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7

7
Cha r g es
s
r t u n
a
e C Anton i o M iani
o
nald
Rozi

u r s o
C i n h os
u a dr
q
s a la
em
a u la
de
1.Para início de

n v e r s a . . .
co Quem nunca leu ou
reparou naqueles dese
- Pa
nc
ra
eit os
co
e
m eç
os
ar
pr
mos, será preciso apres
inc ipa
entar os
is elementos constitut
ivos
iconográficas de
e, co comunica-
s nos jornais e revistas
nhos que são publicado ou de ssa s fo rm as uco da
ponibilizados em blogs , apresentamos um po
mais recentemente, dis mos- çã o. Na se qu ên cia
tipos e dos prin-
caixas de mensagem m como dos diferentes
enviados para nossas da no ssa his tó ria , be
a dia da política e e cartuns.
trando situações do dia cipais usos de charges tas
cie da de de m od o ge ral? Ta m bé m ne ste fa sc ículo, informações e pis
so
ou pensativo – às ve- pretende produzir esse
tipo de ilustra-
Quem nunca riu ou fic te de pa ra qu em .
ou revoltado – dian ntextos de aprendizagem
zes até indignado e/ çã o e us á- lo em co
um as de ss as im ag ens? Certamente você

At en çã o: nã o te m problema se acha que
alg s-
Sim, estamos falando
de
desenhista! Existem pe
sabe do que se trata. não leva jeito para ser mo analista s de
charges e cartuns. ste fa sc ícu lo, so as que se especializam co so, apresenta-
cartuns, sabia? Nesse ca
, temas de
As charges e os cartuns em qu a- ch ar ge s e ucadores
assim como a caricat
ura e as histórias
o. dic as para professores e ed
s do humor gráfic
re m os vá ria s an-
drinhos, são modalidade so br e o qu e po de e deve ser considerado qu
senhos de humor, para
a ou cartum.
Todos esses tipos de de elh an - do se tra ta de analisar uma charge s nunca
am de recursos sem que seu olhar sobre ela
sua produção, se utiliz a Vo cê pe rce be rá
seminação impulsionad
tes. Eles tiveram sua dis pr es so s (revis- mais será o m
esmo.
proporcionar
por jor nais e outros pe
rió dic os im
os ca - Tu do iss o tem como objetivo , bem
tas, cartilhas, almanaq
ues etc.) e, em muit
co nh ec im en to s bá sicos sobre a história
ista que produzia histó
rias das charges e
sos, o mesmo desenh co m o so br e a teoria e a prática -
tiva de que os professo
ge s, ca r-
m produzia char
em quadrinhos també dos cartuns na expecta nt o)
interessados no assu
tuns e caricaturas. res (e/ou todos aqueles para utilizá-los
o pa ra po ssa m se apropriar do essencial
Humor Gráfico:
uti liz ad m.
tidianos de aprendizage
ter mo
ida de de ob ras em co nt ex to s co ram
e ainda não se inscreve
representar uma div ers
im pre sso s, tai s E pa ra aq ue les qu
gráficas comuns em su
porte s
ons), tiras no curso, temos uma boa notíc
ia: AINDA PODEM
(ou ca rto
como as charg es, ca rtu ns
vocam FAZÊ-LO! E GRATUITAMENTE. Todos
os produtos
atu ras , qu e pro
aulas, vídeos extras,
em quadrinhos e ca ric
reflexões, sátiras ou desse curso (fascículos, video
comicidade a partir de ferências
entre outros. biblioteca virtual, radioaulas, webcon
críticas sociopolíticas,
até o final de junho no
et c.) estarão disponíveis
Iconografia: repert
ório de imagens AVA, a sua sala de aula virtual:
a

r
gênero de arte, artist

. b
próprio de uma obra,

o r g
ou período artístico.

