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Uma técnica de memorização milenar

para você aprender (e ensinar a seus


filhos)

Em nossos dias, esquecer-se das coisas – por mais triviais que sejam, como
um número de telefone ou o lugar onde colocamos a chave do carro –
imediatamente nos leva a desconfiar da capacidade de nossa memória. Com
efeito, o problema do esquecimento tem recebido muita atenção dos
neurocientistas nas últimas décadas. Embora as falhas de memória possam,
em alguns casos, estar relacionadas a alguma doença, a verdade é que a
expectativa de que a memória jamais falhe é uma quimera moderna.

Mary Carruthers, em seu The Book of Memory: A Study of Memory in


Medieval Culture (O Livro da Memória: Um Estudo da Memória na
Cultura Medieval, sem tradução para o português), nos lembra que os
antigos já sabiam que nossa memória é, por sua própria natureza,
imperfeita, e que tendemos a nos esquecer das coisas. Para contornar
esse problema, eles desenvolveram a chamada ars memorativa, ou “arte da
memória”: o melhoramento da memória por meio da aplicação
consciente de certas técnicas ou artifícios. Parece que nós, os pós-
modernos, é que nos esquecemos disso.

O Palácio da Memória

A arte da memória não se resume àqueles truques mnemônicos que


aprendemos na escola para memorizar o nome dos planetas, ou àquelas
musiquinhas para decorar as fórmulas da velocidade ou da calorimetria. A
arte da memória é um sistema desenvolvido e praticado por poetas e
filósofos da Antiguidade – tais como Simônides de Ceos, Aristóteles,
Cícero, Santo Alberto Magno e Santo Tomás de Aquino, só para citar
alguns nomes. Embora as técnicas possam ser aprendidas por crianças, não
são, definitivamente, “coisa de criança”, no sentido pejorativo que muitos
de nós passamos a atribuir aos recursos mnemônicos.

Os antigos sabiam que, devido à condição natural de nossa memória, era


preciso treiná-la de forma consciente a fim de reter conteúdos
importantes, valiosos e úteis para a vida. Por meio de um esforço
consciente de engenho e arte, eles construíam “palácios” onde os
“tesouros” (os conteúdos a serem lembrados) poderiam ser guardados e
acessados a qualquer tempo. Esse método, denominado método de loci, é o
que você vai aprender agora.

Lembrar-se de tudo? Para quê?

A aplicação do método de loci dá, sim, algum trabalho no começo. Por


isso, é bom aplicá-lo a conteúdos importantes, que você deseje recordar
a longo prazo (embora, uma vez assimilado, ele sirva para a memorização
de coisas mais simples, como uma lista de compras). A título de exemplo,
no livro Memorize the Faith! (and Most Anything Else) (Memorize a Fé! (e
Quase Tudo o Mais), sem tradução para o português), Kevin Vost aplica o
método de loci para a memorização de conteúdos relacionados à fé católica
(os pequenos da catequese agradecem).

Para os antigos, era vã a pretensão de lembrar-se de tudo. Importava,


sim, conhecer bem e ser capaz de recordar alguns conteúdos
importantes, os quais, se não retidos na memória, permaneceriam
“propriedade de ninguém” e restariam, assim, infrutíferos. Eles já
sabiam que o cultivo da memória e o desenvolvimento da ciência
caminham lado a lado. Segundo Carruthers,

“Esquecer-se de alguma coisa, por mais banal que seja, é considerado,


hoje em dia, como uma falha do conhecimento e, por conta disso, um
motivo para desconfiar do poder da memória. Entretanto, esquecer
algumas coisas era entendido, nos tempos de Santo Agostinho, como uma
condição para que pudéssemos nos lembrar de outras.”

A autora nos fala sobre dois tipos de esquecimento: aquele que provém de
uma falha no ato de gravação – ou seja, a informação não chega a ser
retida pela memória, sendo nesse caso impróprio falar-se em
“esquecimento”, já que o dado sequer foi registrado – e o esquecimento
deliberado ou seletivo, que ocorre durante o ato de memorização. Para nos
lembrarmos do que importa, é preciso deixar de lado o que é secundário.

