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É HORA DE FALARMOS SOBRE DOENÇA MENTAL

COLETIVA.
Vitor Pordeus​1,2
1 - Ator, médico, psiquiatra transcultural comunitário,
Fundador Universidade Popular de Arte e Ciência, Rio de Janeiro, Brasil.
www.upac.com.br​ & upac.academia.edu/vitorpordeus
2- Autor de “Restoring the Art of Healing in a Scientific Age, in press, 2018”
Montréal, Québec, Canadá. 05/05/2018

Sobre a psicopatologia coletiva: quando a comunidade adoece mentalmente


Doenças mentais coletivas são fatos psicológicos e estão por trás de todos os
movimentos coletivos acompanhados por auto-destruição e fenômenos desumanos, como a
guerra, o genocídio, o assassinato de gênero, o crime sexual. Os delírios se manifestam em
nível individual e coletivo num violento divórcio interno entre partes polares da psique humana,
representadas em oposições psicológicas ilusórias como o homem contra mulher, o nazista
contra o judeu, o capitalista contra o comunista, o branco contra o preto, o colonizador contra o
indígena, a elite contra o pobre. Odeio o outro, mas psicologicamente, direciono ao outro o ódio
que nutro contra mim próprio, ou contra partes de mim próprio que não aceito nem reconheço.
Estes fenômenos se observam nos momentos históricos onde há o enfraquecimento
das forças racionais e compreensivas da psique humana, sempre ligadas à práticas culturais,
rituais e simbólicas que se tornam irresponsáveis, manipulativas, fetichistas (onde o objeto
ganha poderes mágicos de mediação das relações). A corrupção simbólica também ocorre na
má educação, na educação para a dependência, na pesquisa médica e científica irresponsável
com a realidade e no burocratismo do pensamento humano conforme se observa tão
intensamente nas culturas de massas.
Assim, a coletividade humana é conduzida para e por uma cosmovisão corrompida, que
não oferece futuro viável, mas apenas a desgraça, a submissão e a exploração, literalmente
derrubando as forças psíquicas de autonomia, de sinceridade, de participação e criação de si
próprio e do mundo. Não há escapatória, a única escapatória é curvar-se ao demônio opressor:
“ou teme, ou é terrível”. Pronto: produz-se em nível populacional, a humanidade-massa, que
não pensa por si, que só cumpre ordens, que não compreende nem quer compreender o
desconhecido, que se fecharam ao diálogo consigo próprios e caminham e fazem caminhar

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para o ocaso da inconsciência, da alienação política e cultural. Eles amam o Big Brother, o
Grande Irmão de George Orwell. A maldade ganha passagem através da inconsciência e da
banalidade.
Este homem e esta mulher, estes jovens, adultos e velhos, todos enfraquecidos
psicologicamente, desmoralizados, sem memórias, adoecidos, estão terrivelmente vulneráveis
à invasão de forças violentas surgidas do inconsciente individual/coletivo, impulsos de
compensação psicológica que vem para reivindicar as velhas escravidão e loucura como
aceleradores fundamentais da evolução humana. Neste ponto começamos a observar a
adesão voluntariosa e excessiva às pseudologias, as soluções falsas, as manipulações, aos
movimentos psicopáticos de mentirosos compulsivos que na verdade representam as
personalidades com os maiores complexos de inferioridade e que encontram no contexto da
desesperança e nervosismo emocional geral, o terreno fértil para as falsas soluções de sua
pseudologia, que conduzirá a massa sedenta e irracional à desgraça e à própria
auto-destruição.

Liderança psicopata
O mentiroso compulsivo então ocupará cargos de liderança política e institucional, e
participará de esquemas de poder e dinheiro que aparentemente enganarão a quase todos por
algum tempo definido. Entretanto, a irracionalidade crescente da realidade imporá a si própria,
as ondas de violência, de fome, de guerra acordarão a sociedade para os rumos incorretos
seguidos pela política, ao fim de uma guerra, ao fim de períodos de holocausto e destruição,
novas propostas surgem, novas visões sobre o futuro, novas práticas e novas ideias que
deverão ser suficientes para que todos aprendam da experiência e modifiquem a cultura e o
saber para que não se repitam as tragédias do passado. Porém, quando as novas profecias
(restaurações de cosmovisões ancestrais), são inconscientemente negligenciadas, impedidas
ou ignoradas por sociedades adoecidas e violentas, se amplifica a espiral da loucura, e novos
eventos mais terríveis e maiores desabarão sobre as gerações que se sucederem.
Será necessária ainda mais atenção com as manipulações simbólicas e políticas
realizadas pelas mídias de massas que claramente deformam nossa população,
transformando-os em seres brutos, competitivos, violentos, oportunistas, fascinando-os com
forças de propaganda que sabemos, resultarão em mais violência e fragmentação familiar e
comunitária. O discurso que as lideranças vampiras propõem é o do ódio, da superioridade, do
nacionalismo falso e exagerado, da discriminação do diferente, exatamente a projeção de

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conteúdos psíquicos sombrios sobre grupos, classes, culturas que nada fazem além de já
aumentar os ódios e as polarizações psicológicas que só conduzem à violência.
Se as palavras, os símbolos e as imagens estão desajustados, são manipulados para
vender carne e cartão de crédito, para conseguir o amante em três dias, para se manter no
poder a qualquer custo, um conjunto de arquétipos necessários que envolvem estes
símbolos-ações, permanecerá negligenciado pela performance ritual, permanecendo na
dimensão obscura. Desse modo, a comunicação é feita de modo incompleto, ineficiente, pior,
muitas vezes profanando as funções sagradas e arquetípicas de um símbolo. Isto fará com que
estas forças não canalizadas encontrem sua expressão através da invasão e projeção sombria,
na violência, no descontrole, na agressão de si próprio e do outro.

