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LAHR

World of the Primordials

Um

No inicio, era o nada.


Não.

No inicio, Não-Era; e, ainda assim, Eles estavam lá.


Não havia significado para Tempo ou Existência – não haviam
significados; nem intenções, ou atitudes, ou...
...nada.
Não existia nada. O Nada. Eles simplesmente Eram – em Não-Sendo.
De repente, um som.
Gritos horrendos, fantasmagóricos, inumanos irromperam das Trevas
silenciosas, vindos de toda parte e de lugar algum ao mesmo tempo...
Começou baixinho, como um zumbido quase inaudível – e então,
tiveram consciência que haviam concebido o Inicio – e foi crescendo,
num pulsar cíclico, num ribombar rítmico de algo que nunca se
ouvira; e as Trevas se contorceram, gritando de horror e dor, em
espasmos – como uma mãe que é rasgada por inteiro durante o parto,
mãos e facas e serras lacerando pele, carnes, entranhas... Mas foram
diminuindo e silenciando, tão lentamente quanto se iniciou, num
morrer vagaroso, um estertorar ritmado, e então...

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...o Som não estava mais lá.
Um brilho tênue, quase imperceptível surgiu enquanto os espasmos
diminuíam, e, conforme as convulsões abrandavam, ia se tornando
mais e mais forte, mais brilhante, até que se tornou Luz; e iluminou o
Ser que ali estava: o Primeiro-Entre-Eles...

O Primeiro estendeu sua mão à luz, e escolheu uma chama de cores


claras como seu pensamento – uma chama de uma Existência plena,
de um branco azulado que crepitava em lampejos de prata... E
tomando-a para Si, disse:
“Tomo para mim o Fogo de Ammon-Thar, pois que é o Fogo de Toda a
Criação. Que seja plena de Vida a Existência, e sobre minhas obras
recaiam todas as bênçãos.”
E, assim dizendo, afastou-se, levando sua chama aos que ainda não
houveram tocado.
Mas eis que outro teve o mesmo impulso, mas as bênçãos haviam
sido tomadas pelo Primeiro; e o Segundo colocou-se então a olhar a
chama multicor da Existência, a pensar. E então veio um Terceiro,
ávido pela glória da Criação, pelo fulgor e poder inerente, e tomou
para si uma chama esverdeada – mas a Existência não poderia ser
manipulada pelo puro desejo vaidoso, nem submetida à vontade
orgulhosa, e a chama fez-se negra como as Trevas, embora em
lampejos esmeraldas; e o Terceiro contorceu-se em desgosto e ódio,
julgando-se preterido pela Existência, dizendo:
“Maldigo as bênçãos que me foram tomadas; se me sobram as
chagas da Existência, vos digo: Anátema! Que seja então temido o
Fogo de Ur-Naghôr – o Fogo da Ruína, como lembrança de que tudo
acaba!”
E tornou às Trevas, vagamente iluminadas pelo fantasmagórico lume
esverdeado...
Mas antes que as chamas se extinguissem por completo, o Segundo
tomou para si as últimas claridades daquelas chamas, ainda ardentes
como brasas de um vermelho-dourado, e fê-las novamente em
labareda, dizendo:

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“Está a sorte lançada! Entre o Fogo Fulgurante de Ammon-Thar e o
Fogo Negro de Ur-Naghôr, há pouca coisa que os separe... Que seja
então esta chama o Fogo que Forja e que Destrói – um Fogo Sem
Nome, mas que una ambos em equilíbrio, servindo para ambos os
propósitos, pois há de existir um Equilíbrio, um meio entre opostos,
entre o Fim e o Início entre as bênçãos e as chagas da Existência...”
E retirou-se, enquanto e uma multitude de pares de olhos sem corpos,
ofuscado pelas Três Luzes, fugiram para as Trevas reconfortantes.
E o Primeiro contou a Eles seu plano, de moldar os Fogos – as Três
Luzes, e com ele Criar – e convocou o Segundo e o Terceiro, pois
não há Existência sem seu inverso, nem criação que não encontre seu
Fim; e os Três tomaram dos Fogos, e moldaram-nos, esfriando-os ou
aquecendo-os conforme suas necessidades, e enfim não havia um só
local na Existência que não houvesse ao menos um Resquício de
Luz... E outros pares de olhos fizeram-se Corpos e nominaram-se de
acordo com suas inclinações; e Eles viram o que havia sido criado, e
sua Criação era bela, e era boa, e Eles se rejubilaram... Menos um.

Vendo o júbilo e as bênçãos de seus iguais, o Terceiro teve inveja. E,


pela primeira vez, houve um sentimento ruim, Mau.

E o Primeiro sentiu-o, sentiu sua ganância, inveja e ódio, e teve


medo por sua Criação, e chorou...

O Segundo e alguns d’Eles juntaram para si as lágrimas do


Primeiro, e esfriaram as Luzes – e surgiram mundos, ainda frios e
rochosos como uma casca, mas os Eles começaram seus trabalhos de
moldar-lhes a forma e natureza.

Havia Existência, enfim...


...E Eles estavam lá.

* * *

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Dois
Nunca se soube, exatamente, quantos Eles eram, ou O Que eram, ou
Por que eram: Eles Eram, mesmo quando ainda Não-Eram.

Os Três foram os primeiros a serem conhecidos – pois os Três


governavam o inicio, meio e fim; o nascer, o crescer e o morrer; o
criar, o desenvolver e o destruir; o Tempo; a Existência. Os Três-Que-
Foram-Os-Primeiros-A-Ser.

E foram tidos como os maiores, embora não o fossem; mas muito se


gosta de historias de Poder, e de se hierarquizar regras e conceitos, e
de classificações – e então, foram tidos como os maiores.
O Primeiro, o Segundo e o Terceiro: assim foram conhecidos os
Três no inicio – mas isso já não era suficiente, e muitos nomes foram
dados aos Três pelos Primordiais, os Pais e Mães dos Povos que
caminham pela Existência.
É certo que havia muitos outros – ninguém sabe quantos ao certo – e
que muitos existem que não são conhecidos, e, portanto, inexistem
aos olhos comuns... Que dirá às mentes comuns. Mas os Três foram
cultuados desde os primórdios.
Mas o Tempo – esse Ser inatento a todos os assuntos, salvo os seus –
continuou a remar seu barco no grande rio da Eternidade, alheio às
maldições, planos e desejos; e chegou enfim a época em que o
Primeiro, que foi chamado Ammon-Thar, Senhor do Fogo da Criação,
chamou a si todos Eles, e lhes partilhou de sua felicidade:

“Eis que é concluída a Criação! É bela e boa, e nos devemos alegrar,


pois que fomos gentis e laboriosos; mas ainda falta um Algo que a
complete: uma centelha de vida inteligente, um Povo que a possa
admirar e dela cuidar, amando-a. E é aqui que devemos atentar – que
Vida, que Inteligência poderia exercer tal fascínio, senhora e irmã da
Criação? Trabalhai, meus irmãos, e, num último esforço, dá Vida e
Graça àqueles que herdarão nosso legado...”

