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Rita Queiroz, A Dama dos Pincéis Em mais uma iniciativa cultural, a maior expressao das Belas Artes regionais, Rita Queiroz, contando com o apoio do Ministério da Cultura e patrocinio do Basa, promove a valorizacao de nossa historia (estéria) através do Projeto Cultural Andancas das Lendas pelo Rio Madeira, ‘Com 0 escopo de eternizar nossa identidade cultural, a intermacionalmente premiada artista plastica Rita Queiroz, desenvolve projeto autorizado pela Lei de Incentivo & Cultura, sempre sensivel aos alertas contemporaneos. Esta incansdvel guerreira nos incita a defender nossas raizes, neste impar momento com a perspectiva da chegada expressiva de pessoas e culturas de todos os rincdes deste imenso pais, e até mesmo de outros paises, dada a importancia das obras que aqui serao realizadas. ‘Abnegagdo Bem-vindas as pessoas e suas culluras, outrossim no sufragando a nossa, que ndo é menos bela ou importante, em verdade, apenas nao possuindo até entao baluartes em némero expressivo, o que vale mensurar em qualidade dedicacao, face as dificuldades encontradas por estes abnegados. Aviagem Parlindo de Porto Velho com destino a0 Baixo Madeira (Seringal Santa Catarina, distrito de Nazaré e S40 Carlos), reunindo-se, também, todas as comunidades circunvizinhas, Rita Queiroz, no afa de desenvoiver um catdlogo, que sera distribuido para as principais bibliotecas do pais com a relevante misao de ilustrar toda a oralidade ribeirinha, bem como o incomensurdvel conhecimento consuetudinério, fruto da miscigenacao de nossa ciclica ocupagao. Durante o periodo de quinze dias foram realizados oficinas de Arte, palestras, reuniGes comunitérias, saraus e registro fonografico de lendas, envolvendo professores e agentes comunitarios, assim como todo contingente estudantil das regides visitadas. Cursos de capacitacao ‘Somado a todo este compénio cultural foram ministrados cursos de capacitagao paraa criagao de gestores, no intuit de perpetuar agdes em prol da preservago cultural, simultaneamente complementando a renda através do desenvolvimento de trabalhos artisticos e artesanais. Reconhecimento Ao final da viagem, Rita Queiroz agradeceu a equipe de apoio (composta por: Adelina Jacob, pedagoga e artista plastica; Fatima Mota, académica de Belas Artes; Marcio Bortolete, designer grafico; Lu Cardoso, caricaturista; Aquinaldo Melo, cinegrafista; contando ainda com a especial participacao da jornalista Gabriela Gouveia Cabral, do Diario da Amazénia) Na oportunidade Rita elogiou 0 profissionalismo dos proprietarios da embarcagdo Dom Carlos (Zildo e Marivania “Loura"), agradecimentos que tomnou extensivos a toda a dileta tripulagaio. Ao regressar a Porto Velho, a renomada artista agradeceu, através da imprensa, 0 apoio recebido por parle da comunicago, por entender que o éxito de suas. iniciativas em favor de nossa gente e da nossa terra, apenas se deu, gragas a unissona e proficua parceria’, como destacou Rita Queiroz. Rita Queiroz, A Dama dos Pincéis Em mais uma iniciativa cultural, a maior expressao das Belas Artes regionais, Rita Queiroz, contando com o apoio do Ministério da Cultura e patrocinio do Basa, promove a valorizacao de nossa historia (estéria) através do Projeto Cultural Andancas das Lendas pelo Rio Madeira, ‘Com 0 escopo de eternizar nossa identidade cultural, a internacionalmente premiada artista plastica Rita Queiroz, desenvolve projeto autorizado pela Lei de Incentivo & Cultura, sempre sensivel aos alertas contemporaneos. Esta incansdvel guerreira nos incita a defender nossas raizes, neste impar momento com a perspectiva da chegada expressiva de pessoas e culturas de todos os rincdes deste imenso pais, e até mesmo de outros paises, dada a importancia das obras que aqui serao realizadas. ‘Abnegagdo Bem-vindas as pessoas e suas culluras, outrossim nao sufragando a nossa, que ndo é menos bela ou importante, em verdade, apenas nao possuindo até entao baluartes em némero expressivo, o que vale mensurar em qualidade dedicacao, face as dificuldades encontradas por estes abnegados. Aviagem Parlindo de Porto Velho com destino a0 Baixo Madeira (Seringal Santa Catarina, distrito de Nazaré e S40 Carlos), reunindo-se, também, todas as comunidades circunvizinhas, Rita Queiroz, no afa de desenvoiver um catdlogo, que sera distribuido para as principais bibliotecas do pais com a relevante misao de ilustrar toda a oralidade ribeirinha, bem como o incomensuravel conhecimento consuetudinéro, fruto da miscigenacao de nossa ciclica ocupagao. Durante o periodo de quinze dias foram realizados oficinas de Arte, palestras, reuniGes comunitérias, saraus ¢ registro fonografico de lendas, envolvendo professores e agentes comunitarios, assim como todo contingente estudantil das regides visitadas. Cursos de capacitacao ‘Somado a todo este compéndio cultural foram ministrados cursos de capacitagao paraa criagao de gestores, no intuit de perpetuar agdes em prol da preservagdo cultural, simultaneamente complementando a renda através do desenvolvimento de trabalhos artisticos e artesanais. Reconhecimento ‘Ao final da viagem, Rita Queiroz agradeceu a equipe de apoio (composta por: Adelina Jacob, pedagoga e artista plastica; Fatima Mota, académica de Belas Artes; Marcio Bortolete, designer grafico; Lu Cardoso, caricaturista; Aquinaldo Melo, cinegrafista; contando ainda com a especial participacao da jornalista Gabriela Gouveia Cabral, do Diario da Amazénia) Na oportunidade Rita elogiou 0 profissionalismo dos proprietarios da embarcagdo Dom Carlos (Zildo e Marivania “Loura"), agradecimentos que tornou extensivos a toda a dileta tripulago. Ao regressar a Porto Velho, a renomada artista agradeceu, através da imprensa, 0 apoio recebido por parle da comunicago, por entender que "o éxito de suas, iniciativas em favor de nossa gente e da nossa terra, apenas se deu, gragas a unissona e proficua parceria’, como destacou Rita Queiroz. Ficha Técnica Impresséo: Grafiel Grafica e Ec Tiragem: 1.000 exemplares Coordenagao Geral: Rita Queiroz (ritaqueirozartes@hotmail.com) Editor: Marcio Bortolete (bortolete9@hotmail.com) Coleta e analise de textos: Adelina Jacob (adelinajacobartes@hotmail.com) Coordenagao auxiliar: Fatima Mota Revisao: Roberto Farias (robertofarias @unir.br) Colaboradora: Psicdloga Myriam Ribeiro de Queiroz Designer e Caricatura: Lucileia Cardoso Cinegrafia: Aguinaldo Melo Foto da capa: Camera Zoom Enderego eletronico: www.amazonshop net 1°. Edigao: outubro de 2008. Local: Porto Velho - Rondénia Andangas das Lendas pelo Rio Madeira Na mata, tudo € mistério. Atrés de cada arvore existe um ser extraordindrio. O sobrenatural é formado de guardides e elementais: tudo tem dono, sendo Deus o Grande Espirito, o Divino, a propria Mae-Natureza. © desconhecido empolga-nos fantasmas imaginarios que nos cercam, ¢ tudo se transforma na nossa imaginagao. O caboclo nativo criou as primeiras estérias que se multiplicaram e embelezam o nosso passado com fatos decorrentes da dinamica de vida e imaginacao do seu povo. Floresta Amazénica e seus ros, igarapés, igapés, lagos e bamburrais vem formar o cenério perfeito para emoldurar essa fantéstica diversidade do imaginario ser amaz6nida, cercado pela floresta e pelas Aguas, personagem central desse habitat natural, criou uma civilizagao auténtica, um povo pura e mesticamente nativo. Fez-se, entdo, a nagao-Amaznia, composta por um mundo a parte, cultivando e cultuando seus costumes suas lendas, que vo desde o mais puroamor da sedutora lara ao horrendo faiscar do olho da Cobra Grande. Tudo isso aconteceu ha muito tempo, numa era remota, quando o homem ainda vivia genuinamente integrado anatureza, As lendas amazénicas quase sempre tm um qué de ingenuidade, em face do meio em que circulam. O dito popular "quem conta um conto aumenta um ponto" é bastante pertinente com a realidade cultural dessas regides. E uma forma inconsciente de disseminagao cultural. As lendas e as estorias vao pasando de boca em boca, de geracao em geracao, levando de uma a outra, também, 0s contetidos intemnos de cada individuo. Contadas quase sempre por uma populagao composta por seringueiros, mateiros, castanheiros, cagadores @ pescadores, essas estérias trazem sempre uma versao peculiar do acontecido, vez que essas pessoas interagem com ‘mito eas lendas, imprimindo-Ihes um colorido especial, contando "causos", experiéncias que vivenciaram, andando pelas matas e rios, quando, por exemplo, de repente, ouvern um gfito ou assobie forte, assustador. Procuram assim explicar o inexplicavel do fundo sombrio da grande floresta que o desafia a cada instante. Metafora do mundo, do ‘cosmos desconhecido, que suscitou tantos mitos ao longo da histéria do Homem. Hoje, ao invés de recuar ante o desconhecido, dizendo que foi o Mapinguari quem gritou, 0 cabocio vence o proprio medo, investigando, indo até o lugar de onde partiu aquele som, para descobrir que era apenas um passaro ou um pequeno quati, o"sermonstruoso" que o produziu e parte ironizando asi mesmo eo seu prépriomedo. Este é um dado importante verificado na pesquisa, de certa forma até preocupante, e digno de estudos mais aprofundados a respeito. Parece-nos que, ao enfrentar 0 desconhecido com os insirumentos @ o pensamento da modemnidade, o caboclo, ele préprio, acaba rasurando