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CAPÍTULO 5 – SENSORES DE MICROONDAS (RADAR) 88

CAPÍTULO 5
RADARES DE ABERTURA SINTÉTICA

5.1 INTRODUÇÃO

A região de microondas, com comprimentos de onda de 1 mm a 100 cm é


usada pelos sensores remotos denominados de radar, um acrônimo de Radio Detection
and Ranging - Detecção de Ondas de Rádio e Posição. Embora não seja utilizado o
comprimento de ondas de radio, o acrônimo não foi mudado. Para fins de
sensoriamento remoto usam-se os comprimentos de onda que vão de 3 a 75 cm, que
são cerca de 2.500.000 vezes maior que os comprimentos de onda da luz visível. De
acordo com a modelo de energia da REM (E = hc/λ) vê-se que a energia contida
nesses comprimentos de onda de microondas é muito pequena e insuficiente para
interagir ao nível dos átomos ou moléculas dos materiais. A interação é quase que
totalmente efetuada em termos dos princípios do modelo ondulatório, onde o tamanho
da onda em relação ao tamanho da rugosidade das superfícies dos materiais é o
parâmetro que comanda as intensidades da reflectância, a qual, no caso específico de
radar, denomina-se de retroespalhamento. Como este processo de interação é
razoavelmente complexo, a imagem de radar fornece uma visão bastante diferente da
paisagem em comparação com as imagens do visível ou do infravermelho, como
mostra a figura 5.1

radar foto aérea


Fig. 5.1 Imagens de radar (à esquerda) e de um sensor óptico de uma mesma área de estudo.
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A região das microondas é dividida em bandas espectrais que são identificadas


por letras aparentemente sem nenhum significado, fruto de uma tentativa nos anos 40
de manter segredo das faixas espectrais de operação dos primeiros sistemas de radar
que foram utilizados para detecção de alvos militares. As bandas de radar mais
utilizadas são mostradas na figura 5.2, com seus correspondentes valores de
freqüência em Hz.

Bandas
K=0,8-
1,7cm 40 a 18,5 GHz

X=2,4-
3,8cm 12,5 a 8 GHz
C=3,8-
7,5cm 8 a 4 GHz

S=7,5- 4 a 2 GHz
15cm

L=15-30cm 2 a 1 GHz
P=30-
100cm 1 a 300 GHz
Fig. 5.2 Denominações das bandas espectrais dos sensores de radar.

A primeira imagem de radar orbital foi obtida pela nave espacial norte-
americana Space Shuttle na banda L, que tinha sido projetado para imagear o mar,
mas acabou mostrando uma excelente eficiência nos estudos de relevo, como pode ser
observado na figura 5.3.

Fig. 5.3 Primeira imagem de radar tomada do espaço, a bordo do Space Shuttle na banda L,
mostrando, com clareza, as formas de relevo.
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As seguintes propriedades caracterizam os sensores imageadores de radar:


1. a radiação de microondas é capaz de penetrar a atmosfera sob quase todas as
condições, isto é, sob presença de nuvens, fumaças, neblinas ou chuvas fracas
a moderadas;
2. os sensores de microondas são ativos, isto é, possuem a sua própria fonte de
radiação eletromagnética e por isso podem operar em qualquer hora do dia,
inclusive à noite;
3. e a reflexão de microondas dos materiais terrestres guarda pouca relação com
a reflexão no visível e no infravermelho.
Pela tradução, o nome radar implica no uso de ondas para detectar a presença
de objetos e determinar a sua posição. Diferente da iluminação solar, que envolve o
envio de radiações paralelas e contínuas de luz (fótons) sobre uma superfície, o radar
envia séries descontínuas de pulsos de fótons de uma fonte pontual, que se espalha
sobre o terreno como um feixe angular (lóbulo). O processo se resume em enviar
pulsos de onda eletromagnética na direção do objeto e registrar a sua posição,
medindo-se o tempo de duração de retorno da onda. Para emitir esses pulsos de
radiação eletromagnética, os radares de sensoriamento remoto utilizam uma antena na
forma de uma calha fixada na lateral da aeronave ou do satélite e que é apontada
lateralmente em relação à direção da trajetória (figura 5.4). Por isso, são chamados de
radares de visada lateral.

antena

pulso
Largura da faixa
imageada

largura real do
lóbulo

Fig. 5.4 Emissão do pulso de radiação eletromagnética pela antena de um radar de visada lateral
e recebimento do pulso de retorno retroespalhado pelos objetos.
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5.2 PRINCÍPIOS DE IMAGEAMENTO

