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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LITERATURA E CULTURA

PROJETO DE PESQUISA

A REPRESENTAÇÃO DO NEGRO NA CANÇÃO POPULAR BRASILEIRA: AS


IDENTIDADES PRESENTES NAS LETRAS INTERPRETADAS PELA BANDA
REFLEXUS NOS LP REFLEXUS DA MÃE ÁFRICA (1987) E SERPENTE NEGRA
(1988)

SARA ROGÉRIA SANTOS BARBOSA

Salvador
1

2017
SARA ROGÉRIA SANTOS BARBOSA

A REPRESENTAÇÃO DO NEGRO NA CANÇÃO POPULAR BRASILEIRA:


AS IDENTIDADES PRESENTES NAS LETRAS INTERPRETADAS PELA BANDA
REFLEXUS NOS LP REFLEXUS DA MÃE ÁFRICA (1987) E SERPENTE NEGRA
(1988)

Projeto de pesquisa apresentado como pré-requisito


para obtenção de nota na disciplina Metodologia da
Pesquisa ministrada pelas professoras Isabela Almeida
e Rosinês Duarte no Programa de Pós-Graduação em
Literatura e Cultura – LitCult, da Universidade Federal
da Bahia – UFBA. Período letivo 2017/1.

Salvador
2017
2

SUMÁRIO

PROBLEMÁTICA, PROBLEMA E HIPÓTESES............................................................... 3

JUSTIFICATIVA ..................................................................................................................... 6

OBJETIVOS ............................................................................................................................. 7

OBJETIVO GERAL............................................................................................................. 7

OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................................. 7

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................................................... 8

ORÇAMENTO ....................................................................................................................... 10

CRONOGRAMA .................................................................................................................... 11

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 13
3

PROBLEMÁTICA, PROBLEMA E HIPÓTESES

O texto literário, seja em prosa ou verso, sempre foi um local privilegiado de


autorreconhecimento ou identificação do homem com o outro. Tão certo como esse tipo de
texto é partícipe na construção identitária de um povo, a ausência por muito tempo de uma
literatura que apresentasse o negro distanciado da condição de miserabilidade, marginalidade e
ignorância contribuiu para a falta de identificação desse sujeito com as personagens do
romance, senão aquelas representadas pejorativa ou negativamente. Na contramão dos gêneros
romance e poesia, convém perceber as vozes proferidas por esse sujeito à margem do texto. É
seguindo essa voz dissonante que este projeto propõe analisar na letra da canção a representação
negra a partir da presença de um discurso de valorização étnico-cultural, uma vez que esse
gênero, nas palavras de Cyntrão (2014, p. 47) é um “vetor estético de representação existencial,
produto cultural que trabalha com a transfiguração do real, na tradução continuada de um capital
simbólico coletivo”, podendo ser percebido nele a “multiplicidade da expressão poética
contemporânea”.

Nesse aspecto, a canção se torna importante enquanto gênero textual: ela ultrapassa a
barreira do texto impresso, a voz do eu lírico encontra eco nas vozes dos ouvintes, se faz
materializar nas ruas, casas, ajuntamentos culturais e colabora na construção/invenção de uma
memória coletiva que provoca saudade de um tempo que não foi vivido pelo saudoso e ele se
vê positivamente representado. A construção/invenção dessa memória urge por locais de
história, por assim dizer, para que seja ativada e leve o sujeito à reflexão de seu passado. Para
Nora (1993, p. 18), a memória “obriga cada um a relembrar e a reencontrar o pertencimento,
princípio e segredo da identidade. Esse pertencimento, em troca, o engaja inteiramente”. Aqui,
narrativa e poesia presentes nas letras das canções cumprem papel intermediário pelo qual a
história será contada e a memória coletiva, então, ativada (BARBERO, 1997).

