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Edição Brasileira
O Movimento Zeitgeist: Uma Nova Forma de Pensar
1ª edição, Fevereiro, 2015
Creative Commons
Atribuição – Uso Não Comercial – Compartilhamento
pela mesma Licença 4.0 Internacional
(CC BY-NC-SA 4.0)
Agradecimentos:
A tradução desta obra é fruto da contribuição voluntária de
membros do Time Linguístico do Movimento Zeitgeist Brasil.
Cordialmente,
Time linguístico do Movimento Zeitgeist Brasil
Créditos originais
The Zeitgeist Movement: Realizing a New train of thought
1ª edição, Janeiro, 2014
Agradecimentos:
O material reproduzido aqui é fruto de muitas formas de
contribuição, especificamente os trabalhos do Time de Palestras
do Movimento Zeitgeist.
Agradecimentos à:
Andrés Delgado Gilbert Ismail
Bakari Pace James Phillips
Brandon Kristy Jason Lord
Brandy Hume Jen Wilding
Douglas Mallette Miguel Oliveira
Eva Omori Sharleen Bazeghi
Federico Pistono Tom Williams
ISBN-13:
978-1495303197
ISBN-10:
1495303195
Sumário
Prefácio 1
Notas e Referências 5
Parte I: Introdução
Origem do nome:
“O Movimento Zeitgeist” (MZ) é o atual identificador do movimento social de-
scrito nos ensaios a seguir. O nome não tem nenhuma relação histórica significati-
va com qualquer especificidade cultural e não deve ser confundido/associado com
qualquer outra coisa previamente conhecida com um título similar. Na verdade, o
título é explicitamente baseado no significado semântico dos termos em si. O termo
“Zeitgeist” é definido como o “clima intelectual, moral e cultural geral de uma épo-
ca.” O termo “Movimento” implica simplesmente em um “movimento” ou mudança.
Por isso, o Movimento Zeitgeist (MZ) é uma organização que luta por mudanças no
clima intelectual, moral e cultural dominante da época.
Estrutura do Documento:
O texto a seguir foi preparado para ser o mais conciso e abrangente possível.
Trata-se de uma série de ensaios ordenados por assunto de maneira a embasar um
contexto mais amplo. Enquanto cada ensaio foi concebido para ser avaliado em
seu próprio mérito, o verdadeiro contexto consiste na forma como cada questão
trabalha para sustentar uma linha de pensamento mais ampla, no que diz respeito à
organização mais eficiente da sociedade humana. Aqueles que lerem estes ensaios
de forma linear notarão que existe uma boa quantidade de sobreposição de certas
ideias. Isso é proposital, pois tal repetição e ênfase é considerada útil, já que alguns
dos conceitos soarão muito estranhos para aqueles sem qualquer exposição prévia
aos mesmos.
Além disso, uma vez que só será possível manter a compreensão de cada assunto
e suas inter-relações através de uma grande exposição de detalhes, um grande esforço
foi feito para referenciar pesquisas de terceiros ao longo de cada ensaio, através de
notas de rodapé e anexos, permitindo ao leitor um acompanhamento para um estudo
mais aprofundado, conforme surgir o interesse.
1
O Organismo do Conhecimento:
Como acontece com qualquer pesquisa que é apresentada, estamos lidando com
compostos de dados gerados em série. A observação, sua avaliação, documentação
e integração com outros conhecimentos, existentes ou pendentes, é a maneira pela
qual todas as ideias notáveis surgem. É importante compreender esta continuidade no
que diz respeito à maneira como pensamos sobre o que acreditamos e o porquê dessa
crença, pois o mérito da informação está sempre separado da pessoa ou instituição
que a comunica ou representa. A informação só pode ser avaliada corretamente quan-
to à sua prova ou falta dela por meio de um processo sistemático de comparação com
outra evidência física verificável.
Da mesma forma, essa continuidade também implica que não pode haver uma
“Origem” empírica das ideias. Do ponto de vista epistemológico, o conhecimento é
gerado, processado e expandido principalmente através da comunicação entre nossa
espécie. O indivíduo, com suas propensões e experiências de vida inerentemente dif-
erentes, atua como um filtro personalizado de processamento pelo qual uma determi-
nada ideia pode ser transformada. Coletivamente, nós, indivíduos, estamos abrangi-
dos naquilo que poderia ser chamado de uma “Mente de Grupo”, que é o processador
social de ordem maior pelo qual os esforços individuais idealmente se unem. O mét-
odo tradicional de transferência de dados através da literatura, da partilha de livros
de geração para geração, tem sido um caminho notável desta interação da Mente de
Grupo, por exemplo1.
Issac Newton talvez tenha declarado melhor essa realidade com sua frase: “Se vi
mais longe do que os outros, foi por estar de pé sobre os ombros de gigantes”2. Essa
noção é trazida aqui a fim de focar o leitor na consideração crítica dos dados - e não
em uma suposta “fonte” - já que, na verdade, empiricamente falando, não existe tal
coisa. O reconhecimento de uma fonte só se faz relevante diante dos padrões cul-
turais, temporais e tradicionais, como nos créditos literários de um livro-texto para
referenciar uma futura pesquisa. Não há declaração mais errada do que esta: “Esta é
a minha ideia.” Tais noções são subprodutos de uma cultura material que tem sido re-
forçada através da busca de recompensas materiais, usualmente através do dinheiro,
em troca da ilusão de “propriedade” das suas criações. Muitas vezes, uma associação
com o ego se sobressai quando um indivíduo reivindica prestígio sobre seu “crédito”
por uma ideia ou invenção.
No entanto, isso não significa excluir a gratidão e o respeito por aquelas pessoas
ou instituições que demonstraram dedicação e perseverança em relação à expansão do
conhecimento em si, nem mesmo significa diminuir a importância necessária daque-
les que alcançaram um “status” de especialista, de “expert” em um campo particular.
As contribuições de pesquisadores, pensadores e engenheiros brilhantes, como R.
Buckminster Fuller, Jacque Fresco, Jeremy Rifkin, Ray Kurzweil, Robert Sapolsky,
2
Thorstein Veblen, Richard Wilkinson, James Gilligan, Carl Sagan, Nicola Tesla,
Stephen Hawking e muitos, muitos outros pesquisadores, do passado e do presente,
serão referenciadas e terão suas fontes indicadas neste texto, servindo como parte de
um mosaico maior que você está prestes ler. Expressamos uma enorme gratidão em
relação a todas as mentes dedicadas que estão trabalhando para contribuir com um
mundo em aperfeiçoamento. No entanto, mais uma vez, quando se trata do nível de
compreensão, a informação em si não tem origem, lealdade, preço, ego e nem viés.
Ela simplesmente se manifesta, auto-corrige e desenvolve, como um organismo em
si mesmo, através da nossa “Mente de Grupo” coletiva, para a qual todos nós somos,
invariavelmente, um veículo componente.
Sites e Recursos:
Os 10 sites a seguir estão oficialmente relacionados com operações globais do
Movimento Zeitgeist:
- Site Principal do Movimento: http://www.thezeitgeistmovement.com
Este é o site principal e centro de ações / eventos / atualizações relacionados ao MZ.
- ZeitNews: http://www.zeitnews.org/
ZeitNews é um serviço de notícias que contém artigos relacionados com avanços
socialmente relevantes em Ciência e Tecnologia.
3
- Zeitgeist-Day (“Zday”) Global: http://zdayglobal.org/
Este site se torna ativo anualmente para facilitar o nosso Evento Global “Zday”, que
ocorre em março de cada ano.
4
Notas e Referências: Prefácio
5
6
Capítulo 1
Visão Geral
Sobre
Fundado em 2008, o Movimento Zeitgeist (MZ) é um grupo de defesa de Sustent-
abilidade, que opera através de uma rede de Capítulos Regionais, Equipes de Projeto,
eventos públicos, comunicações pela imprensa e operações de caridade.
7
bem-estar humanos da grande maioria da população mundial, sem mencionar que
sufoca outras melhorias em detrimento de seus próprios métodos já consagrados.
Por exemplo, o modelo social atual, ao mesmo tempo que perpetua enormes
níveis de ineficiência econômica generalizada corrosiva, como será visto em ensaios
posteriores, também intrinsecamente beneficia um grupo econômico ou “classe” de
pessoas em detrimento de outro, perpetuando privações relativas e desigualdades
tecnicamente desnecessárias. Isso poderia ser chamado de “fanatismo econômico”,
dadas as suas consequências, e não é menos insidioso do que a discriminação baseada
em gênero, etnia, religião ou credo.
Esta “violência” invisível se estende aos Memes culturais8, onde as tradições soci-
ais e sua psicologia podem, sem intenção maliciosa direta, resultar em consequências
prejudiciais a um ser humano. Por exemplo, há culturas religiosas no mundo que op-
tam por evitar qualquer forma de tratamento médico convencional.9 Enquanto muitos
poderão argumentar os parâmetros morais ou éticos do que significaria para tal cul-
tura a morte de uma criança em decorrência de uma doença comum, que poderia ter
sido tratada se as ferramentas científicas modernas fossem autorizadas, nós, por nossa
vez, pelo menos concordaríamos que a morte dessa criança, na verdade, foi causada
não pela doença em si mesma, mas pela condição social que não permitiu o correto
emprego da solução.
8
lemas de saúde física e mental que parecem ter nascido dessa condição, incluindo
tendências para violência física, doenças cardíacas, depressão, deficiência educacio-
nal e muitas, muitas outras manifestações - com consequências verdadeiramente so-
ciais, que afetam a todos nós.10
O ponto essencial aqui é que quando damos um passo para trás e consideramos
entendimentos recentes de causalidade, que claramente têm produzido efeitos preju-
diciais sobre a condição humana, mas seguem intocáveis desnecessariamente devido
a tradições pré-existentes estabelecidas pela cultura, nós fatalmente somos levados ao
contexto de “direitos civis” e, portanto, sustentabilidade social.
Foco
As amplas ações do MZ poderiam ser resumidas como Diagnosticar, Educar e Criar.
Diagnosticar
Diagnóstico é “a identificação da natureza e da causa de alguma coisa”. Para
diagnosticar corretamente a condição causal dos vastos problemas sociais e ambi-
entais que temos hoje não basta queixar-se deles ou criticar as ações de pessoas ou
instituições particulares. Um verdadeiro Diagnóstico deve buscar a causa raiz de um
problema e trabalhar neste nível para buscar a sua resolução.
O problema central hoje é que muitas vezes há o que poderia ser chamado de um
“quadro de referência truncado”, onde a falta de visão e o erro diagnóstico de uma
determinada consequência persistem. Por exemplo, a solução tradicional atual para a
9
reforma do comportamento humano pela prática de muitos dos chamados “crimes”
é frequentemente o encarceramento punitivo. No entanto, em princípio, isso não diz
nada sobre a motivação mais profunda do “criminoso” e porque sua psicologia o
levou a tais atos.
Educar
Como um movimento educacional que opera sob a suposição de que o conheci-
mento é a ferramenta/arma mais poderosa que temos para criar uma mudança social
duradoura e relevante na comunidade global, não há nada mais importante do que
a qualidade da formação pessoal de cada um, e a sua capacidade de comunicar tais
ideias de forma eficaz e construtiva para as outras pessoas.
Além disso, a educação não é apenas um imperativo para aqueles não familiariza-
dos com a Linha de Pensamento e Conjunto de Aplicações14 relacionada ao MZ, mas
também para aqueles que já o apoiam. Assim como não existe uma “utopia”, não há
um estado final de compreensão.
Criar
Embora certamente relacionado à necessidade de ajustar os valores humanos at-
ravés da educação, para que as pessoas do mundo entendam e vejam a necessidade de
tais mudanças sociais, o MZ também trabalha para considerar detalhadamente como
um novo sistema social, com base na Eficiência Econômica Ótima15, iria aparecer e
operar, dada a nossa situação atual de capacidade técnica.
10
mento científico, a fim de calcular a infra-estrutura técnica o mais eficiente possível
para qualquer região do mundo.
Como será discutido mais tarde, a única referência possível que poderia ser
considerada “mais completa” num dado momento é a que leva em conta a maior
observação interativa (Sistema) tangivelmente relevante. Essa é a natureza da sin-
ergia de causa e efeito que ressalta a base técnica de uma economia verdadeira-
mente sustentável.
A Economia Baseada em Recursos e Lei Natural deve ser definida como: “Um
sistema sócio-econômico adaptável derivado ativamente das referências físicas dire-
tas relacionadas às leis científicas que regem a natureza”.
11
Linha de Pensamento
Da mesma forma, muitas dessas figuras ou grupos também têm trabalhado para
criar aplicações tecnológicas temporalmente avançadas, trabalhando para aplicar as
possibilidades atuais nessa linha de pensamento, a fim de permitir ganhos de eficiên-
cias e de resolução de problemas, tais como “Sistemas de Cidade” de Jacque Fresco19
ou a Casa Dymaxion de R. Buckminster Fuller.20
Assim, o que nos resta é apenas a linha de pensamento em relação aos princípios
científicos de causa e efeito. O MZ é fiel a esta linha de pensamento, e não a figuras,
instituições ou avanços tecnológicos contemporâneos. Ao invés de seguir uma pessoa
ou projeto, o MZ segue o conceito científico de compreensão e, portanto, atua de
maneira descentralizada, holográfica e tendo essa linha de pensamento como base ou
influência para a ação.
Da Superstição à Ciência
Um fato interessante a ser mencionado é o quanto a evolução do entendimento hu-
mano sobre si mesmo e seu habitat, afasta as ideias e perspectivas mais antigas que deix-
am de ser aceitas devido à introdução constante de novas descobertas e informações.
Por exemplo, mesmo que hoje o pensamento religioso tradicional possa parecer
cada vez mais inadmissível a um número de pessoas maior do que nunca no Ociden-
te, fato atribuído ao rápido crescimento da informação e acesso à mesma,21 as raízes
do pensamento religioso podem ser atribuídas a períodos em que os seres humanos
conseguiam justificar a validade e precisão de tais crenças, dada a limitada com-
preensão que tinham do seu ambiente nesses tempos primórdios.
12
Tais “instituições estabelecidas”, como podem ser chamadas, muitas vezes
desejam se preservar por razões de ego, poder, renda ou meramente pelo conforto
psicológico. Este problema é, em muitos aspectos, o núcleo da nossa paralisia
social.23 Dessa forma, é importante reconhecer este padrão de transição e per-
ceber o quão crítica é a vulnerabilidade quando se trata de sistemas de crenças.
Sem falar no fenômeno das “instituições estabelecidas”, que são culturalmente
programadas para buscar a auto-preservação em vez de evoluir e mudar, o que
pode ser muito perigoso.
Da Tradição à Emergência
O confronto das nossas tradições culturais com a crescente base de dados de con-
hecimento emergente é o que define o “zeitgeist” da forma que conhecemos. Sendo
que, uma análise da história mostra uma lenta dissolução das tradições culturais su-
persticiosas e antigos conceitos sobre a realidade, à medida que as novas referências
científicas de causa e efeito são consideradas.
Isto é o que o Movimento Zeitgeist representa em seu mais amplo contexto filosóf-
ico: Um movimento do próprio zeitgeist cultural em novos, verificáveis e otimizados
conceitos e suas aplicações.
13
Portanto, enquanto o sistema social tradicional e seus valores não forem desa-
fiados e atualizados de acordo com o conhecimento atual, enquanto a maioria da
população humana não compreender a linha de pensamento tecnicamente necessária
para apoiar a sustentabilidade e saúde pública, como consequência do rigor da inves-
tigação científica e sua validação, até que grande parte da bagagem de falsas premis-
sas, superstição, lealdades divididas e outros obstáculos culturais socialmente insus-
tentáveis e geradores de conflitos sejam superados - todas as possibilidades que temos
em mãos para melhoria de vida e soluções de problemas permanecerão adormecidas.
Este entendimento comum se estende muito além do que muitos têm entendido
no passado. A simbiose da espécie humana e a relação sinérgica com o nosso lugar
no mundo confirma que não somos entidades isoladas, sob qualquer aspecto, e que o
novo despertar social deve apresentar um modelo social de trabalho derivado desta
lógica inerente, se esperamos sobreviver e prosperar em longo prazo. Podemos nos
alinhar ou podemos sofrer. Só depende de nós.
14
Notas e Referências: Capítulo 1
[3] Critical Path, R. Buckminster Fuller, St. Martin Press, 1981, Introdução,
xxv
[8] Meme: an idea, behavior, style, or usage that spreads from person
to person within a culture (http://www.merriam-webster.com/dictionary/
meme)
[9] http://uk.lifestyle.yahoo.com/religious-parents-causing-suffer-
ing-sick-kids-says-report-115021612.html
15
[11] Mais informações sobre este assunto serão apresentadas em uma
sequência denominada “Buscando Soluções”.
[16] http://www.globalredesigninstitute.org
[17] Ver Parte III para saber mais sobre o assunto “Governo”.
[19] Jacque Fresco, “The Best That Money Can’t Buy” (O Melhor que o
Dinheiro Não Pode Comprar), Global Cybervisions de 2002, Capítulo 15
[20] http://en.wikipedia.org/wiki/Dymaxion_house
16
Internet. Os árabes representam 5% da população do mundo e ainda
assim produzem apenas 1% dos livros do mundo, a maioria deles reli-
giosos. Segundo o pesquisador Sam Harris: “Espanha traduz mais livros
para o espanhol a cada ano do que todo o mundo árabe traduziu para o
árabe desde o século IX.” É evidente supor que o crescimento da religião
islâmica em Nações árabes é garantido por uma relativa falta de infor-
mações para essas sociedades.
[25] Ver Parte II, para mais informações sobre este assunto.
17
18
Capítulo 2
19
Ao contrário de tradições históricas, onde existe uma certa estagnação em relação
ao que as pessoas acreditam, como ainda é comum em dogmas religiosos, esse recon-
hecimento da “Lei Natural” inclui características que desafiam profundamente a as-
sumida estabilidade de crenças que muitos consideram sagradas. Como será expandi-
do mais tarde neste ensaio no contexto de “Emergência”, o fato é que, simplesmente,
não pode existir uma conclusão intelectual única ou estática sobre a nossa percepção
e conhecimento, exceto, paradoxalmente, quanto ao padrão subjacente de incerteza
dessas mudanças e adaptações em si mesmas.
Isso é parte do que poderia ser chamado de uma visão científica do mundo. Uma
coisa é isolar técnicas de avaliação científica para interesses específicos, como a lógi-
ca que usamos para avaliar e testar a integridade estrutural de um projeto de con-
strução de uma casa, e outra, é quando a integridade universal desse tipo de raciocí-
nio está enraizada permitindo que relações de causa e efeito e métodos de validação
sejam aplicados a todos os aspectos de nossas vidas.
Albert Einstein disse uma vez: “Quanto mais a evolução espiritual da humanidade
avança, mais certo me parece que o caminho para a religiosidade genuína não passa
pelo medo da vida, pelo medo da morte e por uma fé cega, mas sim por uma luta em
busca de conhecimento racional”.27
Enquanto cínicos da Ciência muitas vezes trabalham para reduzir a sua inte-
gridade para outra forma de “fé religiosa”, rebaixando sua precisão como “fria”
ou “sem espiritualidade”, ou mesmo destacando as consequências da tecnologia
aplicada ao mal, como a criação da Bomba Atômica (que, na realidade, é uma indi-
cação da distorção dos valores humanos, ao invés dos da engenharia), não se pode
ignorar o poder incrível que essa abordagem (científica) proporcionou à raça huma-
na com a compreensão e aproveitamento da realidade. Nenhuma outra “ideologia”
chega perto de combinar os benefícios preditivos e utilitários que este método de
raciocínio tem proporcionado.
No entanto, isso não quer dizer que a negação cultural ativa desta relevância não
está ainda difundida no mundo de hoje. Por exemplo, quando se trata de Crença Teís-
ta, muitas vezes há uma tendência de divisão que deseja elevar o ser humano acima
de tais “meras mecânicas” da realidade física. A suposição implícita aqui é que, geral-
mente, os seres humanos são mais “especiais” por alguma razão e, talvez, existam
forças, como uma intervenção de “Deus”, que podem substituir as Leis Naturais à
vontade, tornando-as menos importantes do que, por exemplo, a obediência contínua
à vontade de Deus, etc.
Infelizmente, ainda existe uma grande vaidade humana na cultura que assume,
sem evidência comprovada, que os seres humanos estão separados de todos os outros
20
fenômenos e que nos considerarmos conectados ou até mesmo um produto de forças
naturais e científicas seria o mesmo que rebaixar a vida humana.
Emergência
O coração do método científico é o ceticismo e a vulnerabilidade. A ciência
está interessada na maior aproximação da verdade que se pode encontrar, e se há
21
algo que a ciência reconhece explicitamente, é que praticamente tudo o que sabe-
mos será revisto posteriormente assim que uma nova informação surgir.
Simbiose
Um segundo ponto extremamente característico da Visão Científica do Mundo,
que vale a pena ser citado, diz respeito à natureza Simbiótica das coisas que con-
hecemos. Descartado em grande parte por muitos, hoje, como “senso comum”, essa
compreensão detém profundas revelações sobre a maneira como pensamos sobre nós
mesmos, nossas crenças e nossa conduta.
22
O termo “Sistemas Categóricos”36 poderia ser usado aqui para descrever todos
os sistemas, aparentemente pequenos ou grandes, pois tais distinções linguísticas
são arbitrárias. Esses sistemas conhecidos e as palavras usadas para referenciá-los
são simplesmente conveniências humanas para a comunicação. O fato é que parece
haver um único sistema possível, organizado pela Lei da Natureza, o qual pode ser
legitimamente referenciado uma vez que todos os sistemas que hoje percebemos e
classificamos só podem ser subsistemas. Não podemos simplesmente encontrar um
sistema verdadeiramente fechado em qualquer lugar. Mesmo o “Sistema Terra”, que
intuitivamente parece autônomo, com a Terra flutuando no vazio do espaço, é total-
mente dependente do Sol, da Lua e provavelmente de muitos e muitos outros fatores
simbióticos que nós sequer podemos, até agora, entender ou definir.
Crenças Sustentáveis
Isto nos leva para o nível de Pensamento e Compreensão propriamente ditos.
Como observado antes, o sistema de linguagem que usamos isola e organiza os el-
ementos do nosso mundo para uma compreensão geral. A própria linguagem é um
sistema baseado em distinções por categorias que associamos à nossa realidade per-
cebida. No entanto, por mais necessário tal modo de identificação e organização seja
para a mente humana, ele também implica uma falsa divisão.
23
Dado esse fundamento, é fácil especular sobre como temos crescido tão acos-
tumados a pensar e agir de maneira intrinsecamente divisiva e por que a história da
sociedade humana tem sido uma história de desequilíbrio e conflito.39 É nesse nível
que tais Sistemas Físicos que discutimos ganham relevância frente aos Sistemas de
Crença/Pensamento.40
24
auto-geradora e mecanicista, que é estabelecida para ser universalmente aplicável a
todos os fenômenos conhecidos.
Como será discutido em outros ensaios relacionados com este texto, o Sistema
Social, sua Premissa Econômica ao longo de sua estrutura Legal & Política, tornou-se
em grande parte uma condição de “fé” na forma que está agora perpetuada. O Siste-
ma Monetário da economia, por exemplo, argumenta-se ser baseado em pouco mais
do que um conjunto de premissas agora ultrapassadas e cada vez mais ineficientes,
não diferente de como os primeiros seres humanos falsamente assumiram que o
mundo era plano, demônios causavam doenças, ou que as constelações no céu eram
construções fixadas, estáticas, bidimensionais, semelhantes a tapeçarias. Há enormes
paralelos que podem ser estabelecidos entre a fé religiosa tradicional e as instituições
culturais estabelecidas que assumimos serem válidas e “normais” atualmente.
Assim como a Igreja na Idade Média detinha o poder absoluto na Europa, pro-
movendo lealdades e rituais que hoje a maioria consideraria absurdos ou até mesmo
insanos, as gerações vindouras provavelmente olharão para trás, para as práticas esta-
belecidas em nosso tempo atual, e pensarão exatamente da mesma forma.
25
Notas e Referências: Capítulo 2
[26] http://www.todayinsci.com/QuotationsCategories/SCat/Scientific-
Method-Quotations.htm
[27] Citado em: “All the Questions You Ever Wanted to Ask American
Atheists”, por Madalyn Murray O’Hair, Amer Atheist Press, 1986
[30] O termo Nova Era é geralmente definido como “um amplo movimento
caracterizado por abordagens alternativas para a cultura ocidental tradi-
cional, com um interesse na espiritualidade, misticismo ...”
[32] http://teacher.nsrl.rochester.edu/phy_labs/appendixe/appendixe.html
[33] http://dictionary.reference.com/browse/symbiotic
[36] Este Termo é uma variação sobre a noção mais comum de “Pensa-
mento Categórico”, que está fazendo uma reflexão através da atribuição
de pessoas ou coisas para as categorias e, em seguida, utilizando as
categorias como se representassem algo no mundo real.
26
civilização passou de forrageamento e caça - vivendo em subserviência
a processos naturais - a uma profunda capacidade de controlar a agri-
cultura para alimentação e de criar ferramentas/máquinas para facilitar o
trabalho humano. Poderia ser argumentado que a sociedade humana não
foi madura o suficiente para lidar com essa habilidade, e a perpetuação
do medo e da escassez levou à acumulação, privatização, agrupamentos
em nações e outras tendências de divisão para a auto-preservação de
grupo em vários níveis.
[40] Para maior clareza filosófica, poderia ser argumentado que todos
os resultados das percepções humanas são projetados - até mesmo as
próprias leis da natureza. No entanto, isto não altera a eficácia que foi
observada com respeito ao imenso controle e compreensão que temos
através do método da ciência.
[42] Como será prolífico neste texto, o termo “Técnico”, enquanto prati-
camente sinônimo de “Científico”, é empregado para melhor expressar a
natureza causal de todos os fenômenos existentes - incluindo até mesmo
o comportamento humano e a própria psicologia/sociologia. A premissa
central de defesa do MZ é que a resolução de problemas e a manifes-
tação do potencial é uma avaliação “técnica” e esta abordagem, a ser
aplicada a todos os atributos sociais, está no centro do novo modelo
social defendido.
27
28
Capítulo 3
Potencial e Resolução
Manifestação Potencial é simplesmente a melhoria de uma condição que não foi
considerada antes de estar num estado problemático. Um exemplo seria a capacidade
de aperfeiçoar o desempenho atlético humano em um campo particular através de
fortalecimento, dieta e refino de técnicas específicas e outros meios que simplesmente
não eram conhecidos antes.
Resolução de Problemas, por outro lado, é a superação de uma questão que tem
atualmente consequências prejudiciais reconhecidas e/ou limitações para um deter-
minado assunto. Um exemplo genérico seria a descoberta da cura para uma doença
debilitante existente, de modo que essa doença não cause mais danos.
No entanto, em uma visão ampla, há uma sobreposição clara entre essas duas
noções quando a natureza do desenvolvimento do conhecimento é levada em conta.
Por exemplo, um “aperfeiçoamento” de uma determinada condição, uma prática que
então torna-se normal e comum em uma cultura, pode também, potencialmente, ser
parte de um “problema” no mesmo contexto, o qual requer resolução caso novas
informações a respeito de sua ineficiência sejam encontradas ou novos avanços a
tornem obsoleta por comparação.
29
é relativa neste sentido, já que apenas quando há uma expansão do conhecimento a
abordagem que era considerada “melhor” se torna “inferior”.
Este ponto aparentemente abstrato é criado para comunicar o simples fato de que
cada prática que consideramos normal hoje em dia tem incorporada em si uma inefi-
ciência inevitável, a qual, mediante novos desenvolvimentos em ciência e tecnologia,
provavelmente vai produzir um “problema” em algum momento no futuro quando
for comparada a potenciais emergentes mais novos. Essa é a natureza da mudança, e
se os padrões científicos da história refletem alguma coisa, é que o conhecimento e
suas aplicações continuam a evoluir e melhorar, de um modo geral.
Isto também significa que as ferramentas reais utilizadas pela sociedade para uma
determinada finalidade são sempre transitórias. Não importa se é o meio de trans-
porte, as práticas médicas, produção de energia, o sistema social, etc45. Todas essas
práticas são manifestações/resoluções em relação à necessidade e à eficiência hu-
manas, com base no estado transitório de entendimento que nós temos / tínhamos no
momento da sua criação/evolução.
30
comum nas ciências sociais que a maioria dos atos “criminosos” provavelmente não
ocorreriam se certas condições ambientais básicas, de apoio, fossem definidas para
o ser humano47. Colocar as pessoas em prisões não está efetivamente resolvendo
nada relacionado à causa do problema. Na verdade, é apenas um paliativo, se assim
podemos dizer, que reprime temporariamente alguns efeitos do problema maior.48
Assim como o Airbag foi desenvolvido anos atrás à medida que a evolução do
conhecimento se desenrolava, hoje existe tecnologia que permite que veículos au-
tomatizados, sem motoristas, possam detectar não apenas cada elemento da rua
necessário para operar com precisão, como podem detectar uns aos outros, tornando
as colisões quase impossíveis.51 Este é o estado atual de uma “solução” como quando
consideramos a causa raiz e a finalidade raiz, em geral.
No entanto, por mais avançada que a solução possa parecer, especialmente tendo
em conta os cerca de 1,2 milhões de pessoas que morrem desnecessariamente em
acidentes de automóvel a cada ano,52 este exercício de pensamento ainda pode ser
incompleto se continuarmos a alargar o contexto em relação aos objetivos.
31
pansão tal veículo de transporte independente se torna desnecessariamente complica-
do, lento e geralmente ineficiente.53
Como outros ensaios indicarão mais tarde em grande detalhe, esses entendimentos
criam uma linha de pensamento natural e clara com relação a quão melhor o nosso
mundo poderia ser se nós simplesmente seguíssemos a lógica criada através do Método
Científico de pensamento para cumprir o nosso objetivo comum de sustentabilidade
humana. Os 1 bilhão de pessoas que passam fome no planeta não estão fazendo isso por
causa de alguma imutável consequência natural da nossa realidade física. Há abundân-
cia de comida para todos.54 É o sistema social, que tem a sua própria lógica desatual-
izada e artificial, que perpetua essa atrocidade social, juntamente com inúmeras outras.
Não há uma solução única - somente o raciocínio empírico da Lei Natural é que
alcança as soluções e finalidades.
32
Notas e Referências: Capítulo 3
[46] Sugestão de leitura: “Violence: Our Deadly Epidemic and Its Causes”
(Violência: Nossa Epidemia Mortal e suas Causas), Dr. James Gilligan,
1996
[48] Ver Anexo G, palestra de Ben McLeish : “Out of the Box: Prisons”
(Fora da Caixa: Prisões)
[49] http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/pmc1117770/
33
também é possível hoje.
34
Capítulo 4
Lógica vs Psicologia
35
psicológicos nos ajudará a distinguir entre a nossa ciência e a nossa retórica - con-
cebendo esta última como a arte da persuasão ou de discutir de modo a produzir a
sensação de certeza. Nossas disposições emocionais dificultam a nossa aceitação de
certas proposições, não importa o quão forte seja a evidência em seu favor. E uma vez
que todas as provas dependem da aceitação de certas proposições como verdadeiras,
nenhuma proposição pode ser comprovada como verdadeira a quem está suficiente-
mente determinado a não acreditar.”59
O termo “Bloqueio Mental” (Mind Lock) foi cunhado por alguns filósofos60 no
que diz respeito a este fenômeno, definindo-o como “a condição em que a perspecti-
va de alguém torna-se auto-referente, formando um circuito fechado de raciocínio”.
Pressupostos aparentemente empíricos moldam e protegem a visão de mundo de
um indivíduo e qualquer coisa contrária vinda de fora pode ser “bloqueada”, muitas
vezes mesmo inconscientemente. Esta reação pode ser comparada ao reflexo físico
comum de proteger-se de um objeto estranho em movimento em direção a si - só que
nessa circunstância o “reflexo” é defender suas crenças, e não seu corpo.
Embora frases como “pensar fora da caixa” possam ser uma retórica comum hoje
em dia na comunidade ativista, raramente os fundamentos da nossa maneira de pen-
sar e da integridade de nossas instituições mais estabelecidas são desafiados. Eles são,
na maioria das vezes, considerados “fatos óbvios” e assumidos como inalteráveis.
Tais questões são raramente consideradas já que as pessoas tendem, mais uma
vez, a se adaptar à sua cultura, sem objeção, assumindo que é “do jeito que é”. Tais
orientações estáticas são quase universalmente resultado da tradição cultural e, como
Cohen e Nagel apontam, é muito difícil comunicar uma ideia nova e desafiadora para
aqueles que estão “suficientemente determinados a não acreditar nela.”
Tais pressupostos tradicionais, tidos como empíricos, são provavelmente uma fonte
enraizada de retardo pessoal e social no mundo de hoje. Esse fenômeno, juntamente
com um sistema educacional que reforça constantemente tais noções estabelecidas por
meio de suas instituições de “academia”, sela ainda mais esta inibição cultural e agrava
o obstáculo a uma mudança relevante.61
36
Embora o alcance dessa tendência seja amplo no que diz respeito ao debate, há
aqui duas falácias argumentativas comuns, dignas de nota, pois surgem constante-
mente quando da relação com as Aplicações e Linha de Raciocínio promovidas pelo
MZ. Em termos técnicos, essas táticas compreendem o que poderia ser chamado de
“Guerra de Valores”62, que é conduzida, conscientemente ou não, por aqueles que
têm interesses emocionais/materiais próprios em manter as coisas do modo como
estão, opondo-se à mudança.
As referências defendidas pelo MZ para a tomada de decisão não são uma Filo-
sofia Moral65 que, quando examinadas em sua raiz, são essencialmente o que foi a
manifestação filosófica Marxista.
37
O MZ não está interessado nas noções poéticas, subjetivas e arbitrárias de “uma
sociedade justa”, de “liberdade garantida”, “paz mundial”, ou em “fazer um mundo
melhor”, simplesmente por parecer “certo”, “humano” ou “bom”. Sem uma Estrutura
Técnica que tenha um referente físico direto a tais termos, tal relativismo moral tem
pouco ou nenhum propósito a longo prazo.
O marxismo não é baseado nessa visão de mundo “calculada”, mesmo que pos-
sam haver algumas características inerentes de base científica. Por exemplo, a noção
marxista de uma “sociedade sem classes” servia para superar a “desumanidade”, orig-
inada do capitalismo, que era imposta sobre a classe trabalhadora ou “proletariado”.
A linha de pensamento do MZ, por outro lado, tem por fontes avanços em estudos
humanos. Acredita-se, por exemplo, que a estratificação social, que é inerente ao
modelo capitalista de mercado, é realmente uma forma de violência indireta contra a
grande maioria, tida como resultante de uma psicologia evolutiva que nós, seres hu-
manos, naturalmente possuímos69. Isso gera uma forma desnecessária de sofrimento
humano, em muitos níveis, o que é desestabilizador e, por consequência, tecnica-
mente insustentável.
A lógica defendida pelo MZ, por outro lado, refere-se ao fato de que a prática da
posse universal e individual de mercadorias é ambientalmente ineficiente, um des-
perdício e, por fim, insustentável como prática universal. Isso apoia um sistema de
comportamento restritivo e uma grande quantidade de privação desnecessária e, por
38
consequência, o crime torna-se comum em sociedades com uma distribuição desigual
de recursos.
De qualquer forma, tais alegações “prima facie” são muito comuns e muito mais
poderia ser comentado. No entanto, não é o escopo desta seção discutir todas as
supostas conexões entre marxismo e a linha de pensamento defendida pelo MZ.71
A Falácia do “Espantalho”
A segunda falácia argumentativa tem a ver com a deturpação de uma posição, delib-
erada ou projetada, comumente referida como a falácia do “Espantalho”72. Quando se
trata do MZ, isso geralmente tem a ver com interpretações forçadas, as quais não pos-
suem evidência significativa para serem consideradas relevantes ao ponto em questão.
Esse tipo de argumento é sem validade testável com relação às ciências humanas
e é realmente uma suposição intuitiva proveniente do clima cultural atual, onde o
sistema econômico coage todos os seres humanos a papéis de trabalho de sobrevivên-
cia (receita/lucro), muitas vezes independentemente de interesse pessoal ou utilidade
social, gerando uma distorção psicológica com relação ao que cria motivação.
Nas palavras de Margaret Mead: “Se você olhar atentamente, verá que quase tudo
o que realmente importa para nós, tudo o que encarna o nosso mais profundo com-
promisso com a maneira como a vida humana deve ser vivida e cuidada, depende de
alguma forma de voluntariado.”73
Em uma pesquisa da opinião pública de 1992, mais de 50% dos adultos norte-amer-
icanos (94 milhões de norte-americanos) se voluntariaram para causas sociais, a uma
média de 4,2 horas por semana, num total de 20,5 bilhões de horas por ano.74
39
Mecanização aplicada ao trabalho mundano para libertar o ser humano será discutida,
indicando como o sistema de trabalho por renda é desatualizado e restritivo, não só para
o potencial industrial e a eficiência, mas também para o potencial humano em geral.
Finalmente, vale a pena reiterar que a batalha entre Lógica e Psicologia é real-
mente um conflito central na arena da mudança social. Não existe nenhum contexto
mais pessoal e sensível do que a forma como organizamos a nossa vida em sociedade,
e um importante objetivo do MZ, em muitos aspectos, é encontrar técnicas que pos-
sam educar o público quanto ao mérito desta linha de pensamento lógica e mecanicis-
ta, superando a bagagem de confortos psicológicos desatualizados que não possuem
nenhum valor progressista viável no mundo moderno.
40
Notas e Referências: Capítulo 4
[57] Sigmund Freud foi o primeiro a tornar famosa a ideia de Projeção Psi-
cológica, definida como “um mecanismo de defesa psicológico em que
a pessoa inconscientemente nega seus próprios atributos, pensamen-
tos e emoções, que são atribuídos ao mundo exterior, geralmente para
outras pessoas.” No entanto, o uso do termo é mais geral, nesse contex-
to, refletindo a simples noção de assumir a compreensão de uma ideia
baseada em uma relação falsa ou superficial de entendimentos anteriores
- geralmente em uma postura defensiva que rejeite sua validade.
[59] Logic and The Scientific Method, Cohen e Nagel, Harcourt, 1934, p.
19
[61] A crítica sobre “Academia” não deve ser confundida com a sua
definição padrão, ou seja, uma “comunidade de estudantes e docentes
envolvidos no ensino superior e de pesquisa.” O contexto aqui é a nature-
za de inibição das “escolas” de pensamento que muitas vezes evoluem
para criar um ego em si mesmo, onde dados conflitantes são ignorados
ou mesmo desmentidos. Além disso, há um risco comum a este modo de
pensamento onde a “teoria” e “tradição” sobrepõem, com muita frequên-
cia, a “experiência” e “experimento”, perpetuando conclusões falsas.
[62] Sugestão de leitura: Value Wars: The Global Market Versus the Life
Economy: Moral Philosophy and Humanity, John McMurtry, Pluto Press,
2002
[63] http://dictionary.reference.com/browse/prima+facie
[64] Escrito por Karl Marx e Friedrich Engels em 1848, este texto é
amplamente considerado como a expressão ideológica definitiva do
comunismo marxista. O “comunismo” é considerado a aplicação práti-
ca do “marxismo”. Texto online: http://www.marxists.org/archive/marx/
works/1848/communist-manifesto/index.htm
41
[65] Definido como “o ramo da filosofia que trata do argumento sobre o
conteúdo da moralidade e da discussão meta-ética sobre a natureza do
julgamento moral, linguagem, raciocínio e valor.” [http://www.thefreedictio-
nary.com/moral+philosophy]
[67] O termo “mundo físico” é muitas vezes usado para diferenciar entre
os processos “mentais” da mente humana ou fenômenos do tipo soci-
ológicos, e o ambiente físico que existe fora dos processos cognitivos da
percepção humana. Na realidade não há nada fora do “mundo físico”,
como o conhecemos, já que não se encontra nenhum exemplo concreto
onde as relações causais são simplesmente anuladas.
[69] Sugestão de leitura: The Spirit Level, Kate Pickett; Richard Wilkinson,
Bloomsbury Press, 2011.
[70] Este conceito será explorado mais na Parte 3, mas vale a pena notar
que o tipo de “acesso” habilitado pelo sistema social sugerido (LNEBR)
não exclui relações jurídicas para garantir o uso dos bens. A ideia de
reduzir o atual sistema de propriedade para um de “acesso protegido”,
onde, por exemplo, uma câmera obtida a partir de um centro de dis-
tribuição garante o aspecto lícito do seu aluguel para essa pessoa, não
deve ser confundido com a noção capitalista de propriedade, que é uma
distinção universal e uma grande fonte de ineficiência industrial e dese-
quilíbrio.
42
que um dos adversários constrói um homem feito de palha, ataca-o,
em seguida, proclama vitória. Ao mesmo tempo, o verdadeiro oponente
continua intocado.
[73] “Have you noticed...”, Vital Speeches of the Day, Robert Krikorian,
1985, p. 301.
[74] Giving and Volunteering in the United States: Findings from a National
Survey, Hodgkinson & Weitzman, 1992, p. 2.
[75] Sugestões de leitura: Drive: The Surprising Truth About What Moti-
vates Us, Daniel Pink, Riverhead, 2011.
43
44
Capítulo 5
Além disso, as hoje emergentes pressões sociais e riscos ao redor da guerra tec-
nológica, poluição, desestabilização ambiental e outros problemas não mostram ape-
nas uma gravitação lógica em direção a uma verdadeira organização global - eles
mostram uma necessidade racional - e a mentalidade xenófoba e mafiosa natural do
Estado-nação atual, muitas vezes sob o rótulo de “patriotismo”, é uma fonte de deses-
tabilização grave e de desumanidade generalizada, sem mencionar, mais uma vez, a
perda substancial de eficiência técnica.
45
Falsas Divisões
Como observado nos capítulos anteriores, a base central da nossa sobrevivência e
qualidade de vida, como indivíduos e como espécie, no planeta Terra, gira em torno
da nossa compreensão da Lei Natural e de como ela se relaciona com o nosso método
de economia. Esta premissa é uma compreensão referencial simples, onde as leis
físicas da natureza são consideradas no contexto da eficiência econômica, tanto nos
níveis humanos e de habitat.
É lógico que qualquer espécie dependente do habitat em que vive deve alinhar
suas condutas com a ordem natural inerente ao mesmo, da melhor forma que a atu-
al compreensão permita. Qualquer outra inclinação é irracional e, por definição, só
poderá trazer problemas.
Valores
A organização geral da sociedade de hoje é baseada em uma competição humana
em muitos níveis: os estados-nação competem entre si por recursos físicos/econômi-
cos; as entidades do mercado corporativo competem por lucro/participação de merca-
do, e os trabalhadores comuns competem por ocupações que proporcionem salários e,
portanto, sobrevivência pessoal.
46
gresso” do mundo através do valor competitivo.
Não é à toa, de fato, dado este quadro e sua crescente miopia, que várias outras di-
visões sociais, superficiais e nocivas, ainda são perpetradas - tais como raça, religião, cre-
do, classe ou preconceito xenófobo. Essa antiga bagagem de divisão trazida dos estágios
de medo da nossa evolução cultural, simplesmente, não tem sentido dentro da realidade
física. E agora serve apenas para impedir o progresso, a segurança e a sustentabilidade.
Origens e Influência
Vamos considerar rapidamente as origens do modelo divisório/competitivo. Sem
entrar em muitos detalhes, está claro que a evolução da sociedade humana incluiu
uma história de conflitos, escassez e desequilíbrio. Embora existam debates sobre a
natureza da sociedade durante o período de tempo que antecede a Revolução Neolíti-
ca80, a terra desde essa altura tem sido um campo de batalha onde foram tomadas
inúmeras vidas por causa da concorrência, seja material ou ideológica.81
Este reconhecido padrão é, de fato, tão difundido que muitos, hoje, atribuem a
propensão para o conflito e dominação a uma característica implacável de nossa na-
tureza humana, concluindo que o ser humano é simplesmente incapaz de operar em
um sistema social que não seja baseado neste quadro competitivo, e que qualquer
esforço nesse sentido criará uma vulnerabilidade a ser explorada por um poder após
o outro, expressando esse aparente traço dominante/competitivo.82
47
necessidade de preservação e sobrevivência85, seja provocada pela influência social
mais do que seja ela a fonte de tal reação. Quando nos perguntamos como o exército na-
zista foi capaz de justificar moralmente suas ações na Segunda Guerra Mundial, muitas
vezes esquecemos a enorme campanha de propaganda promovida por aquele regime,
que trabalhou para explorar essa vulnerabilidade essencialmente biológica.86
Não é do seu interesse pessoal proteger e cultivar o habitat que o sustenta? Não é
do seu interesse pessoal cuidar da sociedade como um todo, provendo a seus mem-
bros, para que as consequências da privação, tais como o “crime”, sejam reduzidas
tanto quanto possível para garantir a sua segurança? Será que não é interesse pessoal
considerar as consequências das guerras imperialistas que podem produzir ódio xe-
nofóbico/nacionalista feroz de um lado do planeta, apenas para, digamos, uma ma-
la-bomba explodir atrás de você em um restaurante como um ato desesperado de
“retribuição” e vingança?
Não é interesse pessoal garantir a todas as crianças das sociedades - não apenas as suas
- que tenham a melhor criação e educação para que o seu futuro e o futuro de seus filhos
possam existir em um mundo responsável, educado, e cada vez mais produtivo? Não é
do seu interesse pessoal certificar-se de que a indústria esteja tão organizada, otimizada e
cientificamente acurada quanto possível, de modo que não produzamos tecnologia barata,
inferior, que possa talvez causar um problema social, no futuro, se falhar?
O ponto fundamental é que as coisas mudaram no mundo de hoje e seu “interesse
48
pessoal” agora é apenas tão bom quanto o seu “interesse social”. Ser competitivo e
viver pra si mesmo, passar por cima dos outros, só tem uma consequência negativa
no longo prazo, pois isso é não reconhecer o extenso sistema no qual estamos todos
integrados. Uma usina de energia nuclear barata feita no Japão pode não significar
muito para as pessoas nos Estados Unidos. No entanto, se essa planta tiver uma fal-
ha técnica em grande escala, a precipitação e a poluição podem chegar até os lares
americanos, provando que você nunca está seguro no longo prazo, a menos que tenha
uma consciência global.
Guerras
Os dias de guerra prática há muito acabaram. Novas tecnologias no horizonte têm
a capacidade de criar armas que farão a bomba atômica parecer uma catapulta roma-
na, em seu poder destrutivo.90 Séculos atrás, os danos da guerra poderiam pelo menos
se restringir às partes beligerantes envolvidas. Hoje, o mundo inteiro está ameaçado.
Existem hoje mais de 23 mil armas nucleares, que poderiam acabar com a população
humana muitas vezes.91
49
como todas as ideias são desenvolvidas em série pela cultura através da “mente de
grupo”, os recursos do planeta são igualmente transientes em suas funções e defini-
dos cientificamente de acordo com seus possíveis propósitos. A Terra é um sistema
único, juntamente com as leis da natureza que a governam. Ou a sociedade humana
reconhece e começa a agir sobre essa lógica inerente, ou sofreremos no longo prazo.
50
Notas e Referências: Capítulo 5
[78] Um exemplo disso seria o viés econômico patriótico que muitas vez-
es influencia as ações da indústria regional. Na realidade física, tecnica-
mente existe apenas uma economia quando se trabalha com os recursos
do planeta Terra e as Leis Naturais. A ideia de “Produzido nos EUA”, por
exemplo, gera uma ineficiência técnica imediata, pois a produção ade-
quada de mercadorias é um assunto mundial em todos os níveis, inclu-
sive o usufruto do conhecimento do mundo. Restringir intencionalmente o
trabalho e a utilização/aquisição de materiais somente apenas dentro dos
limites das fronteiras de um determinado país é economicamente con-
traproducente no verdadeiro sentido da palavra “economia”.
[82] Um texto clássico que empregava esse medo básico era de Hayek,
“O Caminho da Servidão”. Neste trabalho de Hayek o conceito de “Na-
tureza Humana” tinha uma implicação muito clara, justificada fundamen-
talmente pelas tendências históricas do totalitarismo, o qual ele sugeria
estar relacionado às economias colaborativas e planejadas.
51
[85] Comumente denominada: “A resposta de luta ou fuga” (ou a res-
posta ao estresse agudo) e foi descrita pela primeira vez pelo fisiologista
americano Walter Bradford Cannon.
52
Capítulo 6
O Argumento Final:
A Natureza Humana
Os benefícios desta abordagem não devem apenas ser levados em conta por seu
próprio mérito, mas também devem ser considerados em contraste com os métodos
tradicionais em voga e suas consequências. Assim será possível perceber por com-
paração que os atuais métodos da sociedade não estão somente grosseiramente ultra-
passados e ineficientes - estão cada vez mais perigosos e desumanos -, tornando ainda
mais importante a necessidade de mudanças sociais em larga escala. Não se trata de
“Utopia” - mas sim de melhorias verdadeiramente práticas.
É por isso que o modelo de uma economia monetária de mercado é muitas vezes
53
considerado naturalmente religioso nos materiais do MZ, pois seu mecanismo caus-
al é baseado em suposições praticamente supersticiosas sobre a condição humana,
havendo pouca correlação com os entendimentos científicos emergentes sobre nós
mesmos e sobre a rígida relação simbiótica/sinérgica entre o nosso habitat e as leis
naturais que o regem.
Tudo é Técnico
A razão de um novo sistema social baseado diretamente em uma visão científica,
que compreenda e maximize tecnicamente a sustentabilidade e a prosperidade, não
pode ser superada por uma outra abordagem, por mais corajosa que tal afirmação pos-
sa parecer. Por quê? Porque simplesmente não há outra abordagem quando a lógica
natural e unificada do Método Científico é aceita como o mecanismo fundamental de
causalidade física e inter-relações.
54
física e, logo, o design físico geral do avião também estará, a fim de alinhá-lo a essas
mesmas leis e funções.
Construir uma máquina para realizar algum trabalho com o objetivo de otimizar
o desempenho, segurança e eficiência não é uma questão de opinião, assim como
não importa quantos enfeites coloquemos em nossas casas, a estrutura física da con-
strução deve estar de acordo com as rígidas leis da física e as dinâmicas naturais do
habitat, de modo a conferir segurança e resistência e, portanto, haverá uma mínima
variação no sentido técnico.
Infelizmente, nunca na história foi dada uma verdadeira chance a essa perspectiva
e hoje o nosso mundo ainda caminha de forma incongruente, tendo como principal
incentivo o lucro pessoal e a vantagem imediata, no lugar de métodos industriais
estratégicos, alinhamento ecológico, estabilidade social, preocupação com a saúde
pública e sustentabilidade geracional.