a.fdr .
av
98
a?
2. Do que se trat

Di r e t o
a o p o n t o
A primeira coisa que o educador deve saber é
a definição do que é charge e do que é cartum.
Cada artista ou estudioso, por força de ofício, aca-
ba apresentando o seu próprio conceito, mas, no
fundo, a grande maioria deles está falando de coi-
sas muito parecidas.
Para começar, precisamos reconhecer que entre Como a charge tem uma relação muito estrei-
a charge e o cartum há uma condição que é comum ta com a realidade imediata, com a atualidade
e determinante: ambos são modalidades do humor dos fatos e das coisas, um dos elementos mais im-
gráfico de natureza dissertativa, ou seja, sempre portantes a ser considerado é sua efemeridade.
apresentam a defesa de uma ideia. A charge mantém sua eficácia e eficiência como
E qual seria a diferença entre esses dois tipos expressão comunicativa no curto período de tempo
de desenho? De modo geral, pode-se dizer que a em que o acontecimento a que se refere permanece
charge é uma representação humorística, carica- na memória individual e social do seu leitor. Depois
tural e de caráter político, satirizando um fato ou disso, ela perde sua força comunicativa. Porém, por
personalidade específicos, funcionando como uma outro lado, ela ganha valor como fonte his-
espécie de “editorial gráfico”. Por sua vez, o car- tórica (aí a tarefa é com os historiadores...).
tum difere da charge por fazer referência a fatos
ou pessoas ficcionais, sem ligação com a realidade Efemeridade: o que é efêmero,
imediata, portanto, atemporal e marcado por um passageiro, temporário, que dura pouco.
humor universal.
tini
Angelo Agos
Latuff

99
!
ABRA A SUA MENTE
-
resentada por Cami
Uma boa síntese é ap
tonio Luiz Cagnin, a e “é especialmente
Para o pesquisador An lo Riani que af irma qu e
que se refere a fato
s no fato retratado qu
charge é o “desenho ais , em na te mporalidade e en qu an to
agem pessoas re distinguem:
acontecidos em que essas categorias se
o propósito de de n- nu a em fatos reais (ou
geral conh ecidas, com a charge está basead
ais), ocorridos recen-
ciar, criticar e satiriza
r”. com personagens re
, economia, cu ltu ra
Arbach af irma que se te mente na política is
Sobre cartum, Jorge de te mas mais gera
a gráf ica, uma crítica etc., o cartum trata
trata de “u ma anedot o uma citação a um
ta seu hu mor atravé
s e universais, não send
mordaz, que manifes s,
ias a fatos ou pessoa caso específ ico”.
do riso. Faz referênc re ali da de ,
cu lo com a
se m o necessário vín
a sit uação criativa que
re presentando um
invenção”.
penetra no domínio da

tim
as – Bole
Bira Dant 8, ju n/1983
, 5
Sindi luta
ez/2011
olítico, d
H umor P
Dálcio –

100
!
3. Rir ou não rir,

s a questão
ei
Uma característica que é própria das char- Você seria capaz de rir
ges e dos cartuns é a presença do humor. diante dessas imagens?
Naturalmente entendemos humor como aquilo
que nos provoca o riso, não é verdade? No caso
do humor gráfico, entretanto, precisamos perce-
ber o sentido desse “humor” de outra maneira. É
evidente que a grande maioria das charges e car-
tuns provoca o riso no seu leitor. Mas quando o riso
não acontece, será que isso significa ausência de
humor? E como explicar que um desses desenhos
pode provocar o riso em algumas pessoas e, ao
mesmo tempo, indignação ou repulsa em outras?
Isso acontece porque, para entender o sentido de
humor nas charges e nos cartuns, é necessário con-
siderar que o humor é aquele elemento presente
na imagem que promove uma transgressão
e uma desordem na situação real retratada, ou
como nas palavras do pensador e escritor italiano
Umberto Eco, que “mina a lei”, que destrona os
poderosos. Portanto, pelo humor, as charges e car- Latuff
2008
tuns funcionam como uma forma consistente
social
de crítica política e social.

