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JORNADA

DE PESQUISA EM ARTE PPG IA/UNESP 2017 – 2a edição internacional


FORNICAÇÃO, FÁRMACOS E FUNK1: UM PARADIGMA
EMERGENTE E A SOCIOLO(R)GIA DE MAFFESOLI

Thiago Barbosa Alves de Souza


UNESP – thiago89alves@gmail.com

RESUMO
Este artigo possui três partes: a primeira consiste de uma breve análise musical, linguística
e intermidiática do funk intitulado Ô Xanaína, do cantor funqueiro Mc Lan, publicado em 17
de janeiro de 2017 e que já possui mais de 17 milhões de acessos no YouTube; a segunda
parte traz uma análise do contexto social do funk a partir das ideias do sociólogo francês
Michel Maffesoli (1944); já a terceira e última parte traz uma composição musical e
intermidiática que toma o funk como modelo de processo artístico e estético.

PALAVRAS-CHAVE
Mc Lan. Ô Xanaína. Análise Musical do Funk. Composição Musical de Funk. Etnomusiclogia
do Funk.

ABSTRACT
This article has three parts: the first one consists of a brief musical analysis, a brief linguistic
analysis and a multimedia analysis of the brazilian funk titled Ô Xanaína, composed by Mc
Lan, published on January 17, 2017 and that already has more than 17 million of views on
YouTube; The second part brings an analysis of the social context of the brazilian funk
based on the ideas of the French sociologist Michel Maffesoli (1944); the third and last part
brings a musical and multimedia composition that takes brazilian funk as a model of artistic
and aesthetic process.

KEYWORDS
Mc Lan. Ô Xanaína. Musical Analysis of Brazilian Funk. Musical Composition of Brazilian
Funk. Ethnomusicology of Brazilian Funk.

1. Contexto, texto e música

Nos momentos em que decidimos olhar para estudos sobre o homem e a


sociedade no tempo presente, é quase certo que encontraremos análises
impactantes, duras e dolorosas sobre a nossa organização social e psíquica.
Contudo, às vezes uma abordagem severa é apenas o ancestral olhar condenatório
das práticas contemporâneas, confundindo-se com uma visão apocalíptica – para
fazermos referência ao livro Apocalípticos e Integrados de Umberto Eco –, visão
esta que, segundo Sébastian Charles, sempre esteve presente em todos os
períodos da história humana:
1
Estes três substantivos presentes no título (fornicação, fármacos e funk) constituem uma alusão ao
tríptico já consagrado “sexo, drogas e rock n’ roll”.
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A condenação do presente é sem dúvida, se analisada da perspectiva do


tempo longo da história, a crítica mais comum apresentada pelos escritores,
filósofos e poetas, e isso desde épocas imemoriais. Platão já se preocupava
com o definhamento dos valores e o surgimento dessa raça de ferro, a dele,
que não tinha mais muito em comum com a raça de ouro dos tempos
míticos, dotada de todas as virtudes (CHARLES in LIPOVETSKY, 2004: p.
13).

Podemos até dizer de um modo menos cuidadoso que, às vezes, um olhar


condenatório é sintoma de inadequação ao presente, sinal de idade, talvez. Neste
sentido, prevenidos – ou ao menos alertados – dos riscos de um possível olhar
recriminatório, buscaremos neste artigo efetuar um estudo do funk enquanto
fenômeno contemporâneo extremamente popular nas últimas décadas. Para isto,
optamos por analisar a música, a letra e o pensamento presentes no funk O Xanaína
do cantor funqueiro Mc Lan. Esta música foi publicada em 10 de janeiro de 2017 no
canal Legenda Funk2 do YouTube no qual músicas do gênero funk de diversos Dj´s e
Mc´s são publicadas diariamente.

Considerando estes dados, cabe fazermos uma breve digressão para


olharmos um interessante fenômeno: o YouTube, uma plataforma audio-visual, vem
sendo usado como plataforma radiofônica para ouvir música on-line, isto é, o canal
Legenda Funk, assim como muitos outros nos quais a música é o foco, privilegia a
música em detrimento da imagem. Via de regra, enquanto a música ocorre cheia de
informações e acontecimentos sonoros, a imagem que a acompanha é apenas uma
foto do funqueiro, com um fundo estilizado que traz um número de telefone, ou outra
forma de contato para solicitação de shows e eventos; em alguns outros casos, a
imagem do funk que é tocado exibe a letra de sua canção. A seguir, temos a imagem
que acompanha a música que será aqui por nós discutida (O Xanaína):

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Destacamos que no momento em que este artigo está sendo redigido, o video desta música já
possui mais de 17 milhões de acessos.
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Figura 1: Captura de tela da imagem que acompanha o video da música Ô Xanaína no YouTube. Fonte:
Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=5xuDD1Tvsc0>. Acesso em: 25 jun. 2017.