uma importante parte de sua histéria, sua meméria, sua cultura. Distancia-se daquilo que o identifica como ser tnico no mundo em busca de uma alteridade que desconstréia suaidentidade. ‘O mito é um elemento fundamental para se comipreender 0 processo de evolugao da cultura amazonica, vez que decorre de um imagindto unificadore transfigurador. Pormeio do mito, o cabocio ribeirinho materializou e deu vida propria 4 natureza; ele criou seu mundo magico, diante do mundo fisico, que j4 encontrou construido, pois passa a ter uma realidade maior do que o Real, um olhar especial voltado para as vivéncias que este homem constréi no seu cotidiano, &s margens dos rios, o que resulta no ganho de resultados de conhecimento para as futuras gerages. A cadeia de significados oriada a partir dai entre sujeito, linguagem e histéria mostra-nos a importancia dos contadores de estérias de nossa regido ribeirinha, Eles so os tradutores desse mundo cheio de mistérios, que ainda permanecem escondidos, alrés das Arvores ou no fundo das cachoeiras e rios. Esse universo imagindrio continua fantasmético, mas aos poucos vai-se perdendo. A meméria cognitiva do povo em retagiio as suas lendas e mitos vem tendo sua tradi¢ao distorcida nas raizes culturais, pois, nas geracdes anteriores, as pessoas ainda se reuniam para ouvir os contadores de estérias. Hoje, os que restaram estado na faixa dos 80, 90 anos, e as proprias estérias estdo desaparecendo de suas memérias, bem como suas crengas e mitos. Tive uma vivéncia beiradeira. Minhas origens e raizes no Seringal Santa Catarina. Passeia infancia e parte da adolescéncia entre o Seringale 0 Colégio Salosiano Maria Auxiliadora, na cidade de Humaita, no estado doAmazonas, Depois me casei e fui morarno Rio de Janelto, tendo retomado a Rondénia no inicio da década de 80. Quando busqueiretomar minhas raizes coma esséncia ribeirinha, sentiuma enorme diferenga, uma sensagao de estranheza.. Ascoisas haviam mudado muito. Nesse retomo, jé tinha uma bagagem de aprendizado e técnicas em artes visuais da época em que vivi no Rio de Janeiro, e todas as minhas criagdes tinham embasamento nas minhas lembrangas de infancia, todavia questionando muito através dos temas plasmados em minhas telas, progresso também chagou as margens do rio Madeira, trazendo a televisdo, telefone, escolas e, assim, comegou o seu processo de civlizagao. Porém, até hoje, ainda persiste uma caréncia enorme: as criangas ainda se alimentam basicamente de peixe e farinha, andam descalgas.... Mas sao livres como passarinhos. Em 1990, uma amiga, a escritora e historiadora Yedda Borzacoy - filha do maior etnélogo que Rondénia ja ‘eve, 0 Dr Ary Tupinamba Penna Pinheiro - me procurou e disse que, se fosse artista, pintaria as lendas que seu pai ‘contava. Respondi que me lembrava vagamente de algumas mais conhecidas, Entéo ela me apresentou ao seu pal, conversamos muito acerca das lendas e eu criei a minha cole¢do "Lendas da Amazénia". Hoje, essas lendas s80 contadas em verso. prosa por varios dos nossos escritores, Algum tempo depois, comecei aamiadurecer a idéia de criar um projeto cultural para resgatar aquelas histérias através do desenho e da pintura, principaimente pelo fato de observar que esse método nao 6 usado nas escolas, ou seja, o desenvolvimento do brincar com qualquer material parao fim de desencadear o processo criador, o potencial de ctiatividade do individuo. Essa é a origem do presente projeto, que busca atingir um publica na faixa de 7 a 17 anos. Falar em arte é coisa dificil. Se buscarmos uma resposta clara ¢ definitiva, podemos nos decepcionar, pois as respostas podem ser divergentes e contraditérias. Entrar em contato com esse publico, através do Projeto Cultural "Andangas das Lendas pelo Rio Madeira", pelas comunidades do Seringal de Santa Catarina, $a0 Carlos e Nazaré, fez a equipe visualizar o real estado da arte, -aquela arte que sai da inocéneia, do imaginario, observando a materializagao dos personagens lendarios através da produgao de estdria oral e das lendas contadas nas oficinas que desenvolvemos naquelas localidades, retratando mundo encantado desse povo téo puro. Cada desenho desenvolvido, nao importa a idade do seu produtor, ¢ um universo Gnico. Partindo dessa premissa, aceitamos a produgao da cultura coletada que vivenciamos como sendo "arte", um puro estado da arte. A palavra cultura, em seu sentido mais amplo, explica: nossos sentimentos e emogées, nossa crengas, costumes € 0 meio em que vivemos. As figuras lendarias que iam surgindo nos desenhos traduzem a maior expressao e 0 momento magico do ‘encontro daqueles meninos com cores e formas que ainda esto guardadas