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HISTORIA MILITAR DO MUNDO ANTIGO GUERRAS E REPRESENTACOES Margarida Maria de Carvalho Pedro Paulo A. Funari Claudio Umpierre Carlan Erica Cristhyane Morais da Silva Dados Internacionais de Catalogaco na Publicagao ~ CIP C321 Carvalho, Mangarida Maria de, Org. e Outros. Histéria miltar do Mundo Antigo: guerras e representagies. / Margarida Maria de Carvalho, Org Pedro Paulo de Abreu Funan, Org; Claudio Urnpierre Carlan, Org. e Brice Cristhyane Morais da Silva, Ong, ~ Sto Paulo: Annablume; Fapesp; Campinas: Unicamp, 2012. (Histéria e Atqueologia em Movimente), 14x21 em. 274 p. ISBN 978-85.391.0323.2 1, Historia Antiga. 2. Historiografia. 3. Anciguidade. 4. Milltrismo. 5. Guerras no Mundo ‘Antigo. 6. Violéncia Militar. 7. Biblia. 8. Antigo Testamento. 9, [sacl 10. Asstia, 11, Babildnia. 12, Persia, 13. Grecia, L. Titulo Il. Querras e represenagtes Il. Série, TV, Carvalho, Margarida Maria de, Orgnnitadora, V. Funari, Pedro Paulo de Abreu. Organizador. VI. Carlan, Claudio ‘Umpierre. Organizador. VIL Silva, Erica Cristhyane Morais da. Onganizadora, cebu 931 cDp 930 (Cazalogigo elaborada por Ruth Siméo Paulino HISTORIA MILITAR DO MUNDO ANTIGO: GUERRAS E REPRESENTACOES Projeto e produgao Coletivo Grifico Annablume Capa Carlos Clémen CONSELHO EDITORIAL Eduardo Peftuela Caftizal Norval Baitello Junior Maria Odila Leite da Silva Dias Celia Maria Marinho de Azevedo Gustavo Bernarda Kranse 10. O PODER ROMANO POR FLAVIO JOSEFO: UMA COMPREENSAO POLITICA E RELIGIOSA DA SUBMISSAO. Ivan Esperanga Rocha UNESP/ASSIS Eles serdo levados para Babilénia, mas eu os farei subir e voltar para este lugar (Feremias 27,22) A tradicional obra sobre o exército romano ¢ a de Flavius Vegetius Renatus, Epitoma rei militaris, também denominada De re militari (As ins- tituigdes militares dos romanos) (ca 384-389 d.C.), em que o autor reine muitos detalhes sobre a vida militar romana a partir de varias fontes ante- riores sobre o assunto. A obra é escrita com a intengdo de retomar o antigo vigor do exército romano num momento de decadéncia dessa institui¢do no século I'V!. Ela faz parte de um amplo acervo de documentos que possuimos sobre 0 exército romano*, * GORDO! ‘Vegetius and his Proposed Reform of the Army. In: EVANS, J. A. S. (ed.). Polis and Imperium: Studies in Honor of Edward Togo Salmon. Toronto: Edgar Kent Inc Publisher, p. 35-58, 19754, 2 Vig. ADAMS, John Paul, The Roman Army: a Bibliography. California State University, Northridge. Disponivel em: . Acesso em 25 outubro 2008. Para uma compreensio mais detalhada da formaco c papel desempenhado pela soldado no Ambito da estrutura social romana, ver CARRIE, Jean-Michel. O soldado. In: GIARDINA, ‘Andréa. Q homem romano. Trad. Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Lisboa: Editorial Presenga, 1992. 194 NISTORIA UR.TAR D0 MUNDO ANTICO: GUERRAS E REFRESENTACIES Nesta apresentagdo analisaremos uma obra sobre o exército romano, produzido trés séculos antes: A Guerra Judaica (Peri tou ioudaikou polemou), de Flavio Josefo, publicada entre 75 ¢ 79 d.C. Nela siio relatados detalhes sobre os combates entre judeus ¢ romanos, ocorridos entre 66 ¢ 73 d.C. ¢ sobre 0s exéreitos envolvidos’, O autor participa do conflito, ¢ chega a exercer comando de tropas judaicas, na Galiléia e em Gamala‘. Apés o abandono de sua posigdo de comando, comega a tecer uma controversa avaliagdo desse conflito, pretensamente filorromanica, mas que deve ser entendida luz da tradigdo helenistico-judaica. © antagonismo dos judeus, ou pelo menos de grupos judaicos, aos romanos