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E Eles puseram-se ao trabalho, engendrando formas, matérias, cores
e elementos, aos quais davam vida, sempre insatisfeitos com o pleno
resultado – mas o Terceiro crescia em ódio e despeito, e a tudo
tocava, conspurcando – e assim foi que uma gama de monstros e
criaturas das quais as lendas apenas sussurram, tornaram à vida, os
Hen’Answyhr, os Terrores Antigos dos mitos e lendas,
monstruosidades consumidas pela mácula do Terceiro – até que, o
Segundo tomou para si algumas das criações, e, tomando dos Três
Fogos, e com as bênçãos do Primeiro e as chagas do Terceiro,
moldou-os em formas esguias, belas e delicadas, mas fortes e
resistentes, e os Três sopraram neles a Vida, e levou-os à presença
d’Eles, dizendo o Primeiro:

“Eis aqui um Belo Povo, ao qual cedi todo amor pela Criação, um Povo
que será Sábio e Justo – se assim o quiseres, e viverá eternamente, se
for de vossa vontade.”

E vociferou o Terceiro, antes que respondessem: “Jamais haverá na


Criação tal coisa, pois não há Início que não conheça seu Fim; e
sentirá este Povo desejo, cobiçando a Glória que é nossa por direito, e
morrerão sem alcançar jamais, nunca se satisfazendo.” – e mesmo
Eles tremeram ante tão triste fortuna, mas o Segundo acalmou-lhes
os espíritos, dizendo:

“Haverá sim de morrer, pois justo é que toda Criação chegue a termo;
mas o Tempo não lhes consumirá. Apenas poderão eles mesmos, ou
nós lhes tirarmos a vida, pois dependerá deles então, sua própria
sobrevivência...”

E então, seus filhos e filhas foram conhecidos como os Primordiais –


pois foram os primeiros a andar pela Existência. Souberam, de
imediato, O Que eram: Eram o Povo d’Eles, nascido daqueles que
geraram a Vida, Não eram humanos, nem inumanos em demasia para
serem classificados como outro povo, mas eram como uma mistura

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de todos os Povos que hoje habitam Lahr – perfeitos em sua
completude, mas ainda vazios de experiência.

Os Primordiais – o Povo d’Eles.

Aos Primordiais, Filhos e Filhas d’Eles, foi dado Lahr, para que
reinassem sobre toda a Criação – pois que Lahr localizava-se em seu
centro, e em seu próprio interior localizava-se uma cadeia
montanhosa circular, em forma de anel, cujo cume era impossível de
ser visto, pois que se arrojavam através dos céus qual colossais
torres, de um cinza metálico, como se feito em prata e pedra – e os
Primordiais a chamaram Eryth Khellehar, as Montanhas de Prata,
que escondia em seu interior um bosque sagrado – a conexão entre
Lahr e Eles;.

A maior parte de seus nomes perdeu-se nas areias da história, e


muitas lendas e mitos foram construídos a cerca dos Primordiais, os
Pais e Mães dos Povos que caminham pela Existência – mas foram
eles que legaram aos Povos de Lahr as línguas, culturas e
conhecimento das coisas, e são reconhecidos por tal.

Filhos e Filhas d’Eles, continham em si a centelha da Imortalidade,


uma herança divina de habilidades, vontades e desejos, e
espalharam-se por toda Lahr, conforme bem lhes aprazia; falavam a
mesma língua e possuíam a mesma cultura, mas eram diferenciados
por seus dons e inclinações – e assim surgiram as primeiras
comunidades em Lahr, e cada qual conforme os recursos, climas e
geografias locais, e trabalhavam a terra conforme podiam e sabiam, e
fizeram uma única civilização que perdurou por tempos incontáveis...

...e agradavam a Eles.

Mas a essência da imortalidade levou-os ao conhecimento pleno da


Beleza, da Glória e da Perfeição, e os Primordiais conheceram o
Orgulho – e, pela primeira vez, ouviram-se palavras de fel, e
desejaram não o que possuíam, mas o que possuíam os outros, e

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oTerceiro sussurrou-lhes o Desejo e viram em muitos corações brotar
a Inveja e a Ganância...

...e logo a Desgraça e a Destruição se abatiam sobre os Primordiais.

E houve Guerra.

A Guerra dos Mil Nomes – assim foi chamada, pois que a Língua
Ancestral dos Primordiais dividiu-se em muitas – trouxe o fim a uma
Era de mitos e glória; os Filhos e Filhas dos Três jogaram-se uns
contra os outros, em frenético desejo de sangue, e seus filhos, e os
filhos de seus filhos os acompanharam: a Guerra trazia o fim de seu
tempo, e os Primordiais conheceram a Queda.

Reuniram-se em grupos cujas habilidades e desejos partilhavam, e


utilizaram todo seu potencial para a obtenção do que desejavam,
satisfazendo, assim, sua ganância; estes grupos criaram novas formas
de se comunicar, e as Línguas Conhecidas surgiram, extinguindo a
Língua Ancestral. Seus filhos, e os filhos de seus filhos, utilizavam-se
de indumentárias semelhantes, e reconheciam – e suas aparências
refletiam mais que seus dons, mas seus desejos e ambições...

Lideres surgiram e caíram, em uma Guerra que durou um tempo


quase infinito, e Lahr sofreu sob o peso de sua força, poder e magia –
e os continentes se dividiram, e Lahr contorceu-se em desespero e
dor, enquanto o sangue dos Primordiais embebia-lhe o solo, e o
Terrores Antigos, conspurcadas pelo Terceiro no início dos tempos,
andaram por sobre Lahr – e mesmo os Primordiais temiam os
Hen’Answyhr...

E, como num imenso parlamento, Eles reuniram-se.


Discutiam sobre a Guerra que ameaçava a própria Existência...

...e decidiram.

Desceram sobre o que restava de Lahr, e leram os pergaminhos que


lhe ditavam os destinos: muitos eram tão sinistros e nefastos, que

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Eles criaram uma terra, abaixo das Trevas, em que se lhes refletiam
os espíritos maléficos – e outros, ainda dotados de pureza e virtudes,
já não mais cabiam entre seus pares, e uma outra terra, acima da
Luz, foi-lhes dada, para que vivessem em jubilo...