A operação básica de um radar de visada lateral (SLAR – Side-Looking


Aperture Radar) é mostrada na Figura 5.5a. A energia de microondas é transmitida de
uma antena na forma de pulsos, em intervalos de microssegundos (cerca de 1.500
pulsos por segundo). A propagação de um pulso é mostrada pela localização da frente
da onda em sucessivos incrementos de tempo (1 a 10). Começando com as linhas
sólidas (1 a 10), o pulso transmitido move-se lateralmente da plataforma na forma de
uma frente de onda. No tempo 6, o pulso alcança a casa e a frente de onda de retorno
retroespalhada pela casa (linha pontilhada) tem início no tempo 7. No tempo 12, o
sinal de retorno da casa alcança a antena e é registrado com este tempo no gráfico de
resposta da antena (figura 5.5b). No tempo 9, a frente de onda transmitida é refletida
da árvore e o seu “eco” alcança a antena no tempo 17.

Pulso enviado do avião

Pulso de retorno da árvore

Retorno da casa

(a)

Retorno da casa
Intensidade Pulso de saída
do pulso de alta energia

Retorno da árvore

(b) tempo

Fig. 5.5 a) Propagação do pulso de radar indicando a frente de onda (linhas


sólidas) e o pulso retroespalhado pelos objetos (linhas pontilhadas) b) medida do
tempo e intensidade do pulso de retorno da casa e da árvore
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Como a árvore retroespalha o pulso de onda de radar com intensidade menor


do que a casa, a intensidade da resposta do sinal registrado é mais fraca. Medindo-se
eletronicamente o tempo de retorno do sinal, pode-se determinar a distância ou a
posição entre o transmissor e o objeto refletor. Como a energia se propaga à
velocidade da luz, a distância de um objeto medida no plano inclinado é dado por:

ct
SR = (5.1)
2

onde: SR = alcance inclinado (slant range);


c = velocidade da luz; e
t = tempo entre o pulso transmitido e recebido.
O tempo é medido pela fase da onda, que tem a sua referência a partir do
ponto de partida relativo a um certo tempo arbitrário, isto é, quando cada pulso é
emitido. Como uma onda é um fenômeno cíclico, a fase é freqüentemente dada em
graus, onde 90o representa ¼ de um ciclo e, 360o um ciclo completo. Quando o pulso

é emitido, registra-se o grau da fase no tempo t = 0 (figura 5.6). A fase do sinal de


retorno é comparada com a fase do sinal emitido e o tempo de retorno do sinal é
calculado, determinando-se assim a sua posição no terreno.
A antena funciona como uma fonte emissora da radiação eletromagnética e
como receptora da radiação de retorno. Uma chave liga a antena para emitir o pulso e
logo a seguir a desliga para registrar o sinal de retorno daquele pulso que foi enviado.
O sinal de retorno do terreno é extremamente fraco e deve ser amplificado
significativamente. Por exemplo, o SeaSat produzia pulsos com potência de 50 Watts,
enquanto a potência efetiva recebida pela antena de um objeto tendo uma seção
transversal ao pulso de 10 m2 era cerca de 10-17 Watts.

Fig. 5.6 Fase como medida do tempo de retorno do sinal.


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A figura 5.7 sintetiza o modelo de imageamento por radar e os principais


componentes de um sistema sensor. Observa-se nessa figura, no sinal de vídeo que
registra as intensidades do sinal de retorno do pulso, que a face inclinada do morro,
por compor um ângulo frontal com o ângulo de incidência do pulso de radiação das
microondas, reflete o pulso diretamente de volta para a antena de forma intensa (tom
claro na imagem). No lado oposto da face frontal do relevo onde o pulso não
consegue atingir, ocorre o sombreamento, sem retorno do pulso (tom escuro na
imagem). A vegetação, por ter uma superfície irregular, com componentes orientados
em diferentes posições em relação à radiação incidente, assume um comportamento
de superfície difusa, retornando o pulso de radiação em intensidade intermediária e
variável (tons de cinza claros e médios). O lago, com sua superfície lisa tem um
comportamento especular, retornando muito pouco do sinal (tom escuro na imagem).

Estação
terrestre de
rastreamento

Fig. 5.7 Elementos de imageamento do radar, incluindo a célula de resolução do pulso transmitido
que varre lateralmente o terreno, e os principais componentes de recepção e registro.