inicia-se com a conquista da Palestina por Roma, em 63 a.C., apés 0 violento cerco de Jerusalém, comandado por Pompeu (GJ 1,142-148)*. Este designa Antipatro como regente da Judéia, sendo sucedido por seu filho Hero- des, o Grande, que governou de 40 a.C. a4d.C. Josefo faz, inicialmente, uma apresentagdo positiva do governo de Herodes — contrapondo-se A avaliagio negativa de grupos de judeus® --, destacando sua habilidade administrativa e econdmica no governo da Palestina (1,195-421). No entanto, 0 relato sobre a vida de Herodes sofre uma reviravolta no final; Josefo enumera intimeras intrigas familiares que levam o rei a promo- ver agdes violentas contra membros de sua familia; manda matar sua tltima esposa, Mariana, e varios membros de suas familia ¢ acabou odiado por seus parentes mais proximos e pelos proprios filhos (1,441-43). ‘Apés sua morte, Augusto divide o territério da Palestina entre trés filhos de Herodes: Arquelau (1,661) fica com a Judéia, a Iduméia e a Samaria (4 ¢6d.C.), Herodes Antipas com a Galildia ea Peréia (regiao transjordanica) (4-34 d.C.) e Felipe com a regido ao leste do Mar da Galiléia (4-34 d.C.), Arquelau é deposto, em 6 d.C., devido a crueldade com que tratara a popu- lagdo da Judéia’ e seu territério passa para o controle romano. > JOSEPHUS. The jewish war. Trad. H.St, J. Thackeray;. Cambridge: Harvard University Press, 1990. 2 v. * SHUTT, R.JLH. Suidies in Josephus, Londres: S.P.CK., 1961, p. 38. » As citagdes de a Guerra Judaica (G1) de Flavio Josefo serio indicadas doravante sem a indicagio da obra, “ Um grupo de judeus vai a Roma. se declara a Augusto contra a meméria de Herodes.¢ contra « politica de seu sucessor, Arquelau, que dentre outros desmandos, promoven a exterminago de milhares de judeus (2,84), 7 No inicio de seu governo, reprimiu rebelides provocando muitas mortes no recinto de Templo, de Jerusalém (1,2). O fiato seri relatato a Augusto, em Roma, por Antipas, irmilo de Arquelau ‘epretendente & coroa (2,20). |MARCARIDA CARVALHO * PEDRO UMAR! * CLAUDIO CARLAN * ERICA SILVA — ORGS, 195 Em 41, o imperador Claudio entrega a Herodes Agripa I (41-44 d.C.) n&o apenas 0 territério original de seu av, Herodes, 0 Grande, mas tam- bém a regio da Traconitida ¢ da Auranita (2,214). Ao seu filho, Herodes Agripa II (50-ca. 92/3 «.C.)', cabe 0 governo das regides ao leste do Mar da Galiléia’ (2,223), Agripa envida esforcos para evitar o grande confronto dos judeus com 0s romanos que culminaria com a destruigdo de Jerusalém edo Templo. Defende que os judeus tinham razao de estar furiosos devido a violéncia que caracterizou 0 governo dos procuradores romanos, mas alerta para 0 fato de o exército judeu nao ter minimas condi¢des para enfrentar 0 poderoso exército romano, Segundo ele, em caso de derrota, a servidéo poderia ser maior ainda (2,345). Josefo assume esta mesma postura na avaliagio do confronto entre romanos ¢ judeus, no século I, e procura demover os judeus, ou melhor, os grupos de judeus revoltosos, de seu intento, Esta postura se embasa, essen- cialmente, em dois elementos: de um lado a avaliacdo da grande disparidade de forgas entre o exército romano ¢ o dos judeus em litigio, considerando uma falta de bom senso lutar contra um inimigo tao bem aparelhado militarmente (5,362), de outro, a sensibilidade religiosa ¢ o apego & tradi¢&o judaica por parte de Josefo. Em outros embates com forgas externas, a estratégia que tinha sido adotada pelos judeus era de que o confronto deveria ser evitado se houvesse riscos excessivos de derrota de destruigao. Besta postura que Josefo passa a assumir, como