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CAPITULO 5 TORNAR-SE PLANTONISTA. © fluxo das atitudes facilitadoras a partir da experiéncia de plantonistas iniciantes Emanuel Meireles Vieira Karen Priscila Lima dos Anjos ‘Ao longo de todos esses anos compreendidos entre a formu- lagio inicial de uma Terapia Nao Diretiva e a Abordagem Centrada nna Pessoa (ACP), muitas sto as contradigdes apontadas ¢ as lacunas teéricas referidas, ou mesmo as proposigdes de articulagdes com ‘outros autores (Amatuzzi, 1989, 2001; Moreira, 2007, 2009, 2010). Em grande parte, as criticas realizadas ¢ as reformulagdes propos- tas dizem respeito as chamadas atitudes facilitadoras (consideraga0 positiva incondicional, empatia ¢ congruéncia) © aos pressupostos filoséficos e ideolégicos da ACP. Esta pesquisa partiu de inquietagdes acerca de como se estabe- lece a aprendizagem de quem almeja trabalhar a partir do referencial da ACP e sua relag&io com os principios ideologicos ¢ filos6ficos desta abordagem. Para tanto, realizou-se uma pesquisa de base feno- menolégica a fim de compreender as nuances do processo ocorrido a0 longo dos atendimentos de estudantes do curso de psicologia que iniciaram atendimento no servigo de Plantio Psicolégico da Clinica- -Escola da Universidade Federal do Para (UFPA). ‘Nilo sli raros 0s casos de estudantes que, prestes a iniciarem 0 periodo de estgios, mais especificamente na modalidade de plantio psicoldgico, sentem-se incapazes de exercer as atitudes facilitadoras experimentam sentimentos de ansiedade, desconfianga a respei- to da efetividade do servigo a ser prestado, dentre outras dévidas 102 (Cury, 1999). Acredita-se que parte destes questionamentos se de~ vam as caracteristicas préprias deste tipo de atendimento psicolégi- co, definido cor um atendimento de tipo emergencial ~ compreendido como um servigo que privilegia a demanda emocionalimediata do cliente- € que funciona sem necessidade de agendamento, destinado a pessoas que da para problemas de natureza emocional (Cury, 1999, p. Desta forma, demanda da pessoa que envereda nesta nova pri- € também boa dose de cora- lade para se deftontar ‘nem um pouco remota) (Mahfoud, 1987p. 75) (UFPA), podemos dizer que 0 plantao psicolégico é um desafi. Em nossa experiéncia, observamos que no momento de inicio de estigio clinico sob o referencial da ACP os estudante se veem dian- tede algo como uma grande prova de suas potencialidades, bem como dde muitas dividas com relagao a esta pritica. Destarte, esta im do estabeleve uma tentativa de compreensio do el ine- rente ao processo de “tornar-se terapeuta”, com o intuito de clarificar anogdo que se tem da experiéncia de aprendizagem em atendimento ‘erapéutico referenciado pela Abordagem Centrada na Pessoa, Metodologia Para fins de material a ser analisado, utilizamo-nos de Versées de Sentido (V's) produzidas por plantonistas participantes do projeto de extensio “Plantdo Psicolégico na Cl da UFPA". Essas, \VS's deveriam conter um breve rel (2001), segundo a qual a VS consiste numa descrigaio em primeira pessoa escrita imediatamente apés o encontro ¢ que ressalta aquilo que houve de mais significativo na relacao, este modo, é absolutamente importante salientara riqueza heu- ‘istica da Versio de Sentido. Em nossa ideia inicial, imaginamos que 50r se tratar de um instrumento que prioriza os sentimentos e vivén- REVISITANDO 0 PLANTAO PSICOLOGICO CENTRADO NA PESSOA 103 cias considerados importantes para as plantonistas" durante os aten- dimentos, conteria apenas, ou principalmente, expressdes de questoes que dessem margem para andlises de suas atuagdes especificas (ou as atitudes facilitadoras). Porém, o trabalho sistemético de andlise deste ‘material revelou uma gama vasta de possibili questdes a serem levantadas. Algo impressionante até mesmo para alguém que j4 se considerava amplamente familiarizada com estas, por meio do trabalho nas supervisdes coletivas das plantonistas. Tnicialmente, o processo de realizagao da pesquisa consistiu na coleta do material das vers6es de sentido de cinco plantonistas atuan- tes no projeto em tela, Posteriormente, este mimero foi reduzido para trés plantonistas, pois nestas foram encontradas caracteristicas mais proximas dos moldes conceituais definidores da versio de sentido. Obtivemos nesta primeira etapa um total de 18 versbes de sentido, todas produzidas no periodo compreendido entre os meses de Agos- to e Novembro de 2010, referente ao primeiro semestre de realiza- ‘do do projeto. Deste material foram derivadas unidades de sentido, primeiramente para as versdes de sentido das plantonistas analisadas individualmente, processo do qual derivaram 96 categorias. Poste- riormente, tratou-se de buscar semelhangas de sentido nas experién- cias relatas pelas plantonistas. Deste segundo processo, de analisar 0 tido comum destas variadas experiéncias, obtivemos o total final de 11 categorias de