Este fato nos leva a concluir que, apesar do momento intermidiático que
vivemos – resultado dos avanços tecnológicos –, ainda há contextos nos quais cada
campo exerce seu predomínio, ou seja, ora a música (ou o elemento auditivo de
modo geral) é o aspecto principal, ora a visualidade e, em muitos casos, os dois ao
mesmo tempo.

É necessário levar em conta também que a difusão de uma obra musical no


YouTube pode ser acessada gratuitamente, o que não ocorre com o Spotify, uma
das principais plataformas digitais de acesso a conteúdos musicais. Desta forma, o
YouTube também se mostra mais acessível às camadas sociais desfavorecidas, das
quais o funk é fruto.

No que diz respeito aos elementos musicais de Ô Xanaína, parece-nos que


toda organização dos parâmetros sonoros (altura, duração intensidade e timbre) tem
origem na semântica e na prosódia da letra, logo é preciso olharmos este dois
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objetos juntos, apesar de podermos abstraí-los. Assim sendo, podemos simplificar


toda a letra da seguinte maneira3:

Ô Xanaína (verso este repetido diversas vezes com variação de vogais)


Xanaína, você não vai encostar hoje no piscinão de Ramos?
Xanaína, tá querendo sentar na tromba?
Só quer sentar na “giromba”, Xanaína?
Xanaína, Xanaína
Ô Xanaína
Vem com o boga4 na linguiça!
Ô Xanaína
Vem rebolando a linguiça!
Vem, Vem
Vem cá xaninha
Vem, vem
(en)caixa na minha5
Tipo Vavazinho
Tipo Babão
Mc Lan novamente

Observamos, logo no primeiro contato, um forte teor obsceno, polemístico e


tabuístico típico do funk, características presentes na literatura ocidental. Podemos
citar como exemplo a obra de Pietro Aretino (1492-1556) – a qual é considerada um
dos primeiros exemplos de pornografia6 –, bem como a de Marquês de Sade (1740-
1814).

Contudo, tal obscenidade é ritmada em um compasso quaternário simples e


cantada sobre o sampler de um motivo melódico recorrente na escala de Sol Lídio
(Sol, Lá, Si, Dó#, Ré, Mi, Fá#), sendo que a única nota desta escala que é omitida é
a nota Mi:

Figura 2: Motivo melódico presente na música Ô Xanaína

3
Como se trata aqui de um tipo de canção extremamente repetitiva, ao escrevermos sua letra,
optamos por não gravar as repetições, limitamos-nos, entretanto, a apresentar a primeira aparição
das palavras que se repetem.
4
A palavra “boga” tem aqui o sentido de ânus.
5
Neste verso observamos uma ambiguidade, ou mesmo uma incerteza semântica, pois não nos é
claro se significa “com a xana minha” ou “encaixa na minha” em que a sílaba “en” da palavra
“encaixa” é omitida.
6
A este respeito, cf.: LEITE JÚNIOR, 2006: pp. 45-53.
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Já o ritmo é constituído de quatro camadas de instrumentos de percussão


sampleados: tímpano, reco-reco e dois triângulos com diferença de altura entre si,
um grave e outro agudo. Estes instrumentos executam repetidamente uma frase
musical de 4 compassos – nos quais o primeiro e o segundo compasso são
idênticos ao terceiro e ao quarto, respectivamente – em que a simplicidade das
linhas sugerem uma escuta monofônica, isto é, uma sequência sonora que resulta
apenas em uma informação musical, sem sobreposições de frases.