dizfamos acima, apés 0 abandono de sua posic&o de comando do exército judeu. Adotando uma idéia profético-messidnica, defende que o Deus que tinha dado 0 dominio do mundo a varias nagSes, agora o tinha entregado nas mos dos romanos (5,367), Aqui temos, certamente, uma relagdo com o texto de Jeremias, onde © profeta avalia a aco de Nabucodonor (27,5-17): Assim disse lahweh dos exéreitos, Deus de Israel...: Eu fiz a terra, 0 homem ¢ os animais que estio sobre a terra, por minha grande forga € com meu brago estendido e os dei a quem me aprouve. Mas agora eu entreguei todos esses paises nas mios de Nabucodonosor, rei da Babi- nia... Servi o rei da BabilOnia pra que possais viver... Por que quereis © SCHORER, Emil. The history of the Jewish people in the age of Jesus Christ (175 b.C.-A.D. 100). Edinburgh: T & T Clark, 1979, v.1, p.481. * CHANCEY, Mark A., PORTER, Adam L, The Archaeology of Roman Palestine. Near Eastern Archaeology, ». 64,0.4, p.178, 2001. 196 HISTORUA MELITAR 100 MUNDO ANTIGO: GUERRAS € REPRESENTAGOES: morrer, tu (rei Sedecias) e teu povo, pela espada, pela fome ¢ pela peste... Por que deveria esta cidade (Jerusalém) tornar-se uma ruina?", © raciocinio de Josefo ¢ o mesmo de Jeremias: opor-se aos romanos em 66 d.C. era.o mesmo que opor-se a Nabucodonosor, em 586 a.C. A forga dos inimigos era muito superior 4 dos judeus e, nos dois casos, Jerusalém € a cidade a ser poupada, Para Jeremias, era preciso ceder agora para vencer depois: Deus faria seu povo voltar da Babilonia ¢ retomar a sua liberdade (27,22). B assim que o Segundo Isaias (Is 41,1ss; 44,28) interpreta a decisio de Ciro de permitir a volta dos judeus de Babilénia para a Palestina, em 538 d.C., Deus recompensa a sabedoria de seu povo de ter evitado sua destrui¢io ao confrontar um inimigo imbativel, com a reconquista da liberdade"'. Josefo considera a atitude dos revoltosos como um desrespeito a tradicao atestada pelo profeta Jeremias que prega a paciéncia nio como resignagdo, mas como estratégia para aguardar o momento oportuno para retomar as rédeas da histéria nas mios'?. Quer seja por bom senso ou por apego a referida tradigdo judaica, Jo- sefo apresenta as razdes que deviam levar os judeus a respeitarem, naquele momento, os romanos. Naquela circunstincia, o poder dos romanos se mani- festa, particularmente, no vigor de seu exército. Josefo o apresenta como uma organizagiio de qualidade, com um bom comando, objetivos claros, disciplina rigida, homens treinados, armas de primeira linha, estratégias adequadas, com bons resultados no campo de batalha. Trata-se de um exército que tinha se profissionalizado a partir de Augusto”. Segundo ele, uma organizagio com caracteristicas inferiores, como 0 exército judaico, nfo deveria exaurir inutilmente recursos humanos ¢ materiais em enfrentamento inédcuos. Em outras palavras, segundo ele, Roma, naquele momento, é invencivel e ¢ va qualquer oposigao a ela'*. ‘© A Biblia de Jerusalém, S40 Paulo: Edigdes Paulinas, 1980. 11 COHEN, Shaye J.D, Josephus, Jeremiah, and Polybius. History and Theory, v.21, n. 3p. 380-8], 1982. Sobre Ciro: ROSSI, Luiz A. S, Cultura militar ¢ de violencia no mundo antigo. Israel, Assiria, Babilénia, Pérsia e Grécia. Sio Paulo: Annablume/FAPESP, 2008, p. 63-77. 12 Uma outra critica aos revoltosos era de que cles nilo lutavam apenas contra um grupo do- ‘minante extemo ~ os romans, mas também contra grupos dominantes intemnos ~ = aristocracia judaiea (STEGEMANN, Ekkenhard W., STEGEMANN, Wolfgang. Histéria social do proto- cristianismo, Trad. Nélio Schneider, Sto Paulo: Paulus; S. Leopoldo: Sinodal, 2004, p. 208-12. © CARRIE, Jean-Michel. O soldado, op. cit, p91. 