Tudo isso está sendo dito novamente pois o argumento da Natureza Huma-
na mantido contra essa abordagem é realmente o único argumento aparentemente
técnico que pode defender o antiquado sistema que temos hoje; é realmente o único
argumento que resta quando as pessoas interessadas em manter esse sistema per-
cebem que não há nada mais que elas possam argumentar logicamente e que seja
viável, dada a irracionalidade inerente a qualquer outra objeção ao sistema social
baseado na lei natural.
Irracionalmente Limitado?
Resumindo, este desafio pode ser posto em uma pergunta: “Seria a espécie huma-
na capaz de se adaptar e prosperar em um sistema tecnicamente planejado e organi-
zado, onde nossos valores e práticas sejam alinhados com as leis conhecidas da na-
tureza, ou estaríamos limitados por nossos genes, biologia e psicologia evolucionista,
podendo apenas operar da forma como conhecemos hoje?”
55
preconceitos e valores de curto prazo que absorvemos do nosso meio ambiente
(Evolução Cultural).
Então, antes de entrar em detalhes sobre este assunto, vale a pena notar que a
nossa própria definição de ser humano, na visão de longo e curto prazo, é baseada
em um processo de adaptação às condições existentes, incluindo os próprios genes.99
Isso não quer dizer que é preciso ignorar a relevância genética, mas que é preciso
destacar o processo do qual fazemos parte, uma vez que a relação gene-ambiente só
pode ser considerada como uma interação contínua, com as consequências em grande
parte resultando das condições ambientais a curto e longo prazo. Se este não fosse
o caso, não haveria dúvidas em admitir que a espécie humana provavelmente teria
desaparecido há muito tempo devido a uma falha em se adaptar.
Além disso, embora esteja claro que nós, seres humanos, ainda mantemos reações
“inatas” e previsíveis de sobrevivência pessoal,100 também temos a capacidade de
evoluir os nossos comportamentos através do pensamento, consciência e educação,101
o que nos permite, de fato, controlar e superar essas reações e impulsos primitivos,
se as condições necessárias forem mantidas e reforçadas. Esta é uma distinção muito
importante e é, de muitas maneiras, o que separa a variedade dos seres humanos dos
outros primatas.102
Uma observação rápida sobre a diversidade histórica da conduta humana ao longo
do tempo, em contraposição ao ritmo relativamente lento de maiores mudanças es-
truturais em nossos cérebros e DNA103 nos últimos dois mil anos, mostra que a nossa
capacidade de adaptação (via pensamento / educação) é enorme ao nível cultural.
56
dizado planejado” da infância,107 e continua ao longo da vida em todos os aspectos
fisiológicos e psicológicos.
Mudando As Condições
A ideia de mudar influências/pressões da sociedade para fazer aflorar o melhor da
condição humana ao invés do pior, é o cerne do imperativo social do MZ, e essa ideia
é infelizmente ignorada em considerações sociais da cultura de hoje. Existem evidên-
cias enormes que indicam que a influência do meio ambiente é o que essencialmente
cria nossos valores e preconceitos e, embora as influências genéticas/fisiológicas pos-
sam determinar tendências e acentuações para certos comportamentos, a influência
mais ativa em relação à nossa variabilidade é a experiência de vida e a condição do
ser humano, sendo portanto a forma de interação entre o “interno” (fisiológico) e
“externo” (ambiental).
No entanto, o escopo dessa visão não é apenas tratar das várias pressões temporais
que podem desencadear esta ou aquela propensão específica - é sobre tratar de todos
os valores educacionais, religiosos/filosóficos, políticos, sociais e ideais perpetuados
e reforçados por essas pressões. Se fôssemos confrontados com uma opção de adap-
tar a nossa sociedade de uma forma que possa comprovadamente melhorar a saúde
pública, nós simplesmente não o faríamos? Pensar que os seres humanos em uma
sociedade são simplesmente incompatíveis com métodos que possam aumentar seu
padrão de vida e de saúde é extremamente improvável.
57
em direção à abundância e simplicidade ao invés de conflitos e complexidade, não é
suscetível a muitos debates.
58
Notas e Referências: Capítulo 6
[95] Isto foi confirmado pela Organização das Nações Unidas para a
Agricultura e a Alimentação e pelo Programa Alimentar Mundial. Este site
é recomendado para referência: http://overpopulationisamyth.com/food-
theres-lots-it#header-1
[96] http://www.news-medical.net/news/20090623/102-billion-starving-
people-worldwide-UN-says.aspx
59
[99] Uma “adaptação”, em biologia, é um traço com um papel funcional
atual na história de vida de um organismo, que é mantido e desenvolvido
por meio da ‘seleção natural’. Em suma, isso ocorre devido a pressões
sobre o organismo em um meio ambiente. Da mesma forma, “Epigenéti-
ca” é um novo campo e estuda as mudanças hereditárias na expressão
gênica ou no fenótipo celular causadas por mecanismos outros além das
alterações na sequência de DNA. Em suma, é uma adaptação de curto
prazo a nível de “expressão” gênica, que também é influenciada pelo
meio ambiente. E no que se refere a cultura, isso é mais fácil de entender.
Por exemplo, o idioma que você fala é uma adaptação ao grupo cultural
existente, assim como a religião que você pode ter aprendido e, por-
tanto, muitos dos valores que você possui são um resultado direto das
condições culturais das quais você faz parte.
60
ainda eram idênticos em 10.149.073 das 10.149.085 letras examinadas.
Das 12 diferenças... apenas quatro eram verdadeiras mutações ocorri-
das naturalmente através das gerações. “[http://www.sciencedaily.com/
releases/2009/08/090827123210.htm] Em relação ao genoma humano,
estima-se que pode passar por apenas algumas centenas de mudanças
ao longo de dezenas de milhares de anos.
[105] Dr. Gabor Maté em sua obra “In the Realm of Hungry Ghosts”
(North Atlantic Books, 2012) apresenta uma enorme quantidade de
pesquisas a respeito de como a “perda emocional” que ocorre em idades
jovens afeta o comportamento na vida adulta, mais especificamente a
propensão para os vícios.
[108] Ref: The Structure of Genetic and Environmental Risk Factors for
Common Psychiatric and Substance Use Disorders in Men and Women,
Arch Gen Psychiatry. 2003; 60
61
62
Capítulo 7
Visão Geral
Qual é a verdadeira medida de sucesso para uma sociedade? O que é que nos faz
felizes, saudáveis, estáveis e equilibrados com o mundo ao nosso redor? Não seria o
nosso sucesso simplesmente a nossa habilidade de entendermos e nos adaptarmos às
realidades do nosso mundo para conseguirmos os melhores resultados possíveis em
qualquer circunstância? E se descobríssemos que a própria natureza do nosso sistema
social estaria, na verdade, reduzindo a nossa qualidade de vida em longo prazo?
Como será discutido neste ensaio, as estruturas, valores e práticas sociais contem-
porâneas se desviaram, ou são em grande parte alheias ao verdadeiro significado de
saúde de uma sociedade. Ao que nossas instituições sociais dão prioridade ou des-
consideram, aliado às metas e motivações associadas ao “sucesso” pessoal, as quais
são, muitas vezes, claramente “dissociadas” do que avanço e suporte à vida realmente
significam110, é um assunto pouco considerado no mundo de hoje. Na verdade, a
maioria das medidas de “prosperidade” e “integridade” da condição humana são hoje
equiparadas a meros padrões econômicos básicos, como o PIB, IPP ou índices de em-
prego. Infelizmente, essas medidas não dizem praticamente nada sobre o verdadeiro
bem estar e prosperidade do ser humano.111
63
dolph Virchow: “A medicina é uma ciência social e a política nada mais é do que me-
dicina em grande escala.”113 Virchow reconheceu que qualquer problema de saúde
pública está invariavelmente relacionado à sociedade como um todo. Suas estruturas,
características e valores predominantes têm uma profunda influência sobre a saúde e
o comportamento de uma sociedade, e argumentos acerca do mérito de novas ideias
sociais inevitavelmente devem ser conduzidos a partir de uma avaliação racional da
qualidade das mesmas mediante comparações.
Uma vez que cada componente da Saúde Pública tem suas próprias característi-
cas e causalidade, é possível considerar abordagens alternativas para a resolução ou
melhoria de um determinado problema, que podem não estar sendo praticadas atual-
mente, mas que claramente deveriam estar. A base da Linha de Pensamento aqui ex-
pressa passa por uma análise dos atuais componentes de Saúde Pública para entender
o que está acontecendo ao longo do tempo e nas diferentes circunstâncias, juntamente
com uma avaliação caso a caso dos problemas e uma consideração inferencial do que
se poderia “consertar” ou “melhorar” na maior escala possível.
Esta análise irá separar a questão da Saúde Pública em duas categorias gerais - fi-
siológicas e psicológicas114 - com cada categoria dividida em temas que representam
problemas dominantes em um percentual relevante da população em geral.
O Fator Econômico
Como se observa, a principal tese deste ensaio é mostrar quão profundamente o
nosso sistema socioeconômico mundial afeta a saúde pública, com foco mais espe-
cífico no poder da pobreza, estresse e desigualdade. Se você olhar rapidamente para
as principais causas de morte em nível mundial, como elencadas pela Organização
Mundial da Saúde116, diferenças claras baseadas no nível econômico de uma região,
64
como o fato de que o câncer é mais comum em sociedades de alta renda, enquanto
doenças diarreicas são mais comuns em sociedades de baixa renda, dão uma visão
de como o amplo contexto da posição socioeconômica pode afetar a saúde pública.
Favor notar que o termo “Violência” neste contexto não se limita à classi-
ficação usual de danos físicos, tais como combate pessoal ou abuso físico. O
contexto se estende para incluir a opressão social, muitas vezes invisível, que,
através das características da cadeia de motivações inerentes ao nosso sistema
social, leva ao dano desnecessário de pessoas, tanto físico, psicológico ou ambos.
Exemplos disso podem variar do óbvio ao complexo na corrente de causa e efeito.
65
overdose? A heroína? A influência da mãe? Ou a circunstância econômica que a mãe
se encontrava que não permitiu o equilíbrio e o devido cuidado de seu filho?123
Claramente, não há utopia para a condição humana, e achar que podemos ajus-
tar o sistema socioeconômico para acabar com todos esses e outros macro e micro
problemas estruturais, 100% do tempo, é um absurdo.124 No entanto, o que é possível
é uma melhoria drástica de tais questões de saúde pública, mudando a natureza da
condição socioeconômica da forma mais estratégica possível. Ao prosseguirmos com
a análise caso a caso dos principais transtornos mentais e físicos do mundo, notamos
que a verdadeira necessidade para a melhoria da saúde pública repousa, quase que
inteiramente, nesta premissa socioeconômica de causalidade125.
Segundo Gernot Kohler e Norman Alcock em seu trabalho de 1976, ‘An Empiri-
cal Table of Structural Violence’, dramáticas 18 milhões de mortes estavam previstas
para ocorrer a cada ano devido à violência estrutural126, e esse estudo foi realizado
há mais de 30 anos. Desde então, a diferença global entre ricos e pobres mais do que
duplicou, o que sugere que o número de mortes hoje seja muito maior. De fato, a
violência estrutural é o assassino mais mortal do planeta. O gráfico a seguir mostra
as taxas de morte de um grupo demográfico específico, revelando a mais ampla cor-
relação entre baixa renda e aumento da mortalidade.
66
Saúde Fisiológica
Hoje, os principais problemas fisiológicos da população humana incluem grandes
epidemias causadoras de mortalidade, tais como o câncer, doenças cardíacas, der-
rame, etc. Problemas relativamente menores, que não só reduzem a qualidade de
vida, mas também frequentemente precedem essas doenças mais graves, incluem
pressão alta, obesidade e outras questões que, embora menos críticas em comparação,
ainda são uma parte do processo que pode levar a doenças graves e à morte ao longo
do tempo127. Novamente, é importante lembrar que a causa dessas doenças “físicas”
não são estritamente “físicas” no sentido estrito da palavra, pois estudos modernos
demonstram que o estresse psicossocial128 possui relações profundas com problemas
fisiológicos aparentemente desconexos.
67
Um estudo de 2009 no American Journal of Epidemiology chamado “Life-
Course Socioeconomic Position and Incidence of Coronary Heart Disease” desco-
briu que quanto mais tempo uma pessoa permanece em situação de pobreza, maior
a sua probabilidade de desenvolver doenças cardíacas136. Pessoas que estiveram
em desvantagem econômica ao longo da vida demonstraram mais propensidade
ao fumo, obesidade, má alimentação e assim por diante. Em um estudo anterior,
realizado pelo epidemiologista Dr. Ralph R. Frerichs, com enfoque específico na
divisão socioeconômica da cidade de Los Angeles, Califórnia, descobriu-se que a
taxa de morte por doença cardíaca foi 40% maior para os homens pobres do que
para os mais ricos.137
Dado que a nossa tese original considera um elo entre o próprio sistema social
e a prevalência de doenças e seus fatores de risco associados, é preciso considerar a
relação direta entre estresse e poder de compra.
Começando com o último, que é mais simples, é óbvio que hábitos de saúde
ruins ocorrem em ambientes de baixa renda devido à falta de recursos finan-
ceiros para uma melhor nutrição,138 atenção médica139 e educação.140 Muitos
dos alimentos com alto teor de gordura e alto fator de risco de sódio, por ex-
emplo, que levam a doenças cardíacas, também são os alimentos mais baratos
encontrados nas lojas.
Vale notar que o nosso modelo socioeconômico produz bens com base na ca-
pacidade de compra da demografia alvo. A decisão de produzir bens alimentícios de
baixa qualidade é tomada com base no lucro, e, como a grande maioria do planeta é
relativamente pobre, não é nenhuma surpresa que, a fim de atender a esse mercado, a
qualidade deva ser reduzida para permitir vendas competitivas. Em outras palavras,
há um mercado para cada classe social, e, naturalmente, quanto mais baixa a classe,
menor a qualidade.
68
industrial de alimentos e nunca foi, devido ao interesse exclusivo na geração de
lucros. Mais informações sobre o transtorno de incentivo inerente à economia de
mercado monetário serão fornecidas em ensaios posteriores.
O Fator Estresse
Agora vamos analisar o papel do estresse. O estresse tem mais efeitos sobre a
doença cardíaca do que se pensava, e isso não tem a ver somente com o fato es-
tatístico de que as pessoas de baixa renda tem uma tendência a lidar melhor com
seus problemas por meio de hábitos como o fumo e a bebida, manifestando pressão
arterial elevada e, consequentemente, ignorando a sua saúde e bem-estar por causa
da luta constante por renda e sobrevivência. Embora esses fatores sejam evidentes,
e, novamente, encontram-se amarrados a uma estratificação inevitável encontrada
na Economia de Mercado Monetário,141 a forma mais prejudicial de estresse vem
sob a forma de estresse psicossocial, ou seja, o estresse relativo à interação psi-
cológica com o ambiente social.
Esse padrão tem sido confirmado por muitos estudos ao longo dos anos, inclu-
indo uma profunda compilação de pesquisas organizada por Richard Wilkinson
e Kate Pickett. Em seu trabalho, “The Spirit Level - Why Equality is Better for
Everyone”, eles usam como fonte centenas de estudos epidemiológicos sobre o
assunto, descrevendo como sociedades mais desiguais perpetuam uma vasta gama
de problemas de saúde pública, tanto fisiológicos quanto psicológicos.
Deixando de lado as doenças cardíacas, sabemos agora que alguns tipos de cânc-
er, doenças pulmonares crônicas, doenças gastrointestinais, dores nas costas, obe-
69
sidade, pressão alta, baixa expectativa de vida e muitos outros problemas também
estão ligados ao nível socioeconômico de modo geral, não tendo ele como apenas
um fator de risco singular.144 Há um “gradiente social”, que pode ser assim chama-
do, dos níveis de saúde ao longo da sociedade, e a posição onde nos encontramos
em relação a outras pessoas tem um poderoso efeito psicossocial - aqueles acima
de nós têm, em média, uma saúde melhor, enquanto os abaixo de nós têm níveis
piores de saúde145.
Uma comparação estatística entre a saúde pública de países com altos níveis de
desigualdade de renda (como os Estados Unidos) e os com níveis mais baixos do mes-
mo índice (como o Japão) revela essas verdades de forma muito óbvia.146
Saúde Psicológica
Talvez a implicação mais profunda em saúde pública seja o resultado da
desigualdade social na nossa saúde mental ou psicológica. Isso se estende às
reações e tendências comportamentais, tais como atos de violência ou abuso,
juntamente com problemas emocionais como depressão, ansiedade e distúrbios
de personalidade em geral.
70
Um relatório do NCHS (Centro Nacional de Estudos Estatísticos em Saúde dos
EUA) de 2011 revela que a taxa de uso de antidepressivos nos EUA, entre os adoles-
centes e adultos (pessoas com idades entre 12 e mais velhos), aumentou quase 400%
entre 1988-1994 e 2005-2008. Os antidepressivos foram o terceiro medicamento mais
prescrito pelos norteamericanos de 2005 a 2008.153
“Embora as pessoas com doença mental tenham, por vezes, alterações nos níveis de
certas substâncias químicas do cérebro, ninguém tem demonstrado que essas alterações
são a causa da depressão, no lugar de serem causadas pela depressão...embora certa
vulnerabilidade genética possa estar na base de algumas doenças mentais, isso, por si
só, não explica os enormes aumentos de doenças nas últimas décadas - nossos genes
não podem mudar tão rápido.”154
Parece que o nosso status social relativo tem um efeito profundo em nosso bem-es-
tar mental e essa tendência também pode ser encontrada no que poderia ser declarado
como a psicologia evolutiva dos primatas semelhantes. Um estudo de 2002 realizado
com macacos do gênero Macaca descobriu que aqueles que eram subordinados, ou
inferiores, em uma determinada hierarquia social, tinham menos atividade de dopamina
que os que eram dominantes, e que essa relação mudava quando os grupos se arran-
javam diferentemente. Em outras palavras, a biologia tinha pouco a ver - somente o
arranjo social foi responsável por reduzir ou elevar os níveis de dopamina. Também foi
descoberto que o macaco hierarquicamente inferior usaria mais cocaína para compen-
sar. Isso é revelador, pois os baixos níveis de dopamina em primatas (incluindo os seres
humanos) possuem uma correlação direta com a depressão.155
Esse padrão tornou-se muito claro e, enquanto fatores diretos de estresse como a
segurança no emprego, dívidas e outros fatores econômicos, em grande parte iner-
entes ao sistema social, desempenham um papel importante,156 a relevância do status
socioeconômico propriamente dito ainda se faz preponderante.
71
Comparação global da Saúde Mental e do Uso de Drogas por país
Mesmo o status social ditado pelas relações de castas, em países como a Índia,
pode ter um efeito profundo sobre a confiança e o comportamento. “Um estudo
realizado em 2004 (gráfico ao lado) comparou a capacidade de resolução de prob-
lemas de 321 meninos indianos de alta casta contra 321 de baixa casta. Os resultados
demonstraram que, quando a casta não era anunciada publicamente antes de começar
a resolução de problemas, ambos grupos atingiam resultados semelhantes. Na segun-
da rodada, depois de anunciadas as castas de cada grupo, o grupo da casta inferior
obtinha um resultado muito pior, e o da superior, um muito melhor, produzindo dados
bem divergentes em relação à primeira rodada.”158 As pessoas são muito influencia-
das pela percepção do seu status pela sociedade e, muitas vezes, quando acreditamos
ser vistos como inferiores, agimos como tal.
72
dade de renda estão mais bem colocados do que aqueles com maior desigualdade.
Dito de outra forma, são sociedades mais saudáveis.
Por exemplo, o abuso infantil, tanto físico quanto emocional, aliado a níveis cada
vez mais intensos de estresse individual, tem uma correlação direta com atos pre-
meditados e impulsivos de violência. E enquanto os homens possuem uma propensão
estatisticamente maior para a violência, devido, em grande parte, às características
endocrinológicas que, embora não causem reações de violência, podem aumentá-las
sob a influência do estresse,159 o ponto em comum, aqui, é a influência do meio am-
biente e da cultura.
73
Não se pode negar a relação dos hormônios ou até mesmo de possíveis propensões
genéticas160, mas mostrar que a origem desse comportamento claramente não é a nos-
sa biologia, mas a condição sob a qual um ser humano vive e as experiências que
enfrenta. Outras hipóteses populares de causas, como o “instinto”, também são muito
abstratas e vagas para sustentar qualquer validade operacional.161
“Eu estou sugerindo que a única maneira de explicar as causas da violência, para
que possamos aprender a evitá-la, é aproximar a violência de um problema de saúde
pública e medicina preventiva, e de pensar na violência como um sintoma de uma pa-
tologia que ameaça a vida, e que, como todas as formas de doenças, tem uma etiologia
ou causa, um patógeno.” -Dr. James Gilligan162
No diagnóstico do Dr. Gilligan, ele deixa muito claro que a maior causa de
comportamento violento é a desigualdade social, destacando as consequências
da vergonha e humilhação, características emocionais daqueles que se envolvem
em violência.163 Thomas Scheff, professor emérito de sociologia na Califórnia
afirmou que “a vergonha era a emoção social”.164 Vergonha e humilhação podem
ser equiparados com os sentimentos de estupidez, inadequação, vergonha, loucu-
ra, sentir-se exposto, insegurança, etc. - na sua origem, tudo é, em grande parte,
social ou comparativo.
Não é necessário dizer que, em uma sociedade global, não só com crescente dis-
paridade de renda, mas, inevitavelmente, disparidade de “auto-estima” - uma vez
que o status é apresentado como diretamente relacionado ao “sucesso” em nossos
empregos, tamanho de contas bancárias e assim por diante - não é nenhum mistério
que os sentimentos de inferioridade, vergonha e humilhação sejam parte importante
da cultura dos dias atuais. A consequência desses sentimentos tem implicações
muito graves para a saúde pública, como observado anteriormente, incluindo a ep-
idemia de violência comportamental que vemos hoje nas suas formas variadas e
complexas. Terrorismo, tiroteios em escolas e igrejas, e outros atos extremos que
simplesmente não existiam antes, revelam uma evolução na própria violência. Dr.
Gilligan conclui: “Se quisermos evitar a violência, então, a nossa agenda deve ser
a reforma política e econômica”.165
74
Taxas de homicídio entre as nações ricas.
Em Conclusão
Este ensaio tentou passar uma visão concisa das relações causais fundamentais
em saúde humana, nos níveis psicológico e fisiológico. Seu cerne é a forma como a
condição socioeconômica, em geral, melhora ou piora a saúde pública como um todo,
aludindo às condições ideais que possam melhorar a felicidade, reduzir as doenças e
aliviar problemas epidêmicos de comportamento, como a violência.
Embora seja muito claro como as relações econômicas diretas reduzem a saúde e
o bem-estar humano na forma de privação absoluta, como a incapacidade para obter
alimentos de qualidade, restrições de tempo em função do trabalho, as quais, por sua
vez, reduzem o apoio emocional e de desenvolvimento às crianças, e a perda na qual-
idade da educação devido a problemas de financiamento regionais, aliado a distúrbios
específicos como o fato de que a maioria dos casamentos termina devido a problemas
financeiros,166 a questão da privação relativa tem sido um foco maior por ser também
causa das mais absolutas privações.
75
argumento de que a natureza do nosso sistema socioeconômico está aquém do seu
foco e intenção. O progresso e o sucesso humano não são claramente definidos
pelo fluxo constante de bens de mercado, dispositivos e criação de materiais para
compra. Saúde Pública e bem-estar são baseados em como nos relacionamos uns
com os outros e com o meio ambiente como um todo.
Como será discutido nos ensaios seguintes, meros ajustes no atual sistema so-
cioeconômico não são suficientes, em longo prazo, para resolver esses problemas
de forma substancial. Os princípios mais fundamentais do nosso modelo atual estão
vinculados às orientações hierárquicas econômicas e competitivas, e trabalhar ver-
dadeiramente para remover esses atributos e suas consequências exige transformar
completamente todo o sistema social.
76
Notas e Referências: Capítulo 7
[111] Nos últimos anos, outras tentativas foram feitas para quantificar “fe-
licidade” e o bem-estar, como a Felicidade Interna Bruta (FIB) Indicador
que faz mensuras através de pesquisas periódicas http://www.grossna-
tionalhappiness.com/
77
tional Peace Association, 1988).
[119] Violence, James Gilligan, Grosset / Putnam, New York, 1992, p. 192
78
[128] Definição de Psicossocial: Envolve aspectos de comportamento
social e psicológico; Interrelacionamento http://medical-dictionary.thefree-
dictionary.com/psychosocial
79
[140] Referência: “Estudos afirmam que discrepâncias na educação entre
ricos e pobres aumenta” (Education Gap Grows Between Rich and Poor,
Studies Say), New York Times 2012
[ http://www.nytimes.com/2012/02/10/education/education-gap-grows-be-
tween-rich-and-poor-studies-show.html?pagewanted=all ]
[143] Ibid.
80
[149] Tendências temporais em saúde mental infantil e adolescente
(Time Trends in child and adolescent mental health), Maughan, Collishaw,
Goodman & Pickles, Journal of Child Psychology e Psiquiatria, 2004
[154] The Spirit Level por Richard Wilkinson e Kate Pickett, Penguin,
março de 2009, p. 65
[157] Gráfico de The Spirit Level por Richard Wilkinson e Kate Pickett,
Penguin, março de 2009, p. 67
81
mente o contrário. Veja “O problema com a testosterona”, tradução livre
(The Trouble with testosterone), Robert M. Sapolsky, Simon & Schuster,
1997 p. 147-159
[162] Ibid, p. 92
82
Capítulo 8
História da Economia
Visão global
A Economia é provavelmente a característica social mais crítica, relevante e in-
fluente que existe. Praticamente todos os aspectos de nossas vidas, geralmente sem
reconhecimento consciente, têm uma relação com o desenvolvimento histórico e atu-
al disposição do pensamento econômico, em um nível ou outro, moldando nossas in-
stituições sociais, crenças e valores fundamentais mais básicos. Na verdade, a própria
essência de como nós, como sociedade, pensamos sobre a nossa relação um com o
outro e com o habitat que nos sustenta é, em grande parte, resultado direto das teorias
e práticas econômicas que nós perpetuamos.
83
A título preliminar, um ponto que irá ressurgir mais adiante neste ensaio, tem
havido uma dualidade normalmente observada na maior parte do pensamen-
to econômico moderno, onde o “Livre-Mercado Capitalista”, ou seja, as ações
“livres” de produtores independentes, trabalhadores e comerciantes, que trabalham
em conjunto para comprar, vender e empregar,168 devem ser contrastadas com o
“Estado”, ou seja, um sistema unificado de poderes delegados que tem a capaci-
dade de definir a política legal e mandatos econômicos que podem inibir as ações
do “Livre-Mercado” por meio de intervenções. A maioria dos debates econômicos
hoje gira em torno dessa dualidade, em um nível ou outro, com os interesses “lais-
sez-faire” - os que desejam ter uma economia de mercado completamente não regu-
lamentada - constantemente em guerra com a “política” - os que pensam que algum
tipo de controle governamental centralizado e decisões baseadas no planejamento
econômico e político sejam melhores.
O Movimento Zeitgeist não toma nenhum desses lados, mesmo que muitos ou-
vintes das propostas do MZ tenham uma reação instintiva de assumir a última asso-
ciação (estatismo)169. Tal como acontece com muitos sistemas de crença tradicionais,
defesas e perspectivas polarizadas são comuns, e pensar que não há outro quadro
possível de referência no que diz respeito à forma como um sistema econômico pode
ser desenvolvido e administrado, é fechar-se dogmaticamente a muitas considerações
relevantes e emergentes.
84
A respeito das sempre mutantes “escolas” de pensamento que trouxeram o de-
bate econômico para onde está hoje, a tradicional evolução acadêmica, muitas vezes
estereotipada, da teoria (e prática) econômica estabelecida parece ter desenvolvido
um quadro de auto-referência.171 Em outras palavras, as considerações econômicas
mais comuns, discutidas e aceitas hoje, as que são mais propagadas nas prestigiadas
escolas acadêmicas e conferências governamentais, derivam sua importância do sim-
ples fato de terem sido consideradas importantes por muito tempo. Metaforicamente
falando, é algo semelhante a visualizar o motor de um automóvel e assumir que a
estrutura dos componentes do motor é imutável, e que apenas a variação entre os
componentes existentes é possível, em oposição à ideia radical de redesenhar toda
a estrutura do motor a partir do zero, talvez com base em novas tecnologias e infor-
mações que atendam às mesmas finalidades de forma mais eficiente e com mais êxito.
Temas subjacentes
Tomada como perspectiva histórica, a Europa da Idade Média173 é, em geral, um
ponto de partida ideológico aceitável, uma vez que as ideias mais centrais característi-
cas do capitalismo moderno, que mais tarde se espalharam pelo mundo, parecem ter se
estabelecido durante este período.174 É a partir do século 17 que encontramos a maior
parte dos filósofos influentes, altamente conceituados nos atuais livros de história tradi-
cionais de economia. Enquanto os historiadores descobriram que os gestos básicos
da “propriedade” e o ato de “troca por lucro” remetem ao segundo milênio a.C.175, a
fundação do seu núcleo de desenvolvimento e institucionalização parece repousar em
torno do fim do período feudal
e início do período mercantilista.
85
tem sido reconhecida e utilizada em diferentes graus. As pessoas têm sido geral-
mente divididas em dois grupos.177 Aquelas que produzem por uma recompen-
sa mínima e aquelas que ganham a partir dessa produção. Da antiga escravidão
egípcia,178 ao agricultor camponês labutando pela subsistência para o seu senhor
no feudalismo medieval,179 até a opressão codificada dos mercadores através dos
monopólios estatais no Mercantilismo,180 o tema da desigualdade tem sido muito
claro e consistente.
Essa realidade foi ainda mais agravada no século 18, onde a premissa “Social-
mente Darwinista”185 de “trabalho-por-recompensa” reduziu cada vez mais o ser hu-
mano a um objeto a ser definido e qualificado pela sua contribuição ao sistema de tra-
balho. Se a pessoa média é incapaz de obter trabalho ou de se envolver com sucesso
na economia de mercado, não há nenhuma garantia real à sua própria sobrevivência
ou bem-estar, com exceção da “interferência” do “Estado” na forma de auxílio. Nos
dias de hoje, essa realidade se tornou bem controversa, pois o rótulo de “socialismo”
tem sido uma reação instintiva sempre que a política governamental tenta fornecer
ajuda direta para os cidadãos sem o uso do mecanismo de vendas e/ou do mercado
de trabalho.
86
na Europa Ocidental, tendo o que mais tarde viria a ser chamado de “mercantilismo”,
como fase de transição.
Com o tempo, cidades mais complexas começaram a surgir, as quais foram bem
sucedidas na obtenção de independência dos senhores feudais, e sistemas cada vez
mais complexos de troca, crédito e lei foram surgindo, muitos dos quais espelhavam
aspectos básicos do capitalismo moderno. No sistema Feudal comum, o produtor
manual, geralmente, também era o vendedor para o comprador final. No entanto,
com a contínua evolução do mercado em torno desses novos centros urbanos, o ar-
tesão começou a vender, com um desconto em grandes quantidades de produtos, para
comerciantes não-produtores que revenderiam em mercados distantes por “lucro” -
outra característica que se tornaria comum no Capitalismo de Mercado.
87
pa Ocidental entre o século XVI e o fim do século XVIII,189 foi caracterizado por
monopólios comerciais, conduzidos pelo Estado de modo a garantir uma “balança
comercial” positiva,190 juntamente com muitos outros extensivos regulamentos sobre
a produção, salários e comércio emergendo ao longo do tempo, aumentando ainda
mais o poder do Estado. O conluio entre essas indústrias emergentes e o Estado era
comum e muitas guerras ocorreram devido a essas práticas, uma vez que se baseava
em restrições ao comércio entre as nações, que muitas vezes tinha o efeito de uma
guerra econômica.191
Adam Smith, que será discutido mais adiante neste ensaio, escreveu uma ex-
tensa crítica ao mercantilismo em seu clássico texto de 1776, Uma Investigação
sobre a Natureza e Causas da Riqueza das Nações.192 A partir dessa obra é que
nasce, teoricamente, a ideologia do capitalismo de “livre mercado”, rejeitando
aquilo que é frequentemente chamado de capitalismo “Estatal”, em termos mod-
ernos, em que o Estado “interfere” na “liberdade” do mercado - uma característi-
ca central do Mercantilismo.193
Definindo Capitalismo
O capitalismo195 como conhecido atualmente, não só em sua teoria econômica,
mas com seus poderosos efeitos políticos e sociais, surgiu na sua forma, como já
observado, muito lentamente ao longo de um período de vários séculos. Deve ser dito
de antemão que não há acordo completo entre os historiadores/teóricos da economia
a respeito de quais realmente são as características essenciais do capitalismo. No
entanto, reduziremos, aqui, a sua caracterização histórica (que alguns provavelmente
acharão discutível) a quatro fatores básicos.
2) Propriedade Privada dos Meios de Produção: Isto significa que a sociedade ga-
rante a particulares o direito de ditar como as matérias-primas, ferramentas, máquinas
88
e edifícios necessários à produção podem ser usados.
Ele afirma: “Podemos dizer que o trabalho de seu corpo e a obra produzida por
suas mãos são propriedade sua. Sempre que ele tira um objeto do estado em que foi
fornecido pela natureza, mistura nisso o seu trabalho e a isso acrescenta algo que lhe
pertence; dessa forma o torna sua propriedade.”198 Essa declaração (sinalizando apo-
io ao que viria mais tarde ser associado com a “Teoria de Valor-Trabalho”), propõe
a lógica de que desde que o trabalho é “propriedade” do trabalhador (uma vez que
ele é dono de si mesmo), toda a energia expendida pelo seu trabalho transfere para o
produto obtido o valor de propriedade.
89
ros (“Essa apropriação de um pedaço de terra não era feita em detrimento de nenhum
outro homem, pois havia suficiente [e em boa qualidade] para todos...” 201).
Finalmente, a condição “Deus não criou nada para que os homens desperdiçassem
ou destruíssem”206 é anulada por uma nova associação de que o dinheiro, sendo ouro
ou prata, na época, simplesmente não se deteriora. “Assim foi estabelecido o uso do
dinheiro - alguma coisa duradoura que o homem podia guardar sem que se deteri-
orasse e que, por consentimento mútuo, os homens utilizariam na troca por coisas
necessárias à vida, realmente úteis, mas perecíveis.”207
É aqui onde se encontra, pelo menos no discurso literário, a verdadeira semente da
justificação da propriedade capitalista, onde o uso do dinheiro, tratado em si como uma
mercadoria abstrata (na verdade, uma assumida personificação do “trabalho”), permitiu
o nascimento de uma evolução no pensamento e na prática, que cada vez mais alterou
o foco da produção relevante (o “cultivo” de Locke) para uma simples mecânica de
propriedade e de busca por lucro.208
Adam Smith
Adam Smith (1723-1790) é frequentemente citado como um dos filósofos
econômicos mais influentes da história moderna. Sua obra, mesmo que naturalmente
baseada em escritos filosóficos de outros antes dele, é muitas vezes considerada um
90
ponto de partida para o pensamento econômico no contexto do capitalismo moderno.
Atingindo a maturidade no início da Revolução Industrial,209 Smith viveu em uma
época em que as características inerentes ao “modo de produção” capitalista estavam
se tornando cada vez mais evidentes, haja vista a introdução de fábricas e mercados
concentrados e centralizados.
Como se sabe, em 1776, Smith publicou sua obra hoje mundialmente famosa
Uma Investigação sobre a Natureza e Causas da Riqueza das Nações. Entre outras
observações relevantes, ele parece ser o primeiro a reconhecer as três principais cat-
egorias de renda da época - (a) lucros, (b) arrendamentos e (c) salários - e como eles
se relacionam com as principais classes sociais do período - (a) capitalistas, (b) donos
de terras e (c) trabalhadores. É interessante notar que o papel dos donos de terras/
arrendamentos, raramente discutido hoje nos tratados econômicos modernos, foi um
ponto de foco comum na época, pois os sistemas pré-industriais, ainda em grande
parte agrários, destacavam os donos de terras (que mais tarde, nas atuais teorias de
mercado, seriam dissolvidos em sua classificação como simples proprietários).
A contribuição mais notável de Smith para a filosofia capitalista foi a sua noção de
que, apesar de os indivíduos poderem agir de forma mesquinha, egoísta, em seu próprio
benefício ou do grupo, ou classe, a que pertencem, e mesmo que o conflito, tanto in-
dividual ou de classe, pareça ser o resultado dessas ações, há o que ele convencionou
chamar de uma “mão invisível”, que garantiria um resultado social positivo a partir
dessas intenções individuais, egoístas e não-sociais. Esse conceito foi apresentado em
suas obras A Teoria dos Sentimentos Morais210 e A Riqueza das Nações.
Nessa última, ele afirma: “Portanto, já que cada indivíduo procura, na medida
do possível, empregar seu capital em fomentar a atividade nacional e dirigir de tal
maneira essa atividade para que seu produto tenha o máximo valor possível, cada
indivíduo necessariamente se esforça por aumentar ao máximo possível a renda an-
ual da sociedade. Na realidade, geralmente, ele não tenciona promover o interesse
público, nem sabe até que ponto o está promovendo. Ao preferir fomentar a atividade
do país e não de outros países, ele tem em vista apenas sua própria segurança; e ori-
entando sua atividade de tal maneira que sua produção possa ser de valor maior, visa
apenas seu próprio ganho e, nesse, como em muitos outros casos, é levado como que
por uma mão invisível a promover um objetivo que não fazia parte de suas intenções.
Aliás, nem sempre é pior para a sociedade que esse objetivo não faça parte das in-
tenções do indivíduo. Ao perseguir seu próprio interesse, o indivíduo muitas vezes
promove o interesse da sociedade muito mais eficazmente do que quando tenciona
realmente promovê-lo.”211
Esse ideal quase religioso teve um efeito poderoso na era pós-Smith, dando
uma justificativa muito social para o comportamento, por natureza, anti-social e au-
91
to-maximizante, comum à psicologia Capitalista. Essa filosofia básica estava para
se desenvolver, em parte, como a fundação da economia “Neoclássica”212, ao final
do século XIX.
Smith, sabendo muito bem dos conflitos de classe inerentes ao capitalismo, passa
a discutir a natureza de como alguns homens ganham “... superioridade sobre a maior
parte de seus irmãos”,213 reforçando o que passou a ser considerado por outros teóri-
cos como uma “lei da natureza” sobre o poder humano e a subjugação. Sua visão de
propriedade estava em harmonia com John Locke, elaborando sobre a forma como
a própria sociedade se manifesta em torno dela. Ele afirmou: “O governo civil, na
medida em que é instituído para garantir a propriedade, de fato o é para a defesa dos
ricos contra os pobres, ou daqueles que têm alguma propriedade contra os que não
têm propriedade alguma.”214
Propriedade, como instituição, também requer um meio que justifique seu respec-
tivo valor. Com esse fim, várias “Teorias de Valor” foram e continuam sendo postu-
ladas. Frequentemente baseada na Política de Aristóteles, a contribuição de Smith
ainda é amplamente citada como uma influência fundamental. Na realidade, Smith
se baseia na premissa de produção/propriedade de Locke, chamada de “mistura de
trabalho”, e, a partir daí, estende-a, criando a “Teoria do Valor-Trabalho”.
Ele afirma: “O trabalho foi o primeiro preço a ser pago por todas as coisas, a
moeda de troca original. Não foi por ouro ou por prata, mas pelo trabalho, que toda
a riqueza do mundo foi originalmente comprada, e seu valor, para aqueles que o
possuem, e que querem trocá-lo por algumas novas produções, é precisamente igual
à quantidade de trabalho que pode capacitá-los a comprar ou comandar”.215 Muitos
capítulos do Livro I de A Riqueza das Nações trabalham para explicar a natureza de
preços/valores de acordo com suas categorias de renda/classe de “salários”, “arren-
damentos” e “lucros”. No entanto, nota-se que sua lógica é bastante circular, espe-
cialmente quando se percebe que as atribuições de preços se originam simplesmente
de outras atribuições, em uma cadeia sem um ponto de partida real, a não ser a fraca
distinção de trabalho empregado, que não tem, é claro, nenhuma qualificação mon-
etária estática ou intrínseca. Esse problema de ambiguidade em ambas as teorias de
valor dominantes, a de “trabalho” e a de “utilidade”, comuns à teoria de mercado
Capitalista, será abordado em detalhes mais adiante neste ensaio.
92
como será discutido mais tarde no ensaio “Distúrbio do Sistema de Valor”, é uma
suposição bastante ingênua sobre o comportamento humano e, de fato, uma con-
tradição.
Malthus e Ricardo
Thomas Malthus (1766-1834) e David Ricardo (1772-1823) foram dois conhe-
cidos teóricos, pioneiros na economia política do início do século XIX. Eles eram
“rivais amigáveis” em algumas perspectivas, mas, a partir de uma visão histórica
ampla, compartilhavam praticamente o mesmo ponto de vista, intimamente ligado
ao de Adam Smith.
Começando com Malthus, sua obra clássica Um Ensaio sobre o Princípio de Pop-
ulação orienta-se essencialmente em torno de dois pressupostos. O primeiro é que
a estrutura de classes de proprietários abastados e trabalhadores pobres inevitavel-
mente iria reemergir, não importando quais reformas fossem tentadas.219 Ele consid-
erou isso uma lei da natureza. A segunda ideia, em parte corolária da primeira, era
simplesmente que a pobreza e o sofrimento e, portanto, as divisões econômicas, eram
consequências inevitáveis da
lei natural.220
93
quantidade de filhos. Logo, a população seria muito em breve empurrada de volta
para a pobreza através da “população” ultrapassando a “subsistência”. Era somente
por meio da “restrição moral”222, uma qualidade social que ele alega pertencer aos
membros da classe alta, que esse problema seria contornado pelo comportamento.
Evidentemente, a diferença entre os ricos e os pobres era o grande caráter moral dos
primeiros e a mesquinhez dos últimos.223
Mais uma vez, como observado antes neste ensaio, a condição cultural teve muita
influência nas premissas do pensamento que orientaram as operações econômicas até
os dias atuais. Enquanto muitos podem, atualmente, descartar Malthus e essas ide-
ias claramente ultrapassadas, suas sementes criaram raízes profundas nas doutrinas
econômicas, valores e relações de classe ocorridas durante e depois de seu tempo.
Na verdade, variações de sua teoria populacional ainda são comumente citadas, por
aqueles com uma mentalidade mais “conservadora”, em relação a países economica-
mente menos desenvolvidos.
Da mesma forma, assim como há, atualmente, um grande debate legislativo a re-
speito da noção e uso do “bem-estar” ou programas de “auxílio estatal” em benefício
dos pobres,224 Malthus, naturalmente, era um grande defensor da abolição do que foi
chamado de “Leis Pobres”, assim como foi David Ricardo.
94
lema em Economia Política”.225
95
que fiz não levem à conclusão de que as máquinas não devem ser incentivadas. Para
elucidar o princípio, estive supondo que, de repente, máquinas melhores são desco-
bertas e logo amplamente utilizadas; mas a verdade é que essas descobertas são grad-
uais, e antes operam em determinar a aplicação do capital guardado e acumulado, que
desviando o capital de qualquer aplicação”.231
O assunto é trazido aqui como um destaque, porque ele será revisto na Parte III
deste texto, junto a um contexto de aplicação tecnológica aparentemente não com-
preendido ou ignorado pelos principais teóricos da economia da história moderna,
que, mais uma vez, estão muitas vezes presos em uma estreita margem de referência.
Como uma consideração final sobre Ricardo, também o creditam por sua con-
tribuição ao “livre-comércio” internacional, especificamente em sua Teoria da Van-
tagem Comparativa e a perpetuação do etos básico sobre a “mão invisível” de Adam
Smith. Ricardo afirma: “Sob um sistema de comércio perfeitamente livre, cada país
naturalmente dedica seu capital e trabalho à aplicação mais benéfica para cada um.
Essa busca de vantagem individual é admiravelmente ligada ao bem universal do
todo. Ao estimular a indústria, recompensar a engenhosidade e utilizar mais efica-
zmente as capacidades conferidas pela natureza, o trabalho é distribuído da forma
mais efetiva e econômica: ao passo que, através do aumento da produção em massa,
o benefício geral é difundido, e une-se, por um laço recíproco de interesses e relações,
a sociedade universal das nações do mundo civilizado”.233
96
concomitante a pouca “restrição” ao próprio mercado.
Como uma nota singela, em nenhum lugar nos escritos desses pensadores ou na
grande maioria das obras produzidas pelos teóricos posteriores em favor do Capital-
ismo de “livre mercado”, a real estrutura e processos de produção e de distribuição
são discutidos. Há uma desvinculação explícita entre “Indústria” e “Negócios”, o
primeiro relacionando-se ao processo técnico/científico do verdadeiro desdobra-
mento econômico, e o último apenas referindo-se às dinâmicas codificadas do mer-
cado e à busca de lucro. Como será discutido mais adiante, um problema central,
inerente ao modo de produção capitalista, é como os avanços na “abordagem indus-
trial”, que podem permitir um aumento da resolução de problemas e promoção de
prosperidade, foram bloqueados pelos dogmas aparentemente imutáveis da “abor-
dagem de negócios” tradicional. Esta última tem regido as ações da primeira, em
detrimento do seu potencial.
97
ilidade. Enquanto a Teoria do Valor-Trabalho assume, basicamente, a perspectiva do
trabalho ou produção, a Teoria do Valor-Utilidade toma o que poderíamos chamar de
“perspectiva de mercado”: o valor não é derivado do trabalho, mas do propósito (ou
utilidade) de seu uso (valor de uso) pelo consumidor, conforme por ele percebido.
Por baixo dessas ideias sobre o comportamento humano, como acontece com
a maioria das teorias econômicas, estão, mais uma vez, valores e suposições tradi-
cionalizadas. O economista Nassau Senior (1790-1864) apoiou um tópico popular
e hoje recorrente de que os desejos humanos são infinitos: “O que nós queremos
afirmar é que nenhuma pessoa sente que todas suas vontades estão adequadamente
supridas: que cada pessoa tem alguns desejos insatisfeitos das quais ele acredita que
uma riqueza adicional iria gratificar.”239 Tais declarações sobre a natureza humana
são constantes nestes tratados, com noções de ganância, medo e outros mecanismos
de reflexos hedonistas que assumem, entre outras coisas, que a aquisição material, de
riqueza e ganho são inerentes à felicidade.
98
Hoje, a perspectiva microeconômica dominante e amplamente aceita é a de que
todo o comportamento humano é redutível a tentativas estratégicas racionais para
maximizar os lucros ou ganhos e evitar a dor ou perda. Argumentos utilitaristas sem-
pre expansivos dessa natureza continuam a ser utilizados para justificar moralmente
o competitivo Capitalismo de “Livre Mercado”. Um exemplo disso é a noção de
“voluntarismo” e a sugestão de que todos os atos no mercado nunca são coagidos
e, portanto, todos são livres para tomar suas próprias decisões para o seu ganho ou
perda. Essa ideia é extremamente comum hoje em dia, como se tais “trocas livres”
existissem num vazio, sem outras pressões sinergéticas; como se as pressões pela
sobrevivência, em um sistema com claras tendências para uma luta de classes e es-
cassez estratégica, não gerasse uma coerção inerente, forçando os trabalhadores a se
submeterem à exploração capitalista.240
99
humanos têm expressado historicamente o interesse racional de sofrer no presente, a
fim de ganhar (ou esperar ganhar) no futuro. Altruísmo, que passou por amplo debate
filosófico, poderia muito bem estar enraizado em formas de “prazer” obtido pelo ato
(doloroso) altruísta em benefício de outros. Como será discutido mais tarde, a prem-
issa de dor e prazer apresentada por tais argumentos, reforçada por uma reação im-
pulsiva por ganho, tornou-se um padrão socialmente recompensado. Isso tem gerado
uma mentalidade onde ganho a curto prazo é procurado e, frequentemente, às custas
de sofrimento a longo prazo, na verdade.
A Insurreição “Socialista”
O Socialismo, como o Capitalismo, não tem uma definição aceita universal-
mente no discurso público em geral, mas é frequentemente definido, em termos
técnicos, como “um sistema econômico caracterizado pela propriedade social dos
meios de produção e pela gestão cooperativa da economia”.242 A raiz do pensamen-
to socialista parece remontar ao século XVIII na Europa, em uma história com-
plexa de “reformadores” desafiando o sistema Capitalista emergente. Graco Babeuf
(1760-1797) é um teórico notável dessa área com a sua “Conspiração dos Iguais”,
que tentou derrubar o governo francês. Ele afirmou: “A sociedade deve ser feita
para operar de tal maneira que elimine de uma vez por todas o desejo de um homem
em se tornar mais rico, ou mais sábio, ou mais poderoso que os outros.”243 O an-
arco-socialista francês Pierre Joseph Proudhon (1809-1865) é famoso por declarar
que “Propriedade é Furto” na sua obra O que é a Propriedade? Uma Investigação
sobre o Princípio do Direito e do Governo.
100
Thompson, Karl Marx e Thorstein Veblen.
101
abastecido ou próximo de o ser, com o item do qual está propenso a fabricar?...E caso
um erro de julgamento... o leve a uma produção desnecessária, e, portanto, inútil, qual
é a consequência? Um simples erro de julgamento...pode acabar em grave dificuldade,
se não em ruína. Casos desse tipo parecem ser inevitáveis sob o regime de competição
individual em sua melhor performance”.249
Karl Marx (1818-1883), ao lado de muitos outros, foi influenciado pelo tra-
balho de Thompson e é provavelmente um dos mais conhecidos filósofos econômi-
cos hoje. Com seu nome frequentemente associado de forma depreciativa aos
perigos das atitudes do Comunismo Soviético, ou “totalitarismo”, Marx também
é provavelmente o mais incompreendido de todos os economistas popularizados.
Embora mais famoso na mente do público geral por apresentar tratados sobre ide-
ias Socialistas-Comunistas, Marx, na verdade, passou a maior parte de seu tempo
com o assunto Capitalismo e suas operações. Sua contribuição para o compreensão
do capitalismo é mais ampla do que muitos imaginam, pois, hoje, muitos termos
e jargões econômicos comumente usados em conversas sobre o capitalismo, na
verdade, encontram raiz nos tratados literários de Marx. Sua perspectiva era, em
grande parte, histórica, e contava com conhecimentos bem detalhados sobre a
evolução do pensamento econômico. Devido ao tamanho imenso de seu trabalho,
apenas algumas questões influentes serão abordadas aqui.
