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Introdução
As relações atuais estão virtualizadas. Tal fato só ocorreu graças ao computador, que
segundo Lévy, “é antes de tudo um operador de potencialização da informação”
(1996, p.41)
“O virtual não se opõe ao real, mas ao atual. O virtual é como o
complexo problemático, o nó de tendências ou de forças que
acompanham uma situação, um acontecimento, um objeto ou
uma entidade qualquer, e que se chama a um processo de
resolução: a atualização” (Lévy, 1996 p. 16)
Neste contexto pode-se considerar que o virtual faz parte da vida das pessoas e de
seu cotidiano nas diferentes esferas: pessoal, pública, econômica e cultural. A
atualização que trata o autor se traduz em uma enorme intercomunicação entre
pessoas, associações, empresas e setor público criada a partir do que se pode
denominar como “ciberespaço”. Segundo Lévy o ciberespaço pode ser definido “como
um espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial de computadores. Esta
definição inclui o conjunto de sistemas de comunicação eletrônicos (aí incluídas o
conjunto de redes hertzianas e telefônicas clássicas) na medida que transmitem
informações provenientes de fontes digitais ou destinadas à digitalização. [...] Uma
das funções do ciberespaço é o acesso a distância dos diversos recursos de um
computador.” (1999, p. 94 e 95)
2
Assim, “a Web entendida como uma rede de contatos sociais pode capacitar as
pessoas a compartilharem com outras seus próprios recursos, muito além de qualquer
ganho imediato.” (Spadoro, 2013, p 28). Aqui torna-se essencial considerar “o
conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de
pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o ciberespaço”, ou
seja, “a cibercultura”, (Lévy, 1999, p 17), no sentido de visualizar aspectos das
relações sociais como resultados desse movimento de conexões virtuais. Segundo
Lévy, “os indivíduo ou grupos participante são imersos em um mundo virtual, ou seja,
eles possuem uma imagem de si e de sua situação” (1999 p 75), convivendo numa
realidade não realista.
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A internet surgiu nos Estados Unidos, em pleno período de Guerra Fria. De acordo
com Lima, “nasceu de um projeto de pesquisa militar ARPA (Advanced Research
Projects Agency) no final dos anos 50, como resposta do governo de Dwight D.
Eisenhover ao lançamento do Sputnik pela ex-União Soviética. Seu projeto inicial era
conectar os mais importantes centros universitários de pesquisa americanos com o
Pentágono, para permitir não só a troca de informações rápidas e protegidas, como
também instrumentalizar o país com um a tecnologia que lhe possibilite a
sobrevivência de canais de informação no caso de uma guerra nuclear”.(Lima, 2000,
p 29)
“a internet deve ser considerada como um conjunto de
capacidades tecnológicas alcançadas pelo homem no âmbito da
difusão e do compartilhamento de informações e saber.”
(Spadoro, p 10)
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Tait, diz que “o nome internet passou a ser usado quando essa tecnologia conectava
laboratórios e universidades nos EUA e em outros países. Ainda segundo a autora, “em 1987,
foi liberado o uso comercial nos EUA, mas foi em 1992 que virou moda com o surgimento de
várias empresas provedoras de acesso à internet.” (Tait, acesso 30/11/2017)
A Web foi concebida, na Suiça em 1991, “como uma linguagem para interligar computadores
do laboratório da CERN e outras instituições de pesquisa e exibir documentos científicos de
forma simples e fáceis de acessar.” (Tait,)
As Redes Sociais
Segundo Calazans e Lima, “em 2002, o Friendster, foi o primeiro site a receber o
status de rede social online. Foi lançado ao público e buscava conectar amigos através
da criação de perfis pessoais. Um ano depois foi lançado o MySpace, que se tornou
grande favorito nos Estados Unidos e o Linkedln, que tem ênfase na construção e
manutenção de laços sociais profissionais. A popularização massiva desse tipo de
ambiente virtual voltado para a produção de conteúdo pessoal e baseado na formação
de redes sociais se deu em 2004, com a criação dos sites Orkut, Flickr, Digg e
Facebook (membros da faculdade de Harvard). Um ano depois foi lançado o Youtube.
Em 2006 o Facebook possibilitou seu acesso para o público em geral. Este foi também
o ano de lançamento do Twitter, plataforma de micro-blogging.”
Tais redes sociais fazem sucesso no mundo virtual, sendo que o Facebook é uma das
mais populares, especialmente no Brasil. São centenas de usuários interconectados.