1 STERN, Menahem. Josephus and the roman Empire as reflected in the Jewish War. In: FELDMAN, Louis H., HATA, Gobei (ed,). Josephus Judaism and Christianity. Detroit: Wayne MARGARDOA CARVALHO * PEDRO FUNAR! CLAUDIO CARLAN * ERICA SUVA = ORGS. 197 Asuperioridade do exército romano ja tinha sido apontada por Polibio (202-120a.C.), em sua obra Histéria, em que relata a vitéria romana sobre os gregos na batalha de Pidna (168 a.C.). A sua avaliagdo da guerra entre gregos € romanos - particulanmente, levando em considerado a desvantagem grega frente aos romanos - ¢ de que ela é um mal, mas nfo a ponto de justificar que se deva submeter-se a qualquer ignominia a fim de evitd-lo'’. Esta é uma posi¢ao muito semelhante a de Josefo em sua avaliagdo da guerra entre judeus ¢ romanos, Assim, mesmo que nao haja uma ligagio textual explicita entre Polibio e Josefo, a Guerra Judaica de Josefo (3,70-109) descreve o exército romano de forma muito semelhante a de Polibio em sua Histéria (6,19-42)'*. Podemos dizer, ent&o, que Polibio e Jeremias sio as principais referéncias de Josefo em sua obra, Josefo considera o exército romano muito mais preparado e organizado que o dos judeus ¢ existem muitas evidéncias dessa superioridade: uma delas se manifesta ja nas estratégias assumidas com relagdio ao acampamento. Os acampamentos romanos sio cercados com uma espécie de muralha onde sfo instaladas torres de vigia, e ao redor dos quais so cavados fossos de protec3o profundos (3,83-84)". Quando deixa o acampamento, tudo o que resta dele é incendiado para que nao possa ser utilizado pelos inimigos. O som da trombeta marca cada etapa do movimento das tropas (3,89), Os soldados tém suas armas sempre junto de si e nunca se isolam do grupo, nem para comer. Todas as suas agdes esto muito bem reguladas, inclusive a forma de saudacdo: os soldados cumprimentar, pela manhi, os centurides, State University Press, 1987, p. 76. “ HARVEY, Paul. Diciondrio Oxford de literatura cldssica grega e fatina, Trad, Mirio da ‘Gama Cury. Rio de Janeiro: Zahar, 1998, p.409. ** Mesmo que no se verifique uma dependéncia textual de Josefo com relaglo a Polibio, o Hi uma terceira versio do incéndio do templo que Josefo atribui aos préprios judeus |MARGAROA CARALHO * PEDRO FLNARI* CLAUDIO CARLAN * ERICA SIA — ORGS. 203 Tito violento é quando este manda crucificar publicamente muitos judeus para que pudessem servir de exemplo para os revoltosos (5,449-50). HA ocasibes em que os soldados, & revelia do comando, atuam livre- mente contra os judeus (1,367). Contrariando as ordens de Tito, soldados romanos matam pessoas velhas ¢ debilitadas (6,414). Um soldado romano que fazia guarda diante do Templo ofende o pudor de alguns judeus 0 mostrar em piiblico seu érgio sexual (2,224). Um dos moventes do exército romano ¢ o sistema de recompensas estabelecido*. Os soldados romanos recebem permissio nfo sé para destruir as casas dos inimigos, mas também para saquear seus bens (2,494; 4,642), o mesmo acontece com os tesouros do templo de Jerusalém (2,49; 4,645)”. Outro movente ¢ a expectativa da celebragdio da vitoria. E o que acontece no final do conflito: Tito elogia e louva o exército pelo desempenho na guerra e recompensa os que se haviam distinguido nas batalhas (7,5). Chama cada um pelo nome (7,13)*, coloca-lhes coroas de ouro sobre a cabega, os presenteia ‘com ouro, dardos com pontas de ouro, medalhas de prata, distribui-lhes também ricas vestes e outras coisas preciosas que fazem parte dos despojos (7,14). Apés recompensar