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REDE PÚBLICA)
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA INFÂNCIA E
JUVENTUDE DA COMARCA DE BELO HORIZONTE, MINAS GERAIS
DISTRIBUIÇÃO URGENTE
COM PEDIDO DE LIMINAR
PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO – ART. 4º. DA LEI Nº 8.069/1990
X. X. X, brasileira, menor impúbere nascida em xxxxx, representada por seu genitor, X. Xbrasileiro,
portador da Cédula de Identidade RG nºxxxxx, inscrito no CPF do xxxxx ambos domiciliadas em
Belo Horizonte, MG, onde residem na Rua xxxxxxx, por sua advogada que esta subscreve
(instrumento de mandato anexo), que receberá intimações em seu escritório localizado na Rua
Professor Morais, 32, cj 201, bairro Funcionários em Belo Horizonte, Minas Gerais, vem a Vossa
Excelência, com fulcro no artigo 5º, inciso LXIX da Constituição Federal, e nos termos da Lei nº
Lei 12.016/09, impetrar
MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO DE LIMINAR
em face daSENHORA SECRETÁRIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, com endereço à rua
xxxxxx, por entender que a “Autoridade coatora é quem ordena a prática do ato impugnado ou se
omite em praticá-lo, e não o superior que recomenda ou baixa normas para sua execução” (RMS
8856/RJ, Rel. Min. Garcia Vieira) tudo pelos fatos e fundamentos de direito a seguir narrados:
1 – OS FATOS
A impetrante é menor, e possui um irmão, com x anos de idade, que já estuda na UMEI xxx,
vinculada à Escola Municipal XXX, situada à Rua XXX, bairro XXX, em Belo Horizonte, Minas
Gerais. (DOC IV)
Os menores são filhos dos mesmos pais e ambos trabalham durante todo o dia, e por isso precisam
recorrer às unidades públicas de educação para deixarem seus filhos em segurança durante o período
de trabalho.
É mister consignar que a genitora e o representante da impetrante, necessitam trabalhar para fim de
prover ao sustento da família, e, com isso, não tem onde e nem com quem deixar sua filha, não
podendo levá-las consigo ao trabalho. Por isto, necessita do atendimento aos seus dois filhos, na
mesma unidade educacional e que seja logisticamente compatível com sua residência e trabalho.
Não obstante isto, a frequência à creche consiste em direitos fundamentais desta enquanto criança,
de efetivação indispensável à sua boa formação e educação.
Além disso, é notório que para que os pais possam trabalhar, é indispensável que possam deixar seus
filhos em segurança, em ambiente adequado para um crescimento saudável da criança, tanto que
a Constituição Federal prestigia a educação infantil, como forma de propiciar o desenvolvimento
integral das crianças de zero a seis anos de idade, o atendimento em creches e unidades de pré-escola
(artigo 208, inciso IV, CF).
Observa-se, portanto, que além da necessidade imposta pelo fato de que os pais precisam trabalhar, o
atendimento das crianças em creche e a frequência destas são direitos garantidos constitucionalmente
que devem ser respeitados e efetivados.
2 – O DIREITO
O artigo 208, IV, da Constituição Federal, assegura às “crianças de zero a seis anos de idade” o
efetivo acesso e atendimento em creches e unidades de pré-escola. Coaduna-se a este dispositivo o
artigo 227 do Texto Constitucional que ressalta o direito à educação, notadamente às crianças.
Enfatiza-se, ainda, que, nos termos do artigo 211, § 2º da CF, compete prioritariamente aos
Municípios atuar no ensino fundamental e infantil.
No caso em tela, as impetrantes sofreram com o ato abusivo e ilegal da autoridade coatora, na
medida em que não lhes foi assegurado o atendimento em creche e pré-escola municipal, medida que
afronta brutalmente os dispositivos constitucionais apontados, além de outras disposições conforme
adiante se demonstrará.
À luz da conformação constitucional, no caso em tela, é dever do Município garantir o acesso pleno
ao sistema educacional, haja vista que se trata de atendimento em creche municipal ou que lhe faça
as vezes, por convênio. E ainda, não se pode olvidar que o direito perseguido é LÍQUIDO E
CERTO, se refere à garantia de duas crianças de fluírem de seu direito constitucional à educação.
Neste sentido:
80025020– REMESSAEX OFFICIOE RECURSO VOLUNTÁRIO – MANDADO DE
SEGURANÇA – RECUSA DE MATRÍCULA EM ESCOLA DE PRIMEIRO GRAU E
CRECHES PELA MUNICIPALIDADE A ALEGAÇÃO DE FALTA DE VAGAS –
INADMISSIBILIDADE – DIREITO LÍQUIDO E CERTO FERIDO –Conceitua-se como
direito líquido e certo a matrícula em estabelecimento de ensino público de criança e adolescente,
situado próximo a residência, por ser dever constitucional do estado prover a educação dos que dela
necessitam, por força do estatuído noartigo 53 do Estatuto da Criança e do
Adolescente e artigo 208 da Constituição Federal. (TJES – REO 024920039542 – Rel. Des. José
Mathias de Almeida Neto – J. 21.06.1994) (FONTE: www.iobonlinejurídico.com.br).
E sobre o tema educação consigna-se a magistral lição de Celso Ribeiro Bastos:
“A educação consiste num processo de desenvolvimento do indivíduo que implica a boa formação
moral, física, espiritual e intelectual, visando ao seu crescimento integral para um melhor exercício
da cidadania e aptidão para o trabalho.”(BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional.