As canções cujas letras serão analisadas fazem parte do samba-reggae, ritmo da década
de 1980 que, cadenciada numa forma dançante, valorizava a cultura negra. Dentre as várias
produções daquela época, os dois primeiros LP da Banda Reflexus1, Reflexus da Mãe África

1
A Banda Reflexu´s tem a sua origem datada do ano de 1986 em Salvador-Bahia, no Bairro do Cabula, quando
ainda se chamava Raízes do Sol e formada por Marquinhos, Raí Amorim, Gilda, Julinho e Noy e, mais tarde,
Marinez. A Banda Reflexu´s alcançou o seu apogeu em 1987 com a seguinte formação: Marinez, Julinho,
Marquinhos, Ronaldo, Waschington, Ubirajara [Bira], Ednilson, Abílio, Wilson Pedro, primeiro na Bahia com a
música Guaratimbiriba e, depois, Alfabeto do negão. Seu sucesso maior veio com a música Madagáscar. Detentora
de cinco discos de ouro, três discos de platina duplos, quatro CD’s lançados no Brasil e no exterior, foi a 1ª banda
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(1987) e Serpente Negra (1988), são o objeto elencado para este estudo por apresentarem
material suficiente para uma análise acerca da representação identitária étnico-cultural negra
em dissonância, como dito outrora, com a sua representação em alguns romances brasileiros.
Para fundamentar teoricamente essa linha de análise, convém entendermos que “possuir uma
identidade cultural nesse sentido é estar primordialmente em contato com um núcleo imutável
e atemporal, ligando ao passado o futuro e o presente numa linha ininterrupta”. (HALL, 2003,
p. 29).

Assim, pensar em construção de identidade, música e literatura é adentrar em um


universo plural de possibilidades reais de discussão sobre questões sociais e culturais, desde as
históricas, as religiosas, as comunitárias até a invenção de uma tradição, ou mesmo uma
comunidade imaginada que torna os negros pertencentes à mesma nação. Segundo Hobsbawn
(1997), é pelo processo de construção de tradição, seja ela composta de fatos reais ou mesmo
inventados, que o homem estabelece laços comuns, identifica-se com outro e alimenta o
sentimento de pertença, de inclusão. Tal pertencimento pode ser visto a partir da construção de
uma tradição inventada, entendida como “um conjunto de práticas normalmente reguladas por
regras tácitas ou abertamente aceitas; tais práticas, de natureza ritual ou simbólica, visam
inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição”. (HOBSBAWN,
1997, p. 9).

As canções de Axé produzidas durante o recorte cronológico, escopo deste trabalho,


servem como representantes dessa narrativa de uma tradição inventada, uma vez que elas nos
apresentam um passado diaspórico, um conjunto de aspectos culturais, sociais, históricos e,
levando em consideração a linguística, traços de uma língua materna que servem como
constituintes na formação de uma etnicidade e, por assim dizer, de um sentimento de
pertencimento. Nesse sentido, Anderson (2008, p. 199-200) afirma que esse sentimento inspira
“amor, e amiúde um amor de profundo auto-sacrifício” e que, assim como a poesia e a prosa, a
canção é um espaço de materialização desse sentimento.

Se pensarmos a invenção da tradição e a construção da nação para Hobsbawn e


Anderson, respectivamente, encontramos no gênero textual canção a presença de uma filiação
étnica, para falar como Brunel (1983). Assim sendo, o estudo da representação e presença de

baiana a apresentar-se no Canecão [Rio Janeiro], projetando-se no cenário nacional da música feita na Bahia,
abrindo as portas para outros artistas baianos. (OLIVEIRA, Glécia Carneiro, 2014, p. 117) Disponível em
http://aninter.com.br/Anais%20CONINTER%203/GT%2017/17.%20OLIVEIRA.pdf. Acesso em 28 de agosto de
2017.
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discurso étnico na canção brasileira na segunda metade do século XX transforma-se em objeto


da literatura comparada, uma vez que nesse gênero encontramos poeticidade, narratividade,
história, religiosidade, práticas sociais, dentre outros discursos, e eles, juntos, podem ser
analisados à luz da literatura. Mesmo sabendo que boa parte dessas questões se vincula a
campos específicos de estudo, “[...] a literatura comparada continua seu trabalho e começa onde
eles se detêm, quando a opinião comum se torna óptica individual e os fatos se deformam,
interpretados pela imaginação e transmutados pela alquimia do verbo”. (BRUNEL, 1983, p.
80).