Transgressão: ato de transgredir, de violar,


Latuff 2

de ir além de. Essa violência do(a) artista é a


sua forma de expressão, de não aceitação e/ou
013

incompreensão diante dos valores estabelecidos


e impostos pela realidade que o(a) cerca, de
subversão, de criação do novo ou mesmo de
denúncia ou ridicularização do status quo.

101
realizar é
Um ex erc íci o que o educador pode
cartum fizer alguém rir, ito de temas
Mas e se a charge ou se lec ion ar ch arges e cartuns a respe
te que essa pessoa
nã o buir en-
significa necessariamen div er so s (p olê m ico s, de preferência) e distri
do artista ou que é
uma passo é observar
entendeu a proposta si- tre os se us educandos. O próximo
O humor, em qualq ue r registrem
alienada? Nada disso! a rea çã o de ca da um deles e pedir que
sa é omo-
aç ão , ta m bé m at iva o ato do riso. Porém, es su as op ini õe s e se ns aç ões. Depois, deve-se pr
tu or. s diferenças
as produzidas pelo hum te coletivo a partir da
apenas uma das camad op õe ve r um de ba los edu-
das que o humor se pr pções manifestadas pe
Há outras mais profun e de op ini ão e pe rce
resenta a definição
e o potencial crítico . Ao final, o educador ap
a atingir, e é nelas qu gia , po ssi - ca nd os .
persuasivo é ativado
com mais ener
de hu m or ref ere nte às charges e cartuns
de
ça de consciência e
bilitando uma mudan ta-
ção e da temática retra
atitude diante da situa
adas.
das nas imagens desenh

para curiosos
r
o contratado para se
da Rocha, que havia sid em , ele
primeira charge pu- redator do jornal Co
rreio Of icial. Na imag
Esta é considerada a cebendo um saco de
dinheiro
se em 1837, no Jornal aparece de joelhos re
blicada no Brasil. Deu- rante o período rege
ncial. A
lava na cidade do Rio ante , du
do Comércio, que circu um go ve rn
ida por Manuel José
de prensa
ca a su bmissão da im
de Janeiro. Foi produz charge retrata e criti ve rn o.
Alegre. Tratava-se relação ao go
de Araújo Porto- brasileira da época em
alista Justiniano José
de uma sátira ao jorn

Manuel de Araújo Porto-


Alegre (1806-1879): o barão de
Santo Ângelo foi escritor, dramaturgo,
professor e crítico de arte, jornalista,
editor, pintor, arquiteto, caricaturista,
chargista e diplomata, patrono da
cadeira 32 da Academia Brasileira de
Letras. Juntamente com Gonçalves
Dias, Gonçalves de Magalhães
e Joaquim Manuel de Macedo
lançou revistas literárias de grande
importância. A sua revista Lanterna
Mágica (1844) é considerada a
primeira publicação de humor político Manuel de
Araújo Po

102
rto-Alegre
da imprensa brasileira, acolhendo
charges e caricaturas.
e c e n d o u m p o u c o
4. Conh

d e s s a
hist ó r i a s
timular o consumo do
tinham o objetivo de es s
o desenhos de humor rém, com o avanço da
A charge e o cartum sã periódicos impressos. Po m
po estão presentes na de impressão, ele s fo ra
que há um bom tem o técnicas de produção e de
ses desenhos, assim com o material de opinião e
sociedade brasileira. Es co m un s ganhando espaço com .
hos, se tornaram crítica às mazelas de no
ssa sociedade
as histórias em quadrin
no começo, justam - en
em jornais e revistas e, s,
curiosidade dos leitore
te por despertarem a

c o m p l e t a ) c r o n ologia das
4.1. Pequena (e in
r g e s e c a r t u n s no Brasil
ch a
strada