sentido globais. ‘Tratou-se de um processo de refinamento progressivo em dire- 620 8 tentativa de apropriagao ou compreensio aprofundada de uma 1a por Van der Leeuw (1933/2009). transmutagdo exata de idade restrita da ordem © método fenomenolégico de van der Lecuw (1933/2009), adotado para esta investigago, entende que o trabalho de compre- strugdo do fendmeno a ser estudado. As- se apresenta confuso e disperso passa a ganhar 104 unidade a partir da identficeagaio de conexdes que definem o tipo, ‘uma unidade tipica ideal presente na diversidade do fendmeno e que Ihe fornece unidade (Leite, 2011). primeiro momento do método em questi & a “nomeagao” poderia causar estranheza dentro de uma compreenséo rigida dos pardmetros da ACP. Para que esta etapa faca sentido, porém, éneces- séiio inseri-se nesta experineia e inseri-la em sua vida “com assi- dduidade e método” através da redugdo fenomenolégica (Goto, 2007). Isto implica em que compreender a experiéncia vivida de outrem s6 se toma possivel se formos capazes de suspender nossos conceitos prévios a respeito desta experiéncia, Destarte, reformula-se o sentido do ato de nomear, pois o que se nomeia nfo é um objeto distante, mas uma experigncia vivida de maneira préxima e auténtica Assegunda etapa é elucidagao, ou seja, a “clarificagao do que se vé", Segundo Van der Leeuw (1933/2009, neste momento, de mesma na- \, procedeu-se uma categorizacdo das VS's no sentido agrupar aquelas que poderiam ser consideradas solidirias entre si, portanto pertencentes as mesmas categorias de anélise para, em se- guida, pé-las em didlogo com conceitos caros a0 nosso referencia. A compreenséo fenomenolégica das estruturas derivadas da anilise das VS's das plantonistas faz-nos peroeber que 0 tipo co- mum a diversidade de experiéncias pessozis analisadas, ou seja, 0 ponto crucial para caracterizagao da experiéncia de atendimento no icolégico e que foi aos poucos sendo constituida na expe- ida das plantonistas, é a atitude de compreensio. Para nos ‘mantermos préximos ao elemento vivo desta experiéncia/fendmeno pesquisado e acentuar sua especificidade, porém, cremos que esta seria melhor traduzida em um tipo comum a todas as suas Variantes se‘adotarmos a palavra “envolvimento”. Apés a compreensiio do tipo, todas as conexdes de sentido que anteriormente se encontravam dispersas ou a partir das quais, apa- rentemente, nao era possivel obter uma compreensio geral, tomam forma muito bem delineada e sua légica singular torna-se plenamen- te inteligivel. Ao vislumbrarmos as categorias advindas da compre- ensio das VSs sob a luz do tipo, percebe-se como este envolvimento esté presente em todas elas, bem como o entendimento de suas co- nexdes se toma facilitado. REVISITANDO 0 PLANTAO PSICOLOGICO CENTRADO NA PESSOA 105 Da experiéneia Podemos dizer que esta experiéncia das plantonistas ao longo dos atendimentos caracteriza-se, inicialmente, por um momento de inseguranga ¢ ansiedade em relago ao processo de maior explora- ‘eGo de sentimentos e experiéncias das clientes. Esta inseguranga é preponderantemente direcionada & sua prépria atuagio no momento de encontro com a experiéncia vivida de outras pessoas, bem como em relagdo ao seguimento de um sentimento de direcionamento de suas atitudes, que nos mostra a nogio presente de algo como um esquema pré-determinado de aco e/ou resultados, conforme pode ser percebido nos seguintes excertos de VSs: As vezes me senti como numa corrida de cio ¢ gato: fugindo ‘quase todo o tempo das perguntas que ela me fazia. Ndo queria ser mais uma opinido, mais uma pessoa a Ihe encaminhar/ou di- recionar para algo. Até porque acho que ela nao precisa disso. Mas mesmo assim me vi meio que obrigada/ou na divida a the cemitir alguma opinido. (Vi que) Percebi que para ela realmente importava uma resposta. Sentia em mim uma certa angiistia, principalmente ao objetivo {que me cabia ali naquele momento: uma escuta atenciosa e in- condicional as experiéncias que o cliente estava vivendo. Houve um momento que eu tive a sensagdo de que era pouco © que estava fazendo. Afinal num espago de tempo to: longo poderia “acudir” muitas pessoas, ao invés de s6 uma Nao quis dizer a cla que falasse um pouco mais alto/forte, pois tinha comigo que essa minha intervencao poderia comprometer ‘o desenvolvimento da nossa relagio. 