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PSICOLOGIA DO TRABALHO E FORDISMO

Milton Athayde, 2000

H. Ford nasceu nos EUA (como Taylor) em 1863, demonstrando desde a


infância uma enorme curiosidade pela mecânica. Sua formação também se fez no
plano prático, iniciando precocemente sua aprendizagem como mecânico: aos 16
anos já assumia a responsabilidade como técnico de montagem e conserto de
locomotivas numa empresa do porte da Westinghouse. Por conta própria chegou a
construir carros a vapor e em seguida arquitetou novas formas de força motriz,
experimentando com motores a combustão interna.
Com o aprendizado obtido no reparo de um motor Otto, em 1887 arquitetou
um motor a explosão que lhe permitirá, 5 anos depois, chegar ao seu primeiro
automóvel, usando uma fonte de energia combustível. Até então realizava
experiências fora de seu emprego como técnico, só em 1889 passando a dedicar-
se integralmente à fabricação de automóveis como engenheiro-chefe da Detroit
Automobile Company (criada para fabricar um carro projetado por Ford, cabendo a
ele uma pequena parte das ações).
Neste momento Ford já visualizava um horizonte mais avançado,
percebendo a necessidade de uma produção mais bem organizada, que pudesse
produzir mais e com um custo inferior, possibilitando um consumo de massa.
Entretanto, como era ainda e empregado e os empresários tinham uma visão
imediatista, continuou no aprimoramento de seu modelo de auto, do ponto de vista
ao mesmo tempo técnico e da comercialização.
Em 1903 inaugurou a Ford Motor Company, sendo que neste momento a
produção de auto ainda era efetuada por operários qualificados originalmente nas
oficinas de bicicletas e viaturas de Michigan e Ohio. Em 1908 deu um novo rumo
aos negócios, após conseguir a maioria das ações: lançou um carro pela metade
do preço do produzido no ano anterior, o que foi possível por meio de algumas
modificações no projeto do carro e no processo de trabalho.
Neste plano a inovação mais importante foi a introdução da esteira
transportadora, na qual eram conduzidos os elementos dos carros por meio de
paradas periódicas, recebendo as diversas operações. Em seguida avançou nesta
direção, inspirando-se no sistema de carretilhas aéreas usando nos matadouros
de Chicago, para esquartejar reses. A esteira transportadora passou a ater um
funcionamento ininterrupto, combinando operações extremamente parceladas do
trabalho. A partir de 1913 estruturou-se então um processo de fluxo de produção
que foi denominado Linha de Montagem. Pode-se enunciar os princípios deste
processamento, conforme Ford:
1. Sempre que possível, o trabalhador não deve dar sequer um passo supérfluo;
2. Não permitir, em caso algum, que ele se canse inutilmente, com movimentos à
direita ou à esquerda, sem proveito algum. As regras gerais que levam a
consegui-lo são as seguintes:
a. tanto os trabalhadores como as peças devem ser dispostos na ordem
natural das operações, de moto que toda peça ou aparelho percorra o
menor caminho possível durante a montagem;
b. devem ser empregados planos inclinados ou aparelhos similares, de modo
que o operador sempre possa colocar no mesmo lugar as peças em que
operou e sempre ao seu alcance. Todas as vezes que for possível deve-se
usar a gravitação como meio de transporte até chegar às mãos do próximo
operário a peça em trabalho;
c. deve-se construir uma rede auxiliar para a montagem dos carros, pela qual
deslizando as peças que devem ser ajustadas, cheguem ao ponto exato
onde são necessárias.
O resultado prático destas normas seria, para Ford, “a economia das
faculdades mentais” e a redução ao mínimo dos movimentos de cada operário
que, sendo possível, deve fazer sempre o mesmo movimento ao executar a
mesma operação.
O sucesso em termos de produtividade: o tempo de montagem de chassi se
reduziu de 12h e 6min para 1h e 33min, atividade já separada em 45 operações
extremamente simplificadas. Na linha de montagem de motor, a fragmentação foi
para 84 operações.
A tendência presente no Taylorismo para a desqualificação e a fragmentação
do trabalho é aqui levada adiante, produzindo um novo tipo de trabalhador, cuja
única função seria repetir indefinidamente movimentos padronizados, conforme o
prescrito, desprovidos de qualquer conhecimento profissional. Sob controle do
próprio fluxo da Linha de Montagem, reduzindo a necessidade da presença de
controladores humanos (tão intensamente necessários sob o Taylorismo, um para
cada três trabalhadores, em suas primeiras experiências).
Quanto ao treinamento da força de trabalho, Ford relata: no máximo 1 dia de
treinamento é necessário para 43% de todos os serviços; 36% necessitam de 1 as
8 dias; 6% de 1 a 2 semanas; 14% de 1 mês a 1 ano e 1% de 1 a 6 anos. Na
medida em que desnecessária a qualificação, a idéia era utilizar a força de
trabalho dos que normalmente ficam à margem da produção: deficientes,
excepcionais, enfermos.
Como vimos, um dos princípios tayloristas procurava eliminar, através do
planejamento prévio das tarefas, as periódicas interrupções das atividades dos
operadores por falta de suprimento de materiais ou serviços adequados, ou por
qualquer outro motivo (os chamados “poros”). O Fordismo buscou superar este
desperdício através da Linha de Montagem, pois a própria máquina assume o
comando antes delegado à equipe de planejamento. Os operários são obrigados
pelo ritmo característico desta forma de organização do trabalho, a mecanizar
seus próprios movimentos, desprovendo-os de qualquer conteúdo mental. É
assim que a Linha de Montagem se torna um incrível instrumento de intensificação
do trabalho, de fragmentação da vida psicológica.
Antes a exploração econômica se operava através do aumento da jornada de
trabalho, agora via aumento da produtividade, comprimindo o trabalho num menor
espaço de tempo, intensificando o ritmo. Amplia-se, também, a possibilidade de
utilização mais intensiva dos equipamentos, instrumentos e instalações. Contudo
tal intensificação dificulta ainda m ais as relações interpessoais nos locais de

