Tópicos de correcção do Caso prático da Abby II

O Conselho Municipal X indeferiu o pedido de Abby, conhecida empresária do

ramo imobiliário, para a construção de um prédio de habitação.

Abby afirma tratar-se de uma construção de “charme” inspirada na arquitectura do

Norte da Europa.

O Conselho Municipal X alega que a referida construção não se enquadra na

“estética” envolvente. Além do mais, de acordo com o Conselho Municipal, o PDM não
prevê a construção de um prédio de habitação naquela localização.

Abby pretende que o Tribunal Administrativo condene o Conselho Municipal a

conceder-lhe a licença e que seja aplicada sanção pecuniária compulsória ao Presidente
do Conselho Municipal até a referida licença lhe seja concedida.

Poderá faze-lo?

Respondendo:

Primeiro, é necessário averiguar da legitimidade de Abby. Ora, de acordo com o art

44 da LPAC, é o autor considerado parte legítima quando alegue ser parte na relação
material controvertida.

Quererá isto dizer que o critério determinante do acesso ao juiz é ter direitos e
deveres no âmbito da relação jurídica.

Parece que, por estar em causa uma licença de construção de um prédio de

habitação, e por Abby ser um conhecido empresário do ramo imobiliário, parece que
este terá um interesse directo, sendo por isso parte legítima.

Abby pretende em primeiro lugar, condenar o Conselho Municipal à concessão da

licença de construção. Esta sua pretensão preenche a hipótese da al.b do nº 1 do artigo
124 da LPAC. o que significa que entramos no âmbito da acção administrativa.

Por se pretender a condenação à prática de acto devido, iremos aplicar o regime

estabelecido no artigo 124 e seguintes. Estabelece desde logo o art.127, nº, que a acção
administrativa pode ser utilizada para a condenação da entidade competente à prática,
dentro de determinado prazo, de um acto administrativo ilegalmente omitido (tendo
havido indeferimento tácito) ou recusado, o que será o caso apresentado., uma vez que
houve uma recusa de uma licença de construção.

Não obstante, e como bem refere o nº 1 do artigo 125, não esquecer que o objecto
do processo será sempre a pretensão de Abby, obter a licença, e não, por si só e
individualmente considerada, a eliminação do acto de indeferimento.

Olhando para os pressupostos desta acção, podemos enquadrar a situação aqui

apresentada na alínea b) do nº 1 do art. 124, uma vez que foi recusada a prática do acto
devido, isto é, uma vez que foi recusada a concessão da licença de construção.
 Vista a acção em causa, podemos agora aprofundar a questão da legitimidade ao
olhar para o art. 127. Neste caso, Abby integraria o art. 44, por ser titular de um
interesse legalmente protegido dirigido à emissão do acto.

Tudo visto, parece que Abby, por ser conhecida empresária do ramo imobiliário,
terá interesse (privado) legalmente protegido de construção de uma habitação, que lhe
tutelaria a pretensão d a construção do referido prédio.

Assim, Abby é parte legítima.

Ora, ainda que não nos sejam fornecidos dados relativos a questão temporal no que
tange à questão da oportunidade para a propositura da acção, importa dizer que esta
seria proposta num prazo de 90 dias a contar da notificação do acto objecto da acção,
segundo o nº 2 do art.126.

Abby pretende ainda que seja aplicada uma sanção pecuniária compulsória ao
Presidente do Conselho Municipal, até que a referida licença seja concedida.

Essa hipótese encontra-se desde logo prevista no artigo 129 quando refere que
“Como garantia contra a inexecução ilícita da prática de actos administrativos
legalmente devidos, são aplicáveis as medidas compulsórias…”. Vai aqui aplicar-se, por
remissão do artigo supracitado, o art. 197.vide o nº 1 deste artigo.

Tudo visto, caso a pretensão de Abby seja bem sucedida, poderá o tribunal impor ao
titular do órgão administrativo competente, portanto o Presidente do Conselho
Municipal, a referida sanção pecuniária compulsória que constará assim de uma quantia
a ser paga, por cada dia de atraso, até ao cumprimento da decisão isto é, até à concessão
de licença de construção.