prestar atençãoa muitas coisasao recomenda$o que, scgundo mc parccc, dentre todas
mesmo tempo, por um só acto de pcnsamento, fica aqú importa, fazer é que cada qual se persuada6rme-
com espÍritoconfuso.ÀÍasos artesãosque sc ocupamde mentc dc quc não é das coisas grandes e obscuras,mas
obrasminuciosas e que sehabituarama dirigir atentàmenre âpenasdas fáceis e mais ao nosso alcance, que é preciso
a penetraçãodo seu olhar para cadaponto cm particular, dcduzir as ciências,por mais escondidasque se possam
adquircm,com o uso, a capacidadcde distinguir perfci- suPor.
tamenteas coisasmais ínfimase subtis; assimtambém, Âssim, por cxemplo, se cu qüscsse examinar se
os que nunca dissipam o seu pensamentoem vários alg,rma potência narural podc, no mcsmo instantc,excr-
obicctos ao mesmo tempo, mas o ocupam continua- cer-se num l<rcalafastado,aravessan<lotodo o cspaço
nìcnte na considera$o do que há dc mais simples intcrmédio, Ílão é logo p^r^ força magnética ou a
e de mais fácil, tornam-se perspicazes. ^
influência dos astros, não é scquer p^Í^ rapidez da
N<l cntanto, é um dcfcito comunì aos mortais con- ac$o da luz, que dirigirei a minha mcnte, ^ a fim dc
sidcrar nrais bclo o quc i diflcil, c a ntaioria das pcs- inquirir se,. porvcntu-ra, tais acçõcs são instantâneas,
soasjulgam nadasaberquandor'êema causamuito simplcs
pois isso scria mais difÍcil dc provar do quc o objccto da
c clara dc unra coisa,clas quc cntrctanto adnúramnos
minha pesquisa;mas rcflectirei,de prcferência,no movi-
I:ilósofosccrtesrazõessublimesc de longe tiradas,ainda
nlcnto local dos corpos, porque nada pode havcr cm
quc quasc senìprcelas sc apoiem em fundamentosnunca
por alguénr suficicntementcexaminadosem pornÌenor: nrdo isto quc seiamais lrcrccptlvcl aos scntidos.E nota-
rei,, certamcÍrte,que uma lrcdra não podc passarinstan-
são, scnr dúvida, insensatas,iá quc gostam mais das
trcvas do quc da luz. Ora, importa obscn'ar guc ()s taneamentedc um local para outÍo, porque é um corpo;
vcrdadciranrcntc sábiostênr igual facilidadecm disccrnir cnquanto quc utwr potência scmclhantcà que move a
a verdadc,quer a cxtraiamde um assuntosimplcsou dc Fd.a só sc comunica de uma mancira instantânca, sc
dc unr assrult()obscuro. Pois, em cada unr dcstescasos, pessârno estadonu dc um suicito a outro. Assinr,ao impri-
i por urìì act() scnrclhante,único c distinto, quc cles a mir um movimcnto na cxtrcmidadcdc tun pau, por mais
captanì,dcpois que aÍ chcgaram:toda a difercnçaestá comprido quc cle seia,facilmenteconceboque a potência
na via, quc dcvc scr ccrtanìentemais longa, se conduz que scrve para movcÍ esta parte do pâu movc ncccsse-
a uma vcrdadc nrais afastadados principios primeiros riamcntc num só e mcsmo instantetodas as sues outras
c mais absolutos. pertcs, porque se comunica no estadonu, sem existir cm
É preciso, pois, quc todos se habituem a abarcar qualquer coÍpo como, por exemplo,urna pcdra, quc scÍ-
pclo pcnsanìent()tão poucas coisas ao Ínesmo temp() vtna PaÌa a transPortar.
c coisastão sinrplcsquc nunca iulgucnr saberalgo, que Da mesma maneira, se cu qúscr saber como é que
não o vcjanr tanrbinr por intuição tão distintamcntc uma só e mcsÍrrecausasimples podc produzir simulta-
c()rììoaquikr quc de tudo mais distintamcnteconhecem. ncâÍnente cfeitos contrários, não é aos remédios dos
r\lguns, claro, são p<lr naturczamuito nrais aptos para médicos, quc cxpulsarncertos humores c Íetêm outÍos,
isto do quc outros, nìas o nritodo e o exercíciclpoâem que vou rccorÍer, não é sobrc e Lua, quc aqucce pcla
sua luz e arrefecepor uma qualidadc oculta, que dirci
bagatelas,mas considerareiantcs por intüção a-balança,
cm que o mesmo pcso num só e mesmo instante clcva
um dos pratos e baixa o outro, e coisas semclhantes.

REGRA X

Para que o esplrito se tornc pcrepicaz, deve


cxerciteÍ-re em pÍocuÍírÍ o que iá por outroe foi
cncontrado, e em lreÍaortes metodicamentc tdâs
eE aÍter ou oflcioe dos homene, ainda os menor
imponantee, mae sobretudo or que manifegtam
ou eup,õem ordem.

Nasci, confesso,com um cspÍrito tal que o maior


pÍüzcr dos esrudos consistiur pera mim, não em ouvir
as razõcsdos outros, rus ern exercitar-mc a mim próprio
na su:r descobcrta; pois, foi apcnas isso qtrc me atm,iu
quando ainde iovcm perâ o esrudodas ciências,c sempre
que o tlrulo de um livro me prometie uma nova des-
cobcrta, antes de continuar a ler, tcntava sabcr, sc pot
uma pcrspicácia inata, não podcria porvcnrure cheger
a semclhantcrcsultado,e cvitava cuidadosamcntcdcstruir
csseprezer inoccnte por uma leitura aprcssada.Fui tan-
tas vezes bcm sucedido que finalmente recoúeci quc iá
não chcgaria à vcrdade, scguindo o hábito dos outros
homens, por invcstigaçõcsfeitas de modo inceno e às

56
cegas,com a ajudada sorte maisd<lquc da arte,masque todas as hipóteses que se podem fazer rclartivamentee
uma krnga experiênciame tinha permitido captar detcr- cada símbolo, ou cada palavra ou cada frase cm parti-
nrinadasÍcgres, quc pare este cfcito nre f<rramde não cular, quer ainda para es dispor de mancira a conhecer
p()uca utilidade e de que me vali para planczr muitas pírr enumeração tudo o que dclas se pode dcduzir.
mais. r\ssinr, aperfciçrrcicuidadosamcntetodo () mcu Importa, sobrerudo,evitar perdcr tempo cm adivinhar
método e persuadi-nrcdc quc, desdco princípio, tinha scmelhantcscoisasfortuitamente e sem arte, pois, ainda
adoptado a maneirade cstudar mais útil de todas. que possam nruitas vezes enconrar-se sem arte c, poÍ
trles,porquc os csplritosdc todos não têm uÍn tão vezes,talvezmaisrapidamenteà sortc do que com a ajuda
grandc inclinaçàonatural para pr()curarminuciosamente de um método, cnfraqueceriama luz do espÍrito c o
as coisaspclassuasprópriesf<rrças, estaproposiçãocnsi- habituariamde tal modo a vãs puerilidadcsquc, dçois,
nâ-nosguc não é frrrçoso(xupxr-n()slogo conr o mais se dcteria sempÍeà superfície_das coisas,sem nelaspoder
diflcil c árduo, rììasque é prcciso cxanrinarantcs t(das penetrar nrais intimemcnte. r\Ías, entretanto,não vamos
as artcstììcnosimportantcse maissimplcs,principalnrcnte nós cair no crro dos que só pcnsam em coisassériasc
aquelascnr que mais rcina a ordcm; por cxcmplo,as dos dcmasiadoelcvadas,das quais, após múltiplos trabdhos,
artesãosquc tccenÌtclasc tapcçarias, as <lasmulhercsque adquirem u-ma ciência confusa, cmbora desejem uma
lnrdanr à agulha ()u cntrcnrciam os fios dc um tccido profunda?E, pois, no que há de mais fácil que devemos
de cambiantcsinfinitamcntevariados;dtt mesmomodo, primeiramentccxcrcitar-nos,mâs com método, a fim de
todos os jogos numéricos c tudo o quc. se rclaciona quc, por vias abcrtas e conhecidas,nos âcostuÍnernos,
com e Âritmética,e excrclciossemclhantcs. E maravilhoso como qucnr brinca, a penetrâr semprc até à íntima ver-
constatarcom() todas estascoisas cultivam o csplrito, dadedascoisas:por cstcmcio, com cfcito, seráem seguida
c()ntant()quc não vamos buscara dcscobertaaos outros, pouco e pouco, c num tempo mais crrrto do que ousa-
rÌìasa tirenrosde nrispr<iprios.Com efeito,dado que nelas rÍamos esperar, que também teremos consciôncia dc
nadahá quc pernìencça cscondidoc porquecorrespondcm podcr, com igual facilidadc,deduzirdc princípioseviden-
intciramentcà capacidade do conhccimentohumano,epre- tes várias proposiçõesque pareccm muito difíceis c
sentam-n()smuito distintamentcinúmcrasordens todas complicadas.
clifcrentcscntre si, subnrctidas,porém, t Íegras e cuia Alguns cspantar-sc-ão, talvczr luc ncste lugar em
cxacta obsen'ânciaconstitui quase toda a sagacidade quc proorÍamos os nrcios de nos torneÍmos mais aptos
humana. para deduzir es verdades umas das ()utras, omitamos
E, por isso, advertinrosa que se aplicassema cstas todos os preceitosdos Dialécticos,com os quais iulgam
invcstigaçircscom nrétodo, ntétodo que, nestas mâté- clcs govcrnat a, rtzío, prcscrevendo-lhecertasformas de
rias dc menor importância, não difere habitualmentc raciocínio tão neccssariamente concludentesquc a, razÃ,o
da obsen'ânciaconstantcda ordenrque existena própria nclcs confiante, cmbora de certa maneira dispcnsc a
coisa ,ru quc se inventa com subtileza.Suponhamos, evidênciac a atençãoda própria inferência,pode,todavia,
por cxenÌpkr,que qucrenì()slcr unra cscrita de caracteres em virtude da f<rrma,concluir por vezes algo de acer-
desconhecidos:ncnhuma ordenr aí aparecccertamente, tado. Efcctivamcnre, observamosque a vcrdadesc subtrai
nìas, apesardisso, inuginamos uma, quer para cxâminar muitas vezcsa cstcs laços,enquantoaquelcsquc dclcs se

59
selem ncles permanecemenredados.Isto nào âcontoce
tão frcqucntementeaos outros; e a experiênciamostra-
-nos guc todos os sofismasmais subtis quasenuncâ cos-
tumam enganer e quem se serve de razão, mas sinr os
próprios sofistas.
Por isso, i sobretudopara cvitar aqui quc a nossâ
razàosc dcsintcresse,enquantoexaminam<ls a vcrdadcdc
alguma coisa,quc rejeitamosestasfcrrmaslógicascomo
contráriasao nosso obiectivo e procurÍrmosantes cuida-
dosamentetudo o que nos ajude e manter o pcnsamento
atento, como se mostraÍá a seguir. Ora, plra quc sc
torne ainda mais cvidente que csra lrte de raciôcinar
cm nada contribui pare o conhccimento da verdade,
importa observarque os Dialécticosnão podem construir REGRÂ XI
corn e sue aÍte nenhunr silogismo cuir conclusãoscja
verdadcira,a menos que sc tenha iá a sua matéria,isio
é, a não ser quc já antes conheçam e nìcsme vcrdadc Depoie da intuição de algumas proposiçõee eim-
que-nelesc dcduz. Daqui clarementese conclü que uÍna ples, se delas tirarmos outra conclusão, convém
tal forma lógica não lhes lrcrmite conhccernadaãe novo PeÍcotleÌ a8 mesmaa com o P€nsemento num
c que, por conscguintc,a Dialécticavulgar é totalmentc movimento contlnuo e em nenhum lado inter-
inútil paraos que desejamdescobrira verdadedascoisas. Ìompido, reflectir na8 Buer relações mútuac, e
Só pode senrir, por vezes,pare cxpor mais facilmentea conceber distintamente váriag coieas ao mermo
outros a-srazõcs já conhecidase, por conscquência,é tempo, tânto quanto se pudcr; efectivamente,
prcciso fazê-lapassarda Filoso6^ p^r^ a Rctórica. é aesim que o nooso conhecimento se torna
muito mais ceno e sc auÍnenta a capacidade
do eepÍrito.

Eis aqú a ocasiãode cxpor mais claramentco quc


anteriormentc se disse sobrc a inrui$o intclccrual, nas
Íegres terccira e sétima, pois, numa dcssaspassagens,
opusemo-laà dedu$o e, na outra, apenasà cnumeração.
Dcfinimos csta como uma infcrência a partir de inúmeras
coisas scparadas,ao passo 9ue, como disscmos no
mesmo local, a simplcs dedu$o de uma coisa a peÍtir
de outra se Íaz por inrui$o.

60 I

I
I
lìri precis()agir assinÌ Porquc, Para a intuiçãtr ficada" devido aos seus esquccimentose fraquezas,por
intclcctual,cluascondiçircssc cxigcnt, a sabcr, que a um movimento contlnuo c repctido do pensamento.
proposiçãoscja conrprccncli<la clara c distintamcntcc Suponhamos,por cxemplo, quc, por várias operações,
quc, cnì seguida,scjr comPrccndida
tarttbcrìì toda ao nres- eu tcnha chegado a conhecer, primeiro, qual a rcla$o
mo tcnÌp() c não succssivanrcntc. r\ dcdução, porinr, existenteentre unìe primeira grandezac uma scgunda,
sc pcnsarnrosfazê-la,conÌo na tcrccira regra, não Parecc depois, cntrc uma segundae urla tcrccira, em següda,
quc se rcalizc toda ao nÌcsmo tcntPo' nras implicx unì entÌc unÌa terceira c uma qu:rna e, finalmcnte, cÍltre
cirto rnovinrcnt()do nossoespirito que inferc uma coisa uma qurrta e ,.Te guinta: ncm por isso vcjo quc relaSo
dc ()utra; por isso, f<riconr razãoquc aí a distinguinros existe entre a primcira c a quinta e não a posso dcduzir
da intuição.ìÍas sc a considcrarnros iá fcitr, scgundoo que das que já são conhecidas,a não ser que me lembre de
sc dissc na sétinta rcgrx, iá não dcsigna cntã() nrovi- todas. Eis p<lrque é ncrcssáriogue o meu [rcnsamento
as pcrcorra de novo, até quc passeda primcira à última
com tal rapidez que, scnr qwrsc deixar nenhum pâp€l
à memória, pareça vcr toda a coisa ao mesmo tcmpo
por intuição.
Não há ninguém-que-não como é que por estc
. -veia
meio se corrigc a lcntidão do espÍrito e aumenta a
dc algunr modo, da nrcnrória,na qual sc dcvem con- sua capacidadc. Âlém disso, importa obscrvar que
scrvaÍ os juízoscmitidossobrc cadaunra das partcscnu- a nraior utilidade da nossa Íegra consiste em que a
nrcradas,para dc todasclas sc tirar unraúnicaconclusão. reflexão sobrc a mútua dcpcndência das proposições
Outras tantasdistinçõeshavia a Íazcr pa'n'intcrprctar simplcs nos faz adquirir o hábito de distinguir subita-
mentc o que é mais ou menos rclativ<,r,e por quc grâus
se rcduz ao absoluto. Suponhamos,por exenìplo, que
pcrcorro al.r;unrasgrandczascontinuamcntc pÍoporci<>
nais: eis tudo aquilo sobrc que vou rcflectir.Ë por unr
parcccrcrììfundir-sc ctlniuntanrcntcnunìa só, graças a conceitoscmelhantc,nenì nuis nem nlcnosfácil, que rcco-
urrr nrovimcoto do pcnsanìcntoque consideraatcnta- nheço a rela$o existcntecnrrc a primeira e a icgunda,
nìcntcpr.rrintuiçãocrda obicctocnì Particular,ao mcsmo entrc â segundac a terccira,entre a terceirae a guarta,
tcrÌÌpoquc vai prssandoaos outros. etc. ì\Ías não posso concebcr assim tão facilmcntc qual
Há nisto unn <luplavintaÍ{ctÌìque indicanìose quc a dcpcndênciada scgunda relativamenteà primeira e à
consistccrn conhcccra conclusão,quc nos ocuPa,de uma tcrceira ao mcsnto tcmpo, c é ainda múto mais diflcil
maneira mais certa c cm tornxr o nosso cspÍrito mais concebcr a depcndênciadcsta segrurdarelativrmente à
primeira e à quarta, ctc. Dal chcgo, em seguida,r cÍrptar
poÍque é que, dadas somentc a primeira e a scgunda,
posso facilmente encontrar a terccira c a querta, ctc.:
é quc isto se faz por meio de conccitosparticularesc dis-

