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BOLETIM

DIEESE EDIÇÃO ESPECIAL • NOVEMBRO DE 2000

Os dados do mercado de trabalho demostram como, no Brasil, a convivência pacífica entre os diferentes
grupos raciais não assegura igualdade de oportunidades.
A discriminação no emprego, na educação, na remuneração e a falta de políticas públicas de qualificação e
integração da população negra explicitam o quanto o racismo se adaptou à sociedade brasileira.
A inserção e permanência dos negros no mercado de trabalho se dá de forma precária e desigual: a
população negra se concentra de forma intensa nos ramos de atividade agrícola, construção civil e
prestação de serviços, com maior representatividade na categoria de trabalhos domésticos.
Auferindo menores rendimentos, com altas taxas de analfabetismo e número de anos de estudo inferiores a
outros segmentos, a população negra recebe um tratamento diferenciado que a impede de dar saltos de
mobilidade social e a alija de melhores níveis de vida. As trabalhadoras negras são duplamente penalizadas.

OS TRABALHADORES NEGROS NO BRASIL

O Brasil é o maior país negro fora da África. De acordo com o IBGE, em 1999, os brancos representavam
1
54,43% da população contra 5,43% de pretos e 40,20% de pardos (Tabela 1).
Os pretos e pardos são uma parcela expressiva da força de trabalho no Brasil: mais de 30 milhões de
trabalhadores, o que corresponde a 45% dos ocupados (Tabela 2).

TABELA 2
POPULAÇÃO OCUPADA, POR SEXO E COR
TABELA 1 BRASIL – 1999
POPULAÇÃO TOTAL, POR COR (EM %)
BRASIL – 1999
(EM %) Homens Mulheres Total
Cor 1999 Branca 54,14 56,71 55,17
Branca 54,37 Preta 5,55 5,58 5,56
Preta 5,43 Parda 40,31 37,71 39,27
Parda 40,20 Total 100,00 100,00 100,00
Total 100,00 Fonte: IBGE. PNAD/99
Elaboração: DIEESE
Fonte: IBGE. PNAD/99 Obs.: Não incluídos os ocupados classificados como
Elaboração: DIEESE amarelos e indígenas.

1
Nos dados referentes à PNAD, optou-se por seguir a classificação de cor dada pelo IBGE, que denomina a população de pretos,
pardos e brancos. No entanto, no restante do trabalho, onde são utilizados dados da PED – Pesquisa de Emprego e Desemprego -
classifica-se a população em raça negra - que agrupa os pretos e os pardos e em raça não negra - que engloba os brancos e
amarelos.

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DIEESE

TABELA 3
POPULAÇÃO OCUPADA, SEGUNDO RAMO DE ATIVIDADE, POR COR
BRASIL –- 1997 Em 1997, havia maior proporção de
(EM %) pessoas pretas e pardas nos ramos de
Ramos de atividade Branca Preta Parda atividade ligados à agricultura,
Agrícola 19,1 21,2 31,8
construção civil e prestação de
serviços (Tabela 3).
Indústria de transformação 14,1 11,6 9,8
Indústria da construção 5,6 9,9 7,6 Quanto à inserção por posição na
Outras atividades industriais 1,0 1,6 1,2 ocupação, há diferenças expressivas.
Comércio de mercadorias 14,7 9,3 11,8 Na categoria de trabalhadores
Prestação de serviços 18,5 26,2 20,0 domésticos, os brancos são 6%,
Serviços auxiliares da atividade econômica 4,7 2,8 2,1 enquanto os pardos chegam a 9% e os
pretos a 15%. Entre os empregadores,
Transporte e comunicação 4,3 4,1 3,5
cerca de 6% são brancos, 2% pardos
Atividade social 10,6 7,8 7,2
e 1%, pretos (Tabela 4).
Administração pública 4,6 4,3 4,0
Outras atividades, mal definidas ou não-
2,4 1,4 1,1
declaradas
Total 100,00 100,0 100,0
Fonte: IBGE. PNAD/97
Elaboração: DIEESE