Assim sendo, é totalmente aceitável trabalhar não só o referido gênero textual e sua
intertextualidade como também considerar os interdiscursos presentes no objeto estudado. À
luz de Hall (2003, p. 28), compreendemos que a identidade cultural apresenta “traços da
unidade essencial, unicidade primordial, indivisibilidade e mesmice” e que ela também,
presume-se, “seja fixada no nascimento, seja parte da natureza, impressa através do parentesco
e da linhagem dos genes, seja constituída de nosso eu mais interior”. Como discorrer acerca de
construção discursiva é também falar sobre cultura e ideologia, fazem parte da análise teóricos
dos Estudos Culturais, a exemplo de Bhabha (1998) e suas considerações sobre o local da
cultura e sua representação simbólica.

Além deles, serão utilizados ainda Souza (2002) e Eagleton (2005), teóricos que também
versam acerca da cultura e seu poder de despertar o sentimento de pertencimento; e Le Goff
(1992), Polak (1989) e Achugar (2006) darão suporte teórico para trabalhar a memória, sua
conservação e seu esquecimento. Apesar de o viés musical da canção não fazer parte
inicialmente deste estudo, caso haja necessidade de estabelecer uma análise que perpasse tal
área de conhecimento, alguns teóricos que têm no conjunto música e letra seu objeto de pesquisa
colaborarão na construção deste trabalho, uma vez que filiam à área também das letras tal
gênero e afirmam que, via de regra, a identificação começa pelo som. São eles: Wisnik (1982;
2004; 2014) e Tatit (2001; 2007; 2008), o qual desenvolveu um método de análise chamado
semiótica da canção utilizado neste estudo como procedimento metodológico pelo qual é
possível àqueles que detém também o conhecimento musical analisar a canção em suas duas
frentes: letra e música.

Diante das considerações aqui apresentadas, estabelece-se a seguinte questão de


pesquisa: como se apresenta a representatividade étnico-racial negra nas letras da canção
popular brasileira, precisamente nos LP Reflexus da Mãe África (1987) e Serpente Negra
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(1988), ambos da Banda Reflexus, nos anos oitenta do século XX? Quais mecanismos
narrativos, sonoros e performáticos são utilizados na construção desse discurso de valorização
identitária? As hipóteses surgidas a partir dessas reflexões baseiam-se na presença de uma
narrativa e discursividade que apontam para uma tradição étnica que valoriza o povo negro e
sua cultura. Dessa forma, acreditamos na existência de uma canção cuja letra apresenta-se como
espaço de representação de identidades étnicas negras. Tal valorização pauta-se na
religiosidade, narrativa histórica, liberdade das correntes subjetivas e concretas, valorização de
línguas africanas enquanto marcas de resistência e, vale muito considerar, a performance
enquanto transformação do corpo em voz.

JUSTIFICATIVA

No percurso da historiografia literária brasileira, levando-se em consideração as obras


de leitura escolar, é possível constatar majoritariamente a presença do negro como elemento
muito mais figurativo que adjuvante ou protagonista. Sabendo que o local da produção literária
não se reserva apenas aos romances e antologias poéticas, a letra da canção tem ocupado espaço
significativo nos livros didáticos. Diante disso, a afirmativa de Cyntrão (2014, p.48) quanto à
importância da análise da canção, seu valor estético e cultural ganha eco, uma vez que essa
modalidade textual “apresenta-se nesse sentido como um sistema de significações para o qual
convergem e de onde partem sentidos sociológicos e culturais de um modo de vida urbano
geracional”.
Assim, tal gênero pode ser compreendido como instrumento capaz de disseminar
representações identificadas com nossa herança étnica, além de ser um “ produto cultural que
trabalha com a transfiguração do real, manipulando um capital simbólico coletivo”.
(CYNTRÃO, 2014, p. 47). Uma das marcas dessa importância pode ser percebida por sua
longevidade na memória do povo e sua constante reprodução em shows de vários outros
artísticas do cenário musical brasileiro, além, é claro, dos acessos em sites especializados em
música, a exemplo do letras.com.br e dos vários canais no youtube dedicados à preservação da
memória da referida banda.
É válido, portanto, analisar a representatividade e a existência de um discurso étnico-
cultural nas canções que compõem os dois LP objetos deste estudo: Reflexus da Mãe África
(1987), primeiro álbum da banda e lançado pela EMI, composto de dez faixas assim
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distribuídas: 01 – Madagascar Olodum (Rey Zulu); 02 – Oração para a libertação a África do