20. Ed. Atual. São Paulo: Saraiva, 2005).
À vista do exposto, pode-se assegurar que o direito à educação possui um alto relevo social e
irrefutável valor constitucional, e uma de suas faces é justamente a garantia de acesso a creche, e
assim sendo, não pode ser considerado apenas um axioma, mas deve ser posto em prática e é dever
do Estado efetivá-lo.
Complementando, anota-se que o direito da impetrante a vaga em creche encontra-se resguardado
inclusive pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 8.069/90, em especial nos artigos 4º.,
parágrafo único, alínea b e artigo 54, inciso IV.
Acresce afirmar, ainda, que ao Município foi imposto pela Constituição Federal e legislação
extravagante o dever de propiciar o acesso à creche e pré-escola de forma efetiva (ou seja, em
instituição próxima à residência das crianças) para as crianças de zero a seis anos, o que não foi
efetivado no caso concreto.
Nesse sentido já se manifestou brilhantemente o Supremo Tribunal Federal afastando qualquer
dúvida no tocante a correta interpretação e aplicação do artigo 208, inciso IV, da Constituição
Federal:
“E M E N T A: RECURSO EXTRAORDINÁRIO – CRIANÇA DE ATÉ SEIS ANOS DE
IDADE – ATENDIMENTO EM CRECHE E EM PRÉ-ESCOLA – EDUCAÇÃO
INFANTIL – DIREITO ASSEGURADO PELO PRÓPRIO TEXTO
CONSTITUCIONAL (CF, ART. 208, IV)- COMPREENSÃO GLOBAL DO DIREITO
CONSTITUCIONAL À EDUCAÇÃO – DEVER JURÍDICO CUJA EXECUÇÃO SE
IMPÕE AO PODER PÚBLICO, NOTADAMENTE AO MUNICÍPIO (CF, ART. 211, §
2º)- RECURSO IMPROVIDO.
– A educação infantil representa prerrogativa constitucional indisponível, que, deferida
às crianças, a estas assegura, para efeito de seu desenvolvimento integral, e como
primeira etapa do processo de educação básica, o atendimento em creche e o acesso à
pré-escola (CF, art. 208, IV).
– Essa prerrogativa jurídica, em conseqüência, impõe, ao Estado, por efeito da alta
significação social de que se reveste a educação infantil, a obrigação constitucional de
criar condições objetivas que possibilitem, de maneira concreta, em favor das
“crianças de zero a seis anos de idade” (CF, art. 208, IV), o efetivo acesso e atendimento
em creches e unidades de pré-escola, sob pena deconfigurar-se inaceitável omissão
governamental, apta a frustrar, injustamente, por inércia, o integral adimplemento, pelo
Poder Público, de prestação estatal que lhe impôs o próprio texto da Constituição
Federal.
– A educação infantil, por qualificar-se como direito fundamental de toda criança, não se
expõe, em seu processo de concretização, a avaliações meramente discricionárias da
Administração Pública, nem se subordina a razões de puro pragmatismo governamental.
– Os Municípios – que atuarão, prioritariamente, no ensino fundamental e na educação
infantil (CF, art. 211, § 2º)– não poderão demitir-se do mandato constitucional,
juridicamente vinculante, que lhes foi outorgado pelo art. 208, IV, da Lei Fundamental
da República, e que representa fator de limitação da discricionariedade político-
administrativa dos entes municipais, cujas opções, tratando-se do atendimento das
crianças em creche (CF, art. 208, IV), não podem ser exercidas de modo a comprometer,
com apoio em juízo de simples conveniência ou de mera oportunidade, a eficácia desse
direito básico de índole social.
– Embora resida, primariamente, nos Poderes Legislativo e Executivo, a prerrogativa de
formular e executar políticas públicas, revela-se possível, no entanto, ao Poder
Judiciário, determinar, ainda que em bases excepcionais, especialmente nas hipóteses de
políticas públicas definidas pela própria Constituição, sejam estas implementadas pelos
órgãos estatais inadimplentes, cuja omissão – por importar em descumprimento dos
encargos político-jurídicos que sobre eles incidem em caráter mandatório – mostra-se
apta a comprometer a eficácia e a integridade de direitos sociais e culturais impregnados
de estatura constitucional. A questão pertinente à “reserva do possível”. Doutrina.”(STF
– Ag. Reg. No Recurso Extraordinário 410.715-5-SP. Min. Celso de Mello).
Conclui-se, portanto, que diante da omissão do Poder Público Municipal em não oferecer vaga na
creche e pré-escola em período integral para as impetrantes, e pelo fato destas possuírem direito
líquido e certo a tal serviço público, considerando as disposições constitucionais e
infraconstitucionais, o mandado de segurança ora impetrado é a medida judicial cabível, sendo lícito
ao Poder Judiciário apreciá-lo, sem que isto afronte o princípio da separação de poderes.
Neste mesmo sentindo, já se posicionou o Egrégio Tribunal de Justiça de Minas Gerais:
g) arbitramento e expedição de certidão dos honorários advocatícios com base no art. 22, § 1º, da Lei
nº 8.906/94.
Atribui à causa o valor de R$ 1.000,00 (um mil reais).
Termos em que,
pede deferimento.
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Amanda R. Salomão
OABMG 121140