TABELA 4
POPULAÇÃO OCUPADA, SEGUNDO A POSIÇÃO NA OCUPAÇÃO NO TRABALHO PRINCIPAL, POR COR
BRASIL –- 1997
(EM %)
Posição na ocupação no trabalho principal Branco Preto Pardo
Empregados 47,2 50,1 43,0
Militar ou estatuário 7,4 6,0 5,3
Trabalhador Doméstico 6,1 14,7 8,8
Conta-própria 22,2 19,5 23,8
Empregadores 5,6 1,3 2,1
(1) 11,6 8,5 17,0
Não remunerados e outros
Total 100,0 100,0 100,0
Fonte: IBGE. PNAD/97
Elaboração: DIEESE

TABELA 5
No que diz respeito à ANOS MÉDIOS DE ESTUDO DA POPULAÇÃO OCUPADA, POR COR
escolaridade, os pretos e BRASIL – 1997
(EM %)
pardos apresentam número
Cor Total Homens Mulheres
menor de anos de estudo e
maiores taxas de Branca 7,1 6,8 7,7
analfabetismo em relação à Preta 4,7 4,4 5,2
população branca. Parda 4.6 4.3 5.1
Não dispondo de recursos que Fonte: IBGE. PNAD/97
Elaboração: DIEESE
permitam investimento em
educação, os negros estarão
em ocupaçãoes precárias e TABELA 6
pior remuneradas. TAXAS DE ANALFABETISMO DAS PESSOAS DE 15 ANOS OU MAIS POR COR OU RAÇA
BRASIL - 1997
Em todos os grupos, as (EM %)
mulheres apresentam mais Branca Preta Parda Total
anos de estudo do que os
homens (Tabelas 5 e 6). Analfabetos 9,0 22,2 22,2 14,7
Fonte: IBGE. PNAD/97
Elaboração: DIEESE

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DIEESE

TABELA 7
DISTRIBUIÇÃO DAS FAMÍLIAS POR CLASSES DE RENDIMENTO MÉDIO MENSAL
FAMILIAR PER CAPITA, SEGUNDO A COR DO CHEFE
BRASIL - 1997
(EM %)
Famílias segundo a cor do chefe
Classes de Rendimento
Branca Preta Parda
Sem Rendimentos e até 1 salário mínimo 33,6 58,1 61,5
Mais de 1 a 3 salários mínimos 36,7 31,5 27,7
Mais de 3 a 5 salários mínimos 12,4 5,4 5,4
Mais de 5 salários mínimos 15,3 3,5 3,7
Fonte: IBGE. PNAD/97
Elaboração: DIEESE

As famílias com chefe de cor branca estão mais concentradas nas faixas de mais de 3 a 5 e mais de 5
salários mínimos. Já aquelas com chefe de cor preta e parda se localizam com maior evidência nas faixas
de até 1 salário mínimo ou mais de 1 a 3 (Tabela 7).
O rendimento médio dos ocupados revela igualmente diferenciais importantes. Em 1997, a população
branca ocupada tinha um rendimento médio de 5 salários mínimos, enquanto os pretos e pardos
alcançavam valores em torno de 2 salários mínimos, ou seja, menos da metade dos rendimentos médios
dos brancos. A região Nordeste é a que pior remunera tanto brancos como negros, ao contrário do Sudeste
onde estão os maiores rendimentos : branca 5,9, preto 2,9 e parda 2,9 (Tabela 8).

TABELA 8
RENDIMENTO MÉDIO DOS OCUPADOS, POR COR
BRASIL E GRANDES REGIÕES - 1997
(EM SALÁRIOS MÍNIMOS)
Grandes Regiões Branca Preta Parda Total
Norte 5,1 2,5 2,7 3,4
Nordeste 2,9 1,4 1,5 1,9
Sudeste 5,9 2,9 2,9 4,9
Sul 4,1 2,6 2,2 3,8
Centro-Oeste 5,4 2,9 2,9 4,1
Brasil 4,9 2,4 2,2 3,7
Fonte: IBGE. PNAD/97
Elaboração: DIEESE

Nas regiões Nordeste e Sudeste, há uma participação maior de brancos entre os que têm direito ao vale-
refeição e fériais. Os negros encontram-se em maior proporção entre os que recebem benefícios como vale-
refeição e auxílio moradia (Tabela 9).