1e talvez no estivesse sendo acolhedor o suficiente se ao cliente uma maior abertura © to terapeut. Sent de maneira que possibil cconfianga em mim enqy Mas lembro que em alguns momentos pensava em que. senti- mento eu deveria estar experienciando, ——— Buys (1987) identifica fenémeno semelhante na supervisdio de psicoterapia, ao afirmar que o atendimento de estagiérias costumam a centrada no terapeuta e teoria centrada no cliente em di- . De acor- cliente a escuta do plantonista se colocassem as categorias tedricas € 05 parémetros técnicos da intervengao do estagiério do ponto de vista da ACP” (p. 446-447). Isto gera um forte sentimento de ansiedade, porém esta con- tém um cardter interessante que se revela na busca intensa ¢ con: lavras de plantonistas: Neste sentido, eu ficava me perguntando e refletindo ne que eu deveria fazer para que o cliente nfo tivesse tanta dificuldade em falar dos seus confltos. Sentia a necessidede de acelerar 0 pro- ‘sso isto €, queria que ele falasse logo sobre o que o perturbava. Tal como antes, eu sentia que a nossa relagio terapeuta-cliente ‘mantinha-se fra ainda. Eu me esforgava no sentido de me apro- ‘ximar dela e com isso explorar as suas experiéncias, porém me parecia que ela colocava um obstaculo que me imp ‘quer aproximagao. Tinha comigo: “Tem alguma coisa que no ‘estou fazendo certo! Ao contrrio de algumas concepgdes que, infelizmente, ainda se fazem presentes a respeito da visio que st jentagdo” para o traball itude intensa empre- da da compreensio da experién sentido das plantonistas é, precisamente, seu relago terapéutica, conforme os trechos a segui ‘Assim, sentia que precisava ficar mais atento as suas palavras, para nfo perder a essEncia daquelas informagdes eos sentimen- tos que as acompanhavam. REVISITANDO 0 PLANTAO PSICOLOGICO CENTRADONAPESSOA 107 Este encontro para mim foi bastante cansativo, no sentido de ue, como no discurso da cliente, as cenas da sua fala pare ciam discorrer de forma independente. Eu demandava de mim ‘uma concentragdo e atengo maior, pois em alguns momentos, sentia como se eu ndo a estivesse acompanhando, com uma sensago de ter ficado para tris la tinha uma vor fraca, falava baixo. Tive de mais préximo a ela com a finalidade de ouvi inar-me para thor. Neste engajamento ativo de compreenséo, as plantonistas re- correm a si enquanto instrumentos de promogao de mudangas na relagdo das perspectivas das clientes. Em outros termos, elegem seus sentimentos, experiéncias vividas, impressdes a respeitos da experiéncia comunicada das clientes referéncias para se fazerem presentes e empreenderem a compreensio tanto da cliente quanto da relagdo estabelecida. A partir de Amatuzzi (2001), podemos nomear este tipo de re- ago almejada pelas plantonistas de compreensiva. Segundo este autor, “compreender significa ouvir o siléncio que procura se romper com a fala. Compreender profundament \ifica ouvir o siléncio escondido em qualquer fala. Quando ouvido é que ele dito, e isso é uma mobilizago do ser” (p. 41). Sem a mot a que se refere Amatuzzi, no ha ouvir. Vale destacar que, ferencial que se utilize da ACP como referénc nfo se encontra na cliente apenas, mas na relagdo ~ acordo com Cury (1987), alguns autores chamam a abordagem de bicentrada, E neste sentido que Amatuzzi (2001) afirma: COuvir nao é um ato de inteligéncia ou do pensamento, mas ‘uma participagao existencial em um movimento de gestacdo ou ‘parto no plano do sentido. E pelo conjunto de minha resposta interativa que mostro que ouvi. Fla seri a elaboragao de meu siléncio face ao outro que me dirige a palavra (p. 41). ‘Assim, no contexto ora discutido, mais do que decodificar pa- lavras, ouvir implica em ser tocado pela alteridade do outro ¢ res- ponder a uma provocagdo vinda dela. Podemos afirmar, que 0 esforgo das plantonistas aponta para uma responsabi ante 0 outro, ou seja, uma habilidade de responder & provocacao sua diferenga, num duplo movimento de ouvir e ser ouvido e que randa ¢ Freire (2012) chamam de comunicagdo de mao dupla. Isto se tora explicito ao reconhecermos as categorias que fa- n referéncia & autoavaliagio e autodirecionamento das plantonis- A primeira ocorre, principalmente, em fungdo de um direciona- nto que se estabelece a partir de parémetros vindos de “fora” da .sd0 imediatamente estabelecida © que podem ser identificados te contexto como o entendimento teérico e racionalizado das udes facilitadoras). J4 0 autodirecionamento de atitudes mostra jor relago com o momento vivenciado, tendo como referéncia uxo de experiéncia vivida tanto pela cliente quanto pela planto- a. Como exemplos de autoavaliagaio e autodirecionamento das ntonistas, podemos citar: Pergunta-se bastante, acredito sendo empitico ouvi-la ‘ante alguns momentos da sesso, que me deixou bastan de inicio senti vontade de Ihe dizer que talvez ali, nio fasse 0 ugar no qual ele encontrariaa solugdo para os seus problemas, Po- rém logo percebi que ele precisava falar, e falou,falou bastante.. Porém, « partir do momento que desi ‘uma ldgica na fala da cle de preocupar-me com ,e atentei-me a cada cena de sua compreensio da mesma, pude sentir-me mais préximo a ela. Os sentimentos presentes em cada cena de sua fala, E neste sentido que Rogers (1976/1967) afirma: ncia do terapeuta naquele momento, é provavelmente nociva a terapia. O que estou dizendo é que REVISITANDO 0 PLANTAO PSICOLOGICO CENTRADO NA PESSOA 109 ‘© encontro existencial é que ¢ importante, e que no momento imediato do: io terapeutico a