E Eles aprisionaram as Essências dos Primordiais em artefatos, e


estes perderam sua Imortalidade, e muito das suas “centelhas
divinas”. E espalharam estes artefatos – a que chamaram Selos – por
toda Lahr, escondendo os Selos em formas simples, em objetos e
locais (pois um ser vivo jamais conseguiria suportar essa “centelha
divina”, e seria imediatamente destruído...), e assim, deixaram Lahr e
toda a Realidade conhecida, apenas os Três ficando...

...Embora existam lendas de que alguns d’Eles permaneceram em


segredo, encarnados em formas mortais, em geral obscuras, para
vigiar a Existência – e a estes se deu o nome de Prothei (sing.
Protheus, Prothea), pois vieram antes dos que continham a
“centelha divina”.

A Guerra dos Mil Nomes chegou então a um termo; e, com ela, uma
Era de mitos e glória, que ficou para sempre conhecida como a Era
Antiga (Elder Age) – e sobre Lahr um tempo novo raiou sobre um novo
mundo, pois os Três houveram de recriar o que havia sido destruído,
mundo e a Vida – não mais com a fagulha imortal dos descendentes
d’Eles, mas mortais como os filhos dos filhos dos Primordiais
haveriam de ser, e estes lembravam todo o sofrimento que passaram,
e retiraram-se, aflitivos ante o sombrio porvir que se lhes desenhava
o futuro...

E apenas alguns dos Primordiais permaneceram em Lahr,


escondendo-se em formas comuns, por entre os Povos que brotaram
dos filhos dos filhos de seus filhos, vigiados, E sumiram por entre os
Povos, apenas lendas e sussurros, falseando identidades e nomes,
secretivos, esperando encontrar os Selos e retornar à Glória perdida...

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* * *

Três
Foram poucos os Primordiais que sobreviveram ao fim da Guerra dos
Mil Nomes.

Eram Imortais, perante seus filhos e os filhos de seus filhos, e os filhos


destes, e todos os que viriam no decorrer do Tempo; mas poderiam
morrer, se assim Eles quisessem, e se enfrentassem uns aos outros
em duelos de morte – e mesmo as criaturas Sob-as-Trevas ou Acima-
da-Luz, que um dia haviam também sido Primordiais, poderiam
matar-lhes – e eles se entristeceram, e sumiram por Lahr, viveram
para virarem lendas, seus nomes esquecidos, seus feitos em ruínas,
sua Queda para sempre lembrada.

Para aqueles que foram arrojados de Lahr, devido ao negror de seus


espíritos – e por isso foram chamados de Anjos Negros ou Caídos –
Eles criaram Thannatur, o Reino dos Condenados, a Morada do
Desespero, o Abismo das Almas Torturadas, uma terra de escuridão
eterna, onde a sanidade é lentamente devorada pelo suplício infinito,
onde o Mal é a única Fonte, onde o Fogo de Ur-Naghôr brilha sinistro –
a morada do Terceiro. Ali, os Anjos Negros ou Caídos governam, em
suas guerras infindas, tramas mesquinhas, deliciando-se na
Corrupção dos Virtuosos, gerando o pecado; e entre estes cinco são
os maiores, pois são os mais próximos do Terceiro, e seus corações
são de um negrume tão intenso e vil que apenas seu olhar é capaz de
levar à destruição aos Povos. E entre os Anjos Negros ou Caídos, os
maiores são aqueles conhecidos como os Cinco-Sob-As-Trevas:
Ashmodai, o Príncipe do Sangue Negro, um ser de puro ódio, cujo
desejo maior não é outro senão o extermínio cruel de toda Existência,

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como vingança; Molloch, Portador da Queda, O Corruptor, cujo prazer
é ver a Existência cair como ele próprio; Mammon, Senhor das
Riquezas, o Sedutor, aquele cujas palavras não devem ser ouvidas,
cujo brilho é a causa máxima da desgraça; Baal’zebub, O-Que-
Devora, horrendo e odiento, que consome corpos e plantações,
senhor das pestes e das calamidades; e Lyllith, a Senhora Negra,
cujos prazeres abrem as portas da danação.

Mas existem também aqueles que foram exaltados por serem pilares
das Virtudes, Seres de Pureza e Bondade, chamados de Anjos
Iluminados ou Exaltados, cujos corações gloriosos levaram Eles a
criarem uma região de jubilo e glória, acima da luz, em cujo seio
governam os Três-Acima-Da-Luz: é em Aedhen que governam os
maiores entre os que ascenderam – Elohim, Senhor da Glória,
Portador das Virtudes, aquele que é o ideal a ser alcançado; Cherub,
o Protetor, aquele que preserva o esplendor da Existência, que
governa a eterna guerra com os Anjos Negros ou Caídos; e Seraph, o
Obreiro Divino, que guarda e repara a Criação, protegendo-a contra os
males, sempre atento ao que o Bem pode criar. Aedhen é uma terra
esplendorosa, de iluminação e misericórdia, onde a Criação colhe as
bênçãos jubilosas dos corações sagrados à Virtude; é a Casa
Radiante, chamada de as Terras Iluminadas, a morada do Primeiro o
Reino dos Anjos Iluminados ou Exaltados.

Existem outros Seres – ou Anjos, que habitam os Reinos Etéreos: ilhas


(ou semiplanos) que flutuam no Mar Astral (Astral Sea), que
conecta Lahr, Thannathur e Aedhen, e cada um desses Reinos
Etéreos tem sua própria aparência e habitantes, sendo alguns
sombrios e cruéis, enquanto outros são luminares da Virtude – e uma
miríade de Reinos entre os opostos.

É no Mar Astral que se situa Barl’Osèdd – o Trono do Equilíbrio, lar


do Segundo, no centro do Mar Astral, chamada de Sede do Fogo
Sem Nome, Forja dos Elementos: é uma terra de extremos e

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completude, onde Luz e Trevas convivem lado a lado, com tênues
fronteiras como borrões; ali, o Segundo julga, planeja e comanda
suas ações na busca do equilíbrio entre o Primeiro e o Terceiro,
auxiliado por Ennoch, o Anjo do Equilíbrio, Mensageiro dos Três,
cujas hordas praticam tanto o Mal quanto o Bem, promovendo o Caos
ou a Ordem conforme necessário ao Equilíbrio.