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trabalho. A idéia era estabelecer uma rotina de trabalhar e voltar para casa,
articulando os circuitos da produção, reprodução, cidadania e consumo.
A desqualificação operária e a intensificação do trabalho resulta da introdução
da linha de montagem. O aumento da produção foi viabilizado por meio de
inovações tecnológicas. Este conjunto de fatores permitiu o barateamento do
automóvel, transformando-o em um bem de consumo de massa.
A expressão Fordismo, além de designar um modo de organização do
trabalho, de acumulação de capital, é empregada também para designar um modo
de regulação social capitalista, que teve seu momento vitorioso do pós-guerra até
meados da década de 70. Criou-se a chamada sociedade de massas – de
produção e consumo de massas – articulando-se um conjunto de dispositivos a
que se chamou “Estado de Bem-Estar Social”. Pôde-se dar ao luxo de delimitar
um número inferior de horas de trabalho/dia, à medida que se avançara na
exploração via intensificação do trabalho. Da mesma forma, o aumento
exponencial dos lucros possibilitava, dentro de uma visão menos estreita e de
curtíssimo prazo, articular um pacto social, pagar salários superiores no mercado
em “troca” da subordinação estrita. Claro, este possível pagamento de salários
superiores no mercado encontrava-se no interior de uma estratégia de captura da
subjetividade. O salário, pago em 2 partes, tinha aquela referente a “gratificações”,
condicionada a exigências: que o operário e sua família estivesse conformados a
um estilo de vida de “dignidade e civismo”, privilegiando os casados que
cuidassem da família, os solteiros arrimo de família, os poupadores, etc. Esta
forma da “participação nos lucros” exigia, evidentemente, um serviço de
informações sofisticado em cada fábrica.
Salários menos baixos para homens mais adaptados, seduzidos pelo
consumo, poupadores. Desemprego sob controle via salário-desemprego. Outras
partes deste sistema fordista foram sendo conquistados pelos movimentos de
trabalhadores, como saúde e educação pública, etc. Durante cerca de três
décadas, após a segunda guerra mundial, este sistema funcionou.
Ford parece ter percebido ainda mais claro que Taylor o seguinte: os novos
métodos de organização do trabalho necessitavam de novos homens, com
capacidade de compra e desejosos de fazê-lo, para além do salário. A Psicologia
do Trabalho de tipo fordista, portanto, extrapolou os muros fabris, sendo pensada
no todo social. Isto na perspectiva de que a sociedade pudesse ser governada
como uma grande fábrica.

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