Sul (Gilberto Gil); 03 – Libertem Mandela (Ytthamar Tropicália); 04 – Guaratimbiriba
(Marquinhos); 05 – Banho de beijos (Julinho Cavalcanti); 06 - Canto para Senegal (Ytthamar
Tropicália); 07 – Suingue de verão (Marquinhos); 08 - Doce Morena (Guga Cavalcanti e
Marquinhos); 09 – Alfabeto o negão (Ytthamar Tropicália e Rey Zulu); 10 – Reggae da morena
(Robson Duarte Cajazeira). Seguindo o método de estudo tematológico proposto por Brunel
(1983), selecionaremos as canções cujas letras estejam em conformidade com aquilo que se
pretende analisar, o que, via de regra, acaba por preterir algumas delas.
E Serpente Negra (1988), também lançado pela EMI, composto de 12 faixas assim
distribuídas: 01 - Serpente negra (Ytthamar Tropicália, Valmir Brito, Gibi e Roque Carvalho);
02 - Quilombo dos Palmares (Ytthamar Tropicália, Valmir Brito e Gibi); 03 - Chicote não
(Robson Duarte e Zanone Ferrari); 04 - Canto a minha cor (Música: Rabutta, Nêgo Dó; Letra:
Fernandes); 05 - Sou nordestino (Marquinhos e Bira Marques); 06 - Pra não dizer que não falei
das flores (Geraldo Vandré); 07 - Deuses afro-baianos (Ytthamar Tropicália e Valmir Brito);
08 – Super raça Ilê-Ayê (Ythamar Tropicália); 09 – Mariê (Julinho Cavalcanti e Guga
Cavalcanti) ; 10 - Jardim de Ébano (Djalma Luz); 11 - Jogo duro (Roque Carvalho) e 12 - Café
com leite (Edil Pacheco e Beu Machado). Excetuando-se a regravação da música de Geraldo
Vandré, faixa 06, todas as demais terão suas letras avaliadas seguindo a identificação
tematológica a fim de que sejam analisadas à luz da discussão aqui proposta.

OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL
Analisar a representatividade do negro na música popular brasileira da segunda metade do
século XX, especificamente nas letras interpretadas pela Banda Reflexus nos álbuns Mãe África
(1987) e Serpente Negra (1988), a fim de estabelecer uma análise da construção das identidades
étnicas no gênero que é, sobretudo, poético: a letra da canção.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Discutir os conceitos de cultura, representação, identidade, diferença e etnicidade a fim de que
haja compreensão de como se dá essa representatividade nas letras das músicas objeto deste
estudo e quanto elas contribuem para as construções discursivas das identidades étnicas;
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Confrontar o corpus selecionado, abordando os textos na esfera da Literatura Comparada e


Estudos Culturais a partir dos mecanismos utilizados nas letras das canções a fim de representar
discursivamente o negro brasileiro;
Analisar as canções dos álbuns selecionadas para este estudo de acordo com a tematologia nelas
identificada, agrupando os discursos de acordo com as marcas de representações identitárias
neles percebidas.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A literatura comparada apresenta em si mesma um método de pesquisa, conforme nos


asseguram Carvalhal (2007), Brunel (1983) e Schmeling (1984), uma vez que estabelece
parâmetros sobre os quais o pesquisador analisará suas fontes, consolidará seu objeto e
construirá seu texto. Tematologia, campo de estudos da literatura comparada, e o método
temático, procedimento metodológico de análise, constituem a metodologia empregada nesta
pesquisa uma vez que, em todas as peças elencadas para análise, buscar-se-á a recorrência de
temas tipo narrativa religiosa, narrativa histórica, discurso contra a escravização figurativa e
real e a valorização do sujeito e suas características identitárias.
Para Brunel (1983), o método temático apoia-se na identificação dos temas recorrentes
nos textos pesquisados a fim de estabelecer, a partir da comparação, parâmetros para a análise.
Depreendemos, do que falam esses teóricos, que à tematologia unem-se o método histórico, a
estética da recepção, análise de discurso e outros a fim de “explicitar teoricamente suas tarefas
e, ao fazê-lo, mostra-se aberta para a variedade de formas e de suas maneiras de compreensão”
(SCHMELING, 1984, p. 30).