Outros Anjos existem, governando Reinos Etéreos – pequenos ou


grandes, conforme sua natureza e necessidade – sempre sob o olhar
do Segundo; Anjos como Sammar e seus Anjos-da-Justiça, nem bons,
nem maus, apenas cumpridores céticos da Justiça, da Retribuição e
da Vingança; Azrael, e seus Anjos-da-Morte, chamados de
Ceifadores, cuja única preocupação é trazer a Morte quando o Tempo
assim determina; Yazath e seus Anjos-Inspiradores, patronos das
artes, das paixões e dos excessos; e os Anjos-Feiticeiros, que
manejam e observam o uso da magia, sob o comando dos Anjos-
Gêmeos da Magia, Haer-Uth o Imaculado, e Mahr-Uth, o Profano.
Outros ainda existem, como os chamados Anjos-Elementais, Anjos-
Faéricos ou os Anjos-das-Sombras, cada qual com seus atributos e
Reinos Etéreos próprios, seus líderes – como Aïne, a Rainha das
Fadas.

Mas existe uma estirpe de Anjos que não habitam Aedhen ou


Thannathur – ou qualquer dos Reinos Etéreos do Mar Astral; estes
Anjos servem diretamente aos Três, e tem a própria Lahr como
morada: sua função é vigiar, controlar e lidar com os Primordiais
que ainda estão em Lahr,bem como combater as criaturas e
monstruosidades da Era Antiga (Elder Age) – criaturas conspurcadas
pelo Terceiro, durante a Criação, antes da Queda dos Primordiais, –
chamados de os Anjos-Vigilantes, ou Grigori – uma corruptela da
Lingua Ancestral, em que a palavra “Egregorai” significava
“Vigilantes Divinos”.

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Os Grigori tentam agir o mais disfarcadamente possível, pois a mera
presença de um Anjo em meio à população comum de Lahr poderia
trazer pânico e grandes catástrofes a uma comunidade, por melhor
que fossem as intenções envolvidas – e os Três os proíbem de se
revelarem, assim esperando evitar uma nova seqüência de fatos que
levou os Primordiais à Queda – mas ainda assim, existem relatos,
visões e revelações feitas aos clérigos e outros usuários de magia
sobre o papel e presença dos Grigori em Lahr, quase sempre mantida
em segredo – bem como a presença dos Primordiais, e das criaturas
monstruosas da Era Antiga (Elder Age), conhecidas coletivamente
como Hen’Answyhr – os Terrores Antigos.

E todos estes, chamados Anjos-Maiores – ou Arcanjos – fossem Caídos


ou Exaltados, ou de qualquer outra natureza, eram quase-deuses e
quase-deusas, e como tais foram venerados pelos Povos de Lahr; mas
também estes tinham suas essências, suas “centelhas divinas” presas
nos Selos, e igualmente espalhadas pelo mundo – e igualmente
estavam à procura dos Selos, e igualmente eram vigiados pelos
Grigori...

* * *

Quatro
Ao fim da Era Antiga (Elder Age), depois da Guerra dos Mil Nomes,
um novo período seguiu-se: “os filhos dos filhos dos filhos” daqueles
chamados de Primordiais correram por sobre Lahr, reclamando este
ou aquele terreno, vivendo de acordo com os recursos da natureza
inóspita, sob a inclemência dos elementos, adaptando-se como
podiam – e estabeleceram vínculos com a terra e entre si, formando
comunidades interligadas por laços de sangue e necessidade – e
surgiram então os primeiros e mais antigos Clãs; e estes traçavam

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seus laços e linhagens até este ou aquele Primordial, e se
denominaram Grei’Ghaed – “Família de Sangue”na Língua Ancestral.

Nestes tempos de barbárie, os Mortais voltaram-se à contemplação


da Natureza, e reconheceram a beleza da Criação, e veneraram os
Três em sua magnitude, reconhecendo que tudo nasce, se
desenvolve e morre, num ciclo eterno, e alguns dentre eles tornaram-
se maiores nas leis da Natureza, desenvolvendo uma Visão da
Verdade acerca do que os cercavam, e os que “Vêem a Verdade”,
foram chamados de Druidas – da Língua Ancestral “deru” (dí-ru),
“verdade”, e “weid” (wyd), “ver”: “deruweid” gerando “druida”; este
Culto tornou-se a mais antiga religião, comumente chamado de
“Caminho da Visão” – na Língua Antiga, Wydh Casàn – e seus
seguidores são os Caminhantes, ou Casaynn (sing. Casai),
interpretando os ensinamentos dos Três sobre a Vida e a Natureza
como um único fator, onde tudo na natureza é vivo, nada se cria ou
extingue, mas está em um eterno ciclo de permanente transmutação,
e seus espíritos, dos mortais, elementais ou extraplanares, auxiliam
ou perturbam, assim fazendo a Existência seguir – embora nem todos
consigam enxergar isto, pois, como ensinam os Druidas, nem todos
têm A Visão (Wydh).

Os Grei’Ghaed formaram comunidades, espalhando-se por territórios,


em busca de recursos que lhes melhorassem a vida, e aqui e ali
esbarravam com grupos e comunidades de outros Grei’Ghaeds, e
escaramuças tornaram-se rotineiras; e por muito tempos, os Mortais
lutaram contra o ambiente, os elementos e entre si, e descobriram
animais terríveis e monstros horrendos, embrenhando-se nas florestas
ou descendo por cavernas e túneis ao seio do mundo – e sentiram a
necessidade de proteções e organização que lhes permitisse a
sobrevivência, e a primeiras Nações surgiram.

E findou-se então os chamados Dias Selvagens, conforme os Mortais


muravam suas cidades, e as ligavam por caminhos mais seguros ao

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contato, gerando um comercio que necessitava de regras, e preços e
pesos comuns foram criados, diferindo aqui e ali, pois, assim como as
Línguas, também a cultura era influenciada pelo ambiente, recursos e
necessidades – e o Tempo dos Reis teve inicio...

* * *

Cinco
Os relatos mais antigos que se tem dos Tempos dos Reis, que se
seguiu aos Dias Selvagens, encontra-se em um tomo obscuro,
conhecido como “O Conhecimento de Chronozeus” (Lore), uma
coleção de textos antigos, supostamente compilados por bardos, a
partir dos relatos de Chronozeus, lendário sábio-dragão que teria
vivido há muito, cuja existência é posta em dúvida mesmo pelos
dragões; as lendas em torno de Chronozeus, contam que o dragão-
sábio teria tido contato com entidades muito acima da compreensão
dos Mortais (muitos dos sábios de hoje interpretam esta passagem
como sendo um contato direto entre um Mortal e Eles), após uma
série de aventuras em busca do conhecimento supremo – chamado o
“Caminho de Chronozeus”(Path) – em que teve como recompensa
exatamente o que queria; mas este conhecimento pleno da realidade
teria sido muito além do que ele poderia suportar, e, cego e semi-
enlouquecido, teria passado estes breves relatos a bardos, que
escreveram conforme conseguiram compreender.

