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CAPÍTULO 5
RADARES DE ABERTURA SINTÉTICA
5.1 INTRODUÇÃO
Bandas
K=0,8-
1,7cm 40 a 18,5 GHz
X=2,4-
3,8cm 12,5 a 8 GHz
C=3,8-
7,5cm 8 a 4 GHz
S=7,5- 4 a 2 GHz
15cm
L=15-30cm 2 a 1 GHz
P=30-
100cm 1 a 300 GHz
Fig. 5.2 Denominações das bandas espectrais dos sensores de radar.
A primeira imagem de radar orbital foi obtida pela nave espacial norte-
americana Space Shuttle na banda L, que tinha sido projetado para imagear o mar,
mas acabou mostrando uma excelente eficiência nos estudos de relevo, como pode ser
observado na figura 5.3.
Fig. 5.3 Primeira imagem de radar tomada do espaço, a bordo do Space Shuttle na banda L,
mostrando, com clareza, as formas de relevo.
CAPÍTULO 5 – SENSORES DE MICROONDAS (RADAR) 90
antena
pulso
Largura da faixa
imageada
largura real do
lóbulo
Fig. 5.4 Emissão do pulso de radiação eletromagnética pela antena de um radar de visada lateral
e recebimento do pulso de retorno retroespalhado pelos objetos.
CAPÍTULO 5 – SENSORES DE MICROONDAS (RADAR) 91
Retorno da casa
(a)
Retorno da casa
Intensidade Pulso de saída
do pulso de alta energia
Retorno da árvore
(b) tempo
ct
SR = (5.1)
2
Estação
terrestre de
rastreamento
Fig. 5.7 Elementos de imageamento do radar, incluindo a célula de resolução do pulso transmitido
que varre lateralmente o terreno, e os principais componentes de recepção e registro.
5.3 POLARIZAÇÃO
Os tons das imagens de radar podem variar de uma outra maneira sistemática.
Quando um pulso de energia é emitido pela antena, o vetor do seu campo elétrico
pode ser controlado para vibrar em uma direção horizontal (H) ou vertical (V),
CAPÍTULO 5 – SENSORES DE MICROONDAS (RADAR) 94
Polarização vertical
Polarização horizontal
HV
HH
Fig. 5.9 Imagens de radar obtidas com polarização cruzada HV e paralela HH.
Fig. 5.10 À esquerda, foto colorida e, à direita, composição colorida com as bandas LHH, LHV e
CHV.
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N
E
Fig. 5.11 Imagens tomadas em diferentes direções de iluminação indicadas pelas setas. Observe a
posição das sombras do relevo em relação à direção de iluminação.
CAPÍTULO 5 – SENSORES DE MICROONDAS (RADAR) 97
Como pode ser visto na figura 5.12, o comprimento do pulso, que é medido
pelo intervalo de tempo em que os pulsos são emitidos, dita a resolução espacial na
direção longitudinal (range resolution). O cálculo para determinar a resolução
espacial longitudinal é mostrado pela geometria do pulso incidente sobre o alvo em
relação ao comprimento do pulso. Os dois alvos na posição A e os dois alvos na
posição B são idênticos e se encontram separados no terreno entre si de uma distância
de 20 metros. De acordo com a fórmula de RL que calcula resolução longitudinal, vê-
se que ela é medida em função do tempo de duração do pulso. Como os alvos estão a
distâncias diferentes em relação à antena, esta distância é dependente do ângulo que a
antena faz com a linha do horizonte, chamado de ângulo de depressão γ. Desta forma,
os alvos em A são iluminados por um pulso sob um ângulo de depressão de 50o,
enquanto aos alvos em B são iluminados com um ângulo de 35o.
τ comprimento do pulso
Τ/2
20m 20m
A B
Direção de visada
RL=23m RL=18m
γ γ=500 γ=350
RL = Τc
RL 2 cosγ
γ
Fig. 5.12 Variação da resolução longitudinal em função dos ângulos de depressão da antena de
radar. Alvos em A, mais próximos da antena, possuem resolução longitudinal menor.
pela distância medida no terreno do alvo até a projeção vertical da plataforma sobre o
terreno. A resolução azimutal determina, portanto, a largura da faixa do lóbulo de
iluminação no terreno. A seguinte fórmula é usada para se calcular a resolução
azimutal:
R AZ = GR x β (5.2)
CAPÍTULO 5 – SENSORES DE MICROONDAS (RADAR) 99
antena
.
Fig. 5.13 A resolução espacial medida na direção azimutal depende da largura β do feixe do pulso
e da distância GR do alvo à antena medida no terreno.