nos segredos e mistérios da Mae- Natureza. © projeto "Andangas das Lendas pelo Rio Madeira", de alguma forma, considera 0 preceito da incluso social, to propalado nos dias de hoje, ¢ que se faz cada vez mais evidente, felizmente, na vida dos beiradeiros. ‘Também no campo da cultura e das artes, é importante que o trabalha seja encarado como uma ferramenta a servico da melhoria da qualidade de vida das pessoas daquelas povoagies, encurtando distancias, decompondo paradigmas, barreiras e obstaculos, facilitando assim 0 seu acesso a auto-sustentabilidade, abrindo janelas que apontem para novos horizontes no ambito das oportunidades ¢ possibilidades, Observamos, em contato com aquelas comunidades, a falta de estimulo ao desenvolvimento de suas potencialidades, inclusive as artistico-culturais. As caracteristicas do vetor cultural, que o nosso projeto fomenta e esta suficientemente preparado para incrementar os insumos da inclusao social, foram objeto de discussao nos saraus € bate-papos realizados nas comunidades. As ares plasticas foram, ento, utilizadas como agente propulsor desse processo, quando a equipe do projeto disponibilizou meios para a comunidade, através da elaborago, com experiéncias que fizeram emergir um potencial ‘nunca antes trabalhado, propiciando nao somente a interagéo da comunidade, mas também o debate sobre a importancia do escoamento da produgao artistica dos seus integrantes, o que pode implicar geragao de ocupagio € fenda e desenvolvimento socioeconémico da regio. Sem, no entanto, que esse desenvolvimento implique no distanciamento da identidade cultural local. Ao contrario, as agées do projeto buscam um percurso que inverts, de alguma forma, a logica do progresso que suprime, extingue e suplanta o orgulho de pertencer a uma determinada comunidade. Por oportuno, convém lembrar que o projeto, por um lado, visa (contamos com a sua continuidade) capacitar grupos de artesaos e artistas locais, aprimorando suas habilidades por meio da disserinago do conhecimento de novas técnicas aplicadas aos seus produtos culturais. Por outro lado, busca qualificar o discurso do expectador- consumidor do objeto artistico. Tudo isso tem por propésito a valorizagao da cultura artistica ribeirinha, bem como a promogao da auto-estima pessoal e coletiva, possibilitando aos participantes geragao de renda agregada, buscando um ponto de equilibrio na fragil relagao entre o homem e a natureza, entre a tradigao & a modemidade, entre o universal e oregional. Rita Queiroz Attista plastica Boto. Ocrmelho. O Boto ¢ uma espécie de golfinho que vive nos rios da regio Amazénica. Conta a lenda que, nas noites de lua chela, ele surge na forma de um homem de rara beleza, sempre vestido de branco, escondendo, sob um chapéu, um furo noalto da cabega. © Boto sai das aguas para seduzir as mogas que encontra pelo caminho, especialmente as caboclas, que s&o surpreendidas durante seus banhos. Antes do amanhecer, ele retorna para o rio, deixando, em quem o amou, um filho crescendo no ventre e a tristeza da solidao. [Sams Lenda da cabaga Diz a lenda que muitas guerras e enchentes na Amazonia causaram a destruigao e exterminio de muitas tribos indigenas. Em certa tribo, os indios morreram, sobrevivendo apenas mae e filho Ndo podendo se acasalar em fungao do parentesco, Tupa deu ao indio o poder de acasalar com arvores e produzirfilhos. O indio, entdo, fez amor coma cabaga, arvore que produz um fruto em forma de cuia, garantindo assima continuidade da sua espécie. ‘Alenda traduza total harmonia entre o homem e a natureza, e mostra como as florestas podem salvato. aa, No Baixo Madeira, numa localidade denominada Abelha, nos idos de 1800, contaa lenda que uma menina foi batizada com o nome Catarina. Era a mais linda moga que a Amazonia jé viu. Seus olhos eram azuis da cor do céu. Sua pele tinha a cor do leite da bacaba. Seus cabelos, de um louro dourado, parecendo um anjo vindo das nuvens. Gostava de andar pelas matas - até que 0 sol viesse dourar as copas das arvores, frondosas - para apanar flores silvestres para enfeitar seus cabelos. Os anos se passaram, e Catarina cresceu forte, robusta € corajosa. Um belo dia, em um desses passeios, ouviu um assobic Pensando que era um uirapuni, salu 4 procura e se perdeu na mata densa... Cansada, sentou debaixo da sapopemba e cochilou.... Ao acordar, bem na frente dela, estava um mogo moreno, tostado pelo So)... Com admiragao, pensando estar em frente de um ser encantado, ela abriu um sorriso de amizade. Como ele continuou calado, perguntou: — Estou muito longe de casa... do barracdo? E 0 homem, alto € musculoso, da cor urucum, falou: — Vocé esta perto do