6t
rintos. Ora, dadas apcnas a primeira e a terceira, não
dcscobrirci tão facilmcntc a média, pois isso só se pode
fazcr medianteum conceitoque envolva eo mesmotempo
dois dos precedcntes.Dadasapenasa primeira c e quarte,
scr-me-á ainda mais difÍcil ver por intuição as duas
médias, porque há aqui três conceitos simultaneamente
implicados. Por isso, também me pareceriamais difícil
ainda achar três médias entre a primeira c a quinta.
Há, no entânto, outre ttzão ptra, que isto se passede
outra fcrrma: é que, âpesar da ligação simultânea que
existe aqui entre qutÍo conceitos,cles podem contudo
scr separados,dado que quatro é divislvel por outro
número, dc mancira a possibilitaÍ-mea brsca da terceira
RE,GRA XII
apenaspor meio da primeira e da quinta, em seguida,da
segundapor meio da primeira e dr terceira,ctc. Quem
se habituou a fazer estas reflexõcse outres scmelhantes
Finalmente, há que utilizaÍ todoe os tecursog
reconheceimediatamente,semprc que examina urna nova
do entendimento, da imaginâÉo, dos sentidos
questão, o que é quc nela gera a dificuldade c qual é
e da memória, quer pare termoe umâ intui$o
de cntre todos o meio nrais simplcsparâ a resolver: é o
distintâ das proposições simples, queÍ pâra eEtâ-
que constitui a maior aiuda para conheccr a verdade.
belecermc, enre às coisas que se procuÍem
e as conhecidas, uma liga$o adequada que a8
permita reconhecer, queÍ ainda pera enaontrar
as coisas que entne ei ee devem comparaÍ, a 6m
de ee não omitir nenhum recureo da indúetda
humana.

fista rcgra é a conclusão dc tudo o quc antcrior-


mente sc dissc c ensina em geral o que cra necessário
explicar cm perticular: eis como.
No conhc.cimcnto, há apcnas dois pontos a consi-
derar, a sabcr: nós, que conhcccmos,e os obicctos a
conhecer. Em nós, há apcnas quatro faorldades que
p<xlemosutilizar par:r esseobjcctivo: o cntendimcnto, a
imagina$o, os sentidos e a memória. Só o entendi-
mcnto é ctpzz dc ver a verdade; deve, no cÍltanto, scr

61
ajudadopcla inraginação, pclos scntidosc pela menrCrria, É preciso, pois, conceber,em primeiro lugar, que
para nadaonritirnrr-rsdc <luantose ofercceà nossaindús- todos ós sentidos externos enquanto Partes do corpo,
tria. Do lado da rcalidadc,basta cxaminar trôs coisas;
a saber: primciro, () quc sc aprcscntacsponraneanìcntc;
cnr seguida,com()sc conhcccp()r ()utro unr dcternrinado
objccto; c, por fim, quc deduçr)essc podcm tirar dc
cada unr delcs. Esta cnunrcraçâoparcce-nìcconrplcta,
não r.rmitindo absolutanrcnrenada daquilo a que se
podc cstcndera indústriahunrana.
l)or isso,passandoao prinrciro ponro, desejariaaqui
c\p()r () que i a nrcnte do homcm, () que é o seu
c()rpo, conìo c quc cste é inftrrmadopor aqucla,quais
são cnr todo o comp()stohumano as faculdadcsquc ser-
vcnÌ para o conhccimcnt()c o que cada uma delas faz
enr particrrlar,sc este lugar não me parecessedemasiado
cstrcito para incluir todos os preliminaresnecessários, recebeassima 6gura, impressapela ac$o da luz, reves-
antcs dc a todos se t()rnar manifestaa vcrdade dcstas tida de diversascores;e a primeiramembranadasorelhas,
coisas.Dcsejo, com efcito, escÍevcrsemprede maneira das narinas e da língua, impérvia ao obiecto, vai igual-
a nada asserirde quanto se costumapôr ern discussão, nìente buscar uma nova 6gura ao som, ao odor e ao
a não scr que prcviarnentetenha exposto as razõesquc sabor.
nrc lcvaranr às minhas deduçõese mediante as quais É muito útil uma tal concepçãode todascstascoisas,
creio quc ()s outr()stambémpodem ser persuadidos. pois nada cai mais facilmente sob os sentidos do q-uc
ìlas, iá que não () posso fazer agora, bastar-nrc-á ã 6guta: na verdade, toce-se e vê-se. Por outro lado,
cxplìcar c()m a máxinra brevidade possÍvel, qual dos csta suposiçãonem sequer implica mais consequências
nrodos dc conccber tudo o que enr nós sc destina a falsasdo que qualquer'outra: a Prova está em que o
conhcccr as coisasé nrais útil ao mcu propósito. Não conceito de 6gura é tão comum e tão simples que está
acrcditarcis,exccpto sc \'os agradar, que assim seia; incluído em todo o sensível.Por cxemplo, podes suPor
mas, que i que vos impcdirá de seguir as mesmas
suposiçocsse é evidenteque, sem em nada diminuir a
verdadc das coisas,elas unicamentctornam tudcl nruito
nrais claro? Nã<.rscrá diverso do quc acontecena Geo-
nrctria, cnÌ que fazeis sobre a quantidade ccrtas supo-
sjÇòcsque nâo cnfraquccenrde mancira alguma a força
das denronstraçÕes, ainda que tenhais muitas vezes, na
Iìísica,uma ideia diferente accrcada sua narureza.
melho, etc., como a que existe entre es figuras aqui
exPostasou outras scmclhantcs,etc.?

movidos de maneiras diferentes, tal como o sentido


comum o é pclo scntido cxterno ou como e Penainteira
pelasuapartéinferior. Esteexemplomostratambémcomo
ë que a fantasiapode scr a causade muitos movimentos
O mcsnrosc podedizerdc tudo o mais,pois a quanti- nos nervos scm, no entanto, ter as suasimagensexPrcs-
dadc infinita das figuras basta, é certo, para exprimir sasem si, masoutrasde que podem seguir-seestesmovi-
todas as diferenças dos objectos sensíveis. mentos. Com efeito, a Pena inteira não cstá em mo-
Em scgundo lugar, é prcciso conccberque, visto vimento tal como acontececom a sua Parte inferior;
o scntidocxrernoser posto cm movimento pelo obiecto, pelo contrário, parece,na sua parte maior, animadapor
a figura quc ele rccebeé transpostapara outra parte do üm movimentototalmentediferentee contrário.E assim
corpo, chamadascntidocomum, instantaneanrcnte c sem se compreendecomo podcm fazer-se todos os movi-
passagcmrcal de ser algum de um sítio para outro. mentos dos outros animais ainda que ncles não se
E prccisamente assimquc agora,ao escrcvcr,comprecndo admita absolutamentenenhum conhecimentodas coisas,
que, no mesmo instanteem que cada letra particularé mas ap€nasuma fantasia puramente corpórea; também
traçadano papel, não só a parte inferi<lr da minha pcna assim se comprcendecomo em nós próprios se fazem
cstá'a nìover-se,mas ainda que nem sequerncla pode todas aquclas operaçõesque realizamos sem qualqucr
existir o menor movimento, sem que seja igualnrentc ajuda da rrzão.
rcccbido xo mcsnlo tempo em toda a pena, cuja parte Finalmente,em quinto lugar, é preciso conceber
supcriordescreveno er todas estasdifercntesf<rrmasde
movinrentos,aindaque na rninhaconcep$o nadade real
passedc uma cxtremidadcà outra. Quem pensaria,com
cfcito, que há menos conexãoentre as partcs do corpo
humano do que entÍc as de uma pena, e que é que se
podc imaginarde nraissimplespara cxprimir estefacto?
Enr terccirolugar, é precisoconceberque o sentido
conìum desempcnhatambénro papelde um selo parafor-
n'rarna fantasiaou imaginação,tal como na cera,as mes-
mas figuras ou ideias que vêm dos sentidos externos,

69
m()trizsegundoa simplesorganiza$ocorporal.Em todos não encontrc obstáculoalgum, é preciso afastaros scnti-
cstes casos,csta fr>rçacognoscentcé ora passiva,ora dos e despojar, tanto quanto possível,a imagina$o dc
activa; ora imita o selo, ora a cera; contudo, cstas toda impressãodistinta. Se, por outro lado, o cntendi-
exprcssircs só devcm aqui tomar-seanalogicamente, pois mento se propõc examinar um objecto que sc pode
nada se encontra na-scoisascorpóreasque lhe seja tótal- relacionarcom um corpo, é a ideia deste obiecto quc é
mcntc semclhante. E unra só e mesmaf<rrçaque, ao apli- prcciso formar com a maior distinção possÍvclna imagi-
car-secom a imaginaçãoao sentidocomum, sc diz: vcr, nação; para mais comodamentco Íazer,dcvc mostrar-se
tocar, ctc.,;9u€, ao aplicar-seapcnasà imaginação, eos sentidos externos o próprio obiecto quc esta ideiâ
enquantoestase acharcvestidade diversas6guras,sc diz: representará.Uma pluralidade de obiectos não pode
recordar;que, a()aplicar-sea elaparaformar outrasnovas, facilitar ao cntendimento a intui$o distinta dc cada
se diz: imaginar ou conceber;que, finalmente,ao agir um delesem particular.IUas,pâra tirer dc uma pluraüdadc
só, se diz: comprcender.No seu dcvido lugar, exporei uma só dcdução, o quc muitas vczes se tcm de fize4
nraislongamentede que modo se faz estaúltima operação. há que rcjcitar das ideias, que das coisas se têm, tudo
Segundocstasdiversrsfunções,a mesmaf<rrçachama-sc o que não exigir uma atençãoimediata,a 6m dc quc o
aindr <lucntcndinrentopur(),ou inraginação, ou mcmória, rcsto mais facilmentesc retenhana memória. Do mesmo
()u sentidos, mas dá-se-lhepropriamente o nome de modo, não scrão então as próprias coisasque se devem
cspírito, sempreque f<rrmcnovas ideiasna fantasia,ou propor aos scntidos extcrnos, ffns antcs dgumas das
se ()cupc das já fcitas. Consideramo-laapta para estas suasfigurasabrcviadas,e cstas,contento que bastemperâ
divcrsasopcraçõcse há que ter em conta, ultcriormente, evitar um lapso de mcmória, serão tanto mais cómodas
a distinção das denominaçriesprcccdentes.Unra vez quanto mais breves forcm. Qucm tudo isto obscrvar
assinrfornruladastodas estasconcepções, o leitor atcnto nada omitirá, assim me parece,do que sc rclacionacom
divisará facilmentequais as ajudas que deve pcdir a esta partc da nossacxposi$o.
cada faculdadce até onde se pode estendcra indústria E vamos, agora, abordar também o segundoponto:
dos honrenspara suprir os defeitosdo cspírito. distinguir cuidadosamentees noçõesdas coisassimplcs,
Com efcito, assim como o entendimentopode ser das noçriesquc e partir dclas sc compõcm e ver numas
movido pcle inra.ginação ou, pclo contrário, agir sobre e noutras onde podc rcsidir o erro, a 6m de o evitarmos,
cla, assim tambim a imaginaçãopode agir sobrc os c quais as que se podem conhecer com certcze a 6m
scntidospela frrrça nrotriz, aplicando-osaos seusobiec- de apenasdelasnos ocupâÍmos.Nestc lugar, tal como no
tos ()u, pclo contrário, clcs podem agir sobre ela, que precede,é prcciso ftzer certrs suposiçõcsque talvez
pintando nela as imasensdos corpos; por outro lado, nem todos nos concedem;Ínas pouco importa que nem
a memriria,pclo men()sa corpórcae scmelhrnteà recor- scqucr as julguem mais verdadeirasdo quc os círculos
dação dos aninrais,não é de forma alguma distinta da imagiúri<ls com que os Astrónomos dcscrevemos seus
inraginação.Conclui-sc assim com ccrteza 9u€, se o fenómenos,contanto que, pela sua ajuda, se distinga, a
entcndinrcntosc ocupr do quc nada tem de corporal ou propósito dc qualquer coisa,que conhecimentopodc scr
dc scmelhantcao corporal, não pode scr aiudado por vcrdadeiroou falso.
essrs faculdades;mas, pelo contrário, para que nelas Dizemos, pois, cm primeiro lugar, que é prcciso
considerer âs coisas singulares em ordem ao nosso Dizemos, cm segundo lugar, que as coisaschamadas
conlrecimentode forma diferente dc quando delas fala-
mos tal como existemrcelmcntc.Sc, por exemplo,consi-
dcrarmos um corpo extcnso e 6gurado, confcssaremos
que cle, por parte da rcalidade, é algo dc uno e dc
simples. Grm efeito, não podcria ncste scntido dizcr-se
c()mpostodc narurezacorporal, de extcnsãoe dc figura,
pois cstesclcmentosnunql existiramdistintos uns dos
()utros. Ì\Ías, em rclaçãoao nosso cntendimcnto,dize-
mos quc é composto dcstas três naturezas, porque
captámoscada uma delas separadamente antesdc termos
podido iulgar quc se cncontram as três iuntas num só
ã mesmo sujcitó. É por isso que, não tratando aqui dc
coisas senão enquanto pcrccbidas pclo cntendimento,
chamamossimplcs só àquelascuio conhccimcnto é tão
claro c distinto que o cntcndimcntonão as podc dividir buídas indistintamentc om, aos obicctos corpóreos' ora
cm váriasoutras conhecidasmais distintamcntc:tais sã<l aos espíritos, como a eristência, a unidade,-a dura$o- e
a Íìgura,a extcnsão,o movimcnt(),ctc. Quant<làs outras, coisas'semelhantc. isto se devem igualmcntc rcfe-
conccbcmo-lastodascom()sc,de ccrto modo, fosscmcom- rir essasnoçõcs ^ que são como laços unindo cntre
comuns
lnstas dcstas. É prcciso cntcndcr isso dc mancira tão si outrasnaturczâssimplcsc sobrecuiacvidênciaseapoiam
gcral quc não há scquer cxcep$o parÍr as quc, às vezes, todas as conclusõcs dos raciocínios. São as scguintes:
obtcmos gxrr abstracção.. das próprias simplcs:. duas coisas idênticas a urn terceira são idênticas entre
-coisas
assim aconteccquando dizcmos quc a figura é o limitc si; assim também, duas coisas que não podcm rclacio-
do <lbiect<-lcxtcnso, conccbcndopcla palavra limitc algo nar-sc com uma tcrceira do mcsmo modo, têm também
mais gcral que pcla palavra figura, visto que sc prrde,
scm dúvida alguma, falar também do limite do movi-
mcnto, ctc. Nestc cÍlso,se bem que <l limite dcsignc uma
abstrac$o tirada da 6gura, não dcvem, porém, consi-
derar-sepor isso mais simplcs do que a figura; antes,
uma vcz que seatribuiaindaa outrascoisas,como o tcrmo
dc uma dura$o ou de um movimento, etc., coisasque
são dc um géncro totalmente diferente do da fiÍjrra,
houvc tambim quc abstraËlodos scus objectos, e, por
conscguinte,é um composto de várias naturezascomple-
tamcntc difercntcse às quais sc aplicaapcnasdc maneira
cquív<rca.

