CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO SOBRE AGITAÇÃO DE

FLUIDOS DE ALTA VISCOSIDADE E NÃO-

NEWTONIANOS
Drª Neusa Maria Pavão Battaglini
Dr Paulo Cezar Razuk
Univ. Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho

ABSTRACT

When synthesizing results obtained in dissertations and theories (presented in the Program of Masters
degree), this revision article intends to systematize the agitation of high viscosity and non -Newtonian
fluids. After quantifying, objectively, the agitation level, brings calculation itinerary for the universal 45
deg. pitched four bladed impeller, used in fluids with viscosity up to 100 kg/(m.s). This article
characterizes the fluids non-newtonian and presents applications with details of anchor applications.

Keywords: impeller; agitation level; anchor.

1 Introdução problema de agitação. Essa resposta é

A maioria das operações na indústria requer
agitação do produto para cumprir uma das
seguintes finalidades: mistura de líquidos,
formação de dispersões, transmissão de calor
e uniformização de temperatura.
O sistema de agitação é, também, integrado a
geometria do tanque para propiciar as
melhores condições para o processo e a maior
economia operacional possível. A geometria
resulta da otimização do uso de chapas que
reduz o custo do equipamento, diminuindo o
número de cortes e de soldas e com uma
padronização que atende a racionalização da
produção e as necessidades do mercado. A
agitação pode ser feita por impelidores: de
fluxo - como a recirculação por bombas; por
rotativos rápidos - como os navais e as pás
retas inclinadas e por rotativos lentos - como
as âncoras.
1.1 Nível de agitação
Uma resposta dinâmica mínima é requerida
para se resolver satisfatoriamente um
representada pela magnitude da velocidade do
fluido a ser impressa pelo misturador.
A velocidade de fluxo criada em um tanque
por um agitador tem três componentes: a
radial, atuando na direção perpendicular ao
eixo-árvore; a longitudinal, atuando
paralelamente ao eixo-árvore e a de rotação,
que atua na direção tangencial ao círculo de
rotação do eixo-árvore. As componentes
radial e longitudinal contribuem,
efetivamente, para a mistura, o que não
acontece com a tangencial. A componente
tangencial produz uma camada de fluxo em
rotação ao redor do eixo-árvore, em geral, em
escoamento laminar e que praticamente
impede a movimentação longitudinal. O
conteúdo do tanque gira somente, sem
produzir quase nenhuma ação de mistura. A
potência absorvida pelo fluido é muito
limitada já que a velocidade relativa entre as
pás e o fluido é pequena. A componente
tangencial pode dar lugar à formação de um
vórtice na superfície do fluido, cada vez mais
profundo à medida que aumenta a rotação do