TABELA 9
DISTRIBUIÇÃO DOS EMPREGADOS, POR SEXO E COR SEGUNDO OS DIREITOS E BENEFÍCIOS RECEBIDOS
REGIÕES NORDESTE E SUDESTE - MARÇO 1996 –- MARÇO 1997
(EM %)
Direitos e Benefícios Sexo Cor
Total (1)
Recebidos Homem Mulher Branca Negros
Vale-transporte 26,9 25,0 30,0 25,6 28,7
Vale-refeição 29,8 29,5 30,3 31,8 27,2
Auxílio-moradia 6,9 8,4 4,6 5,6 8,6
Férias 63,7 63,0 64,7 70,7 54,6
Fonte: IBGE. Pesquisa sobre padrões de vida/ 96-97
Elaboração: DIEESE
Nota: (1) Inclui pretos e pardos

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DIEESE

O número de brancos contribuintes da Previdência é maior que o de negros. Entre os não-contribuintes,


a situação se inverte: 67,4% são negros contra 48,2%, brancos.
A diferença entre os sexos não é tão significativa quanto entre os grupos de cor: entre homens e
mulheres é de apenas 3%, enquanto entre brancos e negros é de quase 20%.
Esses dados podem ser resultado da elevada concentração dos trabalhadores em condições de
trabalho precárias (Tabela 10).

TABELA 10
DISTRIBUIÇÃO DOS OCUPADOS SEGUNDO A CONTRIBUIÇÃO PARA INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA
EM QUALQUER TRABALHO, POR SEXO E COR
REGIÕES NORDESTE E SUDESTE - MARÇO 1996 –- MARÇO 1997
(EM %)
Sexo Cor
Total (1)
Homem Mulher Branca Negros
Contribuintes 43,0 44,1 41,1 51,8 32,6
Não-contribuintes 57,0 55,9 58,9 48,2 67,4
Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
Fonte: IBGE. Pesquisa de Padrão de Vida 96-97
Elaboração: DIEESE
Nota: (1) Inclui pretos e pardos

OS TRABALHADORES NEGROS NAS REGIÕES METROPOLITANAS

Nas seis regiões metropolitanas brasileiras onde é realizada a PED – Pesquisa de Emprego e Desemprego -, pelo
convênio DIEESE/SEADE e entidades regionais, a população negra participa do mercado de trabalho com
maior intensidade que a população não-negra (Tabela 11). Os homens possuem maiores taxas de
participação em todas as regiões.

TABELA 11
TAXAS DE PARTICIPAÇÃO, POR RAÇA
REGIÕES METROPOLITANAS DO BRASIL –-2000
(EM %)
Regiões Negra Não-Negra
Metropolitanas Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres
Belo Horizonte 58,6 67,8 50,0 56,2 67,8 46,4
Distrito Federal 63,6 70,7 56,8 61,0 68,8 54,6
Porto Alegre 58,9 65,8 53,2 58,7 68,8 49,6
Recife 53,4 64,4 43,6 53,4 65,3 44,1
Salvador 61,5 69,6 54,5 57,9 67,1 50,9
São Paulo 63,8 72,8 55,4 61,9 73,8 51,2
Fonte: DIEESE/SEADE e instituições regionais. PED – Pesquisa de Emprego e Desemprego
Elaboração: DIEESE
Obs.: Dados referentes a janeiro a junho de 2000

Em todas as regiões metropolitanas pesquisadas, a taxa de desemprego é maior entre os negros e entre as
mulheres de ambos os grupos raciais.
A maior taxa de desemprego ocorre na Região Metropolitana de Salvador. Os negros desempregados são
aproximadamente 30% e os não-negros 21% (Tabela 12).

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DIEESE

TABELA 12
TAXAS DE DESEMPREGO, POR SEXO E RAÇA
REGIÕES METROPOLITANAS DO BRASIL –- 2000
(EM %)
Regiões Negra Não-Negra
Metropolitanas Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres
Belo Horizonte 20,7 19,1 22,6 16,5 14,0 19,6
Distrito Federal 21,0 21,4 25,7 17,1 14,2 20,2
Porto Alegre 25,2 23,2 27,3 16,8 14,4 19,7
Recife 21,8 19,0 25,5 19,2 16,1 22,8
Salvador 29,4 26,8 32,3 19,0 15,7 22,4
São Paulo 22,7 19,6 26,4 16,5 13,7 20,2
Fonte: DIEESE/SEADE e instituições regionais. PED – Pesquisa de Emprego e Desemprego
Elaboração: DIEESE
Obs.: Dados referentes a janeiro a junho de 2000