Uma questão a ser destacada é a sua consciência de como a “troca”, uma carac-
terística capitalista, tornou-se a base primordial das relações sociais. Ele declarou em
sua obra Grundrisse: “De fato, na medida em que a mercadoria ou o trabalho é con-
cebido apenas como valor de troca, e a relação em que os vários produtos são postos
em contato um com o outro é concebida como a troca desses valores de troca ... então
as pessoas... são simples e exclusivamente concebidas como trocadores. Enquanto
o aspecto formal é levado em conta, não há absolutamente nenhuma distinção entre
eles ...Como sujeitos de troca, sua relação é, portanto, a de igualdade “.252
102
mente como proprietários...Um não se apropria do que é do outro à força. Cada um se
despoja de sua propriedade de forma voluntária.”253
Mais uma vez, como antes observado em relação ao tema recorrente das relações
humanas e os pressupostos de classe (ou negações), Marx enfatizou o que poderia ser
chamado de três ilusões principais: a ilusão de liberdade, de igualdade e de harmonia
social, reduzidas a uma associação extremamente limitada em torno da ideia de “tro-
ca mutuamente benéfica”, que seria o único relacionamento econômico real pelo qual
toda a sociedade deve ser avaliada.
103
remete à conclusão de que a exploração dos trabalhadores era inerente à criação de
“excedente” ou “lucro”. Em outras palavras, como implicação, essa foi uma forma de
desigualdade básica incorporada ao sistema Capitalista, e enquanto um pequeno gru-
po de “donos” controlarem o valor excedente criado pela classe trabalhadora, sempre
haverá ricos e pobres, riqueza e pobreza.
Marx amplia ainda mais essa ideia fazendo uma reavaliação da “propriedade”,
que era, nessa circunstância, essencialmente a base legal do próprio “capital”,
permitindo a explícita expropriação coerciva do “trabalho excedente” (a parte do
trabalho que gera excedente), quando declara: “No início, os direitos de proprie-
dade nos pareceram ser baseados no próprio trabalho do homem. Pelo menos, tal
suposição era necessária uma vez que apenas proprietários de commodities com
direitos iguais poderiam se equiparar, e o único meio pelo qual um homem poderia
tornar-se proprietário de mercadorias alheias era através alienação (desvinculação)
de suas próprias commodities; e estas poderiam ser substituídas apenas pelo tra-
balho. Agora, no entanto, a propriedade passou a ser o direito, por parte do capi-
talista, de se apropriar do trabalho não remunerado (trabalho excedente) de outras
pessoas ou do seu produto, e a ser a impossibilidade, por parte do trabalhador, de
se apropriar do seu próprio produto. A separação feita entre propriedade e trabalho
tornou-se a consequência necessária de uma lei que aparentemente teve origem
com a identidade de ambos.”257
104
ideias influentes sobre o desenvolvimento e falhas do capitalismo serão exploradas
aqui. Como Marx, ele tem a vantagem do tempo no que diz respeito à digestão da
história econômica. Veblen ensinou economia em várias universidades durante sua
vida, produzindo literatura prolificamente sobre várias questões sociais.
Ele viu a produção e a própria indústria como um processo social em que as linhas
estavam acentuadamente turvas, pois envolvia invariavelmente a partilha de con-
hecimentos (usufruto) e habilidades. De muitas maneiras, via essas características
categóricas do Capitalismo serem inerentes ao Capitalismo em si, e não, represen-
105
tativas da realidade física, mas apenas um grande artifício. Descobriu que a teoria
Neoclássica dominante existiu, em parte, para ocultar a luta de classes e a hostilidade,
inerentes e fundamentais, para proteger ainda mais os interesses dos que ele chamou
de “Interesses Excusos” ou “Proprietários Ausentes” (Capitalistas)262.
Rejeitou a ideia de que a “propriedade privada” era um “direito natural”, como foi
assumido por Locke, Smith e outros, muitas vezes fazendo piadas sobre o absurdo do
pensamento que leva os “Proprietários Ausentes” a reivindicar a “posse” de merca-
dorias produzidas, na realidade, pelo trabalho do “trabalhador comum”, destacando o
absurdo do princípio antigo de que a partir do trabalho advém a propriedade.263 Foi
mais longe para expressar o inerente caráter social da produção e como a verdadeira
natureza da habilidade e da acumulação de conhecimento anulavam completamente
a suposição de direitos de propriedade em si mesma, quando afirmou:
Tal como aconteceu com Marx, ele não viu outra maneira de distinguir as duas
principais classes da sociedade do que as separando entre aquelas que trabalham
e aquelas que exploram esse trabalho265, tendo a parte lucrativa do capitalismo
(o “Negócio”) completamente separada da produção em si ( “Indústria”). Ele
faz uma distinção clara entre Empresas e Indústria e refere-se à primeira como
funcionando como um veículo de “sabotagem” para a indústria. Ele viu uma
completa contradição entre a intenção ética da comunidade em geral em produzir
eficientemente e com bons serviços, e as leis de propriedade privada, que tinham
o poder de dirigir a indústria para a causa apenas do lucro, reduzindo sua eficiên-
cia e intenção. O termo “sabotagem”, nesse contexto, foi definido por Veblen
como a “retirada consciente de eficiência”.266
Ele afirma: “A planta industrial está cada vez mais operando de forma ociosa
106
ou parcialmente ociosa, operando com sua capacidade produtiva de maneira cada
vez mais reduzida. Trabalhadores estão sendo demitidos... E enquanto essas pessoas
estão em grande necessidade de todos os tipos de bens e serviços que essas plantas
ociosas e operários ociosos estão aptos a produzir. Mas, por razões de conveniência
empresarial é impossível deixar essas plantas ociosas e operários ociosos trabalharem
- ou seja, por não haver lucro suficiente para os homens de negócios, ou em outras
palavras, por não haver renda suficiente para os interesses escusos”.267
Além disso, Veblen, ao contrário da grande maioria das pessoas nos dias atuais
que condenam os atos de “corrupção” por razões éticas, não viu nenhum dos prob-
lemas de abuso e exploração como uma questão de “moralidade” ou “ética”. Viu os
problemas como inerentes - construídos sobre a natureza do próprio Capitalismo. Ele
afirma: “Não é que esses capitães dos Grandes Negócios cujo dever é administrar
esta sabotagem mínima salutar na produção sejam maus. Não é que eles pretendam
encurtar a vida humana ou aumentar o desconforto humano, maquinando um aumen-
to de privação entre seus semelhantes... A questão não é saber se esse tráfego com
privações é humano, mas se é uma boa gestão empresarial”.268
No que diz respeito à natureza do governo, a visão de Veblen foi muito clara: o
governo, pela sua própria construção política, existia para proteger as estruturas de
ordem social e de classes existentes, reforçando as leis de propriedade privada e, por
extensão, reforçando a desproporcional classe dominante (no poder). “A legislação,
vigilância policial, a administração da justiça, os militares e o serviço diplomático,
todos estão principalmente preocupados com as relações de negócios, interesses pe-
cuniários, e eles têm uma preocupação pouco mais que casual com outros interesses
humanos”,269, afirmou.
107
es - o que Veblen chamou de “Cultura Pecuniária”. Portanto, os hábitos predatóri-
os, egoístas e competitivos típicos do “sucesso” na guerra social subjacente iner-
ente ao sistema Capitalista, naturalmente reforçam aqueles valores. Ser generoso
e vulnerável é de pouca utilidade para o “sucesso” nesse contexto, pois o cruel e
estrategicamente competitivo são ícones da recompensa social.273
Da mesma forma, o sistema de mercado, com suas suposições muito antigas acer-
ca das possibilidades, também ignora (ou até mesmo confronta) os avanços poder-
osos na ciência e tecnologia, que expressam capacidade para resolver problemas e
criar uma elevada prosperidade. De fato, como será explorado no ensaio “Eficiência
de Mercado vs. Eficiência Técnica”, tais ações progressistas e de um reconhecimento
108
da harmonia em relação ao habitat e ao bem-estar humano revelam que Capitalismo
de “Livre Mercado”, literalmente, não faculta essas soluções, já que em sua própria
mecânica padrão dispensa ou funciona contra tais possibilidades.
Hoje, a única real Teoria de Valor vigente é a que poderia ser chamada de “Sequên-
cia Monetária de Valor”.275 O dinheiro tem assumido vida própria no que diz respeito
à reforçada psicologia de sua circulação. Não possui nenhum propósito definido dire-
tamente, apenas o de gerar mais dinheiro a partir de menos dinheiro (investimento).
Esse fenômeno de “dinheiro gerando dinheiro” não só criou um distúrbio no sistema
de valor, em que esse interesse em ganho monetário supera tudo o mais, tornando
secundárias e “externas” ao foco da economia as questões ambientais e de saúde
pública verdadeiramente relevantes, mas sua propensão constante em “multiplicar”
e “expandir” possui, realmente, um aspecto canceroso - essa ideia de “crescimento”
necessário, ao invés de um estado de equilíbrio estacionário - e continua o seu efeito
patológico em diferentes níveis.
Muito poderia ser dito sobre o sistema de dívida276 e sobre como praticamente
todos os países do planeta Terra estão agora em dívida com eles mesmos, na medi-
109
da em que nós, a “espécie humana”, na verdade não temos dinheiro suficiente em
circulação para nos pagar de volta o que tomamos emprestado do nada. A necessi-
dade de mais e mais “crédito” para abastecer o “mercado” é constante hoje devido
a esse desequilíbrio, o que significa que, como no câncer, estamos lidando com a
intenção de expansão e consumo infinitos. Isso simplesmente não funciona em um
planeta finito.
Além disso, o etos competitivo, orientado pela escassez inerente ao nosso mod-
elo, continua a perpetuar a luta de classes sectarista que mantém em guerra consigo
mesmo não só o mundo, através do imperialismo e do protecionismo, mas também
a população geral. Hoje, muitos andam por aí com medo uns dos outros, já que a
exploração e o abuso é o etos dominante recompensado. Todos os seres humanos se
adaptaram a essa cultura em que vemos uns aos outros, desnecessariamente, como
ameaças a nossa própria sobrevivência, em contextos “econômicos” cada vez mais
abstratos. Por exemplo, quando duas pessoas chegam a uma entrevista de emprego
em busca de sustento, não estão interessadas no bem-estar uma da outra, já que
apenas uma sairá empregada. Na verdade, a capacidade empática é uma pressão
negativa nesse sistema de vantagem, e é completamente não recompensada pelo
mecanismo financeiro.
110
conflito humano desde a sua origem e, como observado, a noção histórica de con-
flito humano, no nível de classe, é vista pela maioria como “óbvia”, “natural” ou
“imutável”. No modelo social existente, extraído de uma referência orientada ineren-
temente pela escassez, xenofobia e racismo, não há tal coisa como a paz ou equilíbrio.
Simplesmente não é possível no modelo Capitalista. Da mesma forma, a ilusão de
igualdade entre as pessoas, nas sociedades ditas “democráticas”, também persiste, as-
sumindo que de alguma forma a igualdade política pode se manifestar fora da explíci-
ta desigualdade econômica inerente a este modo de produção e de relações humanas.
111
Notas e Referências: Capítulo 8
[167] The Cancer Stage of Capitalism, John McMurtry, Pluto Press, 1999,
p.viii
[172] Aristóteles (384 aC-322 aC), enquanto creditado com vasta con-
tribuição científica, lógica e filosófica, também era a favor da escravidão,
justificando a realidade com o que poderia ser alegado como viés, não
razão. Ele declarou: “Mas será que existe alguém assim destinado pela
natureza para ser um escravo, e para quem tal condição é conveniente
e correta, ou melhor, não é toda a escravidão uma violação da natureza?
Não há dificuldade em responder a esta questão, no terreno da razão e
da verdade. Por que alguns devem governar e outros serem governados
é algo, não só necessário, mas apropriado, a partir da hora de seu na-
scimento, alguns estão marcados para a sujeição, outros para governar”.
Política, Livro I, Capítulos III a VII
112
[173] O termo “Idade Média” geralmente refere-se ao período da história
européia que durou do século V ao século XV.
[183] Os
padrões de consumo da sociedade moderna têm mostrado
uma natureza arbitrária com relação ao “Querer Humano”, assim como a
poderosa mudança de valores que ocorreu no início do século 20 com a
aplicação de publicidade ocidental moderna. “Necessidades Humanas”,
no entanto, são necessidades básicas, em grande parte compartilhadas
por todos os seres humanos, que mantêm a saúde física e psicológica.
113
[184] Ver o ensaio prévio “Definindo Saúde Pública”.
[191] The Growth of Economic Thought, Henry William Spiegel, Duke Uni-
versity Press, 3 Ed, 1991, pp.93-118.
[192] A Riqueza das Nações, Adam Smith, 1776, Livro IV: Dos Sistemas
de Economia Política
114
[196] Enquanto um “Capitalista” pode ser considerado uma pessoa a
favor desta abordagem para a economia, uma definição mais precisa de-
nota “uma pessoa que tem capital, especialmente capital extenso, inves-
tido em negócios de empresas.” [http://dictionary.reference.com/browse/
capitalist]. Em outras palavras, esta é uma pessoa que possui ou investe
capital para um retorno ou lucro, mas mesmo assim não tem a obrigação
de contribuir para a produção efetiva ou trabalho de qualquer natureza.
115
a partir de cerca de 1760 a algo entre 1820 e 1840, inicialmente na Euro-
pa. Foi essencialmente a transição/aplicação de processos de fabricação
novos, de base tecnológica.
[214] Ibid.
[215] Ibid.
[220] Ele afirma: “Aparentou-se, que a partir das leis inevitáveis da nossa
116
natureza alguns seres humanos devam sofrer pela miséria. Estas são as
pessoas infelizes que, na grande loteria da vida, têm tirado um bilhete em
branco “. [Ensaio sobre o Princípio da População, Thomas Malthus, 1798,
capítulo 10]
117
tangíveis que uma organização utiliza para produzir bens ou serviços,
tais como edifícios de escritórios, equipamentos e máquinas. Os bens de
consumo são o resultado final deste processo de produção. [http://www.
investopedia.com/terms/c/capitalgoods.asp#axzz2Gxg1RmR6]
[242] http://www.britannica.com/EBchecked/topic/551569/socialism
[244] An Inquiry into the Principles of the Distribution of Wealth Most Con-
ducive to Human Happiness, William Thompson, London, William S. Orr,
1850, p.17
[247] Ibid.
118
[250] Ibid., p.263
[255] Capital, Karl Marx, Foreign Languages reprint, Moscou, 1961, vol. 3,
p.163
[266] The Engineers and the Price System, Thorstein Veblen, New York,
Augustus M. Kelley, 1965, p.1
119
[269] The Theory of Business Enterprise, Thorstein Veblen, New York,
Augustus M. Kelley, 1965, p.269
[275] Esta frase foi apresentada por John McMurtry em sua obra The
Cancer Stage of Capitalism, Pluto Press, 1999
120
Capítulo 9
Eficiência de Mercado
vs. Eficiência Técnica
Visão geral
O desenvolvimento científico, mesmo evoluindo paralelamente ao desenvolvi-
mento econômico tradicional ao longo dos últimos 400 anos ou mais, tem ainda sido
largamente ignorado e visto como uma “externalidade” pela teoria econômica. O
resultado tem sido uma “separação” entre a estrutura socioeconômica e a estrutura de
suporte à vida a qual estamos todos ligados, e da qual todos nós dependemos. Hoje,
na maioria dos casos, além de certos pressupostos técnicos com relação a como um
sistema não baseado na dinâmica do mercado e no “mecanismo de preços”277 poderia
funcionar, o argumento mais comum de apoio ao capitalismo de mercado é que ele é
um sistema de “independência” ou “liberdade”.
A extensão dessa veracidade depende muito da interpretação, mesmo que tais ter-
mos genéricos sejam onipresentes na retórica dos defensores do modelo.278 Parece que
tais noções são, em verdade, reações às tentativas anteriores de sistemas sociais alterna-
tivos que geraram problemas de poder como o “totalitarismo”.279 Assim, desde então,
com base nesse medo, qualquer modelo concebido fora da estrutura capitalista é muitas
vezes impulsivamente relegado à suposta tendência histórica rumo à “tirania” - e, em
seguida, descartado.
Seja como for, este gesto subjacente de “liberdade”, seja qual for sua implicação
subjetiva, gerou uma neurose ou confusão sobre o que significa para uma espécie
como a nossa sobreviver e prosperar no habitat - um habitat claramente regido por
121
leis naturais. O que descobrimos é que, no âmbito do nosso relacionamento com o
habitat, simplesmente não somos livres, e ter uma orientação predominante de va-
lores de uma suposta liberdade, a qual é então aplicada no modo como deveríamos
operar nossa economia global, tornou-se cada vez mais perigoso para a sustentabili-
dade humana no planeta terra.280
Também não há discussão de que a psique humana, por mais complexa que seja,
apresenta, em média, reações básicas previsíveis a estressores ambientais, e, logo,
como reações de violência, depressão, abuso e outras questões comportamentais neg-
ativas possam daí resultar.283
Essa perspectiva científica, causal ou técnica das relações econômicas reduz to-
dos os fatores relevantes a um quadro de referência e a uma linha de pensamento
relacionados à nossa compreensão atual do mundo físico e suas dinâmicas tangíveis
naturais. Essa lógica considera a ciência do estudo humano, logo, mais uma vez, a
natureza em comum das necessidades humanas e da saúde pública, e combina estas
com as regras comprovadas do nosso habitat, com o qual estamos, sinérgica e simbi-
oticamente, conectados. Conjuntamente, um modelo racional de operação econômica
122
partindo “do zero” pode ser generalizado com pouquíssima necessidade dos séculos
de estabelecimento da teoria econômica tradicional.284
Isso não quer dizer que esses argumentos históricos não possuem valor no que
diz respeito à compreensão da evolução cultural, mas sim que, se uma visão de
mundo verdadeiramente científica é assumida em relação ao que “funciona” ou
“não funciona” na estratégia de eficiência que é exigida pelo jogo de xadrez da
sobrevivência humana, há pouca necessidade de uma abstração sobre a referência
histórica. Essa visão se situa no cerne da lógica reformista do MZ e será revista,
mais uma vez, na parte III deste texto.
123
O crescimento econômico, que é geralmente definido como “um aumento da ca-
pacidade de uma economia em produzir bens e serviços, em comparação com outro
período de tempo”288, é um interesse constante de qualquer economia nacional de
hoje e, consequentemente, da economia global. Muitas táticas macroeconômicas são
utilizadas, frequentemente, em épocas de recessão para facilitar empréstimos, pro-
dução e consumo, a fim de manter uma economia funcionando em seu nível atual
ou, preferencialmente, além dele.289 O ciclo de negócios, um período de expansão
e contração oscilante, tem sido reconhecido como uma característica da economia
de mercado, devido à natureza de “disciplina do mercado”, ou de correção, o que,
segundo os teóricos, é em parte um aumento e diminuição naturais dos sucessos e
fracassos nos negócios.290
O resultado tem sido, em suma, um aumento constante da oferta de dinheiro (ou seja,
do poder de compra e do capital) em épocas de recessão, resultando em uma dívida global
maciça, tanto pública quanto privada.291 A verdade é que todo o dinheiro passa a existir
a partir de empréstimos, e cada um desses empréstimos é feito com juros, pois o emprés-
timo e a taxa de juros acumulada (lucro do banco) devem ser pagos; significando que a
própria natureza da criação monetária, por padrão, implica automaticamente um saldo
negativo. Existe sempre mais dívida do que dinheiro em circulação.292
124
Então, voltando ao ponto principal que diz respeito à necessidade de demanda e
consumo para manter o funcionamento da economia, esse processo de troca com foco
geral no crescimento está no coração do contexto de “eficiência” do mercado. Não
importa o que esteja sendo produzido ou o seu efeito sobre o estado das relações hu-
manas ou terrenas. Essas são todas, novamente, “externalidades”. Como um exemplo
concentrado dessa lógica, o mercado de ações, que em si não é nada mais do que o
comércio de dinheiro e de seus agora numerosos “derivativos”, gera um enorme PIB
e um “crescimento” através dos lucros e vendas resultantes.293
No entanto, sem dúvida, esse mercado não produz nada de valor tangível ou de
suporte à vida. O mercado de ações e as instituições financeiras agora maciçamente
poderosas são completamente auxiliares à economia produtiva real. Enquanto mui-
tos argumentam que essas instituições de investimento facilitam os negócios e os
empregos pela aplicação de capitais, esse ato, mais uma vez, só é sistemicamente
relevante no sistema atual (eficiência de mercado) e totalmente irrelevante em termos
de produção real (eficiência técnica).
Por exemplo, a comunicação por satélite hoje, por mais intelectualmente sofis-
ticada, em que incorpora uma grande quantidade de conhecimento elaborado, é, na
realidade física, bastante simples e eficiente em seus recursos em comparação com as
alternativas anteriores de comunicação, que em suas aplicações globais envolveram
uma enorme quantidade de materiais pesados, tais como fios de cobre pesados, jun-
tamente com a difícil tarefa, muitas vezes arriscada, de assentar esses materiais por
meio da força de trabalho humana. O que é feito hoje, em geral, com um conjun-
to de pequenos satélites globais em órbita é realmente incrível, comparativamente.
125
Essa revolução de design, que vai ao coração do que a verdadeira eficiência (técnica)
econômica significa, está em oposição direta ao consumo cíclico do modelo econômi-
co baseado em crescimento.
126
preço “competitivamente” baixo para o consumidor. Esse mecanismo é chamado,
tradicionalmente, de “custo-benefício”, e tem como resultado produtos relativamente
inferiores no momento mesmo em que são produzidos. Essa necessidade competitiva
permeia cada etapa da produção, consequentemente, há uma redução da eficiência
técnica ao longo do tempo pelo uso de materiais, meios e projetos mais baratos.
Ao invés de permitir que a vida útil de um bem fosse determinada pela sua ca-
pacidade natural, com a intenção lógica de uma lei natural de que ele existisse por
tanto tempo quanto possível, dados os recursos limitados de um planeta finito e um
interesse natural em economia de energia, materiais e recursos humanos, as corpo-
rações decidiram que seria melhor criar sua própria “vida útil” para os bens, inibindo,
deliberadamente, eficiência.300
Na década de 1930, alguns até mesmo quiseram tornar obrigatório que todas
as indústrias, de forma legal, decidissem os ciclos de vida útil não pelo esta-
do natural da capacidade tecnológica, mas pela simples necessidade contínua de
trabalho e aumento do consumo. Na verdade, o exemplo histórico mais notável
127
deste período foi o cartel da lâmpada Phoebus, na década de 1930, onde, em um
tempo em que as lâmpadas eram capazes de durar até cerca de 25.000 horas, o
cartel forçou todas as empresas a restringir a vida útil das lâmpadas para menos
de 1000 horas para garantir compras repetidas.301 Hoje, todos os principais fab-
ricantes têm a estratégia de limitar os ciclos de vida dos bens com base em mod-
elos de marketing de consumo cíclico, e o resultado não só gera um desperdício
repreensível de recursos finitos, mas também um desperdício constante de tra-
balho humano e de energia. Fora da dinâmica da economia de mercado, é ex-
tremamente difícil argumentar contra a necessidade de um desenho otimizado das
mercadorias. Infelizmente, a natureza da eficiência de mercado não permite por
padrão tal eficiência técnica.
Do ponto de vista da eficiência de mercado, essa é uma coisa boa; quanto mais
compras diretas de bens, melhor. Em geral, se 100 pessoas desejam dirigir um carro,
ter 100 pessoas comprando esses carros é mais “eficiente” para o mercado do que se
100 pessoas compartilharem 20 carros em um sistema estrategicamente projetado de
acesso, permitindo uma utilização com base no tempo de uso real.
128
Todavia, vamos, hipoteticamente, expandir essa ideia do compartilhamento de
conhecimento para o compartilhamento (acesso liberado) de bens materiais. Do pon-
to de vista da eficiência de mercado, essa seria uma extrema inibição. Enquanto ainda
seria gerado lucro no modelo capitalista através do empréstimo de itens para as pes-
soas com base em suas necessidades, esse seria enormemente desproporcional quan-
do comparado com o lucro / consumo em uma sociedade baseada na propriedade
pessoal e separada de cada bem.
Por outro lado, a eficiência técnica seria intensa. Não apenas menos recursos se-
riam utilizados (e menos força de trabalho), uma vez que uma menor quantidade de
cada bem precisaria ser criada para satisfazer o tempo de uso dos cidadãos, mas tam-
bém a disponibilidade de tais bens poderia muito bem se estender a muitas pessoas
que de outra forma não teriam como pagar por eles, mas poderiam pagar uma taxa de
“aluguel” (aqui ainda supondo um sistema de mercado). A este respeito, a eficiência
técnica tem dois níveis - ambiental e social. Do ponto de vista ambiental, uma re-
dução drástica no uso de recursos; do ponto de vista social (todo o resto permanecen-
do igual), um aumento na disponibilidade de acesso a certos bens também ocorreria.
129
temente de um local para outro para fins diversos de produção ou distribuição.
Os negócios, em sua busca por lucro e custo-benefício, procuram, a todo momen-
to, invariavelmente, trabalho, equipamentos e instalações baratas para se manter
competitivos no mercado. O que pode assumir a forma de trabalho local imigran-
te pago com um salário mínimo, um “trabalho escravizante” no exterior, fábricas
de processamento relativamente barato por todo o país, etc.
Esse desprezo pela importância da “eficiência proximal” por parte das in-
dústrias, sejam nacionais ou internacionais, é fonte de muito desperdício. Hoje em
dia, a produção industrial é quase inteiramente internacional, especialmente na
era tecnológica. O grau em que isso se faz necessário, do ponto de vista técnico,
é mínimo, na pior das hipóteses. Enquanto, historicamente, a produção agrícola
tem sido regional, dada a propensão de certas regiões para a produção de certos
tipos de bens, ou, talvez, pelo ambiente mais propício para outros cultivos, essa
é uma pequena produção em relação à grande maioria de bens industriais pro-
duzidos, sem contar as diversas possibilidades tecnológicas atuais que permitem
superar tais necessidades regionais.309
Como será descrito com mais detalhes na parte III deste texto, há uma linha de
raciocínio tecnicamente eficiente em relação à proximidade quando se trata da ex-
tração, produção, distribuição e eliminação ou reciclagem de resíduos. O resultado
ao final seria a preservação de enormes quantidades de recursos e energia humana
- preservação de uma capacidade que, de fato, poderia ser realocada no caso de
necessidade de desenvolver mais projetos, ao invés de descartada como mero des-
perdício através do modelo de mercado atual.310
130
Como uma nota final sobre esse assunto de como a competição limita a eficiência
técnica da produção industrial, aumentando o desperdício - a realidade da “multipli-
cidade” de bens é outro problema. Toda a produção de empresas concorrentes entre si
é normalmente orientada em torno de estatísticas históricas sobre qual é sua “cota de
mercado” e quantos bens elas podem, em média, vender por região; paralelamente,
o próprio fato de várias empresas, que trabalham no mesmo gênero de produção de
bens, produzirem produtos quase idênticos, com apenas pequenas diferenças, só con-
tribui para as fontes desnecessárias de desperdício.
Como também será descrito na próxima subseção, a ideia de, por exemplo,
várias empresas de telefonia celular competirem por participação de mercado com
simples variações de projetos, consequentemente gerando ineficiências relativas
nos mesmos como estratégia para obter melhor custo-benefício, aliado à ausência
geral de compatibilidade entre os componentes em vista do benefício financeiro
de estabelecer padrões de marcas e compatibilidades de sistemas, cria uma outra
complexa rede de ineficiência.311
(b) A segunda questão aqui, como já dito, tem a ver com a forma como a
concorrência afeta a própria inovação ou desenvolvimento criativo. Conquanto
ainda exista hoje a suposição de que recompensas distintas pela contribuição de
alguém motiva outras pessoas a buscarem a mesma recompensa, o que também
é uma comum justificativa sobre a existência de “classes”, estudos sociológicos
modernos apontam visões conflitantes.312 A ideia de que os seres humanos são
motivados por uma necessidade inerente de “vencer” os outros, ganhando, por
exemplo, mais recompensas materiais e financeiras que os outros, não tem jus-
tificativa confiável fora a visão intuitiva extraída da condição do mercado, por
design altamente competitivo e voltado para a escassez, em que a humanidade
encontra-se hoje.
131
No entanto, mais uma vez, o debate sociológico pode ser posto de lado, enquanto
o contexto é como a competição se relaciona diretamente com o mercado e a efi-
ciência técnica. Resumindo, o sistema competitivo procura sigilo quando se trata de
ideias de negócio, em geral universalmente, contra o fluxo de livre conhecimento. O
uso de patentes e direitos autorais ou “segredos comerciais” não perpetua o avanço da
inovação, como muitos defensores do mercado competitivo assumem - mas o retarda.
132
exemplo deste ensaio, de empresas concorrentes de telefonia celular, perceberemos
que dentro dos limites das reuniões de diretoria, onde frequentemente marqueteiros,
designers e engenheiros consideram como em geral melhorar seu produto, o compar-
tilhamento de suas ideias é fundamental.
No entanto, imagine se essa reunião fosse estendida de uma vez a todas as empre-
sas de telefonia celular, onde elas não só poderiam remover suas artificiais e pouco
úteis perspectivas de mercado, concebidas para tomar a fatia de mercado de outras
concorrentes (como através de truques estéticos), elas poderiam trabalhar para produ-
zir cumulativamente a “melhor” combinação. Estendendo ainda mais, e se todos os
projetos fossem de “domínio público”, no sentido de que qualquer pessoa no mundo
que tivesse interesse em ajudar a melhorar uma ideia fosse capaz disso?
133
Quanto a este último, o “papel” da mecanização do ponto de vista da eficiência
de mercado é quase que exclusivamente o de assistir a relação “custo-benefício”. A
robótica, nos dias de hoje, supera em muito a capacidade física do ser humano médio,
contando que há um rápido avanço nos processos de cálculo que continuam a exceder
largamente o raciocínio humano. O resultado é a capacidade da indústria em empregar
máquinas, o que, invariavelmente, tem mais capacidade produtiva do que o trabalho
humano, juntamente com o incentivo financeiro extremamente notável de reduzir a
dependência dos proprietários de negócios de muitas formas. Conquanto as máquinas
requeiram manutenção, elas não precisam de seguro de saúde, seguro-desemprego,
férias, proteção sindical e muitos outros atributos característicos do trabalho humano
dos dias de hoje. Portanto, na estreita lógica inerente à busca pelo lucro, é natural que
as empresas sempre busquem a mecanização, dadas as suas vantagens de custo em
longo prazo e, portanto, de eficiência de mercado.
Essas são questões filosóficas complexas, pois elas desafiam a ética tradicional
dominante e a própria natureza do que o “progresso”, sob vários aspectos, realmente
significa. Por exemplo, vale a pena considerar o seguinte exercício de pensamento.
Imagine se revertêssemos nosso sistema social para o século 16, onde muitas realidades
tecnológicas modernas (século 21) eram inéditas.
134
A população daquela época teria, naturalmente, expectativas bem aquém do que
seria tecnicamente possível obter em relação ao que é geralmente aceito como pos-
sível hoje. Se esta sociedade fosse capaz de implementar da noite para o dia a capaci-
dade tecnológica massiva da era moderna, há pouca dúvida de que praticamente todo
o núcleo de sobrevivência da população poderia ser automatizado. Então a questão
passa a ser o que eles fariam com essa liberdade recém descoberta? Qual seria o
foco cultural de suas vidas se o trabalho penoso fundamental à sobrevivência fosse
removido? Será que eles inventariam novos trabalhos simplesmente porque podem?
Será que eles evoluiriam, preservando e incorporando essa nova liberdade através de
uma alteração do próprio sistema social, com a remoção do anteriormente necessário
“trabalho por remuneração”? Essas perguntas chegam à raiz do que são realmente o
progresso, objetivos pessoais, sociais e o sucesso.
Entretanto, por outro lado, do ponto de vista da eficiência técnica, novamente ve-
mos grande melhora e imensas possibilidades em muitos níveis. A capacidade de pro-
dução permitida através dessa implantação mostra claramente um aumento poderoso,
em termos de eficiência, em relação não apenas ao efeito da produção industrial, mas
também um aumento da eficiência geral dos próprios bens, pela capacidade de precisão
e integridade inerente a essa produção. Além disso, uma implicação desse novo nível
de eficiência de produção é que a satisfação das necessidades da população mundial
nunca foi tão possível. É fácil ver que sem a interferência da lógica de mercado sobre
esta nova capacidade técnica, que, invariavelmente, inibe o seu potencial, o que poderia
ser considerado, relativamente, uma “abundância” da maioria dos bens de manutenção
da vida poderia ser proporcionado para a população global.319
135
Escassez vs. Abundância
“A oferta e a procura” é uma relação usual de mercado que expressa, em parte,
como o valor de um recurso ou bem é proporcional ao quanto dele existe ou está
disponível. Por exemplo, os diamantes são considerados quantitativamente mais
raros e, por conseguinte, de valor mais elevado do que a água, que pode ser en-
contrada em abundância no planeta. Da mesma forma, certas criações humanas, se
criadas em pequenas quantidades, também estão sujeitas a essa dinâmica, mesmo
que a noção de raridade seja culturalmente subjetiva, como o fato de uma única tela
de um artista renomado chegar a valer em uma venda muitas e muitas vezes o valor
dos recursos reais empregados.320
Dívida, por exemplo, é uma forma de escassez imposta que coloca uma pessoa
em uma posição na qual deve submeter-se frequentemente a um trabalho que pode
ser de uma natureza mais “exploradora” - isto é, a recompensa (normalmente o
salário) é grosseiramente desproporcional ao que é necessário para que o indivíduo
mantenha um padrão saudável de vida. Nesse caso, o sistema de dívida facilita uma
forma distinta de eficiência de mercado beneficiando o empregador, já que a facili-
dade de baixar os salários (custo-benefício) aumenta naturalmente com o aumento
dos níveis de dívida privada.
Quanto mais em dívida as pessoas estiverem, mais provável é que elas se sub-
metam a trabalhos com baixos salários, dessa forma gerando mais lucro para os
empresários. Na verdade, a mesma lógica pode ser aplicada ao uso de “trabalhos
clandestinos” no terceiro mundo, não regulados legalmente, que são frequen-
temente “explorados” por empresas ocidentais. Excessivas horas de trabalho,
juntamente com salários muito baixos são comuns - ainda assim essas pessoas
literalmente não têm escolha a não ser aceitar, já que não existem outras opções
136
de sobrevivência na sua região, muitas vezes devido à dívida resultante de medi-
das de austeridade.321
Portanto, existe sempre mais dívida do que o dinheiro necessário para pagá-la.
Além disso, uma vez que os pobres são os maiores responsáveis pelos emprés-
timos, geralmente feitos para casas, carros, etc, e os ricos mantêm um superávit
financeiro, esta pressão geral de endividamento tende a cair sobre as classes mais
baixas, agravando o problema inerentemente insuperável de estar endividado e,
portanto, com opções limitadas. Neste modelo, a falência, por exemplo, não é um
resultado de algumas más decisões financeiras - mas é uma consequência inevitável
- como o jogo da “dança das cadeiras”.322
137
forço perverso que incentiva a busca ou mesmo o agravamento geral dos problemas.
Um século atrás a ideia de vender água engarrafada teria soado estranha, dada a sua
abundância geral e fato de não ser poluída. Nos dias de hoje, essa é uma indústria an-
ualmente multimilionária derivada principalmente da poluição da água que ocorreu
devido a práticas industriais irresponsáveis.324 O lucro e os empregos agora associa-
dos a essa realidade tecnicamente ineficiente de poluição e destruição de recursos,
têm aumentado, uma vez mais, a eficiência do mercado econômico necessária para
manter a continuação do consumo cíclico.
Conclusão
A eficiência de mercado, genericamente falando, nos leva a uma “macro” e “mi-
cro” realidade. Na escala macro tudo o que pode aumentar as vendas, crescimento ou
consumo, independentemente da pressão de demanda originária, ou o que está real-
mente a ser comprado e vendido, é considerado eficiente nesse contexto. Na escala
micro, essa eficiência toma a forma de condições que podem permitir o aumento do
lucro e a redução dos custos (“custo-benefício”) dos negócios.
É lamentável perceber que hoje temos dois sistemas opostos de economia fun-
cionando ao mesmo tempo - e que trabalham um contra o outro, na verdade. O
sistema de mercado, que incorpora a sua tradicional lógica arcaica, é totalmente
fora de sincronia com a economia (técnica) natural na forma como existe. O re-
sultado é uma grande dissonância e desequilíbrio, sempre com novos problemas
e consequências para a espécie humana. Está claro qual sistema vai “ganhar” essa
batalha. A natureza vai persistir com as suas regras naturais, independentemente de
quanto teorizemos sobre esta ou aquela validação da forma como tradicionalmente
nos organizamos neste planeta.
138
tendo em vista a sua evolução dentro das mesmas leis naturais às quais nossa prática
econômica (e valores) devem se alinhar, seja incompatível com tais leis. Trata-se
apenas de uma questão de maturidade e consciência.
Finalizando com uma nota à parte, há uma tendência emergente no século XXI, na
esteira de todos os crescentes e persistentes problemas ecológicos, que pretende se-
guir a chamada “economia verde”. Alguns têm até mesmo dividido esse ponto de vis-
ta econômico em setores, incluindo aplicações para a energia renovável, ecoedifícios,
transporte limpo e outras categorias de foco325. Notar-se-á que todas essas percepções
e aplicações potenciais estão, em geral, alinhadas com a perspectiva técnica ou cientí-
fica discutida neste ensaio.
Infelizmente, por mais positiva que seja a intenção dessas novas organizações
e planejadores de negócios, a ineficiência inerente ao modelo econômico capital-
ista - com toda a sua necessidade de certas formas de “eficiência” artificial para se
manter - imediatamente polui e limita profundamente todas essas tentativas, o que
explica porque tais abordagens técnicas eficientes ainda não foram realmente aplica-
das. A triste realidade é que, apesar de ser possível implementar algumas melhorias,
qualquer progresso será inerentemente limitado em um grau cada vez maior, já que,
conforme descrito, a base estrutural na qual o capitalismo de mercado funciona é
ativamente contrária às eficiências inerentes à visão das leis naturais. A única solução
lógica é repensar toda a estrutura existente, caso almejemos, em longo prazo, uma
verdadeira eficiência, prosperidade elevada e soluções de problemas.
139
Notas e Referências: Capítulo 9
[279] Um texto clássico que empregou esse medo básico era O Caminho
da Servidão, de F.A. Hayek. “A natureza humana” tinha uma implicação
muito clara, justificada fundamentalmente pelas tendências históricas
do totalitarismo sugeridas como associadas a economias colaborativas/
planejadas.
[285] O uso do termo “eficiência do mercado” aqui não deve ser confun-
dido com outros significados históricos. O conceito é novo para este en-
saio. Sentido tradicional: http://www.investopedia.com/articles/02/101502.
asp#axzz2H9lWlQwR
140
[286] O termo “economia” em grego [Oikonomia] significa “gestão de
uma família - parcimônia”; Assim, e·co·no·mi·zar, ou “aumentar a eficiên-
cia”.
[293] Por exemplo, nos EUA, a indústria de “capital de risco”, que es-
sencialmente investe dinheiro em novos negócios, foi de 21% do PIB
em 2010. (http://www.nvca.org/index.php?option= comcontent & view =
artigo & id = 255 & Itemid = 103) De acordo com um artigo de 2012 na
revista The New Republic: “os seis maiores bancos em nossa economia
(EUA) agora tem ativos totais de mais de 63% do PIB” (http://www.tnr.
com/article/politics/shooting-banks#)
141
de Adam Smith é discutida.
142
[303] Como um aparte, a única razão pela qual esta exceção da bibliote-
ca tem persistido é por causa de uma tradição posta em prática há muito
tempo, que viu a necessidade desta partilha de conhecimento como
fundamental para o desenvolvimento humano. A tradição de bibliotecas
compartilhadas remonta a milhares de anos.
[304] Em sua obra, “A era do acesso” [The Age of Access], Jeremy Rifkin
coloca questões semelhantes, afirmando: “Em uma sociedade onde
praticamente tudo é acessado, contudo, o que acontece com o orgulho
pessoal, obrigação e compromisso atrelados à propriedade? E com a au-
to-suficiência? Sendo que as propriedade estão ligadas à independência.
A propriedade é o meio pelo qual nós ganhamos um sentido de autono-
mia pessoal no mundo. Quando acessamos os meios de nossa existên-
cia, nós nos tornamos muito mais dependentes de outros. Enquanto nós
nos tornamos mais conectados e interdependentes, não corremos o
risco de, ao mesmo tempo tornarmos-nos menos auto-suficientes e mais
vulneráveis? “ (P. Tarcher / Putnam, 2000, p.130)
[310] É importante notar, como será discutido na parte III, que essa
noção de transformar a ineficiência ou desperdício de recursos e energia
143
inerente à economia de mercado em produtividade real se situa no cerne
da capacidade da sociedade humana, não só para transcender o ambi-
ente de escassez que temos hoje, mas ultrapassá-lo bastante com uma
abundância.
144
serviços perdeu o seu papel como motor desenfreado da América na
criação de emprego.” (Fonte: Entrevista, 15/03/94, no livro ‘O fim dos
Empregos’ [The End of Work] por Jeremy Rifkin, Pinguim p.143) Exemplos
disso incluem: De 1983-1993, os bancos cortaram 37% de seus aten-
dentes humanos (caixas), e no ano 2000, 90% de todos os clientes do
banco usavam caixas eletrônicos (Fonte:. “Retooling Lives”, Vision, 2000
p 43) Telefonistas, quase todos, foram substituídos por sistemas de voz
computadorizados de resposta, caixas de correios estão sendo substituí-
dos por máquinas de auto-atendimento, enquanto os caixas estão sendo
substituídos por quiosques informatizados. O McDonalds, por exemplo,
tem falado sobre a automatização completa dos seus restaurantes por
muitos anos, a introdução de quiosques para substituir os atendentes de
caixa, enquanto que o uso de ferramentas de cozinha automatizadas,
como espátulas para virar hambúrguer, para desespero do pessoal da
cozinha. (Fonte: http://www.techdirt.com/articles/20030801/1345236F.sht-
mls) O fato de que eles não o fizeram é provavelmente um problema de
relações públicas, pois eles sabem quantos empregos seriam cortados
no caso dessa automação ser adotada de maneira desimpedida.
[319] Este não é um conceito utópico uma vez que extrapolações es-
tatísticas básicas provam esta grande melhoria da eficiência e da capaci-
dade de produção, em muitos níveis. Um exemplo simples, embora não
exaustivo em suas variáveis, é a obsolescência do conceito de “horas de
trabalho”, na produção em fábricas industriais. O dia de 8 horas, comum
ao trabalho humano, poderia se manifestar em quase 24 horas de tra-
balho, por meio de automação com máquinas. Este exemplo rude mostra
como “abundâncias” podem ser criadas para produtos de suporte a vida.
[320] O quadro de Edvard Munch “O Grito” foi vendido por US $ 119 mil-
hões, em 2012. Se fôssemos comparar o valor material real do trabalho,
na forma física, foi vendido por cerca de 10-15.000 vezes o seu valor
material em tintas e tela. (http://www.huffingtonpost.com/2012/05/02/the-
scream-auction-edvard-munch_n_1472529.html)
145
[322] Referência: Rede de Dívidas, Ellen Hodgson Brown, Third Millenni-
um Press, 2008
146
Capítulo 10
Genes do Pensamento
Dado o ritmo relativamente lento de mudança do ser humano com relação à
evolução biológica, as vastas mudanças sociais que ocorreram ao longo dos últimos
4000 anos de história registrada aconteceram devido à evolução do conhecimento
- daí a “evolução cultural”. Se desejamos buscar um mecanismo para a evolução
cultural, é útil considerar a noção de “meme”.327 Definidos como “uma ideia, com-
portamento, estilo, ou o uso que se espalha de pessoa para pessoa dentro de uma
cultura”, memes são considerados análogos sociológicos ou culturais a genes,328 que
são “unidades funcionais (biológicas) que controlam a transmissão e expressão de
uma ou mais características”.
Diante disso, poderíamos gestualmente ver o estado mental humano e suas pro-
pensões para a ação como um tipo de programa. Da mesma forma que os genes
codificam um conjunto de instruções que, em conjunto com outros genes e o ambi-
ente produzem resultados sequenciais, o processamento de memes pela capacidade
147
intelectual dos seres humanos, em comum acordo, criam padrões de comportamento
de uma forma semelhante. Enquanto o “livre arbítrio” é certamente um debate com-
plexo para se ter com relação ao que realmente desencadeia e manifesta as decisões
humanas, é fundamentalmente claro que as ideias das pessoas são limitadas pela sua
absorção (educação). Se é dado pouco conhecimento sobre o mundo a uma pessoa,
seu processo de decisão será igualmente limitado.330
Da mesma maneira que os genes podem sofrer mutações de formas que são preju-
diciais ao seu hospedeiro, como o fenômeno do câncer331, os memes também podem
gerar estruturas mentais que servem de malefícios para o hospedeiro (ou sociedade)
no que diz respeito às transmissões ideológicas / sociológicas. É aqui que o termo
“distúrbio” é introduzido. O distúrbio é definido como “um transtorno ou anormal-
idade da função”332. Portanto, quando se trata de operação social, um distúrbio im-
plicaria em enquadramentos ideológicos institucionalizados que estão desalinhados
com o sistema governante maior. Em outras palavras, eles são imprecisos no que diz
respeito ao contexto em que eles tentam existir, muitas vezes criando desequilíbrio e
desestabilização prejudicial.
Reconhecer nossa evolução intelectual como um processo sem fim e estar aberto a
novas informações para ajudar a nos alinhar a práticas sustentáveis é claramente uma
ética necessária, tanto no nível pessoal quanto no social, se esperamos manter uma
adaptação positiva no contexto da evolução cultural. Infelizmente, existem poderosas
forças culturais que trabalham contra este interesse no mundo de hoje. Estruturas
ideológicas e codificadas na infraestrutura social atual333 trabalham ativamente con-
tra essa necessidade crítica de adaptação cultural. Uma analogia seria a inanição de
nossas células biológicas pela remoção de oxigênio do ambiente – mas no caso cul-
tural estamos restringindo nossa susceptibilidade ao aprendizado e adaptação, com o
conhecimento sendo o “oxigênio” pelo qual nós, enquanto espécie, somos capazes de
resolver problemas e continuar o progresso.
148
tradição, que carregam um força poderosa problemática. Esta situação é agravada ain-
da mais quando o propósito almejado (ou que parece ser almejado) por tais intenções
se relaciona diretamente com nossa sobrevivência e existência. Não há nada mais
pessoal para nós do que a forma como nós nos identificamos, e o sistema econômico
que nos engloba é invariavelmente uma característica definidora de nossas mental-
idades e visão de mundo. Se há algo de errado com este sistema, então isso implica
que há algo errado com nós mesmos, uma vez que somos nós que o perpetuamos.
149
exaustivamente para proteger os privilégios dos privilegiados. A censura metódica
triunfa travestida de rigor acadêmico, e o único espaço restante para pesquisar o pens-
amento torna-se o jogo de racionalizações concorrentes.”335
Tais reações também são comuns no que diz respeito às práticas estabelecidas
em áreas específicas. Por exemplo, Ignaz Semmelweis P. (1818 -1865), um médi-
co húngaro que descobriu que a febre puerperal poderia ser drasticamente reduzida
com a simples lavagem padrão das mãos em clínicas obstétricas – essencialmente
prenunciando a agora plenamente aceita teoria de doenças dos germes – foi evitado,
rejeitado e ridicularizado por sua descoberta. Não foi até muito tempo depois de sua
morte que sua realização muito básica foi respeitada. Hoje, alguns usam a frase “O
Reflexo Semmelweis” como uma metáfora para a tendência, semelhante a um re-
flexo, de rejeitar novas evidências ou novos conhecimentos porque contraria normas
estabelecidas, crenças ou paradigmas.336
150
Características da Patologia
Para se fazer uma avaliação crítica de uma forma de pensar já existente, é necessário
criar um referencial básico aceito mutuamente. “O relativismo cultural”337 é uma noção
antropológica que se refere ao fato de que diferentes grupos culturais geram diferentes
percepções de “verdade” ou “realidade”. “Relativismo moral”338, que é uma noção
semelhante, tem a ver com a variação do que é considerado “correto” ou “ético”. Ao
longo da história humana, essas distinções tornaram-se crescentemente mais estreitas
e têm cada vez mais reduzido a “integridade relativa” de diversas crenças, desde a rev-
olução científica do pensamento causal do Renascimento em diante.
O fato é que as crenças não são iguais em sua validade. Algumas são mais ver-
dadeiras do que outras e, portanto, algumas são mais disfuncionais do que outras no
contexto da vida real. O método científico de chegar a conclusões é a referência defin-
itiva sobre o qual a integridade dos valores humanos pode ser medida, e esta realidade
moderna desmistifica a defesa “relativista” comum da crença humana subjetiva. Não
se trata de “certo” e “errado”, mas sobre o que funciona ou não. A integridade de
nossos valores e crenças só é tão boa quanto a forma como ela está alinhada com o
mundo natural. Esta é a base comum que todos nós compartilhamos.
151
pelo estresse. O resultado é um ciclo vicioso de abuso geral, egoísmo mesquinho e
descaso social e ambiental.
No entanto, quanto mais vivemos como seres humanos; quanto mais na história
somos capazes de ver a nós mesmos ao longo das gerações; quanto mais formos ca-
pazes de comparar os comportamentos de diferentes culturas pelo mundo e através
da história - mais claro se torna que a nossa capacidade humana está sendo inibida
diretamente por uma estrutura arcaica de recompensa e sobrevivência que continua a
reforçar valores primitivos e desesperados e, enquanto tais valores possam ter servido
a um papel evolutivo no passado, o presente e o futuro prenunciado deixam, indis-
cutivelmente, esses padrões comportamentais expostos como prejudiciais e insuste-
ntáveis, como a íntegra deste texto expressou longamente.
Paralisia da Auto-preservação
Enquanto cada um de nós, geralmente, deseja sobreviver, e em um esta-
do saudável, naturalmente preparados para defender essa sobrevivência caso
necessário, a auto-preservação no atual contexto socioeconômico estende, desnec-
essariamente, essa tendência de forma que inibe severamente o progresso social
e a resolução de problemas. Na verdade, pode-se dizer que essa preservação em
curto prazo ocorre muitas vezes às custas da integridade em longo prazo.
