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RESUMO
Rousseau pode ser considerado o primeiro grande teórico da pedagogia
moderna. Na busca pelo equilíbrio entre razão e emoção, configura-se herdeiro
do pensamento iluminista ao mesmo tempo em que dele é crítico. Analisando-
se estas três obras do autor: Discurso sobre a origem e os fundamentos da
desigualdade entre os homens, Emílio ou da educação e Do contrato social,
evidenciam-se categorias analíticas que se apresentam como princípios
essenciais para as discussões de ordem moral e política nos temas ligados à
educação. Dentre elas, destacam-se: (i) da vontade geral ou da democracia -
participação efetiva dos indivíduos no projeto social maior; (ii) da
individualidade - respeito à identificação individual e as diferenças dos seres
humanos enquanto únicos; (iii) da crítica à razão vigente - questionamentos
necessários e constantes que visam evitar forma única de conceber a
realidade; (iv) da igualdade e da supressão da opressão - recusa à origem das
desigualdades sociais ; (v) da justiça e da liberdade - efetivação da justiça
social e a reprovação de qualquer forma de sua banalização. Para tanto, a
proposta de Rousseau é fazer da moral e da política o campo de investigação
para a construção de categorias que possibilitem olhares diferenciados sobre
os temas da educação; é garantir que a razão prevaleça sobre os instintos e as
paixões; é evitar que as desigualdades ocasionem momentos de barbárie e de
banalização de princípios necessários para tornar mais humanas as condições
de indivíduos condenados a se utilizarem da crítica-reflexiva para afirmar suas
condições morais e, conseqüentemente, políticas.
Palavras-chave: Filosofia da Educação. Filosofia Moral. Política.
INTRODUÇÃO
*
Pesquisador pela Universidade Federal do Paraná, Professor e Coordenador do Curso de
Administração no ISEPE-Guaratuba.
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AS LUZES DE EMÍLIO
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A bondade original não pode ser valorada com a concepção moral atribuída na atualidade.
Essa bondade concentra-se, muito mais, na ausência da maldade das ações do que na
presença de um conceito metafísico de bondade. Assim, é um conceito que tem como atributo
a construção negativa, sem a conotação moral de nossa época.
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como podemos dirigir para o bem ou para o mal todas as paixões das crianças
e dos homens” (ROUSSEAU, 1999b, p. 275).
Uma das características mais marcantes da atual sociedade refere-se à
forma como as paixões se tornaram instrumentalizadas, como se houvesse
uma economia das paixões, dos sentimentos e dos afetos. As trocas afetivas,
todavia, são direcionadas para as satisfações individuais e ao focar o indivíduo
provocam relevante perda social, pois, ao atenderem às necessidades
individuais, deixam as questões do coletivo pormenorizadas, menosprezadas.
O que se criam e se intensificam são necessidades que atendem a interesses
particulares. Por isso que Rousseau afirma a necessidade de uma sabedoria
quanto ao uso das paixões: “Eis, portanto, o sumário de toda a sabedoria
humana quanto ao uso das paixões: 1. sentir as verdadeiras relações do
homem, tanto na espécie quanto no indivíduo; 2. ordenar todas as afecções da
alma conforme essas relações” (ROUSSEAU, 1999b, p. 284). A razão, nesse
sentido, é necessária para a compreensão das paixões, entretanto, sua função
essencial é direcionar as paixões humanas para o entendimento do indivíduo e
do coletivo. A passagem da ordem do indivíduo para a do coletivo é um
imperativo para a consolidação de uma sociedade menos injusta ou
excludente, isso porque:
enquanto sua sensibilidade permanece limitada a
seu indivíduo, não há nada de moral em suas ações.
Somente quando ela começa a se estender para
além dele, é que ele adquire primeiro os
sentimentos, depois as noções do bem e do mal,
que o constituem verdadeiramente como homem e
parte integrante de sua espécie. Portanto, é sobre
este primeiro ponto que devemos concentrar nossas
observações (ROUSSEAU, 1999b, p. 284).