As quatro chaves da memorização


Segundo Santo Tomás de Aquino, quatro coisas são necessárias a fim de
aperfeiçoar a memória:

1) Elaborar uma imagem adequada, porém extravagante, inusitada


ou incomum, da coisa a ser lembrada, pois gravamos melhor o que
chama mais a atenção;
2) Colocar as coisas a serem lembradas em ordem, pois assim
passamos mais facilmente de uma memória a outra;
3) Ter um genuíno entusiasmo pelo conteúdo a ser memorizado,
pois o entusiasmo e a boa vontade facilitam a gravação na memória
(Narciso Irala afirma que devemos relacionar o conteúdo ao nosso
ideal, conferindo sentido ao ato de memorizar. Assim, um estudante,
imbuído do ideal de passar nos exames e perseguir a profissão mais
afeita à sua personalidade terá uma memorização mais eficaz do que
o estudante que não sabe por que memoriza);
4) Refletir constantemente sobre a coisa memorizada, pois, a cada
revisão, elaboramos melhor o conteúdo revisado, criando mais
relações e diferenciando-o melhor de todo o resto, possibilitando
um melhor registro na memória.

Em suma, se desejamos memorizar alguma coisa, devemos formar


imagens mentais, dispô-las em uma certa ordem, concentramo-nos
nelas com intenção e revisá-las ou repeti-las com uma certa frequência.

Ainda segundo Narciso Irala, as condições para cultivar a memória são


três:

1) querer (devo ter bons motivos para querer memorizar alguma coisa);
2) confiar em minha capacidade;
3) utilizar métodos adequados.

O método de loci

A técnica que você vai aprender existe há cerca de 2.500 anos, tendo
passado por diversas adaptações ao longo do tempo. Ela consiste
simplesmente em transformar palavras em imagens mentais
extravagantes e associá-las, de maneira ordenada, a locais que nos
sejam familiares. Deste modo, quando visitarmos mentalmente esse local
familiar, iremos colhendo pelo caminho as imagens que conscientemente
depositamos ali, as quais, por sua vez, nos farão recordar dos conteúdos a
elas associados. Aplicando o método de loci, você será capaz de se lembrar
não apenas de todos os itens da lista, mas de todos os itens em ordem,
podendo enumerá-los até mesmo de trás para frente.

Em Memorize the Faith!, o autor utiliza o layout de uma mansão


imaginária para auxiliar o leitor na memorização de vários conteúdos
relacionados à fé católica. Em um dos cômodos dessa mansão – mais
precisamente, em um espaçoso hall de entrada –, o autor ensina como
memorizar os dez mandamentos.

(O trecho a seguir é uma tradução adaptada.)

[Ilustração do Hall de Entrada]

“Bem-vindo à Casa da Memória

Imagine que você acabou de entrar na casa de alguém pela primeira vez.
(...) Você toca a campainha, a porta de entrada se abre, e você é
surpreendido por uma luz muito intensa que quase o cega e por um
barulho trovejante de coisas se quebrando. (Que recepção, hein? Isso é só
o começo.)

Você entra, olha para baixo, para os seus pés, e vê que o capacho da
entrada está falando. Não apenas ele está falando: está proferindo
palavrões raivosamente. Há uma janela de vidro rente à porta; olhando
por ela, você vê um belo dia ensolarado, o mais bonito que você já viu.
Voltando os olhos novamente para o salão, você se depara com um enorme
retrato dos seus pais na parede à sua direita. Na parede vizinha, você vê
um armário cheio de armas, lacrado por um gigantesco cadeado. No
centro do salão, você vê um adulto desconhecido, escondendo o rosto no
colarinho da camisa. Você então olha para cima e vê, por mais estranho
que pareça, um robe pendurado no lustre do teto. Voltando os olhos para a
esquerda, você vê seu próprio reflexo em um espelho na parede, mas sua
imagem está distorcida, como naqueles labirintos de espelhos. Abaixo do
espelho, sobre um puff baú, você vê um rosto familiar, pois ali está
sentada a esposa do seu vizinho. As gavetas do puff baú estão abertas,
transbordando de pacotes.”