O exemplo mais óbvio disso tem a ver com a natureza fundamental da busca
e manutenção de uma renda, a força vital do sistema de mercado e, por extensão,
da sobrevivência humana. Uma vez que um negócio seja bem-sucedido em gan-
har participação no mercado, geralmente sustentando funcionários juntamente com
proprietários, o negócio gravita, naturalmente, para um interesse em preservar essa
cota de mercado, que gera renda, a todos os custos. Associações profundas de va-
152
lores são geradas a partir do momento em que o negócio não é mais apenas uma
entidade arbitrária que produz um bem ou serviço - é agora um meio de sustentar a
vida para todos os envolvidos.
Outro exemplo tem a ver com a neurose psicológica construída a partir do incenti-
vo de recompensa baseada em crédito, o qual é inerente ao sistema de mercado. Em-
bora esteja intelectualmente claro que nenhuma pessoa inventa coisa alguma, dada a
realidade de que todo o conhecimento é gerado em série e, invariavelmente, é cumu-
lativo ao longo do tempo, a característica de “propriedade” da economia de mercado
cria uma tendência não só em reduzir o fluxo de informações por meio de patentes
e “segredos comerciais”, mas também reforça a ideia de “propriedade intelectual”,
apesar da real falácia dessa noção em si mesma.
153
de mercado. Se as pessoas não reclamarem o “crédito”, elas não serão recom-
pensadas e, portanto, não vão ganhar sua sobrevivência por essa contribuição no
mercado. Assim, essa condição tem agravado esta neurose que é invariavelmente
sufocante para o progresso através do compartilhamento do conhecimento.
154
o atual sistema social, sobre a natureza humana de as pessoas inevitavelmente
“serem competitivas e exploratórias”, em circunstâncias extremas, é ultrapas-
sado. Relações de classe não são relações genéticas, ainda que as nuances de
propensões individuais possam ser discutidas. Esse estudo expressa um fenôme-
no cultural global, pois é axiomático assumir que a atitude geral de desrespeito
pelas consequências negativas externas, o chamado “comportamento antiético”
expressado pela classe alta, é resultado dos tipos de valores necessários para se
alcançar a posição de realmente se tornar “classe alta”.347
Na retórica poética cotidiana, essa intuição tem sido considerada verdadeira ao lon-
go dos séculos na observação de que aqueles que alcançam “sucesso” nos negócios,
muitas vezes, são “insensíveis” e “cruéis”. Parece haver uma perda geral de empatia
naqueles que alcançam esse tal “sucesso” e é óbvio, intuitivamente, o porquê desse
ser o caso, dado o distúrbio do sistema de valores da competição despreziva inerente
à psicologia do sistema de mercado. No geral, quanto mais carinhoso(a) e empáti-
co(a) você for, menor a probabilidade de você obter sucesso financeiramente - não é
diferente dos esportes em geral, onde você não ajuda um jogador adversário atingir
seus objetivos pois assim você estará mais propenso a perder.
Sucesso Status
Uma peça fundamental do modelo capitalista é a suposição implícita de que
aqueles que mais contribuem devem ganhar mais. Em outras palavras, presume-se
que para se tornar, digamos, um bilionário, você deve ter feito algo importante e
útil para a sociedade. Isso é, com certeza, manifestamente falso. A grande maioria
das pessoas extremamente ricas iniciam a sua riqueza a partir de mecanismos que
155
não são socialmente contributivos, quando detalhados e analisados, em qualquer
nível direto ou criativo.352
156
e são relegados para aqueles membros da comunidade com deficiência na sua capaci-
dade predatória; ou seja, aqueles aos quais faltam solidez, agilidade, ou ferocidade...
Portanto, o bárbaro forte e capaz da cultura predatória, que é consciente do seu bom
nome... coloca seu tempo nas artes viris de guerra e dedica seu talento a conceber
formas e meios de perturbar a paz. Dessa forma é que se encontra honra.”355
William Thompson, em sua obra “Uma Investigação sobre os Princípios da Dis-
tribuição de Riqueza Mais Propícia para a Felicidade Humana”, reafirma a realidade
dessa influência associativa:
“Nossa posição seguinte é que a riqueza excessiva desperta a admiração e a imitação,
e, desta forma, se difunde a prática dos vícios dos ricos entre o resto da comunidade; ou
produz nela outros vícios decorrentes de sua situação em relação aos excessivamente ri-
cos. Sobre este ponto, nada é mais óbvio do que a operação universal do princípio mais
comum da nossa natureza - o de associação. A riqueza, como um meio de felicidade...
é admirada ou invejada por todos; o comportamento e o caráter que estão conectados
com a abundância dessas coisas boas, sempre vêm à mente associados a ela...”356
O termo “ganância” é diversas vezes usado para diferenciar aqueles que exploram
modestamente daqueles que exploram excessivamente. A ganância é, portanto, uma
noção relativa, assim como ser “rico” é uma noção relativa. O termo “privação rel-
ativa”357 refere-se ao descontentamento que as pessoas sentem quando comparam
as suas posições com as de outros e percebem que têm menos do que acreditam ter
direito. Esse fenômeno psicológico não tem fim e, no âmbito do sistema de incentivo
capitalista ao sucesso material, a sua presença como um distúrbio grave do sistema
de valores é evidente a nível de saúde mental.
157
maneiras. Essa perda de empatia não tem resultado positivo a nível social. Os valores
de recompensa predatórios inerentes ao sistema de mercado praticamente garantem
um conflito interminável e abuso.358
É claro que há o mito de que essa neurose de buscar “mais e mais” status e riqueza
seja a principal força condutora do progresso social e da inovação. Embora possa
haver alguma verdade básica para esta suposição intuitiva, a intenção, novamente,
não é a contribuição social, e sim a vantagem e o ganho financeiro. É como dizer que
ser perseguido por uma matilha de lobos famintos prontos para te comer é bom para
sua saúde, uma vez que vai mantê-lo correndo. Apesar de certas realizações estarem
indubitavelmente ocorrendo, a força condutora (intenção), novamente, tem pouco a
ver com essas realizações, e os subprodutos nocivos e a inerente paralisia de ordem
maior invalidam a ideia de que os valores de competição, ganância material e o status
são fontes legítimas de progresso social.
158
e similares - uma polarização no debate, muitas vezes, se desencadeia. Dualidades
como “a direita ou a esquerda” ou “liberal ou conservador” são comuns, o que im-
plica que nas faixas de preferência e compreensão humanas, há uma linha rígida de
orientação que incorpora todas as possibilidades conhecidas.
Junto com isso também há a antiga, mas ainda comum, dualidade de “coletivismo
versus livre mercado”. Em suma, essa dualidade pressupõe que todas as opções de
preferência econômica devem aderir à ideia de que a sociedade deve ser baseada, ou
na suposta vontade democrática de todas as pessoas sob a forma de “livre-comércio”,
ou que um pequeno grupo de pessoas deve estar no controle e dizer às outras o que
fazer. Devido à história negra do totalitarismo que assolou o século XX, uma orien-
tação de valor baseada no medo, que rejeita qualquer coisa que sugira, mesmo que re-
motamente, a aparência de “coletivismo”, é extremamente comum hoje em dia, com
a palavra “socialismo” relacionada muitas vezes de uma maneira depreciativa.361
Como observado antes neste ensaio, o senso de possibilidades das pessoas está
diretamente relacionado ao seu conhecimento - ao que aprenderam. Se as instituições
educacionais e sociais tradicionais apresentarem toda a variação socioeconômica
dentro dos limites fechados de tais quadros de referência, as pessoas provavelmente
irão refletir essa suposição (meme) e perpetuá-la no pensamento e na prática. Se você
não é “abc”, então você deve ser “xyz” - este é o meme do pensamento comum. Até
mesmo o estabelecido sistema político dos Estados Unidos existe nesse paradigma,
pois se você não é um “republicano”, você deve ser um “democrata”, etc.
O que não se fala é sobre a realidade que rompe essa dualidade de que o Estado,
na sua forma histórica, é uma extensão do próprio sistema capitalista. O governo não
criou esse sistema. O sistema criou o governo, ou, mais precisamente - os governos se
desenvolveram como um instrumento. Todos os sistemas socioeconômicos têm suas
159
raízes na base do desdobramento industrial e na sobrevivência básica. Assim como o
feudalismo, baseado em uma sociedade agrária, orientou sua estrutura de classe nas
relações com a terra para produção de subsistência, o mesmo é válido para as chama-
das “democracias” do mundo de hoje. Portanto, a ideia de que o governo de estado
não tem relação ou influência do capitalismo é uma teoria puramente abstrata, com
nenhum fundamento na realidade. O capitalismo essencialmente moldou a natureza
do aparato governamental e seu desdobramento - e não o contrário.
Se uma instituição que visa lucro ganha poder dentro do governo (que é a in-
tenção exata do “lobby empresarial”) e manipula o aparato governamental para
favorecer com vantagens os seus negócios ou indústria, então isso é simplesmente
um bom negócio. É somente quando os ataques competitivos alcançam níveis altos
de injustiça que se tomam medidas para preservar a ilusão de “equilíbrio”. Vemos
isso com leis antitruste e afins.365 Essas leis são, na realidade, não para proteger o
“livre-comércio” ou algo semelhante - mas para resolver atos extremos de intenções
competitivas inerentes ao mercado, com todos os lados disputando vantagens por
todos os meios possíveis.366
160
não compreender o que a natureza de ser “livre” realmente significa, no que diz res-
peito ao sistema. A “liberdade” não é a liberdade de todos serem capazes de participar
“igualmente” do mercado aberto e toda a retórica utópica que ouvimos apologistas
do sistema capitalista falar atualmente - a liberdade real é, na verdade, a liberdade
para dominar, suprimir e bater outros negócios por quaisquer meios de competição
possíveis. Aqui, não existe “a Justiça é cega”. Na verdade, se o governo não “inter-
ferisse” por meio de leis antitruste/monopólio ou “socorresse” os bancos e similares
- todo o complexo de mercado teria se auto-destruído há muito tempo. Em parte, essa
instabilidade inerente do mercado é o que economistas, como John Maynard Keynes,
basicamente entenderam, mas, sem dúvida, de uma forma limitada.368
Individualidade Liberdade
Muitas vezes as pessoas falam sobre “liberdade” de uma forma que é mais um gesto
indescritível do que uma circunstância tangível. Ouvimos essa retórica das instituições
políticas e econômicas atuais, de onde são constantemente feitas essas associações de
“democracia” com “liberdade”, tanto no nível da prática tradicional de votação como
no do movimento de dinheiro propriamente dito através do livre comércio independen-
te. Esses memes sociopolíticos também são reforçados de forma polarizada, relativa-
mente, em que constantemente são usados exemplos de opressão e perda de liberdade
nos sistemas sociais anteriores para defender o estado atual das coisas.
161
stições perigosas e infundadas tornadas sagradas por valores/compreensões primiti-
vas daquelas épocas, em detrimento do bem-estar humano e do equilíbrio social. O
medo e a escassez desses períodos antigos parecem ter ampliado a pior parte do que
se pode considerar a “natureza humana”, muitas vezes em um ciclo vicioso em busca
de poder como uma forma de evitar o abuso de poder.
162
que esteve poluindo a cultura por milhares de anos, enraizado em uma psicologia
geral de elitismo e escassez.
163
ocupações não são apreciadas375 e são, indiscutivelmente, irrelevantes no que diz
respeito ao verdadeiro desenvolvimento e contribuição, pessoal ou social.
Como nota final sobre o tema da “liberdade”, a teoria capitalista, tanto histórica
quanto moderna, é desprovida de qualquer relação com os recursos da Terra e suas
leis ecológicas governantes. À parte a consciência primitiva de escassez, que é um
marcador da teoria de valor comum da “oferta e procura”, a natureza científica do
mundo está em falta nesse modelo - é “externa”. Essa omissão, emparelhada com a
realidade exploradora e minimizadora de custos inerente ao sistema de incentivos
do mercado, é o que tem gerado os vastos problemas ambientais, desde esgotamen-
to do solo, à poluição, ao desmatamento, a praticamente tudo o que podemos pensar
em um nível ecológico.
Esse desenvolvimento revela que sob a superfície do capitalismo está uma velha
perspectiva, que está se tornando cada vez mais desatualizada, resultando em reper-
cussões recorrentes conforme nossa capacidade tecnológica aumenta a nossa habili-
dade de afetar o mundo. Um paralelo seria a instituição bélica. Valores competitivos
e guerra eram uma realidade tolerável quando o dano causado estava limitado aos
164
primitivos mosquetes de séculos atrás. Hoje, nós temos armas nucleares que podem
destruir tudo.377 Assim, tomando uma visão evolutiva, o capitalismo tem sido uma
orientação de práticas e valores que ajudaram o progresso de determinadas maneiras,
mas todas as evidências agora tendem a mostrar que a imaturidade inerente ao siste-
ma levará a um aumento contínuo dos problemas, se ele persistir.
A “Mercantilização” da Vida
Como um ponto final neste ensaio, a tendência crescente da mercantilização da
vida criou uma profunda distorção de valores no mundo. Desde que “liberdade” tem
sido culturalmente associada a “democracia”, e democracia, no sentido econômico,
tem sido associada com a capacidade de comprar e vender, a mercantilização de
quase tudo o que se pode pensar vem ocorrendo. Os valores tradicionais e a retórica
das gerações passadas, muitas vezes, associou o uso do dinheiro em alguns aspectos
como uma espécie de necessidade “fria”, com alguns elementos de nossas vidas con-
siderados “sagrados” e não vendáveis. O ato da prostituição, por exemplo, em que as
pessoas vendem intimidade por dinheiro, é uma situação em que os valores culturais
costumam se alienar. Na maioria dos países o ato é ilegal, mesmo que haja pouca jus-
tificativa legal já que o próprio envolvimento sexual é permitido. É somente quando
o elemento da compra entra em jogo que ele passa a ser considerado repreensível.
Torna-se uma situação estranha quando alguns dos atos mais normais, naturais
à vida humana, tornam-se incentivados pelo dinheiro, por exemplo, seu uso para
incentivar as crianças a ler383 ou incentivar a perda de peso.384 Psicologicamente, o
que significa para uma criança ser incentivada pelo dinheiro a realizar seus atos mais
básicos? Como isso afetará o seu futuro senso de recompensa? Essas são questões
importantes em um mundo à venda, onde o princípio orientador de valores é que so-
mente quando se ganha dinheiro fazendo uma ação é que ela vale a pena ser realizada.
Tais valores de mercado aparecem como uma clara distorção social, já que a
própria essência da iniciativa e existência humana está sendo transformada. Embora
possamos não ter extrema preocupação sobre questões aparentemente triviais, como
o fato de uma pessoa poder comprar o acesso a pistas exclusivas para o transporte
coletivo enquanto dirige sozinho385, a maior manifestação de uma cultura construída
sobre bases onde tudo está à venda, é a desumanização da sociedade, já que tudo e
165
todos estão reduzidos a uma simples mercadoria a ser explorada.
Hoje, por mais chocante que possa ser, existem mais escravos no mundo do
que em qualquer outro momento da história humana. O tráfico humano foi e con-
tinua a ser uma indústria enorme de lucro, vendendo homens, mulheres e crianças
em vários contextos.
Por fim, enquanto a maioria das pessoas que acreditam no sistema capitalista
de livre mercado ficariam eticamente indignadas com esses vastos abusos humanos
que ocorrem no mundo, geralmente fazendo distinções entre formas de comércio
“morais” e “imorais”, o fato em questão é que o próprio conceito de mercantilização
não pode delimitar linhas objetivas, e tais realidades “extremas” são, na verdade,
simplesmente uma questão de grau de aplicação. De um ponto de vista puramente
filosófico, não há diferença técnica entre qualquer forma de exploração de mercado.
A psicologia inerente - o distúrbio do sistema de valores - perpetuou e continuará a
perpetuar um desrespeito predatório dentro da cultura, e apenas quando esse mecanis-
mo estrutural for retirado da nossa própria abordagem de organização social é que as
questões acima mencionadas encontrarão resolução.
166
Notas e Referências: Capítulo 10
167
[336] Biografia geral de Ignaz P. Semmelweis: http://semmelweis.org/
about/dr-semmelweis-biography/
168
cia], Julio Godoy, IPS: (http://www.ipsnews.net/2012/08/corporate-lobby-
ists-threaten-democracy/)
[348] Fonte: Having Less, Giving More: The Influence of Social Class on
Prosocial Behavior [Dando mais, tendo menos: a influência da classe
social no comportamento pró-social]; Journal of Personality and Social
Psychology; 2010, vol. 99, No. 5, 771-784, 2012 (http://www.rotman.uto-
ronto.ca/phd/file/Piffetal.pdf)
[349] Fonte: Study: Poor Are More Charitable Than The Wealthy [Estudo:
pobres são mais caridosos que os ricos]; NPR, 2012 (http://www.npr.org/
templates/story/story.php?storyId=129068241)
[350] Referência: The Rich Are Less Charitable Than the Middle Class:
Study [Os ricos são menos caridosos que a classe média: Estudo];
CNBC, 2012 (http://www.cnbc.com/id/48725147)
[351] Referência: America’s poor are its most generous givers [Os pobres
da América são seus doadores mais generosos]; análise de Frank Greve
/ McClatchy de 2009 (http://www.mcclatchydc.com/2009/05/19/68456/
americas-poor-are-its-most-generous.html)
[352] Referência: The Engineers and the Price System [Os Engenheiros e
o sistema de preços]; Thorstein Veblen, 1921
169
[353] Referência: The 40 Highest-Earning Hedge Fund Managers [Os 40
Gestores de Fundo de Cobertura mais bem pagos]; Nathan Vardi, Forbes
(http://www.forbes.com/sites/nathanvardi/2012/03/01/the-40-highest-earn-
ing-hedge-fund-managers-3/)
[360] Study Finds TV Alters Fiji Girls’ View of Body [Estudo constata que
TV altera a visão do corpo de garotas de Fiji]; Erica Goode; The New York
Times, 1999.(http://www.nytimes.com/1999/05/20/world/study-finds-tv-al-
ters-fiji-girls-view-of-body.html)
170
Press, 1999
[367] Fonte: An Inquiry into the Nature of Peace and the terms of its Per-
petuation [Uma Investigação sobre a Natureza da Paz e os termos da sua
perpetuação], Thorstein Veblen, Direito de Harvard, pp.326-327
171
mia, através de políticas públicas que visem atingir o pleno emprego e
a estabilidade dos preços. “ Fonte: BusinessDictionary.com (http://www.
businessdictionary.com/definition/Keynesian-economics.html)
172
torno de não abusar de outros, porque eles amenizam o desequilíbrio e a
desestabilização.
[377] Albert Einstein, foi citado como tendo dito: “Eu não sei com que
armas a III Guerra Mundial será travada, mas IV Guerra Mundial será
lutada com paus e pedras.” (The New Quotable Einstein [Novas citações
de Einstein], Alice Calaprice, Princeton University Press 2005 p.173).
[378] Referência: What Money Can’t Buy: The Moral Limits of Markets [O
que o dinheiro não pode comprar: os limites morais do Mercado]; Michael
J. Sandel, Farrar, Straus and Giroux; 2012.
[380] Fonte: For $82 a Day, Booking a Cell in a 5-Star Jail [Por US$82 por
dia, reserva-se uma cela numa cadeia 5 estrelas”]; New York Times, 29
de abril de 2007.
[382] Fonte: At Many Colleges, the Rich Kids Get Affirmative Action:
Seeking Donors [Em muitas faculdades, os jovens ricos têm Ação Afir-
mativa: buscando doadores]; Daniel de Ouro; Wall Street Journal, 20 de
fevereiro, 2003.
[384] Fonte: Paying people to lose weight and stop smoking [Pagar
pessoas para perder peso e parar de fumar]; Kevin G. Volpp, Issue Brief,
Institute of Health Economics, University of Pennsylvania, vol. 14, 2009.
[385] Fonte: Paying for VIP Treatment in a Traffic Jam [Pagando por
tratamento VIP em um engarrafamento], Wall Street Journal, 21 de junho,
2007.
173
174
Capítulo 11
Classicismo Estrutural,
o Estado e a Guerra
Visão geral
O conflito humano tem sido uma característica constante da sociedade desde o in-
ício dos registros históricos. Justificativas para isso têm variado desde suposições sobre
propensões humanas imutáveis à agressão e territorialidade até a noção religiosa da
ação de poderes metafísicos polarizados, tais como forças do “bem” e do “mal”; a
história, por outro lado, revela que os casos de conflito geralmente apresentam uma
correlação racional com circunstâncias ambientais e/ou condições culturais. Da reação
imediata e amedrontada de estresse de nossa propensão à “luta ou fuga”,388 ao calmo e
calculado planejamento bélico nacional, há sempre uma razão para o conflito, sendo de
interesse do público em geral, de forma a reduzir os conflitos, uma avaliação total - tão
profunda quanto possível - da causalidade para considerarmos as soluções tangíveis.
Dito de outra forma, essas realidades não são sustentadas por grupos ideologi-
camente distintos, como o governo desonesto de um país ou alguma mentalidade de
175
negócios excepcionalmente “gananciosa” - mas, sim, por valores mais fundamentais
e subjacentes, inerentes à vida de virtualmente todos na atual condição socioeco-
nômica culturalmente perpetuada como “normal”. A única diferença é o grau em que
esses valores são aproveitados e para qual finalidade.
176
monarquias... Ao mesmo tempo, a centralização exigiu a criação de uma estru-
tura administrativa capaz de dirigir a atividade social e os recursos em direção a
objetivos comuns...O desenvolvimento das instituições do Estado central e de um
aparato administrativo de suporte inevitavelmente deram forma e estabilidade às
estruturas militares. O resultado foi a expansão e a estabilização das castas guer-
reiras anteriormente livres e instáveis... Por volta de 2700 A.C. na Suméria havia
uma estrutura militar inteiramente articulada e um exército permanente organizado
semelhantemente ao moderno. O exército permanente emergiu como uma parte
constante da estrutura social e era dotado de fortes alegações de legitimidade so-
cial. E ele tem estado conosco desde então.”393
Mesmo muitos conflitos históricos, que superficialmente parecem ter fins pura-
mente ideológicos, na realidade, frequentemente ocultam ações econômicas impe-
rialistas. As Cruzadas Cristãs do século XI, por exemplo, são muitas vezes defin-
idas como conflitos estritamente religiosos ou expressões de fervor ideológico.
No entanto, uma investigação mais profunda revela um tom forte de expansão do
comércio e aquisição de recursos, sob o pretexto da guerra “religiosa”.395 Isso não
quer dizer que historicamente as religiões não têm sido uma grande fonte de confli-
tos, mas, sim, que muitas vezes há uma simplificação em muitos textos históricos,
com a relevância econômica frequentemente esquecida ou ignorada. Indiferente a
isso, a noção de cruzada “moral” como uma forma de cobertura para o imperialis-
mo econômico e nacional continua até hoje.396
177
ciados às entidades governamentais - e não dos cidadãos. Guerras tendem a começar
com algum tipo de sugestão emanando do poder do Estado; em seguida alimentada
pela mídia corporativa apoiada pelo Estado;397 com os cidadãos sendo lentamente
adestrados a apreciar a sugestão. Também é de uma grande ajuda ao Estado se houver
alguma forma de provocação emocional marcante, que possa ser manipulada para
justificar ainda mais a guerra pretendida.398
Tais táticas para a manipulação do povo podem assumir muitas formas. O uso do
medo, da honra (vingança), do paternalismo patriótico,399 a moralidade, e a “defesa
comum” são provavelmente as manobras mais frequentes. De fato, invariavelmente,
todos os atos de guerra são justificados como “defensivos” na esfera pública, mesmo
que não exista nenhuma ameaça pública racional e tangível. No entanto, há, de fato,
uma verdade essencial nesta noção de guerra “defensiva”,400 já que atos de mobi-
lização imperialista são baseados em uma forma muito real, ainda que obscura, de
medo econômico e/ou político - o medo de perder o controle ou o poder. Em outras
palavras, ainda que não haja uma ameaça imediata e direta vinda de uma determinada
nação agressora - a necessidade competitiva de longo prazo de continuamente reas-
segurar o poder existente de uma possível perda futura é um medo muito real e fun-
damentado. Então, na verdade, esta “defesa” é a da auto-preservação elitista da classe
mais alta e, portanto, em seus termos reais é moralmente injustificável à população;
logo, essas manobras são usadas para obter a aprovação pública.401
178
habitualmente propensas a um temperamento belicoso. Gerenciado corretamente, o
sentimento patriótico natural pode ser facilmente mobilizado para um empreendi-
mento bélico por qualquer órgão com estadistas razoavelmente hábeis e com obje-
tivos em comum - dos quais existem exemplos abundantes.”403 “... é [também] uma
generalização bastante segura a de que uma vez que as hostilidades tenham atin-
gido um andamento razoável pelo estadista interessado, o sentimento patriótico da
nação pode seguramente ser contado em favor da empreitada, independentemente
dos méritos da discussão.”404
Nos Estados Unidos, a frase “Eu sou contra a guerra, mas apoio as tropas”405 é
comum entre aqueles que se opõem a um determinado conflito, mas desejam serem
vistos como respeitosos para com seu país, em geral. Esta frase é algo único, pois é
de fato irracional. Pela lógica, “apoiar as tropas” significaria apoiar o papel de ser um
“soldado”, e, portanto, os atos que são necessários para essa função. O gesto implíci-
to, sem dúvida, é de que alguém apoia a necessidade de guerra e, portanto, apoia os
homens e mulheres das forças armadas que satisfazem essa necessidade. No entanto,
a própria afirmação é totalmente contraditória e existe como uma forma de “dupli-
pensar”,406 já que discordar da existência de uma certa guerra é estar totalmente em
desacordo com as ações daqueles que se envolvem nela. É semelhante a dizer: “Eu
sou contra o câncer que mata as pessoas, mas apoio o direito à vida do câncer”.
179
juntamente com o padrão de suspender os direitos dos cidadãos em tempos de guerra,
às vezes até mesmo incluindo a liberdade de expressão.409
Assim como uma empresa compete com outras empresas do mesmo gênero por
renda para sua subsistência, buscando invariavelmente o monopólio e o cartel quan-
do possível, todos os governos do planeta têm como premissa fundamental, por ex-
tensão, a mesma forma de sobrevivência. Usando os EUA como estudo de caso, em
2011 o país ganhou cerca de 2,3 trilhões de dólares apenas em receitas de imposto
de renda.415 Essas receitas são importantes para o funcionamento do que é, por con-
sequência, a instituição de negócios conhecida como os “EUA”, da mesma forma
que os ganhos anuais da Microsoft afetam a sua capacidade de funcionar. Os Estados
Unidos são, na verdade, uma corporação em função e forma; com todas as empresas
registradas existentes em sua teia jurídica interna sendo consideradas filiais desta
180
instituição paterna que tradicionalmente chamamos de “governo dos EUA”.
Portanto, todas as ações do governo dos EUA, juntamente com todos os governos
que competem no mundo, devem manter naturalmente uma aguda visão de negócios
em operação. No entanto, o que separa essa “corporação-mãe” (EUA) de seus seto-
res subsidiários (empresas) é a escala de sua capacidade de preservar a si mesma e
manter uma vantagem competitiva. Sua necessidade de preservar as linhas funda-
mentais de sua economia é crucial, e um breve olhar na história de como os EUA
foram capazes de conquistar e manter o seu status de “império” global mostra essa
visão de negócios claramente. De fato, a manifestação pouco difere, em princípio, de
como uma corporação específica procura obter um monopólio comercial. Mas, nesse
caso, o ideal do monopólio global (império) não é restringido por força de lei, como
comumente ocorre com a restrição legal doméstica - é vigorosamente executado no
teatro da guerra imperialista.
Este ponto foi provavelmente melhor expressado por um dos oficiais do exército
mais condecorado dos EUA no século 20: Major General Smedley D. Butler.421 Butler
foi o autor de um famoso livro lançado após a 1ª Guerra Mundial intitulado “War is a
Racket” (A Guerra é uma Fraude), e declarou o seguinte em relação ao negócio da guer-
ra: “A guerra é um crime. Ela sempre foi. É possivelmente o mais antigo, facilmente o
mais rentável, certamente o mais cruel. É o único de âmbito internacional. É o único em
que os lucros são contados em dólares e as perdas em vidas”.422
Ele também escreveu, em 1935: “Passei 33 anos e quatro meses em serviço militar
ativo e, durante esse período, passei a maior parte do meu tempo como um valentão
de luxo para grandes empresas, Wall Street e os banqueiros. Em suma, era um mafio-
so, um gangster do capitalismo. Ajudei a tornar o México, e especialmente Tampico,
seguro para os interesses petrolíferos norte-americanos em 1914. Ajudei a fazer de
Haiti e Cuba bons lugares para os rapazes do National City Bank coletarem receitas.
Ajudei no estupro de uma meia dúzia de repúblicas da América Central em benefício
de Wall Street. Eu ajudei a purificar a Nicarágua para a International Banking House
da Brown Brothers em 1902-1912. Eu trouxe a República Dominicana à luz para os
181
interesses açucareiros norte-americanos em 1916. Eu ajudei nas leis de Honduras
para beneficiar as empresas de frutas americanas em 1903. Na China, em 1927, eu
ajudei a Standard Oil a continuar seu trabalho sem ser molestada. Olhando para trás,
eu poderia ter dado a Al Capone algumas sugestões. O melhor que ele fez foi operar
seu esquema fraudulento em três distritos. Eu operei em três continentes.”423
Agora, muitos pensariam nestes atos abusivos como de certa forma “corruptos”,
mas é difícil justificar esse raciocínio em uma visão ampla. O argumento ético e
moral de o que é “justo” e “injusto” não tem uma integridade convincente no âmbito
do sistema inerente ao capitalismo. Essa é uma das lamentáveis falhas de percepção
daqueles ativos pela mensagem de “paz mundial” ou de ativismo “anti-guerra”, mas
que ainda assim defendem o modelo de mercado competitivo. Em outras palavras,
“a paz mundial” parece simplesmente não ser uma possibilidade dentro do modelo
atualmente aceito de prática econômica.
Thorstein Veblen, novamente em seus escritos de 1917, fez a conexão direta com
o que ele chamou de fundação monetária ou “pecuniária” da guerra: “Surgiu durante
o argumento de que a preservação da presente lei e ordem pecuniária, com toda a sua
ligação com a propriedade e o investimento, é incompatível com um estado não-belicis-
ta de paz e segurança. Esse atual esquema de investimentos, negócios e sabotagem [in-
dustrial], deve ter uma chance bem melhor de sobrevivência em longo prazo, se forem
mantidas as atuais condições de preparação bélica e “insegurança” nacional, ou se a
paz projetada estiver em um estado um pouco problemático, suficientemente precário
para manter as animosidades nacionais em alerta ... “426 “Assim, se os propositores
desta paz geral estão, em qualquer grau, inclinados a buscar concessões no que poderia
tornar a paz duradoura, é evidente que deveria ser parte de seus esforços desde o início
mobilizar-se pela presente redução e eventual revogação dos direitos de propriedade e
do sistema de preços em que esses direitos têm seu efeito.”427 Outra evidência desse
contexto pode ser encontrada nas formas mais modernas de violência indireta. Essas
182
incluem abordagens de “guerra econômica”, como mencionado anteriormente, que
podem servir como atos de agressão completos em si mesmos, ou como parte de um
prelúdio processual para a ação militar tradicional. Exemplos vêm na forma de tarifas
de comércio, sanções, dívida por meio de coerção e muitos outros métodos encobertos
menos conhecidos para enfraquecer um país.428
As instituições financeiras globais, como o Banco Mundial e o FMI, têm pesados in-
teresses de Estado e, portanto, comerciais por trás de si, e têm o poder de alocar dívidas
para países em “resgate” às custas da qualidade de vida de seus cidadãos, muitas vezes
assumindo o controle de recursos naturais ou de indústrias por meio de privatização
seletiva ou outras formas de enfraquecimento da capacidade de um país, ao ponto de o
tornar dependente de outros garantindo vantagem a negócios exteriores.429
É simplesmente uma forma mais velada de subjugação do que se viu, por exem-
plo, com a expansão imperialista britânica por meio de sua “Companhia das Índias
Orientais” - a força comercial que tirou vantagem dos recursos regionais e mão de
obra recém-conquistados na Ásia no século XVII.430 No entanto, ao contrário da ex-
pansão do Império Britânico, a expansão do império norte-americano não ganhou seu
status apenas pela ação militar, embora essa presença ainda seja enorme no mundo.431
Em vez disso, o uso de estratégias econômicas complexas que reposicionaram outros
países em subjugação aos interesses econômicos e geoeconômicos dos Estados Uni-
dos tornou-se comum.432
183
dos economistas de hoje, que parecem incapazes disso ou não querem levar em conta
os eventos atuais. Mesmo os economistas laissez-faire mais comprometidos ainda
expressam a necessidade de um governo e seu aparato legal para existir como uma
espécie de “árbitro” para manter o jogo “justo”. Termos tais como “capitalismo cli-
entelista” são frequentemente usados sob a suposição de que o “conluio” entre um
eleitorado governamental e as instituições corporativas aparentemente isoladas são
de uma natureza não-ética ou “criminosa”. Mesmo assim, como observado antes, é
ilógico supor que a natureza do governo é qualquer outra coisa em sua essência senão
um veículo para apoiar as empresas que compõem a riqueza do país. O aparato nego-
cial é na realidade o país na forma técnica, independentemente da alegação superfi-
cial de que um país “democrático” está organizado em torno dos interesses da própria
cidadania. Na verdade, pode ser bem argumentado que nenhum governo na história
tenha oferecido aos seus cidadãos um lugar legítimo de governança ou de legislação,
e dentro do contexto do capitalismo moderno, que ainda é uma manifestação de va-
lores e suposições seculares com uma clara intenção de elitismo, é interessante obser-
var a forma como esse mito da “democracia” se perpetua hoje.
Para reforçar ainda mais este ponto, um dos arquitetos da Constituição dos Estados
Unidos, James Madison, expressou sua preocupação de forma muito clara sobre a ne-
cessidade de oprimir o poder político daqueles das classes mais baixas. Ele declarou:
“Na Inglaterra, nos dias de hoje, se as eleições fossem abertas a todas as classes de
pessoas, as propriedades dos donos de terras estariam em risco. Uma lei agrária aconte-
ceria em breve. Se estas observações estiverem corretas, o nosso governo deve proteger
os interesses permanentes do país contra a inovação. Os proprietários de terra devem
ter uma participação no governo para apoiar esses interesses de valor inestimável, e
para equilibrar e verificar o outro. Eles devem ser constituídos de tal forma a proteger
a minoria dos opulentos contra a maioria. O Senado, por isso, deveria ser este corpo;
e para responder a esses propósitos, eles deveriam ter permanência e estabilidade.”435
184
desequilíbrio global de riqueza. Desnecessário dizer, dada a base financeira de tudo
no mundo de hoje, que uma grande riqueza vem acompanhada de grande poder. As-
sim, como descrito antes, esse poder permite uma estratégia mais robusta de ganho
competitivo e autopreservação e, consequentemente, estende-se à própria estrutura do
sistema social, garantindo que a classe alta tenha grande facilidade na manutenção da
segurança de sua vasta riqueza, enquanto as classes mais baixas enfrentam enormes
barreiras estruturais para alcançar qualquer nível básico de segurança financeira.
Deixando de lado a tributação que favorece certas classes, outros quatro fa-
tores estruturais mais críticos serão discutidos: (a) dívida, (b) juros, (c) inflação e
(d) a disparidade de renda.
(A) A dívida é uma prática social mal compreendida, a qual a maioria assume ser
uma opção na sociedade de hoje. Na realidade, todo o sistema financeiro é construído
sobre dívidas, literalmente. Todo o dinheiro na economia moderna é trazido à existên-
cia por meio de empréstimos, cuja origem provém de bancos centrais e comerciais
que essencialmente criam o dinheiro com base na demanda.440 Esse mecanismo bási-
co de criação monetária é uma força poderosa de opressão econômica. Hoje a dívida
das famílias tende a consistir de empréstimos de cartão de crédito, crédito para mora-
dia, crédito de veículos e empréstimos estudantis (educativos). Aqueles nas classes
mais baixas, naturalmente, mantêm níveis mais elevados dessa dívida consumista do
que a classe alta, uma vez que o próprio fato de ser incapaz de quitar definitivamente
os produtos sociais mais básicos, como um carro ou uma casa, leva à necessidade de
empréstimos dos bancos.
185
pelo empregado médio tende a apenas mal satisfazer as necessidades básicas de ma-
nutenção de crédito, em conjunto com o atendimento da sobrevivência diária básica.
Assim, uma forma de “correr sem sair do lugar” se faz constante e a possibilidade
de mobilidade social acima na hierarquia de classes é profundamente impedida, sem
contar a dificuldade de simplesmente se quitar as dívidas.444
Como mencionado em artigos anteriores, isso cria a condição em que mais dívida
é gerada do que o dinheiro em circulação pode cobrir. Quando um empréstimo é
feito, só o que é chamado de “principal” é produzido. A oferta de moeda de qualquer
país consiste neste principal, que é o valor agregado de todos os empréstimos feitos
(criação de dinheiro). A taxa de juros, por outro lado, não existe. Isso significa que,
no plano social, todos aqueles que pegam empréstimos com juros devem encontrar
dinheiro na oferta de moeda preexistente, a fim de quitar a dívida quando pagar o
empréstimo. Neste processo, uma vez que todos os juros pagos estão sendo realoca-
dos do montante principal, é uma possibilidade matemática que certos empréstimos
simplesmente não poderão ser quitados. Simplesmente não há dinheiro suficiente no
sistema em qualquer que seja o momento.445
O resultado é uma pressão descendente nas classes ainda mais poderosa e sobre
aquelas que detêm tais empréstimos básicos e comuns, uma vez que sempre há essa
escassez básica na oferta de dinheiro e todos os que trabalham para atender seus em-
préstimos têm de lidar com a realidade inevitável de que alguém vai falhar no pagamen-
to dos mesmos em longo prazo. Falência é um resultado comum naqueles segmentos
da sociedade que são menos favorecidos. Ainda mais preocupante é a forma como o
mecanismo bancário reage àqueles que são incapazes de cumprir as obrigações dos
empréstimos. Na maioria dos casos, o contrato de empréstimo e o sistema legal apoiam
o poder dos bancos para “reaver” a propriedade física de quem não puder pagar.446
186
da classe superior, estão tomando casas, carros e bens das classes mais baixas, sim-
plesmente porque o dinheiro criado do nada na forma de um empréstimo não está
retornando para eles. Esta é, em essência, uma forma dissimulada de transferência
de riqueza física da classe mais baixa para a classe alta. No entanto, voltando ao
assunto do juros em si, tais realidades são de pouca relevância direta para a classe
alta. Dado o excesso de riqueza inerente ao seu status financeiro, aliado à falta
de necessidade de tomar empréstimos – muitas vezes devido a esse excesso – a
pressão inerente à escassez da oferta de dinheiro em função das taxas de juros
sempre recai sobre os ombros das classes mais baixas. Além disso, os ricos são, na
verdade, ainda mais protegidos na medida em que o fenômeno dos rendimentos de
investimento via juros de grandes cadernetas de poupança, certificados de depósito
e outros meios, tornam este veículo de opressão social para os pobres em um veí-
culo de vantagem financeira para os ricos.447
(C) A inflação é geralmente definida como “A taxa em que o nível geral de preços
de bens e serviços cresce e, posteriormente, o poder de compra cai.”448 Infelizmente
esta definição comum não dá uma visão sobre a sua verdadeira causalidade. Embora
haja debate quanto às verdadeiras causas da inflação em diferentes escolas econômi-
cas,449 a “Teoria Quantitativa da Moeda”450 tem sido comprovada como a mais rel-
evante. Em suma, esta teoria simplesmente reconhece que, quanto mais dinheiro em
circulação, mais inflação ou crescimento de preços. Em outras palavras, sendo todas
as coisas iguais, se duplicarmos a oferta de moeda, os níveis dos preços também irão
dobrar, etc. O novo dinheiro dilui o valor do dinheiro existente em uma variação da
teoria de valor da oferta e procura.
187
Ao contrário da crença popular, a maioria dos empréstimos não é feita a partir
de depósitos existentes de um banco. Eles são inventados em tempo real, limitados
apenas por uma percentagem fixa de seus depósitos existentes.453 Em suma, devi-
do a este processo, ao longo do tempo, é atualmente possível que para cada 10.000
dólares depositados, cerca de 90 mil dólares sejam criados através dos empréstimos
e depósitos em curso em todo o sistema bancário.454 Esta pirâmide de dinheiro, jun-
tamente com a pressão de juros que cria a escassez da oferta de moeda, revela que o
sistema é inerentemente inflacionário.
(D) As diferenças de renda na sociedade têm tanto uma causa psicológica quanto
estrutural. Psicologicamente, elas são conduzidas, em parte, pelo incentivo de lucro
básico e preservação de custo necessário para manter a competitividade e a funciona-
lidade no mercado. Em muitos aspectos, este incentivo poderia ser considerado cog-
nitivamente estrutural, já que há uma fronteira comportamental a qual todos os par-
ticipantes da economia de mercado devem aderir quando se trata de sobrevivência.
Por sua vez, o interesse de autopreservação através da relação de custo-benefício e
maximização dos lucros, enquanto básicos para o núcleo do jogo capitalista, mostram
uma clara tendência a se estender como uma filosofia de sobrevivência ou de sistema
de valores humanos em geral.
Por exemplo, boa parte da renda agora vindo de “ganhos de capital” é um ex-
emplo disso. Embora aparentemente uma nuance minoritária da renda geral, alguns
analistas econômicos têm considerado os ganhos de capital como “ingrediente-chave
da disparidade de renda nos EUA”.458 Os ganhos de capital são definidos como “o
188
montante pelo qual o preço de venda de um ativo excede o seu preço de compra
inicial. Um ganho de capital realizado é um investimento que foi vendido com um
lucro”.459 Seu contexto mais comum é no que diz respeito à venda de ações, títulos,
derivativos, futuros e outros veículos de “negociação” abstratos.
Verificou-se que nos Estados Unidos, 0,1% da população ganha cerca de metade
de todos os rendimentos de capital,460 e tais ganhos representam aproximadamente
60% da renda dos 400 cidadãos mais ricos.461 O mecanismo de classe dos ganhos
de capital é interessante porque é uma forma privilegiada de renda. Mesmo que o
mercado de ações possa ser usado para fundos conservadores mútuos e investimen-
to em previdência para a população geral, ele na verdade é um jogo da classe mais
alta quando se trata de retornos substanciais, devido ao alto nível de capital inicial
necessário para facilitar retornos de grande valor. Como o elitismo do alto nível de
renda sobre juros, os ganhos de capital são um mecanismo de segurança para a classe
alta, que é abastecida pela riqueza substancial já existente.
Então nós temos as diferenças de renda com relação à posição na hierarquia cor-
porativa. Em um estudo realizado pelo Canadian Centre for Policy Alternatives, ver-
ificou-se que os principais CEOs do Canadá recebem em 3 horas o mesmo salário
anual de um trabalhador médio.462 Nos Estados Unidos, de acordo com pesquisa do
Economic Policy Institute “os ganhos médios anuais do 1% mais rico cresceu 156%
entre 1979 e 2007; para o 0,1% mais rico, o crescimento foi de 362%. Por outro lado,
assalariados do 90º ao 95º percentil tiveram crescimento salarial de 34%; menos de
um décimo dos que estão entre o 0,1% superior. Trabalhadores que estão nos 90%
inferiores tiveram o menor crescimento de salários: 17% de 1979 a 2007.”463
189
significativo de desigualdade nos últimos dez anos.466467
Um ponto estatístico sutil, porém revelador a ser notado, é como durante as re-
cessões recentes nos Estados Unidos, a disparidade de riqueza tem realmente aumen-
tado.468 É axiomático concluir que se o sistema econômico não possuísse qualquer
interferência estrutural em favor dos ricos, uma recessão nacional da escala como a
que ocorreu a partir de 2007 deveria ter afetado negativamente a maioria, indepen-
dentemente da classe social. No entanto, foi relatado que em 2010 que “os 5% dos
norte-americanos mais ricos, que ganham mais de US$ 180.000, acrescentaram um
pouco às suas rendas anuais no ano passado... Famílias com nível médio em $50.000
escorregaram para baixo.”469
190
o 50º percentil - vai fazer, pois esse consumidor é (nós pensamos) menos relevante
para os dados agregados do que como os ricos se sentem e o que estão fazendo. Este
é simplesmente um caso de matemática, e não de moralidade”.473
E continua: “o coração da nossa tese da plutonomia [é] que os ricos são a principal
fonte de renda, riqueza e demanda em países plutonômicos como o Reino Unido,
EUA, Canadá e Austrália...
Em segundo lugar, acreditamos que os ricos vão continuar ficando mais ricos nos
próximos anos, pois os capitalistas (os ricos) vão obter uma participação ainda maior
no PIB, como resultado, principalmente, da globalização. Esperamos que o conjunto
global de mão de obra das economias em desenvolvimento irá manter a inflação salarial
sob controle, e as margens de lucro crescentes - bom para a riqueza dos capitalistas,
relativamente ruim para o mercado de trabalho não qualificado/terceirizado. Esta é uma
boa previsão para as empresas que vendem para ou sustentam-se do rico.”475
191
preocupa é que há tanto dinheiro e tanto poder no topo, e a desigualdade entre as pes-
soas no topo e todo o resto é tão grande, que vamos ver a mobilidade social sufocada
e a sociedade transformada.”479
Conclusão
Muito mais poderia ser dito em relação à luta em múltiplos níveis ocorrendo no
planeta Terra, principalmente centrada no poder financeiro e de mercado e sua preser-
vação institucional. Da violência física à sutil manipulação legal, o tema é consistente
e dominante. Pode até ser argumentado que o progresso em si trava uma guerra contra
isso já que as instituições corporativas estabelecidas que mantêm forte participação
de mercado em um determinado setor irão muitas vezes trabalhar impiedosamente
para acabar com qualquer coisa que possa competir com elas, mesmo que o produto
seja progressivamente melhor ou mais sustentável.480 A própria mudança e o pro-
gresso, em termos reais, não são bem recebidos no sistema capitalista, uma vez que
muitas vezes perturba o sucesso das instituições estabelecidas. A taxa incrivelmente
lenta de aplicação de novos métodos sustentáveis de aperfeiçoamento tecnológico é
um bom exemplo disso.481
Em nível nacional, “paz” hoje parece ser apenas uma pausa entre os confli-
tos no palco da civilização global. Há uma guerra acontecendo em algum lugar
praticamente o tempo todo e quando não há, as grandes potências estão ocupadas
construindo armas mais avançadas e/ou vendendo as antigas para outros países que
estão se posicionando da mesma forma, tudo em razão não apenas de proteção, mas
em nome de “um bom negócio” também.483 Mesmo as nações em si assumiram
uma forma de hierarquia de classes onde nações dominantes do 1º mundo subju-
gam nações pobres do 3º mundo. Termos hierárquicos comuns como superpotên-
cias, poderes, sub-poderes e estados vassalos podem ser encontrados na literatura
histórica com relação à hierarquia de classe nacional e os mecanismos estruturais
que mantêm esse gradiente em forma, e sua intenção não é muito diferente daqui-
lo que mantém as classes sociais em ordem. Por exemplo, enquanto os sistemas
de dívida e de juros, como descritos, conseguem pressionar muito bem as class-
es mais baixas, estruturalmente limitando a prosperidade e a mobilidade social,
192
o mesmo efeito ocorre para reprimir uma nação através do Banco Mundial e do
Fundo Monetário Internacional.484 Mesmo John Adams, o segundo presidente dos
Estados Unidos apontou isso em sua declaração: “Há duas maneiras de conquistar
e escravizar um país. Uma é pela espada. A outra é pela dívida”.485
Numa escala mais ampla, a verdadeira guerra que está sendo travada é em
relação a resolução de problemas e a harmonia humana. A verdadeira guerra está
em um equilíbrio de poder e justiça social. A verdadeira guerra, de fato, é em
relação a instituição da igualdade econômica.486487 Nas palavras do ex-juiz da Su-
prema Corte dos EUA, Louis D. Brandeis: “Podemos ter democracia neste país,
ou podemos ter uma grande riqueza concentrada nas mãos de uns poucos, mas não
podemos ter os dois.”488
193
Notas e Referências: Capítulo 11
[391] Fonte: Por que as Zebras Não Tem Úlceras, Robert Sapolsky, W. H.
Freeman, 1998, p.383
[393] Idem.
[396] O uso da religião para gerar apoio político para atos imperiais de
guerra é bastante comum historicamente. Mesmo nos Estados Unidos
hoje, os políticos, no que diz respeito às ações militares recentes, têm
consistentemente discursado em tom de guerra religiosa ou agido em
nome de “Deus”. Estados islâmicos e judeus parecem fazer a mesma coi-
sa, junto com os estados. O conflito israelo-palestino, por exemplo, que
é geralmente reconhecido como um conflito profundamente religioso por
território “santo”, revela após uma inspeção mais próxima, que a religião,
embora pareça ser um fator real na mente do público em geral, não é
realmente a raiz do conflito. A verdadeira raiz parece ser o imperialismo
da elite e a aquisição de recursos em geral, com a religião utilizada como
meio para promover e manter o apoio público. Referência: http://www.
194
thejakartaglobe.com/globebeyond/israel-palestine-not-a-religious-con-
flict/558353
[400] Nos dia atuais, o termo “guerra preventiva” é comumente usado para
justificar um ato de agressão pela reivindicação de que é um movimento
defensivo para impedir um ataque iminente de algum tipo pelo alvo.