lago do Mururé, @ logo acolé tem uma cachosira encantada... Nao da pra vooé voltar nesta noite escura. Eu tenho um tapin... Onde moro. A moga vai comigo. Amanha eu levo até 2 beira da mata... E assim comegou um grande amor, na sombra da noite caindo nolago. Mas Catarina eo seu amado no fundo sabiam que aquele amor era impossivel... Ela era filha do poderoso Bardo de Abelha. Mas, mesmo assim, desafiando as rigidas regras sociais, 4s escondidas, continuaram a se encontrar pelas madrugadas. E assim se passaram varias lvas... Até que Catarina engordou, engordou... E um dia uma crianca mexeu deniro de seu ventre... E homem, que era conhecido pelo nome de Mateiro, descobriu que ela estava gravida. Os dias se passaram, eno demorou para que 0 pai de Catarina ficasse sabendo da novidade. E, ai, aconteceu 0 pior: ele, 0 grande Bardo de Abelha, mandou dar cabo do Mateiro, o amado de Catarina... E a crianga, quando nascou, foi largada nas aguas da cachoeira da Jocalidade chamada Centrinho. Catarina enlouqueceu. Passava as horas, ensimesmada, sentada em cima de uma grande pedra localizada na borda dessa cachoeira. E Catarina acabou morrendo, ‘Na pedra resta 0 mistério da sofidéo e do medo simbolizado pelo grito da rasga-mortalha. Dizem que Catarina aparece na lua cheia. Até hoje, conta a lenda, os homens que sentam nessa peda tém febre forte, que dura até a meia noite. (Rita Quetroe Depois da morte de Jesus Cristo, sua mae Maria subiu aos céus. Vendo a destruigao que o homem tem feito no planeta, queimando as florestas, exterminando a fauna, colocando os animais em exting4o, Nossa Senhora, preocupada em nos proteger, buscou um local onde ainda houvesse comunhdo entre os homens e a natureza, e escolheu aAmazonia. Fez ld sua aparicao, e abencoou a tudo que existia. Esta foi sua grande mensagem de amor aos homens ea natureza, para o mundo inteiro. Desde entdo, cresce, a cada dia, a devogao a0 Citio de Nazaré. _— _ ieee Santa Catarina 2 Cobra Oucvrato.e Maria Conta a lenda que um casal de irmaos foi encantado pela Mae-d’agua, conhecida como lara, que é também a protetora dos igarapés, igapés, lagos e rios da Amazonia, tendo ela transformado os dois em cobra-grande. Amenina, que se chamava Maria, era malvada, e mesmo depois de encantada, afundava as canoas dos pescadores, até que um dia, foi morta por um ribeirinho. Jd seu mao, a Cobra Onorato, era um menino bom, @ 0 encanto dele acabaria no dia em que uma cabocia o amasse, daquelejeito, mesmo sendo ele uma cobra Passados os anos, todos os dias, uma bela cunhanta lavava sua roupa, numa prancha, a beira do rio, e, ao cair da tarde, ao se recolher para ir embora, admirava o lindo poente daquele lugar. Os raios do sol, ja calidos, rebrilhavam na agua. Naquele momento, Onorato aparecia, num banzeiro, a revolver as Aguas. Em vez de assustar-se, a moga comegou a admirar aquele espetaculo, que acontecia diariamente, a mesma hora, e se apaixonou pela cobra grande do rio. Caiu de amores pela Cobra Onorato. Oencanto consistia em que a moga deveria matar a cobra, enfiando uma faca em sua cabeca, a fim de trazé-lo de volta ao mundo dos humanos. Todavia, ela nao teve coragem de matar seu amado, e a mde-d'agua, penalizada, transformou- a também em uma cobra, e ela foi com ele, para morar nos castelos encantados das profundezas do rio. O GCurupira O Curupira é um personagem folclérico muito vivo nas lendas de nossos povos das florestas daAmazé6nia. Ele é um ser de cabelos vermelhos, que tem dentes verdes e os pés virados para tras. Aparece quase sempre montado num veado branco, ‘ou entéo num porco-espinho. ‘Andando sempre apressado, ele tem a dura tarefa de zelar pela mata @ seus animais. O Curupira ¢ uma figura pacifica. Para 0 caboclo, que sempre viveu sua vidinha pacata, s6 se utilizando do necessario para sobreviver, o Curupira nao oferece perigo nenhum. Mas, para os invasores, ele se transformou num terrivel defensor, soltando fogo pela boca, quando se defronta com um cagador que mata 's6 pelo prazer de matar ou um desmatador, que vive a cortar arvores ou fazendo queimadas desnecessarias. Entao, como num passe de magica, sai de suas maos uma espécie de cipé chamado “titica’, ¢ ele, ent&o, da uma surra no destruidor, que este nunca mais vai conseguir esquecer, pois diz a lenda que o homem enlouquece e tera sempre o Curupira como seu perseguidor. 