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CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA: DIFERENÇAS ENTRE


MENINOS E MENINAS

Phonological awareness: boys and girls differences


Michelle Sales de Meneses (1), Giane Passos Lozi (2), Larissa Regina de Souza (3)
,
Vicente José Assencio-Ferreira (4)

RESUMO

Objetivo: comparar crianças do gênero masculino e feminino a fim de verificar a hipótese de um


melhor desempenho das habilidades de consciência fonológica nas meninas. Métodos: aplicou-se a
Prova de Consciência Fonológica (PCF), de Capovilla e Capovilla, em uma amostra de 30 crianças,
sendo 15 do gênero masculino e 15 do gênero feminino, na faixa etária de cinco e seis anos. Resul-
tados: com a análise dos resultados, verificou-se que a hipótese inicial não foi confirmada. Conclu-
são: a partir dos resultados obtidos, conclui-se que não houve diferença significativa em habilidade de
consciência fonológica das meninas em relação aos meninos.

DESCRITORES: Desenvolvimento da linguagem; Desenvolvimento infantil; Aprendizagem; Criança;


Masculino; Feminino

■ INTRODUÇÃO As meninas estão à frente dos meninos em rela-


ção a linguagem oral, discriminação auditiva e coor-
A consciência fonológica á a capacidade de rea- denação visomotora, enquanto os meninos desenvol-
lizar a fragmentação dos sons da linguagem oral, re- vem melhor as habilidades de cálculos matemáticos,
conhecer e operar com as menores partes sonoras orientação espacial e orientação visual, entre outras
8,9
de uma palavra 1. Para que a criança tenha consciên- . As meninas apresentam melhor desempenho ini-
cial na aquisição da leitura e escrita 8.
cia fonológica é necessário que ela supere o pensa-
Exames de neuroimagem funcional comprovam
mento realista nominal que consiste na dificuldade que os meninos e as meninas processam a lingua-
de simbolizar e abstrair 2, 3, diferenciando o objeto (sig- gem de forma distinta. Há indícios de que ao lidar
nificado) do seu nome (significante) 4, 5. No pensa- com material fonológico, as mulheres processam a
mento realista nominal a criança pensa que o nome linguagem verbal nos dois hemisférios ao mesmo tem-
faz parte do objeto, que é uma propriedade do objeto po, enquanto os homens o fazem usando apenas áre-
que ela representa. A criança que ainda não superou as específicas do hemisfério dominante 9,10.
o pensamento realista nominal não se detém nos sons O objetivo desta pesquisa foi determinar se a
das palavras, mas sim na semântica 2. Por outro lado, consciência fonológica ocorre anteriormente nas
a consciência fonológica se desenvolve a partir do meninas, em relação aos meninos.
momento em quem a linguagem escrita é apresenta-
da à essas crianças 4, 6, pois esta representa a fala ■ MÉTODOS
(abstrato) de forma gráfica (concreto) 2, 6,7.
A pesquisa foi realizada em pré-escolares cur-
sando o terceiro período (turma de alfabetização) de
escola de rede particular de nível sócio-econômico
(1)
Fonoaudióloga, Especialista em Linguagem, Fonoaudióloga do
médio-baixo da cidade de Goiânia, Estado de Goiás,
CEAL-LP Centro Educacional da Audição e da Linguagem região centro-oeste do Brasil.
Ludovico Pavoni. Brasília-DF A amostra foi constituída por 30 crianças, sendo
(2)
Fonoaudióloga, Especialista em Linguagem, Fonoaudióloga do 15 do gênero masculino e 15 do gênero feminino de
CAPS Água Viva e da Clínica Gênesis, Goiânia-GO. faixa etária entre 5 e 6 anos. Foi utilizada a prova de
(3)
Fonoaudióloga, Especialista em Linguagem, Fonoaudióloga do
Colégio Valparaízo. Localizado em Valparaízo-GO.
consciência fonológica (PCF) 6 para avaliação da cons-
(4)
Médico, Doutor em Medicina (Neurologia) pela Universidade ciência fonológica (habilidade de manipulação dos
de São Paulo (USP), Professor da Universidade de Taubaté sons da fala) em todas as crianças.