Na figura 5.13, vê-se que quanto mais estreita for a largura do feixe, isto é,
quanto menor for β, melhor será a resolução azimutal. Contudo, para se ter uma
largura de feixe estreita é preciso que sejam utilizadas antenas bastante longas,
inviáveis de serem transportadas por aviões ou satélites. Criou-se então uma forma de
sintetizar, por processamento de sinais dos pulso de retorno, o tamanho de uma antena
longa em uma antena pequena, que passa a receber a denominação de radares de
abertura sintética. Com isso, a desvantagem das resoluções espaciais medidas na
abertura real do lóbulo, que ficam limitadas pelo tamanho da antena, são resolvidas,
obtendo-se assim maiores resoluções espaciais.
λ
β= (5.3)
Al
uma resolução de 2 mrad, a antena teria que ter 25 metros; para a resolução de 1 mrd,
50 metros seria o tamanho da antena e assim sucessivamente.
As limitações impostas pelo tamanho da antena podem ser superadas com os
sistemas de radar de abertura sintética (SAR – Synthetic Aperture Radar). Estes
sistemas empregam uma antena pequena, mas por meio de técnicas de registros e de
processamentos conseguem reproduzir o efeito de uma antena muito grande. O
resultado deste modo de operação é uma largura estreita e efetiva do feixe da antena
(boa resolução espacial azimutal), sem requerer fisicamente uma antena muito grande.
Por exemplo, em um sistema de abertura sintética, uma antena com 10 metros pode
sintetizar o tamanho de uma antena real de 600 metros.
Em detalhe esta operação é bastante complicada. É suficiente mostrar que este
sistema usa o movimento da plataforma ao longo da linha de vôo para transformar
uma antena pequena em uma matriz de antenas que matematicamente são unidas para
detectar o alvo (figura 5.14). A antena real de tamanho pequeno é mostrada em
diversas posições sucessivas ao longo da linha de vôo, fazendo com que o alvo seja
visto várias vezes, looks, como mostra a figura 5.15. Essas posições sucessivas são
tratadas matematicamente e eletronicamente, como se elas fossem simplesmente
elementos de uma única antena longa. O resultado na essência é uma resolução
azimutal constante ao longo do feixe, independente da distância (figura 5.16).
Esse melhoramento na resolução azimutal é conseguido, determinando-se as
mudanças posição do alvo – freqüências, ou dito de outra maneira, deslocamento do
pulso de retorno de radar que são causados pelo movimento relativo entre os objetos
no terreno e a plataforma (figura 5.15). Para isso, o sistema SAR deve decifrar a
complexa história dos pulsos de retorno do alvo, para cada uma das múltiplas
CAPÍTULO 5 – SENSORES DE MICROONDAS (RADAR) 101
Antena real
Antena
sintetizada
Fig 5.14 Múltiplos elementos de uma antena, sintetizando uma grande antena
antena
Fig. 5.15 Movimento aparente do alvo pelo movimento da antena, compondo visada do alvo em 3
looks
CAPÍTULO 5 – SENSORES DE MICROONDAS (RADAR) 102
e GRC. Quando os alvos A, B e C são medidos no plano inclinado ao longo das frentes
de onda, vê-se que os seus tamanhos A1, B1 e C1 são diferentes. Em outras palavras,
na imagem no alcance inclinado (slant range), que é a primeira imagem a ser
registrada no sensor, o objeto A1 é menor que o objeto B1 que por sua vez é menor
que objeto C1. Observe que o alvo C que é o mais distante da plataforma é o que
menos sofreu distorção no seu tamanho, enquanto que o alvo A mais próximo é o
mais distorcido. Para corrigir essa distorção e entregar aos usuários uma imagem não
distorcida, os dados coletados são processamentos eletronicamente, e transformam a
imagem do plano inclinado para uma imagem no plano do terreno.
Fig. 5.15 Distorção do tamanho dos alvos na imagem tomada no plano inclinado.
altura
vôo O efeito slant range nas imagens de radar mostra uma deformação geométrica
Linha de imagem
expressa como uma compressão de feições regularmente formadas no formato slant(campos de
cultivo
quadrados parecem romboedros), sendo o máximo para os alvos mais próximos ao
range
Fig. 5.16 Imagem da esquerda em alcance inclinado (slant range) e da direita corrigida para
alcance no terreno (ground range).
Fig. 5.17 Representação do deslocamento do topo das feições verticais em imagens de radar,
comparado com o deslocamento inverso visto nas fotografias aéreas.
CAPÍTULO 5 – SENSORES DE MICROONDAS (RADAR) 105
Ângulos de depressão
Fig. 5.18 Efeitos que são produzidos nas imagens de radar em função da inclinação da frente da
onda com a inclinação das faces do relevo.
As vertentes do lado oposto do morro não são iluminadas pelo pulso de radar,
sendo registradas como sombras. Esta condição de iluminação gera o par
iluminado/escuro (frente da vertente/costa da vertente) responsável por criar uma
percepção tridimensional mais forte do relevo. Por isso, as imagens de radar são
consideradas como os melhores sensores para realçar as formas de relevo.