72
bemos distintamenteo número sete sem ncle incluirmos
numx certa relaçãoconfusa o número três e o númcro
quatro. Do mesmo modo, tudo o que se demonstra a
respeito das figuras e dos números conecta-senecessa-
riamentccom o obiectode que se a6rma.E não é apenas
nas coisassensíveisque se encontraestanecessidade, mas
tambim noutras circunstâncias: por exemplo, se Sócra-
tcs diz que duvida de tudo, segue-senecessariamente
que compreendeâo menosquc duvida; do mesmomodo,
que sabe que pode haver algo de verdadeiro ou de
falso, etc., pois estas conscquênciasestão necessaria-
mentc ligadasà naturezada dúr'ida. Â sua união contin-
c assirììi quando,além do que nelasvemospor intuição gentc é a que não implica nenhumaliga$o indissolúvel
()u (luc () n()ssopcnsamcntoaí capta,suspeitamos que há entre as coisas:como quandose diz que um corpo é ani-
algurrracoisa quc nos cstá escondida,e quand<icste mado, que um homem está vestido, etc. Há ainda uma
noss()perìsamentoi falso. Por este moti\'o, i cr.idente grandcquantidadcde coisasque, muitasvezes,estãoliga-
quc nos cngananìossc, por vezes, julgam<lsque não das entre si necessariamente e que a maioria das pcssoas
conhccenros complctanlcntcalgumadestasnaturezassim- situa entre as continÍlentes,não notando a relação que
ples; conr cfcito, sc dela apreendôssemos intelectualmentc entre elas existe, como, por exemplo, esta proposição:
uma nrínimx parre,o que é seguramentenecessáriona sou, portanto,Deus é; e do mesmomodo: contpreendo,
lripótescdc quc sobreela emitimosalgum iuíz<>, havcria portxnto, tenho uma mente distinta do corpo, etc. Final-
quc concluir, pclr isso mesmo, que a conhecemosper- mente, importa observar que es proposiçõesconverses
fcitanrcnte.r\liás, nem a poderíamoschamar simples, da maior parte das proposiçõesneccssáries são contingen-
nras conìp()srerem virtude do que nela captamose do tes: assim,ainda que do facto de eu existir tire a con-
clue dela julgamos ignorar. clusão de que Deus existe, não é contudo permitido,
Dizcmos, cm quarto lugar, que a conjunçãodestas em virtude do facto de Deus existir, afirmar que eu
c.oisassiruples cnrre si é neccssárir()u contingente. tambinr existo.
[:] ncccssária, quandounìa estáimplicadatão intimamentc Dizemos, em quinto lugar, que nada podemos
no conccitocla outra quc não podemosconcebcrdistin- compreendcr para além destas naturezassimples e da
tanìcntcurÌìx ou ()utra, se as julgarm()sseparadas entre espéciede mistura ou composi$o que entre elasexiste.
si. É destanraneiraquc a 6guia èstáunidaã extcnsão,o E, claro, é muitas vezesmais fácil considerarao mesmo
nrovirrrcntoà duração ou ao tempo, erc., porque nã<l tempo várias juntas do que separar das outras uma
c possír'clconceberuma lìgura privadadc cxtensão,nem única; por exemplo, posso conhecer o triângulo sem
unr nrovinrcntoprivado de toda a duraçãr>.Do mesm<r nunca ter pcnsado que, ncste conhecimento,está ainda
rrrocl<r
rinda, sc digo quc quatro e três faacmsete,trata-se contido o do ângulo, da liúa, do número três, da
dc unrl conrposi$o necessária; com cfeito, não conce- figura, da extensão,ctc.; isto não nos impede, no
cntanto, de dizer que a nârurezado triângulo é composta coisas externespere os sentidos e dos sentidos p^ra
de todas estasmturezas e que elas são mais conhecidas imaginação,a não ser gue o tcnha conhecidoantes,por^
do que o triângulo, pois sãoelasprópriasque a intcligência qualquer outro meio. Por outro lado, compomos nós
nele descobre.No mesmo triângulo estão talvez anda próprios as coisasque entendemos,sempreque iulgamos
cncerradasmuitas outras naturezas que nos escepam, existir nelasalgo que nenhumaexperiênciaimediatamente
como a grandczados ângulos, cuja soma é igual a dois
mostrou à nossamente. Por excmplo, se âcontecerque o
rectos, e as relaçõesinumeráveis que existem entre os
doentc de icterícia sc persuadede que as coisas vistas
lados e os ângulos, ou a capacidadeda área, etc.
são amarelas,esteseu pensâmentoseú compostodaquilo
Dizemos,em scxto Íugar, que as naturczaspor nós
chamadascompostasnos são conhecidasrQu€r porque que a sua fantasialhe rcpresentae da suposi$o que faz,
experimentamos () que elas.são, quer porque nós pró- a saber, que e cor amarelalhe aparcce,não por defeito
prios as compomos.Experimentam()s tudo o quc per- do seu olho, mas porquc as coisasvistas são realmente
cepcionamospela sensação,tudo o que ouvimos dos amarelas.r\ conclusãoé que só podemos ser enganados
()utr()se, de um modo geral,tudo o que chegaao nosso compondo nós próprios de certo modo as coisasem que
entendimento,ou de algum lado, ou da contemplação ecrcditamos.
rcflectidaque ele tcm de si próprio. Há que notar, a Dizenros,em sdtimo lugar, que esta composi$o sc
este respeito,que o entendimentonunca pode ser enga- pode fazer de três maneiras,a saber, por impulso, por
nado por experiência alguma, desdc que unicamente conjecturaou por dedução.É por impulso que compõem
tenha a intuição precisada coisa que lhe é apresentada, os seusiuízos sobreas coisasaquelescuio espÍritoos leva
conforme a possui cm si ou numa imagem,e contanto a algumacreng, semserempcrsuadidospor razãoalguma,
quc, além disso, não iulgue quc a imaginaçãorepro- mas determinadosapenasou por alguma potência supe-
duz fielmcntc os obiectos dos sentidos, nem que os rior, ou pela sua própria liberdade, ou por uma dispo-
sentidos revestemas verdadeirasfiguras das coisa, nem, sição da fantasia: a primcira influência nunca engana,
finalmentc,que as coisasexternassão scmprc tais quais a segunda raramente, a terceira quese sempre; mas a
nos apareccm.E em todos estes pontos que, efectiva- primeira não tem o seu lugar aqui, porque não depende
mcnte, cstâmossujeitos ao erro, como se alguém nos da arte. A composi$o faz-se por coniectura quando,
contar uma fábula, iulgarmosque o acontccimentotem por exemplo,do facto de t âgue,por cstâr mais afastada
lu.gar;ou se um doentc atingido de icteríciajulgar que do centro do mundo do que a terra, ser também de
tudo é amarelo,porque tem o olho tingido de amarelo; uma essênciamais subtil, c ainda do facto de o ar, por
ou, por finr, se devid<>a uma lesãoda imagina$o, como se encontraracimada água,ser tambémmaislcve, conjec-
aconteccaos melancólicos,julgarmosque as suasimagens turamos que, acima do ar, nada mais há do que étcr
pcrturbadasreprcsentamrealidades.Ì\ías nadadisto enga- muito puro e muito mais subtil que o próprio ar, etc.
naráo entcndimentodo sábio,porquetudo o quc recebcr Tudo o que dcste modo compomos não nos engena,
da imaginaçãoseráevidentementepor ele julgado como certamente,se julgarmos quc é apenas provável e sc
realmentenela pintado; todavia, nunca rfrrmarâ que isso iamais afirmarmos que é verdadeiro, rnas também não
nìesmo acontcccutal qual e sem qualquer mudançadas nos torna mais sábios.
Restasó, pois,a dcduçãopelaqual possamos conìpor tração intelectual.Não há ninguénr, com efeito, que seja
:rs coisasdc forma a cstarnìosseguros da sua verdade. tão débil de espÍrito que não perccba gu€, quan-
Podc, porénr, haver nela também numerososdefeitos, do scntado, é de algum modo diferente de si, quando
ac()ntecese, pclo facto de nada haver n() nosso
c()t'r'ro levantado.Àías nem todos separamcom a mesmadistin-
cspaç() chcio dc ar que perccpcionemospela vista, ção a naturezada sirua$o do resto que se contém nesse
tact()()u qualqucroutro sentido,daÍ concluirmosque este pensanìento,e nem todos podem arfrrmarque nada
esprç() é vazio, associandocrradamentea naturczt d<t mudou, exceptoa situat'o. Não é em vão que aqui faze-
vlzio à destcespaço.Âssinracontecesemprcquc de uma mos esta observação,porque os letrados têm frcquente-
coisaprrticular ou contingcntejulgarmosque é possír'el menteo cosrumede seremtão engcnhososque encontram
dcduzir al.qodc geral e de neccssário. ÌtÍasestácm nosso meio de nada ver mesmo no-que é evidentepor si e que
podcr cvitar estecrro, a saber,se nunca liga-rnros coisas os incultos nunca ignoram. E o que lhes acontecesempre
entrc si scnì \'er por intuiçãoque a ligaçãode uma con'r que tentam esclarecerestascoisasconhecidaspor si mes-
()utra i c<tmpletamente neccssária,com() acontccc ao mas,mediantealgo de maisevidente:com efeito,ou expli-
dcduzirnrosque nadapode ser figuradosem ser extenso, cam outra coisa, ou absolutamentenada. Pois quem
pclo facto d:r figura ter uma ligação necessária conì a não percebetodas as mudanças,scjam elas quais forem,
cxtcnsã<1, ctc. que sofremoseo mudar de lugar, e quem poderia concc-
Tudo isto pcrmitc concluir,em primeiro lugar, que ber a mesmacoisa,quando se lhe diz que o lngaré a sapcr-
cxpuscnì()sdistintamcntc e, em minha opinião, por ficic do corpoantltiente?
!,sqasup_erfície-pode
mudar, se bem
unìr cnunìcraçãosuficientc,o que no início só confusa que eu permaneçaimóvel e não mude de lugar, ou, pelo
c grossciranìente pudem<lsmostrar,a saber,que não há contrário, deslocar-secomigo de maneira a rodear-me,
vias abcrtasao homem para unr conhecinrentoccrto da embora eu iá não me encontreno mesmo lugar. Em con-
vcrdadc além da intuição evidcntee da deduçãoncces- trapartida, úo parecem proferir palavras mágicas,que
sária; c também para conhecero quc são as naturezas têm uma força oculta e pâra além do alcancedo es í-
sirrrplcs,quc abordámosna oitava proposição.E é clar<> rito humano,os que dizem que o moainento, coisaconhe-
quc x intuição intelectualse estenderp{)Í um lado, a cidíssima de todos, é o actodo scr cn potência,cnqaunloestá
todas cssasnaturezas,por outro, ao conhecinrcnt<l das cnt polência?Quem compreende estâs palavras? Quem
crxrcxircsque existem necessariamente cntre si e, final- ignora o que é o movimento? E quem não confessaria
nìcrrtc, a todas as outras coisas que o entendimento que estes homens procuÍârâm um nó num iunco?
iulga csistir de unre maneiraprecisa,quer cm si próprio, E preciso, pois, dizer que nunqr se devem cxplicar as
(lucr nx fantasia. Quanto à dedução, dir-se-ão mais coisaspor defini$o dguma dcsta cspécie,não acontcça
c()rsxsa scgurr. captarmoscm vez do simpleso composto, rns que cada
Conclui-se, cm scgundolugar,que não há que cnvidar um as deve apcnasexaminar scparadasde tudo o mais,