consciéncia da teoria no tem lugar itil (p. 217). ‘A maioria das categorias e conexdes de sentido aqui dispostas info podem ser entendidas de maneira isolada. Este € 0 caso da estru- tura de significagao percebida entre a busca de compreensio anterior- mente mencionada e o intenso movimento de percep¢ao das planto- nistas de suas préprias experiéncias no momento do atendimento. Da dinamica Ao todo, derivaram 11 categorias de estruturas de significag2o da experiéncia do ivida pelas plantonistas. Neste topi- co, pretende-se explicitar sua dindmica e relagéo com 0 tipo comum da experiéncia pesquisada, ou seja, 0 caréter primordial de envolvi- ‘mento atribufdo aos atendimentos de plantonistas atuantes no servi- g0 de Plantao Psicolégico, da Clinica-Escola da UFPA. A categoria “Inseguranga/Ansiedade” figura como categoria negativa, no sentido de que o envolvimento encontra-se ausente da cexperiéncia vivida, Entretanto, acreditamos que ela € capaz de, para- doxalmente, afirmar a caracterizagaio de envolvimento para experién- ss de mudangas, eu me encontrava na ‘no sei como resolver o seu problema. Conforme afirmamos anteriormente, na ACP € a relagao que ganha destaque em comparagio as especulagdes tedricas no mo- mento do encontro com 0 outro. Assim, mesmo compreendendo que este € um momento inicial na trajet6ria de mut esta abordagem (Buys, 1987; Boris, 2008; Vic 110 lece com a cliente ndo pode ficar amarrada por categorias teéricas a plantonistas consiste numa busca de parémetr longe de uma escuta dag gui: utilizar de qualquer artficio diretivo na relago; nao ter habili- dade de intervengao nesse sentido (diretivo); e, principalmente, mesmo que tivesse habilidades de exploragio ¢ intervengo vontade era dizer para o cliente: “eu no estou aqui para the dar uma respostae, muito menos, mudaro teu comportamento. is do que apontar uma negatividade na categoria anterior, , mesmo alcangado. Sendo assim, poderiamos por envolvimento. A existéncia de tegotias “Redirecionamento de Esforgo de concentragdo/compreensio” e “Autoavaliagao" Estas categorias surgem em momentos nos quais a auséncia de en- volvimento & percebida ¢ am movimentos de percepeao da imediatamente na relagdo sob um mento nesta que Ouvir isso acabou fazencdlo com que eu me policiasse um pouco ‘mais para que nio viesse também Ihe aconselhar e the dizer 0 que ela poderia vira fazer para cuidar da saiide. E também nfo quero dizer para ela o que ela realmente deve fazer para deixar de ver as coisas. Queria poder transmitir-Ihe a minha compreensio de todos aqueles fatos que ela trazia sendo que para mim, nfo havia qualquer relagio entre uma coisa e outra. “modo, mas parece que eu la, como se fosse uma tarefa REVSITANDO 0 PLANTAO PSICOLOGICO CENTRADO NA PESSOA 1 Priortariamente, 2s categorias anterionmente referidas so a tra- dugdo de movimentos empreendidos pelas plantonistas para aleangar 0 envolvimento requerido nesta relagio. A plantonista avaliaa si mesmac ‘sua atuagaio nesta relago , tanto no aspecto téenico quanto no que tange 1a sua experiéneia. Langa milo de comportamentos e/ou pensamentos que possam Ihe auxiliar no aprofiundamento deste envolvimento: Demonstrei-Ihe que as vezes no entendia o que ele falava. En- tio comecou a falar mais pausadamente. Tive de inclinar-me para mais préximo a ela com afinalidade de ouvi-la melhor. No primeiro momento com essa cliente, qua estava passando por um problema de crise exi ‘migo a sensacZo de atentar ao significado q termo “crise existencial Podemos dizer que 0 esforgo de compreensio verificado nas citagdo anteriores pode ser identificado como uma constante ten~ tativa de empatia na relag3o com o outro. Neste sentido, embora Rogers (1977/1986, p. 76-77) afirme que a empatia “relaciona- tidamente com um alto grau de autoexploracto por parte do cl o que se pode perceber nas VS's analisadas é que o aprofundamento da exploragao de si por parte da plantonista também se mostra como pega chave na io de uma compreensio empatica. Como 0 prop /1986), empatia se trata muito mais de um processo do que de um estado. De acordo com Kinget (1967/1977, p. 114), 0 terapeuta que nio csté atento ao que se passa consigo numa relagao “[.] € incapaz de fazer uma representagdo realista das coisas que lhe conta o cliente Na penumbra psicolégica em que opera, cometer’ muitos erros is expensas do cliente”. Destarte, pode-se depreender que a ateng0 20 que se passa consigo, mesmo que diante da incompreensio, pode ser fundamental para que a plantonista consiga se vincular & cliente 0 ‘momento imediato em que a e desenvolve. ‘Ainda no sentido apontado acima, é possivel perceber também ‘uma mudanga de postura ou posicionamento nesta relagao na tenta- tiva de estabelecer/reconhecer o envolvimento almejado, Isto corres- ponderia, respectivamente, as categorias “Autoavaliaclo”, “Esforo m2 idade de uma extrema curso, me parecia mais fantasias. ‘a uma experi