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indisciplina

Publicado em NOVA ESCOLA Edição 226, 01 de Outubro | 2009

Aluno em foco

O que é indisciplina
Exaustiva e desafiadora, a indisciplina representa uma
enorme dificuldade para o trabalho dos professores. Não
existe solução fácil, mas não desanime! Nesta reportagem,
convidamos você a refletir sobre as causas do problema. E
neste conjunto de links, sugerimos mais de 90 alternativas
para começar a vencê-lo
NOVA ESCOLA

Paulo Vitale. Clique para ampliar

HUMOR COM REFLEXÃO Nos


quadrinhos abaixo, Calvin vive situações
que evidenciam algumas causas da
indisciplina.

Que a profissão docente passa por um momento delicado é algo reconhecido


não apenas por quem faz da sala de aula o seu dia a dia, mas também pelos
estudiosos que se debruçam sobre o assunto. Philippe Perrenoud, referência
na sociologia da Educação, costuma afirmar que nunca foi tão difícil ser
professor.

Isso porque a escola passa por dois movimentos de mudança - ambos externos
aos seus muros. Por um lado, cobram-se cada vez mais tarefas da instituição:
ensino dos conteúdos regulares, temas transversais, cidadania, ética, Educação
sexual e por aí vai. De outro, afirma o especialista, "as condições de exercício
da profissão estão cada vez mais difíceis".

Entre essas dificuldades, a indisciplina lidera a lista de queixas. Pesquisa


realizada por NOVA ESCOLA e Ibope em 2007 com 500 professores de todo o
país revelou que 69% deles apontavam a indisciplina e a falta de atenção entre
os principais problemas da sala de aula. Só quem sente na pele a questão no
cotidiano tem a real dimensão de como o problema é desgastante, levando ao
desestímulo com com a profissão e, muitas vezes, até ao abandono.

Mas, calma. Respire. É possível, sim, virar esse jogo. Quer conseguir uma turma
atenta e motivada? Sim, é possível. Na maioria das vezes, trata-se de um
trabalho de longo prazo, com avanços e recuos e rediscussões permanentes,
em que o trabalho em equipe é essencial. Não há receita mágica, mas muitos
caminhos para chegar lá.

Desde sua criação, NOVA ESCOLA ajuda você a lidar com a indisciplina. Nas
páginas da revista, você encontra todo mês as reflexões de Telma Vinha,
professora da Unicamp, que responde a dúvidas (reais!) sobre comportamento
(clique aqui para ver todo o arquivo já publicado).

E, aqui no site, você tem acesso a dezenas de reportagens que exploram


pormenores sobre o tema. No quadro à direita, selecionamos textos e recursos
multimídia campeões de audiência. E, no quadro abaixo, reunímos mais de 90
links para atacar de frente a indisciplina e seus problemas correlatos, bullying e
violência escolar.

Esta reportagem especial pode servir como porta de entrada para o assunto.
Nela, fazemos um convite: é hora de rever sua ideia de indisciplina e o que há
por trás dela. A proposta de reflexão é a seguinte: Será que existe algo que
você pode transformar em sua prática pedagógica para diminuir o
problema?

Para que você avance nessa reflexão, é preciso entender que a indisciplina é a
transgressão de dois tipos de regra.
1- O primeiro tipo são as regras morais, construídas socialmente com base
em princípios que visam o bem comum, ou seja, em princípios éticos. Por
exemplo, não xingar e não bater. Sobre essas, não há discussão: elas valem
para todas as escolas e em qualquer situação.

2- O segundo tipo são as chamadas regras convencionais, definidas por um


grupo com objetivos específicos. Aqui entram as que tratam do uso do celular
e da conversa em sala de aula, por exemplo. Nesse caso, a questão não pode
ser fechada. Ela varia de escola para escola ou ainda dentro de uma mesma
instituição, conforme o momento. Afinal, o diálogo durante a aula pode não ser
considerado indisciplina se ele se referir ao conteúdo tratado no momento,
certo?

É na distinção entre moralidade e convenção que podemos começar a trilhar


um caminho promissor. Na prática, separar uma coisa da outra não é fácil.
Frequentemente, mistura-se tudo em extensos regimentos que pouco
colaboram para manter o bom funcionamento da instituição e o clima
necessário à aprendizagem em sala de aula.