Neste tomo, Chronozeus conta sua busca pelo conhecimento,


traçando um confuso relato de suas aventuras, o tempo da “Não-
Existência” e sobre Eles, o surgimento dos Três, e a criação de um
povo divino, como os Primordiais decepcionaram Eles, e a Guerra e
sua Queda, a criação dos Selos coincidindo com o surgimento dos
Anjos, das Moradas Sob-as-Trevas e Acima-da-Luz, e os Reinos
Etéreos, como os Primordiais restantes se esconderam, e também

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os Prothei e os Terrores Antigos (Hen’Answyhr )– e os posteriores
tempos de barbárie até a formação do primeiro reino mortal –
Arkadya (“Aar’Chadeas” significa“Casa Suprema”, na antiga língua
arkadi, também traduzido como “clã, tribo suprema ou superior –
mais poderosa”) – onde termina o relato de Chronozeus.

Segundo os relatos, desde sua criação, os mortais combatiam uns aos


outros por recursos, mas, nestes tempos caóticos – que Chronozeus
chama de Dias Selvagens – surge um dos filhos dos dragões
(Dragonborn), guerreiro sábio e poderoso, tanto em combate como
em magia, conhecido como Athannör Dragonheir, que unifica
diversos Grei’Ghaed em uma única tribo, poderosos o suficiente para
se estabelecer em um território e protegê-lo, ali fundando Arkadya.
Muito viveu Athannör Dragonheir, e muitas foram as batalhas
contra tribos ainda nômades, estabelecendo um império que perdurou
por três séculos, até o reinado de Yshtar Athannorien, última de
sua linhagem, chamada de a “Rainha-Bruxa”; Yshtar recebe um
império em uma era de ouro, onde os Mortais coexistem em paz,
gerando uma cultura florescente e riquíssima; mas Ysthar, fascinada
pelo conhecimento, tenta trilhar o “Caminho de Chronozeus”,
refazendo o caminho do sábio-dragão, mas falha, atraindo para si
entidades que a conduzem a um tortuoso caminho do mais negro
conhecimento, utilizando uma magia hoje proibida.

Yshtar retorna semi-enlouquecida, e governa despoticamente, de


forma cruel, gerando revoltas e dissensões entre os Arkadi (“Filhos –
ou nascidos de – Arkadya”); de forma maliciosa, convida então os
líderes rebeldes para um encontro no sítio sagrado de Tel-Na’ar
(“Templo das Luas”), e os convence a participar de um grande ritual,
visando consultar os Três sobre sua vontade – mas o que se segue é
que os agentes de Ysthar assassinam os líderes, abrindo um grande
portal para Thannathur, lançando assim, uma horda de Anjos-
Negros por sobre Lahr. Caos e sangue cobrem o mundo, enquanto
Yshtar e sua horda de Anjos-Negros corrompem não apenas

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Vallarys, mas todos os povos; mas há aqueles que não perecem
pelas mãos dos Caídos, ou dos terrores Antigos (Hen’Answyhr) sob o
comando de Yshtar – ao contrário, as hordas se esquivam destes, e
os primeiros indícios dos Primordiais são notados – são estes
Primordiais que elegem onze, entre os mais sábios e poderosos
mortais, guiando-os contra Yshtar e sua horda negra, até que, no
mesmo sítio amaldiçoado de Tel-Na’ar – agora chamado apenas
Na’ar- Urn, o “Covil das Luas” (onde hoje fica Naarûn, a Cidade
Negra) – os Onze Escolhidos impõem às hordas dos Caídos sua pior
derrota, forçando-os a retornar à Thannathur, levando consigo a
alma agonizante de Yshtar, a Rainha-Bruxa, enquanto seu corpo
queimava no alto da pequena torre de pedra branca erguida pelos
onze escolhidos.

É nesta época, na chamada Cruzada das Luas, que os Mortais findam


sua adaptação, tomando uma aparência externa que reflete seu
interior, segundo suas inclinações: surgem os Povos, tão diferentes
em estaturas e cores, quanto suas culturas, tanto entre os que
lutaram pela Rainha-Bruxa quanto contra ela; os sábios de hoje
teorizam que esta diferenciação ocorreu pelo uso excessivo de magia
na época – causando a alteração não apenas física, mas conferindo
mesmo características especificas, pois nesta guerra os Mortais
refletiram o que havia de mais puro (ou impuro) que carregavam em
si, e o contato extremado e profundo com a magia refletiu-lhes o
interior...

* * *

Seis
Os chamados Tempos dos Reis perdurou por muito, desde o fim dos
Dias Selvagens e a fundação de Arkadya, mas os próximos relatos
conhecidos são bem mais recentes e mais confiáveis, em muito por

16
serem testemunhos de suas épocas feitas por personagens famosos,
reais, e duas são as grandes fontes de conhecimento: os relatos-
canções do bardo élfico Elnnariën, conselheiro do reino élfico de
Gallad’ar e expoente-maior da cultura de sua época – suas canções,
cantadas por bardos de toda Lahr, perduram até os dias de hoje,
embora sem a graça e a beleza do maior dos bardos; e os “Tomos de
Sonn’Lu”, em que uma sociedade de pesquisadores do pequenino
mosteiro de “Hang’er” (“Torre do Saber”, na língua antiga de
Arkadya, então utilizada apenas entre sábios e eruditos, hoje quase
desaparecida) sob o comando de Sonn’Lu, um estranho mago
dedicado ao conhecimento – rezam as lendas, que Sonn’Lu
desapareceu ao trilhar o “Caminho de Chronozeus”, nunca mais
sendo visto.

Elnnariën cantou a glória e beleza de sua época, quando os reinos


élficos encontravam-se em seu auge, e Gallad’ar (cap.: Gallad’ur)
era o maior dentre eles; embora Vallarys e Vallafal (os Reinos-
Gêmeos, separados pelo Grande Rio Ethros) fossem verdadeiras
jóias de Lahr, e Dargonnys via enfim surgir a paz entre elfos e
dragões, após séculos de conflitos.

Após a queda de Arkadya, as Grei’Ghaed dos homens espalharam-se


por Lahr, e aos poucos foram surgindo, aqui e ali, povoados
duradouros, que dariam origem aos futuros reinos dos homens, e orcs
competiam com estes por recursos, enquanto os anões fechavam-se
em seus salões de metal e pedra, constituindo um único reino em
todo Lahr, chamado de Kharämthar.