Porém, nessa mesma cont pela forma dela falar, ew prias dividast...] pela maneira dela se expressar wa em questo as minhas pro~ foud (1987, p. 83) discorre acerca da disponibilidade da ce postula que esta deve “manter-se no presente, centrado na vivéncia da problematica que emerge com sua ansiedade e forga particulares no proprio momento de pedido de ajuda, acompanhan- do a variagaio da percepeao de si ¢ das circunstncias pela diregao que a clarificagao a levar”. Podemos compreender, portanto, que 0 “Redirecionamento de atitudes” percebido nas VSs diz de um es- forgo permanente da plantonista em se inserir no presente e se abrir para as variagdes do aqui e agora em que se desenvolve a relagao. esforgo das plantonistas em compreender clientes significa apostar radicalmente na tendéncia formativa que sustenta a relagdo centre ambos ¢ em seu consequente poder organizador. Nas palavras de Rogers (1951/1975, p. 58) jente com esse homem na sua luta confusa do respeito, tanto pelo que é como pel O respeito a que se refere Rogers na citago acima € um dos fa- tores que, segundo Amatuzzi (2010) definem a ACP como uma ética as relagdes humanas. Ainda segundo 0 autor citado, quando Rogers cunhou sua abordagem, ji um modo de ser, n&0 uma técnica, que, quando , resultava em al- ‘gumas atitudes bem definidas e que foram efe posteriormente como as clissicas atitudes terapéuticas” (p. 35). As sim, podemos entender que hé um movimento que pode ser percebi nas plantonistas que se inicia na técnica, mas que vai em dirego a ‘uma fluidez de atitudes, pacidade de responder) perante & provocagao da experién REVISITANDO 0 PLANTAO PSICOLOGICO CENTRADO NAPESSOA 113 ‘Apés 0 emprego de diferentes estratégias na busca por envol- vvimento, temos as categorias que nos apontam momentos nos quai este envolvimento é aleangado: “Percepg2o da cliente na rela “Compreende 0 sentido da vivencia da cliente/ adentra experién- “Sentimento de proximidade”; “Respeita 0 processo/tempo da cliente”. Entende-se que estas categorias s6 sto possiveis a partir do ‘momento em que se alcanga tipo da experiéncia de atendimento no Plantio Psicologico, pois, a0 tomi-las sob uma visio de conjunto, tem-se a compreensio de que todas ao mesmo tempo so capazes de configurar esta experiéncia. Além disto, tomadas em separado elas ‘no podem abarcar a completude das nuances existentes na relago terapeuta-cliente, Observemos trechos correspondentes a cada uma destas categorias a seguir: Notei que a cliente falava de suas queixas de mancira muito fi, isto , tinha comigo que ela nfo estava em contato, com os ‘senfimentos que acompanhavam seus problema. Percebi que minha cliente de fato nto gosts de sera mulher que é hoje. E como se ela nfo conhecesse essa mulher que acabe se acamando. ‘Nunca havia me sentido tio proximo e empético a ninguém. ‘Tomado por essa situago como a cliente me percebia na tert pia, a sua dificuldade de ser mais aberta comigo na relagdo e de tos, ento disse a ela: “Se eu Ihe desse ‘um papel ¢ um lapis, a cliente aceitou a proposta, eu assim o fiz. ‘Como se pode perceber, cada uma das categorias citadas acima constitui uma parcela de uma experiéncia total. Podemos realizar uma subdivisao para fins explicativos entre o momento de envolvi- ‘mento propriamente dito e o momento posterior advindo deste. E neste sentido que Vasconcelos, Sou: ‘avalcante Junior (2009) afirmam que a atengao da plantonista “[..] nd esté para o diagnéstico ou para teorias que enquadrem o cliente, mas, a0 con twirl a-se sobre atitudes precisas de encontro profundo como ou 128), Ainda segundo os autores mencionados, a precisio 4a compreensio empitica é fundamental no intuito de “[...] descor- 114 tinar os sentidos que cada um dé ao seu problema em emergé Tal atitude permitiu ao terapeuta desprender-se dos conteitdo ___ A intengdo das plantonistas € de que sua atitude compreen- siva possa, mais do que traduzir uma intengo ja pronta, ins no calor do relacionamento, 0 inicio de um movimento que possa clarificar, para elas suas clientes, os niveis da experiéncia, da sim- bolizagao e da comunicagao (Amatuzzi, 1989). Rogers (1980/1983) define esta forma de ouvir alguém da seguinte maneira: Quando digo que gosto de ouvir alguém estou me referindo por tris de uma mensagem que superficialmente importante, um grito humano profundo, desconhecido e enter- rado muito abaixo da superficie da pessoa (p. 5). sua ~ sem se esquecer de que nfo é. Isto culmina na emergéncia da categoria “Sentimento de proximidade” De alguma forma me sent contribuiu para esse proc to préxima dela, Acho que ela Ao perceber que a relagdo de confianga estava posta, eu me senti mais préximo do cliente. Agora sim, tanto me sentia quanto me enxergava proximo a ele. Quanto a categoria em questo, vale destacar que a ACP € cer- tamente uma abordagem que traz a tona a relevéincia do calor para 0 bom desenvolvimento de uma relagao de ajuda psi 