195
[401] O ex-assessor de Segurança Nacional dos EUA, Zbigniew Brzez-
inski, expressa essa “defesa paternalista” claramente em sua obra ‘O
Grande Tabuleiro de xadrez: Primazia americana e sua imperativos
geoestratégicos’. Ele afirma no que diz respeito à necessidade de os
Estados Unidos permanecem essencialmente no controle do mundo:
“A América é agora a única superpotência global, e a Eurásia é a arena
central do globo. Assim, o que acontece com a distribuição de poder no
continente eurasiano será de importância decisiva para a primazia global
dos Estados Unidos e para o legado histórico da América.” (Basic Books
Publishing, 1998, p.194) “Para colocar em uma terminologia que remonta
à era mais brutal dos antigos impérios, os três grandes imperativos da
geoestratégia imperialista são impedir conluio e manter a dependência
de segurança entre os vassalos, para manter os clientes dóceis e pro-
tegidos, e impedir os bárbaros de se unirem. “(Ibid., p.40) “A partir de
agora, os Estados Unidos podem ter que determinar como lidar com
coalizões regionais que procuram empurrar a América para fora da Eurá-
sia, ameaçando, assim, o status dos Estados Unidos como uma potência
global.” (Ibid, p.55)
[405] Referência: você pode apoiar as tropas mas não a guerra? Respos-
ta das Tropas (http://www.huffingtonpost.com/paul-rieckhoff/can-you-sup-
port-the-troop_b_26192.html)
196
[410] Um exemplo recente disso foi a revolta do “Occupy Movement”,
que foi considerado uma possível “ameaça terrorista” pelo FBI, como foi
revelado mais tarde. (Fonte: http://www.justiceonline.org/commentary/fbi-
files-ows.html)
[412] Referência: “Por que sair do exército dos EUA é tão difícil?”, Time,
2012 (http://nation.time.com/2012/05/04/why-is-getting-out-of-the-u-s-ar-
my-so-tough/)
197
[423] Originalmente na Revista “Common Sense”, 1935. Reproduzido em
“Hans Schmidt’s Maverick Marine: General Smedley D. Butler and the
Contradictions of American Military History” ( O Rebelde da Marinha de
Hans Schmidt : General Smedley D. Butler e as contradições da História
Americana Militar”. University Press of Kentucky, 1998 p.231
[431] A partir de 2011, foi relatado que os militares dos EUA estão em
mais de 130 países, com cerca de 900 bases. Fonte: Ron Paul diz que
EUA tem militares em 130 nações e 900 bases no exterior, politifact.com,
2011 (http://www.politifact.com/truth-o-meter/statements/2011/sep/14/ron-
paul/ron-paul-says-us-has-military-personnel-130-nation/)
198
das Nações, Adam Smith, 1776, par. V.1.2
[443] Referência: The Debt That Won’t Go Away (A dívida que não se
acaba), cnbc.com, 2010 (http://www.cnbc.com/id/40680905)
199
durante o tempo de pagamento. Isto não é verdade. Pagamentos de
rendimentos de juros são gerados pelos lucros existentes da instituição
financeira, assim a suposição não muda a equação. A taxa de juros
necessária para o pagamento simplesmente não existe na oferta de
dinheiro.
200
[454] Para citar a Mecânica Monetária Moderna: “A quantidade total de
expansão que pode acontecer... Realizada através de limites teóricos, a
reserva inicial US$10.000 distribuída dentro do sistema bancário dá ori-
gem a uma expansão de US$90.000 em crédito bancário (empréstimos
e investimentos) e suporta um total de US$100.000 em novos depósitos
sob o requerimento de 10% das reservas.” (Modern Money Mechanics,
Federal Reserve Bank of Chicago, 1961)
[455] Referência: U.S. Income Inequality: It’s Worse Today Than It Was
in 1774 (Desigualdade de Renda nos EUA: é pior hoje do que era em
1774), TheAtlantic.com, 2012 (http://www.theatlantic.com/business/
archive/2012/09/us-income-inequality-its-worse-today-than-it-was-
in-1774/262537/)
[458] Referência: The Top 0.1% Of The Nation Earn Half Of All Capi-
tal Gains (Os 0,1% mais ricos da nação recebem metade de todos os
ganhos de capital), Forbes.com de 2011 (http://www.forbes.com/sites/
robertlenzner/2011/11/20/the-top-0-1-of-the-nation-earn-half-of-all-capital-
gains/)
[460] Referência: Capital gains tax rates benefiting wealthy feed growing
gap between rich and poor (Benefícios fiscais nos lucros dos ricos au-
mentam o fosso crescente entre ricos e pobres), WashingtonPost.com de
2011 (http://www.washingtonpost.com/business/economy/capital-gains-
tax-rates-benefiting-wealthy-are-protected-by-both-parties/2011/09/06/
gIQAdJmSLK_story.html)
201
top-canadian-ceos-make-average-workers-salary-in-three-hours/)
[463] Referência: CEO pay and the top 1% (Pagamento dos Diretores
Executivos e dos 1% mais ricos), Epi.org, 2012 (http://www.epi.org/publi-
cation/ib331-ceo-pay-top-1-percent/)
[464] Ibid.
[468] Os dados do censo dos EUA revelaram: “Os 20% dos norte-amer-
icanos que recebem maior salário - aqueles que ganham mais de
100.000 dólares por ano - receberam 49,4% de toda a renda gerada
nos EUA, em comparação com os 3,4% ganhos pelos 20% inferiores
dos assalariados, aqueles que caíram abaixo da linha da pobreza, de
acordo com os novos números. Essa proporção de 14,5 para 1 foi um
aumento de 13,6 em 2008, e quase o dobro de uma baixa taxa de 7,69
em 1968. No topo, os 5% mais ricos norte-americanos, que ganham
mais de US$180.000, aumentaram um pouco suas rendas anuais no ano
passado, os dados mostram. Famílias de nível mediano nos US$50.000
diminuíram.” Fonte: http://www.huffingtonpost.com/2010/09/28/income-
gap-widens-census-_n_741386.html
[473] Fonte: The Plutonomy Symposium - Rising Tides Lifting Yachts, Citi-
group Internal Memo, 29 de setembro de 2006, p.11
202
[474] Referência: Riqueza, Renda, e Poder, UCSC.edu, 2013 (http://sociol-
ogy.ucsc.edu/whorulesamerica/power/wealth.html)
[476] Fonte: The Plutonomy Symposium - Rising Tides Lifting Yachts, Citi-
group Internal Memo, 29 de setembro de 2006, p.11
[486] Referência: Pobreza ‘Extrema’ nos EUA mais do que dobrou, diz
203
estudo, MoneyNews.com, 2012 (http://www.moneynews.com/Economy/
Extreme-Poverty-US/2012/03/06/id/431627)
[487] Referência: Do 1%, pelo 1%, para o 1%, VanityFair.com, 2011 (http://
www.vanityfair.com/society/features/2011/05/top-one-percent-201105)
204
Capítulo 12
Introdução ao
Pensamento Sustentável
Espectro Socioeconômico
Como mencionado em ensaios anteriores, práticas sustentáveis só podem aconte-
cer por meio de uma re-orientação de valores relacionadas com o pensamento suste-
ntável. Enquanto a noção de sustentabilidade é muitas vezes reduzida a um contexto
ecológico, a verdadeira e mais profunda questão é cultural. Este, portanto, torna-se
um processo de educação. É da perspectiva do Movimento Zeitgeist que o sistema
econômico utilizado em uma sociedade é a maior influência sobre os valores e cren-
ças de seu povo. Por exemplo, profundamente enraizada, mesmo nas aparentemente
antagônicas doutrinas político-religiosas do nosso tempo, reside uma corrente subter-
rânea de valores estabelecidos por premissas econômicas.490
Além disso, é fundamental reafirmar que os sistemas políticos, que em sua maioria
ainda parecem priorizar os problemas das sociedades, são, na melhor das hipóteses,
secundários em importância (senão inteiramente obsoletos) quando as ramificações
reais da estrutura econômica são levadas em consideração. De fato, como será dis-
cutido em ensaios futuros, governança “política” como conhecemos, nada mais é do
que uma consequência da ineficiência econômica. Poucos dariam muita importância
a “quem estava no poder”, ou outras noções tradicionais, caso entendessem clara-
mente o processo do desenvolvimento econômico e fossem capazes de contribuir
205
e progredir sem conflito. Portanto, não há problema de maior importância do que o
sistema de desenvolvimento econômico quando se trata do comportamento e estabil-
idade dos seres humanos, tanto no nível pessoal quanto social.
Efemerização
De um modo geral, um sistema econômico existe para atender as “necessidades
e desejos”492 da população. O grau em que isto é possível depende do estado dos
recursos disponíveis e da estratégia técnica utilizada para aproveitar esses recursos
para uma determinada finalidade. Neste contexto, o notável engenheiro e pensador
R. Buckminster Fuller argumentou que a verdadeira “riqueza” econômica não é o
dinheiro ou até mesmo o resultado material de uma determinada produção.493 Em vez
disso, a verdadeira riqueza é o nível adquirido de eficiência energética ou produtiva,
em conjunto com a evolução de conhecimento que promove a gestão inteligente dos
recursos da Terra. Nessa perspectiva, ele definiu e expressou uma tendência chamada
de “efemerização”,494 que indica a capacidade técnica da humanidade de fazer “cada
vez mais com menos”.
Como observado nos ensaios anteriores, essa visão de mundo é sempre perceptível
no sistema econômico mundial em que estamos envolvidos, dando forma a vieses
estruturais profundos,496 os quais, inevitavelmente, têm favorecido uma “classe” de
pessoas em detrimento de outras, em uma vantagem na sobrevivência. Em outras pa-
lavras, culminamos em um “jogo bélico”, construído a partir do pressuposto de escas-
sez universal e perpetuamente reforçado, que segue hoje em uma dinâmica própria,
amplamente separado de sua causa original.
206
Estas possibilidades, em parte, revelam estatisticamente que nós agora somos
capazes de cuidar de toda a população do mundo com um padrão de vida inacessível
para a grande maioria da humanidade de hoje.497 Contudo, para que essa nova re-
alidade de eficiência seja aproveitada, as barreiras arcaicas arraigadas em nosso
modo de vida cotidiano, especialmente a nossa percepção da economia, precisam ser
reavaliadas e, provavelmente, superadas por completo.
Como observado nos ensaios anteriores, o termo “utopia” geralmente surge como
um termo pejorativo entre aqueles que tendem a recusar uma melhoria social em
grande escala, devido a um cinismo da chamada “natureza humana” ou a uma de-
scrença absoluta na capacidade técnica da humanidade para hoje ajustar-se ampla-
mente aos novos meios técnicos.
Por exemplo, uma objeção comum à cultura atual, especificamente àquela das
nações “ricas” do Primeiro Mundo, repousa no valor do que poderia ser chamado de
“violência da aquisição em massa”. Em sua raiz, essa visão toma o conceito malthu-
siano de insuficiência de recursos para as necessidades e o transpõe para assumir uma
pressão de irracionalidade aquisitiva.
Até que ponto isso é verdade é algo a ser questionado, dada a condição cultural
extrema em que nos encontramos hoje e tendo como referência o fato histórico de
que, fora da influência Ocidental (ou seja, Capitalista), o conceito de “apenas sucesso
material” está longe de ser universal para o ser humano.498 Na verdade, a relação entre
“sucesso” e “propriedade” foi fabricada culturalmente, com base nas necessidades do
sistema e agora é um valor básico da nossa sociedade baseada em consumo.499
207
porquê de a ideia de um único ser humano ser dono de uma propriedade com, dig-
amos, 400 quartos, em 242,3 mil hectares de terras privadas, com 50 carros e cinco
aviões estacionados no jardim da frente, ter se tornado parte de uma visão ideal e
cobiçada de sucesso pessoal (e social).
Esta questão é aqui levantada para desbancar a reação, comum a muitos, de “falácia
de abundância utópica” em relação às implicações da efemerização. Assim como nós,
como uma sociedade global, estamos percebendo as limitações físicas inerentes aos
nossos comportamentos industriais, lentamente nos ajustando para nos distanciarmos
das consequências ecologicamente desestabilizadoras, é crucial entender que um valor
baseado em um “querer infinito” é igualmente prejudicial para o equilíbrio social.
Limitações do Sistema
Ao tratar de filosofias culturais, a população humana deve ter, parcialmente,
uma clara compreensão de suas limitações e derivar suas expectativas e valores a
partir da realidade física. As limitações impostas por nosso meio ambiente existem
independentemente de valores humanos, interesses, desejos ou mesmo de necessi-
dades abstratas. Se removêssemos a humanidade do planeta Terra e observássemos
as operações ecológicas naturais da Terra com o entendimento causal e científi-
co que temos hoje, assistiríamos a um sistema sinérgico/simbiótico regido pela
dinâmica universal da natureza.
Assim, não importa o que pensamos sobre nós mesmos, nossas intenções ou
nossas “liberdades”,501 uma vez que fazemos parte desse sistema de leis físicas
ao qual estamos atados, independentemente de nossas crenças ou das normas
culturais que tomamos como verdade, ou que tenham sido impostas como “in-
evitáveis” ou “imutáveis” por nossas várias culturas. Se optamos por aprender e
nos alinhamos com a lógica inerente, encontraremos a sustentabilidade e, con-
sequentemente, a estabilidade. Se optamos por ignorar ou combater essas regras
pré-existentes, inevitavelmente reduziremos a estabilidade e os problemas sur-
girão, como tem sido o estado quase constante das coisas, atualmente, nesse in-
ício do século 21.
208
Esta tomada de consciência das limitações naturais, como hoje viemos a en-
tendê-las, através do método científico, expressa talvez a mais profunda mudança nas
“lealdades” humanas da história. Em suma, agora entendemos que, ou nos alinhamos
com o mundo natural, ou sofreremos. Infelizmente, essa forte associação referencial
ainda está em desacordo com muitas filosofias populares de hoje em dia, tais como
algumas perspectivas religiosas e políticas estabelecidas. Igualmente notável é a réplica
habitual de rotular essa percepção muito firmemente estabelecida como “totalitária” ou
“tudo-ou-nada”, uma imposição aparentemente rígida e arbitrária sobre a vida humana,
em vez de simplesmente o estado inegável e cientificamente demonstrável das coisas.
209
questões - torna-se então fundamental basear a nossa metodologia sobre o conjunto
mais relevante de parâmetros técnicos que pudermos, orientada em torno do estado
atual do conhecimento científico, tanto em nível ecológico quanto humano.
210
Notas e Referências: Capítulo 12
211
controlar / limitar o crescimento da população devido a uma suposição
empírica de escassez relativa de recursos. Idéias como “não ajudar
os pobres”, uma vez que “apenas dá falsa esperança”, e similares são
comuns a este ponto de vista. [Sugestão de Leitura: Um Ensaio sobre o
Princípio da População, Thomas Malthus, 1798
212
do comportamento humano. Na realidade, não existe tal coisa como liber-
dade universal, no mundo, uma vez que leis físicas rígidas nos limitam. A
noção cultural de “liberdade”, como largamente propagada pela ideolo-
gia Capitalista, pode-se argumentar ser intrinsecamente perigosa para
a sustentabilidade das espécies, de muitas maneiras - especificamente
no que diz respeito à sua absoluta ignorância de fatores de ordem maior,
do sistema sinérgico, assumindo a falácia de que uma busca individual
de satisfação, com base em auto-interesse, assegura o equilíbrio social e
ecológico.
[502] Mais tarde em sua vida, o astrônomo Carl Sagan fez um comentário
de vídeo que pode ser encontrado em versões posteriores de seus
vídeos PBS (Public Broadcasting Service é uma rede de televisão es-
tadunidense de caráter educativo-cultural, em contraponto às grandes
redes comerciais que operam no país), da série “Cosmos”, afirmando
(parafraseado aqui): “É quase como se existisse um Deus e ele tivesse
dado a humanidade a opção de usar o poder da ciência para melhorar a
vida ... ou destruí-la. Cabe a nós escolher.”
213
214
Capítulo 13
Tendências Pós-escassez,
Capacidade e Eficiência
Avaliando o Projeto
Examinando a superfície da Terra, hoje, percebe-se que uma camada de rede de
comunidades, centros industriais, vias de transporte, áreas de recreação, sistemas
agrícolas e afins dominam grande parte da paisagem. Independente de pretender ser
ou não uma construção completa de um sistema, este resultado, em um determinado
ponto no tempo, constitui a aparência de um projeto topográfico.
No entanto, por outro lado, uma vez que o resultado deste “projeto” é hoje, na
verdade, uma junção consequente, principalmente, das dinâmicas empresariais -
movimentação do dinheiro em função de interesse próprio ou de grupos, baseada
em mecanismos de tomada de decisão tais como lucro, custo-benefício e a lógica
prevalecente das relações de propriedade - também se poderia argumentar que o
que se manifestou não é na verdade um “projeto”. Pelo contrário, se baseia em um
mecanismo que criou a aparência de projeto ex post facto505, uma vez que o recon-
hecido resultado estrutural não foi totalmente antecipado antes de sua construção,
como um todo.
215
tos e similares por urbanistas financiados que simplesmente precisam ter uma visão
física ampla para serem funcionais, mesmo estas circunstâncias estão muitas vezes
se desenvolvendo em torno de reivindicações de propriedade pré-existentes e outras
formas de interferência que tendem a reduzir a eficiência do projeto como um todo.
Esta é uma observação interessante, pois uma vez reconhecido que a nossa so-
ciedade funciona sem uma preconcepção com seu próprio desenho físico, em larga
escala, começa-se a perceber o nível enorme de desperdício e ineficiência técnica
inerentes a um processo tão míope.
Em outras palavras, como indicado antes, um bem básico, como um carro, tem
um projeto que é concebido com antecedência, antes da produção física. Assim que o
desenho é concluído, em seguida, há a aplicação de materiais e processos reais para
a criação do produto físico real. Isso pode parecer óbvio, para a maioria, como um
processo lógico, mas a relevância de tal pré-concepção muitas vezes se perde quando
se trata de contextos de ordem maior.
Temos que nos perguntar qual seria o resultado se aplicássemos o processo pseu-
216
do-democrático de mercado, baseado em lucro a curto prazo, através de ofertas,
compra e venda, caso possível em tal escala, na criação de sistemas de bens de alta
integridade, como um avião, computador, carro, casa ou similares. Enquanto hoje os
recursos, trabalho e sistemas sub-componentes desses itens estão certamente em jogo
no livre mercado, o projeto em si não está.
217
ciência inerente à qualidade dos componentes básicos dos bens, também devido à
prática de custo-benefício, e ao interesse inerente em produzir o chamado “melhor”
ao “menor preço” que, simplesmente, não produz o melhor de forma alguma.
É importante notar que não há algo como um produto isolado, no sistema fechado
da Terra, no que diz respeito aos recursos planetários e seu uso, e também não há
projetos de bens ou métodos de produção que existam em um vácuo. Cada bem junto
com o seu processo de produção é apenas uma extensão da totalidade da indústria.
Assim, os materiais e os projetos utilizados apenas fazem sentido no contexto da
totalidade da indústria e da gestão de recursos em todos os níveis. Esse entendimento
obriga que constantemente se visualize a indústria (logo, a própria economia) como
um único processo sistêmico de forma a garantir uma eficiência técnica máxima.
Então, com isso em mente e tendo em vista o primeiro ponto sobre por que
certas realidades não são colocadas em prática, embora sejam, em determinado
ponto no tempo, claramente exequíveis, este ensaio examinará tendências tec-
218
nológicas e capacidades projetivas socialmente relevantes que, se aplicadas cor-
retamente, podem transformar radicalmente o mundo em direção a uma condição
de abundância “pós-escassez”, que aliviaria grande parte dos problemas mundiais
tão comuns hoje em dia.
Além disso, é algo conclusivo para o TZM que o atual modelo não apenas im-
pede - ou incorpora muito lentamente - novos adventos em eficiência devido à própria
natureza dos negócios e de sua tendência em preservar a ineficiência em benefício do
lucro,517 mas também que a natureza segregada e avulsa, própria da atividade de mer-
cado, ignora, de forma inerente, considerações mais amplas para identificar e resolver
os problemas ou acelerar as melhorias.518
Eficiência de Design
Se quebrarmos a complexidade cotidiana de nossas vidas, dissecando quais as
relações mais críticas para a sobrevivência humana, sustentabilidade e prosperidade,
poderemos encontrar três coisas básicas: ciência, lei natural e recursos. “Ciência” é o
mecanismo de descoberta e validação; “Lei natural” é o conjunto de regras pré-exis-
tentes as quais estamos continuamente aprendendo e necessariamente nos adaptando,
através da ciência; enquanto os “recursos” existem tanto no contexto dos materiais
brutos do planeta, quanto na capacidade de compreensão da mente humana. No que
diz respeito ao desenvolvimento de projetos, estes três atributos são naturalmente
indispensáveis uns aos outros.
Além disso, o termo projeto industrial,519 para os fins deste artigo, será us-
ado para designar, em todas as suas facetas, o processo industrial economica-
mente orientado, desde a criação singular de um bem até a escala total da econo-
mia global. A história do projeto industrial é, em muitos aspectos, a verdadeira
história do desenvolvimento econômico. Conforme nosso conhecimento científi-
co, sempre emergente, gera inferências lógicas em relação a como melhor utilizar
nossos recursos e tempo, o cenário global, tanto físico como cultural, tem sofrido
mudanças contínuas.
(A) A Eficiência do Trabalho tem uma história única. Desde o início do século 20,
vem ocorrendo uma transição relativamente rápida de um uso dominante de múscu-
los humanos e animais, como fonte da força de trabalho, para um uso de máquinas
motorizadas. Este fenômeno, chamado mecanização, conseguiu elevar a força de tra-
balho de um patamar de esforços exaustivos para um de operação de ferramentas.
Entretanto, perto do final do século 20, este avanço continuou e as máquinas não
219
eram apenas capazes de mover cargas pesadas e executar atividades físicas com-
plexas, mas também se integraram à informatização e certos níveis de inteligência
artificial (IA), e logo se mostraram capazes de também tomar decisões. Em resumo,
a acelerada tendência atual tem provado que as máquinas modernas estão superando
imensamente, em termos de produtividade, a grande maioria das ações que historica-
mente eram realizadas por seres humanos e parece que não há qualquer sinal de di-
minuição desta tendência.520 No geral, o MZ percebe esta tendência como a sugestão
de um poderoso meio pelo qual a espécie humana, caso se adapte adequadamente,
pode maximizar ainda mais a sua capacidade produtiva para atender às necessidades
de todos os seres humanos, de forma a gerar um nível nunca antes visto de liberdade
humana.521
220
a partir de um nível atômico.528
É claro que, por mais profundo que pareça, o estado atual relativamente bruto da
nanotecnologia se aplica principalmente ao contexto dos chamados “materiais inteli-
gentes”529 ou “meta-materiais”.530 Como será abordado mais adiante neste ensaio, o
estado atual e as tendências da ciência de materiais guardam profundas possibilidades
para o presente e para o futuro.
Esta forma de pensar é o cerne de uma visão de mundo através da teoria de siste-
mas. Talvez uma boa maneira de se pensar sobre essa perspectiva de rede é através da
sinergia própria da natureza. Na biosfera da Terra, excluída a interferência humana
atual, não há virtualmente nada que seja lixo. Praticamente tudo o que encontramos
na natureza está profundamente integrado e em equilíbrio, devido à natureza refinada
da própria evolução.
Esta é uma poderosa observação e o termo biomimética532 vale a pena ser men-
cionado neste contexto, já que, em muitos aspectos, o nosso desenvolvimento como
espécie nos permite aprender com os processos naturais já existentes, mesmo que
pareça termos nos dissociado de muitas maneiras. Por isso, facilitar uma integração
o mais otimizada possível, se possível reutilizando tudo, em todos os níveis, assim
como a natureza o faz, deve ser um objetivo social para a garantia da sustentabilidade
e eficiência.
Tendências Estabelecidas e Potenciais
221
Existem duas grandes tendências/realidades básicas a serem consideradas no
mundo de hoje. Para os propósitos deste ensaio, nos referiremos a elas como
“estabelecidas” e “potenciais”. Tendências estabelecidas são as tendências so-
cioeconômicas em jogo no momento da redação deste texto, e estas, no contexto
da saúde pública e do equilíbrio ecológico, apresentam-se quase inteiramente
negativas.533 As tendências potenciais, por outro lado, revelam possibilidades de
melhoria de vida e de criação de equilíbrio que poderiam ocorrer se fossem feit-
as mudanças sociais de ordem maior. Como notado anteriormente, essas duas
tendências parecem indiscutivelmente contradizer uma à outra.
222
as mercadorias, têm mais relevância do que outros quando se trata de saúde pública.
Comparar a escassez de um carro de luxo muito caro que satisfaz a necessidade de
status de seu proprietário mais do que sua finalidade básica de ser um modo de trans-
porte - com a escassez de alimentos, que é uma exigência central da vida para a saúde,
não é legítimo em termos reais. O primeiro interesse, embora talvez importante para
a satisfação do ego do proprietário, que provavelmente já tem suas necessidades bási-
cas atendidas para poder pagar um produto desse tipo, não é equivalente ao segundo
interesse, que corresponde àqueles que pouco ou nada têm para comer e, portanto,
não podem sobreviver. Não se pode arbitrariamente confundir essas “necessidades” e
“desejos”, como se eles fossem simplesmente a mesma coisa, na teoria. Infelizmente,
esta é a forma como o sistema de mercado se comporta.
Isto colocado, abaixo há uma lista das atuais realidades de suporte à vida dis-
poníveis para a população mundial que não tem sido aproveitadas devido a fatores
inibidores inerentes à economia de mercado. Cada ponto será tratado em uma sub-
seção própria.
223
2) Água Limpa: atualmente existem processos de dessalinização e de descontam-
inação em um grau de aplicação tão vasto que nenhum ser humano, mesmo no estado
atual dos níveis de poluição, precisaria estar sem água potável, independente de onde
ele esteja na terra.
Capacidade de Suporte
No entanto, antes que esses quatro temas sejam abordados em detalhe, faz-
se necessária uma análise da “capacidade de suporte” da Terra. A capacidade de
suporte é definida como “o número equilibrado e máximo de organismos de uma
determinada espécie que podem ser sustentados indefinidamente por um determi-
nado ambiente.”542
224
ra nós temos uma capacidade infinita de reprodução. Na verdade, destaca a relevância
do que significa ser estratégico, inteligente e eficiente em nosso uso de recursos e, por
extensão, no próprio processo industrial/econômico.
Este imperativo educacional sugere que uma cultura global consciente, in-
formada, pode estabilizar sua taxa de reprodução, se necessário, sem forças ex-
ternas, caso esta relação básica for bem compreendida. É claro que muito pode-
ria ser dito sobre a influência de crenças tradicionais antigas, como as doutrinas
religiosas que parecem sugerir que a procriação permanente e constante é uma
virtude. Estes pontos de vista, que se originaram na ausência do conhecimento
que temos hoje sobre a nossa existência compartilhada em um planeta finito,
provavelmente serão superados naturalmente através da educação.545
225
volvimento, revela, no mínimo, que há algo fundamentalmente errado com o próprio
processo industrial e econômico global, e não com a capacidade de suporte da Terra
ou com a capacidade da humanidade de processar recursos suficientes.
Enquanto o uso ativo da terra arável e da agricultura baseada na terra deva contin-
uar (de preferência, é claro, com práticas mais sustentáveis do que as atuais),552 neste
momento, uma grande pressão pode ser aliviada com o uso de métodos avançados,
sem solo, que exigem menos água, menos fertilizantes, menos (ou nenhum) pesti-
cidas, menos terra e menos trabalho. Estas instalações podem ser construídas em
ambientes urbanos ou até mesmo fora da orla costeira, no mar.553
226
Talvez o mais promissor dos arranjos é o que hoje é conhecido como agri-
cultura vertical.554 A agricultura vertical tem sido testada em várias regiões, com
níveis de eficiência extremamente positivos. Extrapolando essas estatísticas, jun-
to com o avanço da tendência paralela (aumento da eficiência) dos mecanismos
associados a este processo, revela-se que o futuro da produção abundante de ali-
mentos irá, não só (em comparação com a atual tradição, em terra) usar menos re-
cursos por unidade de produção, como causar menos desperdício, ter uma pegada
ecológica reduzida, aumentar a qualidade dos alimentos e outros; também usará
menor superfície do planeta e permitirá que tipos de alimentos, antes restritos a
certos climas e regiões, possam ser cultivados em praticamente qualquer lugar,
em sistemas verticais fechados.
As objeções comuns a este tipo de agricultura têm sido quase sempre sobre o seu
lastro energético, criticando o uso de luz artificial de alguns arranjos como um uso
muito intensivo de energia. No entanto, o uso de sistemas de energia renovável, como
a fotovoltaica, juntamente com a regionalização propícia aos métodos renováveis, tais
como as próximas de fontes de ondas, marés ou geotérmicas, apresentam soluções
plausíveis de energias sustentáveis, não baseadas em hidrocarbonetos.
227
Este sistema também é relatado como sendo dez vezes mais produtivo, por metro
quadrado, do que a agricultura convencional, com muito menos utilização de água,
mão de obra e fertilizantes, como descrito acima. Também não há custo real de trans-
porte, dado que todos os produtos são distribuídos localmente, economizando mais
recursos e energia.
Versátil:
Ao contrário da agricultura tradicional, as fazendas verticais podem ser construí-
das em qualquer lugar, até mesmo na água, usando camadas ascendentes para multi-
plicar a capacidade de produção. (Ou seja, uma fazenda de dez andares vai produzir
1/10 de uma fazenda de 100 andares.) Esta utilização de espaço é limitada, princi-
palmente, pelas possibilidades da arquitetura. Da mesma forma, o cultivo das plantas
pode ser “por demanda”, em muitos aspectos, uma vez que as restrições por causa
de diferenças regionais têm sido eliminadas já que nessas fazendas se pode cultivar
praticamente qualquer coisa.
228
A Agricultura Vertical usa substancialmente menos água e pesticidas e é mais
propícia para métodos baseados em nutrientes/fertilizantes não originados de hidro-
carbonetos. Seu uso de energia pode variar de acordo com sua aplicação, mas em sua
configuração mais eficiente utiliza-se drasticamente menos energia, tanto para ali-
mentar a própria fazenda, quanto no que diz respeito à necessidade, agora removida,
de excesso de fertilizantes de hidrocarbonetos e transporte baseado em petróleo, que
é um fardo pesado do atual processo baseado em fazendas.
Capacidades pós-escassez:
Estudantes da Universidade da Columbia que trabalharam em sistemas de
fazendas verticais determinaram que, a fim de alimentar 50.000 pessoas, seriam
necessários 30 andares de um edifício do tamanho de um quarteirão da cidade de
Nova Iorque.567 Um quarteirão dessa cidade mede aproximadamente 2,6 hect-
ares.568 Se extrapolarmos isso para o contexto da cidade de Los Angeles, CA, EUA,
com uma população de cerca de 3,9 milhões,569 com uma área total de cerca de 129
mil hectares,570 seriam necessários cerca de 78 edifícios de trinta andares, estru-
turas que cobririam 2,6 hectares de terra, para alimentar os moradores da região.
Isso equivale a separar cerca de 0,1% da área total de terras de Los Angeles para
alimentar a população.571
A Terra, tendo cerca de 29% de terra, tem cerca de 14,890 bilhões de hectares
e uma população humana de 7,2 bilhões, de acordo com dados do final de 2013.572
229
Se extrapolarmos essa mesma base de uma fazenda vertical de 30 andares cobrindo
2,6 hectares para alimentar 50 mil pessoas, necessitaríamos, em tese, de 144.000
fazendas verticais para alimentar o mundo.573 Isso equivale a 373 mil hectares de
terra para instalação dessas fazendas.574 Dado que cerca de 38% de todas as terras da
Terra atualmente estão sendo utilizadas para a agricultura tradicional (5.658.238.250
hectares),575, descobre-se que precisamos apenas de 0,006% das terras agrícolas, ex-
istentes na Terra, para atender essas exigências de produção.576
Dado que apenas precisamos alimentar 9 bilhões até 2050, é preciso aproveit-
ar, apenas, cerca de 0,02% desta capacidade teórica, que, poderia-se argumentar,
provavelmente torna bastante discutível quaisquer objeções aparentemente práticas,
em vista da dimensão da extrapolação acima mencionada. Como nota final, é dito que
as proteínas, que estão prontamente disponíveis no reino vegetal, são colocadas em
questão, nos dias de hoje, pela relevância da produção de carne. Do ponto de vista da
sustentabilidade, ignorando as questões morais e as práticas sem dúvida desumanas
ainda em prática na criação industrializada de gado, a produção de carne é, hoje, um
ato prejudicial ao meio ambiente.
230
de carne é normalmente cultivada em um biorreator.
231
maioria de todos os problemas dos recursos atuais do mundo, é uma questão tanto
de má gestão como de falta de aplicação industrial. Do ponto de vista da gestão, a
quantidade de água desperdiçada no mundo, devido à poluição, uso excessivo e in-
fra-estrutura ineficiente, é enorme. Cerca de 95% de toda a água que entra na maioria
das casas das pessoas vai embora, pelo ralo, em um instante.586
Uma solução sistêmica para otimizar este uso é projetar cozinhas e banheiros para
que eles recapturem água para diferentes fins. Por exemplo, a água que atravessa
uma pia ou chuveiro pode ser disponibilizada para um banheiro. Várias empresas
têm, lentamente, colocado essas idéias em prática recentemente, mas, em geral, a
maioria das infra-estruturas não fazem nada do tipo, tanto quanto não usam sistemas
de reutilização. O mesmo é verdadeiro para grandes edifícios comerciais, que podem
criar redes de reutilização em toda a estrutura, juntamente com a captura de água da
chuva para outros fins, etc.
Isso de lado, a mais notável e ampla solução para compensar esses problemas
emergentes, a fim de facilitar não só um alívio dos problemas atuais com a água, que
afetam mais de 2 bilhões de pessoas, mas também para transcender a uma condição
232
de relativa abundância de água fresca, para todos os seres humanos, está em utilizar
modernos sistemas para (a) purificação e (b) dessalinização, em escalas tanto macro
como micro-industriais.
(A) Purificação:
Avanços na purificação da água estão acelerando, rapidamente, com muitas varie-
dades tecnológicas de abordagens. Talvez uma das mais eficientes hoje seja a chamada
“desinfecção ultravioleta (UV)”. Este processo é facilmente aplicável em larga escala,
tem baixo consumo de energia e funciona rapidamente.
A pessoa média, nos Estados Unidos, usa 2.842 metros cúbicos de água, por
ano.592 Isso inclui a água doce utilizada para fins industriais, não apenas a de con-
sumo humano direto (beber) . A média mundial é de 1385 metros cúbicos, por
ano.593 China, Índia e Estados Unidos são atualmente os maiores usuários de água
doce do mundo e a maior parte desta água é utilizada na produção, principalmente
de agricultura.594 Na verdade, globalmente, cerca de 70% de toda a água doce é
utilizada na agricultura.595
233
al de 1.385 metros cúbicos e uma população de 7,2 bilhões, chegamos a um consumo
anual total de 9,972 trilhões de metros cúbicos.
(B) Dessalinização
Colocada de lado a possibilidade realista de uma massiva e global purificação da
água doce poluída, provavelmente o meio mais poderoso para assegurar água potável
é uma conversão direta a partir de uma fonte salina, ou seja, do oceano. Em um pla-
neta composto principalmente de água salgada, esta técnica, se feita corretamente,
garante, sozinha, a abundância global.
234
práticas convencionais. Ele também pode ser facilmente escalonado simplesmente au-
mentando o número de eletrodos de fluxo no sistema.601
Claro, isso é uma grande quantidade de litoral e naturalmente muitos outros fatores
entram em jogo quando se escolhe um local apropriado para tal planta. Mais uma vez,
não é o propósito desta extrapolação sugerir que estas estatísticas tenham qualquer out-
ro uso além de medir, em um amplo senso, o que tais capacidades significam, tendo em
conta as questões de escassez / estresse de água, que ocorrem hoje. No entanto, o fato
é que está, claramente, dentro do alcance dessas aplicações atender as necessidades das
pessoas que sofrem de escassez de água, através apenas da dessalinização, junto com
uma infra-estrutura e distribuição para alocar a água para o interior.
Como exemplo final, vamos reduzir essa extrapolação abstrata mais ainda e
aplicá-la a uma circunstância da vida real. No continente africano, por exemplo, com
cerca de 1 bilhão de pessoas desde 2013,607 cerca de 345 milhões de pessoas não têm
235
acesso suficiente à água potável.608 Se aplicarmos a taxa média global de consumo
de 1.385 metros cúbicos por ano, visando proporcionar a cada uma das 345 milhões
de pessoas esta quantidade, precisaríamos de uma produção de 477.825 milhões de
metros cúbicos anuais.
(3) Energia
Fontes de energia renováveis são fontes que são continuamente reabastecidas.
Essas fontes incluem a energia da água, eólica, solar e geotérmica. Em contraste, os
combustíveis como carvão, petróleo e gás natural são não-renováveis, já que eles são
236
baseados em reservas da Terra que não apresentam uma regeneração de curto prazo.
No mundo de hoje, as cinco fontes renováveis mais utilizadas são a energia hi-
drelétrica (via barragens), solar, eólica, geotérmica e biocombustíveis. Fontes de en-
ergia renováveis representam atualmente cerca de 15% do uso global de energia, com
a energia hidrelétrica representando 97% deste valor.613
Tendo em conta que mais de 1,2 bilhão de pessoas não têm acesso à energia
elétrica em todo o mundo,614 e que há uma poluição contínua e crises periódicas
associadas com os métodos tradicionais, não-renováveis, o objetivo desta subseção é
mostrar como não são mais necessárias as perigosas realidades associadas aos com-
bustíveis fósseis e à energia nuclear. Agora podemos fornecer várias vezes energia
para o mundo com métodos limpos, renováveis, de impacto relativamente baixo, em
grande parte localizados de acordo com as necessidades de uma única estrutura, ci-
dade ou aplicação industrial.
(A1) Geotérmica:
A energia geotérmica615 é energia aproveitada essencialmente do calor natural do
237
núcleo derretido da Terra, com as usinas normalmente colocadas ao redor de áreas onde
a distância dos grandes centros de calor é bastante curta.616617 Um relatório de 2006 do
MIT sobre energia geotérmica, promovendo um sistema de extração avançado chama-
do EGS, constatou que 13.000 zetajoules de poder estão disponíveis atualmente na
Terra, com a possibilidade de 2.000 zetajoules serem coletáveis com o aperfeiçoamento
da tecnologia.618
238
mica também utiliza muito menos terras do que outras fontes de energia, incluindo
as de combustíveis fósseis e as de energias renováveis atualmente dominantes. Em
30 anos, o período de tempo comumente usado para comparar os impactos durante
o ciclo de vida, de diferentes fontes de energia, uma instalação geotérmica usa 404
metros quadrados de terra por gigawatt hora, enquanto uma instalação de carvão usa
3.632 metros quadrados por gigawatt hora.629 Se fôssemos fazer uma comparação
básica da energia geotérmica com o carvão, dada essa relação de metros quadrados
por gigawatt hora, nós percebermos que poderíamos colocar cerca de nove usinas
geotérmicas no espaço de uma usina de carvão.630 631
Da mesma forma, é importante notar que os métodos novos e mais eficientes para
drenar a energia geotérmica parecem estar apenas começando, no que diz respeito
ao potencial de produção. Em 2013 foi anunciado que uma estação de energia de
1.000 MW estava começando a ser construída, na Etiópia.632 Um megawatt é uma
unidade de potência, e a capacidade de potência é expressa de forma diferente da
capacidade de energia, que é expressa, neste contexto de megawatts, como megawatt
hora (MWh). Dito de outra forma, a energia é a quantidade de trabalho realizado,
enquanto potência é a taxa de trabalho sendo feito. Assim, por exemplo, um gerador
com capacidade de um MW, que opera a essa capacidade de forma consistente por
uma hora vai produzir 1 MW-hora (MWh) de eletricidade.
Isto significa que se uma estação geotérmica de 1.000 MW operasse, em plena ca-
pacidade, 24 horas por dia, sete dias por semana, em um ano (365 dias), ela produziria
8.760.000 MWh/ano.633 O uso anual do mundo atualmente, em MWh, é de cerca de
153 bilhões,634 o que significa que seriam necessárias, em abstração, 17.465 usinas
geotérmicas para atender o uso global.635
Tudo isso sem a poluição do carvão, que tem sido considerada uma das práticas
mais poluentes do mundo, além de ser provavelmente o maior contribuinte para o
aumento de CO2, de origem humana, na atmosfera.
239
(A2) Parques Eólicos
Estudos do Departamento de Energia dos Estados Unidos concluíram que o
aproveitamento do vento nos estados das Grandes Planícies, ou seja, no Texas, Kansas e
Dakota do Norte, forneceria energia suficiente para abastecer totalmente os EUA.639 De
forma mais impressionante, um estudo de 2005 da Universidade de Stanford, publicado
no Journal of Geophysical Research descobriu que, se apenas 20% do potencial eólico
do planeta fosse aproveitado, cobriria as necessidades energéticas de todo o mundo.640
De acordo com a Avaliação dos Recursos da Energia Eólica Litorânea para os Es-
tados Unidos, 4.150 gigawatts (4.150.000 MW) de capacidade potencial de turbinas
eólicas em recursos litorâneos estão disponíveis nos Estados Unidos.645 Assumindo
que esta capacidade de energia fosse consistente durante um ano, nós terminaríamos
com uma conversão energética de 36.354.000.000 MWh / ano. Dado que os Estados
Unidos, em 2010, usaram 25.776 TWh de energia (25,78 bilhões de MWh),646, per-
cebemos que o aproveitamento eólico litorâneo, sozinho, excede o uso nacional em
cerca de 10,6 bilhões MWhs, ou 41%.
240
linhas costeiras do mundo, tendo em conta também a estatística supra mencionada,
baseada apenas no continente, que demonstrou que nós podemos, também, alimentar
o mundo várias vezes, com as usinas em terra,647 as possibilidades de abundância
energética baseadas no vento são extremamente impressionantes.
A energia solar concentrada (CPS) é uma abordagem em grande escala que uti-
liza espelhos ou lentes para concentrar uma grande área de luz solar, ou de energia
solar térmica, em uma pequena área. A energia elétrica é produzida quando a luz
concentrada é convertida em calor, que aciona um motor de calor (como uma turbina
a vapor), ligado a um gerador de energia elétrica ou semelhante. Ao contrário dos
sistemas fotovoltaicos, que convertem a energia solar diretamente em energia elétri-
ca, esta tecnologia converte a energia solar primeiramente em calor. Recentemente,
métodos de armazenamento em larga escala também foram utilizados para prolongar
o processo durante a noite.
Mais uma vez, isso não significa sugerir que uma coisa dessas seja prática, nem
ignorar as diferenças de rendimento de radiação encontradas em diferentes áreas da
Terra. No entanto, os desertos, que tendem a ser altamente propícios para campos
solares, e, por outro lado, muitas vezes menos favoráveis ao suporte de vida para as
241
pessoas, são cerca de um terço de toda a massa de terra do mundo, ou cerca de 4,86
bilhões de hectares. Em comparação com os cerca de 202,3 milhões de hectares,
teoricamente necessários para “alimentar o mundo”, de acordo com nossa extrapo-
lação, apenas 4,1% das terras de deserto do mundo seriam necessárias.652
Por outro lado, o grande potencial do mar ainda tem sido aproveitado a uma fração
da sua capacidade. Não é exagero sugerir que a força da água do oceano poderia tam-
bém alimentar o mundo, sozinha, através do aproveitamento inteligente dos vários
movimentos mecânicos da água do mar, associados com a exploração das diferenças
de calor, conhecida como conversão de energia térmica do oceano (OTEC).655656657
Tendo em conta a razoável utilização, em larga escala, da energia hidroelétrica (repre-
sas) já existente, esta seção irá focar nas potencialidades do oceano.
242
são causadas principalmente pelos ventos; marés são causadas principalmente
pela força gravitacional da lua; correntes oceânicas são causadas principalmente
pela rotação da Terra; energia térmica oceânica resulta do calor solar absorvido
pela superfície do mar; e energia osmótica é quando a água doce e água salgada
se encontram, explorando a diferença de concentração de sal.
Ondas:
Verificou-se que o potencial global utilizável da energia das ondas é de cerca de
3TW658 ou cerca de 26.280TWh/ano, assumindo aproveitamento constante. Isso é
quase 20% do uso global atual. Esta quantidade de energia foi determinada, essencial-
mente, através da análise de regiões de profundidade ao longo da orla costeira continen-
tal. A estimativa de potência teórica foi de 3,7 TW, com a estimativa final líquida reduz-
ida em cerca de 20% para compensar várias ineficiências relacionadas a determinadas
regiões, como a cobertura de gelo. A produção de energia é determinada basicamente
pela altura da onda, velocidade da onda, comprimento da onda e densidade de água.
Marés:
Marés tem duas sub-formas: amplitude e fluxo. Amplitude de maré é essencial-
mente a “ascensão e queda” de áreas do oceano. Os fluxos de maré são correntes
criadas pelo movimento horizontal periódico das marés, muitas vezes aumentadas
pela forma do fundo do mar.
243
Correntes Oceânicas:
Semelhante a correntes de marés, as correntes oceânicas têm mostrado grande po-
tencial. Essas correntes fluem de forma consistente em mar aberto e várias tecnologias
emergentes têm sido desenvolvidas para aproveitar este meio largamente inexplorado.
Osmótica:
Energia osmótica, ou por gradiente de salinidade, é a energia disponível a partir
da diferença na concentração de sal entre a água do mar e água de rio. O Centro
Norueguês para Energia Renovável (SFFE) estima que o potencial global seja de
cerca de 1.370 TWh / ano673, com outros colocando-o em cerca de 1.700 TWh/ano674
ou o equivalente a metade de toda a demanda de energia da Europa.675
Térmica Oceânica:
A forma final, com base no oceano, digna de nota para aproveitamento de ener-
gia é a conversão de energia térmica oceânica (OTEC). Explorando as diferenças de
calor existente entre a superfície do oceano e abaixo, a água quente da superfície é
244
utilizada para aquecer um fluido, tal como amoníaco líquido, convertendo-o em va-
por, que se expande para mover uma turbina que, por sua vez, produz eletricidade. O
líquido é então resfriado com água fria das profundezas do oceano, retornando-o em
um estado líquido para que o processo possa começar novamente.
De todas as fontes de energia baseadas em oceano, OTEC parece ter o maior po-
tencial. Estimou-se que 88.000 TWh / ano podem ser gerados sem afetar a estrutura
térmica do oceano.676 Embora este número possa não expressar a capacidade total
utilizável, isso implica que bem mais da metade de todo o consumo de energia global
atual poderia ser atendido com a OTEC, apenas. Em 2013, a maior parte das plantas
existentes de OTEC estão em escala experimental ou são muito pequenas. No en-
tanto, alguns projetos maiores, de capacidade industrial, foram postos em operação,
incluindo uma planta de 10 MW na costa da China677 e uma de 100 MW perto do
Havaí.678 Uma planta de 100 MW, em alto mar, pode, teoricamente, alimentar toda a
Ilha Grande, do Havaí, sozinha,679 o que significa 186 mil pessoas, com base em um
censo de 2011.
245
de 0,55 ZJ, deste momento.
Por exemplo, não é inconcebível imaginar uma série de ilhas artificiais, flutuando
ao longo de locais selecionados, ao longo dos litorais, que são projetadas para, even-
tualmente, aproveitar, ao mesmo tempo, o vento, energia solar, diferenças térmicas,
ondas, correntes de maré e do oceano - tudo ao mesmo tempo e na mesma área geral.
Tais ilhas energéticas poderiam então enviar, via cabo, sua produção de energia de
volta à terra, para uso humano. Várias combinações poderiam também ser aplicadas
a sistemas baseados em terra, tais como a construção de combinações Eólica/Solar
para contemplar o fato de que muitas vezes a energia eólica é mais presente durante
a noite, enquanto a solar está disponível durante o dia.
Da mesma forma, a capacidade criativa no que diz respeito à forma como po-
demos combinar de forma inteligente vários métodos, também se estende ao que
poderíamos considerar aproveitamento de energia local. Métodos renováveis, em es-
cala menor, que conduzam a estruturas individuais ou para pequenas áreas, atendem
a mesma lógica sistêmica com respeito à combinação de fontes. Esses sistemas locais
poderiam também, se fosse necessário, conectar-se aos sistemas maiores, de Deman-
da Minima, assim, compondo uma rede total, integrada, de fontes mistas.
246
nos EUA foi de 11.280 kWh.681 Dados 114.800.000 domicílios, em 2010,682 isto sig-
nifica que 1.295 TWh/ano foram utilizados. O consumo total de energia elétrica, em
2012, para os EUA, foi de 3.886.400.000 MWh/ano.683 Isso equivale a 3.886 TWh/
ano. Isso significa que 33% de todo o consumo de energia elétrica ocorreu nas casas
das pessoas, com a grande maioria desta energia proveniente de usinas de energia de
combustível fóssil.
Vale a pena afirmar aqui que o sistema financeiro e os seus mecanismos orien-
tados por preços existem como barreiras para o desenvolvimento de onipresentes
e otimizadas residências solares, de modo amplo (bem como para todas as outras
tecnologias em desenvolvimento, depois de um certo ponto de eficácia comprovada).
Enquanto os defensores do capitalismo argumentam que o processo de investimento
para o mercado, na disponibilização de um bem, com base na demanda, geralmente
reduz o custo desse bem ao longo do tempo, tornando-o mais disponível para aqueles
que não podiam pagar antes, esquecem-se que o processo inteiro é um artifício.
247
Da mesma forma, é igualmente decepcionante perceber como a construção mod-
erna de casas tem feito pouco ou nenhum uso de outros métodos renováveis locais
básicos, que poderiam facilitar ainda mais a capacidade do mundo real para colocar
todas as famílias (não só nos EUA, mas em todo mundo) em uma situação de inde-
pendência energética.
248
Outras aplicações teóricas estendem-se a praticamente qualquer coisa que en-
volva pressão ou movimento, incluindo pequenas vibrações. Por exemplo, há pro-
jetos trabalhando para aproveitar produções de energia aparentemente de pequena
escala, tais como: digitar mensagens de texto em um telefone celular em uma fonte
para carregar o telefone, enquanto o telefone está simplesmente sendo tocado ou
movido;696697 aplicações para energia colhida de fluxo de ar a partir de aviões;698 e
até mesmo um carro elétrico que usa tecnologia piezo, em parte, para carregar-se à
medida que viaja.699
O problema com a criação de uma base para uma extrapolação geral de abundân-
cia de materiais, de uma maneira semelhante, tendo em conta as matérias-primas
em geral, é que o nível de revisão industrial necessária para alcançar o elevado
grau de eficiência requerida, é radicalmente diferente das atuais práticas tradi-
cionais. Em outras palavras, não podemos, definitivamente, extrapolar da mesma
forma, usando um processo singular ou gênero de tecnologia existente, a fim de
chegar a tal conclusão sobre o nível de produtividade possível no conjunto.
249
por pessoa”, devido ao fato de que uma pessoa realmente dirige, em média, apenas
cerca de 5% do tempo. O restante do tempo, o automóvel fica em estacionamentos,
calçadas e afins.
Além disso, para fins de argumentação, com todos os outros modos de transporte
público ignorados, e com toda a população de Los Angeles (3,9 milhões de pessoas)703
necessitando se mover 5% do mês, seriam necessários apenas 195 mil automóveis, em
abstração, para atender o tempo médio de uso de 3,9 milhões de pessoas.