Nesta época, os Povos eram mais esclarecidos e civilizados que nos


tempos dos Dias Selvagens, e aspectos mais sutis da Criação tangiam
suas culturas, levando à contemplação de princípios mais afeitos às
suas necessidades e interesses – é então que os Povos se voltam ao
culto dos Anjos, quais fossem “divindades”, em especial nas figuras
dos maiores entre eles: os Arcanjos. Surge então a “Sacra Igreja de

17
Todos os Anjos” – chamada comumente de “Santa Igreja” – dedicada
ao culto dos Anjos como um todo, tal qual um imenso panteão: seus
templos são gloriosos e específicos, dedicados a este ou aquele Anjo
em particular, ou mesmo a um grupo de anjos afins, e seus clérigos
formalizam o Hyerologyum – o Livro da Razão Sagrada, contendo os
princípios de todos os Anjos. Seus seguidores são chamados
coletivamente de Sacramentados .

A época de Elnnariën foi uma época iluminada de paz, onde poucos


relatos de conflitos existem, principalmente pela presença da “Ordem
dos Cavaleiros de Sammar” (chamados de Sammaritas), cujos
valorosos guerreiros-justiceiros, consagrados aos princípios do
Arcanjo Sammar, o maior entre os Anjos-da-Justiça, intercediam nos
pequenos conflitos, levando a resoluções justas, porém duras e
temidas, tendo o em vista que os Sammaritas prezam a absoluta
justiça, não importando a quem atinja, bem como a neutralidade, não
se deixando levar por princípios morais como a dicotomia “Bem vs.
Mal” – o que, por vezes, leva a conflitos por entre suas fileiras, pois
Sammaritas com visões morais diferentes tendem a ter interpretações
diferentes sobre uma mesma lei.

Infelizmente, o mesmo não se pode dizer dos tempos vividos por


Sonn’Lu – posterior ao famoso bardo élfico: os Sammaritas haviam
diminuído em tamanho e poder, e os elfos retraíram-se do contato
externo, com o crescimento dos reinos humanos e sua ganância, cujo
comércio e sede de riquezas os aproximaram dos anões, cujas
“casas” tornaram-se divergentes do reino de Kharämthar, e fizeram
surgir reinos menores, assim como de orcs e goblinóides, que
populavam suas fronteiras. Foi esta ganância e sede de poder que
causou aos reinos sua ruína: segundo os relatos históricos dos
pesquisadores do monastério de “Hang’er”, as capitais dos reinos
exploraram o máximo que puderam, até que a necessidade de
riqueza tornou-se muito superior ao que Lahr poderia produzir; foi

18
então que os reis e nobres tornaram-se uns contra os outros, e reino
após reino adentrou em uma guerra sinistra.

Sonn’Lu chamou este conflitos de as “Guerras Pecaminosas”, pois


muitos foram os pecados cometidos pelos Povos, em nome de uma
ganância incontrolável, que acabou por levar a civilização quase ao
seu fim; entretanto, Sonn’Lu e seus seguidores haviam tomado para
si a missão de gravar todos os acontecimentos de Lahr, seu
conhecimento e sua cultura, da magia às datas dos três grandes
calendários então vigentes: o calendário dracônico (que seguia os
ciclos solares), o calendário élfico (que seguia os ciclos das luas) e o
calendário ancestral, que remontava aos tempos antigos de Arkadys,
guardados pelos sábios e seguido pela maiorias dos Povos – é durante
este período de guerras e derramamento de sangue, que surgem
novos indícios daqueles que não morrem, e uma vez mais as lendas
em torno dos Primordiais ganharam força. Estes indícios levaram
Sonn’Lu a estudar o “Conhecimento de Chronozeus” (pois estes
indícios confirmavam o contido no livro), e, convencido de que
poderia obter o conhecimento supremo que traria ordem a Lahr,
partiu para trilhar o caminho obscuro do sábio-dragão, seguindo os
indícios no livro encontrados; mas nunca mais o viram, e seus
seguidores continuaram registrando o ocorrido, enquanto o mundo
ruía, descendo pelo caminho que quase o levou de volta à barbárie.

As “Guerras Pecaminosas” levaram Lahr a uma escalada de poder


destrutivo, apoiado fortemente na magia, e não poucos foram os que
se utilizaram de magias há muito esquecidas, desde os tempos da
Rainha-Bruxa Yshtar, e reino dobrou-se contra reino, irmão contra
irmão, até que uma vez mais as hordas dos Caídos foram conjuradas,
e, para horror dos Povos de Lahr, traziam a própria Rainha-Bruxa à
sua frente, o estandarte corrompido do reino de Arkadys – o antigo
leão dourado dos arkadi agora enegrecido, sob um fundo esverdeado
como o Fogo de Ur-Naghôr – tremulando sob dias sem sol, e uma
vasta escuridão pairou sobre o mundo; tamanho foi o poder desta

19
invasão e das magias destrutivas utilizadas, que Lahr contorceu-se
sobre si mesmo, alterando sua geografia aqui e ali, e pensou-se
mesmo que chegara o fim dos tempos.

Mas foi então que algo de maravilhoso e estranho aconteceu: um


pesquisador de “Hang’er”, a quem ninguém dava muito valor,
sempre escondido por entre livros empoeirados, que havia sido tutor
do próprio Sonn’Lu, revelou-se um Primordial, e trilhou o “Caminho
de Chronozeus”; entretanto, não guiava-se pelos indícios contidos nos
livros, mas intuía-os, e chegou à descoberta de um estranho e
intrincado ritual, a que chamou o “Despertar”, recuperando sua
“centelha divina”: sua imortalidade e suas habilidades e poderes,
declarando-se um Deus; foi então que os Povos descobriram que
entre si viviam os Grigori – os Anjos-Vigilantes – pois estes lançaram
guerra contra o Primordial, enquanto este buscava outros de sua
espécie, ensinando-os a buscarem os Selos e “Despertarem”.

Seu nome era Belthammar, chamado o “Primeiro Acordado”,


“Senhor do Conhecimento” e “Aquele Que Ilumina”; e muitos o
idolatravam. Mas algo ainda maior chegaria ao conhecimento dos
Povos: seres ainda mais poderosos que Belthammar ou seus irmãos
e irmãs existiam, até então em segredo – aqueles cujas lendas dizem
serem as encarnações daqueles que Eram antes da Existência, a
quem o lendário sábio-dragão Chronozeus chamou de Prothei. Foi
então que, em meio às “Guerras Pecaminosas”, os Terrores Antigos –
Hen’Answyhr – andaram uma vez mais sobre Lahr, e os Primordiais
que haviam realizado o “Despertar” e acordado, e que eram como
deuses e deusas travaram sua guerra particular. Mas, sabedor que
não poderiam sair vitoriosos, os Primordiais usaram seus poderes
para uma vez mais esconder-se por entre os Povos, assim forçando os
Prothei a igualmente retirarem-se das vistas dos mortais, dando fim
às “Guerras Pecaminosas”, e evitando uma catástrofe ainda maior
que a que causou a Queda dos Primordiais.