Rev CEFAC, São Paulo, v.6, n.3, 242-6, jul-set, 2004


Consciência fonológica 243
S ín tese F onêm ica (S F)
A PCF é composta por 10 sub-testes: Síntese 14
13 13
Silábica (1), Síntese Fonêmica (2), Rima (3), Aliteração
(4), Segmentação Silábica (5), Segmentação 12

Fonêmica (6), Manipulação Silábica (7), Manipulação 10

Fonêmica (8), Transposição Silábica (9), Transposi-


8
ção Fonêmica (10). Cada um destes sub-testes é F em in in o
M a sc u lin o
composto por 4 itens, sendo que cada item é com- 6

posto, ainda por dois exemplos iniciais. 4


O teste foi aplicado durante sessões individuas 2 2
2
de aproximadamente 20 minutos cada, durante os
meses de março e abril de 2002, na própria esco- 0
A provad os R ep ro vados
la, em sala apropriada. As professoras excluíram
Figura 2 - Distribuição dos resultados do teste de Síntese Fonêmica
as crianças com dificuldades de aprendizagem. Os
equipamentos utilizados foram: um gravador e fita
cassete.
Essa pesquisa foi avaliada e aprovada pelo Co- Após o segundo teste, a criança deveria julgar
mitê de Ética em Pesquisa do Centro de Especiali- dentre três palavras, quais eram as duas que termi-
zação em Fonoaudiologia Clínica com o nº 051/02, navam com o mesmo som, rima. Dezesseis crian-
tendo sido considerada sem risco e com necessida- ças passaram, sendo nove do gênero masculino. Para
de de consentimento pós-informado. a rima foram realizados os dois testes não-
Os testes aplicados foram o teste do Qui-Qua- paramétricos e não foi encontrada correlação com o
drado e o Teste Exato de Fischer, considerando-se o gênero (Figura 3).
índice de significância em 5% (p=0.05). No teste de Aliteração, as crianças deveriam
Foram listados e apresentados em forma de ta- escutar três palavras e apontar as duas que co-
belas e gráficos, os principais resultados extraídos meçavam com o mesmo som. Neste teste apenas
dos testes que foram aplicados. seis crianças passaram, sendo três de cada gê-
nero (Figura 4).
■ RESULTADOS
R im a (R )
No primeiro teste, Síntese Silábica, a criança 10
9
deveria unir as sílabas faladas pelo aplicador, dizendo 9
8
8
que a palavra resultava da união, todas as crianças 7
7
passaram (Figura 1). 6
6
Em seguida a criança deveria unir os fonemas F e m in in o
5
falados pelo aplicador, dizendo que palavra resultava 4
M a s c u lin o

a união. Apenas quatro crianças passaram na sínte- 3


se fonêmica, sendo duas do sexo masculino e dois 2
do feminino (Figura 2). 1

0
A p ro va do s R e p ro va do s
Qui-quadrado= 0.5557 Coeficiente de Contingência: 0.1315 p= 0.46
Fischer:

Figura 3 - Distribuição dos resultados do teste de Rima

S in tese S iláb ic a (S S )
16 15 15 A literação (A )
14
14
12 12
12
12
10
10

Feminino 8
8 F e m in ino
Masculino
M a s cu lin o
6
6

4 4
3 3

2 2

0 0
0 0
A pro vados R ep rov ad os A p ro v a d o s R e p ro v a d os

Figura 1 - Distribuição dos resultados do teste de Síntese Silábica Figura 4 - Distribuição dos resultados do teste de Aliteração

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244 Meneses MS, Lozi GP, Souza LR, Ferreira VJA

M a nipulaçã o S ilábica (M S )
No teste seguinte as crianças deveriam separar
16
a palavra falada pelo aplicador nas suas sílabas com- 14
14
ponentes. Todas as crianças foram aprovadas neste
teste (Figura 5). 12
10
10

F em in in o
S e g m e n ta ç ã o S ilá b ic a (S g S ) 8
M as cu lino

16 6
15 15 5

14 4

12 2 1

10 0
F em in ino A prova do s R eprov ad os
8 M a sculin o Qui-quadrado= 3.33 Coeficiente de Contingência: 0.3162 p= 0.06
6 Fischer:p= 0.08

4
Figura 7 - Distribuição dos resultados do teste de Manipulação
Silábica
2
0 0
0
A p ro v a d o s R e p ro v a d o s
No teste de manipulação fonêmica, no qual a cri-
Figura 5 - Distribuição dos resultados do teste de Segmentação ança deveria adicionar e subtrair fonemas de pala-
Silábica vras, dizendo qual palavra a formada, apenas três cri-
anças passaram no teste, sendo duas do gênero fe-
minino. Não houve qualquer correlação entre o gêne-
No teste de Segmentação Fonêmica, as crian-
ro e passar no teste (Figura 8).
ças deveriam separar a palavra falada pelo aplicador
A maioria das crianças passou no teste de trans-
em seus fonemas componentes. Nenhuma das cri-
posição silábica (18), sendo 8 do gênero feminino
anças passou no teste (Figura 6).
(Figura 9). Também não houve correlação entre o gê-
nero e o teste de transposição silábica.
S e g m e n ta ç ã o F o n ê m ic a (S g F )
M a n ip u la ç ã o F o n ê m ic a (M F )
16 15 15 16
14
14 14 13