Quando são comparadas as taxas de desemprego por nível de escolaridade, as taxas de desemprego entre
os trabalhadores negros são sempre superiores aos dos não-negros em todas as regiões metropolitanas
pesquisadas.
Os analfabetos negros possuem taxas de desemprego maiores que os não-negros. Mas, a situação se
repete igualmente para os trabalhadores e trabalhadoras negros com nível superior.
Entre as regiões metropolitanas, São Paulo apresenta grande disparidade entre os dois grupos raciais nos
níveis médio (completo e incompleto) e superior. Em Salvador, estão as maiores taxas de desemprego para
os níveis de ensino incompleto e completo: as taxas entre os negros são da ordem de 33%, enquanto para
os não-negros estão em torno de 30% (Tabela 13).
Quando os negros em todas as regiões completam o ensino médio ou alcançam o superior, as taxas de
desemprego se reduzem, mas continuam significativamente maiores do que as registradas entre os
trabalhadores não-negros.

TABELA 13
TAXAS DE DESEMPREGO TOTAL, POR RAÇA E NÍVEL DE INSTRUÇÃO
REGIÕES METROPOLITANAS DO BRASIL – 1999
(em %)
Fundamental Fundamental Médio Médio
Regiões Metrolitanas Raça Analfabeto Superior
Incompleto Completo Incompleto Completo
Negra 16,7 21,3 20,3 26,6 15,7 6,9
Belo Horizonte
Não-Negra 13,4 19,9 19,6 25,4 14,3 6,7
Negra 24,8 28,5 26,4 34,3 19,0 6,8
Distrito Federal
Não-Negra 23,6 27,0 24,6 31,8 18,4 7,2
(1) (1) (1)
Negra 28,9 26,9 19,6
Porto Alegre (1)
Não-Negra 21,1 19,9 26,6 15,0 8,9
Negra 19,3 24,6 26,1 32,5 21,3 10,5
Recife
Não-Negra 15,0 23,8 22,2 28,9 19,1 9,2
Negra 24,0 32,9 32,6 40,7 23,3 12,2
Salvador (1)
Não-Negra 29,4 30,0 33,0 20,2 11,6
Negra 22,6 25,1 27,3 33,6 19,2 10,4
São Paulo
Não-Negra 18,1 19,5 20,7 27,2 15,8 8,0
Fonte: DIEESE/SEADE e instituições regionais. PED – Pesquisa de Emprego e Desemprego
Elaboração: DIEESE
Nota : (1) Os dados não comportam desagregação para esta categoria
Obs: Dados referentes a janeiro a junho de 2000

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DIEESE

O rendimento é o indicador fundamental em relação à qualidade de vida e trabalho. Este parâmetro define,
por si, a situação social de um indivíduo ou um grupo e seus diferenciais indicam, de forma concreta, como
a riqueza se distribui em uma sociedade.
Os rendimentos das trabalhadoras e trabalhadores negros são sistematicamente inferiores aos rendimentos
dos não-negros em todas as regiões. Em Porto Alegre, os negros recebem os menores rendimentos e são
melhor remunerados no Distrito Federal.
Tomando como base os homens não-negros, que estão no topo da escala de rendimentos, as diferenças
são bastante acentuadas, não apenas no que se refere aos homens, mas especialmente às mulheres
negras, que apresentam os níveis mais baixos de rendimentos em todas as situações (Tabela 14).

TABELA 14
RENDIMENTO MÉDIO REAL ANUAL DOS OCUPADOS NO TRABALHO PRINCIPAL, POR SEXO E RAÇA
REGIÕES METROPOLITANAS DO BRASIL –- 2000
(EM R$ DE JUNHO DE 2000)
Regiões Negros Não-Negros
Metropolitanas Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres
Belo Horizonte 485 595 358 756 914 563
Distrito Federal 909 1120 675 1329 1574 1077
Porto Alegre 369 442 292 684 823 505
Recife 365 433 268 575 682 436
Salvador 416 503 320 963 1154 760
São Paulo 515 612 393 982 1178 714
Fonte: DIEESE/SEADE e instituições regionais. PED – Pesquisa de Emprego e Desemprego
Elaboração: DIEESE
Obs.: Dados referentes a janeiro a junho de 2000