"A situação piora ainda mais se essas convenções se baseiam em permissões,


proibições e castigos sem nenhum tipo de negociação", explica Ana Aragão, da
Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Os
cartuns do adorável Calvin, criação do norte-americano Bill Waterson,
exploram com maestria essa constante (veja exemplos ao longo da reportagem
ou clique aqui para acessar uma galeria com mais de 150 tirinhas).

Mas, e na vida real? Existe algum jeito de driblar essas situações que só tem
graça no papel? Sim, e seu papel é fundamental. É o que discutimos na
continuação deste texto.

CONHECIMENTO É AUTORIDADE O que


se espera da escola é conhecimento. É
isso que faz o aluno respeitar o ambiente à
sua volta. Se não, a tendência é ele
procurar algo mais interessante para fazer.
Universal Press Syndicate

Sem sua ajuda, a criança não aprende o valor das regras

O movimento contínuo de construção e reavaliação de regras, mais o respeito


a elas, é a base de todo convívio em sociedade. Da mesma forma que os
conflitos nunca vão deixar de existir na vida em comunidade - no contexto
escolar, especificamente, eles também não vão desaparecer. Saber lidar com
eles faz com que você consiga trabalhar melhor. "Esperar que os pequenos, de
modo espontâneo, saibam se portar perante os colegas e educadores é um
engano. É abrir mão de um dever docente", explica Luciene Tognetta, do
Departamento de Psicologia Educacional da Faculdade de Educação da
Unicamp.

Mas muitos professores esperam que essa formação moral seja feita 100%
pela família... "Não se trata de destituí-la dessa tarefa, mas é preciso enxergar
o espaço escolar como propício para a vivência de relações interpessoais",
pondera Áurea de Oliveira, do Departamento de Educação da Universidade
Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp), campus de Rio Claro.

As questões ligadas à moral e à vida em grupo devem ser tratadas como


conteúdos de ensino. Caso contrário, corre-se o risco de permitir que as
crianças se tornem adultos autocentrados e indisciplinados em qualquer
situação, incapazes de dialogar e cooperar. Pesquisa de 2002 com 120
universitários, de Montserrat Moreno e Genoveva Sastre, da Universidade de
Barcelona, indagou sobre a utilidade do que eles aprenderam na escola para a
resolução de conflitos na vida adulta. Apenas 3% apontaram que os
professores lhes ensinaram atitudes e formas específicas de agir. "Esses
resultados certamente são próximos da realidade brasileira", afirma Luciene.
"Nosso estilo de ensinar é parecido, pois joga pouca luz sobre o currículo
oculto, aquele que leva em conta o sentimento do estudante, seus desejos,
suas incompreensões."

AULAS COM SENTIDO Não adianta exigir


que os alunos cumpram as tarefas se o
conteúdo ou a estratégia de ensino tem
pouco a dizer para eles. Universal Press
Syndicate

Em vez de agir sobre a consequência, procurar a causa

Saber como o ser humano se desenvolve moralmente é essencial para


encontrar as raízes da indisciplina. Antes de entender por que precisam agir
corretamente, as crianças pequenas vivem a chamada moral heterônoma, ou
seja, seguem regras à risca, ditadas por terceiros, sem usar a própria
consciência para reelaborá-las de acordo com a situação. Por exemplo: se elas
sabem que não se deve derramar água no chão, julgam o fato um erro mesmo
no caso de um acidente. Nessa fase, a autoridade é fundamental para o bom
andamento das relações.

Por volta dos 9 anos, abre-se espaço para a construção da moral autônoma,
quando o respeito mútuo se sobrepõe à coação. Mas a mudança não é mágica.
O cientista suíço Jean Piaget (1896-1980) questionava a possibilidade de a
criança adquirir essa consciência se todo dever sempre emana de pessoas
superiores. Assim, é possível dizer que a autonomia só passa a existir quando
as relações entre crianças e adultos (e delas com elas mesmas) são baseadas,
desde a fase heterônoma, na cooperação e no entendimento do que é ou não
é moralmente aceito e por quê. Sem isso, é natural que, conforme cresçam,
mais indisciplinados fiquem os alunos.

Isso deixa claro que a rota de combate à indisciplina não passa, como pensam
alguns, por uma volta à "rigidez de antigamente" - inflexível, que contava até
mesmo com castigos físicos. O professor precisa, sim, de autoridade perante a
classe. Mas ela só é conquistada quando ele domina o conteúdo e sabe lançar
mão de estratégias eficientes para ensiná-los.