Figura 3: Ostinato rítmico em quatro camadas de instrumentação

Nos primeiros segundos da música, antes de começar o ostinato rítmico, o


cantor chama de modo caótico, como que pedindo a máxima atenção, uma suposta
mulher de nome “Xanaína”, tal caos nos remete a duas obras vocais pertencentes à
chamada vanguarda européia: Visage (1961) e Sequenza III (1965), ambas as obras
do compositor italiano Luciano Berio7 (1925-2003). Porém, se nestas obras de Berio
as emissões vocais aparentemente caóticas possuem diversas formas e sugerem
diferentes emoções, o que predomina em Ô Xanaína de Mc Lan é a obscenidade e o
caráter degenerado. Estes traços são alcançados pela substituição do fonema /ƺ/ 8
do nome próprio “Janaína”, pelo fonema /ʃ/9 para se obter o nome propositadamente
esdrúxulo “Xanaína”, que traz consigo o morfema “xana” que se refere ao órgão
7
Sobre estas obras, ver MENEZES, 1993.
8
Esta é a forma de representar isoladamente o fonema que corresponde a letra “j” da palavra
“Janaína”. A este respeito, ver o alfabeto fonético internacional (FIORIN, 2012: p. 27).
9
Forma de representar o fonema que corresponde a letra “x” no caso da palavra “xenofobia”, por
exemplo.
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sexual feminino. Temos, assim, um procedimento metafórico baseado na associação


paradigmática10 destas duas palavras (“Janaína” e “Xana”).

A base deste procedimento de substituição do fonema /ƺ/ pelo fonema /ʃ/ é a


semelhança, pois ambos os fonemas são consoantes homorgânicas, ou seja, tanto o
fonema /ƺ/ quanto o fonema /ʃ/ possuem o mesmo modo e o mesmo ponto de
articulação, a única diferença entre eles é que a consoante /ƺ/ é sonora, isto é, tem a
participação das cordas vocais para sua emissão, e a consoante /ʃ/ é surda, não tem
a presença de sons vocálicos. Assim, temos nesta simples substituição um dos
princípios que, segundo Roman Jakobson (1896-1982) – eminente linguista do
século XX –, presidem toda construção poética: a metáfora 11. Contudo, não temos
aqui uma metáfora de conceitos, mas uma metáfora sonora: as sílabas “Jana” do
nome “Janaína” tem uma semelhança com a palavra “xana”, palavra esta cara ao
contexto linguístico e musical do funk.

O procedimento metafórico continua nos momentos em que as palavras


“tromba”, “giromba” e “linguiça” são usadas para se referir ao órgão sexual
masculino, contudo estas metáforas estão baseadas não na semelhança sonora,
mas sim na semelhança imagética dos elementos envolvidos na comparação.

2. Obscenidade, primitivismo e Maffesoli

Todo o contexto linguístico, musical e social do funk Ô Xanaína nos remete a


um caráter aparentemente bruto, obsceno e primitivo, entretanto, ao olharmos para
estas características de modo mais atento, encontraremos os traços daquilo que o
sociólogo francês Michel Maffesoli (1944) chama de pós-modernidade:
presenteísmo, cultura do gozo, hedonismo, retomada de valores arcaicos,
tribalismos, aceitação (trágica) do destino, vitalismo, descrença profunda nas ideias
progressistas e declínio de concepções metafísicas.

10
O adjetivo “paradigmático” se refere às relações associativas entre palavras, de acordo com a visão
de Ferdinand de Saussure (1857-1913) fundador da lingüística moderna. Para este autor, as palavras
formam grupos através de uma associação mental baseada na semelhança se sua “imagem acústica”
ou de seu significado (SAUSSURE, p.145).
11
Para Jakobson as construções poéticas operam sempre através da metáfora (relação de
similaridade) e da metonímia (relação de contiguidade), JAKOBSON, 2010: pp. 42-78 e 166.
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Tais características do que Maffesoli entende por mentalidade pós-moderna


são fruto de uma espécie de decepção nas ideias de um progresso futuro,
descrença na razão. Isto faz que os indivíduos, já cansados de uma dinâmica em
que há um resguardo no presente para um aproveitamento futuro, olhem e vivam
em prol do tempo presente em toda sua intensidade. Por isso, no ato de nos
voltarmos para o presente, não pensamos mais na linha do tempo que conduziria a
um futuro melhor, pensamos apenas no agora, esquecendo do tempo e gozando
cada instante que, por causa deste mesmo gozo e aproveitamento intenso, se
eterniza. Nesta concepção de Maffesoli reside a forma mais adequada de entender
todas as manifestações dionisíacas que proliferam nas sociedades atuais,
manifestações juvenis outrora vistas apenas com moralismos. Não à toa, os títulos
dos livros de Maffesoli trazem um caráter lúdico e dionisíaco: Homo Eroticus, A
Sombra de Dionísio, Nos Tempos das Tribos, O Eterno Instante.

Neste cenário, notamos que tudo aquilo que o funk aborda e que pode ser
resumido no tríptico “sexo, drogas e ostentação” vai ao encontro desta dionisíaca e
pós-moderna cultura do gozo explicada por Maffesoli:

É tão frequente gritar contra o mundo, que falta às vezes saber celebrá-lo.
Digo bem “saber”, já que não é fácil apreciar o que é. Isto requer coragem,
também saúde, que não têm, naturalmente, aqueles que se entregam à
miséria e depreciam existência, os desmancha-prazeres e outros
intelectuais especialistas do lamento (MAFFESOLI, 2005a: p.11).