CAPÍTULO 5 – SENSORES DE MICROONDAS (RADAR) 107
Como nos comprimentos de onda das microondas a energia que a onda carrega
é muito pequena para promover interações com as energias dos átomos e moléculas
dos materiais, a interação se processa quase que exclusivamente pela relação do
tamanho da onda com a rugosidade da superfície. Como vimos anteriormente, esse
tipo de interação é definida como interação macroscópica. Portanto, nas imagens de
radar, os objetos são distinguidos entre si pelas formas de suas superfícies.
A figura 5.20 ilustra os tipos mais comuns de superfícies. A superfície é um
refletor difusor quando retroespalha o sinal em todas as direções, que é a condição
mais comum para os materiais terrestres. Refletores especulares acontecem para
superfícies que são lisas, resultando que não haja sinal de retorno para a antena, o que
faz com que o alvo tenha um nível de cinza muito escuro na imagem. Os espelhos de
água calma são os exemplos típicos. Refletor de canto é um caso particular das
imagens de radar, que acontece quando uma superfície lisa ao lado de uma feição
vertical (ex. prédio) causa uma dupla reflexão (retorno do solo + retorno do edifício),
produzindo um sinal de retorno muito alto e fazendo com que a feição apareça com
nível de cinza muito claro na imagem.
CAPÍTULO 5 – SENSORES DE MICROONDAS (RADAR) 108
Refletor de canto
Fig. 5.20 Tipos básicos de retroespalhamento do sinal em função das características da superfície.
Fig. 5.21 Classificação das rugosidades das superfícies em função do comprimento de onda,
ângulo de depressão.
Há uma condição única para que os alvos tenham um retorno forte de sinal,
independente do comprimento da onda, da rugosidade da superfície ou do ângulo de
depressão. É quando um alvo tem uma alta constante dielétrica. Constante dielétrica
corresponde à capacidade dos materiais em formar dipolos na presença de um campo
elétrico externo e em armazenar energia. Os alvos naturais para terem altas constantes
dielétricas precisam conter água livre na sua estrutura. O sinal destes alvos é muito
forte, gerando imagens do objeto em tons de cinza muito claros. As rochas e solos
possuem uma baixa constante dielétrica, entre 3 a 8, enquanto a água, presente nas
CAPÍTULO 5 – SENSORES DE MICROONDAS (RADAR) 110
estruturas das folhas de árvores ou como umidade nos solos, tem um valor em torno
de 80. Por causa disso, as vegetações apresentam tons de cinza muito claro nas
imagens de radar, o mesmo acontecendo para as superfícies de solos úmidos, como
ilustrado nas figuras 5.22 e 5.23.
Fig. 5.23 Mata de galeria ao longo dos canais de drenagem com tons claros devido à constante
dielétrica alta da vegetação.
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Fig. 5.24 No centro, imagem de radar mostrando paleocanais de drenagem sob manto de areia
seca. Devido a penetração que o pulso tem em areias secas de baixa constante
dielétrica. Parte colorida da imagem corresponde a imagem do Landsat.
CAPÍTULO 5 – SENSORES DE MICROONDAS (RADAR) 112
113
A figuraESTEREOSCÓPICAS
5.9 IMAGENS 5.26 ilustra as imagem de radar tomadas no modo estereoscópico da
Figura 5.25a, o que pode ser verificado pelo sombreamento, que nas duas imagens
O satélite Seasat, lançado em 27 de junho de 1978, foi o primeiro satélite de
estão nas mesmas faces do relevo.
sensoriamento remoto por radar. Tinha o potencial para monitorar as superfícies das
ondas dos mares, em escala de recobrimento global. Na década de 80 seguiram os
experimentos com a nave Shuttle que conduziram ao estabelecimento dos programas
espaciais de radar por satélites da década de 90, considerada para o sensoriamento
remoto orbital a década dos sensores de radar. Três satélites foram lançados: ERS-1
(European Radar Satellite) JERS-1 (Japanese Earth Resources Satellite) e
RADARSAT (Radar Satellite).
Os sistemas de radar, por possuírem fonte ativa, conseguem imagear uma
órbita completa no globo terrestre. Por exemplo, ele pode tomar uma imagem no
Brasil às 6:00 hs da manhã quando estiver em órbita descendente e uma outra imagem
no mesmo dia, na mesma área, às 18:00 hs quando estiver em órbita ascendente. Neste
caso, a área é vista uma vez de leste e outra vez de oeste, o que permite se fazer
estereoscopia, para ver a superfície em terceira dimensão. È também possível a
obtenção de imagens estereoscópicas, olhando-se a área de órbitas descendentes
diferentes Fig.
(trajetória do satélite
5.26 Imagens de nortetomadas
estereoscópicas para sul). Ambas
no modo as situações
órbitas são mostradas
descendentes.
na figura 5.25.