Vamos enumerar os locais presentes nesse cenário e as imagens mentais a


eles relacionadas:
Local Imagem
1. Porta de entrada Luz intensa
2. Capacho Palavrões
3. Janela de vidro Dia glorioso
4. Retrato Pais
5. Armário de armas Cadeado
6. Centro do salão Adulto
7. Lustre do teto Robe
8. Espelho Imagem distorcida
9. Puff baú Esposa do vizinho
10. Gavetas Pacotes

Uma vez que os locais e as respectivas imagens estiverem bem


memorizados, associá-los aos dez mandamentos é tarefa simples. No
primeiro local, temos a lembrança do primeiro mandamento (Amar a Deus
sobre todas as coisas): a luz representa Deus, e o som de coisas se
quebrando representa a destruição dos ídolos e falsos deuses. No segundo
local, temos a lembrança do segundo mandamento (Não invocar Seu Santo
Nome em vão). No terceiro local, nos lembramos do terceiro mandamento:
Guardar os domingos e festas de guarda. No quarto local, somos
lembrados de Honrar pai e mãe, o quarto mandamento. No quinto local, o
armário de armas lacrado nos recorda do quinto mandamento (Não matar).
No sexto local, o adulto envergonhado nos recorda do sexto mandamento
(Guardar a castidade, ou Não cometer adultério, com a vantagem
mnemônica de que a palavra “adulto” remete a “adultério”). No sétimo
local, nos lembramos de Não roubar, por associação ao som da palavra
“robe”. No oitavo local, a imagem distorcida nos lembra de Não levantar
falso testemunho. No nono local, a esposa do vizinho remete ao nono
mandamento: Não cobiçar a mulher do próximo. Por fim, os pacotes nas
gavetas nos fazem lembrar do décimo mandamento (Não cobiçar as coisas
alheias).

Esses mesmos locais podem ser utilizados para a memorização de outros


conteúdos, bastando que você modifique as imagens para adequá-las àquilo
que você deseja memorizar.

Como ensinar o método para seu filho


Nos Estados Unidos, há vários estudos sobre a eficácia das técnicas
mnemônicas aplicadas em crianças. Uma dessas pesquisas demonstrou que
alunos da segunda série (entre sete e oito anos) que aplicaram técnicas
mnemônicas ao estudo do espanhol saíram-se melhor não apenas do que
seus colegas da mesma idade, mas superaram até mesmo crianças quatro
anos mais velhas.

A idade ideal para o aprendizado do método de loci é a partir dos onze


anos, quando a memória de curto prazo da criança é quase similar à de um
adulto, e seus conhecimentos gerais e vocabulário já adquiriram uma
maturidade capaz de permitir o uso do método com mais eficácia.

Para ensinar o método a seus filhos, você pode aplicar as seguintes dicas
que Kevin Vost enumera em seu livro:

* Explique como o método funciona: mostre para seu filho a imagem do


hall de entrada e explique o que ele deve imaginar em cada local. Quando a
associação entre os locais e as imagens estiver memorizada, relacione-as
aos dez mandamentos. Seu filho irá se empolgar ao perceber que
memorizou rapidamente o conteúdo (você pode escolher outros conteúdos).

* Mostre que o método funciona: a fim de despertar em seu filho o


entusiasmo pelo método, você pode pedir que ele escreva em um papel dez
itens aleatórios, enumerando-os. Peça-lhe para ler a lista em voz alta,
espaçadamente, para que você tenha tempo de “alocar” cada item nos dez
locais do hall de entrada. Agora, seu filho deve dizer os números em voz
alta, em qualquer ordem. Se você aplicou o método direitinho, será capaz
de dizer que palavra corresponde a cada número, sem dificuldade.

* Crie um cômodo mnemônico com seu filho: escolha um cômodo de sua


casa e, juntamente com seu filho, estabeleça dez locais. Pergunte a seu filho
o que ele gostaria de memorizar (você pode procurar, nos livros escolares
dele, alguma lista de informações). Agora é a hora de criar as imagens
extravagantes e associá-las a cada local do cômodo. Você e seu filho
podem se divertir muito nesse processo.

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