por conhccer essasnaturezassimples, pois são
csfrrrç<.rs numa intuição atentae segundoas luzes do seu espÍrito.
já suficientemente conhecidaspor si mesmas,mas apenas Conclui-sc, cm terceiro lugar, quc toda a ciência
p()r as scpararunrasdas outrase considerarà parte intui- humana consiste apenes em ver distintamente como
rivanrentecada uma delas, aplicando-lhesa sua pcne- estas naturczassimplcs concorrcm em coniunto p^r^
^
composi$o das outras coisas. É muito útil observar raciocinar sobre muitas coisase a dclas fdar logicamente,
isto, pois, sempre que se propõc uma dificuldade para sem realmcnteseremcompreendidosnem por si próprios
resolver,quasetodos se detêm no limiar, na incertezade ncm pelos que os ouvem. Quanto aos mais modestos,
saber a que pcnsementosdcvem aplicar a sux mente e abstêm-semuitas vezes de examinar uma quantidade de
na pcrsuasãode que importa procurar algum outr() novo coisas,ainda que fáceise muito necessárias gera a vida,
género de ser antes dcsconhecido, como, por ex., ao só porque se consideram impotentes e seu respcito;
p€rguntar-se qual e nature?a da pcdm-íman-, l-ogo-eles, e como iulgam quc podem ser compreendidaspor outÍos
ao vaticinâremquc a coisa é penosac difícil, desviama mais dotados de espÍrito, accitam as opiniõcs daquelcs
inteligência de tudo o que é cvidente e a viram para cuja autoridade lhes inspira mais coúança.
tud<>o que há de mais difícil e, panidos à aventura, Dizemos,em quinto lugar, que e dcdufo só se pode
cspcram que ele encontre algo dc novo, errando pclo fizer, qucr das palavrasàs coisas,qucr do cfeito à sua
cspaçovazio .las causesmúltiplas. ÌrÍas aqueleque pcnsa câusa, qucr da causa ao scu deito, quer do semelhante
que nada se pode conhecer na pedra-lman que não seja ao semelhante,qucr das partes às partes ou ao próprio
conìposto de certas naturezes simples e conhecidas [x)r todo...
si nresmas,não tem inccrtezassobre o que é prcciso fazer. Quanto ao mais, receandoque o cncadeamcntodos
Primciro, reúne cuidadosamentctodas as cxpcriências nossos prcceitos escapc a alguém, dividimos tudo o
que pode encontrar a propósito desta pedra; depois, quc sc pode conheccrem proposiçCrssimplesc em qucs-
csforça-sepor daÍ deduzir qual e mistura de narurezas tõcs. Paraas proposiçõcssimplcs,não damos outros Prc-
simplcs nccessáriagera produzir todos os efeitos que ceitos difcrentes dos que prepanrm a nossa força de
rcconhcccu por experiência ne pcdra-íman. Uma vez conhecimcntospara eptar por intui$o quaisquerobiec-
achada csta misrura, 1rcde audaciosamenteafirmar que tos mais distintamenteos perscrutiÌr com maior sagaci-
c<rnrprcendeu a verdadeiranaturcze,dt pcdra-lman,tanto dade, porquc cstes proposipes dcvcm ocorrer csponta-
quanto cla pôdc ser descobertepor um homem c conì neâmente e úo podem ser obiecto de invcstiga$o.
a aiuda das cxperiênciasfeitas. A isto nos dedicámos nos doze primeiros prcceitos e
Por fim, conclui-se,em querto lugar, do quc f<ridito, iulgamos ter então mostrado tudo o que, nâ nossa
que os conhccimcntosdas coisasnão devem ser olhados opinião, pode facilitar o' uso da nzão. Quanto às
c()nìo mais obscuros uns do que bs outros, iá que questões, unìas comprecndem-sc pcrfeitamente, ainda
todos são da mesma naturez:le consistemapenasnurul quando sc ignorc a solu$o: é só delasque nos ocupaÍe-
cornposiçãode coisascoúccidas por si mesmas.Quase mos nas dozc rcgras que se seguem imediatamcnte;
ninguim se dá conta, mas, apoiandose numa opinião outras comprecndem-se imperfeiamcnte e Ícservarno-
contrária, os mais atrevidos permitem-setomâr as suas -las para as doze últimas rcgnrs. Ê uma divisão urdida
coniecruraspor demonstraçõcs-verdadciras e, nas coisas com um dcsígnio; 6zemo-la, quer para não sernos
que ignoram completamente,afirmam que vêm verdades obrigados a dizer dgo quc pressuponhao conhecimento
muitas vczcs obscuras como através de uma nuvem. do que sc seguc, quer para ensinarmos,ântes dc mais,
Estas verdades,não as temem expor, associandoos seus o que tambdm iulgamos scr prioritário no cultivo do
conceitos a palavras que, habitudmente, os aiudam a espírito. Notc-sc que, entre as questões que se com-
preendem perfeitamente,colocâmos apenasaquclâs em
q.ue.percebenros distintanìcntetrês coisas,a saber: que
sinais pcrmitem reconhccero que se procura, quando
elc surge; que é prccisamente naquilo de que o devemos
deduzir; e como inrporta provar que há entre estes
objcctos,uma tal dependênciaque um não pode de forma
algumamudar quandoo outro não muda.
Desta forma, tem()sas nossaspremissase nada mais
6ca por mostrardo quc o modo de encontrara conclusão,
nãr.rcertamentededuzindo dc uma única coisa simples
um objecto determinado(pois isso pode fazer-sesem pre-
ceitos, conro iá se dissc), mas extraindo um obiecto
determinad(),que depende de muitas coisas conjunta-
tnente implicadas,c()m umâ tal arte que não se exiia REGRÂ XIII
uma maior profundidadcde espíritodo que a requerida
para,fazcr a nrais simples inferência.Âs questõesdeste
tipo sãoquasesempreabstractas e quesesó se encontram Se compreendermos perfeitamente uma questãot
na r\ritméticaou na Gcometria:é por isso que parecerão devemoì abstraÍ-la de todo o conceito 8uPérfluot
pouco úteis aos inexperientes.Faço, no entanto, uma reduzi-la à maior simplicidade e dividi-la em
advertôncia:no estudo desta arte devem mais longa- peÍtes tão Pequenas quânto possÍvel, enume-
mente ocupar-see exercitar-seos que deseiampossuir rando-ag.
perfeitamentea última parte destc método, em que tra-
tamosde tudo o rcsro. Só nisto apcnasimitamos os Dialécticos:assimcomo
eles, na cxposi$o das formas dos silogismos, supõem
que sc coúecem os seustermos ou a matéria,assimtam-
bém nós exigimos aqui antecipadamenteque a questão
seia perfeitamentccomprcendida.ÌtÍas não distinguimos,
comó eles, dois extremos e um meio: é da maneira
seguinteque tratamostodo o assunto.Primeiro, em toda
a qucstão,deve haver necessariamcnte algo de desconhe-
cidb, pois, de outro modo, e suâ invcstiga$o s-eri.a
inútil: cm segundolugar, esseincógnito tem de scr desi'
gnado dc alguma maneira, pois, de outro modo, não
éstaríamosdetcrminadosa investigá-lo de prefcrênciaa
qualqueroutro objecto; em tercciro lugar, só podc.ser
designado mcdianie alguma outre coisa iá conhecida.
E2
Tudo isto se encontraaténas questõesimperfeitas,como percorrê-las-eiseparadamenteuma a seguir à outra;
acontcccscmpre quc se inquirc a nâturcza da pedra- do mcsmo modo, se se tretar do som, como iá se disse,
-íman. O que comprecndcmosquanto a() significado compararei separadamcnteentre si as cordas  e B,
dos dois tcrnÌos, pcdra-ímanc natureza,é conhccido: dcpois  e C, etc., de maneira a abarcar seguidamente
é o quc nos dcterminaa procurá-lodc preferênciaa outra tudo ao mesmo tempo numa enumera$o suficiente.
a finr de a qucstãoscr perfcita,
coisa. ì\las, alim diss<.r, Eis, pois, em relaçãoaos termos de uma proposi$o, os
qucrcm()squc ela scja complctamcntcdctcrminada,de únicos três pontos a que o entendimentopuro se deve
tal f<rrmaquc nada mais se in<1uiraalém do quc sc ater antesde abordarmosa sua última solução,se houver
podc deduzir dos dados. r\ssim acontcccse alguém me nccessidadede utilizar es onze regras seguintcs.A ter-
perguntao que sc dcvc infcrir precisamcnte sobrca natu- ceira parte deste Tratado explicará mais claramente a
rcza da pcdra-ímana partir dascxpcriências que Gilbert<r mancira de Íazer isto. Por outro lado, entendemospor
a6rma tcr fcito, qucr clas scjam verdadeirasou falsas; questõ€studo aquilo em que se ettëontr" o vcrdadéiro
do nrcsmonrodo,se nìc perÍluntaa nrinltaopinião sobre ou o falso, e há que enumerar os diversos géneros de
a naturcza do som, atcndcndo prccisamentea estes questõespara determinar o que somos capazesde fazer
trôs factos: três cordas r\, I3, C, produzenì () mesmo em rela$o a, cada,uma delas.
som c, cntrc clas, lì i, por hipótcsc, duas vczcs mais Já dissemosque só na intui$o das coisas,qucr sim-
Ílrossa<luer\, sem ser mais comprida nrasesticadapor plcs,quer ligadas,é que não pode havererro. Âssim tam-
um pcso durs vczcs mais pcsado,ao passoque C não é bérç, não é nestc sentido que elas se chamam questões,
nraisgrossaquc r\, mas apenasduasvezesmaiscomprida mas recebemcsse nome a panir do momento cm que
e csticadr por um peso quâtro vczes mais pesado,etc. decidimosemitir sobreelas um determinadojuízo. Com
Pcrccbc-scassimfrcilnrentc como é quc todasas questõcs efeito, não são apenasas pcrguntasfeitas por outros que
inrpcrfcitassc podcm rcduzir às pcrfeitas,como se cxporá colocamosno número das questões,mas, em rcla$o à
mais cxtcnsâmentcno rcspcctivo lugar. Vê-se também própria ignorância ou, antes, à dúvida de Sócratcs,tra-
como é prcciso observarestâ rcgra para que uma di6- tou-se de uma questãologo que Sócrates,fazendoincidir
culdadcbcnr comprccndidasejaabstraídade todo o con- a suaetençãonesteponto, sc pôs a procurar seera verdade
ccito supcíríìuoe rcduzidaa uma ftrrma tal que já não que ele duvidassede tudo, e isso mesmo afirmou.
tenhamoso pcnsamento ocupadonesteou naqueleassunto Ora, nós procuramos,quer as coisaspelas palavras,
cnì particular,mas apcnascm conìpararccrtasgrandezas quer as causaspelos seus efeitos, quer os efeitos pelas
cntrc si. Por cxcmplo, dcpois dc nos tcrmos decididoa suas causas,quer o todo pelas suas pertes, ou outrari
só cxaminartais clu tais expcriências sobrea pedra-Íman, partcspor algumasde entre elas,quer, en6m, váriascoisas
já não há mais ncnhumadificul<ladc em rcmovcr o nosso ao mesmo tempo a partir do que se acabou de dizer.
pcnsan'tcnto dc todas as outras. Dizcmos que se procurem as coisaspelas palavras,
Âcresccntc-sc, alim dissr>,que a dificuldadese deve scmpreque a dificuldaderesidena obscuridadeda lingua-
rcduzir à sua maior sinrplicidade,segundo as regras gem. Â isto se referemnão só todos os enigmas- como
quinta c sexta, c dividir-se segundo a sétima. Âssim, o da Esfinge sobre o animal que, e princípio, é quadrú-
ao cxaminara pedra-ímana partir de váriasexperiências, pede, em seguida,bípede e, por fim, caminhasobrc três