Gráfico 1
Índice de rendimento médio real mensal dos ocupados, por sexo e raça
Região Metropolitana de São Paulo - 2000

120,00

100,00
100,00
Índice de Rendimento médio mensal

80,00

60,61
60,00
51,95

40,00 33,36

20,00

0,00
Homem Branco Mulher Branca Homem Negro Mulher Negra
Sexo/Raça

Fonte: DIEESE- SEADE e instituições regionais. PED – Pesquisa de Emprego e Desemprego


Elaboração: DIEESE
Obs.: Dados referentes a janeiro a junho de 2000

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DIEESE

TABELA 15
ÍNDICE DE RENDIMENTO MÉDIO MENSAL DOS OCUPADOS, POR SEXO E RAÇA
REGIÕES METROPOLITANAS DO BRASIL – 2000

Regiões Negra Não-negra


Metropolitanas Mulheres Homens Mulheres Homens
Belo Horizonte 39,17 65,10 61,60 100,00
Distrito Federal 42,88 71,16 68,42 100,00
Porto Alegre 35,61 53,90 61,59 100,00
Recife 39,30 63,49 63,93 100,00
Salvador 27,73 43,33 65,86 100,00
São Paulo 33,36 51,95 60,61 100,00
Fonte: DIEESE-SEADE e instituições regionais. PED – Pesquisa de Emprego e Desemprego
Elaboração: DIEESE
Obs.: Dados referentes a janeiro a junho de 2000

A precariedade dos postos de trabalho mostra-se bastante elevada em todas as regiões metropolitanas
pesquisadas, refletindo um agravamento das condições de vida e trabalho de expressiva parcela dos
trabalhadores e trabalhadoras. Essa é a parcela da mão-de-obra no país que exerce suas atividades com
vínculos empregatícios frágeis ou inexistentes e, na sua maior proporção, sem qualquer direito aos
benefícios sociais.
Em ambos os sexos, os negros estão mais concentrados em ocupações vulneráveis, mas são as mulheres
as que mais se inserem nestes postos de trabalho, seguidas pelas mulheres não-negras e pelos homens
negros (Tabela 16).

TABELA 16
(1)
PROPORÇÃO DE OCUPADOS EM SITUAÇÕES DE TRABALHO VULNERÁVEIS , POR SEXO E RAÇA
REGIÕES METROPOLITANAS DO BRASIL –- 2000
(EM %)
Regiões Negra Não-Negra
Metropolitanas Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres
Belo Horizonte 40,2 33,7 48,7 32,5 28,4 37,9
Distrito Federal 34,4 27,8 42,2 25,5 20,6 30,8
Porto Alegre 39,0 29,9 48,7 28,6 24,5 33,7
Recife 46,8 39,1 58,0 40,3 35,5 46,5
Salvador 44,7 36,8 54,2 30,0 25,2 35,2
São Paulo 42,8 39,4 53,3 34,7 30,9 40,0
Fonte: DIEESE-SEADE e instituições regionais. PED – Pesquisa de Emprego e Desemprego
Elaboração: DIEESE
Nota: (1) Inclui os assalariados sem carteira de trabalho assinada, os autônomos que trabalham para o público, os
trabalhadores familiares não-remunerados e os empregados domésticos.
Obs.: Dados referentes a janeiro a junho de 2000

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DIEESE

IGUALDADE DE OPORTUNIDADES – QUAL A AÇÃO SINDICAL POSSÍVEL?


Neide Ap. Fonseca
Presidente do INSPIR - Instituto Sindical Interamericano pela Igualdade Racial