As pessoas se encontram nas redes sociais, independente dos lugares geográficos
em que estejam. Nelas são postadas diariamente textos, imagens, vídeos mostrando
situações e momentos vivenciados por seus usuários, às vezes numa tentativa de
adquirir visibilidade e importância, então as aparências, o mundo da representação, o
aparecer têm maior significado do que o ser. Neste sentido pode-se dizer que a
internet juntamente com as redes sociais proporcionam, uma “sociedade do
espetáculo”, sendo “o espetáculo a maior produção da sociedade atual” (Debord, 1997
p 17)
Nesta sociedade capitalista e consumista, tais redes servem de espaço para
divulgação dos mais variados produtos, serviços e diferentes ideias e ideais nem
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Cyberbullying
Muitas pessoas costumam expor sua identidade, particularidades e opiniões nas mais
variadas mídias digitais. A interação com as novas tecnologias aumenta
consideravelmente entre as crianças e adolescentes, que passam a criar perfis
públicos nas redes sociais, compartilhando informações pessoais. Para suprir essa
demanda novos dispositivos são criados.
Nesse cenário que une tecnologia e mundo globalizado, o assédio e a violência moral
não conhecem mais os limites do espaço físico. Assim, o bullying que tradicionalmente
estava circunscrito ao ambiente escolar ganhou o ambiente virtual na forma de
cyberbullying, uma nova forma de violência social que gera muita dor e sofrimento,
podendo culminar muitas vezes em suicídio ou homicídio.
O que é Cyberbullying?
1
SCHULTZ, Naiane Carvalho Wendt et al. A COMPREENSÃO SISTÊMICA DO BULLYING. Psicologia em
Estudo, Maringá, v. 17, n. 2, p.248, abr/jun 2012. Trimestral. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/pe/v17n2/v17n2a07.pdf>. Acesso em: 01 nov. 2017
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Bullying originalmente vem da palavra bully, que como adjetivo significa “valentão” e
como verbo, “tiranizar, brutalizar”, ou seja, maltratar, tratar abusivamente.2
O termo bullying foi criado, pelo pesquisador sueco Dan Olweus, somente depois do
massacre na escola americana Columbine, em 1999. Ele utilizou o gerúndio do verbo
to bully – que significa tiranizar, oprimir, ameaçar ou amedrontar – para rotular
estudantes que se comportam como tiranos ou valentões diante de seus colegas
tratados como inferiores.3
Ciberbullying significa assédio virtual (do inglês cyber + bullying). É semelhante a
outros tipos de bullying, exceto que ele ocorre online e através de mensagens de texto
enviadas pelas mídias sociais. Segundo Ventura e Fante (2015), cyberbullying é uma
expressão criada pelo canadense Bill Belsey, também chamado de bullying eletrônico,
ou ainda crueldade social online e que leva os efeitos do bullying a um outro patamar
em que a insegurança é muito grande, pois os que o realizam podem manter-se no
anonimato.
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SCHULTZ, Naiane Carvalho Wendt et al. A COMPREENSÃO SISTÊMICA DO BULLYING. Psicologia em
Estudo, Maringá, v. 17, n. 2, p.248, abr/jun 2012. Trimestral. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/pe/v17n2/v17n2a07.pdf>. Acesso em: 01 nov. 2017
3
RODRIGUES, Gilda de Castro. O bullying nas escolas e o horror a massacres pontuais. 1º semestre de 2012.
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo: Ponto-e-Vírgula. Revista de Ciências Sociais, nº 11, ISSN 1982-
4807. Consultado em 01 de novembro de 2017.
9
4
RONDINA, João Marcelo. Cyberbullying: o complexo bullying da era digital. Revista de Saúde Digital e
Tecnologias Educacionais, Fortaleza, v. 1, p.20-41, 2016. Semestral. Disponível em:
<http://periodicos.ufc.br/resdite/article/view/4682>. Acesso em: 22 nov. 2017.
5
NATIONAL CRIME PREVENTION COUNCIL. What is Cyberbullying? 2015. Disponível em:
<http://www.ncpc.org/topics/cyberbullying/what-is-cyberbullying>. Acesso em: 03 dez. 2017.
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- Criando sites para se divertir às custas de outra pessoa, tais como: colega de classe
ou professor:
- Usando sites para classificar casais como os mais bonitos, feios, etc.