Século 19
Revista Illu

Jornal do Comércio,
a)
Publicação em 1837, no
Brasil, produzida por
da primeira charge no
.
Araújo Porto-Alegre
nterna Mágica, pri-
b)
Circulação da revista La
iro de crítica política
meiro periódico brasile
arges, lançada em 1844
e social ilustrado com ch
por Araújo Porto-Alegre.
riódicos impressos
c)
Surgimento de vários pe
publicação de char-
que se destacaram pela de
s, aqueles com atuação
ges e cartuns. Entre ele ),
abo Coxo (1864-1865
Angelo Agostini: Di
1876), Vida Fluminense
Revista Illustrada (1860-
ixote (1895-1903).
(1868-1875) e Don Qu

103
stradora , ceramista
-1994): chargista, ilu
Século 20 Hilde Weber (1913
e pintora alemã (natur
sileira), veio ao Brasil co
alizada bra
m 20
nalismo ilustrado
a)
Criação do jornal ilustrado A Manha (1926- ida de . Co ns ide rada precursora do jor
an os de lado de Rubem
1957), dirigido por Aparício Torelly, o sil, tra ba lho u no s Diários Associados ao
no Bra ulo, Noite
Barão de Itararé. . Em Sã o Pa ulo , ilu strou para a Folha de S. Pa
Braga S. Paulo.
nchete e O Estado de
Ilustrada, O Cruzeiro, Ma
b)tade do século 20, dos chargistas e cartunis-
Atuação destacada, durante a primeira me- pe las charges (em esp ecial as políticas)
ida e de sta ca da ca Latina
Reconhec , o Prêmio Seção Améri
, rec eb eu , em 19 60
e caricaturas r Forum. Em
tas J. Carlos, K. Lixto, Alvarus, Nássara, Mendez e, ras do World Newspape
do concurso de caricatu
principalmente, Péricles e Belmonte. Charges (1950-1985).
1986 lançou Brasil em

c)tas e cartunistas a partir da segunda metade


Surgimento de uma nova geração de chargis-

do século XX, com destaque para Millôr Fernandes,


Borjalo, Jaguar, Ziraldo, Mino e Hilde Weber,

Capa
que foi uma das poucas mulheres que ocupou es-
paço na imprensa diária brasileira como chargista.

do A
d)e cartuns no cenário social e político brasileiro

lman
Emergência do papel estratégico das charges

haqu
durante o período da ditadura civil-militar (1964-

e
(Fac-
1985). Diversos chargistas e cartunistas colocaram

S
ímile)
seu trabalho e sua arte a serviço da resistência e da
denúncia contra os governos autoritários: Jaguar,
Ziraldo, Fortuna, Claudius, Nilson, Lor, Henfil e, um
pouco mais tarde, Laerte, Angeli, Glauco, Nani,
Ohi, Santiago, Luiz Gê, Maringoni, Erthal e os
irmãos Chico e Paulo Caruso, entre outros.

e)para atuação de chargistas e cartunistas, a


Ampliação do espaço da imprensa sindical

partir da abertura política no Brasil, e o surgimen-


to de uma nova geração de desenhistas, com
destaque para Éton, Bira Dantas, Gilmar, Pecê,
Hércules, Márcio Baraldi e Latuff.

Século 21
Surgimento de uma novíssima geração de char-
gistas e cartunistas que se caracteriza pela ênfase
em uma produção autônoma, disponibilizada em
sites e blogs, como consequência da chegada e da
consolidação da internet.

104
. (fonte: O Brasil em Charges
chefe da censura no Estado Novo
Getúlio Vargas e Lourival Fontes,
-198 5), de Hilde Webe r, Circo Editorial, SP, 1986.
(1950
para curiosos

les
e Péric
nça, d
s
tória das charges e do

o da O
Impossível falar da his
les:
cartuns se m falar de

O A mig
Onça: Péricles de
Péricles e O Amigo da cano,
cartunista pernambu
Andrade Maranhão, ão do
nalmente pela criaç
ficou conh ecido nacio um
personagem Amigo
da Onça. Trata-se de
pelo
rs on ag em mo vid o pelo individualismo e
pe o-
va os costumes da ép
cinismo, que satiriza o fa mo so
de todos. Era
ca e vivia zombando a vez
Pu blicado pela primeir
“espírito de porco”. ag em
Cruzeiro, o person
em 1943 na revista O 20
u criador por quase
foi produzido pelo se les,
is da morte de Péric
anos. E mesmo de po

ior
r pu-
agem continuou a se

nçalo Jún
em 1961, seu person uz ido então
Cruzeiro, prod
blicado na revista O
por Carlos Estevão.