1967/1977). E este pressuposto que passa a ser percebido nista, ndo por alguma informagdo prévia que Ihe tenha sido passada, ors REVISITANDO 0 PLANTAO PSICOLOGICO CENTRADO NA PESSOA 115 mas pela forga que exibe na experiéncia da propria relago. Rogers (1967/1976) define este interesse pela pessoa como amor ndo posses- © momento no qual a plantonista acolhe ¢ reconhece le discurso e experiéncia da cliente, sejam quais forem, e realiza a ativi- dade de manter sua pré-concepgdes sobre estas entre parénteses: tha & dele, no depen- S6 que ao mesmo tempo sei que’ de de minha vontade ou expect ‘Agora, por exemplo, com esta menina, percebo que ela nio {queria esti aqui, mas © pouco tempo que esteve comigo deu para perceber que nfo queria analisé-la ou obrigi-la com o que cla ndo quer fazer. Porém, antes de ela iniciar, pediu para que eu saisse da sala, pois disse que ndo conseguiria fazer comigo ali presente. Entio sai para deixé-la a voutade. ia, pareciam-me to reais que passcia 5, deixando de me autoquestionar so- ia estava trazendo naquele momento bre a veracidade do ‘Vale dizer que tal atitude nao se institui por outra via que nfo da pritica, o que, em ACP, significa dizer que é 0 tipo de aprendiza- gem chamada por Rogers (1969/1978) de aprendizagem significati- va, Para Rogers e Wood (1978), bem como para Amatuz2i (2010), 0 centendimento logico desta postura diante do outro nao garantem sua it o. Jé em 1951, quando da publicagio de “Terapia toma-se primordial ‘ao que imediata~ langadas por Rogers (1980/1983): “sou capaz de ouvir os sons ¢ de captar a forma do mundo interno desta outra pessoa? Sou capaz de pensar tio profundamente sobre o que me est sendo dito, a ponto de entender os significados que ela teme e ao mesmo tempo gostaria, de me comunicar, tanto quanto ela os conhece?” (p. 5). E esta pre- ‘ocupago que se encontra presente no seguinte trecho de uma VS: Frente aos questionamentes do cliente sua dnsia por uma mu- danga imediatae a presenga de seu softimento em nao conse- aguirthe dar com a realidade que vive e experimenta, sentia em ‘mim certa angtistia, principalmente ao objetivo que me cabia ali naquele moment experiéncias que oc A categoria “Percebe a 10 na interago no qual « plantoni ido sobre a experiéncia imediata da cl lago” representa um mo- ‘btém uma conexio de te: Porém, no decorrer da sesso, fui percebendo que o cliente no ‘estava conseguindo falar abertamente do que the perturbava. E necessétio explicitar que, a todo momento, a percepgio da oa se faz presente na experiéncia da plantonista, contudo neste nento a andlise das VSs revela uma el cio da experiéncia. urtir de sua insergao na experiéncia da cliente a plantonista con- porém sem se desven- ar de seu elemento vivo. A plantonista ¢ capaz de conhecer esta sriéncia profundamente e de exercer também um momento de ago desta diante do contexto da relagiio estabelecida: Praticamente, durante toda a sessiio, tive comigo que a cliente saiu da clinica sem ter esse contato com os sentimentos que ‘acompanhavam suas vivencias. Percebi que o que de fato a trouxe aqui nao era um assunto que cla queria falar, como coisas a falar sobre sua escola, de como cla estava. Amatuzzi (1989) interpreta esta forma de interapao afirmando quando alguém tenta se comunicar ~ como é 0 caso de pessoas ‘buscam o planta — pode-se, basicamente, ouvi-la, Isto significa ber suas formulagées, por mais tentativas que sejam, sem par- zar ow introduzir esquemas de es essivo e, com ele, 0 aprofundamer ta, € 0 que permite o fluxo a maior expressividade [_.]” (p. REVISITANDO 0 PLANTAO PSICOLOGICO CENTRADO NA PESSOA 7 Cabe, aqui, uma interessante questo. Na ACP, enfatiza-se 0 aprofundamento da experiéncia por parte da pessoa em atendimen- to, conforme, por exemplo, a discussio sobre as fases do processo terapéutico descritas por Rogers (1961/2001). Todavia, 0 que se observa nos dados de que dispomos ¢ a necessidade de se pensar neste mesmo aprofundamento por parte da plantonista como uma resposta, segundo a defini¢ao de Amatuzzi (1989): ‘meu posicionamento face ao outro. Essa resposta serd uma in- texpretagio de mim mesmo face 20 outro, interpretago ainda no sentido radical do termo, isto é,enquanto nels, resposts, fago ppassar o meu vivido do nivel simplesmente vivido para 0 nivel do vivido manifesto, o que implica posicionamento, ou seja, de- cio ¢ interpretagio de mim mesmo face ao outro (p. 137) ‘Assim, responder & pessoa, longe de dar diretivas, significa to- ‘mar um posicionamento radical de escuta daquilo que ela comunica ‘no momento exato da relago. Conforme jé dissemos anteriormente, este posicionamento s6 se torna possivel através de abertura a dife- renga que é a pessoa em atendimento, bem como de uma necesséria ‘bertura a estranhamentos que podem surgir na propria plantonista, conforme se percebe na seguinte passagem de uma VS. te teve todo um sentido para mim no qué ificuldade