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DIÁRIO DE CLASSE
Cabe registrar, ainda, que programei essa análise para ocupar o espaço de duas
colunas. Na de hoje, cuidarei de apresentar algumas ideias básicas relativas a gestão
da pesquisa, estando mais diretamente ligada a aspectos organizacionais que
envolvem tempo, escolha do tema e sua delimitação e, por fim, método e materiais.
Organização do tempo
Não se deixe enganar pelos elementos curriculares e seus estreitamentos
institucionais. No caso do TC, a maioria dos currículos escolares, relegam o
cumprimento dos créditos relativos à sua realização e apresentação para o final do
curso. O fato de sua faculdade possuir um currículo assim não significa que você
deverá aguardar até o último ano para dar início à sua monografia.
Para evitar essa situação, sugiro que a preparação do TC tenha início entre as sexta e
sétima etapas do curso. Nessa altura, já existem condições de se perceber, dentre as
diversas questões jurídicas passiveis de figurarem como temas de monografias,
quais seriam aquelas com as quais se possui maior afinidade e que parecem mais
instigantes.
Por outro lado, o trabalho iniciado no último ano, mesmo que restrito à revisão
bibliográfica, ficará provavelmente mais limitado do que aquele que começou a se
preocupar com a monografia (ou com uma iniciação científica, o que dá no mesmo)
ali pela metade do curso. O pesquisador de última hora, muito provavelmente,
alienará uma parcela significativa de sua autonomia intelectual para o orientador
que, nalguns casos limites, pode sugerir o tema e a bibliografia que deve ser
consultada. Absolutamente sem nenhuma contribuição do discente. Essa situação é
extremamente perniciosa porque, por um lado, o acadêmico perde uma ótima
oportunidade para desenvolver uma postura mais assertiva, firme e segura. Por
outro, o orientador também se prejudica, uma vez que essa lógica de dominação e
castradora da autonomia discente, em nada contribuiu para ampliação de sua
experiência de pesquisa.
Neste caso, penso ser extremamente desaconselhável escolher o tema por uma
questão de afinidade com o possível orientador. Por mais cativante que seja o
professor e a sua aula, não existe garantia de que, no momento de execução da
pesquisa, haverá efetivo interesse de sua parte pela temática explorada pelo
docente. A pesquisa é um ótimo espaço para desenvolver e afirmar sua autonomia
intelectual. Assuma isto já no instante de definição do tema. Nessa medida, o mais
adequado é escolher um tema que efetivamente produza em você um genuíno
interesse. Nós estamos abertos para o processo de conhecimento a partir de diversos
“sentimentos de situação”: tédio, revolta, comoção, paixão etc. Um bom indício para
perceber qual tema pode lhe interessar, é se auto-observar com relação ao tipo de
sentimento de situação que a matéria lhe provoca. Pode-se, por exemplo, ter o
desencadeamento de uma pesquisa sobre a necessidade de um conceito mais
coerentista de jurisdição, pela revolta que se revela diante do caos existente na
jurisprudência brasileira; ou da perplexidade que é a descoberta da chamada
“jurisprudência lotérica”, no interior da qual a questão é decida mais pelo sorteio
realizado por ocasião da distribuição do recurso no tribunal do que, propriamente,
pela justificação dos argumentos jurídicos lançados no pedido e na defesa.
http://www.conjur.com.br/2015-fev-14/diario-classe-guia-elementar-monografia-juridica-parte?imprimir=1 3/7
01/07/2017 ConJur - Guia elementar sobre como fazer uma monografia jurídica (parte 1)
Por tudo isso, a escolha do orientador deve ser efetuada depois da definição do
tema, sendo altamente aconselhável que não seja trilhado o caminho contrário.
Dessa constatação decorre outro corolário: tenha sempre presente que quem é o
responsável imediato pelo trabalho é o seu autor. Portanto, você, acadêmico. O
orientador não vai (e nem deve) fazer o trabalho por você. A função do orientador é
servir como um interlocutor privilegiado de seu trabalho, discutindo os resultados
de sua pesquisa e apontando, conforme o caso, os possíveis erros. Ele pode sugerir
leituras que venham a descortinar novos horizontes para a sua pesquisa. Pode
auxiliá-lo na delimitação do seu tema e no julgamento da redação de seu texto. Mas
há determinadas coisas que dependem de um desenvolvimento bastante
personalista.
Este é o caso da delimitação do tema escolhido. O orientador pode discutir com você
a plausibilidade dos cortes teóricos que a sua pesquisa pretende efetuar. Mas o
esforço de objetividade na análise do tema deve partir do próprio acadêmico.
Evite abordagens altamente genéricas. Elas podem ser reveladas pelo título. É muito
pouco aconselhável (para não dizer errado) que uma monografia tenha como título
algo como “Da Jurisdição”. Tal título pode levar sua monografia em direção ao
“paradoxo do cheese-tudo”, assim enunciado: “o cheese-tudo é um sanduíche que
tem de tudo um pouco (gado, porco, frango, embutidos etc.), mas que, ao final, não
possui sabor definido de nenhuma dessas coisas”. Uma monografia assim, “Da
Jurisdição”, pode ter tudo sobre o tema e, ao mesmo tempo, chegar à conclusão de
nada. O resultado final será, apenas, uma amontoado de colagens conceituais que
produzem, no máximo, um opaco patchwork.