5.3 POLARIZAÇÃO

Os tons das imagens de radar podem variar de uma outra maneira sistemática.
Quando um pulso de energia é emitido pela antena, o vetor do seu campo elétrico
pode ser controlado para vibrar em uma direção horizontal (H) ou vertical (V),
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dependendo do desenho da antena. A maioria dos pulsos é plano polarizado, o que


quer dizer que se o pulso foi emitido na direção H, o retorno do pulso também será
registrado na direção H. Diz-se então que a polarização é HH. Da mesma maneira,
tem-se a polarização plano paralela VV. A polarização HH é aconselhada para as
superfícies terrestres e a polarização VV para as superfícies (ondas) do mar. A figura
5.8 mostra a configuração de polarização do pulso.

Polarização vertical

Polarização horizontal

Fig. 5.8 Direção de polarização horizontal e vertical do pulso de radar.

Quando o pulso atinge o alvo, ocorre a despolarização, de modo que o sinal


pode retornar à antena numa direção diferente da direção de polarização emitida. Por
exemplo, um sensor que emite um pulso na direção H pode registrar o sinal de retorno
na direção V. Neste caso, tem-se o que se denomina de polarização cruzada (HV ou
VH). Algumas feições no terreno apresentam tonalidades semelhantes em imagens
adquiridas com polarização paralela ou cruzada, porém, a vegetação, em particular,
tende a mostrar diferentes tons de cinza em modos de polarização HH, HV ou VH,
por causa da despolarização pelos múltiplos retroespalhamentos pelos galhos e folhas.
Compare e analise as imagens da Figura 5.9, tomadas com polarizações HH e HV.
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HV

HH

Fig. 5.9 Imagens de radar obtidas com polarização cruzada HV e paralela HH.

Já é tecnologicamente possível o imageamento por sensores radares com


polarizações múltiplas (e também em diferentes bandas), o que torna possível a
combinação dessas imagens para gerar composições coloridas, como se fossem
bandas multiespectrais. A imagem à direita da figura 5.10 é uma composição das
bandas LHH no canal azul, LHV no canal verde e CHV no canal vermelho. A imagem da
esquerda é uma foto colorida da mesma área.

Fig. 5.10 À esquerda, foto colorida e, à direita, composição colorida com as bandas LHH, LHV e
CHV.
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5.4 DIREÇÃO DE ILUMINAÇÃO DO PULSO

A direção de iluminação ou direção de visada do sensor, ao longo da qual o


pulso de radar viaja, é um parâmetro importante no imageamento dos sensores de
radar de visada lateral. É importante porque há uma relação direta entre a direção que
o alvo está orientado no terreno, tal como a orientação de uma plantação de pés de
café, e a direção lateral que o pulso é emitido, para haver uma melhor detecção do
alvo.
A direção de iluminação depende de qual é a direção da linha de vôo. A
comparação entre as duas imagens da figura 5.11 mostra claramente esse fato.
Observe como as feições do relevo apresentam-se diferentes nas duas imagens, tendo-
se um maior realce das formas de relevo na imagem com direção de iluminação para
E. A regra básica para se ter um melhor imageamento do alvo e um melhor contraste
de suas feições, é dirigir o pulso numa direção o mais ortogonal possível à orientação
dos alvos. Por exemplo, uma crista de relevo orientada na direção N-S terá as suas
formas de relevo mais bem caracterizadas quando a iluminação dos feixes de radar
tiver uma orientação ortogonal à direção das cristas (E-W). Se a iluminação é
ortogonal à crista, a face voltada frontalmente ao pulso será intensamente iluminada e
deverá ter um alto retorno do sinal, registrando um tom de cinza claro na imagem. Ao
contrário, a face oposta será bem menos intensamente iluminada ou quase nada
iluminada, não havendo quase nada de retorno de sinal, e o registro será de uma
imagem com tom de cinza escuro ou preto. É gerado, portanto, um par claro/escuro,
que é a condição ideal para que o olho humano perceba a dimensão em 3-D.

N
E

Fig. 5.11 Imagens tomadas em diferentes direções de iluminação indicadas pelas setas. Observe a
posição das sombras do relevo em relação à direção de iluminação.
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5.5 RESOLUÇÃO ESPACIAL

As medidas de resolução espacial dos sensores de radar são bem mais


complexas que as dos sensores multiespectrais e termais. O elemento ou célula de
resolução espacial de um radar de visada lateral é controlada por dois parâmetros
independentes: a) comprimento do pulso, que é determinado pela duração de tempo T
que a antena emite os pulsos de energia; e b) largura do feixe da antena. Como são
parâmetros independentes, cada um deles determina uma resolução espacial. Há no
radar duas resoluções espaciais: uma na direção longitudinal à direção de propagação
do pulso e uma na direção transversal. Apresentadas nos dois subitens a seguir, o
cálculo das resoluções longitudinal e transversal é feito para a abertura real do pulso
de iluminação no terreno, referido também com o lóbulo de iluminação, visto na
figura 5.1.