1
agitador. Quando o vórtice alcança a zona de evitar a formação de vórtices é deslocar o
sucção do impelidor, a potência transferida ao impelidor para fora do centro do tanque.
fluido diminui subitamente devido ao arraste
de ar para o interior do produto, e eventuais 2 Impelidor com quatro pás retas
partículas sólidas podem se separar por ação inclinadas a 45º
de forças centrífugas.
De maneira geral, possuem ação suave que,
1.2 Critério para definir o nível de com freqüência, deseja-se para a maioria das
agitação substâncias. É largamente empregado por
Para quantificar o grau de agitação, fixou-se a gerar fluxos longitudinal, radial e
velocidade média (v) imprimida aos fluidos circunferêncial. Atende a maioria das
pelas pás (em m/min.), na faixa de 1,8 a 18,3. aplicações pelo fato de poder trabalhar com
Uma escala de 1 a 10 foi, então, estabelecida líquidos com viscosidade (µ) de 1 a 100000
para cobrir essa faixa. O nível da agitação cP [10-3 a 100 kg/(m.s)], criando alta e baixa
(NA) fica definido através da divisão da turbulência dependendo da velocidade de
velocidade média do fluido por 1,8. operação, consumindo de moderada a alta
potência. São úteis para operações de mistura
Tabela 1. Nível de agitação. envolvendo líquidos miscíveis ou na
Baixo Médio Alto preparação de dissoluções de produtos
sólidos.
v v v
NA NA NA
(m/min.) (m/min.) (m/min.)
3 5,4 7 12,6
2.1 O número de potência
4 7,2 8 14,4 O coeficiente de resistência ou de arraste (Ca)
1 1,8 5 9,0 9 16,2 é função do número de Reynolds (NRey) :
2 3,6 6 10,8 10 18,3 C a = f (N Re y ) (01)
Note: NA: nível de agitação v: velocidade
F  d .v.ρ 
2
= f   (02)
A agitação nos níveis 1 e 2 é característica das A.v .ρ  µ 
aplicações que requerem a menor
movimentação possível para o produto. Já os O termo (F/A), força aplicada ao fluido por
níveis de 3 a 6 caracterizam a maior parte das unidade de área, pode ser convertido a uma
aplicações industriais. De 7 a 10 têm-se os potência.:
processos que necessitam de alta velocidade.
v.F P
Além do estabelecimento do nível de agitação = (03)
A A
são fatores importantes na determinação do
melhor sistema: a densidade específica, a Sendo a área proporcional ao diâmetro do
viscosidade do produto na temperatura de impelidor (d) ao quadrado e a velocidade
operação e a própria geometria do tanque. tangencial da ponta do agitador (v),
proporcional a rotação (N) :
Para tanques altos é necessário um elemento  d 2 .N . ρ 
P
impulsor para cada diâmetro de altura do = f   (04)
recipiente. A posição é de fundamental N 3 .d 5 .ρ  µ 
importância nas operações do equipamento, ou N po = f (N Re y ) (05)
pois influi na formação de vórtices ou na
aspiração de ar para o produto. O vórtice pode onde: Npo é o coeficiente de arraste nos
se formar, dependendo das condições de sistemas com agitação, conhecido como
rotação e potência, quando o impelidor está número de potência.
colocado no centro de um tanque sem
chicanas ou quando aparece muito perto da Assim, a equação (05) pode ser reescrita:
superfície do líquido. Uma das maneiras de se P = N po .ρ .N 3 .d 5 (06)

2
O número de potência é determinado
experimentalmente para várias geometrias. A experiência mostra que o tempo de mistura,
para a condição de regime turbulento, é, no
2.2 Roteiro de cálculo para agitação com mínimo, cinco vezes maior que o tempo para
impelidor de quatro pás retas inclinadas a revolver o conteúdo do tanque uma vez. O
45° tempo (tr) pode, ainda, ser usado para
2.2.1 Velocidade média do produto no classificar a intensidade de agitação:
tanque (v) em (m/min)
Tabela 2. Outra classificação para a
Para quantificar a agitação, relaciona-se a intensidade de agitação.
velocidade média imprimida ao fluido pelas Intensidade Tempo para revolver o
pás a escala apresentada na Tab. 1. Assim, de agitação conteúdo do tanque (tr)
define-se o nível de agitação (NA) pela Suave De 3 a 60 minutos
divisão desta velocidade (v) por 1,8: Média De 0,5 a 3 minutos
v = 1,8.( NA) (07) Violenta Entre 10 e 30 segundos

A velocidade varia grandemente, desde um

máximo nas proximidades do impelidor até
quase zero nos pontos mais distantes
dependendo da geometria do tanque, da
viscosidade do produto e da aproximidade
com a parede.
2.2.2 Área da seção transversal do tanque
Além do nível de agitação, são fatores
importantes e sempre requeridos na
determinação do sistema de agitação: a
densidade específica do produto, a sua
viscosidade na temperatura de operação e a
geometria do tanque. A área da seção
transversal do tanque, a partir das
considerações geométricas que fixaram a
relação entre o diâmetro (D) e a altura de
costado é determinada por:
π .D 2
A= (08)
4 sistema de agitação já que representa a relação
2.2.3 Capacidade de deslocamento
volumétrico (Q)
A capacidade efetiva do agitador mostra o
volume deslocado na unidade de tempo.
Q = v. A (09)
2.2.4 Diâmetro do impelidor (d)
Os valores típicos para a relação d/D estão na
faixa de 0,2 a 0,7. Evidentemente, abaixo de
0,2 não se produzirá uma adequada
movimentação do produto, a menos que a
rotação seja bastante alta e/ou em fluido de
baixa viscosidade. Acima de 0,7 aparecem
correntes radiais suficientemente fortes para
bloquear as longitudinais, dividindo-se, então,
o conteúdo do tanque em zonas estanques em
função do número de impelidores. Como
ponto de partida do processo interativo de
cálculo, adota-se para (d) o valor dado por:
d = 0,2.D (11)
2.2.5 Número de bombeamento (Nq) e a
rotação do impelidor (N)
O número de bombeamento ou de agitação é
um adimensional e equivalente à eficiência do
entre os deslocamentos volumétricos real e
ideal para determinada rotação e diâmetro.
Seu valor tende a ficar constante na região de
fluxo turbulento.
Q
Nq = (12)
N .d 3