Da mesma forma, nos Estados Unidos, em 2008, foi registrado que 236.400.000
veículos de consumidores estavam sendo usados. Com uma população de US 313
milhões, com a utilização estatística de 5%, mais uma vez, seriam necessários 15,6
milhões de automóveis para atender a demanda de uso. Essa é uma diminuição de
83% na produção de automóveis para atender às necessidades de todos os americanos
(um aumento de 32,4% no uso, ou acesso, baseado na população total), em teoria.
Note, por favor, que é claro que bem se reconhece que tal extrapolação é apenas
especulativa, uma vez que, obviamente, muitos outros fatores complicadores estão em
jogo na vida real, os quais ajustarão muito essa equação. O ponto aqui é dar ao leitor um
senso de sinergia. O que deve ser ressaltado é o aumento observado na eficiência, onde
substancialmente menos automóveis são necessários para satisfazer as necessidades de
transporte de um número substancialmente maior de pessoas, devido a um sistema ba-
seado em reorientação sinergética (neste caso, um sistema de carro “compartilhado”).
250
mentado que só uma sociedade perversa iria deliberadamente escolher perseverar
em um sistema que preserva conscientemente a escassez, por lucro e preservação do
estabelecido, quando é intelectualmente claro que tal condição já não é necessária e,
portanto, quaisquer sofrimentos humanos relacionados, daí resultantes, também não
são mais necessários.
Como foi discutido antes, a economia de mercado não é apenas uma resposta a
uma visão de mundo baseada em escassez, é também sua mantenedora. O merca-
do estruturalmente requer um alto grau de escassez, já que uma sociedade focada
em abundância acabaria por significar menos trabalho-por-renda, menor volume de
negócios e menores lucros em geral. Se a sociedade acordasse amanhã em um mundo
onde 50% do mercado de trabalho humano foi automatizado e onde todos os ali-
mentos, energia e produtos básicos poderiam ser disponibilizados sem uma etiqueta
de preço devido ao aumento da eficiência, é desnecessário dizer que o mercado de
trabalho e a economia monetária que conhecemos entrariam em colapso.
Mudança de Valores
Para pensar corretamente sobre o estado atual de nossa capacidade produtiva de
produzir bens de suporte à vida e de melhoria de padrão de vida, primeiro temos que
separar racionalmente as necessidades humanas dos desejos humanos, com a priori-
dade em atender as necessidades antes.
Embora essa distinção possa parecer uma opinião controversa para muitos - em
um mundo onde 46% da riqueza total atualmente é propriedade de 1% da popu-
lação705; um mundo onde cerca de 1 bilhão de pessoas não têm nutrição básica706;
um mundo onde 1,1 bilhão de pessoas vivem sem água potável e 2,6 bilhões não têm
saneamento adequado707; um mundo onde 100 milhões de pessoas não têm abrigo708;
um mundo onde 3 bilhões vivem com menos de US$ 2,50 por dia709 e 1,2 bilhão
não têm sequer energia elétrica710 - talvez nossas prioridades, como uma civilização
global, precisem ser direcionadas à efetiva manutenção do que poderíamos question-
avelmente nomear “civilização”. A verdade é que essa priorização não é um mero
gesto poético, é uma exigência de saúde pública.711
251
Infelizmente, mais uma vez, o mercado não separa necessidades de desejos, em
sua psicologia básica, razão pela qual o argumento da escassez pode ser estendido
infinitamente em defesa de sua existência e, portanto, da necessidade proposta de
termos uma sociedade competitiva, baseada no comércio, não importando o grau de
abundância que possa ser alcançado. Sem dúvida, isso criou um tipo de neurose, de
fato, em que as pessoas assumem ter “desejos infinitos” e “mais e mais” é uma vir-
tude, ou mesmo um condutor do próprio progresso humano.
Pode ser bem-argumentado que uma cultura que decidiu que a aquisição e a ex-
pansão são o caminho do progresso/sucesso, promovendo o consumo constante e
“crescimento econômico” aparentemente infinito, vai, eventualmente, atingir os lim-
ites de sustentabilidade em um planeta finito.713 Em termos claros, esta é uma tendên-
cia de desordem.
252
Sucesso e progresso social só pode significar, em parte, encontrar o equilíbrio
com o habitat e os outros seres humanos que compartilham o habitat. Infelizmente,
toda a premissa do sistema de mercado contradiz esse valor de sustentabilidade, uma
vez que o mecanismo de desenvolvimento econômico não recompensa conservação
e redução do consumo, em um sentido direto. Dito de outra forma, o mercado é uma
abordagem estrutural baseada na escassez que, paradoxalmente, busca níveis de con-
sumo sempre aumentados para operar “eficientemente”.
Assim, uma análise da nossa capacidade material para colocar bens comuns em uma
situação de abundância “pós-escassez”, para exceder as necessidades de todos os seres
humanos na Terra não pode ser discutida sem também entender revisões necessárias,
orientadas para a sustentabilidade, que reduzam, consideravelmente, a nossa pegada na
utilização de recursos, ao mesmo tempo.
Amplificadores de Eficiência
Chamaremos de “amplificadores de eficiência” o que a lista a seguir apresenta
como exemplos de mudanças estruturais, econômicas e sociais, necessárias para aux-
iliar essa eficiência otimizada.
A intenção e necessidade de fazer “alguma coisa” para ganhar renda para a so-
brevivência persiste independentemente da nossa realidade moderna, em que a so-
ciedade pode não necessitar que todos participem do processo econômico. Em uma
EBRLN (Economia Baseada em Recursos e Lei Natural), a ideia de todos serem
obrigados a produzir ou vender algo é vista como contraproducente, dadas as tendên-
cias de efemeralização e a necessidade de agora orientar a sociedade na direção da
sustentabilidade.
253
2) Retirada da produção visando classes sociais.
Estratificação social, que é uma consequência natural do capitalismo de mercado,
cria a necessidade de produzir um espectro de qualidades para um dado gênero de
produto.715 Este espectro não é baseado na utilidade ou na variação de um produto
de acordo com as necessidades/interesses pessoais dos indivíduos. Ao contrário, cada
padrão de qualidade se destina a ser comprado por (ou feito “acessível” a) uma deter-
minada classe de renda.
Isso cria produtos de baixa qualidade para atender a capacidade financeira dos
consumidores de baixa renda e, portanto, gera desperdício desnecessário. Neste novo
modelo estrategicamente sustentável, nenhum produto é criado para ser “barato”,
através de padrões relativos, simplesmente porque ele se encaixa nos padrões de-
mográficos de compra das classes baixas. Numa LNEBR, não há classe baixa, de-
mograficamente.
Com relação a (a), em uma economia sustentável existiria uma padronização uni-
versal de todos os componentes e acessórios de gênero relacionados, sempre que
possível. Em 1801, um homem chamado Eli Whitney foi talvez o primeiro a aplicar a
padronização de uma forma impactante. Ele produzia mosquetes e, na sua época, não
havia nenhuma maneira para intercambiar as peças de diferentes mosquetes, apesar
de seguirem o mesmo projeto global. Se uma parte de um mosquete quebrasse, toda
a arma era inútil. Whitney desenvolveu ferramentas para fazer isso e, depois de 1801,
todas as peças passaram a ser inteiramente intercambiáveis.
Enquanto a maioria diria que essa ideia de senso comum seria prolífica em
254
toda a comunidade industrial global de hoje, a perpetuação de componentes e
acessórios patenteados por empresas que querem que o consumidor volte a com-
prar qualquer componente necessário diretamente delas, ignorando a possibili-
dade de compatibilidade com outros produtores, cria não só um grande desper-
dício, mas também um grande inconveniente.
Enquanto muitos defendam que esta “guerra criativa” é uma força motriz do
desenvolvimento/inovação de um determinado produto ou finalidade, a conseqüência
negativa, e desnecessária, é a rápida e desperdiçadora obsolescência física inerente
a cada “ciclo” de produção. Em outras palavras, se uma melhoria notável de carac-
terística de telefone celular é obtida por uma empresa, nos calcanhares de um grande
lançamento, por outra empresa, que já começou a produção em massa de sua versão
do telefone sem essa atualização, um estado imediato de obsolescência é produzi-
do, resultando em produtos menos otimizados, que poderiam ter sido evitados se os
produtores tivessem trabalhado em conjunto, como um todo industrial, em vez de
escondendo o progresso e competindo.
Embora possa ser argumentado, também, que é somente através de preços e pa-
drões de interesse do consumidor, que o conhecimento do que está em “demanda”,
ou não, pode ser obtido, a verdade da questão é que a comunicação poderia ser feita
mais facilmente entre o mecanismo de design e o público consumidor também.716
Isto evita a técnica de aceitação/rejeição do”preço-demanda” que também é um des-
perdício, uma vez que também requer que a produção ocorra, em muitos casos, antes
da procura real ser totalmente compreendida.
255
da”, o interesse em ver os produtos falharem ou serem menos otimizados, para
motivar compras repetidas de um mesmo bem básico, não seria mais incentivado.
A prática de obsolescência deliberadamente concebida tem sido uma parte oculta
da abordagem industrial desde meados do século XX, quando o interesse na criação
de crescimento econômico era alto.717
No que diz respeito a (d) ou “obsolescência intrínseca”, como é chamada aqui, toda
a competição por participação de mercado procura reduzir os custos de produção, em
qualquer grau possível, a fim de permanecer acessível no mercado e, portanto, persuadir
o público consumidor a comprar uma versão ou “marca” de um bem em detrimento de
outra. Este foi sinalizado, na cultura de marketing norte-americana, como “produzir os
melhores produtos possíveis com os preços mais baixos possíveis.”
256
aparentemente pequena, sozinha, teria um impacto positivo em filas, bem como em
armazenagem e máquinas de processamento de bagagem em trânsito, etc. A cadeia de
alívio é realmente muito extensa, quando pensamos em detalhes.
Mais uma vez, facilitando meios de acesso, onde as coisas possam ser compar-
tilhadas, permitirá que muitos mais possam obter o uso de bens, que de outra forma
não teriam, no modelo atual, juntamente com menos sendo produzido, em proporção.
A EBRLN procura criar abundância de acesso, não uma abundância de propriedade.
Como um aparte, o estado mais elevado dessa reciclagem acabará vindo na forma
de nanotecnologia. A nanotecnologia acabará por permitir a capacidade de criar pro-
dutos partindo do nível atômico e desmontar os produtos de volta, em átomos brutos.
É claro que, embora esta abordagem pareça estar em desenvolvimento, para o futuro,
não estamos sugerindo que tal nanotecnologia seja necessária, neste momento, para
sermos regenerativos ou abundantes, com sucesso.
Hoje, a reciclagem industrial é mais uma reflexão tardia que um foco. As em-
presas continuam a fazer coisas, cegamente, como materiais de revestimento com
257
determinados produtos químicos que, na verdade, distorcem as propriedades desses
materiais, tornando o material menos reaproveitável por métodos atuais de recicla-
gem. Em geral, a estratégia de reciclagem é uma “semente núcleo” de manutenção da
abundância. Cada aterro, na Terra, é apenas um desperdício de potencial.
Utilidade está relacionada a quanto é apropriado o uso proposto, com base nas
propriedades do material. Abundância refere-se a quanto do material está disponível
e, portanto, o seu estado de escassez. Juntos, pesa-se o valor de utilidade contra o
valor de quão acessível e de baixo impacto o material é, em comparação com outros
materiais que podem ser mais ou menos favoráveis e mais ou menos abundantes.
Em outras palavras, é uma comparação da eficiência sinergética, que garante que os
materiais utilizados são otimizados para o propósito.
258
7) Design que contribua para a automação do trabalho.
Quanto mais em conformidade com o estado atual dos processos de produção
eficientes e rápidos, mais abundância podemos criar. A maioria das abordagens de
fabricação normalmente dividem o trabalho em três categorias: produção humana,
mecanização e automação. Produção humana significa feito à mão. Mecanização sig-
nifica usar máquinas para apoiar o trabalhador humano. Automação significa que não
há interação humana no processo.
Este último tipo de design de cadeira seria o objetivo de projeto nesta nova abord-
agem. O que deveria ser feito seria reduzir a variedade de configurações de máquinas
de automação necessárias. Imagine, se você desejar, uma fábrica de processamento
baseada em robótica que possa não só produzir carros, mas possa produzir virtual-
mente qualquer tipo de máquina industrial/produto, compostos pelo mesmo conjunto
básico de matérias-primas. Isso aumentaria a produção substancialmente.
Tais funções, há muito tempo atrás, antes da era digital, teriam, geralmente, re-
querido uma configuração de hardware para cada tarefa. Hoje, qualquer sistema op-
eracional básico pode executar um número dramaticamente grande de funções pro-
gramadas, tudo contido num dispositivo pequeno. Esta lógica se aplica à natureza das
máquinas de produção física, sendo simplesmente uma questão de tempo antes que
o ato de produzir uma vasta gama de produtos possa ser feito por sistemas mecânic-
os, pequenos e modulares, assim como um sistema operacional digital pode realizar
quase incontáveis funções programadas.
259
Esta ideia é muitas vezes difícil de compreender plenamente: como a cadeia de
causalidade resultante de uma ineficiência geral pode ser vasta e complexa. Por ex-
emplo, a resolução da escassez de água, apenas, tem um enorme potencial preventivo
de doenças. A quantidade de trabalho e de recursos, antes utilizados para o tratamento
dessas doenças, então resolvidas, pode encontrar outras aplicações. A abundância de
energia tem a mesma consequência, já que a energia é o motor de toda a atividade hu-
mana. Um claro e confiável estado de abundância absoluta de energia renovável teria
enormes efeitos sobre a capacidade de produção e abundância desta sociedade futura.
260
sozinha, provavelmente tem possibilidades ilimitadas.
No século 19, o alumínio era mais valioso do que o ouro, embora seja tecnica-
mente um dos elementos mais abundantes no mundo. No entanto, antes da descoberta
da eletrólise, era extremamente difícil de extrair. Uma vez que este processo técnico foi
descoberto, quase da noite para o dia a escassez do material despencou. Hoje, temos
a tendência de usar o alumínio com uma mentalidade de descartável. Tais mudanças
históricas dramáticas são importantes de se manter em mente já que o mesmo tipo de
avanço está ocorrendo em muitas disciplinas, muitas vezes oculto da compreensão da
maioria das pessoas e muito além de suas expectativas. Da mesma forma, as tecnolo-
gias acima mencionadas estão em ritmo para mudar radicalmente o mundo.
261
terras raras, estão encontrando substituições por outros altamente abundantes.
(A) Em geral, os recursos bióticos do planeta têm sofrido muito devido à crescente
industrialização. A exaustão das florestas, a perda da biodiversidade, a perda de pop-
ulações de peixes e outras questões colocaram a sustentabilidade de muitos desses
recursos em questão. Em todos os casos, o problema não é uma oferta limitada desses
recursos; é um flagrante desrespeito a qualquer equilíbrio com a regeneração natural
e respeito ao meio ambiente básico. A solução para esses declínios é, obviamente,
desviar-se de suas atuais taxas de uso. Isto pode ser feito por simples substituição por
outros materiais comparáveis aos
que são extraídos a uma velocidade insustentável.
262
processo é descrito em detalhes. Em suma, não há recursos bióticos que estão sen-
do usados hoje que não possam ter sua taxa de consumo diminuída por ajuste es-
tratégico consciente. A madeira não precisa ser usada hoje em dia para todos os
fins atuais. Nem todo mundo precisa comer os peixes do oceano selvagem uma
vez que processos de fazendas aquáticas avançados e humanitários já existem. Nós
já discutimos como a capacidade de produzir uma abundância vegetal, com a ag-
ricultura vertical, e como a mudança para carne in-vitro pode ser mais saudável e
sustentável do que os métodos atuais de criação de gado, que são prejudiciais ao
meio ambiente.
Com esses alívios, poderíamos ver uma grande melhoria global, em recursos,
na biodiversidade, na preservação da vida - salvando derivados das florestas, para
uso da medicina e assim por diante. As outras energias renováveis, em grande parte
inexploradas, mencionadas antes, também podem deslocar rapidamente os com-
bustíveis fósseis de seu uso como energia, hoje. Então, a questão é realmente uma
questão de escolha inteligente.
(B) Os recursos abióticos têm uma realidade de gestão diferente, mas similar. Nós
já abordamos a nossa capacidade técnica para contornar ou resolver o problema da
escassez de água com métodos de purificação e do nosso solo, que está se esgotando
rapidamente722, com a agricultura sem solo. No geral, os principais recursos que não
consideramos são os minerais valiosos que utilizamos para construir muitos dos bens
que utilizamos. Estes minerais são compostos, na sua maioria, de elementos da Terra
e são extraídos de rochas da crosta terrestre. Muito progresso na versatilidade de uso
também foi alcançado pela indústria de extração de elementos e formação de ligas
metálicas. Uma liga é uma mistura de metais feita pela combinação de dois ou mais
elementos metálicos, tais como a formação do aço.
A BGS afirma: “A ... lista fornece uma indicação simples e rápida do risco relati-
263
Reproduzido da Lista de Riscos da Pesquisa Geológica Britânica 2011 [726]
vo, em 2012, no fornecimento de ... elementos ou grupos de elementos que precisa-
mos para manter nossa economia e estilo de vida. A posição de um elemento na lista
é determinada por um número de fatores que possam afetar a disponibilidade. Estes
incluem a abundância natural dos elementos na crosta terrestre, a localização da pro-
dução atual e reservas, e a estabilidade política desses locais ... as taxas de reciclagem
e substituição dos elementos tem sido considerada na análise. “727
264
Em geral, a BGS legitimamente conclui que a substituibilidade e reciclagem são
as soluções e os recursos escassos essencialmente sofrem de uma falta de reciclagem e
uma falta de substituições adequadas sendo feitas. Ao invés de considerar cada material
observado, o primeiro da lista, os metais de terras raras, será usado como exemplo pelo
qual a resolução de problemas pode ser considerada, assim como para todos os outros.
Reciclagem
A primeira grande falha é que apenas um por cento de todos os minerais de terras
raras são reciclados hoje, de acordo com algumas estimativas.728 Dado o seu uso co-
mum em eletrônica, a reciclagem de lixo eletrônico também tem sido desanimadora.
Com base em estatísticas da EPA, nos EUA, em 2009, apenas 25% dos produtos
eletrônicos de consumo foram recolhidos para reciclagem.729 Da mesma forma, os
produtos criados que usam a maior parte destes materiais tão valiosos quase não são
projetados para ser reciclados, em sua maior parte.730
Substituições
Talvez mais importante, agora é possível fabricar versões sintéticas destes me-
tais com suas propriedades obtidas de materiais abundantes, muito comuns, em um
laboratório.732733 A nanotecnologia está provando ser muito promissora nesta abor-
dagem.734 Muitas indústrias diferentes têm trabalhado ativamente para resolver a
questão em cada aplicação, por exemplo, agora é possível fazer lâmpadas de LED
sem esses metais.735 No geral, vemos o esforço para resolver este problema se in-
crementando e o fato é que a resolução é simplesmente uma questão de criatividade,
foco e tempo.736
265
nação de uso estratégico, reciclagem e síntese.
Além disso, nunca é demais reiterar que a grande falha da indústria global tem sido
não fazer adequadas comparações de propósitos quando opta por utilizar um deter-
minado material. Em outras palavras, não é inteligente usar um metal muito raro em
um produto geralmente arbitrário e passageiro. Como não existe uma base de dados
referencial, que mostre as taxas ativas de emprego, declínio e similares, as empresas
tomam suas decisões com base em meras relações de custo que têm muito pouco valor
no sentido de uma utilização estratégica por comparação. Embora seja verdade que o
preço pode refletir escassez e dificuldade de aquisição de um determinado mineral ou
elemento, uma realidade tão terrível surge apenas quando o problema se materializa
de forma aguda. Em outras palavras, nenhuma previsão real existe no preço e no mo-
mento em que o preço reflete o que era na verdade uma realidade técnica observável a
qualquer momento, muitas vezes é tarde demais e a escassez se torna um problema real.
Em um sistema de gestão de recursos ativamente ciente, isto não iria ocorrer. Não
apenas esses materiais seriam constantemente comparados na avaliação de projetos,
como qual é o material mais adequado para uma determinada utilização, qualquer
problema prenunciado poderia ser visto a partir de um longo período de distância e,
por conseguinte, a eficiência pode ser melhor maximizada.737
Terras
Diferentemente de avaliações anteriores, a questão do acesso à terra tem uma con-
sideração diferente. A Terra tem uma quantidade finita de solo habitável e, portanto, o
método pelo qual os seres humanos têm acessado e compartilhado terras, ao longo do
tempo, é a questão real. Escusado será dizer que nem todo ser humano pode ter a sua
própria terra privada. Da mesma forma, a doença produzida pelo materialismo, rique-
za e status, que se manifesta em vastas e enormes fazendas dos super-ricos, caem na
mesma categoria irracional - totalmente alheios à sustentabilidade e equilíbrio social.
Hoje, o sistema de propriedade cria uma orientação estática ao acesso à terra, com as
pessoas normalmente adquirindo terras e ficando nelas indefinidamente. Essa tendência
de “colonizar” parece ser também agravada pelos papéis de trabalho e requisitos de
demarcação da maioria, no mundo. A tradição de deslocar-se para o emprego no centro
da cidade ainda é muito comum e, portanto, sua casa precisa ser nas proximidades. Em
uma EBRLN (Economia Baseada em Recursos e Lei Natural), tais pressões são muito
aliviadas e a ideia de viajar o mundo constantemente é uma opção concreta.
Os analistas descobriram que se necessitássemos ajustar as 7 bilhões de pessoas
do mundo em uma única cidade, modelada a partir de Nova York, todos os habitantes
terrestres caberiam no estado americano do Texas.738 Embora claramente imprat-
icável, esta simples estatística revela o grande grau de variação possível a respeito
de como os seres humanos podem organizar-se topograficamente em uma sociedade
266
global. O problema não é a quantidade de espaço físico necessário para 7.000.000.000
ou muitas vezes mais. O problema é organização inteligente, design e educação.
Mais uma vez, esta é uma escolha de valor. Se uma pessoa desejar manter sua
família em um único lugar, pelo resto de suas vidas, há espaço mais do que suficiente
no planeta (dadas as estatísticas sobre o Texas apontadas) para prover ambas as pos-
sibilidades, assumindo uma revisão inteligente de layout das cidades, conservação
responsável e um interesse sincero em ser eficiente. De qualquer modo, o mesmo
sistema de acesso pode ser utilizado para localizar e ocupar um determinado local,
267
seja de forma temporária ou permanente.
Petróleo
Em conclusão a este ensaio, questões que envolvem a dependência da socie-
dade moderna no uso do Petróleo são importantes de serem solucionadas. Petróleo
é provavelmente o recurso industrial mais utilizado, hoje, no planeta, sendo usado
principalmente para o transporte.
No entanto, devemos sempre tentar pensar fora da caixa quando se trata de eficiên-
cia e sustentabilidade. No contexto deste transporte de larga escala e alto uso de energia,
surge a pergunta: “existe um substituto para viagens de avião que transcenda tais ne-
cessidades de alta concentração energéticas?” A resposta é sim. Tecnologia de levitação
magnética é muitas vezes mais rápida e utiliza uma fracção da energia.741
Assim, mesmo que um pouco de petróleo seja utilizado, com finalidades energéti-
cas, aqui e ali, essas novas abordagens poderiam reduzir a sua pegada de uso exponen-
cialmente, se forem realizadas corretamente. Só nos Estados Unidos, 70% do petróleo
utilizado, no total, vai para o transporte, na forma de gasolina, diesel e combustível de
aviação.742 Da mesma forma, se uma nova condição de paz puder ser negociada no pla-
neta Terra, com uma pressão concentrada para reduzir os armamentos e os preparativos
para a guerra, uma extensa economia de petróleo também ocorrerá.
268
tem uma vasta dependência do petróleo e gás, em geral, para gerar todos os tipos de
produtos de plásticos a fertilizantes, engenheiros criativos têm, lentamente, enfrentado
este desafio dele ser a fundação central destas necessidades químicas por muitos anos.
Plásticos, que são onipresentes no mundo de hoje, têm estado, quase exclusiva-
mente, no território de petróleo há algum tempo. No entanto, recentemente, cientistas
holandeses inventaram meios para substituir os plásticos à base de petróleo, utili-
zando matéria vegetal.745746 Da mesma forma, uma organização chamada Evocative
tem sido capaz de usar os cogumelos para gerar materiais totalmente sustentáveis,
que também podem servir para substituir muitos usos do petróleo para isolamento e
outros semelhantes.747
269
efemerização ou “fazer mais com menos”. A Lei de Moore, que é o fenômeno em que
o desempenho do computador ou chip dobra a cada 18 meses, essencialmente, foi es-
tendida, nos dias de hoje, para também incluir qualquer tipo de tecnologia baseada na
informação.749 Por exemplo, as aplicações para a automação do trabalho, que são uma
combinação de robótica e programação, os quais são definidos por informações, na sua
origem, revelam como os meios de produção, em si, estão se tornando uma tecnologia
da informação e, portanto, sujeitos a um crescimento exponencial também.
Em termos financeiros, o resultado deste padrão tem sido preços mais baratos
conforme a eficiência inerente reduz os custos, em qualquer grau permitido. Isto pode
ser visto no aumento acentuado em tecnologias de baixo custo e agora onipresentes,
como os telefones celulares. Em absoluta abstração, com todas as coisas sendo iguais,
assumindo a sociedade mantendo apenas seu espectro atual de uso de bens, muitas
tendências na produção têm a capacidade de se aproximar de valor “quase zero”.
Diante disso, surge a pergunta: em que ponto de tal redução de valor de troca (preço)
o valor em si se tornará tão minúsculo, tornando-se irrelevante, por si só, como um
fator econômico? Podemos esperar que este potencial ocorrerá neste previsto grau tão
elevado, no sistema de mercado?
A resposta é não. O mercado nunca irá criar reduções de tão larga escala,
dramáticas, pós-escassez, em geral, devido à sua necessidade central da escassez
para manter o volume de negócios monetários e, portanto, manter as pessoas em-
pregadas. É interessante notar que muitos nos movimentos de tecnologia moderna
ainda justificam a existência do capitalismo de mercado, como um meio para gerar
“abundância”, ao observar este fenômeno geral de redução de custos. Como argu-
mentam, o desdobramento de uma determinada produção e sua demanda aumen-
tada facilitam “melhores” métodos de produção e, portanto, mais economia pela
empresa significa mais economia por parte do consumidor. Isso, então, faz com que
alguns produtos tornem-se disponíveis, ao longo do tempo, para aqueles que não
teriam sido capazes de pagá-los antes. Se tomada pelo valor de face, esta obser-
vação sugere que todos os bens se aproximarão do valor zero, ao longo do tempo,
conforme um dado mercado aumente em demanda.
270
Como um aparte, embora seja verdade que certos tipos de tecnologias, geralmente
relacionadas ao computador, são hoje amplamente disponíveis para muitos, que de out-
ra forma não seriam capazes de pagá-las, este é um resultado de engenhosidade científi-
ca e não do mercado. Muitos economistas tradicionais hoje fazem a afirmação, constan-
temente, de que “se não fosse pelo capitalismo ...”, etc. A verdade é que o mercado não
é nada mais do que um sistema de incentivos e entregas e, embora a motivação de lucro
possa, às vezes, incorporar altos níveis de avanço técnico que atingem um potencial de
produção superior, fortalecendo este fenômeno “mais com menos”, este é, todavia, um
possível resultado dentre muitos. Muitos outros meios altamente rentáveis podem ser
utilizados, que têm zero ou valor negativo na própria busca da pós-escassez.
Talvez a melhor maneira de pensar sobre isso seja como uma fronteira de au-
to-limitação. A meta de lucro com base em custo-benefício é permanecer “compet-
itivo” contra outros produtores, enquanto, naturalmente, procurando rendimento
máximo para manter os funcionários pagos e a estrutura da empresa intacta. Essa é a
equação do incentivo. Obviamente, nenhuma empresa quer tornar-se obsoleta perse-
guindo um estado de extrema eficiência.
Da mesma forma, a cultura do lucro é míope por natureza. Isso significa que,
quando confrontados com uma decisão sobre custo-benefício, o caminho mais fácil e
mais imediato para realizar essa mudança provavelmente será o seguido. Isso pode,
mais uma vez, significar a diferença entre atualizar uma operação técnica, para ser
mais eficiente em seu processo de produção real - ou simplesmente a terceirizar para
um país em desenvolvimento em que pode ser pago muito pouco, devido à pobre-
za existente - se parecer melhor no papel, como medida para redução de custos. O
mercado não vê diferença entre os dois. As decisões são baseadas apenas no valor
comercial e os fins tendem a justificar os meios.
Como nota final, o debate sobre “desemprego tecnológico” provou ser uma reve-
lação poderosa, nesse embate das intenções percebidas, também. Apologistas do cap-
271
italismo têm se escondido atrás da ideia de que, enquanto a tecnologia substitui o tra-
balho humano, também o está criando. Embora isso possa ter sido verdade no passado,
mais lento, uma realidade altamente enviesada tornou-se cada vez mais aparente.750
Por um lado, os aumentos exponenciais que ocorrem hoje provaram estar superan-
do a adaptação educacional humana, em muito. Não há uma relação 1:1 entre a perda
de empregos para o processo de criação de empregos, que está ocorrendo no mundo
moderno. As perdas de emprego hoje e as possibilidades de perda de trabalho no
futuro são enormes, quando as aplicações de máquinas são revisadas de forma ob-
jetiva, tendo em conta as tendências exponenciais. O interessante é que este mesmo
processo de automação é uma grande parte da criação de abundância, mesmo que as
empresas, na lógica da busca do lucro, o estejam usando para economizar dinheiro. O
resultado é uma dicotomia complexa, com menos trabalhadores humanos e, portanto,
menos dinheiro disponível como poder de compra.
272
Notas e Referências: Capítulo 13
[505] “Ex Post Facto” é um termo latino que significa “feito, fabricado, ou
formulado após o fato”.
273
naquela época. Em outras palavras, se o objetivo ou a função de um
dado sistema não está totalmente percebido, então, naturalmente, o siste-
ma pode apenas ser concebido para esse nível de compreensão.
[515] Ver capítulo Verdadeiros Fatores Econômicos para saber mais sobre
este assunto.
[516] Aqui está um exemplo: Fúria com manobra da Apple - plano para
tornar todos os acessórios do iPhone obsoletos, mudando o projeto de
soquete (http://www.dailymail.co.uk/sciencetech/article-2162867/Apple-
slammed-iPhone-5-charger-Rip-plan-make-ALL-accessories-obsolete.
274
html)
[517] Um exemplo histórico clássico desta propensão foi o que mais tarde
foi chamado de “Guerra das Correntes”. Em resumo, sabendo que sua
corrente contínua (DC), de distribuição de energia elétrica, era inferior ao
sistema emergente de corrente alternada (AC), apresentado por Nikola
Tesla, o inventor Thomas Edison se envolveu em uma ampla campanha
de desinformação para suprimir a popularidade da AC, visando preservar
a sua participação financeira na infra-estrutura DC existente. Edison foi
tão longe quanto ir ao Congresso dos Estados Unidos buscando proibir a
corrente alternada, juntamente com a matança de animais publicamente
por eletrocussão com AC.
275
[523] Metalurgia definida: http://www.sciencedaily.com/articles/m/metal-
lurgy.htm
[531] Na verdade, essa ideia foi de fato proposta, mas foi aplicada muito
raramente, até agora. “Na Academia: Energia Limpa a partir do Poder
dos Músculos”, Time, de 2010 (http://content.time.com/time/business/arti-
cle/0,8599,2032281,00.html)
276
emulando padrões e estratégias da natureza, testados pelo tempo, por
exemplo, uma célula solar inspirada por uma folha. (http://biomimicry.org/
what-is-biomimicry/)
277
[539] A economia monetária está enraizada em ver o mundo a partir do
ponto de vista da escassez ou das ineficiências. Baseia-se em torno de
gerenciamento de escassez através de um sistema de preços e valores
relacionados. Quanto mais um item é escasso, mais é valorizado.
278
crep/003/y6265e/y6265e03.htm)
[556] Definido: Uma técnica para o cultivo de plantas sem solo ou meio
hidropônico. As plantas são mantidas acima de um sistema que constan-
temente nebuliza as raízes com água carregada de nutrientes. Também
chamada aerocultura. (http://www.thefreedictionary.com/aeroponic)
279
(http://edition.cnn.com/2008/WORLD/asiapcf/03/16/eco.food.miles/)
[571] 78 edifícios, ocupando 6,4 hectares cada um, é igual a 499,2 hect-
ares utilizados totais. 499,2 hectares é 0,15% da área total de Los Ange-
les (318912)
280
produção de uma fazenda vertical de 30 andares) é igual a 144.000
estruturas necessárias.
[574] 6.4 (acres utilizados por fazenda) vezes 144.000 (fazendas verticais)
= 921.600 acres
[578] 6.4 acres (que é o que foi determinado como espaço suficiente
para alimentar 50.000 pessoas) comparado com 4.408.320.000 (to-
tal de terras usadas atualmente, apenas para cultivo em terra), temos
688.800.000 vezes. 688,8 milhões, o que representa o número de
possíveis instalações, onde cada uma pode produzir alimentos suficien-
tes para alimentar 50 mil pessoas. Corresponde a uma capacidade de
34.440.000.000.000 pessoas que podem ser alimentadas. (688800000 x
50.000 = 34.440.000.000.000)
[583] Água doce é definida como água que não contém sal e pode ser
utilizada para consumo humano e em outros processos, tais como agri-
cultura. (http://www.merriam-webster.com/dictionary/freshwater)
281
[586] Fonte: Água: Use Menos-Poupe Mais, Jon Clift & Amanda Cuthbert
de 2007
282
[603] Fonte: Planta de Dessalinização Victorian (http://en.wikipedia.org/
wiki/Victorian_Desalination_Plant)
[609] Além disso, é importante notar que plantas flutuantes, fora da cos-
ta, também são tecnicamente possíveis. (http://www.bmtdesigntechnolo-
gy.com.au/design-solutions/floating-desalination-plant/)
[615] A energia geotérmica, neste contexto, não deve ser confundida com
processos de aquecimento / arrefecimento geotérmicos, de pequena es-
cala, que utilizam o calor de poucos metros abaixo da superfície (ou seja,
bombas de calor geotérmicas).
283
video-what-is-geothermal-energy-anyway)
284
/ plantas de energia), quase sempre em locais separados. De acordo
com o atual exemplo, a terra de mineração necessária para a extração de
carvão é omitida da equação. Em suma, as energias renováveis ocupam
substancialmente menos terra e tem um impacto ambiental excepcional-
mente inferior a este respeito.
[634] 0,55 zettajoules é convertido para cerca de 153 mil milhões MWh
[635] 153 mil milhões MWh (uso global total) / 8.760.000 MWh (capaci-
dade da usina geotérmica) = 17.465 usinas geotérmicas.
[641] Fonte: A Terra Tem Suficiente Potencial de Energia Eólica Para Ali-
mentar Todos Da Civilização (http://www.businessinsider.com/the-earth-
has-enough-wind-energy-potential-to-power-all-of-civilization-2012-9)
[647] Fonte: A Terra Tem Suficiente Potencial de Energia Eólica Para Ali-
mentar Todos Da Civilização (http://www.businessinsider.com/the-earth-
285
has-enough-wind-energy-potential-to-power-all-of-civilization-2012-9)
[649] Fonte: Maior usina de energia solar do mundo inflama-se pela pri-
meira vez (http://reneweconomy.com.au/2013/worlds-biggest-solar-ther-
mal-power-plant-fires-first-time-89135)
[653] Fonte: Usina Solar gera energia por seis horas depois do sol se por
(http://www.kcet.org/news/rewire/solar/concentrating-solar/solar-plant-gen-
erates-power-for-six-hours-after-sunset.html)
286
[662] Fonte: Energia do Oceano: Perspectivas e Potencial, Isaacs &
Schmitt, com 15% de fator de utilização e fator de capacidade de 50%.
[http://www.crpm.org/pub/agenda/1384nathalierousseau.pdf
[666] Fonte: ‘Fish Tecnologia’ Projeta Energia Renovável a partir das Cor-
rentes de Água Lenta (http://michigantoday.umich.edu/a7334/)
[670] (8.760 horas por ano) x 13.000 MW = 113 milhões e 880 mil MWhs /
ano
287
neering-construction-corp-to-develop-highly-available-renewable-ener-
gy-source-2013-10-15?reflink=MWnewsstmp)
[677] Fonte: Energia Térmica Oceânica vai estrear fora da costa de China
(http://www.scientificamerican.com/article.cfm?id=ocean-thermal-power-
will-debut-off-chinas-coast)
288
anteriormente. Uma nova invenção que possa interferir na infra-estrutura
existente, geradora de lucro, de uma determinada empresa. está frequen-
temente sujeita a influências que retardam ou mesmo suprimem essa tec-
nologia que possa interferir no lucro. Enquanto muitos vêem este tipo de
comportamento como uma forma de “corrupção”, a verdade da questão
é que o próprio mecanismo de lançar um dado produto no mercado está
sujeito a limitações financeiras impostas, que atingem o mesmo objeti-
vo. Por exemplo, se o novo produto não pode ser considerado rentável,
durante o curso de seu desenvolvimento, independentemente do seu
verdadeiro mérito, ele será abandonado. O ritmo extremamente lento
[de desenvolvimento] das energias renováveis, no seu conjunto, embora
o princípio da maioria das fontes tem sido conhecido por centenas de
anos, é um resultado direto de investimento monetário, ou da falta dele, e
quanto mais eficiente a tecnologia, menos lucro pode ser realizado com
ela, no longo prazo.
289
[696] Referência: Coletores de energia cinética piezoelétrica para celu-
lares (http://www.energyharvestingjournal.com/articles/piezoelectric-kinet-
ic-energy-harvester-for-mobile-phones-00002142.asp?sessionid=1)
290
article-46-per-cent-global-wealth-owned-by-richest-1-per-cent-credit-su-
isse-369109)
[710] Fonte: Aqui está o porquê de 1,2 bilhão de pessoas ainda não
terem acesso a eletricidade (http://www.washingtonpost.com/blogs/wonk-
blog/wp/2013/05/29/heres-why-1-2-billion-people-still-dont-have-access-
to-electricity/)
291
partir de produtos de preço extremamente alto, que transcendem a utili-
dade. http://www.investopedia.com/terms/v/veblen-good.asp
292
[727] Ibid.
[731] Fonte: Por que reciclar telefones celulares? Porque não basta jogá-
los fora? (http://secondwaverecycling.com/why-recycle-cell-phones-why-
not-just-throw-it-away/)
[734] Fonte: Novo nano material poderia substituir minerais de terras raras
em células solares e OLEDs (http://inhabitat.com/new-nano-material-
could-replace-rare-earth-minerals-in-solar-cells-and -oleds /)
[735] Fonte: Novo material pode levar uma lâmpada de LED mais barata
e ecológica (http://www.gizmag.com/silicon-led-rare-earth-element-alter-
native/27933/)
293
[742] Referência: Petróleo (http://www.instituteforenergyresearch.org/ener-
gy-overview/petroleum-oil/)
294
Capítulo 14
Visão geral
Em grego economia significa “regras ou administração da casa, do lar”.752 O atrib-
uto qualitativo que define uma economia é o seu nível de “eficiência”. Ao contrário
da prática da “eficiência de mercado” comum hoje em dia, esta forma de eficiência
refere-se a sistemas físicos, e não às inter-relações do “dinheiro”, do “mercado” e de
outros artifícios indiscutivelmente culturais.753
No entanto, por uma questão de compreensão, mesmo que esta forma de pensa-
mento econômico seja um amplo afastamento das teorias econômicas de base mon-
etária tradicionais que perduram até hoje, este ensaio ainda enquadrará esses com-
ponentes da economia baseada em recursos no contexto das distinções categóricas
tradicionais, “microeconômica” e “macroeconômica”, como seria encontrado nos
livros didáticos comuns no que diz respeito à economia monetária.
295
Os componentes microeconômicos estão relacionados com indústrias ou setores
específicos, geralmente associados a uma boa produção, distribuição regional e espe-
cificidades regenerativas. (Isso será abordado em detalhes mais adiante neste ensaio.)
Por extensão do sistema, componentes macroeconômicos naturalmente governam
a lógica relacionada aos componentes microeconômicos também. Por exemplo, o
atributo macroeconômico de gestão global de recursos tem uma influência universal
sobre o bom desenrolar das operações microeconômicas, tais como a eficiência de
design de produto (que invariavelmente utiliza tais recursos globais).
No entanto, antes que esses fatores componentes sejam abordados, uma discussão
mais aprofundada sobre sistemas é necessária, juntamente com um relato de quais são
os nossos objetivos sociais reais.
Estendendo este exemplo para relações de maior grau, este sistema humano está
ligado a um sistema ecológico,755 que invariavelmente tem uma correlação direta
com a saúde humana. Ilustrativamente, métodos industriais ruins, existentes dentro
deste sistema ecológico, podem introduzir, por exemplo, a poluição no ar, causando
condições que podem estabelecer o cenário para problemas pulmonares ou outros
malefícios para a saúde humana.
É claro, as relações de sistema para a saúde humana não são apenas “físicas”, no
296
sentido tradicional do termo, elas também são psicologicamente e sociologicamente
causais. A ciência tem compreendido melhor como as propensões humanas de apren-
dizado e comportamentais são geradas através de ambas as influências genética e am-
biental, invariavelmente envolvendo um contexto de sistemas maiores. Por exemplo,
como observado em ensaios anteriores, problemas de dependência, como no caso de
drogas ou álcool, podem frequentemente encontrar-se ligados a estresse precoce e
perda emocional.756 Na verdade, a própria base para a compreensão da saúde pública
é um reconhecimento de sistemas, sem exceção.
Agora, ligando todos os sistemas está o que poderia ser chamado de “princípios
generalizados de gerenciamento”. Em termos científicos, um princípio ou teoria
“generalizado” é uma característica fundamental ou suposição que governa um siste-
ma inteiro. Uma busca notável, em curso, da ciência moderna, tem sido a procura por
princípios de gerenciamento universal que se aplicam a todos os sistemas conhecidos
no universo, como os sinalizados na citação anterior por Ludwig Von Bertalanffy.
Enquanto uma grande quantidade de debate teórico existe com relação ao com-
portamento complexo de certos sistemas (encontramos confrontos de perspectiva en-
tre, por exemplo, “a mecânica clássica” e “a mecânica quântica”), os entendimentos
relevantes para a organização econômica eficiente (um projeto de sistema destinado
a otimizar o bem-estar humano e a sustentabilidade ecológica/social de longo prazo)
não têm necessidade de se perder em tal abstração. Assim, as relações econômicas
apresentadas neste ensaio são bastante óbvias e fáceis de validar.
297
relevância sistêmica cria, inerentemente, uma causalidade essencialmente “auto-ger-
adora”, que reduz grandemente a subjetividade. Quando nós relacionamos as con-
cepções atuais do sistema humano ao sistema ecológico, descobrimos um processo
de cálculo objetivo em relação ao que é possível e sustentável, tanto na estrutura geral
dos processos industriais quanto na estrutura de valores da própria sociedade.
No final, uma vez que esta realidade é entendida, sabendo que nós nunca podere-
mos ter uma compreensão absoluta do sistema de gerenciamento total, universal, nossa
tarefa é, portanto, derivar um modelo econômico que melhor se sobreponha a tais pro-
priedades e relacionamentos conhecidos do mundo físico, adaptando-o e ajustando-o o
mais eficientemente possível, conforme novo retorno de informações continuar a provar
ser ele válido. Dito de outra forma, a criação de um modelo econômico é realmente um
processo de alinhamento estrutural com o sistema ecológico existente, em operação no
planeta Terra. O grau em que somos capazes de conseguir isso, define o nosso sucesso.
Metas Sociais
Enquanto hoje, diversas culturas globais mostram muitas características e inter-
esses únicos, há ainda um conjunto básico, e praticamente universal, de necessidades
comuns, que giram em torno da sobrevivência. Na prática, este conjunto compreende,
essencialmente, a base da “saúde pública”, em sua definição mais ampla.
Abaixo está uma lista de “metas” sociais, aparentemente óbvias, que este novo
modelo econômico trabalharia para atender, com explicações detalhadas a seguir. Em
geral, são metas que compõem a busca pela melhoria na qualidade de vida de toda a
humanidade, enquanto mantém-se a verdadeira sustentabilidade a longo prazo.
Metas:
(1) Eficiência Industrial Otimizada; Busca Ativa da “Abundância Pós-Escassez”.
(2) Manter Otimizado o Equilíbrio Ecológico/Cultural e a Sustentabilidade.
(3) Libertação Deliberada da Humanidade de Trabalhos Monótonos e Perigosos
(4) Facilitar a Adaptação Sistêmica Ativa a Variáveis Emergentes.
298
dizer que a ideia de alcançar a pós-escassez universal, o que significa uma quanti-
dade abundante de tudo para todos, é legitimamente uma impossibilidade, mesmo
nas visões mais otimistas. Portanto, este termo, como usado aqui, realmente destaca
um ponto de foco.759
Estas e muitas outras possibilidades têm sido comprovadas como realidades es-
tatísticas, para a população atual da Terra e além, realizadas através do que R. Buck-
minster Fuller gestualmente chamou de “Revolução da Ciência do Design”,762 ou o
re-design da nossa infra-estrutura social para permitir esta nova e profunda eficiência.
É desnecessário dizer que este re-design social sugere uma ruptura radical com as
normas sociais atuais e tradições estabelecidas, incluindo a própria natureza da nossa
estrutura socioeconômica/governamental, em si. (O assunto complexo da transição
será discutido em um ensaio posterior.)763
Vale reiterar que o atual modelo de economia de mercado não mantém, literal-
mente, nenhum reconhecimento estrutural destas leis de ordem natural. O mercado
simplesmente presume que esse equilíbrio será mantido através de mecanismos cor-
retamente apontados como metafísicos, relacionados somente à dinâmica do merca-
299
do monetário,764 uma suposição falsa.
Esta nova realidade técnica também criou tendências que antes eram inimag-
ináveis, como o fato de que a aplicação de automação tem provado agora ser mais
eficiente que o trabalho humano, tornando a tradição persistente de “ganhar a vida”
uma convenção social cada vez mais irresponsável, uma vez que nós agora podemos
fazer mais com menos pessoas, em praticamente todos os setores.
300
tivas mais limpas e mais abundantes.
Fatores Macroeconômicos:
Na teoria econômica tradicional, baseada no mercado, a macroeconomia trata
das influências e políticas mais amplas que afetam, em parte, a dinâmica e os resul-
tados prováveis da condição microeconômica. Isso geralmente refere-se a medidas
de crescimento, níveis de emprego, taxas de juros, dívidas nacionais, moedas e afins.
301
Esses três fatores são considerados “macroeconômicos”, pois incorporam con-
siderações centrais, quase universais, independentemente do que uma dada produção
implica especificamente ou onde ela está no planeta. (Deve também ser reconhecido
imediatamente que o conceito de uma “economia nacional” não é mais viável nesta
perspectiva nem nunca foi, na verdade, tecnicamente falando.)
Todos os recursos naturais conhecidos, seja madeira, minério de cobre, água, óleo,
etc, têm as suas próprias taxas de regeneração natural, se houver. Em certos casos,
como para metais ou minerais, as taxas de regeneração são de tão larga escala que
seria mais apropriado simplesmente assumir de imediato uma fonte finita.773 No ger-
al, o processo começaria com um levantamento completo dos recursos da Terra, em
qualquer grau tecnicamente possível, acompanhado em tempo real, em qualquer grau
tecnicamente possível.
Enquanto a atual prática cultural, que consiste em publicidade pública por empresas
que buscam o lucro, muitas vezes impondo valores orientados a status/vaidade sobre a
população, em muitos aspectos, em vez de servir para ajudá-los com necessidades exis-
tentes, o processo de engajamento em uma EBRLN lida explicitamente com a criação
da consciência das novas possibilidades técnicas que forem surgindo, além de permitir
o consenso público para decidir o que é de interesse produzir e o que não é.774
302
Isto poderia ser chamado de “o mercado” de uma EBRLN. De muitas maneiras,
ele também pode ser considerado o mecanismo de “governança” da sociedade em
si, uma vez que este tipo de interação social para a tomada de decisão não tem de
ser restrito ao mero design e produção de produtos.775 Afinal, o núcleo de qualquer
sociedade são realmente os mecanismos técnicos que permitem a ordem, bem-estar
e qualidade de vida.
Agora, uma nota final que vale a pena mencionar de passagem, é que na econo-
mia de mercado atual, o processo de avaliação de demanda é orquestrado de forma
profundamente acidental via o que é tradicionalmente chamado de “mecanismo de
preços”.778 Muitos, em escolas econômicas tradicionais, chegam a argumentar que a
variabilidade dinâmica de interesses humanos torna tecnicamente impossível calcular
essa demanda sem o mecanismo de preços. Enquanto isso pode ter sido em parte ver-
dadeiro no início do século 20, quando foram feitas essas afirmações, a época de cál-
culos avançados de computador, juntamente com modernas tecnologias de detecção
e rastreamento, removeram essa barreira de complexidade.779
303
localizadas e porque. Um fator econômico básico a considerar aqui é o que chamare-
mos de “estratégia de proximidade”.
Hoje, 98% das roupa usadas pelos norte-americanos são importadas, principal-
mente da China.780 A maioria das roupas ainda são feitas de algodão. De onde é que a
China gosta de obter boa grande quantidade de seu algodão? - Estados Unidos.781 En-
tão, hoje, os Estados Unidos produzem uma mercadoria crua central para a indústria
têxtil, a embarcam para a China para fazer as roupas, apenas para tê-los enviados de
volta aos EUA quando terminam.
Podemos usar a imaginação com respeito aos milhões de barris de petróleo des-
perdiçados apenas neste movimento de materiais, ao longo do tempo, quando tal
colheita e produção poderiam muito facilmente ser locais. Mais uma vez, este é um
produto de mecanismos econômicos internos da economia de mercado, que não le-
vam em conta os verdadeiros relacionamentos econômicos da Terra (que exigem efi-
ciência física e redução de resíduos), não a eficiência financeira e uma redução de
custos monetários. Esta é uma clara desconexão.
304
demanda e proximidade. Uma vez estabelecida por necessidades regionais, a dis-
tribuição tem três componentes básicos:
Outras variações poderiam incluir sistemas de acesso com base nas necessidades
específicas, regionais, como no caso de atividades recreativas. Facilidades de acesso
podem ser colocadas no local para vários interesses, tais como recursos para esportes,
fornecendo equipamentos necessários no momento e local de utilização.