o por Go
l:
s da II Guerra M undia
Belmonte e as charge on te , na s-
rreto, o Belm
Benedito Bastos Ba

anizad
eu
a e desde cedo aprend
ceu na capital paulist ido pe la
Tornou-se conh ec
onte, org
o ofício do desenh o. er a um a
em Juca Pato, que
criação do personag ss e
adão anônimo, de cla
retratação de um cid
Belm

ro-
do bordoada dos pode
média, que vivia levan sua
Capa de

s e fa ze nd o cr íti ca à corrupção política de


so pro-
te se notabilizou pela
época. Porém, Belmon “ca ric a-
e ele chamava de
dução de charges (qu ra nt ea
e os conf litos du
tura”) sobre o nazismo St alin
dial. Hitler, Mussolini e
Segu nda Guerra Mun o.
os do seu hu mor ferin
foram os principais alv
ar:
o à ditadura civil-mi lit
Henfil e a contestaçã s ma is
ho, o Henf il, foi um do
Henrique de Souza Fil u a
as brasileiros. Integro
importantes cartunist s
a das mais importante
equipe d’O pasquim, um a
a imprensa alternativ
pu blicações da chamad qu e cir cu lou
os impressos
(conjunto de periódic il e
a civil-militar no Bras
no período da ditadur at icadas
são e a censura pr
que criticava a repres agens
Criou inúmeros person
por esses governos). inhos
s. Entre eles: os frad
tipicamente brasileiro
Henf il

(Graú-
a Turma da Caatinga
Henfi l
mp rid o e Ba ixi m) e
(Cu mor
elana). Henf il fez do hu
na, Zeferino e Bode Or op rim ida ,
er a popu lação
uma arma para defend en to s po -
serviço de movim
colocando sua arte a co m a

105
cartuns colaboraram
líticos e sociais. Seus o do
a, pela democratizaçã
luta contra a ditadur pr es os po lít ico se
ís, em de fe sa da an istia aos
pa
s Já!.
do movimento Direta
n t e s d e c h a r g e s
5. Tipos difere

e ca r t u n s
Sem pretender estabelecer tipificações rígidas

on
ou categorias determinadas, é possível perceber

de Lails
algumas especificidades no universo das charges
e cartuns e, com isso, identificar diferentes tipos

Política
para essas modalidades do humor gráfico. A prin-
cipal delas é com relação ao contexto retratado, de

C harge
ordem mais política ou social.
Pode parecer redundante, mas podemos carac-
terizar algumas charges como charge política ou
cartum político. São aquelas imagens que apre-
sentam temáticas relacionadas à conjuntura política
local, nacional ou internacional, vinculadas a fatos

ilson
ou personagens reais (no caso da charge) ou a abor-

lítico de La
dagens políticas genéricas (no caso do cartum). Na
prática, é a grande maioria das charges e cartuns
produzidos em nossa imprensa. Essas imagens exa-

Cartum Po
lam acidez e criticidade e, em alguns casos, chegam
a exercer uma atitude quase militante.