de aproximagao ¢ 0 “obsticulo” Deste modo, é possivel afirmarmos que 0 movimento observado nas plantonistas parte de uma total necessidade de controle sobre 0 processo quanto as técnicas utilizadas e os rumos que a cliente to- ‘mara para si. Em seguida, compreende que a sabedoria que guia sua atuagaio reside exatamente no reconhecimento de sua necesséria igno- rncia frente a um processo que no controla ¢ que, quanto mais tenta controlar, mais se afasta da relago que o fundamenta (Vieira, 2009). Ha um fluxo e um caminho apontados pela propria relagdo: 118 Na verdade eu me sentia to préximo a ele, na exploragio dos seus sentimentos, que embora eu ndo tivesse resposta para os ‘seus questionamentes, sentia que ele confiava em mim, “Satisfagto por resultados! ‘mudangas percebidas”. Ao ani , conseguimos perceber que estas se relacionam is categorias anteriores como uma espécie de fruto do estabelecimento do envolvimento na relagao: Neste seatio, nosso econo mos fad deep epeat foc da explorpo da quca ‘mente com a cliente, o signi juela relagao naquele ‘momento tinha para ela. = 1u outro rumo, Jé estiva- ‘Na categoria “Confianga na relagao/cliente” varios trechos das vversdes de sentido destacam o fato de esta confianga advir do esta- belecimento de uma relagdo de vinculo e compreensio, ou seja, a confianga da qual fala esta categoria é construida ao longo do pro- cesso terapéutico e nio estava presente desde seu inicio: ‘Quando ele concordou com isse que nfo con- sentir vergonha, eu fui me sentindo mene quilo naquela situagao. fea sensasio de que a relagio de contfianga apesar de tudo aquilo parecer-lhe confuso e complexo, Quer isto dizer que, juntamente com o processo da cliente, hé tam- bbém o desenvolvimento do que podemos chamar de desenvolvimento relacional, ou ainda, inspiradas por Amatuzzi (1989; 2001), aprofiunda- mento de comunicacao. O tipo de fala que se institui neste modelo de relacionamento é o da fala auténtica, a qual, segundo Amatuzzi (2001) “depende mais do eu posso do que do eu sei” (p. 33). No caso das plan- [REVISITANDO O PLANTAO PSICOLOGICO CENTRADO NA PESSOA 19 tonistas,trata-se de um permitir-se responder do modo mais imediato possivel, o que significa um desvencilhar-se de esquemas pré-concebi- ddos quanto ao modelo de uma intervengdo técnica ideal. ‘A categoria “Surpreende-se na relagio” constituiu-se numa surpresa também para nbs. De fato, é algo que nao poderiamos ima- ginar inicialmente como uma categoria de anélise, talvez por es- tarmos viciados na leitura de categorias que abordem sentimentos, ‘mas o fato é que este elemento seamen se fez presente nas VS's analisadas de todas as plantonis Sinto-me eufirico por presencia isto e por fazer parte dist, Portanto essa fala dela a meu respeito foi para mim um espanto. ‘Fiquei muito surpreso e pensei rapidamente comigo: “Sera que eu agi de alguma maneira que desse a entendé-Ia que eu estava analisando, ou ela j& chegou com essa ideia aqui formada?! fala da cliente teve todo um sentido para mim no qu to A minha dificuldade de aproximagio € 0 “obsti por ela que dificultava a sua abertura, pois segundo a cliente, eu estava ali para analisi-l, ‘Ao‘compreender o envolvimento fundamental da qual trata a relagio da plantonista no atendimento, pudemos compreender que & precisamente um alto nivel de envolvimento que garante a surpresa referida. Isto no sentido de que, ao estar de fato cnvolvida na relagio, ‘o que implica a satisfagdo plena da experiéncia de envolvimento des- nista se insere na experiéncia da clien- cerita no te e segue seu fluxo. Isto significa dizer que no se atém a questies de fundo te6rico no momento do atendimento e nem empreende uma interpretagao das experiéncias da cliente. O fato de seguir 0 fluxo de acordo com a emergéncia das experiéncia garante a abertura de espa- {¢0 para que a plantonista possa se surpreender nesta relacdo: {..] mas me fez pensar também sobre o funcionamento de re- Jago naquela interago entre eu ¢ 0 cliente, « qual eu passei despercebido. Por um espago de tempo relimpago, eu pense 6 processo da relagio terapéutica estava acontecendo naquele cencontro e eu nem percebi, Neste momento eu me senti mais & ‘vontade e disposto a acompanhé-lo no que trouxesse, | | | EVISITANDO O PLANTAO PSICOLOGICO CENTRADONAPESSOA 121 Porém, antes de ediu para que eu saisse da sala, fazer comigo 0 vontade. Isso para mim foi surpreendente, ‘Quando ela me fez o pedido para sair, por um instante, pensei ‘Mas, desprendendo-me das normas naquele mo- da sala era o melhor que poderia fazer ppara.a cliente naquele momento. Destaque-se que a surpresa referida na categoria anterior ocor- re sempre num sentido de aprovaca fagio com os res da interagao. Acoplada a esta a iltima categoria aqi tisfagdo por resultados/mudangas percebidas”. Nac € uma das categorias com maior referéncia nas verses de sentido. Acreditamos que isto seja um importante indicador