E5
pis; e também o dos pescadoresque, em pé, na margem dificuldade. Por consequência,dada uma questão qual-
do rio, munidos de anzóis c linhas para apanharemos quer, impoÍta csforçar-nos,primciro, por comprccnder
peixes,diziamque iá não.tinhamos que haviamapanhado claramenteo quc se procura.
e que, inversamente,tinham aquelcs que ainda não Frequcntcmente,alguns apressâm-scde tal modo a
haviam conseguidoapanhar,etc.; mxs, alim disso, na .
invcstigar proposiçõcsque aplicam à sua solu$o um
maioriados casossobrcque discutcmos letrados,trate-se, espírito vagabundo, antes de advcrtircm por quc sinais
quasesempre,de uma questãode palavras.E não é pre- reconhecerãoo obiecto procurado,se por acesoaparecer.
ciso tcr tão má opinião dc grandes cspíritos que se Não são mcnos ineptosdo que um criado enviado a qual-
julgue que cles concebenrmal as própriascoisassempre quer lado pelo seu scnhor c que estivessetão dcsciosode
que as não expliquem em termos su6cientemente adc- obcdecer quc sc puscssea correr prccipitadamentesem
quados. Se llres acontece, por exemplo, cha;marlngar ainda ter recebidoordense sem saberondc o mandavair.
à snperfhicdo corpo anbientc, na;dl. de falso concebem Pelo contrário, em toda a questão,ainda que deva
nr rcalidade, mas abusam apenasdo termo hgar, gue havcr algo dc descoúccido, pois, de outro modo, e
significa, segundo o uso corrente, essanaturezasimplcs sua invcstiÍiaÉo seria inútil, é preciso, no entanto, que
e conhecidapor si mesma,devido à qual algo se diz este incógnito scja designado por condiçõcs tão pre-
estar aqui ou ali. Consistcnuma certa relaçãoentre a cisas que nos dctcrminemos completamcntca procurar
coisa, que se diz estar no lugar, e as partes do cspaç<r um objccto particular de prcferênciaa outro. E ao cxame
extcriorI e alguns, r'endo que o nome de hgar era empre- dcstas' condições 9u€, como dizemos, nos devcmos
guc paradcsignara supcrfícieambiente,dcnominarxnì-no entregar desdc o início; e isso acontecerásc apücarmos
improprianrcntelngarinlerno.O mesmose passacom tudo a nossapenetra$o intelcctuale captá-lasinruitivamente,
o mais. Estas questiresde palavrasencontram-setão uma a uma, investigandocuidadosamenteque limitação
frcquentementeque, se houvessesemprc acordo entre reccbede cadauma dclascsseincógnito que procuramos.
()s Fil<isofrrsquanto ao signi6cado das palavras,iss<r Na verdade,o espírito humano costumaenganar-scaqui,
equivalcriaà supressãode quasc todas as suas contro- dc duas maneiras,quer supondo algo mais do que o que
vérsias. lhe foi dado para determinara questão,quer, pelo contrá-
 invcstigação dascausaspelosseusefeitostem lugar rio, omitindo alguma coisa.
sempreque tentamosdescobrir,a propósitode uma coisa, E Preqso evltar suPor rnals colses e colses mals
se cla é ou o quc ela é... prccisasdo que as que nos são dadas: sobretudo nos
Dc resto, quandr>se nos propõc uma qucstãopara cnigmas c nas outras perguntas artificiosamentefcitas
resolvcr,frequentemente aconteceque não notamoslbgo para pôr os espíritosem âpuros, trvrs,por vezcs,também
a que gincro ela pcrtcncc,nem se são as coisasque pro- noutras questõcs, quando, Para as resolver, se supõe
curam()spelas palavrasou as causaspel<lsseusefeitos, - percce- como certo o que nenhumt rm,zão cxplícita,
etc.; é pt>r isst-rquc nle pareccsupérfluocntrar em tais mas âpcnasuma opinião inveterada,nos fez aceitar.Por
pornìenorcssobre estescasosem particular.Será mais cxemplo, no cnigma da Es6nge, não se deve pcnsar que
rápido c mais cómodo tratar ao nìesmo temp() e com a palavra pé dcsigna âpenasverdadeirospés de animais,
ordem tudo o que é preciso fazer ynra,rcsolvei qualquer mas é prcciso ver ainda se ela não se pode aplicar,coÍno
de facto acontece,e outras coisas,a saber, às mãos da não natural, como o dos astros ou das águasda fonte,
criançae ao bordão do velho, visto quc ambos se servcm mas produzido pela indústria humana, se alguém (comrr
delescomo dc pis para andarem.Âssim também, na adi- alguns julgaram que se podia ftzer, pcnsando 9!e a
vinha dos pcscadorcs,é preciso ter cuidado para quc () Tcrra se m()ve sempreem círculo à volta do seu cixo e
pensamentodos peixes não sc apodere dc tal forma dc que a pedra-íman conserva todas as propriedadcs da
nossamente quc a i-p"ç" dc pcnsar nessesanimeisque, Ìerra), se alguém pcnsarque encontrarácste movimento
frequentcmcnte,os pobrcs tmzem consigo sem querer, 1rcrpétuodispondo csta pedra de maneiraa quc se move
e quc deitam fora depois dc os terem apanhado.Âssim èm-círcul<lou, Pclo menos, que ela comunique ao ferro
ambém, se se inquirir como foi construído um vaso () scu movimento com outras propriedades.Ìríesmo que
scmclhanteao que vimos um dia, no mcio do qual se viessea conseguir, a sue arte não pr<lduziria,contudo,
elevavauma coluna encimadapor uma estátuade Tântal<r um movimcnto perpétuo, mas utilizaria aPenâso que
fazendoo gestode beber; vasoque continhaexactamente a é natural, c não agiria de forma diferente de se colo-
águaque nele se vertia, enquantoela não atingia um nível casseuma roda sob a queda dc um rio de maneira a
suficientementcclevado para entrar na boca de Tântdo, pô-la sempreem m<lvimento;cle omitiria, pois, uma con-
Ínas que a deixavadc todo cscaparimediatamente,logo ccpção indispensávelpara resolver a questão,etc..
que chcgavaaos scus lábios infclizcs; parecc,à primcira Uma vei assazcompreendidaa questão,é prccisover
vista, que todo o artifício consistiu em construir esta exactamentccm que consiste a sua dificuldade, P r^ L
estátua dc Tântalo que, no entanto, úo detcrmina dc isolar das rcstantese mais facilmentese resolver.
forma alguma a guestão,não passandode um comple- Nem sempre é suficienteconrPrccndcruma qucstão
mcnto. fbda a dificuldadeconsisteunicamenteem inves- para saberonde estáa dificuldade'mas é precis<.r também
tigar como se dcve construir o vaso para quc a água se icflectir em cada uma das coisasque nela são requeridas
escapc dele complctamentc quando atinÍle uma certa a finr dc que, sc ocorrerem coisasfáceisde encontrar, as
dtura, c dc ftrrma alguma antcs. Igualmentc, por fim, deixemosdc lado e, uma vcz retiradasda questão,apenas
sc a partir dc todas as obscrvaçõcs<1ucpossuímossobre rcstc o que ignoramos. r\ssim, na qucstão do vaso des-
os astros sc inquirir o que podcmos asscgurar com crita um pouco mais acima, facilmentenotamos como é
certcza a rcspcit<>dos seus movimcntos, não é prcciso que o vaso se deve fazcr: a coluna lcvantada ao meio,
fazcr, como os Ântigos, a suposi$o gratuita de que <i pássaropintado, ctc. Reicitado tudo isso por não se
a Terra é imrlvcl c col<rcada
no ccntro do l\íundo, porque relãcionar com () assunto, rcsta a dificuldade Pura e
dcsde a nossa infância assim nos parcccu, mas importa simples quc reside no facto dc a água, antes contida no
antcs.pôr essa opinião cm dúvida p1la, cm scguida, veso, se escapertoda depois de ter chegadoa ufira certe
examinarmoso quc dc certo é pcrmitido asserir sobrc altura. A que se deve ist<t?Eis o que é precisoinvestigar.
cstc assunto.E assimgrr diante. Âgora, é apenesimportante Pessarem rcvistaordena-
Pecamospor omissão, scmprc quc urvr condi$<r damenie tudo o quc nos f<ri dado numa proposi$o,
rcqucrida para determinar unra questào na mesma está reieitando o que claramente virmos não se relacionar
cxprcssaou comprecndida, sem nela rcflectirmos. É <r com o assunto, rctend<lo que é necessárioe relegando <>
que econtcccna investigaçãode um movimento p€rpétuo, que é duvidoso para um exame mais atcnto.
outras, mediantc uma dedu$o. Do mesmo modo, se
houver na pedra-Íman dgum género dc scr que nada
tenha de semelhantecom o que o nosso entendimento
ag<rraviu, não é dc esperar que alguml vez o
^Ìé
venhanrosa conhecer por raciocÍnio,'pois, scria preciso
ser dotado para isso ou dc um novo scntido ou de uma
mente divina. Tudo o que nestc caso o espÍrito humano
pode dar, julgarcmos tê-lo obtido, se percepcionarmos
distintamentea mistura dc sercsou de nâturczasjá conhc-
cidas, que produz os mesmosdcitos que se dcscobrcm
na pedra-iman.
Claro, todos estesseresiá conhecidos,tais como e
extensão,a 6gura, o movimento c coisassemclhentes, quc
REGRÂ XI\I úo vem a propósito enumerar aqui, coúccem-se em
diversos sujeitos por intermédio dc uma mesffuridcia,
c não imaginamos de outra forma a 6gura dc uma
A mesma rcgtz^deve aplicar-se à extensãoreal dos coroa, quer sejade prata ou de oir<1.Esta ideia comum
corpos e propor-se à imaginação com a aiuda não se transferede um sujcito para outro a não ser
de figuras puras e simples; será assim percebida por uma simplcs compara$o: afirmamos que o que
muito mais distintamente pelo entendimento. se procura é, segundo este ou aqucle aspecto,parecido,
idêntico ou igual a um obiccto dado, dc tal forma que,
Para nos servirmos da ajuda da imaginação,é pre- em todo o raciocínio,é apenaspor uma compara$o que
ciso notar que, ao deduzir algo de dcterminadoe desco- conhecemosa verdadc de uma maneira precisa. Por
nhecido dc outro já conhecidoanteriormente,nem por exemplo, nesteceso: todo o  é B, todo o B é C, por-
iss<>se depara sempre com um novo géner<lde ser. tanto, todo o  é C, comperâ-seentre si o que é pro-
Há apcnasum alargarnentode todo o nosso conheci- curado e o que é dado, quer dizcr, r\ e C, sob csta rela-
mento que. nos faz. compreenderque, de uma ou de ção que um c outro são B, ctc. Ìrías porque, como já
()utra mrneira, a coisa procuradaparticipa da natureza advertimos, as formas dos silogismos cm nada nos aju-
daquelasque nos são dadasna proposiçâo.Por excmplo, dam a percebcra vcrdadc das coisas,scrá de toda a van-
se alguinr for cego de nascença,não há esperançade tagem para o lcitor, depois de as ter complctamente
alguma vcz chegarmospor raciocínioa fazer-lhcperccber reieitado, conccber que todo o coúecimento, que não
verdadeiras ideiasdascores,como as que temosao extraí- se obtém por meio de intui$o pura e simplcs de um
-las dos sentidos;mas se alguém,outr()ra,tiver visto as <lbjecto isolado, se consegue apcÍurs pela compara$o
cores principais,senrnuncater visto as coÍesintermédias de dois ou mais objcctosentre si. E, efectivamente,quasc
ou nristas,pode acontecerque se formenr tambémima- toda a indústria dt raa;ãohumana consisteem prcparar
gens das que nunqr viu, graçasà sua senrelhançaconr esta operação, pois, quando é conhecida c simples,
nâo há necessidadede nenhunr auxílio da arte, mas É tambémevidcntepor si, pois cm nenhumoutro suieito
apenrsdas luzesnaturaispare ver instintivamentea ver- se vêem mais distintamentetodas as difercnçasdas pro-
dade por cla se obtém. porções.Com efeito, ainda que uÍna coisa se possadizer
-<1ue
F. prccisonorar quc as comparaçõesse dizem sinrples mais ou menos brancado que outra e, do mesmo modo,
e manifestas,mas só quandrro que sc procura e o qúe é um som mais ou menosagudo, e assimpor diantc, não
dado participaigualmentede uma certrnaturcza.euanto podemos, no entanto, definir corn exrctidão se há neste
às outras todas, neccssitamdc preparação,e apenaspor afastamentouma relaçãodupla ou tripla, etc., tr não ser
cste mottv(): a naturezacomum não se encontra nos
dois <lbjectostal qual, mas scgundo determinadasrela-
çõesou proporçõescm quecstácnvolvida.E, na suamaior
parte,a indústrialrumananão consistenoutra coisasenão
em transf<rrmarcstasproporçõcsde maneiraa ver clara-
mente a igualdadc<1uecxistc entre o que se procurae o que precisamentese encontra uma tal dificuldade pode
que i4 sc conhece. e deve separar-secom facilidadede todo o outro suieito
E precison()tar,enr scguidarluc sri sc podc reduzir c rcduzir-sca uma extensãoou a figuras; por estemotivo,
a esta igualdadeo quc supõc o mais e () mcn()s,c tud<r trataremos só delas ulteriormente até à regra vigésima
isso está compreendidono nome de grandeza.Deste quinta, deixando de lado qualquer outra c<rnsidera$o.
modr>,uma vez quc, scÍlundo a regra precedente,os ter- -
Descjaríamoster aqui um leitor devotado ao estudo
mos da dificuldadcf<rramabstraídosde todo o sujeito, da Âritmitica e da Geometria, embora eu preferisseque
neste cas()só tcmos, ultcriornrcnte,de nos ocupar das ele não se tivesseainda ocupado delas a não ser através
grandezascm geral. da crudição vulgar. Com efeito, o emPrego das regras
Por outro lado, para que ainda então imaginenros
algo c não utilizcmos<>entendimentopuro, maso entcn-
dimento aiudadopclasespéciesrcpresóntadas na fantasia,
importa obscrvar,finalmente,quc nada se diz das gran-
dezascm geral que não possatámbim rcferir-secspãial- esta perte do nosso método não foi inventadaPor cÍruse
nrentc a clualqucrdclas cm particular. dos problemasnìatemáticos,antes são estesque importa
Âssim, i fácil concluir que seráde não poucx vanta- estudar quasesó por mor de a cultivar. E nada suporei
gem aplicar o que compreendemossobre as grandezas destas disciplinas,cxccpto talvez certos axiomasconhe-
em gcral à cspicie dc grandcza quc, entre todas, mais cidos por si mcsmose ao alcanccde toda e gente; mâs o
fácil e distintamcnte,scrá rcprcscntadana nossa imagi- seu conhecimento,tal como habitualmentese encontra
nação. Esta cspécie de grandeza é a cxtensão real dcr noutros, ainda que não seia alterado por nenhum erro
corpo abstraída- dc tudo o resto,cxceptoda 6gura: isto declarado, é no entanto obscurecido por um grande
dciva do que foi dito na reÍiÍa duodiêima, ent--quecon- número de princÍpios desvirtuados e mal concebidos,
ccbemosa própria fantasiacom as ideias nela existentcs que.nos esforçaremos, de passegeme iâ t seguir, por
como um verdadelro corpo real, ertenso e 6gurado. cornglr.