5.5.1 Resolução Longitudinal (Range Resolution)

Como pode ser visto na figura 5.12, o comprimento do pulso, que é medido
pelo intervalo de tempo em que os pulsos são emitidos, dita a resolução espacial na
direção longitudinal (range resolution). O cálculo para determinar a resolução
espacial longitudinal é mostrado pela geometria do pulso incidente sobre o alvo em
relação ao comprimento do pulso. Os dois alvos na posição A e os dois alvos na
posição B são idênticos e se encontram separados no terreno entre si de uma distância
de 20 metros. De acordo com a fórmula de RL que calcula resolução longitudinal, vê-
se que ela é medida em função do tempo de duração do pulso. Como os alvos estão a
distâncias diferentes em relação à antena, esta distância é dependente do ângulo que a
antena faz com a linha do horizonte, chamado de ângulo de depressão γ. Desta forma,
os alvos em A são iluminados por um pulso sob um ângulo de depressão de 50o,
enquanto aos alvos em B são iluminados com um ângulo de 35o.

Fazendo-se os cálculos com o uso da fórmula mostrada na Figura 5.12,


encontraremos uma resolução longitudinal de 23 metros para o ângulo de depressão
de 50o e uma resolução de 18 metros para o ângulo de 35o. Como nas duas posições os

alvos estão separados entre si de 20 metros, somente os alvos na posição B, com a


resolução espacial de 18 metros serão resolvidos, isto é, visto como dois objetos
CAPÍTULO 5 – SENSORES DE MICROONDAS (RADAR) 98

separados. Os alvos na posição A, apesar de estarem mais próximos da plataforma,


não serão resolvidos, formando uma imagem dupla.

35o 50o Ângulo de


depressão γ

T = 0,1 .10-6 segundos

τ comprimento do pulso

Τ/2
20m 20m
A B

Direção de visada

RL=23m RL=18m
γ γ=500 γ=350

RL = Τc
RL 2 cosγ
γ

Fig. 5.12 Variação da resolução longitudinal em função dos ângulos de depressão da antena de
radar. Alvos em A, mais próximos da antena, possuem resolução longitudinal menor.

5.5.2 Resolução Azimutal (Azimuth Resolution)

Como mostra a figura 5.13, a resolução na direção azimutal, que é paralela à


direção da linha de vôo, é determinada pela largura angular do feixe β da antena e

pela distância medida no terreno do alvo até a projeção vertical da plataforma sobre o
terreno. A resolução azimutal determina, portanto, a largura da faixa do lóbulo de
iluminação no terreno. A seguinte fórmula é usada para se calcular a resolução
azimutal:
R AZ = GR x β (5.2)
CAPÍTULO 5 – SENSORES DE MICROONDAS (RADAR) 99

onde GR é a medida da distância do alvo no terreno e β é o ângulo de abertura da

antena
.

Fig. 5.13 A resolução espacial medida na direção azimutal depende da largura β do feixe do pulso
e da distância GR do alvo à antena medida no terreno.

Na figura 5.13, vê-se que quanto mais estreita for a largura do feixe, isto é,
quanto menor for β, melhor será a resolução azimutal. Contudo, para se ter uma

largura de feixe estreita é preciso que sejam utilizadas antenas bastante longas,
inviáveis de serem transportadas por aviões ou satélites. Criou-se então uma forma de
sintetizar, por processamento de sinais dos pulso de retorno, o tamanho de uma antena
longa em uma antena pequena, que passa a receber a denominação de radares de
abertura sintética. Com isso, a desvantagem das resoluções espaciais medidas na
abertura real do lóbulo, que ficam limitadas pelo tamanho da antena, são resolvidas,
obtendo-se assim maiores resoluções espaciais.

5.6 RADAR DE ABERTURA SINTÉTICA

A dificuldade que encontraríamos para a montagem de antenas grandes em


plataformas aéreas está fundamentada na equação abaixo, que determina que a largura
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β do feixe da antena seja diretamente proporcional ao comprimento de onda do pulso

transmitido e inversamente proporcional ao tamanho da antena.

λ
β= (5.3)
Al

onde AL = tamanho da antena.