12 12

10 10

F em in ino Fem in in o
8 8
M a sculin o M a scu lino

6 6

4 4
2
2 2 1
0 0
0 0
A p ro v a d o s R e p ro v a d o s A p ro v a d o s R e p ro v a d o s
Figura 6 - Distribuição dos resultados do teste de Segmentação
Qui-quadrado= 0.3704 Coeficiente de Contingência: 0.1104 p= 0.54
Fonêmica Fischer: p=0.5

Figura 8 - Distribuição dos resultados do teste de Manipulação


O teste de Manipulação Silábica foi o único teste Fonêmica
que apresentou maiores diferenças com relação ao
Tra n sp os iç ã o S ilá b ica (T S )
gênero. As crianças deveriam adicionar ou retirar sí- 12

labas das palavras, podendo ser no início ou no final 10


10
da palavra, com isso dizer qual palavra foi formada.
Foram aprovadas 24 crianças, sendo 10 do gênero 8
8
7
masculino e 14 do gênero feminino, esses resulta- Fe m inino
6
dos geraram um coeficiente de contigência de 0,3162, 5 M a sculino

o que indica uma fraca associação entre gênero e o 4

resultado do teste (Figura 7). Porém o resultado não


2
é totalmente independente em relação ao gênero.
Para esses dados podemos falar que o gênero femi- 0
A p ro v a d o s R e p ro v a d o s
nino foi razoavelmente melhor que o gênero masculi-
no. Através do Teste Exato de Fischer, com 90% de Qui-quadrado= 0.5556 Coeficiente de Contingência: 0.1348 p= 0.45
Fischer: 0.35
confiança, é estatisticamente significativo dizer que
o gênero interfere em passar ou não no Teste de Ma- Figura 9 - Distribuição dos resultados do teste de
nipulação Silábica. Transposição Silábica

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Consciência fonológica 245

Todas as crianças foram reprovadas no teste de síntese fonênica, pois a consciência fonêmica é a
transposição fonêmica, no qual a criança deveria in- tarefa de maior complexidade porque é necessário
verter os fonemas de palavras dizendo qual a palavra que a criança compreenda que as palavras são for-
formada (Figura 10). madas por estruturas mínimas que podem ser seg-
mentadas, aglutinadas, subtraídas, acrescentadas e
Tra n sp os iç ã o F o n ê m ic a (T F )
recombinadas para posteriormente serem transcritas
16 15 15
foneticamente 1,11,12.
14 Para a aquisição da consciência fonêmica, sendo
12
as atividades desse conceito consideradas as mais
10
complexas, seria necessária a aquisição do código
Fe m inino
escrito do sistema alfabético 2,12. Em função da idade
8
M a sculino
das crianças ser entre 5 e 6 anos, as mesmas não
6
demonstraram domínio nesses níveis elevados de cons-
4
ciência fonológica e isso se refere ao fato de essas
2 crianças ainda não estarem alfabetizadas.
0 0
0 Acreditamos que a avaliação da consciência
A p ro v a d o s R e p ro v a d o s
fonológica é muito importante para detectar precoce-
Figura 10 - Distribuição dos resultados do teste de Transposição mente déficits fonológicos e prever o sucesso do pro-
Fonêmica cesso de aquisição de leitura e escrita. Também apon-
tam diretrizes para a educação fornecendo subsídios
seguros para orientação de pais e professores em
geral.
■ DISCUSSÃO A possibilidade de exploração de tais aspectos
com maior profundidade reside na ampliação da
Ressaltamos os sub-testes de síntese silábica e amostra estudada.
segmentação silábica, nos quais ambos os gêneros
alcançam 100% de acerto. A habilidade em análise ■ CONCLUSÃO
silábica surge entre os quatro e cinco anos de idade.
Alguns autores relatam que o sub-teste de síntese A partir dos resultados obtidos, conclui-se que não
silábica seria o de mais fácil execução, sendo o pri- há diferença significativa em habilidade de consciên-
meiro a ser adquirido por ser composto por silabas, cia fonológica das meninas em relação aos meninos.
já que a silaba é considerada como a menor unidade Porém, deve ser levado em consideração o teste
natural de segmentação da fala 6. de manipulação silábica, no qual, as meninas tiveram
Os menores escores foram nos sub-testes de um melhor desempenho considerado significativo.

ABSTRACT

Purpose: to compare children of both male and female gender to confirm the hypothesis of a better
ability performance of phonological awareness in girls. Methods: a Test of Phonological Awareness
(PCF) that was proposed by Capovilla and Capovilla was applied to 30 children, 15 boys and 15 girls,
ranging between five and six years old. Results: with the analysis of the results, the hipothesis was not
confirmed. Conclusion: there were no significant differences between boys and girls.

KEYWORDS: Language development; Child development; Education; Learning; Child; Male; Female

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RECEBIDO EM: 23/03/03


ACEITO EM: 22/04/04

Endereço para correspondência:


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Sobradinho - Brasília - DF
CEP: 73015-320
Tel: (61) 591-5158
e-mail: menesesmichelle@ig.com.br

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