sobre a qualida- de do trabalho realizado ¢ de sua efetividade, no sentido de ajudar as pessoas que procuram o servigo do Plantio Psicolégico no acolhi- mento de suas demandas desenvolvimento de um proceso que terapéutico de fato. Conforme explica Rogers (1967/19: uum de nds seria igualmente eficiente se sustentdssemos to diferentes, desde que acreditéssemos nelas” (p. 218) Acreditamos ser necessério realizar uma importante bora nossa exposigao tenha seguido uma ordes que uma vez alcangadas estas categorias se estagnam. Basicamente, to- das as categorias se fazem presentes ao longo de todo 0 processo de atendimentos das plantonistas, e mesmo depois de estas jé demonstra- atendimentos com bor a , dentro do parémetro da experi- éncia trazida pela cliente, ndo garante, por exemplo, a eliminago da categoria “Inseguranca/Ansiedade” na experiéncia de atendimento da plantonista. Mais ainda, é necessério no entender estas catego- rias sob o signo de positive ou negativo, visto que o principal € entender o sentido da experiéncia que estas representam. Por estarmos tratando de uma experiéncia que possui como prioridade a légica relacional, o mais relevante ¢ compreender estas categorias dentro do contexto especifico da relagdo e de suas muitas nuances. Deste modo, é muito relevante que as categorias de senti- do aqui apresentadas niio sejam entendidas de maneira hierarquiza- da, Embora existam diferengas em relagao ao nivel de envolvimento cexistente em cada uma delas, estas nfo podem ser rigidamente valo- ‘uma em relagdo & outra, visto que todas sio elementos cons- ¢ primordiais dentro do mesmo processo de atendimento no Plantdo Psicolégico e, assim como a propria relagio, tém por caracteristica essencial a fluidez. Consideragées finais Desejamos com este capitulo compreender 0 se tornar plantonista do modo mais proximo possi Encia vivida por estagidrias desta modalidade de atendimento na UFPA. Optamos, para tanto, por uma recorte metodolégico que pudesse nos fornecer pistas das tonalidades afetivas deste proves- so, através das VS's € favés do procedimento suge- rido por van de Leet ‘Neste sentido, foi muito itil para nés a construsio de um tipo que pudesse agregar categorias, de modo que um agrupamento que em prin- cipio parecia caético foi ganhando um corpo cada vez. mais inteligivel ‘e capaz de ser identificado através de um esforgo de compreen: parte da plantonistas. Para que pudesse haver uma fidetidade quanto ao sentido dos dados, utlizamo-nos da palavra envolvimento. ‘As categorias por nés levantadas forneceram-nos a visualiza- «do de uma experiéncia das plantonistas ¢ de uma dindmica possivel de ser identificada. Assim, podemos afirmar que as categorias par- ‘tem de uma preocupacio das estagiirias com dominio técnico, em diregdo a uma experiéncia do desconhecido e envolvimento cada ‘vez mais fortalecido na relagao plantonista-cliente. Questées se colocam para estudos fituros. Como proceder, por ‘exemplo, um treinamento que prepare as plantonistas para se encontrar preocupagio muitas vezes téenicas em que se situa 0 di inico? Como situar ética © epistemologi- camente a relagdo entre téenicas ¢ atitudes na formacao de plantonistas centrados na pessoa? De que tipo de conhecimento trata a formagio de plantonistas, tendo em visia que, pelo que apontam os dados ora apre~ sentados, o dominio técnico se mostra insuficiente na atuago de plan- tonistas? Esperamos que investigagSes posteriores possam nos apontar ‘caminhos para a discussdo destas e de outras problematicas. REFERENCIAS i, M. M (2009). Psicologia fenomenolégica: uma apro- ximagio tebriea humanista. 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L.$. i no esino, na pesqi CAPITULO 6 PLANTAO PSICOLOGICO NO CENTRO DE REFERENCIA DA ASSISTENCIA SOCIAL (CREAS/SUAS): atendimento psicoldgico as criangas vitimas de violéncia doméstica Bemnadete Pereira de Almeida Tommy Akira Goto Politicas Piiblicas e o Servigo Unico da Assisténcia Social (SUAS) ‘A Convengaio das Nagdes Unidas sobre os Dircitos da Crianga, adotada em Assembleia Geral das Nagdes Unidas em 20 de novem- bro de 1989, preconizou a doutrina da proterao integral des pessoas de zero a dezoito anos. Ao mesmo tempo que Cons de 1988 exigiu uma revisto da concepgao do lugar ocupado pelas criangas e adolescentes sem discriminagio de classe social. Essas discussdes refletiram nas instituigdes © nas competéncias dos ér- ‘gfios geridos pelo Estado e associagées civis, com a criagio da Vara da Infancia e da Juventude, no judiciério e, no Conselho Nacional 12 de outubro de 1991, que atual ivamente a Secretaria Especial de Direitos Humanos, érgio da Presidéncia da Repib! ‘A passagem do tratamento dispensado a crianga e ao adoles- cente de “menores” objetos a sujeitos de direito, consolidado a prin- cpio num instrumento legal como Estatuto da Crianga ¢ do Adoles-

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