cada um segundo seu mérito, ele oferece sacrifi- cios, em ago de gragas, pela vitéria, Manda imolar um grande niimero de bois, cuja came é distribuida aos soldados ¢ da banquetes, que duram trés dias (7,16-17). Finda a guerra, 0 cortejo triunfal em Roma pode ser considerado a recompensa por exceléncia pela vitéria sobre os judeus, envolvendo todo o exército romano e seus Iideres: nessa ceriménia, o imperador Vespasiano ¢ 0 general Tito, seu filho, sfio aclamados em Roma pela vitéria sobre os jjudeus, antes de se dirigirem em cortejo para a porta triunfal (7,126.130). ‘Josefo diz que é impossivel descrever a grandeza desse festejo (7,132). Hé (6177-185). %' HARVEY, Paul. Diciondrio Oxford de Literatura Classica grega e latina, op. cit p. 222 0 soldado era também estimulado pelos prémios reccbidos por ocasito de seu licenciamento, ‘quer em dinheiro ou em terras (CARRIE, Jean-Michel. O soldado, op. cit. p.96). "0 saque pode ser considerado uma complementago do salirio que 0 soldado reeebe © que cle podia ulilizar apenas parcialmente, antes de ser licenciado, apés, aproximadamente, 16 anos de servigo. Nesse periodo, o salério de um soldado romano era de 900 sestércios anuais, (SPEIDEL, Alexander. Roman Army Pay Scales. The Joumal of Roman Studies, v.. 82, 1992, ‘p-92). Speidel apresenta uma relacio detalhada dos salérios militares em Roma. © © conhecimento do nome dos soldados e de muitos outros detathes sobre cada um deles ainda se reflete na biografia do imperador Alexandre Severo (208-235 4.C.)relatada na Histéria ‘Augusta (Alexandre Severo, 21.6-8). 204 MISTORUA AELTAR OO MUNGO ANTICO: GUERRAS E REPRESENTAGOES uma profiusto de pessoas ricamente vestidas, portando jéias (7,134), desfi- lando com animais raros (7,137). Até os escravos se apresentam em vestes especiais. Carros alegéricos trazem representagdes de cenas da guerra contra 08 judeus; segundo Josefo, sio to bem feitas que parecem reais (7,142). E apresentada uma grande quantidade de despojos, que inclui objetos do templo em ouro e, inclusive, uma menora (7,148). Segue uma procissao de varias estituas da Vitéria em marfim ¢ ouro, Ao final se apresentam o imperador Vespasiano ¢ seus filhos Tito e Domiciano (7,151-2). Ap6s a morte do imperador Tito, seu irmao, Domiciano, manda cons- truir, em 81, um arco comemorativo a vitéria sobre os judeus, conhecido como Arco de Tito, medindo 15,4 mt de altura, 13,5 mt de largura e 4,75 mt de profundidade, Em suas paredes so reproduzidas cenas de batalhas dos romanos contra os judeus. Arco de Tito: detathes da entrada triunfal de Tito ¢ Vespasiano em Roma. Sao cunhadas, também, moedas que trazem a inscrigo: Judaea capta (ludéia capturada) ou Judaea devicta (Judéia vencida). No anverso de mui- tas dessas moedas, além da inscri¢do, aparecem as figuras de um soldado romano, de uma mulher de luto e de uma palmeira simbolizando os judeus, A Judéia termina separada da provincia da Siria e torna-se uma provincia romana auténoma’®, ® ARMSTRONG, Karen. Jerusalem. One city, three faiths. N. York: Ballantin Books, 1997, p. MARGARIEA CAFRALHO * PEDRO FUNARI * CLAUDIO CARLAN * ERICA SUVA ORGS. 205 ConcLusAo A Guerra Judaica de Flavio Josefo traz uma multiforme contribuigio para o conhecimento da histéria romana e judaica do século I. Descreve em detalhes as caracteristicas das relagSes de dependéncia no Ambito do império romano. Destaca a dificuldade que os romanos tiveram para se impor as suas provincias, mas, de forma realista, defende a impossibilidade de se contrapor ao seu poder, manifestado, particularmente, na pujanga de seu