305
passar de uma sociedade orientada a propriedade para uma orientada a acesso é uma
noção poderosa. Hoje, algumas indústrias de “aluguel” já tem visto os frutos deste
conceito, na forma de conveniência, mesmo em um sistema de mercado.783
Mais uma vez, em comparação com o modelo atual, essas instalações existem
como as “lojas” fazem hoje, com demanda regional dinamicamente calculada, para
garantir abundância de suprimento e evitar a escassez e derrapagens. A diferença é
que nada é “vendido” e o ethos é de um sistema estrategicamente eficiente e interati-
vo de partilha, com, novamente, retornos ocorrendo quando a vida do produto expira
ou quando o produto não é mais necessário.
Como um aparte, há uma reação comum a essa ideia dizendo que problemas
como o “entesouramento” ou algum tipo de abuso se seguiria. Esta suposição é ba-
sicamente a sobreposição das consequências do mercado monetário em curso sobre
o novo modelo, erroneamente. As pessoas no mundo de hoje, impulsionadas pela
escassez, acumulam e protegem impulsivamente quando elas têm algo, por temer ou
desejar a exploração de bens pelo seu valor de mercado. Na EBRLN, não há valor de
revenda no sistema, pois não há dinheiro.784 Portanto, a ideia de acumular qualquer
coisa seria uma inconveniência ao invés de uma vantagem.785
Fatores Microeconômicos:
Tendo em conta estes chamados conceitos macroeconômicos, é importante reaf-
306
irmar que os princípios subjacentes, relativos à máxima eficiência, produtividade e
sustentabilidade são os mesmos ao longo de todo o modelo, de ponta a ponta. Isto
é, novamente, a linha de pensamento que deriva do método científico, calculada no
quadro quase-empírico da própria lógica da lei natural.
307
Durabilidade otimizada significa simplesmente que qualquer bem produzido é
feito com a intenção de durar tanto tempo quanto possível, da forma mais estratégica
possível. A noção de estratégico é importante aqui pois isso não quer dizer que todos
os gabinetes de computador, por exemplo, devem ser feitos de titânio, simplesmente
porque ele é muito forte. Mais uma vez, este é um cálculo de design sinérgico, onde
a noção de o “melhor” material para um determinado propósito é sempre relativa às
necessidades paralelas de produção que também podem exigir esse tipo de material.
Portanto, a decisão de usar um material específico deve ser avaliada não apenas em
seu uso para o bem específico, mas também comparando-o com as necessidades de
outras produções que exigem eficiência similar. Nada existe fora desta comparação
centrada em sistemas. Todas as decisões industriais são tomadas com a consideração
do maior grau sistêmico de relevância.
308
pessoas atualizam apenas esses chips, mesmo que seja viável.
Este tipo de adaptação é critica hoje, em todos os níveis, o que faz alusão ao próx-
imo componente econômico: “padronização universal”.
Esta prática tem sido justificada sob o pretexto de “progresso” no design, com a
premissa de que as empresas concorrentes, incentivadas por ganhos financeiros, vão
“superar” umas as outras e, portanto, ser mais produtivas na inovação. Embora possa
haver alguma verdade nisso, o atraso, o desperdício e a instabilidade causados não
justificam a prática. Além disso, tem sido, e sempre será, o compartilhamento de in-
formações, a longo prazo, que tem provocado a inovação, tanto pessoal como social.
309
interesse em fazê-lo.
1e) Propício para Automação:
Isto significa que o design de um dado produto considera o estado de automação
do trabalho, procurando remover o envolvimento humano, sempre que possível, us-
ando um projeto mais eficiente e muitas vezes menos complexo. Em outras palavras,
parte da equação da eficiência é fazer com que a fabricação seja fácil de produzir por
meios automatizados, levando em conta o estado atual das técnicas de automação.
Procuramos simplificar a maneira com que os materiais e os meios de produção são
usados, para que o número máximo de produtos possam ser fabricados com a menor
variação de materiais e equipamentos de produção. Mais sobre o assunto na próxima
seção.
A tendência tem sido um alívio do trabalho, em geral, com uma redução geral da
participação do trabalho humano em cada setor como relatado para capacidades. Há
duzentos anos, a indústria agrícola utilizava a maioria das pessoas, nos Estados Uni-
dos. Hoje, apenas uma fração muito pequena está trabalhando na agricultura devido
à aplicação de máquinas e automação. Este fenômeno e tendência de “mecanização”
são importantes porque hoje eles estão desafiando a própria base do sistema de tra-
balho por renda, pois conjuntamente estão prenunciando que a produtividade está
caminhando para um ponto que poderia ser chamado de “pós-escassez”.
310
trabalho humano como a conhecemos, por uma aplicação abundante e expansão da
automação, aumentando vastamente a produtividade. O envolvimento do trabalho
humano, enquanto ainda necessário, mesmo em fases mais avançadas, é reduzido
à fiscalização geral destes sistemas automatizados, conforme eles são implantados.
Fábricas também já não estão limitadas por restrições tradicionais derivadas de um
calendário de cinco dias por semana, de oito horas de duração, uma vez que não
há nenhuma razão, dada a possível redução maciça da contribuição humana. Estes
sistemas agora podem funcionar 24 horas por dia, sete dias por semana, se necessário.
No entanto, devido a uma pressão constante por renda, no modelo atual, quase
todos esses atos assumem o contexto necessário de uma busca de dinheiro para so-
brevivência. Pode-se argumentar que isto poluiu o sistema mais natural de incentivo
humano para explorar, aprender e criar, sem essa pressão.
Mais uma vez, esse incentivo é quase inexistente no modo atual, uma vez que o
sistema capitalista é projetado para que todos os benefícios de lucro sejam apropria-
dos pelos proprietários das empresas, com os frutos da produção muitas vezes nunca
relacionando-se ao trabalhador, em um sentido direto, mas via meras recompensas sal-
ariais abstratas. Hoje, as relações empregado/proprietário existem como uma espécie
311
de “guerra de classes”, com a animosidade entre os grupos sendo uma ocorrência co-
mum.788 Nesta nova abordagem, todos os atos de contribuição beneficiam a pessoa que
executa o ato e a comunidade em geral. Eles estão conectados diretamente.
Claramente, isto é um cenário hipotético, uma vez que, em um sistema tão avançado,
um sistema que serve a todos, os valores humanos mudariam muito e muitos, provavel-
mente, se sentiriam honrados em assumir mais horas, reduzindo a obrigação dos outros.
Mais uma vez, estamos falando de manutenção de estruturas, aqui, em oposição a um
“trabalho” imersivo, como é atualmente entendido e necessário. Na realidade, uma so-
ciedade livre, desta natureza, poderia criar uma erupção de avanço criativo e progresso
nunca antes visto, com pessoas trabalhando para contribuir em formas vastas e robus-
tas. Por quê? Porque, mais uma vez, esses indivíduos também estariam ajudando a si
próprios, diretamente, no processo. Qualquer invenção ou avanço na eficiência serve a
toda a comunidade, neste modelo. O interesse próprio se torna interesse social.
Assim, para concluir este ponto, estes novos meios de produção tratam de fo-
calizar o núcleo do trabalho em produtividade técnica verdadeira, que tem retornos
sociais/pessoais diretos, com o mais pródigo foco em automação, e com tanto aumen-
to de eficiência, via tecnologia e automação, quanto possível.
Conclusão
Como com qualquer coisa com esta brevidade, temos uma incompletude inev-
itável. Outros fatores, tanto macro quanto micro, podem ser expressos com mais
pormenores. No entanto, se a pessoa segue este fluxo básico de pensamento, uma
linha de pensamento regida pela lógica científica para assegurar otimizadas eficiência
física e sustentabilidade, esses outros parâmetros inevitavelmente surgem.
312
sua integridade a longo prazo, a mesma lógica se aplica à EBRLN como um todo.
Este modelo social é uma tentativa de espelhar o mundo natural, da forma mais
direta possível, e pode ser considerado um “sistema natural” como qualquer outra
coisa que encontramos na natureza, como um ecossistema. Ele será perfeito? Não.
Mas o fundamento lógico está lá para permitir melhoria constante, muito além do
estado das coisas de hoje.
A seguinte árvore de síntese, como um esboço geral para este ensaio, foi gerada
para revisão:
313
Notas e Referências: Capítulo 14
[756] Dr. Gabor Maté, em sua obra O Império dos Fantasmas Famintos
[In the Realm of Hungry Ghosts](North Atlantic Books, 2012) apresenta
uma enorme quantidade de pesquisas a respeito de como “perdas emo-
cionais” que ocorrem na infância e juventude afetam o comportamento na
vida adulta, especificamente a propensão para o vício.
314
[764] Ver o ensaio História da Economia, onde a noção da “mão invisível”,
de Adam Smith, é discutida.
315
[770] Referência: Poderia a Automação levar ao Desemprego Crônico?
Andrew McAfee soa o alarme (http://www.forbes.com/sites/singulari-
ty/2012/07/19/could-automation-lead-to-chronic-unemployment-andrew-
mcafee-sounds-the-alarm/)
[773] Por exemplo, metais como o cobre são agora amplamente aceitos
como tendo se originado em estrelas, com a terra coletando esses mate-
riais enquanto se formava.
[782] Referência: Por que os concorrentes abrem suas lojas ao lado dos
outros? - Jac de Haan (http://ed.ted.com/lessons/why-do-competitors-
316
open-their-stores-next-to-one-another-jac-de-haan)
317
318
Capítulo 15
O Governo Industrial
O uso de um “exército”, que é sancionado para proteger por decreto público, tor-
nou-se padronizado, juntamente com um complexo de autoridade legal ou regulatória
adjacente, sancionado para essencialmente dar poder a um determinado grupo de
oficiais que facilita essas criações de políticas, aplicações da lei, julgamentos, práticas
punitivas e similares.
319
inteiramente, falsamente supondo que o Estado em si é uma entidade distinta e o pon-
to de partida da culpa por atuais adversidades sociais ou ineficiências econômicas. No
entanto, do outro lado do espectro do debate, há um clamor geral por uma maior reg-
ulação estatal do mercado para garantir mais limites à manipulação nos negócios e,
portanto, trabalhar para evitar o que tem sido muitas vezes percebido como “capital-
ismo de compadres”790. A verdade da questão é que essa polarizante, falsa dualidade
entre o “Estado” e o “mercado” é cega para a verdadeira raiz do que está realmente
causando problemas, não percebendo que o par sinergético estado-mercado é, na ver-
dade, um sistema de poder único em operação, de uma vez só.
Dito de outra forma, haverá sempre a necessidade de regulação legal das tran-
sações no mercado, por alguma instituição sancionada publicamente. E a ética de
mercado irá sempre corromper tal regulamento, em certa medida, com a influência
do dinheiro, porque o dinheiro e os negócios são realmente o que fazem o mundo se
mover. Isso é simplesmente o que é de se esperar quando toda a base psicológica da
existência baseia-se na sobrevivência através de atos de autointeresse competitivo,
orientados pela premissa universal da escassez empírica, sem reais garantias estru-
turais dadas aos membros da sociedade para alguma tranquilidade na sobrevivência.
Pensar que qualquer agência reguladora não seria suscetível a esse tipo de corrupção;
pensar que política de Estado e, portanto, coerção não poderia ser ‘comprada’, como
qualquer outra mercadoria, é negar o fundamento filosófico básico inerente à noção
do mercado de “liberdade” em si.
320
Portanto, reclamar da regulação estatal ou de sua falta é, em última instância, uma
questão discutível no amplo esquema de mudança social a longo prazo. A verdadeira
mudança social não acontecerá através da prevalência ilusória de uma destas sobre
a outra. Ela só acontecerá através da instalação de um sistema completamente dif-
erente que elimina tanto o mercado quanto o Estado como o conhecemos, elevando
todo o quadro para fora do foco estreito, competitivo de gerenciar a escassez no atual
sistema de “ganhar a vida ou sofrer”, para um foco em facilitar uma abundância sus-
tentável e atender às necessidades humanas diretamente.
A importância desse tipo de gestão reside em diversas áreas. Por um lado, ela ga-
rante que o funcionamento social humano está de acordo com os princípios básicos
de sustentabilidade necessários para operar com a longevidade geracional, ao mes-
mo tempo, mantendo um foco vigilante em produzir os bens estrategicamente mais
necessários, no pico da capacidade técnica conhecida, no momento da produção.
Essa gestão diz respeito também a remover o grande incentivo e necessidade de cor-
rupção e comportamentos corruptos, abuso e conivência negócios/governo que têm
atormentado a civilização desde a antiguidade. A busca ativa de abundância através
destes meios sustentáveis garante não só sobrevivência e eficiência, mas também
estabilidade, bem-estar e um estado superior de saúde pública em grande escala.
Raramente, ou nunca, algo é dito sobre a saúde pública ou ecológica. Por quê? -
Porque o mercado é cego para a vida e dissociado da ciência real de suporte de vida
e sustentabilidade. É um sistema de representação que se baseia apenas em torno do
ato de trocas e das preferências de trocas.
321
Portanto, a melhor maneira de pensar sobre uma EBRLN não é nos termos tradi-
cionais de qualquer forma de modelo econômico orientado para o mercado, comum
hoje em dia. Em vez disso, este modelo pode ser melhor pensado como um sistema de
produção, distribuição e gerenciamento avançado, que é democraticamente contrata-
do pelo público, através de uma espécie de “economia participativa”.
Isto observado, há uma série de premissas, mitos e confusões que surgiram ao longo
do tempo e que valem a pena ser abordadas antes. O primeiro é a ideia de que este mod-
elo é “centralmente planejado”. O que se assume, com base em precedentes históricos,
é que um grupo de elite de pessoas irão tomar as decisões econômicas para a sociedade.
Diante disso, um outro protesto é “mas quem programa os sistemas?”, que mais
uma vez assume que um interesse elitista poderia existir por trás dos próprios pro-
gramas de software de mediação (como vai ser explorado ainda mais neste ensaio). A
322
resposta, por mais estranho que possa parecer, é: todos e ninguém. As regras concre-
tas das leis da natureza, que se aplicam a sustentabilidade ambiental e eficiência de
engenharia, são um quadro objetivo de referência. As nuances podem mudar até certo
ponto, ao longo do tempo, mas os princípios gerais de eficiência e sustentabilidade
permanecem, como eles têm sido deduzidos pela física básica, juntamente com vários
milhares de anos de história registrada, pelos qual temos sido capazes de reconhecer
padrões básicos, ainda que críticos, na natureza.
Além disso, a programação real utilizada por este sistema interativo estará dis-
ponível em uma plataforma de código aberto para a inspeção e crítica do público.
Na verdade, o sistema baseia-se inteiramente na inteligência da “mente coletiva” e a
virtude do compartilhamento open source/acesso livre vai ajudar a trazer todos os in-
teresses viáveis à tona, para apreciação pública, de forma absolutamente transparente.
Outra confusão envolve um conceito que tem, para muitos, se tornado a diferença
definidora entre o capitalismo e a maioria de todos os outros modelos sociais histori-
camente propostos. Isso tem a ver com o fato dos “meios de produção” serem de pro-
priedade privada ou não. Em suma, os meios de produção se referem aos ativos não-hu-
manos que criam bens, como máquinas, ferramentas, fábricas, escritórios e similares.
No capitalismo, o capitalista é dono dos meios de produção, por definição histórica.
Tem havido uma discussão em curso, há um século, que qualquer sistema que não
tem seus meios de produção possuídos como uma forma de propriedade privada, us-
ando a moeda como o mecanismo de informação, não vai ser tão eficiente em termos
econômicos como um que o faz. Isso, conforme o argumento segue, é por causa do
uso do mecanismo de preços.792
Preço, a seu crédito, tem a capacidade de criar valor de troca entre praticamente
qualquer conjunto de bens, devido à sua divisibilidade. Isso cria um mecanismo de
feedback que conecta todo o sistema de mercado de uma maneira determinada, est-
reita. Preço, bens e dinheiro trabalham juntos para traduzir preferências subjetivas de
demanda em valores de troca semi-objetivos. A noção de “semi” é empregada aqui,
pois é apenas uma medida culturalmente relativa, ausentes quase todos os fatores
que dão a verdadeira qualidade técnica a um determinado material, bem ou processo.
323
sistema que pode, de forma mais eficiente, permitir feedback com relação a preferên-
cias do consumidor, a demanda, o valor do trabalho e dos recursos ou a escassez de
componentes, sem o sistema de preços, valores de propriedade subjetivos ou de tro-
cas de mercado? A resposta é sim. A solução moderna é eliminar completamente as
trocas e criar um controle direto e link de feedback entre o consumidor e os próprios
meios de produção. O consumidor torna-se realmente parte dos meios de produção e
o complexo industrial, como um todo, torna-se uma ferramenta que é acessada pelo
público, à vontade, para gerar produtos.
Para ilustrar isso, muitos provavelmente hoje possuem uma simples impresso-
ra de papel conectada a um computador, em casa. Quando um arquivo é enviado
para impressão a partir do computador, o usuário está no controle de uma versão em
miniatura de um meio de produção. Da mesma forma, em algumas cidades, hoje,
já existem laboratórios de impressão em 3D, para onde pessoas da comunidade po-
dem enviar seu projeto 3D e usar essas máquinas para imprimir o que eles precisam,
em forma física. O modelo que está sendo apresentado aqui é uma ideia similar. O
passo seguinte neste processo sendo escalado é a criação de um complexo industri-
al estrategicamente automatizado, próximo, tanto quanto possível, que se destina a
produzir, através de meios automatizados, a maioria de toda demanda de qualquer
região. Como será descrito, isto é muito viável, dado o estado atual da tecnologia e as
tendências de efemerização disponíveis.
Imagine, por exemplo, uma loja de roupas, exceto que não é organizada como uma
“loja”, como é atualmente entendida. É uma casa de impressão têxtil multi-propósi-
to. Você seleciona online o desenho em que você está interessado, juntamente com
os materiais que você preferir e outras personalizações, e você imprime essa peça
de roupa “sob-demanda” nestas instalações. Consideremos por um momento quanto
espaço de armazenamento, energia para transporte e excesso de resíduos são elimina-
dos por essa abordagem, se praticamente tudo pudesse ser criado a pedido, feito por
sistemas automatizados que podem produzir continuamente uma maior variedade de
produtos, a partir de configurações de fabricação cada vez menores.
Também vale a pena mencionar que a automação do trabalho agora está fazendo
a historicamente notável “teoria do valor-trabalho”793 cada vez mais discutível, tam-
324
bém. Hoje, a energia de trabalho que compõe um determinado bem, enquanto ainda
é um fator para o reconhecimento do processo, não tem mais uma correlação quan-
tificável. Hoje, máquinas projetam e fazem máquinas. Enquanto a criação inicial de
uma máquina possa precisar de uma boa dose de planejamento humano e construção
inicial neste momento, uma vez iniciada, há uma diminuição constante na transferên-
cia do valor do trabalho, ao longo do tempo.
Estrutura e Processos
325
Uma vez que estamos falando sobre eficiência , nós podemos considerar o prob-
lema como uma maximização da função de produção fp. A Figura 3 é uma tabela de
símbolos e descrições, que serão utilizados nas explicações seguintes. É importante
notar que nem todos os atributos serão abordados neste texto. O objetivo deste ensaio
e as fórmulas sugeridas são feitos de modo a dar um ponto de partida para o cálculo,
destacando os atributos gerais mais relevantes para apreciação.
326
Um cálculo algorítmico completo desta natureza, tendo em conta todos os
sub-processos relacionados, em termos de vida real, exigiria um enorme tratamento
de texto/programação e provavelmente vai ocorrer em uma futura edição do apêndice
deste texto, como desenvolvimento de projetos em andamento.
A noção de “mercado” é expressa aqui não para combinar com a noção de comér-
cio, mas sim com a noção de partilha e de tomada de decisão em grupo. Tal como
acontece com o mercado de vendas tradicional, há um tipo de comportamento coleti-
vo da “multidão” que produz as decisões, ao longo do tempo, como um todo grupal,
em relação a que produtos desenvolver (demanda) e que bens perecerão (falta de
demanda). Em certo sentido, este processo democrático é adotado, em uma EBRLN,
mas por meios diferentes.
Nesta nova abordagem de design, de tipo código aberto (open source), toda a
comunidade internacional tem a opção de apresentar ideias para que todos possam
ver, comparar e construir em cima dos projetos, aproveitando o poder da experiência
coletiva e conhecimento global.
327
comumente hoje em software de desenho assistido por computador (CAD) ou engen-
haria auxiliada por computador (CAE). Em suma, esses programas são capazes de
criar digitalmente e representar qualquer design de produto dado, contendo todas as
informações a respeito de como deve ser feita, no final, a fabricação física.
Esta interface mais amigável pode se desenvolver de uma forma similar a como
computadores pessoais transitaram de interfaces de codificação proprietárias com-
plexas, com instruções de entrada manual, para as agora onipresentes interfaces sim-
ples, com sistemas gráficos de ícones, que permitem aos usuários operar de forma
mais intuitiva. Futuros programas do tipo CAD/CAE provavelmente vão evoluir da
mesma forma, tornando o processo interativo mais acessível.
328
O benefício desta plataforma colaborativa não pode ser suficientemente enfatiza-
do. Ao invés de limitar a entrada de design para, digamos, uma sala de reuniões de
engenheiros e profissionais de marketing, como é prática comum hoje em dia, lit-
eralmente, milhões de mentes podem ser reunidas para acelerar qualquer ideia, nesta
abordagem. Este novo sistema de incentivos também garante que todos os interes-
sados no produto receberão exatamente o que todo mundo provavelmente receberá,
em estados de otimização avançados, onde o interesse pessoal torna-se diretamente
ligado ao interesse social.
Além disso, tendo em conta os padrões de hoje, provavelmente nem todo mundo
deseje ou precise ser um designer. Muitas pessoas estariam suficientemente satisfeitas
com o que já haveria sido posto em marcha por outros com, talvez, personalizações
menores ao longo do caminho. Hoje, na verdade, uma porcentagem muito pequena da
população cria e projeta a tecnologia dominante e produtos que usamos; e esta espe-
cialização pode, naturalmente, continuar no futuro, em algum grau, mesmo que seja em
benefício de todos, se mais mentes cooperarem. Se o sistema de ensino é orientado para
longe da aprendizagem mecânica e da sua base antiquada, que se originou na ordem
social do século XIX, poderíamos ver uma explosão de contribuições e criatividade.
Por exemplo, todos os novos projetos de automóveis de hoje, muito antes de serem
fisicamente construídos, são submetidos a processos de teste digitais complexos que
ajudam muito na integridade do projeto.794 Ao longo do tempo, não há nenhuma razão
para acreditarmos que não vamos ser capazes de representar digitalmente, e incorporar
aos sistemas para testes, a maioria de todas as leis da natureza, aplicando-as em contex-
tos diferentes, virtualmente.
Em suma, todo projeto proposto será filtrado digitalmente, através de uma série
de protocolos de sustentabilidade e eficiência, que dizem respeito não só ao estado
dos recursos existentes, mas também ao desempenho atual do sistema industrial
como um todo.
329
Estes incluiriam os seguintes “padrões de eficiência”795 :
a) Durabilidade Estrategicamente Maximizada
b) Adaptabilidade Estrategicamente Maximizada
c) Padronização Estratégica de Componentes, por Gênero de Produtos
d) Indução Estrategicamente Integrada para Reciclagem
e) Indução Estratégica para Automação do Trabalho
Cada padrão vai ser explorado, em geral, como segue, expandindo-os em certos
casos, no que diz respeito à lógica simbólica associada, por uma questão de clareza.
330
com substituir componentes já existentes ou desatualizados devido a falta de eficácia
comparativa. Esta lógica não deve se aplicar apenas a um determinado produto, deve
aplicar-se a todo o gênero de bens, o quanto for possível.
NC min
O objetivo é minimizar o número total de componentes por gênero NC. Em outras
palavras, a padronização do processo vai permitir a possibilidade de reduzir o número
NC a um mínimo possível.
d) «Indução para Reciclagem’, cr , significa que cada projeto deve estar de acor-
do com o estado atual da possibilidade regenerativa. A fragmentação (em com-
ponentes) de qualquer bem deve ser antecipada no projeto inicial e permitida da
maneira mais otimizada.
A Rede Industrial
A rede industrial refere-se à rede básica de instalações físicas que estão direta-
mente ligadas ao sistema de projeto e banco de dados que acabamos de descrever.
331
O sistema conecta servidores, instalações de produção, instalações de distribuição e
instalações de reciclagem. (Figura 5 abaixo)
SERVIDORES DE DESIGN
INSTALAÇÕES DE PRODUÇÃO
INSTALAÇÕES DE DISTRIBUIÇÃO
INSTALAÇÕES DE RECICLAGEM
Servidores de Design
Esses servidores (computadores) conectam o banco de dados de projeto aos de-
signers/consumidores, enquanto são constantemente atualizados com os dados físi-
cos relevantes para orientar o processo de criação do produto na forma mais otimiza-
da e sustentável.
Instalações de Produção
Estas estruturas facilitam a produção real de um determinado projeto. Estas evolu-
iriam como fábricas automatizadas que seriam capazes de crescentemente produzir
mais com menos insumos materiais e menos configurações da máquina. Mais uma
vez, se o interesse existiu em superar conscientemente complexidades desnecessárias
do projeto, podemos incrementar ainda mais esta tendência para eficiência, com um
impacto ambiental cada vez mais baixo e utilização de recursos cada vez menor, por
tarefa, enquanto maximizamos o nosso potencial de produção de abundância.
Instalações de Distribuição
Distribuição pode ocorrer diretamente da unidade de produção, geralmente no
332
caso de uma instalação de produção com base em pedidos, liga-desliga, para uso
sob encomenda, ou enviados a uma biblioteca de distribuição para o acesso em
massa do público, com base no interesse da demanda regional.
Alguns bens serão propícios à baixa demanda, à produção sob encomenda e out-
ros não. Comida é o exemplo mais fácil de uma necessidade de produção em massa,
enquanto uma peça personalizada de mobiliário viria diretamente das instalações in-
dustriais, uma vez criada.
Instalações de Reciclagem
Instalações de reciclagem provavelmente existiriam como parte da instalação de
produção, permitindo o acesso a peças devolvidas para atualização e reprocessamen-
to. Como observado no protocolo de design, todos os bens seriam pré-otimizados
para “serem propícios a reciclagem”. O objetivo aqui é uma economia de resíduo
zero. Quer se trate de um telefone, um sofá, um computador, um casaco, ou um livro,
tudo volta a um centro de reciclagem, provavelmente o ponto de origem, que vai
reprocessar diretamente qualquer item, da melhor forma possível.
333
Na proporção em que seja tecnicamente possível, todas as matérias-primas e os
recursos relacionados seriam rastreados e monitorados, tão próximo quanto possível
do tempo real. Isto é principalmente porque manter o equilíbrio com os processos
regenerativos da Terra, ao mesmo tempo trabalhando estrategicamente para maximi-
zar o uso dos materiais mais abundantes, minimizando qualquer coisa com escassez
emergente, é um cálculo crítico de eficiência. Novamente, este é, em parte, o propósi-
to do sistema de Gestão de Recursos Globais mencionado antes.
Para o cálculo de “valor”, talvez as duas medidas mais importantes, que serão
submetidas a novo cálculo dinâmico constante, através do feedback conforme a
indústria se desenvolve, é o nível de (a) “escassez” e do grau de (b) “complexi-
dade do trabalho”.
(a) Ao “valor de escassez” pode ser atribuído um valor numérico, de 1-100. 1 iria
indicar a escassez mais grave no que diz respeito à taxa atual de utilização e 100 a
menos grave. 50 seria a linha divisória em estado estacionário. O valor de escassez
de um determinado recurso estaria em algum ponto ao longo desta linha, atualizado
dinamicamente pela rede de Gestão de Recursos Global.
GRADUAÇÃO DE ESCASSEZ
1 50 100
neg pos
Figura 6. Auxílio visual - Graduação de Escassez
Esta nova abordagem, ao invés de usar preço para comparar ou avaliar valor, con-
tabiliza uma determinada qualidade técnica diretamente, por uma quantificação com-
parativa. No caso de problemas de escassez, ela é melhor para organizar os gêneros
ou grupos de materiais de uso semelhante e quantificar, ao mais alto grau possível, as
334
suas propriedades relacionadas e graus de eficiência para um determinado propósito.
Em seguida, um espectro geral em valor numérico é aplicado a esses relacionamentos.
Por exemplo, há um espectro de metais que têm eficiências diferentes para con-
dutividade elétrica. Essas eficiências podem ser fisicamente quantificadas e, em se-
guida, comparadas por valor. Assim, se o cobre, um metal condutor, fica abaixo do
valor de 50 de equilíbrio em relação à sua escassez, os cálculos são acionados pelo
programa de gestão para comparar o estado de outros materiais condutores seu nível
de escassez e seu nível de eficiência, preparando a sua substituição.
Por exemplo, uma cadeira que pode ser moldada em três minutos, a partir de
polímeros simples em um processo, terá um valor menor de “complexidade do tra-
balho” do que uma cadeira que exige a montagem menos automatizada em uma
cadeia produtiva mais tediosa, com materiais mistos. No caso de um dado valor de
processo ser muito complexo ou, portanto, relativamente ineficiente em termos do
que é atualmente possível (em comparação com um projeto já existente, de natureza
similar), o projeto seria sinalizado e seria, portanto, necessário ser reavaliado.
335
Cálculos de Projeto
Observadas essas generalizações, um passo a passo deste processo global,
linear é expressado abaixo. Haverá alguma repetição aqui por uma questão de
clareza. Se estivéssemos olhando para um projeto de produto, da maneira mais
ampla possível, no que diz respeito ao desenvolvimento industrial, vamos acabar
com cerca de quatro funções ou processos, cada um relacionado com as quatro
fases lineares dominantes, que são a concepção, a produção, a distribuição e reci-
clagem. Mais uma vez, cada um destes processos está diretamente conectado ao
sistema de Gestão Global de Recursos que fornece feedback em valor que auxilia
no aparato regulatório para garantir eficiência e sustentabilidade.
[Durabilidade] = td
[Adaptabilidade] = Adesign
[Normalização] = NC
[indução a Reciclagem] = cr
[Indução a Automação] = HL
Por favor, note que a subdivisão de cada um destes sub-processos e associações
lógicas pode ser feita, no sentido figurado, tão bem quanto, sempre reduzindo minú-
336
cias. No entanto, como se referiu, esta expressão é a camada “superior” pela qual to-
dos os outros sub-processos são orientados. E, novamente, não é o escopo do presente
texto proporcionar todos os atributos de um algoritmo funcional. Também não está
implícito aqui que os parâmetros expressos estão, total ou absolutamente, completos.
Mais uma vez, este esquema presume que são necessários apenas dois tipos de
instalações. Pode haver mais tipos de instalações com base em fatores de produção,
gerando mais condições de divisão. No entanto, se as regras de projeto são respeita-
das, não deve haver muita variação ao longo do tempo já que a intenção é sempre a
reduzir e simplificar.
337
Todos os projetos de produtos são filtrados por um processo de [Determinação
de Classe de Demanda]. O processo de [Determinação de Classe de Demanda] filtra
com base nos padrões estabelecidos para [Baixa Demanda] ou [Alta Demanda]. To-
dos os projetos de produtos de [Baixa Demanda de Consumo] devem ser fabricados
pelo processo de [Automação Flexível]. Todos os projetos de produtos de [Alta De-
manda de Consumo] devem ser fabricados pelo processo de [Automação Fixa]. Além
disso, tanto a fabricação de projetos de produtos de [Baixa Demanda de Consumo]
como de [Alta Demanda de Consumo] serão distribuídos regionalmente de acordo
com a [Estratégia de Proximidade] dp das instalações de fabricação.
A
B
DC > DS
338
No caso de [Baixa Demanda de Consumo], o esquema de distribuição é direto
(Figura 8a). Neste caso, o produto vai diretamente para o consumidor sem a ajuda de
intermediários de rede.
A Economia Doméstica
O esquema anterior, sobre processos sustentáveis, tecnicamente eficientes e
otimizados dinamicamente para obter o máximo de estabilidade e maximizar o po-
tencial de uma determinada operação econômica, é ao mesmo tempo extremamente
complexo em detalhes e aparentemente simples na teoria.
339
A própria noção de sistemas de produção sob demanda, extremamente versátil,
que pode produzir um bem para uma única pessoa ou bens para toda uma demografia
cultural, é profundo em suas implicações, para não mencionar os grandes resultados
positivos inerentes quando se trata de criar uma sociedade mais humana e pacífica.
No entanto, dentro deste cenário, muitas vezes se confunde o papel do ser huma-
no. Enquanto a busca da pós-escassez, desta forma, cria um paradigma sustentável e
gerador de abundância, onde as pessoas podem viver sem o fardo de “trabalhar para
viver”, o debate sobre “o que as pessoas vão fazer?” é uma pergunta que muitas vezes
surge, juntamente com outra pergunta inevitável: “Quem está operando as máquinas,
sem remuneração!?”
O problema com esta hipótese é que ela está profundamente presa em uma visão
de mundo orientada para o mercado, onde o tempo é equiparado ao dinheiro. As pes-
soas hoje têm uma reação instintiva de assumir que para que algo seja realmente feito,
o dinheiro deve estar em jogo, como um incentivo.
340
de 1992, mais de 50% dos adultos norte-americanos (94 milhões de americanos)
ofereceram tempo para causas sociais, a uma média de 4,2 horas por semana, com
um total de 20,5 bilhões de horas por ano.797 Uma pesquisa mais recente, em dezem-
bro de 2013 mostrou um aumento constante no voluntariado a partir de 2001 até
2013.798 Pesquisas de 2008, nos EUA, também mostraram um aumento no voluntari-
ado não-religioso, sublinhando o ponto de que as contribuições sociais podem existir
por si mesmas, bem como por motivos religiosos, e durante grandes dificuldades
econômicas.799 A verdade da questão é que os seres humanos, mesmo com a orien-
tação altamente competitiva e materialista dos Estados Unidos, ainda decidem fazer
muitas coisas sem interesse na recompensa monetária.
Isso talvez possa explicar a tendência à “preguiça” que muitos sentem, uma vez
fora de seu emprego, no final do dia, voltando para casa se sentindo derrotados e
cansados. Ao longo do tempo, muitos perderam o espírito e motivação geral e acham
341
que seu trabalho tornou-se a única coisa que supõem ter um significado em sua vida,
esquecendo as paixões agradáveis, um dia
inerentes ao seu desenvolvimento.
O Paradoxo da Descentralização
Embora a retórica de uma sociedade global, com valores globais enfatiza este mod-
elo sócio-econômico, é importante compreender a natureza redundante e descentraliza-
da de seu layout. John Dalberg-Acton, 1º Barão de Acton, uma vez afirmou: “O poder
tende a corromper e o poder absoluto corrompe absolutamente”.800 Essa perspectiva
temente ao poder é certamente bem justificada na história e muitos que ouvem sobre
um EBRLN muitas vezes assumem que esta sociedade global é “governada” por um
mainframe, uma máquina, um grupo de elite de tecnocratas ou algo similar.
342
car surpresos com estas reações. No entanto, esta afirmação também é profundamente
contra-produtiva no seu conjunto, uma vez que dá a sensação de paranoia, de que nin-
guém pode ser confiável, se lhes for dada qualquer tipo de controle sobre os outros.
Uma EBRLN é, de fato, uma estrutura global na forma como ela processa a in-
formação econômica e avalia possibilidades de resultados. Uma vez que um produ-
to é projetado, ele é processado através dos filtros de eficiência e sustentabilidade
mencionados, os quais, invariavelmente, consideram o estado dos recursos mundiais,
juntamente com uma rede global para a contribuição no design. Ao mesmo tempo, as
decisões sociais de ordem maior, ou seja, aquelas decisões um dia tomadas por repre-
sentantes eleitos, são produzidas por consenso da população, diretamente.
No entanto, temos que primeiro perguntar por que alguém iria realizar tal ato, no
novo modelo. Uma vez que todo o sistema é projetado para prover a todos, onde está
o incentivo para perturbá-lo? Qualquer um desligando um sistema deste tipo está
também fechando os seus meios para contribuir e se desenvolver. Uma analogia seria
uma pessoa hoje vivendo em um prédio de apartamentos, onde todos compartilham a
infra-estrutura de serviços, tomar a decisão de destruir o fusível ou disjuntor da caixa
elétrica que distribui a energia elétrica de entrada para alimentar todo o prédio. Por
que eles iriam fazê-lo se desligariam a sua própria eletricidade, também?
É importante revisar porque as pessoas podem ser tão cruéis hoje. A raiva é
produzida pela privação e algum ato externo muitas vezes é interpretado como a
fonte deste abuso. Assim, em retribuição, as pessoas hoje em dia atacam e violam
sites e similares para fazer um protesto ou se vingar.801 Em uma EBRLN, é difícil
de entender onde a fonte de tal angústia e indignação se materializaria. Se uma
pessoa não gosta da forma como o sistema está funcionando, de uma maneira
específica, eles têm a capacidade de alterá-lo por meio da obtenção de consenso
com os outros. O sistema é emergente.
No entanto, no caso em que isto acontecer, existe uma solução simples: redundân-
cia ativa. Em uma sociedade orientada monetariamente, com base em eficiência de
custos, vemos pouca redundância para proteção contra falhas, pois é inviável por
ser cara. Por exemplo, vemos um avião com dois motores e ambos são necessários
para voar. Por que não criar um avião com dois motores principais e dois motores
343
de back-up, que não estão em operação quando o avião está em condições plenas de
funcionamento, mas no caso de um motor falhar, outro motor é capaz de assumir?
No que diz respeito à própria rede física, ela é descentralizada, na sua orientação,
de muitas maneiras, muitas vezes mais do que vemos hoje. O layout topográfico da
Terra faz com que muitas coisas sejam logicamente óbvias, quanto à localização
de estruturas. Pessoas, sendo sociais, têm, naturalmente, um interesse em ter algum
tipo de centralização comunitária; a existência de certas áreas de fornecimento de
energia, como para energia solar/eólica/geotérmica/hídrica, esculpe seus próprios
locais logicamente; redes de extração, produção e distribuição também têm uma
344
lógica topográfica inerente, um vez que a eficiência exige que mantenhamos tais in-
stalações próximas umas das outras tanto quanto possível, reduzindo o desperdício
de energia, transportes; etc.
É claro que cada cidade se conecta naturalmente a outras cidades, idealmente com
sistemas de transporte avançados, que podem de forma limpa e fluida mover as pes-
soas. Sistemas de trens tipo Maglev estão caminhando para serem o próximo estágio
de transporte rápido, seguro e eficiente, com pouco ou nenhum impacto ambiental,
em comparação aos aviões, ônibus e carros movidos a petróleo.804
Quanto ao “motor” de uma cidade, que é a sua indústria, redes digitais e sistemas
de sensor trabalham para reunir dados regionais e não regionais importantes. Isto está
relacionado à rede de “gestão global de recursos”, como descrito antes e ambas as
redes regionais e globais de medidas permitem que todas as cidades/cidadãos tenham
um senso holístico do que está acontecendo, afetando a produção e outros fatores
ambientais importantes.805
Assim, esta rede poderia muito bem ser “centralizada” em seus dados e fluxo de
recursos brutos para instalações de produção internas de uma cidade, mas é descen-
tralizada de modo que uma cidade não precise fazer importação de mais nada. Ela é
em sua maior parte autossuficiente. Todas as produções ocorrem internamente, sem
importação e exportação de bens produzidos, apenas recursos. Essa ideia de “autos-
suficiência por grau de escala”806 é importante e até mesmo se aplica em relação às
estruturas, tais como casas. A casa ideal estaria fora da rede e seria autossuficiente em
seu abastecimento de energia e com fontes de energia de backup redundantes posicio-
nadas se algo ficar comprometido.
Dito de outra forma, não há “apagão” central em tal sistema baseado em re-
dundância natural. Por exemplo, se uma rede de fornecimento de energia de base
está sendo usada e aquela rede cai, ela teria pouco efeito sobre as casas se essas
345
casas também são projetadas para coletar de fontes de energia locais (i.e. solar) e,
portanto, serem autossuficientes. Da mesma forma, não há uma coisa que possa
perturbar o sistema internacional. Ao contrário das estruturas monetária e cambial
modernas, que são altamente centralizadas e podem causar estragos globalmente
se as coisas derem errado, um problema em uma cidade tem pouco efeito sobre
qualquer outra cidade em uma EBRLN.
346
Notas e Referências: Capítulo 15
[795] Por favor, observe que esses protocolos foram também aborda-
dos no ensaio Fatores Econômicos Reais, no contexto de “componentes
microeconômicos”, com variações leves na linguagem.
[800] John Emerich Edward Dalberg Acton, primeiro Barão Acton (1834-
1902). O historiador e moralista, que foi também conhecido simplesmente
como Lord Acton, expressou esta opinião em uma carta ao bispo Mandell
Creighton, em 1887.
347
[803] O trabalho de design de Jacque Fresco, especificamente seus con-
ceitos de sistemas da cidade, é um bom exemplo desse raciocínio.
Referência: Jacque Fresco, O Melhor que o Dinheiro Não Pode Comprar,
Global Cybervisions, 2002, Capítulo 15 [Jacque Fresco, The Best That
Money Can’t Buy, Global Cybervisions, 2002, Chapter 15]
348
Capítulo 16
O que é a felicidade?
É difícil para a maioria das pessoas, no mundo de hoje, imaginar uma sociedade
sem a pressão e conflitos diários enfrentados pelo ato de simplesmente tentar sobre-
viver e manter um estado mental e físico saudável. Muito de nossas vidas, hoje, é
centrado em torno de ficar financeiramente à frente e certificar-se de que nós temos
dinheiro suficiente para hoje, amanhã, para nossa família e até mesmo, talvez, para a
próxima geração familiar, que muitas vezes nós perdemos de vista o que é que real-
mente cria bem-estar e felicidade.
349
é difícil, já que a ideia da existência sem essa luta é quase impossível para muitos,
devido a nossa história.
Martin Luther King Jr. disse uma vez: “O comunismo se esquece que a vida é
individual. O capitalismo se esquece que a vida é social, e o reino de fraternidade
não é encontrado nem na tese do comunismo nem na antítese do capitalismo, mas
numa síntese superior. Ele se encontra em uma síntese superior que combina as
verdades de ambos”.809
Não há como negar que os seres humanos evoluíram com uma natureza profun-
damente social. Pode-se argumentar que o que realmente nos define são as relações
que criamos em nossas vidas, sem mencionar a vasta influência do próprio desen-
volvimento cultural, que é a principal fonte da maior parte das orientações de valor
em qualquer momento, em qualquer dada sociedade.
350
entendimentos básicos na ciência, como também temos a capacidade de nos tornar-
mos conscientes, estruturalmente, como sendo, na verdade, responsáveis uns pelos
outros e pela própria Terra.
Este sistema antigo, que é uma consequência natural desta ordem conduzida pela
escassez, funcionou bem durante os períodos primitivos, onde o nosso impacto sobre
a Terra e a quantidade de dano que poderíamos fazer uns para os outros tinha limites
“aceitáveis”, por assim dizer. Os maiores problemas estruturais inerentes simples-
mente não poderiam ser entendidos naquele momento. No entanto, hoje o mercado
revelou-se não mais como um método para a sustentabilidade ou um meio para a
gestão inteligente dos recursos e ele também cria uma propensão constante de ver os
outros seres humanos como ameaças a nossa própria sobrevivência.
No plano social, todo o edifício justifica um jogo de soma zero. Duas pessoas
indo para uma entrevista de emprego cobiçado, para o mesmo trabalho, podem ser
respeitosas uma para com a outra, mas ambos sabem que apenas um deles vai conse-
guir o trabalho. Esta nuance competitiva, baseada no medo, percorre toda a gama de
assuntos sociais, desde justificar enormes abismos de riqueza e desequilíbrio de class-
es no mundo desenvolvido, até a total ignorância da pobreza em massa e o genocídio
que ela é, no mundo em desenvolvimento.
Por exemplo, um número enorme de leis existem hoje que protegem a proprie-
dade privada. As pessoas podem ser motivadas a roubar por uma série de razões, mas
estatisticamente uma falta de meios, privação geral e, consequentemente, a pobreza
351
relativa ou absoluta, é a pré-condição comum. Quando as pessoas roubam bens físi-
cos, eles estão geralmente roubando valor de troca na maioria dos casos. Em uma
EBRLN não há valor de troca e, portanto, “roubar” um item que não pode ser vendido
é geralmente inútil.
352
A atual ordem social, que é, novamente, literalmente construída a partir da prem-
issa competitiva da economia, orientada pelo mercado, conduzida pela escassez, tem
um enorme aparato legal para controlar o comportamento humano. Na nova aborda-
gem, podemos provavelmente esperar uma redução de 90-95% em tais atos “crimi-
nosos” uma vez que a grande maioria dos “crimes” tem a ver com dinheiro, comércio
e propriedade. Estas mesmas ideias já não são mais relevantes nesse modelo pós-es-
cassez pois não há base para esses problemas em geral. Eles ficaram fora do projeto.
353
Imagine um cenário em que um indivíduo estaciona sua bicicleta em uma rua,
sem um cadeado, entrando em uma casa. Esta bicicleta foi acessada a partir de uma
biblioteca de distribuição local, para uso da pessoa. Então, um passante, que está com
pressa, não estando perto de uma biblioteca de distribuição, vê esta bicicleta e toma
uma decisão inadequada de pegar a bicicleta para chegar onde ele precisa ir. Este é
um ato desonesto e rude.
No entanto, isso não significa que o ato deve ser ignorado e passar despercebido
em sua violação de acesso, já que tal comportamento, tão raro quanto pudesse ser,
precisaria ser reconhecido para servir como uma forma de educação operante. Não é
diferente de como as pessoas hoje aprendem a decência, respeito e etiqueta básicos.
Portanto, ao invés de direitos de propriedade, uma regra simples de direitos de acesso
pode ser instalada para dissuadir tal comportamento. Em outras palavras, qualquer
pessoa que obtenha itens através do sistema teria direitos de acesso a esses itens pela
duração do uso e se outro vem e pega esses itens, isso é uma ofensa. O reforço para
dissuadir tais atos futuros inicialmente seriam avisos. Se persistir ao longo do tempo,
isso poderia significar uma limitação temporária de acesso futuro, de algum gênero,
para essa pessoa incriminada.
354
cia comportamental. No caso de um terremoto, inundação, furacão ou similar, cada
caso teria naturalmente um plano definido pela sociedade para garantir tratamento
adequado. Essa preparação pode cruzar linhas regionais também, com planos de con-
tingência acordados em nível global para saber como o resto do mundo pode ajudar
se uma determinada região tem um problema grave. Isto é na verdade semelhante à
forma como funciona a comunidade internacional para ajudar em crises, hoje mesmo,
quando ocorrem tais problemas.
Estilo de vida
Conforme a tecnologia se desenvolve e o conhecimento científico evolui, a cultu-
ra muda. Esta tem sido a tendência da história. Com o desenvolvimento exponencial
das tecnologias baseadas na informação e, consequentemente, a tecnologia aplicada
que então emerge, cada geração desenvolve novos valores, associações, modos e ex-
pressões. Vamos imaginar despertar uma manhã em uma EBRLN - um dia na vida:
Você acorda para um zumbido geralmente tranquilo de tráfego leve, com os trens
maglev movendo-se rapidamente através da cidade. Sendo um amante de vistas altas,
você sai da cama, no 20º andar de um simples ainda que elegante complexo de apar-
tamentos extrudados via molde, que convertem toda a luz solar em energia através de
tintas fotovoltaicas em suas camadas mais externas. Você tem um fugaz momento de
encantamento com esta realidade enquanto o sol irrompe através das janelas, forçan-
do o aumento da atenção para fora de seu estupor do inicio da manhã.
Enquanto emerge do sono, você também é lembrado de seu primo ter partici-
pado daquela iniciativa global, impulsionada pela universidade, de cerca de duas
décadas atrás, que procurou aperfeiçoar esta tecnologia de pintura a um grau de
eficiência nunca antes visto. Em poucos anos de colaboração, esta tinta PV atingiu
90% de eficiência energética, o que a torna viável em praticamente qualquer estru-
tura. Você se lembra da alegria e satisfação que o seu primo sentiu quando sua equi-
pe estava na linha de frente quando este avanço para a humanidade foi alcançado.
Era como a euforia sentida entre os companheiros de equipe de futebol depois de
um gol ter sido marcado.
355
Lentamente ganhando foco conforme suas pupilas encontram o equilíbrio com
a luz invasora, você olha para fora da janela e nota uma enorme máquina, suspensa
por um tipo de guindaste, lentamente adicionando uma nova seção na estrutura do
edifício do qual você é uma parte. Quase como mágica, a máquina é capaz de formar,
a partir do que parece, a primeira vista, uma espécie de plástico líquido, uma nova
configuração de apartamento e acrescenta a forma na estrutura existente. Silenciosa-
mente, com segurança e, estranhamente, com muito poucas peças, não há técnico à
vista, mesmo que provavelmente alguém esteja acompanhando o processo de algum
lugar. Sensores de luz piscando e escaneando, sobre a enorme máquina, parecem
sugerir que ela entende tudo sobre a área circundante e o que precisa fazer.
356
No entanto, verificando a geladeira, você percebe que se esqueceu de pegar pro-
visões para a sua curta estadia. Você pondera se descerá ao nível mais baixo para
pegar essas provisões e voltar, mas você decide que é hora de seguir em frente e que
você vai comer alguma coisa em um café, no caminho. Assim que sai do apartamen-
to, você passa a chave de acesso no painel de controle, para confirmar a sua saída final
e, em seguida, olha para o painel de controle para encontrar o botão “limpar”. Depois
de um pouco de frustração, você finalmente percebe que o apartamento foi projetado
com um sistema de sensor de movimento, com base no tempo, para limpar-se auto-
maticamente quando nenhum movimento for detectado.
Você, então, percebe o robô CF6 no canto e faz uma pausa para se maravilhar com
a proeza técnica incrível que é ter este robô que entende a natureza exata do espaço,
quais coisas pertencem a ele e quais não, tudo programado com percepção espacial 3D
absoluta do apartamento, para limpar e organizar. É difícil para você imaginar como
deve ter sido penoso esse trabalho diário de manutenção, em gerações anteriores.
Você agradece a ele gentilmente pelo seu lugar bem cuidado e continua em seu
caminho, com uma breve reflexão de volta para aquela foto histórica, no quarto de que
você acabou de sair. Há muito tempo, no passado, o sentido de contribuição das pessoas
sempre era associado a dinheiro. Eles tinham empregos, como eram chamados. Hoje, a
vocação das pessoas é uma questão de escolha, facilitada também por um senso básico
de responsabilidade social. Nossa sociedade é projetada para cuidar de nós como um só,
então por que não devemos cuidar da própria sociedade em troca? O homem por quem
você passou mantém aquele edifício, porque ele gosta de ajudar os outros e uma vez
que ele próprio só precisa trabalhar algumas horas por semana nesse cargo, ele vê seu
tempo voluntário como valioso e sem ônus, ajudando, feliz, outras pessoas que muito
apreciam a contribuição. Isso faz com que ele se sinta mais como parte da comunidade.