9t
Por extensão,entendcmostudo o que tem um cont- digo: o qne í exlcnsooatpa lrgar. Todavia, para evitar a
prinrcnto, uma largura e uma profundidade,senr inqui- ambiguidade,não é melhor empreger a expressão:o qsc
rir sc é um verdadeiro corpo ou um cspaço apcnas; é cxtenn, pois ela não significariatão distintamenteo que
c não há necessidade de uma cxplicaçãomais krnga, ao concebemos,ou seia,quc um sujeito ocupa lugar porque
quc parece, pois nada lìá que seja mais facilmente é extenso. Pr>der-se-iaentender unicamente por tal:
pcrccbido pcla nossa imaginação.Todavia, visto que o qrc é exleln é m sajeito qae oatpa lagar, como se eu
()s letrados usanì muitas vezes distinções tão subtis dissessc: ilm scr animadoonpa lagar. Esta razão explica
que obscurcccma luz natural e encontram trevas até por que dissemosque tínhâmosaqui a inten$o de tratar
naquiloquc os incultosnuncaignoram,é prccisoadverti- da extensão meis do que do que é extenso, embora
-los dc que a extensãonão significaaqui algr>de distinto julguemos que ela úo se deve conceberde modo difc-
c scparadodo próprio sujeito,e que não reconlìccemos
rente do que é extenso.
cnr .qcralcntes fikrsóficosdcsta espécie,que não caiam
rcalmcntc no campo da imaginaçã<1. Passemosagora a estas palavras: o corpotcm exten-
Pois, ainda que
alguim possxpersuadir-sc de que,por exemplo,ao reduzir sã0, onde comprecndemos que a extenúo significa algo
a nada tudo o que i extensona naturezl das coisas,não dc difcrente do corpo; não formamos, no cntanto, na
nossa fantasiaduas ideias distintas, a do corpo e a da
extensão,mas unicamentea do corpo extenso. Nem é
diferente,por parte da coisa,do que se dissesse:O corpo
é exlenso,ou rntes: o qtu á extcnn í cxlcnso.É o que
tir atcntamcntesobrc a própria imagemda extensãr), que caracterizaestcsentesque só existemnum outro e nunca
se csf<rrçarápor representarentão na sua fantasia: podem conceber-sesem um suieito. Já não econteceo
notará,com efeito,que não a r'ê privadadc todo o sujcito, mesmocom os que sãorealmentcdistintosdos seussuiei-
rnas quc a imagina de fornra complctamentedivcrsa tos, pois se dissesserpor cxemplo: Pcdro tcm riqacTas,
do juízo que sobre ela profcre, de tal forma que esses a ideia dc Pcdro seria complctamentcdiferente da de
do mesmo modo, se dissesse:Paslo é rico,
entcs abstractos(seja qual for a, opinião do intelecto lque.zasi e,
accrcada vcrdadedo facto) jamais,porim, se frrrmam imaginaria uma coisa completamentediferente do que
na fantasiascparadamente dos seussujeitos. se dissesse z o rico í rico. Â maior parte das pessoasnão
()ra, como ulteriornrentenada faremossem o auxí- distingue esta difereng e opinam erradamenteque a
lio da imaginação,é importante distinguir cautamente extensãopossui algo de distinto do que é ertenso, tal
por nreio de que ideiasas significações particularesdas como as riquezasde Paulo se diferenciamde Paulo.
palar-ras sc dcvem pr()por ao nosso Propomos, Por 6m, se dissermos: a cxlensãonãoí o corpo,então
p<rrisso, examinarestastrês fórmulas:-intelecto.
a cxtensào a palavra extensãotoÍne-senum sentido completamente
octpao
lngar, o corpo tcn cxlensão,c a cxtensãottão é o corpo. diferente do que acima se cxpôs. E ncstc significado
 prinreiramostracomo é que a extensãoi tomada não há ideia particular que lhc correspondenâ fantasia,
por aquil<r que i extenso. r\o dizer: a extensãoocapa mas toda estaenunciaçãoprovém do entendimentopuro,
Itgar, conceboexactamentea mesmacoisa como quando que é o único que tem o poder dc isolar seresebstrâctos
destacspécie.Estaé uma ocasiãode erro paramuita gentc: os que atribuemaos númerosespentososmistériose puros
não notam que a extensão tomada nestc sentido não disparatcsnos quais,certamente,não acreditariam,sc não
p<xlc scr captadapla imaginaçâo,e rcpresentam-nâpor concebessem o número como distinto das coisasnumcra-
uma vcrdadciraidcia. Ì\las, como uma tal ideia envolve das. Do mesmo modo, se tretarmos da figura, pensare-
ncccssariamentc () c<lnccitode corpo, se disscrcmquc a mos que tratemos de um suieito cxtenso, que apenas
cxtensão assim conccbida não é o corpo, imprudcnte- concebemossob a rela$o de ser 6gurado; se abordar-
mcnte cacm no embaraço:dc que a mctna coisaâ simal- m(]s. o corpo, Pensaremos que tÍ:rtamos do mesmo
laneanteale corpoc não corpo. E muito importante distin- sujeito, enquanto comprido, largo e profundo; se nos
guir as cnunciaçõcs, nas quais as palavrasdestacspécie: ocupermos da supcrfície, concebê-la-emoscomo com-
cxtcnsão, fgnra, núnero, sapertícic,lialta, nnidade,ctc., tôm unì prida e larga, deixando de lado á sua profundidadesem,
significadotão rcstrito <1ucexclucmalgo dc que, na rca- no entant(),a negar; se tratarmos da linha, scrá apenas
fidadc,não são distintas,c()m()quando se diz: a exlcnsão cnquanto é comprida; se nos centrarmos no ponto, dei-
ou a f.qtra não á o corpo; o núntto não é a coisarumerada, xaremosdc pane tudo o resto, cxcepto que é um ser.
a st\erjlcie á o lintitc do corpo,a linba o da upcrfície, o lnnto Âpesar da amplidão com que faço todas estasdedu-
o da linlta; a rnidadenão é nna qaantidadc,ctc. Todas estas çõcs, os espíritos dos mortais estão, todavia, tão preo-
proposiçõcsc scmclhantesdcvem Íemovcr-setotalmente cupados que temo que só muito poucos estejam nesta
da imagina$o, para quc sciam vcrdadciras;é por isso matéria suficientementelivrcs de todo o perigo de erro,
quc não tcmos a intcnção dc as analisara scguir. e achem, numa longa exposição, demasiado brcve a
Importa obscrvar ainda cuidadosamcnte: cm todas explicaçãodo meu pensamento.Com efeito, as próprias
es outras prop<lsiçõescm que cstas palavras, cmbora artesda Âritméticae da Geometria,se bem que seiamas
conscrvando o mcsmo significado c sendo do mcsmo mais certas de todas, são aqui, no entanto, uma fonte
modo separadasdos sujcitos, nada, porém, excluem ou de erro. Qual o calculador,com efeito, que não pensa
ncgam daquilo dc quc realmentc não sc distinguem, que os seus números foram, não só abstraÍdosde todo
podcmose dcvcmosscrvir-nosda ajuda da imaginação; o suieito pelo entendimento,mas que é preciso também
porquc cntão, cmbora o cntcndimento só atendaprccisa- dele os distinguir realmentepcla imagina$o? Qual o
mcntc a() quc sc dcsigna pela palavra, a imaginação Geómetra que, apesardos seus princípios, não perturba
deve, nr>cntent(),f<rrmaruma ideia vcrdadeirada coisa, a evidênciado seu obiecto, ao iulgar que às linhas lhes
para pcrmitir ao cntcndimentovoltar-se,quando ncces- falta la.rgurae às su1rcrfíciesprofundidade,embora logo
sário, para as suas outras condiçr-rcsnão expressaspela a seguir as componha umas pelasoutras, sem notâr que
palavra,c não iulgar imprudentemcnte que foram excluí- a linha, a partir de cuio movimento pensaele quc Írasce
das. Por.cxempkr,sc se tratar do número, imaginarcmos a superfície,é um verdadcirocorpo, ao passoque aquela
um sujcito mensurávelpor meio de muitas unidadese, a que falta largura não passade um modo do corpo,
apcsar de r> cntendimento rcílcctir só na sua etc.? ÌrÍas,para não nos determosmaistempo nestespor-
multiplicidadc, acautelar-nos-cmos não^gor^
vá cle, ulterior- menores,expor-se-ácom mais brevidadea maneiracomo
mente,concluir daí algo no qual sc suponhaquc a coisa supomos que o nosso objecto se deve conceber para
numcradacstá cxcluídado nossoconceito. fì, o que fazem demonstrarmosa seu respeito,o mais facilmentcpossível,
t-udo o que há de verdadeiro no campo da Aritmética c medimos os séculos por anos, dias, horas, momentos,
da Geometria. mas se contermosmomentos,horas, dias c anos,acâbâre-
Ocupamo-nos,porranto,aqui de um objectoextenso, mos por tcr séculos.
scm nada mais considerarnele do quc a extensão,e Por aqui sc vê que pode haver no mesmosujeito uma
evitando.dc propósito a palavraquantidade,porque há infinidadede dimensõcsdiversase que nadaabsolutamente
certosFilósof<rstão subtísquc tambémdistinguiramestâ acrescentamàs coisasque as possuem,mas que se com-
da extcnsão.ÌrÍas supomos que todas as qucstõesforam preendem da mesma maneira, quer tenham um funda-
levadasa um ponto tal que nada maiJ sc inquire a mento real nos próprios sujeitos, qucr tcnham sido
não ser uma certa extensãoque importa coúeccr, com- imaginadasarbitrariamente pela nossa mente. E, com
parando-a com outra conhecida.Como, efectivamente, efeito, algo de real o peso do colpo ou a velocidadcdo
não cstanros à espera do conhecimento de um novo movimento ou a divisão do século em anos e dias; mas
ser-,mas só <ìuercmosreduzir as proporções,por compli- não a divisão do dia cm horas c momentos, etc. No cn-
cadasque sejam,ao ponto em que o desconheiidoseequi- tanto, o mesmo acontecea todas as coisas,se as consi-
pare a algo de conhccido,é ccno que todas as diferenças derarmos apenes sob a rela$o da dimensão, como é
dc pr<lporçõcs,que se encontramnoutros sujeitos,podèm preciso fazer aqui e nes disciplinas l\Íatcmáticas; pois,
também encontrâr-se enrre duas ou várias extãnsões. é aos Físicosque cabe sobrctudo examinârse o seu fun-
Âssim, para o n()ssopropósito, bastaconsidcrarna pró- damento é real.
pria extcnsãcl_todos os aspectosque nos podem ajüdar Semelhanteobserva$o lança uma nova luz na Geo-
a expor as diferençasdc proporções,e apresentam-sc apc- metria, iá que nela quase todos concebemerradamente
nas três: a dimensão,a unidadee a figura. três espéciesde quantidade:a linha, a superfÍciee o corpo.
Por dimensão,nadamaisentendcmosdo que o modo Com efeito, já antessc estabelcceuque a linha e a super-
e a nraneirasegundo a qual um suieito sC considera fície não dão lugar e um conceito, enquanto vcrdadeira-
como mcnsurável;dcstemodo, não só o comprimcnto,a mentedistintasdo corpo ou distintasuma da outra. ÌtÍas,
largura e- a profundidade são as dimensões-do corpo, se sc consideraremsimplesmentecomo abstraÍdaspclo
mas. ainda o peso é a dimcnsão scgundo a qual - os intelecto, não são cntão espécicsdc quantidade mais
sujcitossãopesados,a velocidadeé a dimensãodo movi- diversasdo que, no homem, são cspéciesdiferentesdc
nrcnto, e uma infinidade de outras coisasdesdegénero. substânciao animal c o vivcnte. Note-se, dc passa-
Pois, a. própria divisão enr várias parrcs iguais-,quer gem, que as três dimcnsõcs dos corpos, o compri-
seia rcal ou apenesintelectual,é cxactamcnteã dimensão mento, a largura c a profundidadc, não difcrcm entre
segundo a qual contamos as coisas,e esta maneira de si só por palavras:nada impcde, com efeito, de escolhcr
constituir um númcro chama-sepropriamenteuma cspé- num dado sólido qualquer destascxtcnseicspor compri-
cie dg dimensão,se bem que haja àlguma difercnça no mento, uma outra por largura, ctc. E ainda quc só as
significado da palavra divisão. Com efcito, se õonsi- três tenham um fundamcnto rcal em todo o obiecto
derarmosas partesem relaçãoao todo, diz-se então quc extenso, enquanto simplesmenteextenso, no cntanto,
contamos; se, pelo contrário, nos refcrimos 10 toão, não lhes damos aqui maior atcn$o do que a outÍas em
cnquanto dividido em partes, medimo-lo. Por cxcmplo, número iúnito e que são formades pclo intclecto ou
tênr outros fundamcntosnas coisas.Âssinr, num triân- figurasquc nos servemparaas conceber:assim,por excm-
gulo, seo quisernrosmcdir pcrfcitamente,
é precisoconhe- plo, os pontos
cer, por parte da coisa, rrês clementos,que são ou os
ou dois lados e um ângukr, ou dois ângulos
trôs lad<.rs,
c a supcrfície,ctc.; do mesmonr<ldo,é precisoconhccer
cinco num trapizi<1,seis num tetraedro,ctc. Tudo isso
atata
se podc chamardimensões.IÍas, a fim de escolhermos
aqui as que nrelhor ajudam a nossaimaginação,nuncâ
prestcmosatcnçãoa() nìesmotempo a mais do que uma que designamum número triangular, ou a árvore que faz
ou duas, represcntadasna nossa fantasia, ainda que conhecer a genealogiade alguém, etc.,
notásscnrosexistirem muitas outras na proposiçãode
que nos ocuparcmos.É, com efcito, próprio da arte dis-
O PÂI
tingui-lasno maior número possível,de maneiraa quc
examinemosmuito poucasao mcsmo tempo e a todas,
porém, sucessivamente.
r\ unidadeé aquelanaturezacomum na qual, conÌo O FILHO A FTL}T.A
acinra disscnros,dcvem igualmenteparticipar todas as
coisasquc entre si se comparam.Se não houvcr já algu- são figuras para representara pluralidade;mas as que
ma determinadrna questão,podemostomar em vez dela são contínuasc indivisas,como um triângulo, um qua-
quer uma das grandezasií dadas,quer outra qualquer, drado, ctc.,
e seráa medidacomunì a todas xs outras.Compreendc-
Íenìosque nelaexistemtantasdimensiresquantasexistcm
nos extrcmos â c()mpârar entre si. Concebê-la-cmos
também, quer simplesmentecomo algo de extenso,
abstracçãofeita de tudo o resto, e então será idêntica
ao p()ntodos Geómetras,cuio movimentolhcs servepara levam ao conhecimentodas grandezas.
conìpor a linha; quer c()mo uma linha, ou como um Âgora, a 6m de expormos quais são, de todas estas
quadrado. figuras, aquelasde que aqui nos vamos servir, é preciso
No tocantcàs6guras,iá semostrouacimacomo é que saber que todas as relaçõespossíveisentre seres do
só por elas se podem f<rrmarideias de todas as coisas. mesmo género sc devem referir a dois pontos cssenciais,
Resta-nosfazer aqui uma advertência:é que, das suas que são a ordem e a medida.
diversas espéciesinumeráveis,só cmpregaremosaqui Importa, além disso, saberque, na cogita$o de uma
aquelaspelas quais mais facilmentese exprimem todas <-rrdem,não é pouca a actividade, como ver se pode
as difcrençasdas rclaçõesou proporções.Ora, há apenas aquì ou acolá no nosso método, que quase nada mais
dois géneros de coisas que entre si se comparam: as ensina,eo passoquc no conhecimcntode uma ordcm, após
pluralidadese as grandezas.Temos,então,dois génerosde â sue descobcrta, não cxistc absolutamentenenhuma
dificuldade,e a nossamente pode facilmente,segundoa pelasmesmasfiguras que é preciso reprcscntar,ora gren-
regra sétima,percorreruma a uma as partesordenadas. dezas contínuas, ora também unìa pluralidade ou um
É que, ncste género de relações,umas referem-seàs número, e nadahá de maissimplesque a indústriahumana
outras só por si, sem mediaçãode um terceiro termo, possaachar para cxpor todas as difcrençasque existem
como acontecenas medidas,de que, por iss<>, nos limita- entre as relaçõcs.
remosa dar aqui a cxplicação.Reconheço,com efeito,qual
a ordem quc existeentrc  c B, sem outra consideração
que a destesdois extremos;mas não reconhcçoque rela-
$o dc grandezahá entre dois e três,sem ter consideradcr
um terceirotermo, que é a unidadegue servede medida
comum aos outros dois.
Importa também saber que as grandezascontínuas
podem,devido a uma unidadede empréstimo,reduzir-se
por vezcs totalmentea uma pluralidade,e semprepelc>
menos parcialmentc. pluralidadedas unidadespode,
dcpois,dispor-senuma tal ordem que a dificuldade,que
sc relacionavacom o conhccimentoda medida,depcndc
apenasdr <>rdem:é nesteprogressoque e arte nos i do
maior auxílio.
Por 6m, há que saber que, entre as dinrensiresdc
uma grandeza contínua, não ltá outra que se conceba
mais distintamentedo que o comprimento e a largura,
c quc não é precisoatendera váriassimultaneamcnte na
nrcsma 6gura, para comparar entre si duas difercntes.
O que a ârte diz e que, se tivermos mais de duas
d.iferentcspara entre-si conrparar,.se percorrem suces-
sivamentec se atende apenasa duas simultaneamente.
Dcpois destasobservações,é fácil concluir gue, nes
proposições,não se dcve fazer menosabstracçãodas pró-
prias figuras de quc tratam os Gcómetras,se delas se
6zer questão,do que dc qualqueroutra matéria.Nem há
que guardaralgumapara nossouso, salvo as superfícies
rcctilínease rectangularesou, então, as linhas rectas,
que tambim chamamos6guras,pois não nos são menos
úteisdo que as superfícicspara imaginarum suieitover-
dadeiramenteextenso,como acima se disse. En6m, é