Substituindo-se (09) em (12) e, depois, (07)

É um parâmetro importante, pois, é
em (12), tem-se:
inversamente proporcional ao tempo (tr), para Q v. A NA.(1,8). A
revolver o conteúdo do tanque uma vez: Nq = 3
= 3
= e
N .d N .d N .d 3
V
tr = (10) N q .N .d 3
Q re-arranjando NA = (13)
em que (V) é o volume útil de produto. 1,8. A

3
A expressão (13) mostra a influência 2.2.8 Recálculo do diâmetro do impelidor
preponderante do diâmetro do impelidor no  N q* 
2

nível de agitação. Para melhorar o nível de d = 0,394.D.  (22)

agitação é mais significativo aumentar o  Nq 
 
diâmetro do que a rotação. O tanque esbelto
terá uma agitação melhor que o bojudo de 2.2.9 Início e término do processo de
mesma capacidade. interação para convergência
Faz-se N q = N q* (23)
Na região de turbulência, NRey entre 103 e 109,
o número de bombeamento, em princípio, é Q d 2 .N .s
N= ; N Re y =
uma constante para uma dada relação entre os N q .d 3 µ
diâmetros do agitador e do tanque: 1
1  d  2

  2  
 0,394  (14) ∗
N Re = N Re y . D 
N q = 0,683.  y
 0,394 
 d   
   
 D 
−5 1
Se ∗
N Re y − N Re y ≥ 1.10 voltar a
Obtém-se a rotação do impelidor (N) : ajustar o número de bombeamento, item 2.2.7.
N=
Q (15) Se ∗
N Re y − N Re y p 1.10
−5
tem-se a
N q .d 3
condição de saída para o item 2.2.10.
2.2.6 Número de Reynolds (NRey)
O número de Reynolds deve ser ajustado por 2.2.10 - Determinação do coeficiente de
um fator envolvendo a geometria do tanque e correção do efeito da viscosidade (fu)
Esse coeficiente é utilizado quando se
do agitador, resultando o número de Reynolds
determina experimentalmente o número de
modificado ( N Re
∗
y ) da equação (17). potência sem considerar o efeito da
d 2 .N .ρ viscosidade do fluido.
N Re y = (16)
µ se NRey > 900 , f u = 1 (24)
1
 d  2
  (17) se 900 ≥ NRey > 8, tem-se Eq.(25):
∗
N Re y = N Re y . D 
 0,394 
 
 
[
f u = exp 3,154 − 0,848. ln N Re y + 0,0565.(ln N Re y )
2
]
2.2.7 Ajuste do número de bombeamento
( N q∗ ) em função de ( N Re se 8 ≥ NRey > 1, tem-se Eq.(26):
y)
∗

[
fu = exp3,649− 0,942.lnNRey − 0,106.(lnNRey ) + 0,0448.(lnNRey )
2 3
]
se N ∗
f 20000 , N = 0,683 *
(18)
Re y q 38,4
para NRey ≤ 1, fu = (26)
N Re y
para 20000 ≥ N Re
∗
y f 300 , tem-se a Eq.(19)

2.2.11 Cálculo da potência requerida (P)

[
Nq* = exp− 5,71+1,683.ln NRe
∗
( )
y − 0,179. ln NRey
∗
(
+ 0,0064. lnNRe
∗
)
2
y ( )]
3
Para um número (ni) de impelidores de 4 pás
retas inclinadas a 45°, no mesmo eixo,
se 300 ≥ N Re
∗
y f 25 , tem-se a Eq.20:
trabalhando no regime turbulento, a definição
expressa em (06), fornece a potência
requerida. Nestas condições o número de
[
N q* = exp − 0,947 − 0,231. ln N Re
∗
(
y + 0,0467. ln N Re y
∗
) ( )]
2

potência é igual a 1,37.