erde
l de
Cartum Socia
Rafael Limav
Du ke
Cartum Social de

106
Por sua vez, há algumas imagens que, apesar É bastante comum nas publicações impressas
de manterem essencialmente as qualidades das as charges e cartuns acompanharem ou comple-
charges e cartuns, apresentam uma atitude mais mentarem algum texto verbal. Apesar disso,
amena em relação à temática retratada e, não se deve considerar que essas produções ico-
por isso, podem ser definidas como charge social nográficas tenham como objetivo apenas ilustrar
ou cartum social. Elas funcionam como uma es- ou ser um elemento decorativo de um texto ver-
pécie de crônica ilustrada e é bastante utilizada no bal. Ao contrário, elas têm autonomia infor-
contexto esportivo e para prestar homenagens. mativa e propósito comunicativo próprio e
O formato de apresentação das imagens é ou- peculiar. Além disso, é possível verificar em várias
tro aspecto utilizado para designar diferentes ti- publicações a charge ocupando um lugar especí-
pos de charges e cartuns. Na quase totalidade dos fico, sem relação necessária e imediata com qual-
casos, esses desenhos aparecem em um único quer notícia ou produção verbal. Nesses casos, o
quadro. Podemos também encontrar várias cenas leitor estará diante de uma charge editorial.
inseridas em um único quadro maior. Porém, prin- Elas aparecem em diversos contextos comunicati-
cipalmente no caso das charges, há situações em vos, ora explorando o tema de maior importância,
que ela é apresentada por meio de uma tira. Nesse visibilidade ou polêmica explorado pelo veículo de
caso, a denominamos de tira chárgica. comunicação, ora como uma tentativa de sistema-
tização de uma determinada conjuntura econômi-
ca ou sociopolítica.

Tira C hárg
ica de Már
cio Harald
i

rte
ro de Lae

107
m um único quad
Várias cenas e
r o d u ç ã o d e c h a rges
6. A p
a r t u n s p a r a u s o
ec

pe d a g ó g i c o
O educador pode se utilizar da produção de Por sua vez, para a produção de cartuns, deve
charges e cartuns para fins de ensino e apren- haver uma liberdade maior na criação da narrati-
dizagem. Assim, além de realizar uma atividade va visual e verbal, inclusive, com a possibilida-
lúdica, ainda estimula a criatividade e a critici- de de inventar personagens que possam vivenciar
dade dos educandos. as mais distintas situações. O professor pode con-
Para a produção de charges, o professor deve tribuir apresentando sugestões de temas que este-
escolher um fato ou notícia da atualidade que seja jam diretamente relacionados com a sua disciplina
do conhecimento da maioria das pessoas envolvi- ou ainda temas transversais, garantindo que
das e oferecer o máximo possível de informações as imagens produzidas sejam utilizadas no contex-
e detalhes a seu respeito. Ele pode, ainda, disponi- to do processo educativo.
bilizar fotos de pessoas envolvidas no fato a ser re- Caricatura: retrato caricato que apresenta
tratado, incentivando a produção de caricatu- de maneira exagerada, geralmente distorcida e
ras. Esse recurso é sempre uma estratégia muito engraçada, as características físicas de uma pessoa.
eficiente para as charges, pois facilita ao leitor o
reconhecimento dos acontecimentos. Depois dis-
so, é só deixar agir a criatividade do educando na
produção de sua própria charge.