Todo homicídio tem um quê de suicídio.


Pois é justamente na invasão e avassalamento de forças inconscientes sobre nosso
campo de consciência, da invasão e projeção de nossa própria sombra (conteúdos, memórias,
eventos emocionais reprimidos, traumáticos, violentos, que fazemos questão de esquecer e
rejeitar) que agimos contra o outro, como se estivessemos atacando um espelho, atacando a
imagem que vemos refletida no outro, a imagem desprezada de nós próprios.
Então matamos porque vemos no outro aquilo que mais rejeitamos e mais nos ameaça
dentro de nós próprios. O homem mata a mulher porque seu maior medo é descobrir que ele
também é mulher, esta ideia, numa sociedade patologicamente patriarcal como a nossa,
representa a maior fonte de pânico, loucura e violência masculina. Quando sabemos qua a
bisexualidade é um fato psicológico, já descrito por Freud na virada do século XIX para o XX.
Mato o outro porque é menos insuportável cometer a violência do assassinato, que encarar a
meus próprios traumas, minhas próprias violências, meus maiores medos e memórias
reprimidas. Obviamente, estados como estes representam extremos do adoecimento psíquico
humano, mas que no desenrolar dos acontecimentos presentes, estão na pauta do dia, com os
números crescentes de homicídios e suicídios, nas violências e nas guerras cometidas em
nome da paz, da democracia e da dita racionalidade nas sociedades globais contemporâneas.

O que indica a experiência médica e científica?


Da experiência de meu trabalho médico e científico integral nos últimos 9 anos com
psiquiatria transcultural comunitária, podemos observar a ocorrência das mesmas forças
inconscientes no indivíduo e no coletivo, inclusive através das culturas diferentes como por

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exemplo o Rio de Janeiro, Montreal no Canadá e Cuernavaca no México. Como disse Jung a
psicopatologia coletiva emana da psicopatologia individual e vice-versa, e na clínica teatro
temos verificado que com o tempo adequado e o método de expressão improvisado certo, o
paciente invariavelmente expressa os arquétipos relacionados aos seus traumas; sendo
verdadeiramente uma questão de criação da ambiência criativa e estimulante (teatro:espaço e
relação), e o método científico de leitura e acompanhamento das imagens, nomeadamente a
psicologia Junguiana, que propõe o estudo comparativo das diferentes mitologias (tarefa que
exigirá do psiquiatra grande fôlego e disciplina científicos) como registro dos principais
arquétipos do psiquismo humano.
Em outras palavras, estes arquétipos, imagens-afeto conservadas ao longo de toda a
história evolutiva humana, quando não expressos, ou mal expressos, liberam imensas
quantidades de energia psíquica que mal canalizadas explodirão em agressividade,
irracionalidade, falta de controle emocional, crimes, violências e guerras.
As experiências terapêuticas, que trabalharam com esta visão, de psiquiatras famosos
como Nise da Silveira, John Weir Perry, Jung ele próprio e nossa experiência documentada e
publicada nos últimos 9 anos de trabalhos institucionais e comunitários nos confirmam estes
métodos clínicos como válidos e de extraordinária importância na semiologia médica geral, no
diagnóstico médico ampliado e comunitário, na terapêutica psíquica a ser desenvolvida e,
talvez, o mais importante atualmente, na promoção de saúde mental pública. Esta
compreensão é de vital importância hoje, pois se tomamos em consideração a experiência
científica de Nise da Silveira por exemplo, ela nos ensina que tanto a arte é vital para a saúde
mental quanto a saúde mental é vital para que a arte seja viva, e sobreviva, enquanto atividade
humana fundamental às coletividades. Neste ponto podemos verificar imenso adoecimento
psíquico dos setores ditos criativos de nossa sociedade industrial, tanto os cientistas quanto os
artistas se colocaram inconscientemente na posição de vítimas do sistema financista e não
reconhecem que o sistema financista os vampiriza e depende de drenar a energia vital deles e
das comunidades para legitimar seu sistema genocida e psicopático.

Conclusão
A arte é a mais refinada expressão psíquica de um povo, dela depende a fonte das
imagens-afeto adequadas para animar nossas coletividades e manter a sociedade unida e
vigorosa, com saúde mental e perspectiva do futuro. Aí constitui precisamente o eixo central da

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transformação psíquica: a criatividade humana, a arte, a ciência e a cultura. Temos muito
trabalho pela frente.

Referências bibliográficas
1- Jung, CG. Aspectos do Drama Contemporâneo, Editora Vozes, Petrópolis, 2011
2- Jung, CG; Wilhelm, R. O Segredo da Flor de Ouro - Um livro de Vida Chinês, Editora
Vozes, 2011
3- Barton, R. Institutional Neurosis, John Wright and Sons Editions, Bristol, UK, 1976.
4- Marcuse, H. Eros e Civilização, Editora LTC, 1982
5- Silveira, N. Imagens do Inconsciente, Editora Vozes, Petrópolis, 2015
6- Perry JW. The far side of madness. Spring Publications; 1974.
7- Euripedes. The Bacchae. Tragic play (405 a.C.)

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