t02 103
sos olhos mcdiantcum rcctângulo,cuios dois lados serão
as duas grandczaspropostas;desta mancira t3,
se forem incomensurávciscom a unidadc; d.r," ,
Fllìll
ou destoutra : : : , sc forem comensurávcis; sem
mais nada, se só cstiver em questão uÍne pluralidade
de unidadcs.Findmcnte, sc prestarmosatcnçãosó a uma
das suas grandczas, rcprcscntá-la-cmosou por um Ícc-
tângulo, dc quc um lado é a grandezaproposta c o outÍo
a unidade, dcsta mancin , o que se faz scm-
pre que é prcciso comparáJa com urÌa supcrfÍcic; ou
-l
por um só.comprimcnto, da mancirascgúnte ,
.
REGRÂ XV se se considerar apenascomo um comprimcnto incomcn-
s u rá v e l;o u , e n t ã o ,d a m a n e i r as e g u i n t eo . o . o , s c
for uma plunlidade.
É também útil quase Bempre tÍaçar estas figuras
e apresenú-las aos sentidos externos, para que
seia mais fácil, por este meio, consewar âtento
o nosso PenEemento.

O modo como se dcvem representarestas 6guras,


para que, ao pô-las mesmo debaixo dos olhos, as suas
imagens se formem mais distintamentena nossa imagi-
nação, é por si evidentc. Primciramente, Ìepresentare-
mos a unidade de três maneiras, quc são: por um
quadrado D, sc a ela atendermos enquanto comprida
e larga; ou por uma linha , se a conside-
Íarmos apenesenquento comprida; ou, enfim, por um
ponto O , se só pretendcffnos com ela formar uma
quantidade.ÌtÍas, dc qualqucr maneiraque sc represente
e conccba, scmpre compreendereÍnosque é um suieito
extenso em todos os scntidos e susceptÍvelde uma infi-
nidade de dimensões.Âssim ainda, os termos dc uma
proposição,sc for precisoatendersimultancamente a duas
das suas grandezasdiferentes,epresentâr-se-ão aos nos-

105
nossa fantasia livre c totalmentc cntÍegue às ideias prc-
sentes,represcntâremos no papel tudo o quc for preciso.
E isto por meio dc notas muito brevcs para que, epós
havermos cxaminado distintamentc cada coisa cm pafti-
cular,. scgundo a regrâ nona, possamos, scgundo. a
undécima, tudo . percorÍer por um movimento muito
rápido do pensamentoe ver simultaneamente por intuiçâo
o maior número possívclde objectos.
Âssim, tudo o que for ncccssárioconsiderarcomo
unra unidade para a solu$o dc uma dificuldade, dcsi-
gná-lo-cmos por uma nota única, quc pode representar-sc
à vontade. I\Ías, para mais facilidadc,servir-nos-emosdas
letras a, b, c, etc., para exprimir as grandees ií conhc-
REGRA XVI cidas, e das letras A, B, C, ctc., para exprimir as incó-
gnitas. Fá-las-emospreceder frcqucntementedas nota-
ções numéricasr, 2, ), 4, ctc., Paracxplicar a pluralidade,
O que não requer a atenção imediata da mente, e acrescentaremosas mcsmã; notações para significar
embora necessário à conclusão, mais vale desi- o número de relaçõcsquc seráprcciso nelascompreender.
gná-lo por notações muito breves do que por Por exemplo,se cscrever:zat, sctí como se dissesse:
figuras inteiras; assim a memória não poderá o dobro da grandeza reprcsentadapcla letra,a e quc con-
enganaÍ-se nem o pensamento distraiÍ-se en- tém três rclações.Por estemeio, não só farcmoscconomia
quento se aplica e outtas deduçõcs. de muitas palavras mas, o quc é o principd, eprescnta-
remos os termos da dificuldadcsob uma forma tão pura
Quanto a() mais,como dissemosque não se deviam e tão simples que, sem nada se omitir dc útil, jamais sc
contemplarnuma só e mesmaintuição, quer visual quer cncontre nelesalgo de supérfluoc que ocupc inutilmente
intelectual,mais de duas dimensõcsdiferentcsentrc as a capacidadedo cspÍrito, enquento a nossa mente tiver
inumerár'eis dinrcnsões que se podem representar na dc abarcar vários obiectos ao mcsmo tempo.
nossafantasia,i importante reter todas as outras, para Para mais ctaramentese compÍecndcr tudo isto, é
<1ucfacilnrente nos ocorram, sempre que necessário;e preciso notar, primeiro, que os C-alculadores costuÍnam
f<ri para cstc 6m que â neturcza parece ter instruído a designar as grandezasem particular por várias unidades
memória. Àlas, porque esta frequentementese apaga e ou por um número detcrminado,ao pâssoque aqui não
para não nos forçar e gastar uma parte da atcnção em as abstraímos menos dâs figuras geométricas ou de
reavivá-la, enquanto estâmos ocupados com outros qualquer outrâ coisa.Fazemo-lo,qucr para evitar o abor-
pcnsament()s, a arte descobriumuito a propósito o uso recimento de um cálculo longo c supérfuor guer sobrc-
da escrita. Fortalecidospor este auxílio, não confiaremos tudo para que as partes da matériarÇuc dizem respeito
aqui abs<llutamentenada à memória, mas deixando a à naturezada dificuldade, permaneçamsempre distintas
e não sejamcarregadasde números inúteis. Por exemplo, cional essa grandez que, em Álgebra, se chama raiz;
se se pr()curara basede um triângulo rectângulo,cuios segundaproporcional,a que sc chama quadrado,e assim
lados dadossão 9 c 12, o calculadordirá que ela é igual por diante.
\q ou rt; âo passo que nós poremosa e b no Importa, 6nalmente, observar 9uc, embora aqui
^lugar de g e rz e acharemosque a basedo triângulo i façamos abstracçãode certos números nos termos de
igual à \/ dL+ e estasduas partesa2 e b2 perm - uma dificuldade para examiner e sua natureze,acontece
necerãodistintas,as quais se confundem no número. frequentemente,porém, que ela se possa resolver mais
Note-seaindr que, por númerode relações, se devem simplesmentecom os números dados do quc se deles
compreenderas proporções que se seguem em ordcm f<rr abstraÍda; o que se explica pclo duplo uso dos
contínua. Outros, na Âlgcbra vulgar, esforçam-sepor números e e que iá antes fizemos alusão: cxplicam, ora
as exprimir mediantevárias dimcnsõese várias 6guras, a ordem, ora a medida. Por corsequência,depois de ter-
dasquaischamam,à primcira, niz;à segunda,quadrado; mos investigadoa dificuldadeexpressaem termos gerais,
à terceira,cubo; à quarta,biquadrado,etc. Estesnomes há quc a reduzir aos números dados, para ver se eles
enÍÌanaram-mea mim durante muito tempo, confesso-o, porventura nos fornecemalguma solu$o mais simples.
pois, não me parcciaque se pudesseapresentaralgo dc Por exenrplo,depois de termos visto que a base do
maisclaro à minha imagina$o, depoisda linha e do qua- triângulo rectângulo,em função dos lados a e b, é iguel
drado, do que o cubo e as outras figurasconstruídasà sua a,{ az&, é prcciso,em vez dea2, pôr 8r e, em vez
semelhança; e, claro, resolvi com o scu auxílio um bom de h2, r44; estesnúmerossomados dão zz1, cuia raiz
número de dificuldades.ÌrÍas, depois de muitas experiên- ou midia proporcionalentre a unidadce 22r, é ry. Fica-
cias, reconhecique, por csta maneiradc conceber,nunca rcmos assima saber quc a base r 1 é comensurávelcom
encontrara nada que, sem ela, não pudesse conhecer <rs lados g e 12, mas não de uma maneira geral pelo
muito mais facil c distintamente,e que sc deviam reieitar facto de ela ser a base do triângulo rectângulo, no
tais denominaçõcspara que não perturbem o conceito, qual um lado estápara o outro como , p^Í 4. Fazemos
pois a mesma grandeza,quer se chamc cubo ou biqua- todas cstas distinções,nós, que procuramos o conheci-
drado, nuncadeve,no entanto,aprescntar-se à imaginação mento evidentee distinto das coisas,mas não os Calcula-
senão como uma linha ou ume supcrfície,segundo a dores, que 6cam contentesdesde que se lhes ofereçaa
regre precedente.Há que notar sobretudo que a raiz, somr desejada,mesmo sem se notar que ela depcnde
o quadrado,o cubo, etc., não são mais do que grandezas dos lados: no entanto, é o único ponto em que reside
c<.rntinuamente proporcionais,que supomossempredo- propriamentea ciência.
núnadaspor csta unidade de empréstimo,de que já falá- Pclo contrário, importa obscrvar geralmente que
mos acima. E a esta unidadc que a primeira grandeza nunca se deve coúar à memória nada daquilo que não
proporcional se rcfere imediatamentee por uma só rela- cxige uma atençãocontínua,se pudermos.pôlo no papel,
ção; mas,a segunda,por intermédioda primeira,e, por- para evitar que uma parte do nosso espírito se subtraia
tanto, por duas relações;a terceira, por intermédio da ao conhecimentode um obiecto presenteem virtude de
primcira c da segunda,e por três relações,etc., etc. uma recordaçã<l inútil. Há também que fazer um sumário,
Chanraremos,pois, daqui em diante, primeira propor- onde escreveremosos termos da questão,tais como nos
tcrão sido propostosna primeira vez; em seguida,c()mo
é <1uese abltraem e por que notaçõcsse desii3nam.Desta
foinra, dcpois de se ter achado a solução 1{raçasa-estas
n'rcsmasnotações,aplicaremosfacilmcntc csta stilução,
scm intervcnçãoda memória,ao suieitoParticularde que
estivermos a tratar, pois nada se abstrai a não scr de
uma matériamenosgcral. Eis, pois, o que eu escrcvcria:
procura-sea base r\C de um triângulo rectângulo ÂllC
c abstraio a dificuldadede maneiraa Procurar em geral
a grandczada base,a partir da grandezados lados; em
seguida,em vez de A B, que é igual a !, ponho d e, em
vez dc B C, quc é igual a te, ponho b, e assim por
diantc.
REGRA X\ryI

A di6culdade proposta deve eer directemente


perconida, ptescindindo do facto de alguns dos
seus terÍnos serem conhecidos e outros desco-
nhecidos, examinando intuitivâmente a interde-
pendência de cada um delce em relação eos outÍos,
mediante verdadeiros mcioclnioe.

Âs quatro regras precedentesensinaram-nosconìo


Notc-sc quc temos ainda a intençãodc nos scrvir- é que as dificuldadesdeterminadase perfeitameÍÌtecom-
rurosdas quatro regrasprecedentes na terceirapartedeste preendidasse devem abstrair de cada um dos seussuici-
Tratado, iornando-as de uma maneira um pouct>mais tos cm particular c reduzir ao ponto de nada mais se
rnrpla do que aquela por que fcrram r<1uiexplicadas, procurar ulteriormcntc scnão ccrtas grandezasa conhe-
com() sc dirá n() scu devido lu.qar. cer, estabelecendoesta ou aquela rcla$o cntrc elas c
ccrtas grandezasdadas.Agora, nas cinco regres seguin-
tes,exporemoscomo é que as mesmasdi6culdadesdevem
ser tratadas,de maneira a subordinar umas às outtes,
nurle só proposi$o, todas as grandezasdesconhccidas,
scia qual f<rro seu número, c de maneirae que, estandoa
primcira cm relaçãoà unidade como a segundacm rcla-
ção à primcira, a terccira cm rclaSo à scgunda, a querta

n0 ur
crìl rclaçãoà terceirae, assimpor diante,se forem tantas, das coisasconhecidosque são por estascompletamcnte
tenham unla soma igual a alguma grandezaconhecida. determinadas.Dcste modo, se rcflectirmos sobre clas
Isso far-se-á por um mdtodo tão certo quc, de cen<> mesmas,que primeiro nos ocorrem, cnquanto rcconhc-
nrodo, tcnhamosa possibilidadede a6rmár com selÌu- cemos csta determina$o, e se as contarmos cntre as
rançaque nenhumaindústriaas teriapodido reduzira ter- conhecidasainda que desconhecidas, para daÍ deduzirmos
mos mais simples. pouco a pouco c pelos verdadeiros raciocÍnios todas es
Quanto ao presente,note-seque, em toda a ques- coisas mesmo conhecidas, como se fossem desconhcci-
tão a resolverpor dedução,existeuma via scm obstácul<r das, cumpriremos tudo o que este Ícgr:r prcscrcve.
c directa, por meio da qual nos é permitido passar() Quanto aosexemplosde muitasoutrascoisas,de quc tcmos
mais facilmentepossívelde um termo â outr(), ao passo a intenção dc falar a seguir, reservamo-lospara Íeçr^
quc todas as outras vias são mais difíceis e indirectas. ^
vigésima quarta, porque aÍ mais facilmente se exporão.
Par:risto compreender,é preciso recordar o quc se disse
na reÍ{ra undécima,onde expusemoscomo se deve fazer
o encadeamentodas proposições:se cada uma delas enr
particular se comparar com as vizinhas,fácil nos será
perccbercomo é que também a primeira c a última se
relacionamentre si, embora não seja tão fácil deduzir
as intermédiasa partir das extremas.Assim, se con-
siderarmosintuitivamente e sua dcpendênciarccíproca,
sem intcrromper a ordem em nenhuma parte, para daí
inferir como é que a última dependeda primeira, per-
c()rrcnrosdircctamentea dificuldade. Pelo contrário, se,
sabendoque a primeira e o última estãr-runidas entrc
si dc uma nraneiradeterminada,da;lquisermosdeduzir
cluaissãoas intermediárias que as unem, seriaentãouma
ordenr completamenteindirecta e invertida que segui-
ríamos. Como nos ocupamos aqui apenasdas questr)es
complicadas,nas quais se conheccm os extremos e se
devc chcgar a conhecer cerros intermediários,no meio
dc unra ordcnr perrurbada,todo o artifÍcio neste lugar
consistirá,supondoconhecidoo que é desconhecido, em
pr.rdermosassim propor-nos uma via fácil c dirccta de
invcstigação,mesmo nas dificuldadesmais embrulhadas.
Nada impcde que isso sempreaconteçâ,pois supuscmos,
desdco início destapane, poder reconhecerque as coisas
desconhecidas numa questãocstão numa dependênciatal

I1 2 ilt
e o excessodeste todo sobre essa mesma parte: isso
faz-sepela subtrac$o. Não há mais proccssosdc deduzir
uma grandezadc outres, tomadasabsolutamcnte,e nas
quais de cefta maneiraestá contida. Mas, se for preciso
encontrar alguma por meio dc outras de que ela é com-
pletamentc difcrente e nâs quais de nenhum modo
está contida, é necessárioque alguma relação a ligue
a estas: se for necessárioprocurar directamenteesta rcla-
fo, há que usar a multiplica$o; se indircctamente,e
divisão.
Para expor claramentecstcs dois pontos, é preciso
saber quc a unidade, de que iá fdámos, é aqui a base
e o fundamentode todas as relaçõcs,e que, nâ série dâs
REGRA XVIII
grandezas continuamente proporcionais, ela ocupa o
primeiro grau, âo passoque as grandezasdadasse encon-
Para isso, exigem-se apenar quatÌo operações: a tram no segundo,e as grandezasprocuradasno terceiro,
adição, a subtracção, a multiplicação e a divisão: quarto e dcmais greus, se a proporção for directa; se,
as duas últimas, muitas vezes, não se devem aqui por outro lado, for indirecta, a, grendezt procurada en-
faze4 quer paÍa não complicar, quer poÌque contra-seno segundo Íyau e nos grâus intermediários,
podem, ulteriormentc, ser mais facilmente efec- ao passoque e grandezadada está no último.
tuadas. Com efeito, se se disser: a unidade está para a gran-
deza dada, d ou t, tal como b ou 7, grandczatambém
 nrultiplicidadedas regrasprovém, muitas vezes, dada, está para aquele que é procuradâ, ou seja, a b
da incompctência dc um trÍestrc,c o que sc pode reduzir ou lÍ, então a c b estío no segundograu e o rcspectivo
a urÌì prcceito geral único fica menos claro, quando se produto a b no terceiro. Do mesmo modo, se se acres-
dividc cm numerosospreceitosparticulares.É por isso centar: a unidadc está para r ou 9, como ab ou rt estão
<1uctodas as opcraçõesdc que é preciso servir-se para pera a grandezaprocuradaabcou rrt, então abc estí no
pcrcorrcr as questões,quer dizer, para deduzir certas quârto grau, e obtém-seeste produto pelas duas multi-
grandczasde outras,as.reduzimosaqui-a quetro pontos plicaçõesde ab e de r, que estãono segundograu, e assim
essenciais:a sua cxplicação farâ conhccer como são por diante. Do mesmo modo: a unidadeestáper:ra ou t,
suficientcs. tal como d ou t estãoparaa2 ou zy; e ainda: a unidade
Com efeito, suponhamosque chegamosao conhe- está pere r' ou , tal como a2 ou 2t p r a! ou rz1;
cimcnto de urna só grandcza,possuindoas partes de assim, a unidade está para a ou !, tal como a3 ou
que ela é composta: isso faz-sepela adição. Suponha- r2t estãopa;a,aa ou 6z;, etc.Com efeito,a multiplica$o
mos que rcconhecemosutna perte possuindo o todo não se Íez dc mancira diferentc quer se multipliquc a
IU tI5
mcsma gr^ndeza por ela própria ou se a multipliquc Sc for prcciso fazcr uma adi$o ou uÍna subtrac$o,
por outre completamentediferente. conccbcmos o suicito como uma linha, ou como urn
Agora, sese disser:a unidadeestâparaa ou t, divisor grandcza ertcnsa, na qud apeÍus sc considcra o compri-
dado, tal como B ou 7, que é uma grandezaprocurada, mento, pois, sc for preciso juntar a linha a \ linl:a b,
estão para ab ou 3y, dividendo dado, então, a ordem é
invertida e indirecta: é por isso que só se obtém e gren-
dezaprocuradaB peladivisão de ab,grandezadada,por a,
grandezetambém dada. Do mesmo modo, se sc disser: junamo-las uma à outra dcsta mancitz, ab,
a unidadeestápara  ou ;, grurdeza,procurada,tal como
A ou ;, grandezaprocurada,estáparaa2 ou 21, grandeza, +^---b--
dada; ou melhor: a unidade está para  ou 1, grandcza
procurada, tal como Â2 ou 2J, grandcza procurada, c obtém-ser
está para al ou rz;, grandeza,da;ü3 e assim por diante. t
Englobam-setodas estasoperâçõesno nome de divisão;
apesarde tudo, há que vcr que os últimos casosdesta
espécie encerrem mais dificuldades que os primciros, ÌtÍas, sc a mais pequcnetiver de ser extraÍda,a saber,
porque nclcs se acha mais vezes a grandezaprocurada, bdca,
que contém, por consequência, mais rclaçõcs.Com efcito,
nestesúltimos exemplos,é como se se disscsscquc é
preciso extrair a, ra:iz quadrada de a2 ou 2t, ou l
raiz cúbica de a! ou de r2t, c assim por diantc: é aplid-las-cmos uÍna sobre a outra desta mancira
a maneira de falar de que se servem os Calculadorcs. ) .
Para explicaÍmos isto na linguagem dos Geómetras,é b.
como sc se dissesscque é prcciso achar uma média pro-
porcional entre esta grandezadc cmpr&timo que cha- c tcmos assime partc da maior quc não podc scr reco-
nremos unidade, c a que designamospor a2, otJ,então, bcrta pela mais pcqucna,ou seia:
duas médiasproporcionaisentre a unidade c d!, c assim
por diante. (-)
Dondc se obtém facilmentea conclusãode que cstas .
duas opcraçõessão suficientespara achar qualqucr das
grandezas que se dcvcm deduzir dc outras grandczas,
em virtude de certa relação.Comprecndido isto, vamos
prosseguir,expondo como é que estasoperaçõcsdcvcm
ser analisadaspela imaginaçãoe como também é prcciso
mostrá-las aos próprios. olhos, para explicarmos iá a
seguir o seu uso ou prática.