2 Veo aca Suma Osmar estava querendo arpoar um tambaqui, Estava ele debaixo de uma seringueira, la no rio Verde. Ficou imével varias horas. De vez em quando passava a mao nas pernas para espantar as carapanas. Quando ele passava a MAO, 0 sangue escortia de tanto pernilongo que havia. Foi quando ele viu um movimento descuidado do vulto branco que havia n’agua. Ai o Osmar arpoou. A corda da arpoeira que esticava muito forte. Osmar quase desistia de seguré-la. Foi quando boiou um ser: ‘Quem era? Era um Juma. Um indio velho que anda s6, nas matas, que temos pés muito grandes. OJuma, aos prantos, perguntou: Por que ucé mi arpud? Eu pensava que vocé era um tambaqui. E 0 que vocé esta fazendo ai? Estava fazendo uma boquinha E esse cacho de banana na sua costa? Epra...euamuga. E aonde vocé vai? Ist6 ino pra Manicuré. “= Prof. Jonir Tavares de Souza ‘So Carlos | Distrito de Posto Velho Mie Tagua lara Caracterizada por uma linda mulher, metade peixe, metade humana, como uma sereia, a Mae d'Agua, ou lara, é a defensora dos rios e igarapés da regido Amazénica, e é também o encanto dos pescadores. ‘Aparece, geralmente, nas noites de lua cheia, as margens dos rios, entoando um suave canto : Qi) 2 Aa © Daley 22 od ele POR) aj 25) 21) 24 * 2 Ue a a 2 5 CARS) 2) ee = Sau ta Nes P oS a Mapinguari O Mapinguari 6 um ser lendario, considerado 0 terror dos seringueiros. No momento em que os seringueiros saem, & noite, para a mata carregando na cabega uma “poronga’, espécie de lamparina usada para iluminar 0 seu caminho notam sua presenga, primeiramente pelo fedor insuportével que exala e também pelos gritos apavorantes que solta, Os seringueiros que j4 0 viram contam que ele é enorme, assemelha-se a um macaco peludo, com um s6 olho, na testa, solta fogo pelo umbigo, tendo os pés como uma “mao de pio”. Conta a lenda que so se pode matar o Mapinguari se acertar um tiro bem no umbigo. Sao Carlos. Distrito de Porto Velho Unita, Unatai Esta lenda fala de dois indios que, ainda criangas, foram prometidos um para o outro Cresceram juntos na tribo, se apaixonaram e eram felizes. Mas, na véspera do casamento, eis que aconteceuo encantamento. O rei Sol, desiumbrado com a beleza da india — chamada Jaci - langa sobre ela seus raios e a transforma em lua cheia, para que permaneca para sempre ao seu lado, no céu. O noivo, desesperado, procura 0 pajé da tribo, que era conhecido como um grande feiticeiro, e Ihe ajuda. O pajé recorre a Tupa, o rei maior, que entao transforma o indio em um passaro notumo, para que ficasse mais perto de sua amada. O encanto aconteceu, € 0 indio é ransformado em Urutai, um belo passaro, que inconformado por nao poder possuir sua amada, a formosa lua cheia, em seus voos noturnos, entoa um canto triste. E assim acontecia sempre que a lua cheia despontava no céu. Até que uma noite, n&o suportando mais tanta angustia e solidao, Urutai chora tanto de dor, que suas lagrimas se transformam no rio Amazonas. Rita Distrito de Porto Velho Cinganga Abattarad (Abaeté) Trata-se da historia de uma tragédia ocorrida no rio Machado durante a permanéncia da Comissdo Rondon na regido. Arumany, guerreiro de uma tribo indigena, se apaixona pola mais linda cunhanta da tribo. Ocorre que 0 mais velho indio da tribo havia perdido sua mulher, € estava triste e muito solitario. Sendo ele o paié, tinha direito de tomar para si qualquer india da tribo. Seu neto, Abaitara, querendo alegrar 0 avé Tatibu, Ihe trouxe justamente a india por quem Arumany se apaixonara, por ser esta a mais bela entre todas. Inconformado, Arumany rouba a india e com ela foge para bem longe, depois de mataro velho indio. Com o passar dos anos, o casal fica com saudades da tribo e volta secretamente. Porém, ao pescarem muito préximo da tribo, eles se descuidam e acabam sendo descobertos. Abaitard havia jurado vingar a morte do avd e cumpre o prometido: degola Arumany e retorna a tribo com sua cabega. Poupa a vida da india, mas melhor seria té-la matado, pois ela perde a raz&o em face de tao cruel castigo sofrido por ela e seu amado. Sao. Carlos Distte de Porto Velho Uitévia Réai Um certo dia, quando 0 Sol comegou a aparecer por detras da floresta tropical, um indio guerreiro e forte pegou seu arco e flecha e saiu para pescar, nas margens do rio Amazonas. Toda aldeia estava em festa, com a preparacdo de seu casamento com uma india. Ela estava radiante de amor, fogosa que era, so pensava na chegada do outro dia, para ficar para sempre nos bragos de seu amado. Atarde foi chegando devagarinho, ea escuridao foi tomando conta de toda a aldeia, 6, com ela, 0 desespero foi tomando conta do coracao da india... Ele nao voltava... O que teria acontecido ao seu amado? O pajé reuniu todos os guerreiros no centro da aldeia e, liberados pelo cacique da tribo, partiram atras do guerreiro desaparecido. Retornaram alta madrugada, entoando cantos tristes de despedida, trazendo nas maos o que havia restado do guerreiro: seu arco e flecha, encontrados