Ainda sobre esta celebração infinita e a cultura do gozo assídua na pós-


modernidade, Sonia Marrach ao abordar o livro O Instante Eterno de Maffesoli é
categórica:

A “atração apaixonada” é a categoria chave para definir o espírito da pós-


modernidade. Ela aparece com mais evidência nas tribos das novas
gerações, mas afeta idosos e adultos, expressando-se na busca da eterna
juventude, no culto ao corpo, no modo de vestir, de falar, de pensar. O
homem maduro – senhor de si e da natureza, durante a modernidade – foi
substituído pela criança eterna e brincalhona. Daí a pergunta do autor: “Não
é possível imaginar que, em lugar do trabalho, com seu aspecto
crucificador, o lúdico, com sua dimensão criativa, seja o novo paradigma
cultural?” (MARRACH, 2006: p.134).

3. Descrição de trabalho artístico: metabolizando a linguagem do funk


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Toda a reflexão anterior nos motivou a elaborar uma composição musical,


linguística e intermidiática (considerando que o videoclipe desta composição está em
fase de produção) aos moldes do caráter lúdico e dionisíaco do funk Ô Xanaína:
letra simples, pequenos materiais musicais que muito se repetem e presença de
conteúdo polemístico e tabuístico. A composição foi então pré-concebida para o
grupo Parágrafo D, grupo musical performático vinculado ao grupo de pesquisa
Artemídia e Videoclipe, coordenado pelo professor do Instituto de Artes da UNESP
Dr. Pelópidas Cypriano de Oliveira e que conta com a participação de alunos da
graduação e da pós-graduação desta instituição.

Assim, foi elaborada a composição de nome Roacutan12, que se trata de um


funk, porém com a típica formação do Rock: guitarra distorcida, bateria, contrabaixo
elétrico e voz13. A ideia de se fazer um funk com esta formação constitui já um
processo composicional de explicitar a similaridade destes dois gêneros, no que diz
respeito ao aspecto dionisíaco, através da própria formação instrumental.

12
“Roacutan” é o nome de uma marca de medicamentos que comercializa a isotretinoína,
medicamento usado principalmente no tratamento da acne. Trata-se de um medicamento que deve
ser usado com muita cautela, pois traz efeitos colaterais e seu uso durante a gravidez é
terminantemente proibido (ISOTRETINOÍNA, 2015).
13
Na pauta musical que será exibida, optamos por não grafar a linha do contrabaixo, pois este
executará exatamente a mesma linha do canto, a única diferença é que o contrabaixo é transpositor
de oitava, isto é, suas notas soam uma oitava abaixo do que são escritas.
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Figura 4: Figura 4: Partitura de Roacutan (apenas 6 compassos que se repetem 4 vezes).


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A partitura de Roacutan traz apenas 6 compassos de nova informação que


são repetidos 4 vezes até chegar ao fim. A simplicidade musical aqui é tão evidente
que podemos sintetizar toda a composição em apenas dois elementos: uma linha
melódica (executada pelo canto e preenchida pelo contrabaixo e pela guitarra
distorcida com quintas e oitavas justas) e o ritmo do funk na bateria, ritmo este que é
repetido pela bateria em um ostinato de apenas 2 compassos, exatamente como o
funk Ô Xanaína; já a melodia é construída com base na escala do modo eólio sobre
a nota Mi (Mi, Fá#, Sol, Lá, Si, Dó, Ré).

A letra acompanha esta simplicidade musical com a ausência de rimas e a


expressão de uma ideia de modo categórico e agressivo:

Eu quero ficar bonitinho


E eu quero ficar bem doidão
Eu quero ficar bonitinho
E eu quero ficar bem doidão
Roacutan com cocaína, hah!!!
Roacutan com cocaína, hah!!!