Exemplificando: com um feixe de largura de 10 mrad e comprimento de onda


de 5 cm, é necessário uma antena de 5 metros [(5 x 10-2 m)/(10 x 10-3)]. Para se obter

uma resolução de 2 mrad, a antena teria que ter 25 metros; para a resolução de 1 mrd,
50 metros seria o tamanho da antena e assim sucessivamente.
As limitações impostas pelo tamanho da antena podem ser superadas com os
sistemas de radar de abertura sintética (SAR – Synthetic Aperture Radar). Estes
sistemas empregam uma antena pequena, mas por meio de técnicas de registros e de
processamentos conseguem reproduzir o efeito de uma antena muito grande. O
resultado deste modo de operação é uma largura estreita e efetiva do feixe da antena
(boa resolução espacial azimutal), sem requerer fisicamente uma antena muito grande.
Por exemplo, em um sistema de abertura sintética, uma antena com 10 metros pode
sintetizar o tamanho de uma antena real de 600 metros.
Em detalhe esta operação é bastante complicada. É suficiente mostrar que este
sistema usa o movimento da plataforma ao longo da linha de vôo para transformar
uma antena pequena em uma matriz de antenas que matematicamente são unidas para
detectar o alvo (figura 5.14). A antena real de tamanho pequeno é mostrada em
diversas posições sucessivas ao longo da linha de vôo, fazendo com que o alvo seja
visto várias vezes, looks, como mostra a figura 5.15. Essas posições sucessivas são
tratadas matematicamente e eletronicamente, como se elas fossem simplesmente
elementos de uma única antena longa. O resultado na essência é uma resolução
azimutal constante ao longo do feixe, independente da distância (figura 5.16).
Esse melhoramento na resolução azimutal é conseguido, determinando-se as
mudanças posição do alvo – freqüências, ou dito de outra maneira, deslocamento do
pulso de retorno de radar que são causados pelo movimento relativo entre os objetos
no terreno e a plataforma (figura 5.15). Para isso, o sistema SAR deve decifrar a
complexa história dos pulsos de retorno do alvo, para cada uma das múltiplas
CAPÍTULO 5 – SENSORES DE MICROONDAS (RADAR) 101

posições da antena (looks). Por exemplo, se isolarmos um único alvo no terreno, a


seguinte modulação de freqüência ocorre como conseqüência do movimento para
frente da plataforma: (a) o alvo entra dentro do feixe de radar à frente da plataforma e
seu eco de retorno do pulso desloca-se para frequências mais altas (efeito Doppler
positivo); (b) quando a plataforma está em posição frontal ao alvo não há
deslocamento da freqüência (efeito Doppler zero); (c) quando a plataforma move
distanciando-se do alvo o eco de retorno do pulso tem frequência mais baixa (efeito
Doppler negativo). A informação do deslocamento Doppler é então obtida
eletronicamente, comparando os sinais de retorno do pulso com o sinal de referência
que incorpora a mesma freqüência do sinal transmitido. O sinal de saída conterá o
registro das mudanças de freqüência Doppler mais a amplitude dos retornos do alvo
que passa através do feixe da antena em movimento.

Antena real
Antena
sintetizada

Fig 5.14 Múltiplos elementos de uma antena, sintetizando uma grande antena

direção do vôo Deslocamento da


freqüência Doppler devido
movimento relativo do alvo
dentro do feixe de radar

Movimento aparente do alvo


através do feixe de radar

antena

Fig. 5.15 Movimento aparente do alvo pelo movimento da antena, compondo visada do alvo em 3
looks
CAPÍTULO 5 – SENSORES DE MICROONDAS (RADAR) 102

Resolução azimutal igual em


toda extensão do lóbulo
por processamento Doppler

Largura do feixe constante por


processamento abertura sintética

Fig. 5.16 Efeito da sintetização da antena na resolução azimutal

5.7 DISTORÇÕES GEOMÉTRICAS

Os sensores de radar obtêm a imagem lateralmente à linha de vôo, como numa


visada obliqua. A conseqüência lógica dessas visadas oblíquas é a grande distorção
geométrica da imagem, na forma e tamanho dos objetos. Além disso, as imagens de
radar são construídas com base nas medidas de distâncias dos objetos. No entanto,
essa medida de distância no radar é feita num plano inclinado e não num plano
horizontal, como sempre fazemos quando queremos medir a distância de um objeto no
terreno. Por isso, as imagens de radar possuem distorções de caráter bem mais
complexo do que os sensores ópticos, de visadas verticais. Limitaremos a nossa
discussão apenas às distorções de tamanho e deslocamento dos objetos.