C layton

C layto
n

108
C layton
o r t a n t e s p a r a o
7. Dicas imp a n á l is e d e
l iz a r a
professor rea

cha r g e s
e c a r t u n s
Além de incentivar a produção de charges e no raciocínio e/ou na opinião de outra pessoa.
cartuns como atividade pedagógica, o educador Porém, toda charge ou cartum é produzido sob
também pode propor exercícios de análise certas condições de produção e, para fazer uma
desse tipo de imagem como estratégia de boa análise, o professor precisa cumprir alguns
aprendizagem. Para isso, há uma série de ele- objetivos, entre eles: (a) identificar o autor e sua
mentos e condições que devem ser considerados formação ideológica; (b) conhecer as ca-
para a realização de uma boa análise. racterísticas do veículo ou do suporte onde
A primeira questão a ser considerada é que estão publicados e também das instituições res-
a charge ou cartum são recursos gráfico-vi- ponsáveis pela respectiva produção comunicati-
suais que compõem um universo comunicativo va; (c) ter conhecimento de como se organizam
mais amplo. Não é possível fazer uma análise as relações sociais de produção (se há ou
sem considerar o contexto comunicativo não vínculo empregatício do chargista ou cartu-
maior, afinal, as charges e cartuns se integram, nista na empresa); (d) conferir se há interações
dão sentido e compõem os textos verbais de um entre diferentes sujeitos durante o proces-
jornal ou revista e essa unidade não deve ser so de criação das imagens; (e) verificar como se
quebrada. Mesmo no caso de uma charge edi- estabelecem os processos decisórios em re-
torial, ainda assim é preciso considerar todo o lação à aceitação e consequente publicação da
contexto da página onde foi publicada. imagem produzida.
No caso específico das charges, também é Combinado com essas dicas para uma análise
necessário verificar se elas fazem parte de uma mais voltada para o contexto sociopolítico, tam-
produção jornalística formal. Nesse caso, a qua- bém é preciso realizar uma descrição detalhada
lidade informativa da imagem é fundamen- dos elementos visuais e verbais contidos
tal e o analista deve examinar se os principais na charge ou cartum (personalidades conheci-
elementos informativos estão presentes e, caso das, cenários, expressões, cores, balões de fala,
não estejam, deve indicar se essa ausência com- legendas etc.). Depois disso, deve-se acionar
promete a efetividade comunicativa. todo o repertório de conhecimentos gerais e es-
Como já indicado, a charge ou cartum se pecíficos que permita explicitar os efeitos de sen-

109
propõe a defender uma ideia. Portanto, repre- tido da imagem a ser analisada.
sentam a opinião de alguém tentando influir
cais
ções lo
Além dessas orientações gerais, o professor

Pu blica
deve se familiarizar com as metodologias pró-
prias para análise de imagens, pois sabemos que
não é fácil fazer a leitura de uma imagem. É pre-
ciso apresentar argumentação sólida, coerente e
que faça sentido. Não se pode fazer uma boa

Neto
análise baseada apenas em “achismos”.
Como exercício de aplicação e de aprendiza-

Amigo da Onça
gem, os professores podem buscar o jornal de
sua cidade ou região, selecionar as charges e
cartuns publicados e realizar uma análise dessas
imagens procurando aproveitar todas essas dicas
apresentadas. Claro, é bom ampliar a sua leitura
sobre o assunto em outras fontes.

e s a i b a m a i s!
leia
ertextualidade e
Charge jornalística: int charges da Folha de
polifonia: um estudo de s Romualdo;
S.Pau lo, por Edson Carlo
apaças da razão: a
Sentidos do hu mor, tr
me Sodré Teixeira;
buscar conh ecer ou- charge, de Luiz Guilh er
O(A) professor(a) deve mor na imprensa: do
assu nto, assim como Entre se m bater!: o hu Pasquim21, de Luís
tros pesquisadores do , que contrib uirão
Barão de Itararé
as ao
chargistas e cartunist
qu e se possa aproveitar ao Pimentel;
ainda mais para á-
sses recu rsos iconogr ricatura: a questão
máximo a riqueza de se gu ir, alg u- Imprensa, hu mor e ca
ucativo. A rais, organização de
ficos no processo ed dos estereótipos cu ltu
mas indicações: Isabel Lustosa;
no Brasil, de Herman vida de Henf il, de Dênis
História da caricatura O rebelde do traço: a
Lima (em 4 volumes); de Moraes;
a brasileira: os pre- e fradins, zeferinos,
História da caricatur Cu ltu ra e política entr aria da Conceição
ção da caricatura no
cu rsores e a consolida ; graúnas e orelanas, de
M
no
Brasil, de Luciano Mag Francisca Pir es .