*
P = 1,37. f u .ρ .N 3 .d 5 .ni (27)
para N Re
∗
y ≤ 25 , N q = 0,3 (21)
1
(1.10-5) ou qualquer outro valor em decorrência da precisão a
ser estabelecida.

4
Verificou-se experimentalmente que vários de área (A), separados pela distância (dx)
outros fatores afetam a potência. O aumento estão se movendo, na mesma direção, com
na largura das pás (l), provoca incremento na velocidades diferentes (v1) e (v2).
potência consumida tão mais acentuado
quanto maior a viscosidade do fluido. Este
incremento tende a se estabilizar a partir de
certo valor para a relação (l/d). No entanto,
para fluidos com viscosidade acima de 2000
cP [2 kg/(m.s)], a potência consumida passa a
aumentar linearmente com a largura. A
expressão (27) pode ser empregada para Figura 1 – Escoamento entre duas placas
l = (0,14 ↔ 0,2).d . planas

A posição do impelidor no tanque em relação A experimentação mostrou que a distribuição

a vertical tem pouquíssima influência na
potência consumida. Isso também se nota para
a potência exigida por uma pá com
determinada largura em comparação a duas
pás, arbitrariamente separadas no eixo-árvore,
cada uma com a metade dessa largura.
A colocação de chicanas ou quebra-ondas,
para minimizar a formação de vórtices em
sistemas centralizados de agitação, promove
um aumento considerável na potência quando
comparado a um tanque sem quebra-ondas. A
potência sobe quanto maior a largura e o
número destes defletores de costado.
Sob o ponto de vista de movimentação e de
consumo de potência, descentralizar o
impelidor no tanque é equivalente a estar com
o mesmo centralizado e com dois quebra-
ondas defasados de 180°. O sistema
deslocado, no entanto, deve ser preferido,
pois, evitar o uso de defletores favorece a
sanitariedade no processamento do produto. A
equação (27) é valida para esta condição.
3 Agitação de fluidos de alta viscosidade
3.1 Conceitos preliminares
Um fluido em movimento pode sofrer a ação
de tensões normal e cisalhante as quais são
determinadas pela taxa de deformação do
fluido e por suas propriedades físicas. A
tensão normal atua perpendicularmente a um
plano enquanto que a tensão cisalhante atua
tangencialmente ao plano. O modelo da Fig. 1
foi usado por Isaac Newton para definir
viscosidade. Dois planos paralelos de fluido
de velocidade é linear ao longo da distância
(dx) e que o gradiente de velocidade (dv/dx) é
diretamente proporcional a força por unidade
de área:
F  dv 
= µ .  (28)
A  dx 
onde (µ) é a viscosidade.
O gradiente de velocidade descreve o
cisalhamento que ocorre entre as várias
camadas de fluidos, uma em relação às outras,
por isso, ele pode ser chamado de taxa de
cisalhamento ou de deformação angular (γ).
A força tangencial sobre a área é a tensão
cisalhante (τ). Assim, aparece a expressão de
Newton:
τ = µ .γ (29)
A viscosidade é função da natureza do fluido,
da temperatura, da pressão e da taxa de
deformação angular.
Certos fluidos, como o ar e a água nas
condições usuais, chamados Newtonianos,
apresentam uma relação linear entre o
gradiente de velocidade ou a taxa de
deformação e a tensão cisalhante, isto é, a
viscosidade é constante ou independente da
taxa de deformação.
Outros fluidos que apresentam viscosidade
que seja função da taxa de deformação são
chamados de não-Newtonianos. Grande
número de fluidos, em vários ramos da