5.7.1 Distorção do Tamanho dos Objetos

As imagens dos radares de visada lateral são registradas de duas formas: no


plano inclinado e no plano do terreno. Na figura 5.15, os alvos A, B e C têm o mesmo
tamanho e se distanciam igualmente entre si. As suas distâncias medidas no plano
horizontal do terreno em relação à posição do sensor ou da plataforma são GRA, GRB B
CAPÍTULO 5 – SENSORES DE MICROONDAS (RADAR) 103

e GRC. Quando os alvos A, B e C são medidos no plano inclinado ao longo das frentes
de onda, vê-se que os seus tamanhos A1, B1 e C1 são diferentes. Em outras palavras,
na imagem no alcance inclinado (slant range), que é a primeira imagem a ser
registrada no sensor, o objeto A1 é menor que o objeto B1 que por sua vez é menor
que objeto C1. Observe que o alvo C que é o mais distante da plataforma é o que
menos sofreu distorção no seu tamanho, enquanto que o alvo A mais próximo é o
mais distorcido. Para corrigir essa distorção e entregar aos usuários uma imagem não
distorcida, os dados coletados são processamentos eletronicamente, e transformam a
imagem do plano inclinado para uma imagem no plano do terreno.

Linha de imagem no formato do terreno

Fig. 5.15 Distorção do tamanho dos alvos na imagem tomada no plano inclinado.

altura
vôo O efeito slant range nas imagens de radar mostra uma deformação geométrica
Linha de imagem
expressa como uma compressão de feições regularmente formadas no formato slant(campos de
cultivo
quadrados parecem romboedros), sendo o máximo para os alvos mais próximos ao
range

sensor ( Figura 5.16).

Fig. 5.15- Distorção original da imagem medida no plano inclinado

A figura 5.16 ilustra o efeito desta distorção dos objetos no imageamento do


terreno. A imagem originalmente medida no plano inclinado deforma os alvos,
comprimindo ou achatando as formas dos objetos que se situam mais próximos à
antena.
CAPÍTULO 5 – SENSORES DE MICROONDAS (RADAR) 104

Fig. 5.16 Imagem da esquerda em alcance inclinado (slant range) e da direita corrigida para
alcance no terreno (ground range).

5.7.2 Deslocamento do Relevo

Assim denomina-se o deslocamento do topo em relação à base para qualquer


objeto mais ou menos vertical, como um edifício ou um morro. O resultado deste
deslocamento mostra a imagem do objeto tombada. Na figura 5.17, nas fotografias
aéreas, o topo A do edifício se desloca em direção ao centro da foto. Observe que a
(topo do edifício) se situa na borda da foto e b (base) se situa para dentro da foto. Nas
imagens de radar, o deslocamento ocorre de maneira inversa. O topo A desloca-se no
sentido para dentro da imagem. Isso acontece porque o sinal de retorno do topo do
edifício atinge a antena antes do retorno do sinal da base.

Fotografia Imagem de radar

Fig. 5.17 Representação do deslocamento do topo das feições verticais em imagens de radar,
comparado com o deslocamento inverso visto nas fotografias aéreas.
CAPÍTULO 5 – SENSORES DE MICROONDAS (RADAR) 105

5.7.3 Inversão de Relevo (Layover) e Encurtamento de Rampa (Foreshortening)

Para as superfícies topográficas que não são planas, as irregularidades do


relevo têm um efeito significativo na aparência da imagem. Montanhas, morros ou
colinas, em relevos mais acidentados, aparecem com distorções chamadas de inversão
de relevo (layover) e encurtamento de rampa (foreshortening), causados pela relação
da inclinação da frente de onda com a inclinação da frente da vertente do relevo, isso
porque a duração de tempo que o feixe de radar leva para iluminar a frente de uma
encosta de sua base ao topo determina sua dimensão na imagem. Esse conceito é
ilustrado pela figura 5.18, devendo-se observar que nela todos os morro são idênticos.

Ângulos de depressão

Layover Layover Normal Foreshortening

Fig. 5.18 Efeitos que são produzidos nas imagens de radar em função da inclinação da frente da
onda com a inclinação das faces do relevo.