Há um desafio para os sindicalistas: introduzir nas devemos ter em mente que a ação sindical não
negociações coletivas a temática da igualdade de está imune à ideologia racial dominante.
oportunidades, conciliando, assim, as Não fosse assim, há muito teríamos entendido
reivindicações de teor econômico com uma ação que o sindicato, enquanto instrumento de
voltada para a cidadania, que a rigor não se reivindicação dos trabalhadores (as), deveria ser
desloca do aumento de renda. objeto de preocupação da luta contra o racismo.
O Brasil passa por um grande processo de Afinal, qual a responsabilidade das organizações
mudanças no que se refere às relações raciais. Já sindicais na reprodução das desigualdades
não somos vistos como o país da democracia raciais?
racial. Hoje, diferentes setores da sociedade têm
A nossa responsabilidade tem sido, em primeiro
sua agenda política pautada pelo debate sobre o
lugar, o pacto do silêncio, que faz com que
racismo e o movimento sindical não poderia ficar
desconheçamos o impacto da discriminação racial
alheio.
no trabalho. Em segundo lugar, quando temos
Ver a classe trabalhadora como um bloco único, conhecimento da discriminação, barramos sua
amorfo, é tido como indiferenciação. Não sem solução com o despreparo para uma atuação
tempo, entendemos que, além de classe, gênero articulada e contundente.
e raça devem ser considerados na luta e na pauta
Mas, podemos enfrentar essa questão com a
sindical. Dos anos 80 para cá, a cada dia cresce
firmeza que ela exige, por exemplo, nos
significativamente a produção de dados e
qualificando para o debate e pautando, nas
estatísticas atestando a condição racial das
negociações coletivas, as diferenças salariais e as
pessoas como elemento diferencial de direitos,
desigualdades de oportunidades que sofrem
em termos de discriminação salarial, maiores
negros e negras nas empresas.
taxas de desemprego, imobilidade ocupacional,
segmentação racial no mercado de trabalho etc Como diz Vera Soares, “para além do princípio
(ver o Mapa da População Negra no Mercado de ético, é preciso recuperar uma história sindical de
Trabalho, feito pelo DIEESE, a pedido do solidariedade forte”, portanto, não podemos mais
INSPIR). tolerar diferenças entre trabalhadores para o
exercício da mais valia.
A criação, no interior dos sindicatos e das centrais
sindicais, de comissões, secretarias, É importante ter em mente que as diferenças
departamentos, que abordam especificamente a salariais baseadas em gênero e raça significam
discriminação racial no trabalho, e do próprio apropriação da riqueza de formas diferenciadas e
INSPIR, um instituto sindical que luta pela sindicalistas não podem compactuar com a
igualdade racial, aliado à utilização adequada de economia política da discriminação negativa.
uma norma internacional de proteção aos direitos Precisamos nos qualificar para o debate da
humanos, que foi o relato à OIT de igualdade de oportunidades, enfrentando os
descumprimento da Convenção 111, são atitudes patrões, sendo propositivos, radicalizando nossas
pioneiras e ousadas. Estas atitudes precisam ter ações.
conseqüências efetivas, refletindo-se nas Com isso, estaremos dando a contribuição que
negociações e nos acordos coletivos das milhares de trabalhadores negros e negras
categorias. esperam dos sindicalistas, na eliminação deste
Não podemos mais restringir este tema, deixando câncer chamado racismo!
o debate isolado nas comissões, bem como

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DIEESE

AS AÇÕES CONJUNTAS DAS CENTRAIS SINDICAIS NO COMBATE AO RACISMO

Os empregados brancos possuem uma taxa de sindicalização (24%) maior que a dos negros (19%). Essa
diferença aumenta caso se compare homens e mulheres. Os primeiros possuem uma taxa de sindicalização
de aproximadamente 25% e as mulheres de 17%. Portanto, a proporção de homens sindicalizados é 8
pontos percentuais superior à proporção de mulheres (Tabela 17).

TABELA 17
DISTRIBUIÇÃO DOS EMPREGADOS SEGUNDO A SINDICALIZAÇÃO, POR SEXO E COR
REGIÕES NORDESTE E SUDESTE - MARÇO 1996 –- MARÇO 1997
(EM %)
Atributos Pessoais Sindicalizados
Homem 24,8
Sexo
Mulher 16,6
Branca 23,6
Cor (1)
Negra 19,0
Total 21,6
Fonte: IBGE. Pesquisa de Padrão de Vida 96-97
Elaboração: DIEESE
Nota; (1) inclui negros e pardos

1) AS CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS
Duas Conferências Sindicais Internacionais pela Igualdade Racial foram realizadas: a primeira em 1994, em
Salvador (BA), e a segunda em 1995, em Washington (DC). As conferências reuniram dirigentes da CUT,
Força Sindical (CGT), representantes da Federação Geral dos Sindicatos dos Estados Unidos (AFL-CIO), do
Congresso dos Sindicatos da África do Sul (COSATU) e da Organização Regional Interamericana do
Trabalho (ORIT).