Saindo do prédio, a rua está animada, com movimento. Você percebe um café
francês retro, com aspecto artístico, na esquina e ri para si mesmo da nostalgia sem
sentido, mas ainda assim bonita. Você entra e senta numa mesa de canto pequena,
sorrindo educadamente para a família do outro lado da rua. Percebendo que você está
ficando sem tempo, pois você tem que pegar um trem para assistir a uma conferência
a umas duas centenas de quilômetros de distância, você tecla um pedido simples no
357
menu do quiosque no centro da mesa. Chá e waffles. Uma vez encaminhado você não
pode deixar de notar uma vibração leve que ocorre atrás de sua cabeça.
Já que seu avô era um engenheiro que ajudou a projetar o sistema automatizado
de cozinha original, isso é curioso para você já que a tradição de costume era colocar
a unidade de processamento acima e ao centro no espaço. Parece que havia alguma
restrição nesta área estreita então eles a esconderam para o lado. Cerca de dois minu-
tos depois, uma luz vermelha aparece na mesa para alertá-lo de que o seu pedido está
pronto. Uma porta de vidro se abre, que é perpendicular à parte de cima da mesa e um
transportador se estende para revelar o seu chá e waffles. Você pega a bandeja e se
apressa para terminar, na esperança de não perder seu trem. Uma vez feito isso, você
desliza a bandeja de volta para a abertura e ela se fecha para limpeza.
Quando sai do café, você não pode deixar de notar um decalque com a silhueta
de uma forma feminina com uma bandeja, curvando-se sobre o que parece ser uma
mesa. No início, a imagem confunde você e então você se lembra que houve um tem-
po na história em que as pessoas eram escravas dos outros desta mesma forma. Antes
do restaurante automatizado, as pessoas realmente desperdiçavam o seu potencial,
esperando uns pelos outros e manualmente trazendo comida e recebendo pedidos.
Mais uma vez, você fica feliz por ter nascido quando nasceu.
Dirigindo-se para fora você percebe que tem uma longa caminhada. Ponderan-
do embarcar no carrinho maglev, que circula constantemente sobre a cidade como
um verme gigante, você decide que provavelmente vai ser muito lento. Então, você
caminha para a rua paralela, que é onde os carros automatizados zunem em seus tra-
jetos personalizados. Usando o seu telefone celular, que tem uma aplicação especial
vinculada ao sistema de transportes da região, um táxi branco percebe rapidamente a
sua chamada e pára na esquina. Você entra na frente do táxi e descreve verbalmente o
endereço. Uma voz confirma o seu pedido e você está a caminho.
Chegando na estação de trem, você sai do táxi e começa a seguir o seu caminho.
Enquanto caminha você nota uma pessoa com uma grande mala ao seu lado, carre-
gando-a. Isto o deixa perplexo. Parece tão árduo e desnecessário. Você se pergunta
por que alguém iria precisar de uma bagagem tão grande quando as coisas básicas,
de que todo mundo precisa, podem ser encontradas em qualquer cidade do mundo,
sob demanda. A ideia de bagagem parecia inadequada e estranha. No entanto, antes
de você ter um momento para refletir sobre isso mais um pouco, o homem na sua
frente, de repente, cai no chão.
Imediatamente uma grande multidão começa a se formar, para ver se podem aju-
dar. Sendo o mais próximo dele, você observa que as características parecem ser de
um ataque cardíaco. Embora extremamente raro no mundo, naquela época, eles ainda
358
ocorrem, ocasionalmente. Usando seu telefone, você tecla o número de emergência
331 com a palavra “médica”. Isso envia uma notificação instantânea de emergência
para uma equipe local de voluntários treinados na prática médica, juntamente com a
localização, via GPS. Em poucos minutos, uma equipe chega e trabalha para salvar
a vida do homem. Como o homem ainda respirava, ele é colocado em um veículo de
emergência automatizado, que zune para o hospital local. Preocupado com o destino
do pobre homem, você se recompõe e continua, ainda mais atrasado do que antes.
Em seguida, ele vem a você! Assim, você digita o título e lá está ele. No entanto,
sua lembrança de que sua viagem é de apenas cerca de 440 quilômetros faz você per-
ceber que você não vai assistir muita coisa, já que este trem maglev move-se a cerca
de 4.800 km/h. Você vai ter sorte se assistir 8 minutos do filme. Então, ao invés de es-
tragar a experiência, você decide revisar por alto algumas notas que você trouxe para
a conferência. O tema da conferência é terraformação. Grande interesse está sendo
demostrado pela humanidade em continuar a explorar a ideia de habitar o espaço, e
esta conferência irá abordar os potenciais atualmente disponíveis.
No entanto, antes que muitas reflexões possam ser feitas, você chega ao seu des-
tino. Você sai do trem e entra na estação. Você percebe que precisa de algum equipa-
mento para algumas tarefas programadas que serão abordadas na conferência, assim
você caminha para a biblioteca de tecnologia local. Você precisa de um laptop versátil
e de uma série de cartões de armazenamento para redigir suas notas e trabalhar depois
que isto for feito. Você entra na biblioteca e sente um zumbido em seu telefone. Você
o puxa para fora e uma notificação curiosa dá boas-vindas ao centro de tecnologia
dessa região e pergunta se você precisa de ajuda em sua busca.
Isto o deixa perplexo, no começo, mas então você se lembra que a rede de bib-
liotecas da região foi recentemente atualizada para permitir um sistema de reconhe-
cimento universal, facilitado por um aplicativo de telefone que você tinha instalado
antes, ao usar outra biblioteca, na mesma região, anos atrás. Você tinha se esqueci-
do disso. “Que conveniente!”, Você pensa. Você descreve o laptop e os cartões de
memória e ele retorna os perfis dos produtos. Você acha que está correto. Uma vez
confirmado, um mapa visual da biblioteca aparece que mostra a sua localização e
359
a localização da área com os bens que você precisa. Você se move para essa área e
recolhe os itens. Em seguida, você sai da biblioteca, acessa um táxi automatizado, e
você está a caminho da conferência.
Com poucos comandos, um robô modular CR9 está agora sob seu controle, na
fazenda. Através desta capacidade de controle remoto você é capaz de guiar a máqui-
na para a área do problema e explicar a questão. Este robô, como o do apartamento
que você tinha antes, tem uma compreensão completa de todos os sistemas físicos e
técnicos na operação. Um modelo 3D da planta e seu projeto de infra-estrutura é, lit-
eralmente, programado nesses CR9s e tudo o que é preciso é um pouco de orientação
da equipe de gestão e ele rapidamente entra em ação para corrigir um problema. Uma
vez no local, o CR9 entende rapidamente o problema, de forma clara, e move-se para
substituir o cabo de alimentação ruim. Em poucos minutos, o problema está resolvi-
do. Você chama seu parceiro e ele agradece gentilmente pela assistência.
Agora. com muita fome, você precipita-se sobre o menu do quiosque e encontra
o maior prato de massa que você pode! Você entra seu pedido, juntamente com um
coquetel forte e um pouco de água, e espera. Cerca de dez minutos depois, um me-
canismo na mesa abre, a partir do lado, elevando a sua agora visualmente sedutora
refeição à superfície, na sua frente. Você mergulha na comida! Próximo a você, você
não pode deixar de notar uma mulher com feição gentil observando-o, a partir do
canto. Você sorri e ela vem.
360
Ela pergunta: “Como está?” Você responde “Muito bem. Você é a gerente aqui?”
Ela balança a cabeça. Você, então, segue descrevendo como o seu avô ajudou a pro-
jetar o sistema de cozinha que ela está usando. Ela se ilumina e diz: “Minha família
tem alimentado as pessoas durante nove gerações. Às vezes eu retorno ao passado
e cozinho a comida eu mesma, apenas para me divertir!” Ambos riem da nostalgia,
comparando a ideia com aqueles que ainda consertam manualmente carros velhos,
apenas por diversão.
Após a refeição e conversa, você decide que é hora de se retirar para dormir. Us-
ando seu telefone, você localiza um quarto disponível a alguns metros. Você entra no
edifício, obtêm um cartão-chave a partir de uma parede automatizada de chaves, sobe
para o seu quarto e dorme. A vida segue em frente.
361
Notas e Referências: Capítulo 16
[811] Isto pode soar como um passo para uma sociedade utópica, no
clima atual, mas estas tendências podem realmente ser observadas,
embrionariamente, em algumas sociedades de hoje, como na Holanda e
na Suécia, onde as prisões estão sendo fechadas devido às excepciona-
lmente baixas taxas de crimes. Referências: http://www.theguardian.com/
society/2013/dec/01/why-sweden-closing-prisons & The Netherlands:
http://jcjusticecenter.com/2013/09/14/netherlands-closing-19-prisons-due-
to-lack-of-criminals/
362
Capítulo 17
Desestabilização Social e
Transição
Tendências
O início do século 21 marca um período extremamente interessante. De um lado,
vemos muitos problemas claros e presentes que, como este ensaio irá discutir, mostram
uma gravitação acelerando em direção a consequências mais negativas, tanto ambi-
entais como sociais. No entanto, por outro lado, uma orientação para soluções sempre
presente, e acelerando, tecnicamente, revela muito potencial para mudar o curso para
melhor, as possibilidades positivas futuras, parecem profundas e sem limites.
No entanto, a verdade sobre a questão é que qualquer “progresso” social dessa es-
pécie, especificamente a elevação geral do padrão de vida, ocorrendo devido à nossa
engenhosidade tecnológica, está, na verdade, amalgamado dentro de uma estrutura
363
altamente prejudicial que acaba de começar a realmente revelar-se como tal. Estes
problemas que estão surgindo são de natureza científica, não ideológica. O fato é
que o capitalismo de mercado, não importa como você deseje regulamentá-lo ou não
regulamentá-lo, contém falhas estruturais graves, que sempre, de uma forma ou de
outra, irão perpetuar o abuso ambiental e a desestabilização, junto com o desrespeito
humano e a desigualdade cáustica.
Talvez o exemplo mais notável disso é o fato de que virtualmente todos os siste-
mas de apoio à vida estão em declínio.815816 Realmente não importa quantas pessoas
conseguiram um estilo de vida cobiçado, ideal, de classe alta se ele está ocorrendo
por trás de métodos insustentáveis. É simplesmente uma questão de tempo antes dos
efeitos do esgotamento de recursos; perda de biodiversidade e poluição evoluírem
para destruir essa ilusão de sucesso. Da mesma forma, embora possa ser verdade que
vimos um declínio na violência, genocídio em massa e as anteriormente enormes
fatalidades comuns à guerra global, precisamos dar um passo ainda mais para trás e
lembrar da própria causalidade, não a mera tendência de redução. Se a escassez de
recursos e estratégia geo-econômica têm sido a causa da maioria dos conflitos nacio-
nais do mundo no passado (coisa que ela foi), então tudo o que é necessário é que essa
pré-condição se re-materialize. O rápido declínio das relações homem-ambiente nas
últimas décadas está preparando o palco para isso mais uma vez.
A guerra do Iraque em 2003, segundo alguns analistas, foi uma guerra de recursos
por petróleo, e isso é bastante difícil de negar quando a evidência é pesada.817 Há
pouca dúvida de que se o mundo se deparasse com escassez real de energia, água, al-
364
imentos, minérios, na medida em que isso afetasse profundamente as economias dos
maiores poderes nacionais, nós regrediríamos rapidamente de volta à guerra mundial
e casualidades em massa, sem mencionar a agitação civil em massa também. Hoje,
todas as maiores superpotências continuam a aumentar armamentos e poder de fogo
claramente em preparação para tais eventos.818
População e Recursos
As estatísticas sugerem que mais de nove bilhões de pessoas habitarão a Terra
em 2050,819 provenientes principalmente do mundo em desenvolvimento. Junto com
isso vem um aumento dramático na demanda por (a) alimentos, (b) água, (c) energia,
e (d) recursos minerais/materiais. Cada um deles será discutido.
(a) No que diz respeito à comida, não há falta de estudos que projetam que os nos-
sos métodos tradicionais de produção de alimentos não vão chegar perto de atender
a demanda até 2050.821822 Estimativas calculam que as necessidades de produção
necessitarão de um aumento de 60-110%823 e dado o clima industrial atual, que tam-
bém tem uma cadeia de fornecimento extremamente desperdiçadora e ineficiente,
desperdiçando de 30 a 50% de todos os alimentos produzidos,824 a única expectativa
lógica é um agravamento dos níveis globais de pobreza e de fome em termos de por-
centagem da população. Isto nem sequer leva em consideração o apelo constante por
práticas agrícolas mais sustentáveis para interromper a poluição/erosão do solo, o que
365
não seria conveniente se esta pressão acelerasse, presumindo que métodos tradiciona-
is, com base na terra, ainda estejam em uso.
366
(b) as estatísticas de água potável são iguais, se não mais dramáticas e, desnecessário
dizer, a escassez de água significa ainda mais problemas para a agricultura tradicional.
Da mesma forma, a poluição da água, que agrava ainda mais o problema, está a
caminho de continuar conforme os países em desenvolvimento aumentam os seto-
res da indústria e da agricultura, no seu interesse de elevar seu padrão de vida ger-
al.829 Infelizmente, esse interesse de aumentar a indústria só vai agravar ainda mais
o problema da poluição, já que os métodos utilizados são, frequentemente, muito
mais primitivos e ambientalmente perigosos do que os que as nações desenvolvidas
estão, lentamente, deixando de usar. A China é um exemplo deste ponto. Embora
considerada uma nação industrial desenvolvida, suas políticas internas são excessiva-
mente relaxadas quando se trata de normas e regulamentações ambientais. Esta é uma
consequência capitalista natural uma vez que a intenção é incrementar o comércio e
maior crescimento econômico. Hoje, a China contém 16 das 20 cidades mais poluí-
das do mundo830 e as únicas coisas a se esperar são apenas mais desenvolvimento,
crescimento da população e, consequentemente, poluição.
367
No que concerne à poluição da água, a nível mundial, a contaminação por nitrogê-
nio e fósforo, vindos principalmente da agricultura, agora é um grande problema, tanto
criando “zonas mortas”831 em certos corpos de água de superfície, quanto provocan-
do doenças nas pessoas que as bebem.832 Da mesma forma, muitas outras fontes de
poluição são onipresentes. Por exemplo, a poluição do ar das usinas de carvão entra na
atmosfera e, em seguida, encontram seu caminho para o oceano. O mercúrio liberado
pela queima de carvão, em seguida, polui os peixes e esses são então capturados, como
fonte de alimento, contendo esta toxina mortal, prejudicando a saúde humana. Dadas
as tendências atuais, a poluição por mercúrio deverá subir também.833
(c) No que diz respeito a energia, como citado na nota prévia sobre o carvão, não
há literalmente nada de positivo sobre todo o processo de queima de combustíveis
fósseis, quando se trata de sustentabilidade ambiental.834 Estas fontes sempre terão
uma pegada prejudicial e só pode piorar à medida que a população e a indústria au-
mentarem.835 Compondo isto também está também o fato de que tais recursos não
são renováveis e a escassez resultante é simplesmente uma questão de tempo.
368
A questão do pico do petróleo tem sido iminente, por muitas décadas.837 Embora
controverso, o que sabemos hoje é que a produção de petróleo convencional, ou seja,
o habitual óleo cru e bruto, que costumava ocorrer em grandes e vastos bolsões, sob a
superfície da Terra, está em declínio, em escala global, com uma estimativa de 37 países
já tendo passado o seu pico de produção.838
De acordo com o Dr. Richard G. Miller, que trabalhou para a British Petro-
leum, no período de 1985-2008, “Precisamos de uma nova produção igual a uma
nova Arábia Saudita, a cada 3 a 4 anos, para manter e aumentar a oferta ... No-
vas descobertas não acompanharam o consumo, desde 1986. Estamos baixando
nossas reservas, mesmo que as reservas estejam aparentemente subindo, a cada
ano. As reservas estão crescendo devido à melhor tecnologia em campos antigos,
elevando o montante que podemos recuperar - mas a produção ainda está caindo
4,1% por ano.”839
Certamente, muitos outros hoje especulam que o mundo ainda está “inundado
de petróleo”, com grandes especulações sobre a capacidade futura. No entanto, es-
sas projeções estão centradas em fontes não-convencionais, que muitas vezes são
extremamente difíceis de extrair e processar. O óleo de xisto e areias de alcatrão,
junto com “fracking” para o gás natural, são, atualmente, métodos em aceleração e,
no papel, eles podem dar a sensação de abundância. No entanto, existe uma grande
quantidade de conflito sobre o quão viáveis são estas fontes para atender à crescente
demanda,840 enquanto os custos ambientais destas práticas complexas, e muitas vezes
destrutivas, são vastos e contraproducentes.
369
A questão de fundo é que a economia de combustível fóssil é insustentável. A
forma econômica pela qual isto se tornará evidente, no modelo atual, será através
de preço extremo. O problema visceral é como a oferta e a procura irão criar uma
condição em que a escassez vai aumentar os preços a níveis tão altos que a indústria
e o público simplesmente não poderão pagar. Isto limitaria severamente toda a
faceta da própria indústria uma vez que os combustíveis fósseis e, consequente-
mente, a energia são o que move a agricultura, a produção, a distribuição e afins.
Ao mesmo tempo, estas práticas podem levar a sociedade humana a um pesadelo
de poluição que poderia demorar gerações para ser superado.
Em um estudo publicado em 2011, que foi, em parte, uma resposta a uma chamada
geral em curso para isolar e proteger certas regiões da Terra, para garantir a segurança
da biodiversidade, constatou-se que, mesmo com milhões de quilômetros quadrados
de terra e oceano atualmente sob proteção legal, isto tem colaborado muito pouco para
retardar as tendências de declínio.845
370
Projeções para (a) o tamanho da população humana, (b) a demanda
ecológica humana e (c) a dívida ecológica sob diferentes cenários de
crescimento da população humana e da utilização de recursos naturais.
A demanda ecológica é calculada multiplicando o tamanho da população
humana do mundo pelas demandas anuais médias de uma pessoa e
dividindo este valor pela biocapacidade do planeta; isto resulta no núme-
ro de planetas Terra necessários para atender toda a demanda humana.
Reproduzido de Marine Ecology Progress Series, Vol. 434 [847]
371
de compra declina e as condições sociais se desestabilizam. Esta é uma realidade arti-
ficial gerada por princípios econômicos desalinhados, e não a própria realidade física.
A Tempestade Perfeita
Enquanto as seções anteriores abordaram as grandes questões específicas, com
algum detalhe, não podemos ignorar a sinergia econômica que conecta todos, nos
sistemas financeiros e técnicos relacionados. Energia, água, alimentos e acessib-
ilidade material interconectam-se em um mecanismo social, que pode ter efeitos
dramáticos sobre o emprego, a estabilidade social e muitas outras questões, se
qualquer um deles for perturbado.
372
proibitivas florescem neste clima, como tem sido estatisticamente comprovado
em regiões ainda enredadas em grande pobreza e falta de oportunidades de em-
prego. Doenças, e outras questões decorrentes de tais condições precárias, são outra
preocupação viável. Em um nível macro, como observado antes, a guerra entre
estados, historicamente, tem sido impulsionada principalmente pela escassez de
recursos e auto-preservação nacional/de negócios.
Não deve ser nenhuma surpresa que os EUA e muitas outras nações foram re-
forçando arsenais nucleares e sistemas de lançamento, por algum tempo,851852 com
o mundo, atualmente, sendo capaz de destruir a si mesmo muitas e muitas vezes,
com o seu arsenal existente de mais de 26.000 ogivas nucleares.853 Milhares dessas
armas permanecem em alerta máximo hoje, prontas para serem acionadas a qualquer
momento e a reação ao clamor global para impedir a proliferação foi literalmente
atendida com mais proliferação, nos bastidores.854
Então, nós temos que nos perguntar: como é possível que nós vamos ser capazes
de suportar financeiramente as vastas reformas tecnológicas necessárias para gerar
um certo grau de sustentabilidade, quando é evidente que as revisões maciças de nos-
so sistema agrícola, dos processos de água, controle da poluição, fontes de energia,
infra-estrutura e métodos industriais, são desesperadamente necessárias? Sabemos
que temos os meios técnicos para o fazer, mas temos o dinheiro?
Quanto mais se pensa sobre esta última questão, mais inacreditáveis e, sem rodei-
os, idiotas, se apresentam os mecanismos financeiros em jogo. Não é que algum pro-
373
gresso não será feito, uma vez que as grandes potências do mundo praticamente não
levam a dívida muito a sério, para começar. A diferença entre um déficit de 1 trilhão
de dólares e um déficit de 100 trilhões de dólares é apenas tão importante quanto a ca-
pacidade de financiá-lo e servi-lo. Na verdade, as grandes potências sabem que a to-
talidade dos montantes nunca será pago de volta e o processo de alívio provavelmente
irá tomar uma forma mais política do que financeira, provavelmente no contexto
das negociações de incentivos de mercado, negociação geo-política e negociações de
aquisição de recursos.
Da mesma forma, e como um tópico final desta seção com relação a pressões nega-
tivas emergentes, temos a questão do desemprego tecnológico. Como foi parcialmente
explicado no capítulo Eficiência de Mercado vs. Eficiência Técnica, a automação está
evoluindo rapidamente para espelhar ou exceder a grande maioria das atividades in-
dustriais comuns aos trabalhadores humanos. Um estudo de 2013, da Universidade de
Oxford, afirma que “45% das ocupações da América serão automatizadas dentro dos
próximos 20 anos.”860 Dado o avanço na América, isso, naturalmente, implica também
que metade das ocupações do mundo poderiam ser automatizadas.
Mais especificamente, um exame detalhado da tecnologia de automação, por
374
setor, no momento atual, tanto nas áreas de trabalho manual como indústria de
serviços, mostra que não há realmente nenhuma ocupação tangível na existência
que não está a caminho de ser substituída por máquina e/ou inteligência artificial.
É simplesmente uma questão de tempo e intenção. Infelizmente, a economia de
mercado baseia-se em pessoas “ganhando a vida” e circulando dinheiro através
da sociedade para manter a estabilidade econômica e crescimento. Isto, natural-
mente, significa que uma tendência dessas é realmente economicamente prejudi-
cial, no contexto do sistema de mercado.
Da mesma forma, uma vez que essas tecnologias de automação estão sujeitas à
lei de Moore, ou mais precisamente à efemerização, essas máquinas estão ficando
mais baratas e, eventualmente, vão se tornar mais rentáveis do que a contratação de
seres humanos, que necessitam de seguro, férias, um número limitado de horas de
trabalho em uma semana e assim por diante. A produtividade agora possível é expo-
nencialmente mais eficaz com máquinas do que com pessoas, e essa realidade só vai
se ampliar à medida que o tempo avança. No entanto, isso cria uma contradição no
sistema, pois se as máquinas desempregam as pessoas, como é que elas obterão renda
para circular dinheiro na economia, via compras?
Nos princípios de mercado tradicionais, não há uma solução, que não seja a falsa
suposição de que os seres humanos vão mudar constantemente exatamente de acordo
com tal deslocamento do trabalho. Isso pode ter funcionado em meados do século
XX, mas deixará de funcionar devido ao rápido avanço, exponencial, da tecnologia
moderna, hoje. Ainda mais, poderia ser bem argumentado que é socialmente irre-
sponsável não perseguir esse novo atributo de nossos meios de produção pois ele
remove os seres humanos de atribuições inseguras e monótonas, desperdiçadoras de
vida, possivelmente, libertando-os também para fazer coisas mais sensíveis, criativas,
de mais alta ordem. Uma transição assim, no entanto, exigiria que todas as estruturas
do capitalismo de mercado sejam arrancadas e substituídas por uma nova abordagem
social que não requeira ‘trabalho-por-renda’.
375
romantiza sobre “ajudar o mundo” e “agradar consumidores”, a única medida real é o
lucro. É simplesmente suposto que obter lucros significa ajudar o mundo, o que, man-
ifestamente, não é o caso dadas as enormes quedas na integridade do nosso habitat e
o fato de que agora há mais escravos no mundo do que nunca.862
376
soas que recebem de US$50.000 a US$75.000 doam uma média de 7,6 por cento de
sua renda discricionária para a caridade, em comparação com uma média de 4,2 por
cento, para as pessoas que recebem US$100.000 ou mais.868
Agora, esses relatórios não são apresentados para sugerir que este é um fenôme-
no universal. No entanto, há claramente algo acontecendo na psicologia das pessoas
que se tornam ricas e uma elevada sensação de proteção, indiferença e de direito
parece consistente. Com isso em mente, vamos retornar à nossa consideração de
como diferentes classes responderiam a circunstâncias sociais ameaçadoras. Dado
o fato de que o mundo agora tem quase 2.200 bilionários, com valores de cerca de
6,5 trilhões no total869 (que dá uma média de 2,9 bilhões para cada), com os 100
do topo capazes de acabar com a pobreza mundial quatro vezes,870 uma grande
quantidade de atenção tem sido colocada sobre estes números, na esperança de
ajuda social.
Dada a raiva que tem aumentado devido à realidade de uma enorme e crescente
desigualdade no mundo, pode-se imaginar a sensação geral de mal-estar daqueles que
são super-ricos. No entanto, para além do que poderia ser alegado como uma jogada
de relações públicas, combinada tanto com as intenções honestas quanto o espectro
da filantropia, como o assim chamado “Compromisso de Doação” dos bilionários871,
não se pode deixar de sentir profunda animosidade em relação a tais figuras e ao
sistema que permitiu a sua riqueza extrema e claramente desnecessária.
Isto, mais uma vez, não quer dizer que alguém é “ruim”, mas sim observar que
qualquer sistema que tem capacidade para criar esse desequilíbrio extremo de rique-
za, em si mesmo, precisa ser tratado como a raiz do problema que é - não a suposta
caridade daqueles que têm sido capazes de jogar o jogo do mercado, de tal forma a
acumular essas quantias irracionais e desperdiçadoras. Não é uma visão cínica, sob
esta luz, considerar coisas como o “Giving Pledge” [“Compromisso de Doação”]
mais como um insulto do que uma solução.
377
podemos, portanto, esperar um aumento das revoltas e raiva contra o estado de coisas
e brutal desequilíbrio na sociedade. Embora isso possa parecer uma espécie esquiva
de fenômeno, deve ser pensado no mesmo contexto de outros fatores negativos, como
o esgotamento de recursos, o desemprego e afins. Uma população com raiva pode
tornar-se uma população dividida e violenta e o surgimento de insurreição social em
grande escala pode ter consequências sociais muito negativas se as causas não são
claramente compreendidas.
Transição
A ideia de fazer a transição de forma fluida do modelo atual para uma EBRLN
pode ser uma especulação difícil e assustadora. Talvez a primeira consideração é
pensar mais profundamente sobre para que condição estamos fazendo a transição ex-
atamente. De muitas maneiras, este movimento a partir de uma economia de preser-
vação da escassez para um sistema de gestão direta de recursos e aplicação científica
na busca de uma economia de pós-escassez ou abundância para atender às necessi-
dades da espécie humana, ao mesmo tempo que garante a integridade do habitat, é
realmente uma transição de valores.
Pode mesmo ser dito que essas pressões geram uma “sintaxe” de pensamento,
por assim dizer. Nossos cérebros parecem se conectar conforme nos relaciona-
mos com o meio ambiente, constantemente reforçado por pressões existentes e
nossas ações de resposta. Assim como uma pessoa pode aprender uma habilidade
e essa habilidade tornar-se uma “segunda natureza”, sem pensamentos consci-
entes muito diretos para executar uma vez que é aprendida, nós humanos, re-
alizamos ações constantemente com o mesmo tipo de padronização aprendida,
subconsciente. Por exemplo, nós frequentemente nem sabemos que estamos nos
comportando de formas assim chamadas “estreitamente egoístas”, já que todos ao
378
nosso redor parecem estar funcionando exatamente da mesma maneira, criando
uma normalidade percebida.
Dito isso, há talvez duas formas gerais para pensar sobre a transição, com a pri-
meira dando um pouco de estrutura lógica para a segunda. Este primeiro cenário
pressupõe que haja a sanção básica da estrutura de poder político/econômico e da
comunidade em geral. Ela presume que a espécie humana definitivamente decidiu
fazer este movimento em um passo-a-passo em escala global. Naturalmente, a triste
verdade é que provavelmente isso nunca aconteceria desta maneira.
379
Um movimento sistemático da economia de mercado para uma EBRLN teori-
camente poderia ocorrer por meio de uma “socialização” passo-a-passo dos prin-
cipais atributos da infra-estrutura social. Essencialmente, nós desmantelaríamos
uma camada ao implementar uma nova, da forma mais fluida possível. Este termo
“socialização”, que é, naturalmente, uma noção estigmatizada no Ocidente devido
à hiper-glorificação da economia de mercado e da demonização de qualquer coisa
em contrário, ainda é tecnicamente adequado para se utilizar neste contexto, deixan-
do de lado os vieses. Isto significa simplesmente que a necessidade de dinheiro e o
mecanismo de mercado não se aplicariam ao atributo social fornecido (não que uma
estrutura tradicionalmente “socialista”, no sentido político e econômico da palavra,
fosse substituí-lo). Meios técnicos avançados e diretos produziriam e distribuiriam,
sem uma etiqueta de preço, atendendo diretamente a estas necessidades.
380
Em suma, se fossem implementados tais métodos avançados, a possibilidade de
abundância estratégica revela que simplesmente não há necessidade de se atribuir
valor monetário restritivo sobre os recursos alimentares básicos. Não há nenhuma
razão técnica legítima, mesmo dentro de uma economia monetária existente, para
que mercearias, hoje, não pudessem fornecer os mesmos recursos produzidos a uma
dada população regional, sem a necessidade de troca financeira. É simplesmente uma
questão de ter os sistemas automáticos avançados instalados.
O mesmo fenômeno também auxiliaria com utilidades como gás natural e água.
Uma vez que a eletricidade pode ser usada para substituir o gás para fins de aquec-
imento e na maioria dos outros propósitos de utilidade, a sua utilização pode sim-
plesmente ser eliminada neste contexto. A água, que é de uma despesa financeira
geralmente nominal hoje no Ocidente, pode tornar-se dramaticamente mais abun-
dante através de maior eficiência industrial para diminuir a poluição, e manter um
excedente regional através da utilização estratégica. Aqueles que realmente têm
escassez de água no mundo tiveram resoluções técnicas durante anos através de
dessalinização e outros sistemas de purificação, tanto em larga escala quanto em
pequena escala. Foi, mais uma vez, a falta de recursos financeiros que causou os
problemas, não a falta de capacidade técnica.
381
Enquanto o avanço da tecnologia de automação provavelmente facilitará uma
vasta quantidade de variação da produção uma vez que a revolução na robótica
modular e nanotecnologia se concretizar, por uma questão de transição no futuro
imediato, podemos pensar sobre a indústria mais no contexto já estabelecido. No
geral, cada indústria ou sub-indústria poderia ser unificada em operações para
permitir o maior nível de produção e eficiência possível como um todo. Em out-
ras palavras, as estruturas corporativas seriam combinadas com base em gênero
ou setor, usando essa capacidade de colaboração para aumentar a eficiência, re-
duzindo o desperdício e a multiplicidade competitiva. Isto prepararia o terreno
para a criação de um sistema industrial totalmente sinérgico, aplicando processos
avançados, idealmente simplificando os processos de automação progressiva-
mente em cada turno para remover o trabalho humano e, inevitavelmente, au-
mentar a eficiência.
Para isso, as versões primitivas do Sistema de Design Colaborativo, conforme de-
scrito em pormenor no ensaio “O Governo Industrial”, também poderia ganhar força.
Enquanto certas limitações ocorreriam, dada a ausência de cooperação de ordem maior,
o avanço lento desse processo definiria o cenário para maior incorporação, aumentando
simultaneamente a sustentabilidade.
Então, se nós tivéssemos uma economia hipotética com 1000 pessoas e 50% delas
fossem deslocadas por este desemprego tecnológico deliberado, a jornada de trabalho
é então dividida entre elas para que todos agora trabalhem apenas 4 horas, ao invés
de 8. Mais uma vez, o fato de que esses bens e serviços estão se tornando gratuitos
na economia significa que há menos necessidades para os níveis anteriores de pod-
er de compra. Por conseguinte, uma redução de 50% em salários é calculada para
ser diretamente compensada. No geral, estamos escalonando gradualmente o sistema
monetário para fora deste processo. Nos casos em que isso não seja viável, haveria um
aumento no valor pago pela hora trabalhada, na mesma proporção básica, compensan-
do as perdas médias efetuadas. Em teoria, essa redução das horas na força de trabalho
382
total, assumindo 100% de emprego através destas normas, juntamente com o aumento
compensatório em itens agora gratuitos, moveria fluidamente a sociedade para fora do
mercado de trabalho ao longo do tempo. Mais uma vez, este é o resumo hipotético.
(D) Transporte:
O próximo artigo básico é o transporte. A produção de veículos, que já está am-
plamente automatizada hoje, é uma a se considerar e não é muito difícil de se aper-
feiçoar. A dificuldade aqui é acesso, aplicação e necessidade. É claro que este ex-
ercício de pensamento poderia ser muito elaborado. Se fôssemos calcular a grande
quantidade de energia e recursos utilizados em uma base diária hoje, para todos nós
viajarmos para escritórios centralizados, geralmente participando de ocupações com
relevância questionável na visão ampla, ficaríamos espantados com a aparente inefi-
ciência geral. Embora existam certamente exceções, há muito poucas ocupações hoje
que ainda exigem realmente uma interação direta, dado o vasto poder da Internet e
das ferramentas de comunicação. Mesmo unidades de produção industrial, uma vez
que fossem mais automatizadas, exigiriam apenas um pequeno número de pessoas no
local, com a maioria dos processos administrados remotamente.
383
realista no que uma transição para esta nova sociedade pode guardar, dada a realidade
complexa e dicotômica que suportamos hoje.
No entanto, antes que tais ideias sejam abordadas, vale a pena revisitar a questão
do “colapso da sociedade”, desta vez no contexto do que poderíamos designar como
pressões eco-bio-sociais. Um pano de fundo para a nossa evolução cultural são as
pressões, que podem atuar tanto de forma positiva quanto negativa. Pressões positi-
vas desta natureza podem incluir o desenvolvimento e expressão de tecnologias para
melhoria de vida, onde o público é tão impressionado com as possibilidades que a
demanda social por esse recurso ou aplicação torna-se inabalável.
384
tinção absoluta. É relativa. Em operações gerais do dia-a-dia, especialmente no Ociden-
te, uma pessoa normalmente não olha em volta e considera a sociedade como estando
em um estado de “colapso”. Isso ocorre porque a maioria das pessoas simplesmente
se acostuma com a poluição, o câncer, a dívida, a falta de moradia, o esgotamento, a
pobreza, guerras, revoltas, crises financeiras periódicas, o desemprego e outras inefi-
ciências. Não é como se um dia todos acordassem e encontrassem todo o sofrimento
do mundo ou gente morta nas ruas. O colapso da sociedade, ou falha do sistema, é um
processo, e a verdadeira questão é, na verdade, o quanto estamos mal preparados caso
ele aconteça antes de agirmos para mudar isso.
Um sistema de crédito mútuo é uma forma de permuta por bens ou serviços, que
permite valores de troca não monetária a serem aplicados a outros bens e serviços,
removendo a correlação 1:1 de produtos comuns à troca simples. “LETS”874 é um
exemplo (Local Exchange Trading System - Sistema de negócios de trocas local).
Ele auxilia uma forma de troca não-inflacionária e livre de juros onde o valor não
pode flutuar, como ocorre atualmente, além de muitos outros aspectos positivos. No
caso do “banco de horas”, baseia-se no trabalho prévio da pessoa, com efeito. Há
uma série de variações destes tipos de sistemas e eles estão se tornando cada vez mais
sofisticados em sua programação e maleabilidade.
Outra tática, que tem um efeito semelhante, é o uso de sistemas de compartil-
385
hamento em comunidade. O MZ Toronto, por exemplo, tem uma rede de compar-
tilhamento de ferramentas, onde ferramentas básicas existem em uma instalação,
como uma biblioteca, e pode-se retirar essas ferramentas em rotatividade, conforme
necessário.875 Mesmo que isso possa parecer pouco importante, é fácil ver como
este conceito de biblioteca poderia estender-se enormemente em uma comunidade,
como com os automóveis e outros itens usados mais escassamente. Novamente, isso
iria ajudar aqueles que não têm meios de acesso, removendo também a pressão por
crescimento para o sistema econômico. Seria também mais amigável ao ambiente e
sustentável, não é preciso dizer.
386
plexidade e o árduo processo de desenvolvimento do design industrial e forneceu
a opção de representar de forma virtual praticamente qualquer ideia física em prol
da comunicação. Da mesma forma, enquanto o Sistema de Design Colaborativo
apontado anteriormente pode não estar existindo hoje, não há nenhuma razão
pela qual ele não possa ser criado agora, mesmo que seja para existir apenas
como uma “brincadeira” mais simplificada.
No entanto, os líderes deste país realmente não estavam cientes desta reali-
dade técnica. Então, um dia um parente de um dos líderes se encontra em uma
conferência do MZ falando sobre essas próprias iniciativas e avanços nos mét-
odos de produção. Esta pessoa notifica os líderes do país e o governo toma con-
hecimento. Esse governo hipotético é talvez empobrecido, como muitos países
latino-americanos são, em grande parte devido às relações comerciais interna-
cionais, corrupção, problemas de dívida, problemas de desemprego e afins. Esse
governo, iluminado por aquilo que eles aprenderam, decide tomar a iniciativa de
incorporar uma EBRLN localizada, da melhor forma possível.
Eles entendem que uma verdadeira EBRLN é global, com um sistema de gerenci-
amento total dos recursos da Terra. No entanto, sabendo que isso não vai ocorrer tão
cedo com o clima global atual, eles calculam que, com uma série de ajustes, eles ainda
podem utilizar o modelo em um grau limitado mas poderoso, resolvendo a maioria de
387
todas as desgraças materiais/financeiras de seu país. Assim, o país ajusta então os seus
métodos industriais de acordo com isso, cria um sistema de sensor doméstico e rede de
gerenciamento para entender seus recursos e manter o equilíbrio, relaciona plenamente
a nova capacidade industrial para fazer mais com menos, instalando também os algorit-
mos do protocolo de sustentabilidade e eficiência inerentes ao sistema de design colab-
orativo - e eles prosseguem com o novo modelo com força total, literalmente, parando
todo o comércio com nações estrangeiras, sendo auto-suficientes e 100% sustentáveis
em sua região, uma vez estabelecidos.
Agora, enquanto este exemplo pode ser simplificado em excesso, também igno-
rando claramente as pressões políticas internacionais que quase certamente causari-
am conflito, o leitor deve ser capaz de entender que isso ainda é uma possibilidade.
Na verdade, nós realmente não sabemos o que exatamente vai começar um movi-
mento assim, mas sabemos que plantar tantas “sementes” de possibilidade quanto
possível é a chave, juntamente com as crescentes pressões negativas eco-bio-sociais,
que parecem não ter um fim que se possa vislumbrar.
388
Notas e Referências: Capítulo 17
389
[825] Fonte: Tendências de Rendimentos São Insuficientes para Dobrar
a Produção Global de Colheitas em 2050 (http://www.plosone.org/article/
info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0066428)
[838] Referência: Ex-geólogo da BP: o pico do petróleo está aqui e ele vai
‘quebrar economias’ (http://www.theguardian.com/environment/earth-in-
sight/2013/dec/23/british-petroleum-geologist-peak-oil-break-econo-
my-recession)
[839] Ibid.
390
[840] Ibid.
391
national/archive/2013/06/how-a-massive-nuclear-nonproliferation-ef-
fort-led-to-more-proliferation/277140/)
[855] Fonte: S&P: 60% dos países devem falir dentro de 50 anos (http://
www.rawstory.com/rs/2010/10/09/sp-60-countries-bankrupt-50-years/)
[860] Fonte: Relatório Sugere que Quase Metade Dos Empregos dos
EUA São Vulneráveis à Informatização (http://www.technologyreview.
com/view/519241/report-suggests-nearly-half-of-us-jobs-are-vulnera-
ble-to-computerization/)
[867] Fonte: Ter menos, dar mais: a influência da classe social so-
bre o comportamento pró-social. (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/
pubmed/20649364)
392
[868] Fonte: Mais Ricos Não Se Qualificam Bem em Medida de Doações
(http://philanthropy.com/article/America-s-Geographic-Giving/133591/)
[870] Fonte: Renda anual das 100 pessoas mais ricas suficiente para
acabar com a pobreza mundial quatro vezes (http://www.oxfam.org/en/
pressroom/pressrelease/2013-01-19/annual-income-richest-100-people-
enough-end-global-poverty-four-times).
[872] A ideia de atingir parcialmente uma EBRLN pode ser confusa para
alguns. Essa constatação é feita para expressar como certas práticas de
gestão e meias-medidas, constituindo uma “economia híbrida” não estão
fora de questão em direção a algum grau de progresso sustentável, gera-
dor de abundância. Isso não será explorado neste ensaio mas a possibili-
dade é digna de consideração pessoal.
393
394
Capítulo 18
Tornando-se o
Movimento Zeitgeist
Responsabilidade
Enquanto na superfície a seguinte proposição pode parecer um mero gesto poéti-
co, a verdade da questão é que é absolutamente verdadeiro e incontornável. Somos
todos parte do Movimento Zeitgeist, gostemos ou não.
Cada ato de empatia ou indiferença ressoa com aqueles que receberam esses efeitos,
e devido às leis básicas, evolutivas de adaptação humana ajustamos nossas expectati-
vas e propensões à medida que experimentamos o ambiente ao nosso redor. Natural-
mente, a primeira infância é o período mais sensível para a nossa espécie, à medida
que tentamos descobrir se este novo mundo em que surgimos é seguro e apoiador ou se
o mundo é inseguro e indiferente. Este tipo de “programação”, enquanto estabelecida
na primeira infância de forma mais dominante, ainda continua por toda a nossa vida, e
o efeito que tem sobre a percepção cultural de maior ordem também é profundo.
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construir ferramentas tecnológicas que podem mudar a construção societária rapida-
mente, é fácil esquecer que na raiz nuclear desta existência está uma espécie de sub-
serviência e aceitação de fatores dos quais nunca teremos o controle. Após milênios
de confusão sobre a natureza da nossa existência, inventando complexos e, em última
análise, falsos sistemas de crença sobre como podemos lidar com essa confusão, a
lenta descoberta do que são comumente chamadas de leis da natureza forneceu não
apenas um meio para criar e inventar, mas para também entender, de várias formas
profundas, que, na verdade, não estamos no controle.
Parecemos apenas estar no controle da forma como nos relacionamos com essa
regra estrutural existente e essas leis naturais não mostram nenhum sinal de mudança.
Nossa submissão a esta realidade repousa no coração das propostas técnicas feit-
as pelo Movimento Zeitgeist. É meramente um processo de adaptação para melhor
otimizar a existência humana e criar uma condição que melhora nossas vidas e per-
mite às futuras gerações habitarem este planeta sem deficiência severa e uma perda
de sustentabilidade. Na verdade, hoje a espécie humana não apenas compartilha o
mundo consigo própria e com o habitat. Ela também o compartilha com a extensa
família das espécies e a extensa família das outras formas de vida inerentes ao habitat,
gerações adentro no futuro.
Houve também uma tendência que eclipsava por um sentido idealizado de au-
to-importância. As religiões tradicionais e noções como a de ser “criado à imagem de
Deus” e outras ideias do tipo, tendem a separar os seres humanos do mundo natural,
como se não devêssemos ser “reduzidos” a algum tipo de mero artefato da natureza.
O grande astrônomo Carl Sagan talvez tenha abordado melhor este problema em seu
texto ‘Pálido Ponto Azul’:
“A Terra é um palco muito pequeno em uma vasta arena cósmica. Pensem nas
crueldades infinitas cometidas pelos habitantes de um canto desse pixel contra os
mal distinguíveis habitantes de algum outro canto, o quanto são frequentes seus
equívocos, o quanto eles ansiaram por matarem uns aos outros, o quanto são fer-
vorosos seus ódios. Pense nos rios de sangue derramados por todos os generais
e imperadores para que, em glória e triunfo, pudessem tornar-se os mestres mo-
mentâneos de uma fração de um ponto.
Claro, não há como negar que a nossa capacidade de pensar, criar, resolver prob-
396
lemas e alterar o nosso mundo nos coloca em um ranking muito único no que diz re-
speito às outras espécies com as quais nós compartilhamos este habitat. O organismo
humano é tão incrível, em tantas formas funcionais e adaptativas, e a ciência moderna
ainda nem começou a entender como esse sempre complexo conjunto de órgãos e
química é capaz de fazer o que ele faz tão bem. De fato, a nossa criatividade é tão
poderosa; temos sido capazes de estender nossas formas físicas e mentais para incluir
possibilidades físicas e computacionais que de outra forma seriam impossíveis. Esta
é a verdadeira natureza da nossa engenhosidade tecnológica.
Papéis e Projetos
O Movimento Zeitgeist é uma organização global que não tem papéis para
preencher ou qualquer processo formal de aceitação. O interesse de alguém nas
propostas do MZ, juntamente com algum tipo de ação para promover essa mudança,
é a única característica definidora de um “membro” e o grau de participação se re-
sume à zona de conforto e engenhosidade do indivíduo e/ou grupos que ele escolher
ser parte. Também é importante salientar que o simples fato de ser parte desta comu-
nidade é, em muitos aspectos, uma contribuição para a transição em si, já que uma
mudança de valores sociais é fundamental para tal movimento. E isso começa por
gerar uma crescente sub-cultura que simplesmente encontra alinhamento com esses
valores, mesmo que o velho modelo social, cáustico, ainda esteja em vigor.
397
(A) GRI é uma interface on-line colaborativa que funciona a partir da participação
pública, de forma similar à Wikipédia, exceto que com um grau muito maior de aval-
iação lógica e muito menos problemas semânticos que surgem em uma enciclopédia.
O objetivo é redesenhar a superfície da Terra, graficamente e matematicamente,
região por região, com base nos princípios mais avançados de sustentabilidade e efi-
ciência. Esta abordagem orientada para a teoria de sistemas não observa artifícios
humanos e limitações artificiais, como países, os direitos de propriedade e outros
fatores inibidores hoje existentes.
A melhor maneira de pensar sobre isso é como uma iniciativa de projeto macro-in-
dustrial, que remove todos os atributos topográficos e de infra-estrutura da sociedade
moderna, trabalhando para substituí-los por meios mais otimizados. O objetivo é vir-
tualmente implementar uma EBRLN em larga escala, de maneira teórica. É claro que
muitos dos que ouvirão tal proposta, juntamente com o entendimento de que este é
um projeto de acesso aberto e que qualquer um no planeta pode contribuir, poderão
concluir que a vastidão da opinião humana subjetiva sobre tal assunto tornaria a res-
olução desse design impossível.
Este não é realmente o caso quando o método científico é posto em jogo. Embora
a tecnologia localizada (mais sobre isso na seção LSP) sempre mude com o tempo,
uma vez que é a natureza de como ela melhora tecnicamente, o raciocínio topográfico
básico será muito menos influenciado. Mais especificamente, a maneira pela qual
essas “macro” decisões são tomadas teria uma relação direta com as características
de uma determinada área, juntamente com o raciocínio lógico inerente às redes que
surgem para conectar sinergicamente a funcionalidade social.
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interferentes. Pelo contrário, é para dizer que o que temos no mundo de hoje, com as
práticas desperdiçadoras derivadas dos mercados internacionais, da globalização e de
outras ineficiências, é profundamente desalinhado. Através deste raciocínio básico
baseado na lei natural, podemos criar ainda mais facilidade, segurança e abundância
e, consequentemente, aumentar a nossa qualidade de vida, além de reduzir nosso
impacto ambiental de forma dramática.
(B) O Projeto de soluções localizadas ou LSP, pode ser pensado como uma ini-
ciativa micro-industrial, em comparação com o “macro” que discutimos com o GRI.
Isto é simplesmente um bom projeto onde as pessoas podem pensar sobre sistemas
de ordem menor que poderiam ser uma parte do contexto de maior ordem, “macro”.
Como uma ferramenta de comunicação, este projeto não teria que ser “completo”
para ser eficaz. Mesmo que apenas um pequeno conjunto de parâmetros utilizados
retransmitam o cálculo de uma avaliação do projeto teórico, o valor educativo soz-
inho tem um grande potencial. Com o tempo, as versões primitivas dos CDS pode-
riam ser incorporadas diretamente no LSP e GRI, uma vez que eles estão unidos
em propósito. Tais expressões podem ser demonstradas em conferências do MZ.
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Capítulos e Eventos
Um ativista do MZ quase sempre tem uma relação com um capítulo regional. Por
agora, em 2014, existem muitos capítulos, em dezenas de países. Um capítulo pode
ter algumas pessoas ou milhares, e aqueles em regiões atualmente sem capítulos locais
são encorajados a começar um. É um processo muito fácil e o compromisso de tempo
necessário se resume ao grau de dedicação e à sua disponibilidade de tempo.880
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o principal evento, na cidade de Nova York.881 Da mesma forma, muitas vezes os
capítulos conduzem campanhas de caridade de alimentos e de recursos para reduzir o
sofrimento em sua comunidade.882
Outros eventos, como reuniões municipais, que podem ser mensais ou bimestrais,
também são comuns. Cabe a um determinado grupo/capítulo decidir a frequência
destas reuniões públicas.883 Além dessas ideias centrais, muitas outras possibilidades
existem, e é, mais uma vez, responsabilidade de qualquer capítulo ser criativo na
forma como conduz o seu ativismo.
Declaração de Missão
Em conclusão, a declaração de missão oficial do MZ será apresentada na íntegra:
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chegar, logicamente, em aplicações sociais que poderiam ser profundamente mais
eficazes na satisfação das necessidades da população humana, aumentando a saúde
pública. Há pouca razão para assumir que a guerra, a pobreza, a maioria dos crimes
e muitos outros efeitos comuns de nosso modelo atual, baseado em escassez criada
monetariamente, não possam ser resolvidos, com o tempo. A gama de ativismo e de
campanhas de conscientização do movimento se estendem do curto ao longo prazo,
com procedimentos baseados explicitamente em métodos não violentos de comuni-
cação.
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Notas e Referências: Capítulo 17
[878] Pálido Ponto Azul: Uma Visão do Futuro Humano no Espaço, Carl
Sagan, 1994
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