Herman Lima (1897-1981): escritor, memorialista, Barão de Itararé (1895-1971): o título Entre sem
biógrafo e crítico de arte. Nascido no Ceará, bater! refere-se a uma piada do gaúcho barão de
começou a trabalhar muito jovem como auxiliar de Itararé, certamente um dos maiores nomes da arte
fotógrafo, mais tarde cursando medicina e atuando do humor na imprensa nacional. O barão, devido às
em outras funções. Desde 1940 passou a estudar piadas que fazia sobre políticos importantes de sua
caricatura, arte do qual já era colecionador. Além época, foi preso e apanhou diversas vezes. Daí, um

110
da citada coleção em 4 volumes, referência maior dia, colocou uma placa, destinada aqueles policiais,
para pesquisadores, escreveu Tigipió (1924), menção na porta da redação do jornal A Manha, onde se lia:
honrosa da Academia Brasileira de Letras, Garimpos “Entre sem bater!”
(1930), Imagens do Ceará (1958), Poeira do Tempo
(1967), entre outros.
a r a e n c e r r a r .. .
8. P
ucativa, no
co m o im po rtante estratégia ed
ucador(a) pôde co nh e- educan-
Neste fascículo, o(a) ed m om en to em qu e em forma de desafio, o
peito do fascinante unive
r- pulsionar a sua
cer um pouco mais a res do se rá provocado a refletir, a im
ns. Essas imagens ro ub am e desenvol-
so das charges e cartu ar im ag ina çã o e cri atividade e a exercitar
) e o(a) convida a pens sua capacidade crítica
de ver o mundo.
a atenção do(a) leitor(a ve r a
dade, sem co nt ar qu e, às essor(a), procure conhe-
sobre a política e a socie Por essas e outras, prof as ativida-
vezes, o(a) diverte basta
nte.
ce r m ais e ab us e dessas imagens em su
nosso cotidiano e pautar sai-
Mais do que retratar o s em sa la de au la. Ce rtamente, seus alunos
l, as de
ância para a vida socia
temas de grande relev os , podem rvir rão ga
se nhando.
ca rtu ns , co m o vim
charges e os

Referências
tá rindo do
agem & cartum...
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lítica e ideológica.. Comunicação
Comunicação). Escola de
(Mestrado em Ciências da 00.
São Paulo, São Paulo, 20
e Artes, Universidade de

111
Rozinaldo Antonio Miani (Autor)
graduado em Jornalismo e História, mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP, doutor em História pela Unesp/
Campus Assis e pós-doutor pela ECA/USP. Docente do Departamento de Comunicação da Universidade Estadual de
Londrina (UEL), vice-coordenador do Programa de Mestrado em Comunicação da UEL e coordenador do Núcleo de
Pesquisa em Comunicação Popular (NCP/CNPq). Desenvolve pesquisas analisando a História do Brasil recente por meio
das charges e cartuns. Foi bolsista de produtividade da Fundação Araucária/PR (2014-2016) desenvolvendo pesquisa a
respeito da produção chárgica de Carlos Latuff.

CRISTIANO LOPEZ (Ilustrador)


é desenhista, Ilustrador e quadrinista. É desenhista-projetista do Núcleo de Ensino a Distância da Universidade de Fortaleza
e ilustrador e chargista freelancer para o jornal Agrovalor, revista Ponto Empresarial (Sescap-CE) e Editora do Brasil.

Rafael Limaverde

Este fascículo é parte integrante do projeto HQ Ceará 2, em decorrência do Termo de Fomento celebrado entre a Fundação Demócrito Rocha (FDR) e a Prefeitura Municipal de
Fortaleza, sob o nº 001/2017.

Expediente
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA João Dummar Neto Presidência | Marcos Tardin Direção Geral | UNIVERSIDADE ABERTA DO
NORDESTE Viviane Pereira Gerência Pedagógica | Ana Paula Costa Salmin Coordenação Geral | CURSO QUADRINHOS EM SALA DE AULA:
Estratégias, Instrumentos e Aplicações Raymundo Netto Coordenação Geral, Editorial e Preparação de Originais | Waldomiro Vergueiro
Coordenação de Conteúdo | Amaurício Cortez Edição de Design | Amaurício Cortez, Karlson Gracie e Welton Travassos Projeto Gráfico |
Dhara Sena Editoração Eletrônica | Cristiano Lopez Ilustração | Emanuela Fernandes Gestão de Projetos ISBN 978-85-7529-853-4 (coleção)
978-85-7529-860-2(volume 7)

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