Na inversão de relevo (layover), a frente de onda atinge primeiro o topo do


morro para depois atingir a base. Portanto, o sinal de retorno do topo do morro chega
primeiro ao sensor. Como a imagem de radar determina a posição do alvo em função
do tempo de ida e retorno do sinal, e sabendo que imagem é uma superfície em duas
dimensões, o topo do morro aparecerá na imagem antes da base. Observe na figura
5.18 que a inversão de relevo ocorre nos morros que estão mais próximos do sensor,
ou seja com ângulos de depressão maiores. O efeito desta distorção é mostrado na
figura 5.19 onde os morros aparecem na forma de “V” com alto retorno do sinal ( tons
claros), mascarando por completo o relevo.
CAPÍTULO 5 – SENSORES DE MICROONDAS (RADAR) 106

Quando a frente de onda incide normal à face do relevo, não ocorrem


deformações.
O achatamento de rampa (foreshortening) expressa-se como uma compressão
ou encurtamento da face da vertente frontal, relativo à face oposta do relevo. Esse
efeito ocorre porque se leva menos tempo para iluminar a face frontal do relevo, e o
retorno do pulso seria correspondentemente menor, relativo ao retorno do pulso da
face oposta. Com o aumento do ângulo de depressão a geometria faz com que a
extensão da vertente (topo para base) diminua, aumentando assim a intensidade do
encurtamento de rampa. Na figura 5.19 aparecem como faixas estreitas e alongadas
com tonalidades claras.

Fig. 5.19 Feições de inversão de relevo e encurtamento de rampa.

As vertentes do lado oposto do morro não são iluminadas pelo pulso de radar,
sendo registradas como sombras. Esta condição de iluminação gera o par
iluminado/escuro (frente da vertente/costa da vertente) responsável por criar uma
percepção tridimensional mais forte do relevo. Por isso, as imagens de radar são
consideradas como os melhores sensores para realçar as formas de relevo.
CAPÍTULO 5 – SENSORES DE MICROONDAS (RADAR) 107

5.8 RETROESPALHAMENTO DO SINAL

São basicamente duas as condições que controlam a intensidade do


retroespalhamento do sinal nas imagens de radar: a rugosidade das superfícies do
terreno e a constante dielétrica dos materiais. Resumidamente, discutiremos essas
duas condições.

5.8.1 Função da Rugosidade

Como nos comprimentos de onda das microondas a energia que a onda carrega
é muito pequena para promover interações com as energias dos átomos e moléculas
dos materiais, a interação se processa quase que exclusivamente pela relação do
tamanho da onda com a rugosidade da superfície. Como vimos anteriormente, esse
tipo de interação é definida como interação macroscópica. Portanto, nas imagens de
radar, os objetos são distinguidos entre si pelas formas de suas superfícies.
A figura 5.20 ilustra os tipos mais comuns de superfícies. A superfície é um
refletor difusor quando retroespalha o sinal em todas as direções, que é a condição
mais comum para os materiais terrestres. Refletores especulares acontecem para
superfícies que são lisas, resultando que não haja sinal de retorno para a antena, o que
faz com que o alvo tenha um nível de cinza muito escuro na imagem. Os espelhos de
água calma são os exemplos típicos. Refletor de canto é um caso particular das
imagens de radar, que acontece quando uma superfície lisa ao lado de uma feição
vertical (ex. prédio) causa uma dupla reflexão (retorno do solo + retorno do edifício),
produzindo um sinal de retorno muito alto e fazendo com que a feição apareça com
nível de cinza muito claro na imagem.
CAPÍTULO 5 – SENSORES DE MICROONDAS (RADAR) 108

Refletor de canto

refletor difuso refletor especular refletor de canto

Fig. 5.20 Tipos básicos de retroespalhamento do sinal em função das características da superfície.

Se uma superfície terá um comportamento de refletor liso ou difuso com


retorno fraco ou forte, dependerá do tamanho do comprimento de onda do radar e da
rugosidade da superfície do alvo, medida em termos da altura h das pequenas
variações da altitude da superfície. A figura 5.21 mostra os critérios para se
determinar como se comporta o alvo e os respectivos cálculos para se classificar a
superfície como lisa, difusa intermediária e difusa forte. São considerados um
comprimento de onda de 3 cm e um ângulo de depressão de 45o.
CAPÍTULO 5 – SENSORES DE MICROONDAS (RADAR) 109

Superfície lisa especular sem retorno

Superfície intermediária com retorno moderado

Superfície rugosa com forte retorno

Fig. 5.21 Classificação das rugosidades das superfícies em função do comprimento de onda,
ângulo de depressão.