5
indústria, apresenta esse comportamento. De
maneira geral, os fluidos não-Newtonianos
podem ser classificados em:
1. Os pseudo-plásticos são aqueles em que a
viscosidade decresce com o aumento do
gradiente de velocidade. A equação de
Ostwald-de-Waele descreve o comportamento
desse tipo de fluido.
 dv 
n −1
dv
τ = K .  .
 dx  dx
A constante (K) é uma medida da consistência
do fluido, quanto maior o seu valor tanto mais
viscoso é o fluido. A constante (n) é indicativa
do grau de afastamento do comportamento do
fluido em relação ao do Newtoniano e é,
também, chamada de constante reológica não-
Newtoniana. A equação (30) reescrita:
n −1
µa =
τ  dv 
= K .  = K .γ n −1
dv  dx 
dx
onde (µa) é a viscosidade aparente com
significado análogo ao da viscosidade
propriamente dita, sob o ponto de vista do
comportamento do fluido em movimento.
2. Os dilatantes são não-Newtonianos em que
a viscosidade aumenta com o gradiente de
velocidade. São fluidos bem menos comuns
que os pseudo-plásticos e valem para eles a
mesma equação (31).
se n > 1 o fluido é dilatante,
se 0 < n < 1 o fluido é pseudo-plástico.
se n = 1 o fluido é Newtoniano.
3. Alguns fluidos, como pastas dentifrícias e
graxas, entre outros, constituem os plásticos
de Bingham, cuja característica é apresentar
uma relação linear para τ = f (γ ) mas, uma
tensão de escoamento (τe) deve ser atingida
para provocar o início do escoamento.
Para um gradiente de velocidade constante, a
viscosidade do não-Newtoniano também pode
variar com o tempo. Neste caso, se a
viscosidade decresce com o tempo, ele é
chamado de tixotrópico e quando ela aumenta
com o tempo, o fluido é reopético.
3.2 Impelidores para fluidos de alta
viscosidade
A âncora, os helicoidais e combinações,
trabalhando a baixa rotação, são os
impelidores mais usados para fluidos de alta
viscosidade. Requerem maior energia que a
(30) turbinas e a sua potência consumida aumenta
rapidamente com a rotação.
3.2.1 Âncoras
As âncoras são empregadas na mistura de
produtos pastosos muito viscosos sem
limitação de tempo e na dissolução lenta de
sólidos que não se depositam facilmente. São
aconselháveis nas operações de aquecimento
ou resfriamento para evitar a formação de
depósitos nas paredes do tanque. É comum a
(31) colocação de um ou mais tirantes, planos ou
redondos, entre os braços da âncora. Com o
objetivo de aumentar a resistência e a rigidez
do conjunto, esses tirantes podem ser planos e
inclinados a 45° para propiciar o
aparecimento alguma corrente longitudinal.
Com o intuito de diminuir a potência
requerida, os dois braços podem ser tubulares.
A âncora básica sozinha é ineficiente para
mistura de produtos viscosos, particularmente,
trabalhando na região laminar. O produto gira
junto, com pouco movimento vertical. Só a
introdução de tirantes inclinados e de quebra-
ondas entre as pás e o eixo-árvore, melhora a
circulação longitudinal, via de regra, com
reflexos no consumo de potência. A posição
dos quebra-ondas também afeta a potência
que diminui quando eles são deslocados para
o centro do tanque. Os raspadores são
utilizados quando há necessidade de se evitar
a estagnação e a queima do produto junto ao
costado ou superfície de troca de calor, com
isso, melhoram as características de
transferência de calor. Devido ao atrito, os
raspadores aumentam o consumo de potência.
3.2.2 Helicoidais
Os helicoidais são de dois tipos: a fita e o
parafuso. A fita helicoidal tem como
características a ação suave e a alta
6
movimentação vertical do fluido e trabalha a
baixas rotações. A mistura ocorre na região
laminar com o fluido movendo-se por
caminhos tortuosos. A ação de mistura
produzida pelo parafuso é provocada pela
movimentação vertical. Embora somente uma
configuração seja possível, muitas variações
podem ser obtidas deslocando-se o impelidor
dentro do tanque ou incorporando
componentes auxiliares, tais como, quebra-
ondas e o tubo de fluxo.
4 Regime de trabalho
O número de Reynolds (NRey) é o indicador da
presença ou ausência de turbulência em
sistemas agitados. Para alguns autores, o fluxo
no tanque é turbulento quando NRey > 10000.
Para o número de Reynolds entre 10000 e
aproximadamente 10, tem-se uma região de
transição na qual o fluxo é turbulento próximo
ao agitador e laminar na região afastada. No
caso de NRey < 10 o escoamento é laminar.
Outros autores classificam a operação de
mistura de turbulenta para NRey ≥ 5000. No
entanto, a classificação mais usualmente
aceita é a seguinte:
e geométricos, pode ser representada:
N po = f (N Re y ).(N Fr ) (32)
O NFr , equação (33), representa a relação
entre as forças vinculadas à energia cinética e
as forças associadas com a gravidade e seus
efeitos só aparecem quando há formação de
vórtice e, principalmente, quando o vórtice
ocorre na situação em que NRey > 300.
N 2 .d
N Fr = (33)
g
sendo (N), a rotação; (d), o diâmetro do
impelidor e (g), a aceleração da gravidade.
Para a região definida por 100 ≤ NRey ≤ 6000 :
P = N po .ρ .N 3 .d 5 (34)
(ρ) é a densidade do fluido.
Os valores de (Npo) dependem do modelo do
impelidor, da largura das pás (b), do diâmetro
do tanque (D) e de outros fatores geométricos.
Particularmente para a âncora e os helicoidais,
o número de potência pode ser calculado nas
regiões de fluxo laminar e de transição, com
seus limites de validade da Tab. (3).