2) A CRIAÇÃO DO INSPIR

Em 20 de novembro de 1995, três centrais sindicais do Brasil – CUT, CGT e Força Sindical - juntaram-se
para fundar o Instituto Interamericano pela Igualdade Racial (INSPIR), com o apoio da central AFL-CIO, dos
Estados Unidos, e a Organização Interamericana dos Trabalhadores, sediada em Caracas, Venezuela. São
objetivos do INSPIR:
• A produção de um guia para sindicatos sobre como negociar e defender cláusulas nos acordos entre
empregados e empregadores e como fiscalizar o comportamento discriminatório no dia a dia;
• A realização de seminários regionais no meio sindical;
• A criação de um banco de dados como um instrumento de controle do cumprimento das cláusulas
antidiscriminação;
• Uma ação junto ao patronato, através de câmaras e associações de empregadores.

3) A CAMPANHA NACIONAL CONJUNTA PELA IMPLEMENTAÇÃO DA CONVENÇÃO 111 DA OIT

A Convenção 111 refere-se à discriminação baseada em cor/raça, sexo, religião, opinião política,
ascendência nacional ou origem social e foi ratificada pelo Brasil em 1964, mas a sua aplicação efetiva
ainda não se realizou.
Em 1992, as Centrais Sindicais brasileiras, a partir de uma denúncia elaborada pelo CEERT e encampada
pelo sindicato dos Bancários de Florianópolis, manifestaram-se a favor de uma reclamação formal à OIT
sobre o descumprimento da Convenção 111. Esta reclamação foi feita formalmente pela CUT em outubro do
mesmo ano e nela são estabelecidas medidas efetivas que devem ser adotadas para evitar a discriminação
e promover a igualdade de oportunidade e tratamento.

Fonte: Bento, Maria Aparecida Silva. Racismo no Trabalho: o movimento sindical e o estado. In: Guimarães, Antonio Sérgio Alfredo e
Huntley, Lynn (orgs.), Tirando a máscara: Ensaios sobre o racismo no Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

BOLETIM ESPECIAL – NOVEMBRO 2000 – DIA NACIONAL DA CONSCIENCIA NEGRA 9


DIEESE

A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E A DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO MERCADO DE TRABALHO


• LEI AFONSO ARINOS: Lei nº 1.390, de 03/07/51, considerava as manifestações de racismo como meras
contravenções penais. Oferecia proteção contra discriminação em autarquias e sociedades de economia
mista. Foi reformulada em 1988, com a criação da Lei Caó.

• LEI CAÓ: a Constituição de 1988 consagrou os esforços de uma década de luta dos movimentos negros
brasileiros ao reconhecer a prática do racismo em nossa sociedade e instituí-lo como um crime
inafiançável e imprescritível. O inciso XLII do artigo 5º da Constituição Federal da República que tornou
crime a prática do racismo ganhou regulamentação através da Lei Federal Especial nº 7.716 de 1989, do
deputado negro Carlos Alberto Cão. Conhecida como Lei Caó, revogou a Lei Afonso Arinos e tipificou
com rigor algumas condutas discriminatórias de base racial, embora os artigos mais importantes do
projeto original, especialmente aqueles relativos à discriminação no mercado de trabalho, tenham sido
vetados pelo presidente da República à época, José Sarney. A Lei Caó trata especificamente da
discriminação racial nos empregos contratados pelo setor público (artigo 3) e privado (artigo 4).
No caso da discriminação racial no setor público, a Lei Caó condena atos que signifiquem: “impedir ou
obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer cargo da administração direta ou
indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos“ (artigo 3). Esta fórmula representou um
avanço, comparativamente à Lei Afonso Arinos, que simplesmente condenava atos que “negarem
emprego ou trabalho”.
A Lei Caó trata com menor rigor os trabalhadores do setor privado: “Negar ou obstar emprego em
empresa privada” (artigo 4). A linguagem aqui utilizada representa um retorno à lei Afonso Arinos,
substituindo “negar emprego ou trabalho” por “negar ou obstar emprego”. Esse é o artigo mais curto da
legislação brasileira.
Fonte: Racusem, Seth. Reclamando cidadania no mercado de trabalho. In: Munanga, Kabengele (org.). Estratégias e
Políticas de Combate à Discriminação Racial. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, Estação Ciência, 1996.

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