A comparação é um procedimento de trabalho do comparatista, e é até mesmo um


procedimento privilegiado, mas apenas um procedimento entre outros. Ela é um meio
para um fim e não uma característica definidora. O comparatista compara não pela
comparação em si, mas porque ela possibilita-lhe um exame adequado de seu extenso
trabalho de campo. (SCHMELING, 1984, p. 199).

Cabe ainda acrescentar, enquanto teoria e procedimento metodológico, a semiótica,


mais precisamente o método de análise cunhado por Tatit (2001; 2007), semiótica da canção,
uma vez que é possível “organizar categorias e oposições abstratas, que estão na base da nossa
produção e compreensão do sentido, e reformulá-las em estratos que vão assimilando o grau de
profundidade dos conceitos à medida que se afastam do nível de manifestação” (TATIT, 2001,
9

p. 16). Para tanto, serão considerados os níveis discursivo, narrativo e tensivo em conformidade
com os pressupostos semióticos sempre que a letra der margem para tal análise.
Diante do exposto quanto aos teóricos que fundamentarão esta pesquisa, desenvolver-
se-ão os seguintes procedimentos: discussão acerca dos principais conceitos que permearão a
feitura do trabalho, a exemplo de cultura, identidade, memória, história, representação,
reafricanização e canção. Para tanto, será feita a análise de tais conceitos à luz de teóricos dos
Estudos Culturais, a exemplo de Bhabha, Hobsbawn, Hall, Souza, dentre outros que certamente
darão suporte para melhor entendimento dos termos e sua aplicabilidade. Tal discussão
compreende parte importante do trabalho, uma vez que se constitui enquanto alicerce de
entendimento do que se pretende com o objeto: verificar a representatividade no negro na
canção.
Busca-se, então, a partir desses conceitos, apropriar-se do sentido do termo
reafricanização e ver, nessa representatividade, sua efetivação. Compreendemos que falar dessa
reafricanização requer falar em memória e história. Para isso, lançaremos mão também dos
pressupostos teóricos de Nora, Achugar, Pollak e Barbero, dentre outros. Perceba-se que no
procedimento metodológico fica evidente a escolha do método de análise, e também arcabouço
teórico, a literatura comprada, o método temático e a semiótica da canção, uma vez que será
necessário estabelecer comparações entre as letras das canções a fim de estabelecer uma
reconhecia temática e, por fim, organizar em categoria e proceder com a análise da
representatividade negra em suas linhas.
Após a discussão teórica, partimos para verificação de quais mecanismos foram
utilizados para representar discursivamente o negro. Será necessário perceber como a literatura
e a canção convergem na utilização desses expedientes, que vão desde a escolha de uma palavra
até o significado de um som enquanto marca identitária. Assim sendo, dialogar com autores que
versam acerca da música negra, desde o ritmo até a performance, passando pela construção de
letras que resgatam um passado histórico é condicionante para compreensão dessas escolhas.
Tinhorão, estudioso da música negra, é um teórico-chave que deve ser agregado aos Estudos
Culturais para a validação desse passo metodológico.
Vencidas essas duas etapas, resta-nos analisar comparativamente essas canções. Depois de
lidas, elas serão agrupadas levando em consideração a temática comum. Nesse aspecto, cabe à
literatura comparada, enquanto método de pesquisa e suporte teórico, fornecer lastro para o
estabelecimento da tematologia, método temático e mecanismos de análise. Inicialmente, serão
utilizados Carvalhal (2007), Brunel (1983) e Schmeling (1984). Para eles, a literatura
comparada é também um método de pesquisa e como tal apresenta certos parâmetros que devem
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ser levados em consideração no momento de estudar o objeto pretendido. É possível trabalhar