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Mas Belthammar chamou a si os maiores de seu tempo, e deu-lhes o
caminho da ordem e ditou-lhes a leis, sumindo por entre os Povos –
mas o conhecimento dado foi registrado naquilo que ficou conhecido
como o “Código de Belthammar”. E os maiores daquele tempo
levaram a paz ao mundo: com o conhecimento contido no mosteiro de
“Hang’er”, reverteram as magias esquecidas, abriram portais às
Moradas Acima-da-Luz e ao Mar Astral, e às forças de Lahr somaram-
se as legiões de Exaltados e outros Anjos, e uma vez mais as hordas
lideradas pela Rainha-Bruxa conheceram a derrota, e os Povos
triunfaram sobre si mesmos, e, embora arrasado, quase por inteiro
destruído, Lahr se reergueria, pois havia agora um roteiro a ser
seguido, e as novas religiões davam aos Povos o alento para
recomeçar.

E assim os Tempos dos Reis chegou ao seu fim...

* * *

Sete
Após o término dos Tempos dos Reis, os registros modernos são
bastante confiáveis, uma vez que foram feitas após os tempos em
que Lahr reergueu-se.

Os últimos tempos viram os Povos elevarem suas civilizações, e


aqueles que foram aconselhados por Belthammar tornaram-se reis
entre eles; e reinos incríveis, em poder e glória, ressurgiram,
coletivamente conhecidos como os 17 Reinos; reinos como
Ulmerand – grande potência mercantil, o reino agrícola de Arlund e
Hang’er – o reino da magia e do conhecimento nas chamadas “Terra
das Coroas”; ao norte, o poderio militar de Drachmaar e a teocrática
Vetterys, com seus palácios-templos e o seu “Conselho dos Altos-
Fiéis”; e ao sul surgiram Memnör, Arymmar e Llewellyn, pequenos

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em tamanho, mas imensos em cultura; e reinos ainda menores, como
a Cidade Negra de Naarûn, o Grão-Ducado de Nygris, Q’ör e suas
minas cobertas de riquezas, e a liga mercantil da Costa de Prata
(Silver Coast) – bem como o ancestral reino anão de Karamthar,
divididos em Thanados (liderados por Thanes) correspondentes às
terras de cada Clã; e os reinos élficos, verdadeiras jóias de Lahr,
sendo Gallad’ar o maior, e também os Reinos Gêmeos, Vallarys e
Vallafal; e Dargonnys, por fim, um reino de muitos Povos, embora
governado pelos Filhos-dos-Dragões (Dragonborn).

Mas estes mesmo reinos, após todos estes tempos, em muito se


afastaram dos ensinamentos de Belthammar, e poucos ainda
cultuam “Aquele Que Ilumina”; estes se reúnem em um culto
extremamente conservador e fechado, que tem Belthammar como o
Deus-Vivo, aquele cuja Luz dissipa as Trevas (os que se opõem ao
Culto), seguindo ao pé da letra o “Código de Belthammar”, cujos
seguidores chamam a si mesmos de Herdeiros da Luz, e uma Ordem
dedicada e apoiada pelo Culto de Belthammar – conhecida como
“Irmandade da Luz” (cujos membros são conhecidos como Irmãos-da-
Luz) por diversas vezes entra em conflitos com as forças dos 17
Reinos, bem como com os Sammaritas e ouras facções, por conta de
sua visão um tanto míope acerca da dicotomia Luz (Bem) vs. Trevas
(Mal).

Para além dos 17 Reinos – que estão espalhados por todo mundo –
Lahr é composta por Cidades-Estados, governadas por Barões (ou
Baronesas), cada Barão a autoridade máxima em sua Cidade-Estado,
e um adendo ao título nobre denota o poder e a riqueza de cada
Cidade-Estado: seus governantes são classificados como Barões
(vilas, aldeias, etc), Altos-Barões (High Barons – Towns) e Arquibarões
(Archbarons – Cities) – e, nas Cidades-Estados, como na grande
maioria de Lahr, salvo raras exceções, mulheres e homens coexistem
em pé de igualdade, ou seja: uma Baronesa é igual a um Barão
(embora alguns não pensem assim).

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Com o fim dos Tempos dos Reis, Lahr entrou na chamada Terceira Era
(tempo atual), e desde o fim das “Guerras Pecaminosas”, alguns
poucos mortais conseguiram apropriarem-se – ou descobrirem – do
segredo do rito utilizado por Belthammar e os Primordiais para
ascender, e modificaram-no, possibilitando a um mortal ascender
igualmente a níveis divinos; este ritual modificado foi chamado de
“Ritual da Ascensão”, e pode elevar um mortal à divindade – se feito
corretamente – conhecida como “Elevado” (Raised One) ou – em
caso de erro ou falha do ritual – em uma monstruosidade undead
entre uma wraith e um banshee, conhecido como um “Amaldiçoado”
(Accursed), uma criatura completamente devotada à destruição,
tomada pela loucura e pela fúria insana contra toda a criação.

Vale lembrar que o “Ritual da Ascensão” não transforma um mortal


em um Primordial, mas em um “Elevado”.

O foco de Lahr é no Reino de Arlund, cuja capital é Aravar – adj.


Arlundiano, símbolo: três falcões negros sobre fundo prata e dourado.
O atual rei de Aravar é Larkan Greystorm, pai do jovem príncipe
Lothar. Arlund é um reino agrícola, governado de forma feudal pela
Casa Real de Greystorm, descendente de Leonnar Greystorm,
antigo conselheiro real que assume o trono por ocasião da Grande
Peste ocorrida há 5 gerações, que ameaçou levar Arlund ao caos,
gerando a revolta que tirou os Whitehorns do trono. Por isso mesmo,
os Whitehorns e os Greystorm são opositores, mas os Brightheart
e os Longfell, famílias muito ricas e influentes, balanceiam o jogo de
poder.

Os Brightheart são unidos aos Greystorm por laços de amizade e


casamentos, e os jovens Evan e a irmã Esvelle são grandes
companheiros de Lothar – rumores dizem que Lady Esvelle teria um
caso com o Príncipe, mas nada foi confirmado, e todos os nobres são
céleres em desmentir tais rumores, embora fosse do gosto de ambas
as Casas – enquanto o pai deles, Lord Edmund Brightheart, é um

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velho amigo do Rei Larkan, tutor militar de Lothar e Comandante da
Guarda Real, uma espécie de heróis locais em Aravar, que vivem em
meio a rixas e contendas com o exército/milícia de Arlund – que faz às
vezes de polícia em Aravar – comandado pelo Half-orc Darius
"Fellblade".