A hipótese seria: sim. Por isso o novo CPC estabeleceu mecanismos capazes e
corrigir tal distorção, quando prescreve a exigência de estabilidade, coerência e
integridade da jurisprudência.
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01/07/2017 ConJur - Guia elementar sobre como fazer uma monografia jurídica (parte 1)
Tal hipótese deveria ser testada, à toda evidência, na literatura disponível sobre o
tema, mas, independentemente disso, teríamos aqui uma proposta delimitada de
uma tema para uma eventual monografia.
Métodos e materiais
Outro ponto importante a ser definido para um bom planejamento de seu TC, diz
respeito à decisão sobre o tipo de pesquisa que se pretende efetuar.
Já foi dito no início deste texto que a pesquisa em direito pode ser de revisão
bibliográfica ou empírica. A grande maioria dos trabalhos da área optam pela
revisão bibliográfica que consiste, basicamente, em reunir o maior número possível
de literatura a respeito do tema escolhido produzindo, ao final, um relatório que
apresente de forma sistemática os resultados obtidos pela leitura e fichamento dos
textos, apresentando as controvérsias, as diferentes soluções para o mesmo tema e,
ao final, concluindo com alguma das vias disponíveis (é bem conhecido, mas é
sempre bom lembrar, nenhuma monografia precisa criar algo novo ou pesquisar
um tema que nunca ninguém abordou. Tudo isso é mitológico. Na verdade uma
monografia que investigue um tema com abundante material produzido terá
melhores condições de ser bem sucedida do que outra que esteja “tateando no
escuro”, lutando para encontrar migalhas de referências).
Por outro lado, também não tenho nenhum tipo de objeção com relação à pesquisa
empírica. Apenas penso que, quem optar por esse caminho, deve levá-lo a sério. É
inadmissível o que se lê por aí, inclusive em teses e dissertações, a respeito da
pesquisa empírica no Direito.
Já tive contato com trabalhos que pretendiam realizar “pesquisa empírica” (sic) de
jurisprudência; ou ainda, “pesquisa empírica” (sic) de estudo de caso... !
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01/07/2017 ConJur - Guia elementar sobre como fazer uma monografia jurídica (parte 1)
Foi por esse motivo que, no início, alertei aos interessados em proceder à pesquisa
empírica no direito, que iniciassem necessariamente o seu trabalho antes do último
ano. Do contrário, haveria muito pouco tempo para se informar adequadamente
sobre as técnicas e os métodos de pesquisa, uma vez que será necessário recorrer a
livros de outras áreas do conhecimento bem como a professores que possuem este
tipo de formação (geralmente, alguém que passou por um curso de sociologia,
psicologia, ciência política, etc.).
Uma palavra sobre materiais: a revisão bibliográfica que será realizada, como já
afirmado, precisará cobrir, o máximo possível, a produção publicada sobre o tema.
Essa reunião de materiais bibliográficos deverá incorporar: livros, capítulos de
livros, artigos publicados em periódicos, textos de sites da internet, jornais, etc. É
fundamental, para se fazer um bom TC, que suas referencias não estejam
concentradas em um único meio de publicação. É muito comum encontrar
monografias que fazem referencia apenas a manuais didáticos. Esse é, sem dúvida
nenhuma, o pior dos mundos. É impossível levar a sério uma pesquisa que tenha se
baseado única e exclusivamente nos livros didáticos disponíveis.
Existem bons livros didáticos, é verdade. Mas uma pesquisa que se pretenda
razoável precisa investigar o seu âmbito temático com um mínimo de profundidade
que dificilmente será encontrada nesse tipo de literatura.
É preciso recorrer, portanto, aos periódicos, que reúnem artigos científicos sobre
temas jurídicos. Hoje em dia, esses periódicos estão indexados pela Capes e se
submetem a um “controle de qualidade” conhecido como Qualis. Assim, uma vez
definido o tema, procure o que foi produzido sobre ele e publicado nessas revistas
ou periódicos. E, para saber qual o grau de confiabilidade do material, verifique o
status que a revista consultada ocupa no sistema Qualis. Em minha próxima coluna,
voltarei a falar da prospecção do material e de possíveis formas de organizá-lo a
partir de fichamentos.
Como palavra final, quero registrar que pressuponho nesta interlocução acadêmicos
de direito espalhados por este país continental que levam a sério a sua formação e
possuem o desejo de fazer uma monografia, no mínimo, de boa qualidade. Quem vê
o TC apenas um indigesto rito de passagem, não está incluído em meu “público
alvo”. Estes últimos funcionam na lógica do fingimento: o aluno finge que fez uma
monografia, o professor finge que corrigiu e, ao final, tudo não passou de uma
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01/07/2017 ConJur - Guia elementar sobre como fazer uma monografia jurídica (parte 1)
enorme perda de tempo. Meus sinceros votos para que você, querido leitor, não
esteja incluído nesta triste estatística.
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