5.8.2 Função da Constante Dielétrica dos Materiais

Há uma condição única para que os alvos tenham um retorno forte de sinal,
independente do comprimento da onda, da rugosidade da superfície ou do ângulo de
depressão. É quando um alvo tem uma alta constante dielétrica. Constante dielétrica
corresponde à capacidade dos materiais em formar dipolos na presença de um campo
elétrico externo e em armazenar energia. Os alvos naturais para terem altas constantes
dielétricas precisam conter água livre na sua estrutura. O sinal destes alvos é muito
forte, gerando imagens do objeto em tons de cinza muito claros. As rochas e solos
possuem uma baixa constante dielétrica, entre 3 a 8, enquanto a água, presente nas
CAPÍTULO 5 – SENSORES DE MICROONDAS (RADAR) 110

estruturas das folhas de árvores ou como umidade nos solos, tem um valor em torno
de 80. Por causa disso, as vegetações apresentam tons de cinza muito claro nas
imagens de radar, o mesmo acontecendo para as superfícies de solos úmidos, como
ilustrado nas figuras 5.22 e 5.23.

Retroespalhamento do dossel da árvore em solo saturado


de água

Retorno fraco Retorno forte

Solo saturado com


água; forte
Solo não saturado de
retroespalhamento
água; baixo
retroespalhamento

Baixa constante Alta constante


dielétrica – fraco dielétrica forte sinal
sinal

Fig. 5.22 Efeito da constante dielétrica no controle da intensidade de retorno do sinal.

Fig. 5.23 Mata de galeria ao longo dos canais de drenagem com tons claros devido à constante
dielétrica alta da vegetação.
CAPÍTULO 5 – SENSORES DE MICROONDAS (RADAR) 111

Essa propriedade da constante dielétrica explica a extraordinária imagem de


radar adquirida pelo SIR-A (Shuttle Imaging Radar) em novembro de 1981. A parte
da cena colorida na figura 5.24 é uma subimagem Landsat de uma parte do deserto do
Saara. Por causa das areias secas terem uma baixa constante dielétrica, as ondas de
radar conseguem penetrá-las até cerca de 3,5 metros de profundidade, que é mostrado
pela imagem de radar na faixa central de tons de cinza. O que se vê são paleocanais
subsuperficiais que se encontram soterrados pela areia e, portanto, invisíveis na
imagem Landsat.

Fig. 5.24 No centro, imagem de radar mostrando paleocanais de drenagem sob manto de areia
seca. Devido a penetração que o pulso tem em areias secas de baixa constante
dielétrica. Parte colorida da imagem corresponde a imagem do Landsat.
CAPÍTULO 5 – SENSORES DE MICROONDAS (RADAR) 112
113

A figuraESTEREOSCÓPICAS
5.9 IMAGENS 5.26 ilustra as imagem de radar tomadas no modo estereoscópico da
Figura 5.25a, o que pode ser verificado pelo sombreamento, que nas duas imagens
O satélite Seasat, lançado em 27 de junho de 1978, foi o primeiro satélite de
estão nas mesmas faces do relevo.
sensoriamento remoto por radar. Tinha o potencial para monitorar as superfícies das
ondas dos mares, em escala de recobrimento global. Na década de 80 seguiram os
experimentos com a nave Shuttle que conduziram ao estabelecimento dos programas
espaciais de radar por satélites da década de 90, considerada para o sensoriamento
remoto orbital a década dos sensores de radar. Três satélites foram lançados: ERS-1
(European Radar Satellite) JERS-1 (Japanese Earth Resources Satellite) e
RADARSAT (Radar Satellite).
Os sistemas de radar, por possuírem fonte ativa, conseguem imagear uma
órbita completa no globo terrestre. Por exemplo, ele pode tomar uma imagem no
Brasil às 6:00 hs da manhã quando estiver em órbita descendente e uma outra imagem
no mesmo dia, na mesma área, às 18:00 hs quando estiver em órbita ascendente. Neste
caso, a área é vista uma vez de leste e outra vez de oeste, o que permite se fazer
estereoscopia, para ver a superfície em terceira dimensão. È também possível a
obtenção de imagens estereoscópicas, olhando-se a área de órbitas descendentes
diferentes Fig.
(trajetória do satélite
5.26 Imagens de nortetomadas
estereoscópicas para sul). Ambas
no modo as situações
órbitas são mostradas
descendentes.

na figura 5.25.

Òrbita 235 Órbita 235

Órbita descendente Órbita ascendente

Fig. 5.25 Possibilidades de obtenção de imagens estereoscópicas de radar a partir de órbitas


descendentes (a) e de órbitas descendente e ascendente (b).

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