Os Longfell são mercadores que ascenderam à nobreza com a subida


de Larkan ao trono de Arlund, e o comércio de Aravar é "controlado"
pelos trigêmeos Theobald, Theodore e Theomund Longfell.

Próximo ao centro de Aravar localiza-se a Praça dos Mercadores, que


reúne a maioria do comércio local, com suas centenas de lojas,
tendas e carroções extremamente barulhentos, vendendo desde
galinhas, temperos e itens de construção e reparo a armas, sedas e
vinhos exóticos de terras distantes – pagando-se o preço pode-se ter
acesso de poções e materiais mágicos a chocolate, uma subst6ancia
produzida no distante reino de Llewellyn, bem como a certos itens e
favores não tão “legalmente” obtidos.

Da Praça dos Mercadores, vê-se A Fortaleza, imponente e austera,


jogando sua sombra protetora sobre Aravar, o Palácio Real – belo e
rico – e alguns dos “estates” dos nobres; o “Empório dos Longfell”
a maior estrutura mercantil de Aravar faz às vezes de Guilda local,
reunindo os mercadores em debates e acordos, e a “Hospedaria das
Três Bruxas” é uma grande taverna, bastante famosa em Aravar,
atraindo multidões, e aberta 24h por dia.

Os principais templos são da “Santa Igreja”, com capelas dedicadas


aos principais Anjos, bem como uma catedral dedicada aos Arcanjos
Exaltados (Elohim, Seraph e Cherub) – que suporta uma Ordem
dedicada a eles, conhecida como a “Ordem Sagrada dos Servos
Iluminados”, cujos membros são chamados de os “Servos Exaltados”
(ou simplesmente “Servos”) e um mosteiro dedicado a Sammar –
sede local dos Sammaritas, liderado por um anão de respeitável fama
e poder chamado Brottor Greathammer – mas um templos

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dedicado aos Cinco-Sob-As-Trevas esconde-se em algum lugar no
subterrâneo de Aravar; ainda, um templo de Belthammar existe,
dando apoio aos “Herdeiros da Luz”, mas há também o templo dos
Três, em cujo meio os Casaynn são guiados no “Caminho da
Visão”pelos Druidas.

Larkan é hoje um homem doente, e os clérigos, médicos ou


curandeiros não conseguem curá-lo, e existem rumores sobre os
Greystorm serem amaldiçoados, embora nenhum cidadão de Aravar
ouse reproduzir tal coisa perto de um Guarda Real ou dos partidários
do Rei – muito amado pelo povo – que se preocupa com a
possibilidade da morte de Larkan, pois o Príncipe não demonstra
nenhum pendor para o governo de Arlund, e muitos detestam o
arrogante Lazarus Greystorm – irmão do rei e conhecido por se
envolver com as artes mágicas (embora rumores apontem para magia
negra...).

O Lord Mayor é um sujeito bonachão e gordinho, apaixonado por


Aravar, chamado Rumboldt Crown – usualmente conhecido como
Prefeito Crown – um bom sujeito que não esconde que seu grande
sonho é casar sua filha, a gordinha e feia Rosamund com Lothar, e
isso cria um embaraço, até por que Crown é um excelente gestor, e
justamente quem assume o governo quando Larkan está em seus
piores dias, como um Regente, uma vez que o Príncipe Lothar é um
bom-vivant, amante de festas, caçadas e torneios.

A lei e a ordem são mantidas pelos esforços dos Falcões Negros de


Arlund – comandados pelo half-orc Darius “Fellblade”. Em Aravar,
os Falcões Negros funcionam como milícia local, protegendo cidadãos
e prendendo criminosos, patrulhando a cidade dia e noite. A rixa entre
os Falcões Negros e a Guarda Real é famosa, e se extende para seus
lideres: Darius “Fellblade” e Lord Edmond Brightheart por varias
vezes quase chegaram às vias de fato, sendo necessária por vezes a
intervenção do próprio Rei Larkan – se Darius e os Falcões são

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renomados em toda Arlund e tem a confiança do Rei, Lord Edmond,
cunhado e amigo do Rei comanda os melhores homens do reino, e
são considerados heróis locais em Aravar. Tal rixa é tão famosa, que
em Aravar existe o ditado que diz “tão juntos como ouro e prata” (ou
variações) significando que duas pessoas ou coisas não combinam, ou
dará problema – uma alusão aos símbolos das duas organizações: o
falcão negro sobre prata do exercito e o falcão dourado sobre branco
da Guarda Real.

A sede dos Falcões Negros é um imenso forte na Praça dos


Mercadores, considerado um dos locais mais seguros de toda Aravar e
instransponível, um maciço forte de pedra crua chamado
simplesmente de “A Fortaleza”. A visao d’A Fortaleza evoca
respeito e temor, e é dito que os que ali entram somem para todo o
sempre – é n’A Fortaleza que ficam os calabouços de Aravar.

Além disso, existe a belíssima Torre Negra (Obsidian Tower), feita


inteiramente de obsidian, que reúne magos, bruxos e feiticeiros,
chamados todos de "Magi" (sing. “Magus”), igual à maioria de Lahr –
lago antigo, que data dos “Magisters” de Arkadys, de onde também
vem a língua falada pelos Magi, chamada de magiar – independente
de idade, escola ou poder. Um dos principais Magus da cidade é um
dragonborn warlock chamado Saergal "Wyrmstaff”, bem conhecido
na cidade e considerado o Magus da Corte.

Apesar da esposa de Larkan – a falecida rainha Alma, mãe de


Lothar – ter morrido quando Lothar ainda era criança, o rei foi
ajudado pela ama de leite do príncipe, hoje secretária do rei, Luth
(Lourdes), também governanta do palácio e considerada uma
conselheira de importância junto ao rei.

A principal oposição ao rei é feita pela nobre chamada Lady Yellena


Whitehorn, que lidera hoje a Casa Nobre dos Whitehorne – fria e
quase cruel, é dito que em muito seu temperamento foi forjado no
calor do ciúme e do despeito, pois ela teria sido preterida por Larkan

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em prol de Alma Brightheart – que era irmã do melhor amigo de
Larkan, Lord Edmond Brightheart, Comandante da Guarda Real –
mas quem seria louco de apontar este fato em frente de alguém cujo
apelido é a “Serpente de Aravar”?

* * *

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