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Análise da Música Brasileira –

Parte 4
18 de junho de 2017

Chegamos à última parte da análise da música brasileira. Este estudo


mediu a complexidade das composições sob duas vertentes: os
acordes e as letras das músicas. Formar essas duas visões foi possível
graças a utilização de uma base de dados de mais de 40 mil cifras e 100
mil letras, extraídas dos sites cifras.com.br e letras.com.br,
respectivamente. Para aferir a complexidade das composições foram
utilizados os seguintes indicadores:

Indicadores dos acordes: quantidade de acordes distintos,


percentual de acordes distintos, tamanho dos acordes e raridade dos
acordes.
Indicadores das letras: quantidade de palavras distintas,
percentual de palavras distintas e raridade das palavras.

Esses indicadores expõem situações muito interessantes. Por exemplo, a


música brasileira com maior quantidade de palavras distintas é
Declaração de Gerra, de Mv Bill (632 termos únicos). Pensou que
seria Faroeste Caboclo? Com 393 palavras distintas, ela apareceria
apenas em 36º lugar num ranking utilizando essa medida. Já a música com
maior quantidade de acordes distintos é a gospel Coroai o Rei, da Igreja
Cristã Maranata (que utiliza 70 acordes diferentes).

Outras músicas se destacam pela simplicidade da letra. Um exemplo é


Vamos Todos Balançar, do Chiclete com Banana. Tirando as palavras
repetidas, eis sua letra:

Vamos todos balançar!

O abadá.

(Chiclete com Banana. Vamos Todos Balançar)


Outro primor da economia poética é a música Alaíde, da banda Garota
Safada:

Ôh Alaíde, Ôh Alaíde, Ôh Alaíde, Ôh Alaíde,

Cadê você?

Alaíde não tá não, quem tá é Olga. Chama Olga!

Ôh Olga, Ôh Olga, Ôh Olga, Ôh Olga, Ôh Olga, Ôh Olga…

(Alaíde. Garota Safada)

No extremo oposto, há artistas que são mestres do vocabulário rebuscado.


O indicador de raridade de palavras mostra alguns casos em que
determinada palavra foi utilizada uma única vez em toda a produção
musical brasileira! Um dos artistas que mais utilizaram termos inéditos
foi Zé Ramalho. Um exemplo é a música “Pra Chegar Mais Perto de
Deus“:

Nascimentos, universos
Distância, tempo e o meio
Radioastronomia, radiogaláxias
Espaço e música
Matemática, cosmologia e física
Íons, prótons e inércias
Relatividades gravitacionais
Temperatura e luz
Expandindo-se nos ares, os quasars
Outros corpos pulsam, piscam, são os pulsars
Supernovas, gigantes buracos negros
A anti-matéria, curvaturas do espaço
E um ninho de planetas
Onde num deles há vida ?????

(Zé Ramalho. Pra chegar mais perto de Deus)


E agora, um ranking geral de artistas

As partes anteriores do estudo analisaram isoladamente as letras e os


acordes das músicas. Agora, vamos analisar tudo junto. Na verdade,
utilizaremos os indicadores agrupados para cada artista para criar um
índice de complexidade da obra, e aí ranqueá-los. Para isso
utilizaremos a seguinte equação:

Índice de Complexidade da Obra =

(i1) Índice de Quantidade de Músicas +

(i2) Índice de Quantidade de Palavras Distintas +

(i3) Índice de Percentual de Palavras Distintas +

(i4) Índice de Raridade das Palavras +

(i5) Índice de Quantidade de Acordes Distintos +

(i6) Índice de Percentual de Acordes Distintos +

(i7) Índice de Tamanho dos Acordes +

(i8) Índice de Raridade dos Acordes

Cada componente da equação foi colocado numa escala de 0 a 1, onde o


artista com maior valor fica com 1 e o com menor valor fica com 0,
mantida a proporção dos valores intermediários[1]. Assim, é
possível obter um índice final que está numa escala de 0 a 8.

Eis os 10 maiores artistas brasileiros, segundo o Índice de


Complexidade da Obra:
Nenhuma surpresa aqui. São artistas que presam por composições
complexas. Observe que quando o artista recebe o índice 1 em algum
indicador significa que ele é o melhor naquele atributo. Chico Buarque é o
artista com maior número de acordes distintos utilizados na sua obra.
Lenine é o artista que utiliza acordes mais raros.

O ranking inverso, dos 10 artistas com obras menos complexas, é


este:
Veja a tabela com o ranking completo aqui.

A simplificação da música brasileira ao longo do


tempo.[2]

Veja os gráficos abaixo, com o quantitativo de acordes distintos, o


tamanho dos acordes e o indicador de raridade dos acordes,
agrupados por ano, entre 1950 e 2017[3]:
Claramente vemos uma mudança de padrão, com a constante simplificação
das músicas produzidas. Por pura especulação vejo 3 razões para isso. 1)
A absorção pela música brasileira do Rock and Roll, primeiramente com
a Jovem Guarda na década de 60 (perceba que o primeiro tropeço da
curva se dá justamente nessa década); 2) A popularização do Rap/Hip
Hop (ritmos com harmonias simples, naturalmente) a partir de 1980; e
3) A guerra Faustão x Gugu na década de 90.

Por que Faustão e Gugu são responsáveis pela queda na


complexidade das composições brasileiras?

Não faz tanto tempo assim. O brasileiro típico ia domingo pela manhã à
igreja e à tarde ficava com a família assitindo à Banheira do Gugu ou às
Vídeo-Cassetadas do Faustão. Tudo normal. O problema foi quando a
guerra pela audiência se tornou tão acirrada que os apresentadores
apelaram para a repetição desenfreada de apresentações de bandas cujas
composições e vestimentas eram, digamos, minimalistas.

Tais grupos musicais recém-formados não tinham tanto material assim


para mostrar, então deu-se início às linhas de produção de hits. Há
relatos de que Faustão mantinha o compositor Michael Sullivan em
cativeiro, obrigando-o a compor novos sucessos para o É o Tchan toda
semana. Surgem assim sucessos forçados como É o Tchan na Selva, no
Havaí, no Japão…

A produção de músicas de prateleira foi o golpe final na complexidade


das composições nacionais, e é responsável por boa parte do que se escuta
de Sertanejo, Forró Universitário, Axé e Funk atualmente.

Pense nisso: a mediana do quantitativo de acordes distintos entre 2011 e


2016 foi 6, apenas dois acordes a mais que Jingle Bell.

Sugestões? Críticas?

Veja as outras partes do estudo: PARTE 1 – PARTE 2 – PARTE 3 –


PARTE 4

[1] Essa transformação é feita utilizando a seguinte fórmula: xi = (xi –


min(x)) / (max(x) – min(x)).

[2] Agradecimento total a Fernando Sola Pereira, por ter criado este
código. A questão é a seguinte: se você digitar, por exemplo, raimundos
mulher de fases ano no google, ele retorna 1999, que é exatamente o ano
de lançamento da música. Para realizar a análise temporal, seria perfeito.
O problema é que o Google tem proteções contra robôs. Fernando
“contornou” esse problema utilizando o Selenium para simular proxys
diferentes. O Google nem sempre tem a informação do ano da música, por
isso utilizei um código complementar que baixa essa informação do site
letras.mus.br. No total conseguimos 70% das informações do ano de
lançamento.

[3] Só detalhei aqui a evolução no tempo de indicadores relativos aos


acordes. Isso porque não há uma tendência clara de mudança nos atributos
das letras. Agradecimentos ao Rap/Hip Hop.

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