A marca polêmica deste funk não é de índole sexual como em Ô Xanaína,


mas sim aborda o complexo tema das drogas, tão presente em um tipo de funk
denominado por “proibidão”14. Contudo, no caso da música Roacutan, há uma
dialética entre as drogas lícitas (representadas aqui pelo medicamento “Roacutan”) e
drogas ilícitas (representadas pela cocaína). Estas drogas foram postas como
antítese na letra, mas têm em comum o fato de serem nocivas a saúde. Também,
representam o hedonismo abordado por Maffesoli no que diz respeito à busca pela
satisfação: uma satisfação da vaidade representada pelo Roacutan, medicamento
destinado a eliminar acnes, e a satisfação psico-fisiológica pelo consumo da
cocaína. A sugestão de consumir as duas substâncias no verso “Roacutan com
cocaína” simboliza o profundo presenteísmo, um tanto patológico, descrito por
Maffesoli, uma total ausência de preocupação com problemas e mesmo soluções
futuras, típico sintoma da pós-modernidade descrita pelo sociólogo francês.

4. Considerações finais

14
Cf.: PALOMBINI, 2017.
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Buscamos neste artigo abordar o fenômeno funk como um paradigma


emergente de expressão artística em todos os campos (musical, visual,
intermidiático, linguístico e social), ao mesmo tempo que encontramos em suas
realizações práticas os exemplos de comportamentos pós-modernos analisados na
teoria pelo sociólogo francês Michel Maffesoli. Buscamos também extrair deste novo
modelo de expressão estética uma referência de procedimentos artístico,
considerando que o aspecto aparentemente bruto e primitivo da linguagem do funk
pode ser, contraditoriamente, algo rico em sua simplicidade.

REFERÊNCIAS

FIORIN, José Luiz et al. Introdução à Linguística II: princípios de análise. 5. Ed. 1
reimpressão. São Paulo: Contexto, 2012.
JAKOBSON, Roman. Linguística e Comunicação. Tradução de Izidoro Blikstein. 22.ed. São
Paulo: Editora Pensamento- Cultrix LTDA. 2010.
LEITE JÚNIOR, Jorge. Das Maravilhas e Prodígios Sexuais: a pornografia “bizarra” como
entretenimento.São Paulo: Annablume, 2006.
LIPOVETSKY, Gilles et CHARLES, Sébastian. Os Tempos Hipermodernos. Tradução: Mário
Vilela. 1. Ed. São Paulo: Editora Barcarrola, 2004.
MAFFESOLI, Michel. El Instante Eterno: el retorno de lo trágico em las sociedades
posmodernas. Tradução: Virginia Gallo. Buenos Aires: Paidós, 2005a.
___________, Michel. O Tempo das Tribos: O declínio do individualismo nas sociedades de
massa. Tradução: Maria Lourdes Menezes e Débora de Barros Castro 4. Ed. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2010.
___________, Michel. A Sombra de Dionísio. Tradução: Rogério de Almeida e Alexandre
Dias. 1. Ed. São Paulo: Zouk, 2005b.
___________, Michel. Homo Eroticus: Comunhões emocionais. Tradução: Abner Chiquieri.
1. Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014.
MENEZES, Flo. Flo. Un Essai Sur la Composition Électronique Visage de Luciano Berio.
Modena: Mucchi Editore, 1993.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. Trad.: Antônio Chellini, José Paulo
Paes e Izidoro Blikstein. 11. ed. São Paulo: Editora Cultrix, (?).
- Artigo em Periódico
MARRACH, Sonia. O Instante Eterno. Educação em Revista, UNESP – Marília, v.7, n.1/2, p.
133-136, 2006.
- Trabalhos publicados online
PALOMBINI, Carlos. Funk Proibido In: AVRITZER, L.; BIGNOTTO, N.; FILGUEIRAS, F.;
GUIMARÌES, J. e STARLING, H. (Org.). Dimensões políticas da Justiça. Rio deJaneiro:
Record, 2012. Disponível em:<https://www.academia.edu/5268654/_Funk_proibido_e-
book_>. Acesso em 23 de junho de 2017.
- Bula de remédio
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ISOTRETINOÍNA. Comercializado por Valeant Farmacêutica do Brasil Ltda. Local: Alameda


Capovilla, 109, Indaiatuba: São Paulo. Data da fabricação: jun 2015. Bula de remédio.
- Material audiovisual (Imagem em movimento) em meio eletrônico:

YOUTUBE. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=5xuDD1Tvsc0>. O Xanaina (Prod.


Lan RW e TH Detona), Acesso em: 25 jun. 2017. Dur: 2m57s.

Thiago Barbosa Alves de Souza


Mestrando do Programa de Pós-graduação em Artes da UNESP, bacharel em Composição
Musical também por esta instituição. Foi bolsista de Iniciação Científica do CNPq durante
dois anos (2013-2015), com pesquisa sobre as relações entre a linguística de Roman
Jakobson e a análise musical e também possui formação técnica em Música pela Fundação
das Artes de São Caetano do Sul.

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