NRey < 30 ⇒ escoamento laminar N po =

A  L   10 + 1,2.N Re y 
+ C 2 . . 3
3 0 , 66
(35)
 d   10 + 3,2.N Re y 
0 , 66
N Re y
30 < NRey < 20000 ⇒ transição, 0 , 45
isto é, turbulento nas proximidades do  L D D−d
onde: A = C1 . .  ;c = (36)
impelidor com diminuição da turbulência,  d  c  2
chegando a condições laminares, nas
vizinhanças das paredes do recipiente. c: distância entre as pás e a parede do tanque
L: comprimento e
NRey > 20000 ⇒ escoamento turbulento. s : altura dos braços do impelidor.

Ao número de Reynolds, também estão Tabela 3 . Constantes e limites de validação

associadas outras características do das equações (35) e (36).
desempenho dos processos de agitação, tais NRey ≤ 6000 Âncora
como: o tempo de mistura, a capacidade de d/D 0,8 a 0,98
deslocamento volumétrico e os coeficientes de s/d 0,5 a 1,5
transferência de calor e massa. b/d 0,07 a 0,16
L 2.s + d
5 Potência requerida para fluidos não- C1 17
Newtonianos C2 0,24

A relação entre o número de potência (Npo) do Nos casos em que NRey ≤ 30, o segundo termo
agitador e os parâmetros operacionais, físicos da equação (37) pode ser desprezado.

7
Observou-se que a potência consumida é Para a âncora que só tem quebra-ondas basta
diretamente proporcional a altura desses dois acrescentar 15 % ao valor dado pela Eq. (42).
impelidores e, na região laminar, a potência
depende intensamente do espaço entre a 7 Exemplos de cálculo
parede do tanque e o impelidor (c). Na região 7.1 Produto não-Newtoniano
de transição o efeito dessa distância diminui
com o aumento no número de Reynolds. Tabela 4. Informações referentes a massa de
tomate a 32° Brix.
A taxa de deformação (γ) é diretamente Temp. de operação (°C) 50
proporcional a rotação do impelidor: Densidade específica ρe 1,4
γ = k .N (37) Viscosidade aparente (cP) µa = 201267.γ-0,783 *)
e a experimentação permitiu a determinação (*) γ em (s-1)
do coeficiente (k) para a âncora:
  d  A equação geral (33) é µ a = K .γ n −1 então,
k = 37 − 601 − .(1 − n) (38)
  D  neste caso, n − 1 = −0,783 ⇒ n = 0,217 , o
produto é um pseudo-plástico.
Para a região de fluxo laminar (NRey < 30),
onde a força inercial pode ser desprezada em Da Tab. 3, tem-se:
relação a força viscosa e, especificamente d/D = 0,98 ⇒ d = 1725 mm (67,9”)
para os pseudo-plásticos: b/d = 0,07 ⇒ b = 120 mm
′ Altura da superfície livre
N po = f (N Re y ) ou P = N po .K .N .d (39)
−1 1+ n 3