com literatura a partir de várias áreas e a comparação serve como recurso de análise e
interpretação.
Há de se levar em conta a necessidade de localizar historicamente a banda cujas letras
por ela interpretadas são objeto deste estudo. Para isso será necessário apresentar o percurso
musical da banda, sua formação, seus álbuns e seu término. Cabe ressaltar que a banda não
possuía em seu repertório significativo número de composições autorais, pelo contrário, grande
parte de suas canções pertencem a outros grupos ou compositores, o que lhe rendeu sérios
dividendos. Ainda aqui cabe à Literatura Comparada o suporte necessário para a análise, uma
vez que ela leva em consideração o autor da fala, o local de onde se fala, quem fala e para quem
é dirigido aquele discurso. Falar nesses sujeitos e a representação é estabelecer diálogo com
Nora (1993) e Foucault (2007), respectivamente. É justamente no entrelaçar desses aspectos
que pretendemos compreender nosso objeto, já que o concebemos como, para citar o mesmo
autor (BRUNEL, 1983, p. 82), “a expressão individual e artística da alma coletiva”.

ORÇAMENTO
ORÇAMENTO
Material Quantidade Preço unitário Total
permanente
Notebook 1 3200,00 3200,00
Livros 25 50,00 1250,00
Impressora 1 800,00 800,00

Material de consumo
Fotocópia de textos 500,00 0,15 75,00
Cartucho boxe para 16 60,00 960,00
impressora
Resma 8 20 160,00

Eventos
Verba para diária 6 700,00 4200,00
(dois eventos por ano)

Passagens e despesas 6 600,00 3600,00


com locomoção

Outros serviços 300 laudas 9,00 2700,00


(revisão de textos)

Total estimado R$ 17422,00


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CRONOGRAMA

ANO 2017 (a partir de maio de 2017)


ATIVIDADES J F M A M J J A S O N D
Seleção de textos para composição do X X X X X X X X
referencial teórico
Levantamento discográfico da Banda X X X
Reflexus

ANO 1 – 2018
ATIVIDADES J F M A M J J A S O N D
Estudo de material teórico-crítico X X X X X X X X X X X X
Estabelecimento de mecanismos de análise X X
das letras das canções
Separação das canções levando em X X
consideração a presença de um discurso
representativo de negritude
Agrupamento das canções selecionadas em X X
conjuntos de tematologias identificados
Análise do corpus X X X X X X X X
Apresentação do Primeiro capítulo: X X X
Construção do arcabouço teórico e crítico
Apresentação de trabalhos em eventos da X X X X X
área e publicação de artigos
Qualificação X

ANO 2 – 2019
ATIVIDADES J F M A M J J A S O N D
Estudo do material teórico-crítico X X X X X X X X X X X X
Análise do corpus X X X X X X X X X X X X
Revisão do Primeiro capítulo a partir das X X X X
considerações apresentadas na qualificação
e produção do Segundo capítulo
Apresentação de trabalhos em eventos da X X X X X
área e publicação de artigos

ANO 3 – 2020
ATIVIDADES J F M A M J J A S O N D
Estudo de material teórico-crítico X X X X X X X X X X X X
Produção do Terceiro capítulo X X X X
Revisão dos capítulos de desenvolvimento e X X X X
análise
Revisão de texto X X
Apresentação de trabalhos em eventos da X X X X X
área e publicação de artigos
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ANO 4 – 2021
ATIVIDADES J F M A M J J A S O N D
Produção da Introdução e Considerações X X
finais
Defesa X
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REFERÊNCIAS

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Belo Horizonte: UFMG,2006.

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nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

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comparada. São Paulo: Perspectiva, 1983.

CARVALHAL, Tânia Franco. Literatura Comparada. São Paulo: Ática, 2006

CYNTRÃO, Sylvia H. A redefinição continuada do lugar da canção popular na cultura


contemporânea. Revista Crítica cultural, Palhoça, SC, v. 9, n. 1, p. 47-55, jan/jun 2014.

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FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Org. Liv Sovik. Trad.
Adelaide LA Guardia Resende. Belo Horizonte: EdUFMG, 2003.

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Terra, 1997.

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http://www.pucsp.br/projetohistoria/downloads/revista/PHistoria10.pdf>. Acesso em 04 de
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OLIVEIRA, Glécia Carneiro. Música e Resistência: uma breve análise histórica e discursiva
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