Se não, como bem descreve o psicólogo austríaco Alfred Adler (1870-1937), a


Educação se reduz ao ato de o aluno transcrever o que está no caderno do
professor sem que nada passe pela cabeça de ambos. "O resultado é o tédio. E
gente entediada busca algo mais interessante para fazer, o que muitos
confundem com indisciplina. A escola é, sem dúvida, a instituição do
conhecimento, mas é preciso deixar espaço para a ação mental da turma",
afirma Luciene.

Olhar para a sala de aula tendo como base essa concepção de indisciplina faz
diferença. Os benefícios certamente serão maiores se houver o envolvimento
institucional. Por isso, o trabalho exige não apenas autorreflexão mas também
formação e esforço de equipe. Para transformar o ambiente, o discurso tem de
ser constante e exemplificado por ações de todos (leia reportagem sobre como
lidar com o problema e um projeto institucional para a formação da equipe).
REGRAS IMPOSTAS Quando a conversa
é sempre proibida, perde-se a chance de
favorecer a troca de ideias. Em muitas
ocasiões, o diálogo é produtivo. Universal
Press Syndicate

Quer saber mais?

CONTATOS
Adriana de Melo Ramos
Ana Aragão
Áurea de Oliveira
Luciene Tognetta
Maria Teresa Trevisol
Telma Vinha
Vanessa Vicentin

BIBLIOGRAFIA
Crise de Valores ou Valores em Crise?, Yves de La Taille e Maria Suzana de Stefano Menin, 198 págs., Ed., Artmed,
tel. 0800-7033-444, 38 reais
E Quando Chega a Adolescência - Uma Reflexão Sobre o Papel do Educador na Resolução de Conflitos entre
Adolescentes, Vanessa Vicentin, 128 págs., Ed. Mercado de Letras, tel. (19) 3241-7514, 32 reais
Falemos de Sentimentos - A Afetividade como um Tema Transversal, Montserrat Moreno, Genoveva Sastre, Aurora
Leal, Maria Dolors Busquets, 144 págs., Ed. Moderna, tel. 0800-172-002, 38,50 reais
Formação Ética - Do Tédio ao Respeito de Si, Yves de La Taille, 316 págs., Ed. Artmed, 54 reais
Indisciplina na Escola - Alternativas e Práticas, Julio Groppa Aquino (org.), 152 págs., Ed. Summus, tel. (11) 3872-
3322, 33,90 reais
Limites: Três Dimensões Educacionais, Yves de La Taille, 152 págs., Ed. Ática, tel. 0800-115-152, 36,90 reais
O resgate da autoridade em educação, Gérard Guillot, 192 págs., Ed. Artmed, 44 reais
Quando a Escola é Democrática - Um Olhar Sobre a Prática das Regras e Assembleias na Escola, Luciene Regina
Paulino Tognetta e Telma Pileggi Vinha, 144 págs., Ed. Mercado de Letras, 32 reais
Relação Pedagógica Disciplina E Indisciplina na Aula, Maria Teresa Estrela, 128 págs., Ed. Porto,
www.portoeditora.pt, 53,17 reais (à venda na Livraria Cultura)
Resolução de Conflitos e Aprendizagem Emocional, Genoveva Sastre e Montserrat Moreno, 296 págs., Ed. Moderna, 44
reais

Internet
A Qualidade da Educação sob Olhar dos Professores, da Fundação SM e da Organização dos Estados Ibero-
americanos (OEI)
Tese de doutorado O Processo de Resolução de Conflitos entre Pré-Adolescentes: O Olhar do Professor, de Sandra
Cristina Carina
Tese de doutorado Os Conflitos Interpessoais na Relação Educativa, de Telma Vinha
Dissertação de mestrado A Construção da Solidariedade em Ambientes Escolares, de Luciene Tognetta
Anais do I Congresso de Pesquisas em Psicologia e Educação Moral
Texto A Dimensão Ética na Obra de Jean Piaget, de Yves de La Taille
Texto Moralidade e Violência: A Questão da Legitimação de Atos Violentos, de Yves de La Taille
Pesquisa Valores dos Jovens de São Paulo, da Fundação SM

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