′ acima da LTI ⇒ 1830 mm

onde N po = A.k n−1 (41) Adota-se então, a altura das pás da âncora a
partir da LTI ⇒ s = 1760 mm ou s/d = 1.
Para o caso em que 30 ≤ NRey < 100 a
potência deve ser calculada por: De acordo com a expressão (41):
P = A.N 2 .d 3 .µ a (42)   1725 
k = 37 − 60.1 − .(1 − 0,217 ) = 28
  1760 
6 Potência requerida para fluidos
Newtonianos Uma vez determinado o reograma e o tipo de
6.1 Para a âncora plana básica, com as fluido verifica-se o valor da viscosidade
seguintes relações adimensionais: aparente em decorrência da movimentação ou
d/D = 0,9; b/D = 0,1 e c/D = 0,05, da taxa de deformação proposta.
O número de potência, valido para
−0 , 955
NRey < 100, é: N po = 215.N Re y (42) A definição da rotação, sua relação com a taxa
de deformação, com a viscosidade aparente e,
6.2 Para a âncora com raspadores consequentemente, com o número de
com d/D = 0,98 Reynolds deve ser feita com precaução, pois,
−1
N po = 203.N Re são poucos os estudos realizados e, quase
y → 2 ≤ N Re y ≤ 60 (43)
todos para os pseudo-plásticos.
−0,52
N po = 45.N Re y → 200 ≤ N Re y ≤ 20000 (44)
Estipula-se para a âncora:
6.3 Para a âncora com raspadores e N = 15 rpm = 0,25 rps assim, de acordo com
quebra-ondas a equação (40): γ = k .N = 28.(0,25) = 7 s-1.
Neste caso a largura dos dois quebra-ondas é
dada pela relação: w/D = 0,175. A viscosidade aparente, para esta rotação:
−0 , 638
µ a = 201267.(7 −0, 783 ) = 43859,2 cP ou
N po = 245.N Re → 1 ≤ N Re y ≤ 2000 (45)
y 43,9 kg/(m.s) já que 1 cP ⇒ 10-3 kg/(m.s).

8
Dimensionalmente, a equação geral Tabela 6. Informações necessárias.
n −1
µ a = K .γ pode ser escrita assim: Diâmetro do tanque (mm) 1760
Diâmetro das pás (mm) 1725
Densidade específica 1,4
kg kg 1 Viscosidade considerada (cP) 43859
= 2− n
. n −1 ,
m.s m.s s Rotação (rpm) 15
Número de impelidores 01
levando a concluir que o fator de consistência
é: K = 201,267 kg/(m.s2-n).
Tabela 7. Resultados obtidos.
O número de Reynolds fica sendo Veloc. média do produto (m/min) 6,2
10,7.ρ e .N .d 2 10,7.(1,4).15.(67,9 2 ) Deslocamento volumétrico (m3/min) 15,1
N Re y = = = 23,6 p 30
µ 43859,2 Nível de agitação 3,4
Potência requerida (kW) 1,04

De conformidade com a Tab. 3, para a âncora,

7.2 Produto não-Newtoniano
Para C1 =17
Tabela 8. Características reológicas da polpa
L = 2.s + d = 2.(1760) + 1725 = 5245 mm de tomate a 12° Brix.
c = (D – d)/2 = (1760 – 1725)/2 = 17,5 mm Temperatura de operação (°C) 50
Densidade específica ρe 1,026
que inseridos nas equações (36), (41) e (40): Fator de consistência K [kg/(m.s2-n)] 5,562
0 , 45
5245  1760  Const. reológica não-Newtoniana n 0,323
A = 17. .  = 411,6 e
1725  17,5 
′
N po = 411,6.(28 0, 217 −1 ) = 30,3 e P = 5792,6 W Como (n) está entre 0 e 1, o produto é um
pseudo-plástico. Para um pseudo-plástico, ao
Os dois tirantes de apoio dos braços da âncora se distanciar do agitador, o gradiente de
são considerados como pás retas e inclinadas velocidade decresce e a viscosidade aparente
a 45° de um impelidor. De tal forma que, o aumenta. Este comportamento traz dificuldade
número de impelidores é igual ao número de na movimentação do produto com a redução
tirantes dividido por 2. Assim, a potência total gradativa da taxa de circulação por isto
solicitada pela âncora será de: 5792,6 + 1040 prefere-se impelidores com grande área de
= 6832,6 W, implicando na utilização de um contato com o produto.
motor de 7,5 kW.
De acordo com a Tab. 3, para a âncora tem-se:
Tabela 5. Dados referentes ao reator. d/D = 0,98
Volume útil (litros) 5000 d = 1725 mm (67,9”) ; b/d = 0,07;b = 120 mm
Tampos de fechamento Toroesféricos 10 % Aplicando a expressão (41):
Diâmetro interno (mm) 1760
Altura de costado (mm) 2000   1725 
Relação D/H 0,875 k = 37 − 60.1 − .(1 − 0,323) = 24,2
  1760 
Superfície de troca de Serpentina meia-cana
calor no costado e fundo e adotando-se a rotação → N = 30 rpm
Relação entre os
8,8
volumes real e útil (%)  30  -1
Âncora com raspador e γ = k .N = 24,2.  = 12,1 s
dois tirantes inclinados
 60 
Impelidor
a 45° (
µ a = 5,562.10 . 12,10,323−1 = 1028,5 cP
3
)
Objetivo da agitação
Raspar a superfície de
N Re y =
(
10,7.(1,026 ).30. 67,9 2
) = 1476,3 p 6000
troca de calor 1028,5