exéreito. Apresentando-se, duplamente, como um arauto do povo judeu e do comando romano, procura dissuadir grupos de judeus decididos a enfrentar o“invasor” a qualquer custo. A sua argumentagtio se baseia, de um lado, na total incapacidade militar dos judeus para enfrentar o exército romano e, de outro, na tradig&o profético-messidnica judaica que propde a estratégia da “paciéncia histérica” no confronto com inimigos poderosos, Tinha sido assim, durante a dominagiio de Nabucodonosor, retratada pelo profeta Jere mias. Essa “paciéncia histérica” no era entendida como capitulagdo, mas apenas como um tempo que se dava para a intervengio oportuna de Deus em favor dos judeus. E assim que foi entendida a libertagdo do cativeiro da Babildnia pelas maos de Ciro. No entanto, avalia que a falta de bom senso ¢ o desrepeito da tradigio judaica por parte dos revoltosos foram responsiveis pela destruigdo do Tem- plo e da cidade de Jerusalém e pelo massacre do povo judeu, Diversamente dj Jeremias, seu texto no apresenta qualquer perspectiva de reconstruglo nacional, De fato, o final do conflito marca o inicio da didspora judaica que 86 se concluiria, apés dois milénios, com a criagio do estado de Israel pela Organizag&o da Nagdes Unidas, em 1947, No aff de descrever a disparidade de forgas entre 0 exército romano © 0 dos judeus, Josefo traz contribuigdes valiosas para a histéria militar a0 apresentar detalhes sobre o exército romano € suas estratégias de atuacio, Em certos momentos, Josefo tem dificuldades de aderir aos seus prprios principios. Nao consegue fazer uma defesa irrestrita dos romanos. quando se depara com desmandos de seus soldados, nem uma critica cabal 4 aco dos revoltosos, ficando estarrecido frente a atos herdicos de muitos deles no afa de defender interesses pessoais ¢ nacionais durante o confiito, 153-184. SPILSBURY, Paul. Flavius Josephus on the rise and fall of the Roman Empire, Journal of Theological Studies, v. $4, p.3, 2003. SILVA, Airton José da. Historia de Israel. Disponivel em: , Acesso em 19 outubro 2007, 208 isTORA MiLTAR DO MUNDO ANTICO: GUERRAS E REPRESENTAGOES BistiogRAFiA Documentacio, ABIBLIA DE JERUSALEM. Siio Paulo: EdigSes Paulinas, 1980. JOSEPHUS. The Jewish war. Trad. H.St. J. Thackeray, Cambridge: Harvard University Press, 1990. 2 v. Obras Gerals ADAMS, John Paul. The Roman Army: a Bibliography. California State University, Northridge. Disponivel em: , Acesso em 25 outubro 2008, ALFOLDY, Géza. 4 histéria social de Roma. Trad. Maria do Carmo Cary. Lisboa: Editorial Presenga, 1989. CARRIE, Jean-Michel. 0 soldado, In: GIARDINA, Andréa. O homem romano, Trad, Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Lisboa: Editorial Presenga, 1992, p.87-115. CHANCEY, M. Alan, PORTER, A. Lowry. The Archaeology of Roman Palestine. Near Eastern Archaeology, v. 64, n.4, p.164-203, 2001. COHEN, Shaye J.D. Josephus, Jeremiah, and Polybius. History and Theory, v.21, n, 3, p. 366-381, 1982. GORDON, D. Vegetius and his Proposed Reform of the Army. In: EVANS, J.A.S. (ed), Polis and Imperium: Studies in Honor of Edward Togo Salmon. Toronto: Edgar Kent Inc Publisher, 1974, p. 35-58 HARVEY, Paul, Diciondrio Oxford de Literatura Cléssica grega e latina, ‘Trad, Mario da Gama Kury. Rio de Janeiro, 1998. ROSSI, Luiz A. S. Cultura militar e de violéncia no mundo antigo. Israel, Assiria, Babilnia, Pérsia e Grécia, S40 Paulo: Annablume/FAPESP, 2008, SCHURER, Emil. The history of the Jewish people in the age of Jesus Christ (175 b.C.-A.D. 100), Edinburgh: T & T Clark, 1979. 2 v. SHUTT, R.J.H. 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