na beira do rio. Ao amanhecer, Viléria saiu. Tinha os olhos d'agua, e, por onde passava, ia molhando as folhas, cujas lagrimas transformavam-se em orvalho. Num determinado momento, num gesto louco de amor, a moca mergulhou nas aguas profundas do rio Amazonas. Tempos depois, como por encanto, Vitéria virou Régia Aflormais bela do mundo. ABRAGANDO AS ARTES Convidados por Rita Queiroz, fizemos parte de uma equipe cujo objetivo era realizar um antigo sonho da artista: recolher as lendas e tradigdes das comunidades a beira do rio Madeira, transmitir aos ribeirinhos nogdes de arte & catalogar potencialidades artisticas locais. Assim, partimos de Porto Velho em busca das lendas vividas, contadas pelos antepassados dos habitantes das margens do Madeira. ‘Nossa primeira parada, em So Carlos, ¢ a segunda, em Nazaré, serviram para avisarmos as populages locais dos objetivos do projeto. A primeira parada realmente produtiva foi na comunidade de Santa Catarina, onde nasceu Rita, ali vivendo até a adolescéncia. Os moradores nos receberam com muito carinho e curiosidade pelos trabalhos que irfamos desenvolver, tantos eram os materiais e equipamentos descarregados dobarco. Nao podemos deixar de registrar, logo de inicio, um episédio relacionado a infancia de Rita Queiroz em Santa Catarina. Tendo a menina adoecido com certa gravidade, seu pai fez uma promessa a S40 Sebastiao, em que se ‘comprometia a construir uma igreja com a imagem do Santo na localidade. Conseguida a cura, a promessa foi cumprida, O genitor de nossa artista mandou, entZo, construir o templo e providenciou a aquisi¢ao daimagem de $20 Sebastiao, vindada Italia. ‘Muitos anos apés, Rita retomou a comunidade de Santa Catarina e encontrou a imagem quebrada. Ela mesma feza restauragao. Coincidentemente, em nossa chegada a Santa Catarina, a primeira atitude de Rita foi procurar a imagem que, outra vez, estava danificada. Restaurou-a novamente, tendo o cuidado de chamar pessoas do local com alguma habilidade artistica para acompanhar o trabalho de restaurago, repassando-lhes as técnicas utiizadas. Assim, terda garantia de que a imagem estard sempre em bom estado, mesmo que, algum dia, ela ndo possa mais se ocupar Pessoalmente de sua recuperagao. Voltando ao projeto, como havia anoitecido, as pessoas j4 haviam retomado de seu trabalho, basicamente a pesca artesanalou a agricultura, o que permitiu que reunissemos quase toda a comunidade para explicar o objetivo de nossa fa e convocé-los a participar das atividadesno centro recreativo da localidade. No dia seguinte demos inicio as oficinas, espalhando pelo chao papel, tintas, pincéis, tépis de cor, telas, o que deixou as criangas maravilhadas, pois tudo aquilo era para ser usado por elas, numa experiéncia que, provavelmente, estavam tendo pela primeira vez. Todos desenharam e pintaram livremente, sendo depois chamados pela Rita para que explicassem suas obras de arte. Como jé era de se esperar, as criangas focavem seus temas em sua vivencia do dia a cia, na simplicidade de suas Vidas interioranas. O pai pescando, as casas simples da vila, as canoas, os peixes, os passaros. Depois da secao de desenho e pintura, Rita expds os cartazes alusivos as lendas da regio, solicitando & professora ‘Adelina, a artista plastica Fatima Mota ea um dos alunos locais que lessem otexto relativo a cada uma delas. Foi retomada a atividade de desenhos e pinturas, desta feita sendo solicitado as criangas que expusessem em seus trabalhos sua visio a respeito das lendas ouvidas, ‘Ao longo dos dias, foram realizadas, também, atividades para os adultos, como pintura em tecido tela, pegas de argila e gesso, aramado, folhas de aluminio, pintura em seda com agua sanitaria e outras técnicas artisticas. As noites, faziamos um sarau, para reunir os moradores em torno dos contadores de lendas, de histérias, de anedotas epara cantare dancar. Na viagem de retorno, aportamos em Nazaré, onde foram desenvolvidas as mesmas atividades, despertando 0 mesmo interesse ¢ 0 mesmo entusiasmo. Em Sao Carlos, etapa final do projeto, tivemos 0 melhor aproveitamento em virtude da maior participagao dos ribeirinhos. Fizemos contato com um antigo habitante da localidade, um senhor de idade avangada, oleiro de profissao, j4 com grande dificuldade para enxergar, mas que continua executando suas pegas, embora de maneira bem primitiva, Rita adquiriu algumas peas desse artesio (vasos, potes, pratos) para dar aulas a populacdo, aplicando técnicas como craquelé, marmorizacao, envelhecimento e varios outros métodos de transformar pegas risticas em objetos decorativos eulltarios. ‘© que tomou essa experiéncia valida fol o fato de, no