II6 It7
dispomo-lasuma com a outra segundoum ângulo, desta Por 6m, na divisão cm quc o divisor for dado, ima-
manetra: ginamos que a grendczea dividir é um Ícctângulo, em
que um lado é o divisor e o outro o quocicnte. Se,
a
+.rzy.Ã por exemplo, houvcr quc dividir o rectânguloab por a,
o
ll
t;
---l----r--
li
1l

e obtêm-seo rcctângulo
retiramos-lhe a largurl a, e 6ca â como quocicnte:
c
b
i;l i G----

---+ ---J ----


!i ou, pelo contrário, sc for precisodividir o mesmorcctân-
ll gulo por b, rcúrt-lhe-cmos a altura b, e o quociente
seÍ^ a,
Do mesmo modo, se quiscrmosmultiplicar ab por c,
a
3

Quanto às divisõcscm que o divisor não é dado, mas


é preciso conceberab como uma linha, que é ab apenas designado por uma rela$o, como quando sc
ob diz quc é precisoextrair t rziz quadradaou cúbica,etc.,
então há que ver quc o termo a dividir c todos os outros,
se devem semprcconccbcrcomo linhas que se encontram
de maneira a, ter para,abez numa série de grandezascontinuamcntc proporcionais,
eb em que a primeira é a unidade e a última,é a, grendeza,
a dividir. Quanto à maneira de encontrar entre este c a
o
i;i
lll
i!l i unidadc tantas médias proporcionaisquantasquisermos,
J - - - t- - - - t- - - -i---+ --- scrá crplicada no seu devido lugar. Que bastepor egora
iii :;
ll
ll
J----L---.
o facto dc termosadvertidonão haverneccssidadc de cami-
nhos indirectos e rcflcxos da imagina$o; por agora, tra-
tl
rl
tl
temos apenasdas qucstõesa percorrer directamente.
ir l--- +--- Quanto às outras operaçõcs,podcm, sem dúvida
alguma, lcvar-se a cabo da maneira extremamentefácil
tl
como dissemosque se devemconccber.Resta,no entanto,

ilt t 19
expor como é que os seustermossc devem preparar,pois,
ainda que tenhamosa liberdadc, ao lidar com uma difi-
culdade,de conceberos seustermoscomo linhasou como
rectângulos,sem nunca lhes atribuirmos outras 6guras,
como dissemosna reÍÌra décima quarta, acontecemuitas
vezes no raciocínio que um rectângulo, dcpois de tcr
resultadoda multiplieÉo de duas linhas, se devc concc-
ber como uma linha, pxa,frzer unìe outre operação.Âcon-
tcce ainda que o mesmo rectângulo,ou â linha resultante
de uma adição ou de uma subtracção,deve logo conce-
ber-secomo um outro rectânguloa construir sobrc uma
linha designada,pela qual é prcciso frzer a.divisão.
E, pois, importante expor aqui como é que todo o
Íectângulo se pode transformar cnr linha e, por sua vez, REGRA XIX
como é quc uma linha ou mesmoum rectângulose podem
transformar noutro rectângulo de lado designado. Isto
é muito fácil para os Geómetras,desde que façam esta Por este método de raciocinat, impona procutaÌ
observa$o: por linhas, sempre que as comparamosx teÍrtas gtandezas expressÍrs de duas maneiras
algum rectângulo,como aqui, entendemossemprerectân- diferentes quantos oEteÍÍnoE incógnitoe que su1xF
gulos, enì que um lado é o comprimentoque tomámos mos coÍno conhecidos, para per@rÍer directa-
por unidade.Assim, tod<-restetrabalho se reduz à propo- mente a dificuldade; ter-se-ão assim outras tan-
siçãoseguinte:dado um rectângulo,construir outro que tãl compâreções entre duas coieâ8 iguais.
lhe seia igual, sobre um dos lados.
Sebem quc seiafamiliar até aosprincipiantesna Geo-
metria, agrada-meno entanto expô-lo em pormenor, re-
ceandotcr omitido algo.

tm I2t
REGRA XX REGRÂ XXI

Reeolvidas as equaçõcs, há que dectuar as oPe- Se tivermos vilriae equaç0ce deeta eepécie, M
raçõeequc deixámoe de lado, nrülce utilizando a que reduzi-las a uma únlcq a saber, àquele crrioo
multiplicação eempre que parâ e divisão houver termoo ocupaÉo o menor número de gtaue na
lugar. séde das gnndczas continuamente ploporcio-
nais, eegundo a qual or mesmor tetuos se devem
ordenar.

FIM

122 t23
Éo da rrcnte, a 6m dc dcrcobrirmor algurna vcrdedc.
E obscrúlo-cmos ficlmcntc, ec reduzirmos gradual-
mcntc as proposiçõcs complicadru c obscures . pÍo-
posiçÕcsmais simplcs e sc, cm eeguida, a partir da
inruiflo drs mâis simplcs dc todas, tcnt rÍnos clevar-
-nos pclor mermo3 dcgraus ao coúccimcnto dc todac
as outtas ,l

REGRA VI
Para dirtinguir as coisas mais simplcs dac mais cornple-"! c
prosseguir ordenadamcntc na invcstigaçilo, é rrcccssário,
cm cade réric dc coisas em guc dirccumcntc dcduzimos
ÍNolcn elgumru vcrdades umar der outr.!, not r o que é
meir rimplcs c como todo o resto dcle cstá mais, ou
mcnol, ou igualmentc afastado . ... ,,
Brcvc notlcia .
REGRÂ VII
REGRA I
Pare complcter a ciência, é preciso enaliser, ufiu lror rüne,
 finalidadc dos csrudos dcvc scr a oricntaçlo do esplrito todes as coirar quc se rclacionm com o norso obicctivo,
para emitir júzos sólidos c vcrdadciros sobrc tudo o por utn movimcnto contlnuo c jamais intcrrompido do
quc se lhc depara . ... tt pcÍuraÍncrÌto,ebarcandoas nurnâ cnunrcragãoeu6cicntc e
mctódica . ... t9
REGfu\ II
REGRÂ VIII
Importa lidar unicamcntc com aquclcs objectos para cuio
coúccimcnto ccrto c indubitávcl os nossos csplritos Se, nr séric dc objcctos . prosuÍlr, deparermos com dgume
parcccm ser suficicntcs. r4 coise quc o nos3o cntcndimcnto não possl inruir sú-
cicntemcnte bcm, há quc dcter-sc al, scrlr creminar o que
R E G R A III scgue c cvitendo um trebalho rupérfluo. 4'
rr-o quc rcspcita ros obicctos coruiclcrados,há quc procur.r
REGRâ IX
rüo o quc os ()utros pcÍuaram ou o guc nós próprios
susJrcitamos, mas aqúlo dc quc podcmos tcr urna innri- É prcciso dirigir tode a acuidedc do csptrito pa.raar coisas
çào clara c cvidcntc ou quc podcmos dcduzir conr mcno3 importantes c mais fáccis c nelas nos dctermos
ccÍtc?r; dc neúum outro modo sc adguirc a ciêncie r8 tcmpo guficientc até nos habiruarmoc . ver a verdadc
por inruição de um.a maneira distinte c clrra... t,
R E G R Â IV
() méto<loé ncccssárioparâ â procura dz vcrdadc...
REGfu\ X
zt
Para que o esplrito sc tornc pcrspicaz, devc exercitar-sc crn
RËGRA \' procuÍar o quc iá por outros foi encontrado, c em pcr-
corrcr metodicarncnre todas as arrcs 0u oflcios dos
Todo o m&odo consistc na ordcm c na disposiflo dor homcns, aiqdâ os meno! irnponantcs, mas sobrctudo
objcctos para os quais é ncccssário dirigir e pcnctrl- os que manifestam ou 3upõcm ordcm ... t7
REGRJì XI REGRÂ XVI

Dcpois ü innriflo dc dgumer propociçõce rimplcr, rc dch! O quc nlo rcqucr I stcoÉo inÊdi.t de mcntc, cmbora
tirarmoc ouue conclurão, convérn pcÍcoÍrcr l! rncr- ncccssário à conctuslo, mdr valc dcsigúJo por nou-
rn:rg com o pcnsanento num movincnto contlnuo c em çõcs muito brevcr do quc por figuras inteirar; rssim .
ncrúum lado intcrrompido, ÍcncctiÍ na! ruâ! rclaçõcs memória rúo podcrl cÍUenrÍ{c ÍÌcm o pcnramcnto
múrua1, c concrbc( distintemcntc vátier cois$ eo mclmo dirtrair-cc cnquento rc epüce I ourre3 dcduçôcs ... ro6
tcmpo, tanto qu.Ílto ec puder; cfcçtivementc, é e,srirngue
o no33o coúccimcnto rc torna múto meis certo c te REGRÂ XVII
aurncnta a capacidedc do crptrito ... 6t
A dificuldedc propo3ta dcvc rer dircctemcatc pcrcorrida,
prcrcindindo do ficto dc dgunr dor rcur tcrmos rercm
REGRÂ XII coúccidoo c outror dcrconhccidos, e..'nirundo intui-
tivemcntc e intcrdcpcndêncie dc cadr um delcr cm rcta-
Finalmcntc, há quc utilizat todos ot Íqnrnor do cntcndi- çlo sos outÍor, medientc vcrdrdciros racioctnior... rrr
mento, da irneginet'o, dol rcntido! c da mcmória,
qucr plrr tcÍÍnor uma inruiçlo dictina der propooiçõcr REGRÂ XVIII
rimplcs, qucr pam estâbcleccÍÍrot, entre a! coisú quc rc
procurern c ac coúccidu, r.rna ligaÉo adcqpâdr quc rr Pere iro, erigcm-ac .pcn t quâtro operaçõct: a edigo, e
pcrmita rccoúcccr, qucr ainde pirrl encontr.Í er coir.! rubtraogo, e multipücaSo e e divislo: ar dues últi-
guc cntrc ci sc dcvcm compaaâÍ, e fim dc cc Íüo omitir mes, mütel vecr,, nlo se dcvcm aqui fazcr, qucr p1m
nenhum recurco de indústri. hurnene 61 alo complicar, qucr porque podcm, ultcriormcntc,
ser mdc facilmentc efecnraüs... rr4

REGRÂ XIII REGRâ XIX

Sc comprccndcrmor pcrfcitemeotc uma quertlo, dcvernoc Por erte método dc raciociner, inporte procunr tmtas
abstrat-la dc todo o conccito rupérfluo, rcduzi-le à grrÍtdcz.! erprcs3â! dc duac mmeires difcrcntcs quen-
meior rimpücidadc c dividi-le cm paÍtcr tlto pcqucnas to3 or tcrÍnoE incógnitor quc supomor como conhcci-
qulnto posslvcl, courncrando.as t3 dor, pan pcroorcr dirccaÍncntc a dificuldedc; tcr-sc-lo
acsiÍn outÍls t.'rter comparaçôcr cnue duas coirar iguais r2r
REGRA XIV REGRÂXX
 mcsme rcgre dcvc rpücar+c À cxtcasão rcal doc corpo! Rerolvi.l"r u cquaçõcr, M q* cfccnrer es opcraçôct quc dci-
c propor-se à imrgineção com . eiude dc 6gurer purrs úmos dc hdo, nunca utilizendo a multiplica$o rcrr-
e simplcs; ccrá ersim pcrccbide muito meic dirtinta- prc que para a divillo houvcr luger ... r22
mentc pelo cntcndimento ... 90
REGRá, XXI
REGRÂ XV Sc tivcrmos v&ies cqneçôcr dcste erffcie, M quc rcdnzi-hr
I unn única, a rabcr, àqucb o.rior tcrmot ocuparão o
É tembém útil quasc scmprc tmçú cst ! figrrar c sprcrcn- mcnor númcro dc grar.u oe réric des grandcza,s conti-
táJas aog ccotidor crtcrnos, pare quc oeia mair fÁcil, ouârncntc proporcioneir, rcguodo . qu.l or melmoE
POr CstC meiO, COrUCnrar|rtcroto O nOSEOpCtÌ&UnCntO tcÍrnot cc dcvcsr ordcner... 12,
EstobroìrÊ€soito,queficoulumdú,
lraçacomdarezae píogÍamaticamsnte
o grandeklealdeDescatbcpecpediw
a mulüpli:idade
dasdôndasnaunldade
dalurnanasabedoda.

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