9
C1 =17
L = 2.s + d = 2.(1760) + 1725 = 5245 mm Para os tirantes os resultados obtidos são
c = (D – d)/2 = (1760 – 1725)/2 = 17,5 mm idênticos aos demonstrados na Tab. 7.
0 , 45
5245  1760 
A = 17. .  = 411,6 A potência total solicitada pela âncora será de:
1725  17,5  2873,4 + 1040 = 3913,4 W implicando na
utilização de um motor de 5,5 kW.
Para C2 = 0,24 (Quadro 1), a equação (37),
fornece: Npo = 0,88 Pela expressão (36): 8. Referências
3

P = N po .ρ .N 3 .d 5 = 0,88.(1026).  .1,7255 = 1723,8 W

 30 
 60  Battaglini, N. M. P. (1993) Desenvolvimento e
aplicação de um viscosímetro de extrusão
Tabela 9 – Informações necessárias em fluidos não Newtonianos – Dissertação
Diâmetro do tanque (mm) 1760 apresentada no Programa de Pós-
Diâmetro das pás (mm) 1725 Graduação em Energia na Agricultura da
Densidade específica 1,026 FCA – Unesp – Botucatu .
Viscosidade considerada (cP) 1028,5 Battaglini, N. M. P. (1998). Avaliação do
Rotação (rpm) 30 comportamento de impelidores especiais
Número de impelidores 01 na mistura de fluidos – Tese apresentada
Para os dois tirantes, a partir dos dados da no Programa de Pós-Graduação em
Tab. 9, são obtidos : Energia na Agricultura da FCA – Unesp –
Botucatu
Tabela 10. Resultados obtidos. Coutinho, A. P. C. (2003) Caracterização
Veloc. média do produto (m/min) 25,9 reológica do extrato de tomate e
Deslocamento volumétrico 63 verificação da potência requerida na
(m3/min) agitação com impelidor tipo âncora –
Nível de agitação 14,2 Dissertação apresentada no Programa de
Potência requerida (kW) 2,68 Pós-Graduação.
Freitas, P. (1993) Análise das relações
A potência total solicitada pela âncora será de: potência/velocidade para o projeto de
1723,8 + 2680 = 4403,8 W, implicando na agitadores com respostas dinâmicas
utilização de um motor de 5,5 kW. desejadas – Dissertação apresentada no
Programa de Pós-Graduação em Energia
7.3 Produto Newtoniano de alta viscosidade na Agricultura – FCA – Unesp – Botucatu
Geankoplis, C. J. (1975) Transport Processes
Tabela 11. Dados do produto. and Unit Operations.3nd ed., Prentice Hall
Temperatura de operação 50 PTR .
(°C) McCabe, W. L.; Smith, J. C.; Harriott, P.
Densidade específica ρe 1,4 (1993). Unit Operations of Chemical
Viscosidade máxima (cP) 43859,2 Engineerin, 5nd ed., McGraw-Hill
International Editions .
Estipula-se para a âncora a rotação de 15 Nagata, S. (1975) Mixing – Principles and
rpm que, com o diâmetro de 1725 mm Applications, Kodansha Ltd – Tokyo e
(67,9”), fornece: John Wiley & Sons N.Y. USA.
Perry, R. H.; Green, D. W. (1997) Perry’s
N Re y =
(
10,7.(15).1,4. 67,9 2
= 23,6
) Chemical Engineers’ Handbook,7nd, ed.,
43859,2 McGraw-Hill International Editions
2 ≤ N Re y ≤ 60 Uhl, V. W.; Gray, J. B. (1966) Mixing –
Logo, da equação (44): Theory and Practice. v. I e II. Academic
N po = 203.N Re −1
(
−1
) Press, Inc.
y = 203. 23,6 = 8,6 e
P= 28 W

10