dia seguinte, as mulheres da localidade terem ido comprar pegas do artesao para utlizarem em suas casas, tanto como objetos de decoragao quanto como objetos de uso diario. Ganhou o profissional, por vender sua produgao e ganharam as donas de casa, por passarem a contar, em suas humiides casas, com pecas com valorartistico.. ‘Além da oportunidad de passar nossos dias socializando conhecimentos com os ribeirinhos, as noites também eram muito agradaveis, pelas reunides festivas que aconteciam coma participagéo maciga dos moradores. Finalizando, so resta o agradecimento de toda a equipe a Rita Queiroz, pelo prazer e pela honra de termos sido ‘companheiros de uma artista cujo talento ultrapassou os limites da pequena Santa Catarina, de Rondonia e do Brasil Fatima Mota Artista plastica COLETA DE TEXTOS ORAIS PRODUZIDOS A PARTIR DE CONTATO DIRETO, REGISTRADOS EM VIDEO E ‘GRAVAGOES DE VOZ, CONTENDO CONTOS, HISTORIAS E LENDAS Durante a execugdo do projeto "Andangas das Lendas pelo Rio Madeira", aconteceram oficinas de pintura, desenho, leituras de lendas para criangas e jovens das escolas rurais e para a comunidade, além da aplicagao de técnicas de escuturas, argila, desenhos, aluminio batido, pinturas em cerammicas, telas, sedas, saraus e reunides em volta de fogueiras para narragaode ‘contos elendas. Nos saraus, realizados nos povoados de Sao Carlos, Nazaré e Santa Catarina, regido ribeirinha de Porto Velho, no Baixo Madeira, houve a participagdo de aproximadamente 80 pessoas em cada encontro, dentre elas tocadores de violéo, contadores de histérias, anedotas, que relataram contos, histérias sobre cagadas e pescarias, brincadeiras de roda, dangas, ‘sendo contadas as lends do Saci, do Juma, da Mula-Sem-Cabega, do Boto Vermetho, do Mapinguari, do Curupira ¢ da Cobra Grande. Além dos saraus e oficinas, ocorreu ainda contato com pessoas dessas localidades, em outros ambientes, como em bares, bareos casa. Parte do trabalho consistiv na coleta de textos orais produzidos pelos membros das comunidades em contatos diretos, recolhidos em imagens de video e em gravagdes de voz, contendo contos, histdrias e lendas. O presente texto consiste nas impressGes que tiveros sobre a linguagem verbal ulilzada pelos membros das comunidades, particularmente no tocante as narrativas ora. A artista plastica Rita Queiroz, idealizadora do projets, observa que as lendas sao narradas hoje, denotando um distanciamento do texto contado originalmente pelos moradores ¢ familiares, quando da sua infancia vivida naqueles povoados. Nesses encontros, foi observada, enti, a linguagem dos idosos, dos jovens e das criancas. As pessoas idosas mantém no seu ‘vocabuldrio muitas palavras que eram usadas no periodo do seringal. Os mais mogos ainda usam alguns desses termos, mas tém na sua fala a influénciada linguagem urbana, Em Santa Catarina, 0s moradores possuem em suas casas energia elétrica, televisdo @ um telefone publico. Em Nazaré, as pessoas usufruem de enersia elétrica, televisao e telefone residencial, sendo que ndo ha acesso 4 internet. Jd S30 Carlos comporta toda a infra-estrutura mencionada nas outras duas localidades, possuindo, ainda, um local com servigo de internet discada. No decorrer das atividades e contates, no se observou a presenga comum da linguagem da informatica, mesmo na fala dos mais jovens. Mas os mais antigos moradores reclamam da interferéncia da televisdo na vida cotidiana das pessoas, haja Vista a auséncia de dilogo familiar, da roda de amizades, momento em que havianarracao de histerias, vivéncias e encontros de bato-papo com vizinhos, vez que todos sontam em siléncio na frente da tolevisdo, As visitas oxistem, no entanto, nao ha mais conversas como antigamente, como se péde constatar na fala de umdos moradores mais antigos:A gente se visita, sim, mas ica ‘emsiléncio pra olhar tolovisao. Deste modo, observa-se a necessidade de revalorizagao e, podemos dizer, até mesmo do resgate da hist6ria e cultura do povo, no sentido de registrar a meméria ¢ incorpord-la as novas tendéncias ¢ atualidades, a fim de manté-as vivas nas novas geragées, como sendo tarefa da familia, da escola e da Sociedade, sendo esta a proposta da artista Rita Queiroz, em conformidade com 0 projeto em mengao. ‘A seguir apresentames as transcrigses das historias / estérias contadas. Antes, porém, precisamos esclarecer que na {ranscrigdo optamos por manter as marcas dialetais como uma tentaliva de preservar a forca que emana das natrativas. Quanto prontincia, achamos por bem registrar de forma gréfica nfo convencional apenas aquelas realizagoes que néo sto comuns aos

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