Tipos de Bullying
O Bullying nunca vem caracterizado por apenas um único ato de violência, geralmente
vem acompanhado por outros comportamentos desrespeitosos que podem ser
expressos nas mais variadas formas listadas a seguir (SILVA, 2009):
Consequências do Bullying
Silva (2009, p. 25) diz que a vítima que recebe essa variedade de maus tratos
pode vir a sofrer sérias consequências psíquicas e comportamentais, tais como:
-Síndrome do pânico: medo intenso e infundado que parece surgir do nada, sem
qualquer aviso prévio. O indivíduo é tomado por uma sensação enorme de medo e
ansiedade acompanhada por uma série de sintomas físicos (taquicardia, calafrios,
boca seca, dilatação da pupila, suores, etc.);
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- Fobia Social: o indivíduo passa evitar eventos sociais ou procura esquivar-se deles;
- Anorexia: pavor descabido e inexplicável que a pessoa tem de engordar, com grave
distorção da sua imagem corporal;
- Esquizofrenia: conhecida como psicose ou loucura, é uma doença que faz com que
o indivíduo rompa com a barreira da realidade e passe a vivenciar um mundo
imaginário;
- Suicídio ou homicídio: ocorrem quando a pessoa, alvo do Bullying, não consegue suportar a
coação dos seus algozes. Em total desespero, essas vítimas lançam mão de atitudes
extremas como forma de aliviar seu sofrimento.
Tipos de Bullying
O Bullying nunca vem caracterizado por apenas um único ato de violência, geralmente
vem acompanhado por outros comportamentos desrespeitosos que podem ser
expressos nas mais variadas formas listadas a seguir (SILVA, 2009):
O que no começo pode ser uma brincadeira ou uma gozação entre amigos, pode se
tornar, nas mãos de pessoas preconceituosas e mal intencionadas, cujo intuito maior
é repercutirem suas ideias de “seres superiores”, munição para divulgarem seus ideais
de intolerância, discriminação e rejeição aos “mais fracos”.
Para que houvesse um equilíbrio nas relações humanas e uma harmonização nas
relações sociais, a convivência em sociedade sempre gerou a necessidade de seus
membros pautarem seu comportamento em regras e condutas, que sempre se
combinaram com os preceitos eleitos pelo grupo. Contudo, a sociedade
contemporânea baseou-se na individualização, é cada vez mais difícil se pensar
coletivamente ou na alteridade.
Silva, 2009, aponta que o individualismo é uma ideologia que prega que cada indivíduo
“deve ter o melhor tipo de vida, compreendendo-se por melhor tipo de vida o
autodesenvolvimento, a autorrealização, a autossatisfação. Por essa nova cultura,
cada um de nós tem o dever ou mesmo a obrigação moral de buscar tudo o que houver
de melhor para si. E isso, inclui, de forma explícita, uma tríade muito perigosa: poder,
status e diversão”.
Enquanto a alteridade nos leva a nos colocar no lugar do outro na relação interpessoal
(relação com grupos, família, trabalho, lazer e a relação que temos com os outros,
etc.), com consideração, identificação e diálogo – necessariamente, isso não significa
que tenha de haver uma concordância, mas sim uma aceitação de ambas as partes –
em contrapartida, o individualismo produz a fluidez e a efemeridade das relações.
A busca pela felicidade se tornou algo estritamente individual, criou-se uma ansiedade
para tê-la, pois acredita-se que ela só depende de cada indivíduo. É o “cada um por
si”, querendo ter e ser mais que os outros, numa corrida desenfreada, deixando de
lado os verdadeiros valores e sendo cada vez mais individualista.
Cyberbullying e Legislação
II - proteção da privacidade;
Em seu Art. 18, essa lei cita que: “O provedor de conexão à internet não será
responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros,
ou seja, a responsabilidade das postagens são dos seus autores.” A menos que, o
provedor não tenha indisponibilizado (retirado do ar), conteúdo de imagens de nudez
e atos sexuais de caráter privados, por solicitação do participante, conforme o Art. 21:
“ O provedor de aplicações de internet que disponibilize conteúdo gerado por terceiros
será responsabilizado subsidiariamente pela violação da intimidade decorrente da
divulgação, sem autorização de seus participantes, de imagens, de vídeos ou de
outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter privado
quando, após o recebimento de notificação pelo participante ou seu representante
legal, deixar de promover, de forma diligente, no âmbito e nos limites técnicos do seu
serviço, a indisponibilização desse conteúdo.”
O assédio moral não é um fenômeno social novo, sua prática é tão antiga quanto a
convivência grupal mais remota. Apesar da língua portuguesa conter uma palavra
capaz de expressar o termo bullying, suas ações são conhecidas pelo direito criminal.
A novidade está somente na intensificação, gravidade, amplitude e banalização deste
fenômeno que, assumiu nomenclatura diversa, mas, que carrega consigo a mesma
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CASADO, Aline Gabriela Pescaroli. Cyber bullying: violência virtual e o enquadramento penal no Brasil.
2011. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10882>. Acesso em: 02 nov. 2017.
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violência contra suas vítimas, (CASADO, 2011), potencializado agora pelos avanços
tecnológicos.
Portanto os autores de práticas como o bullying e o cyber bullying não estão agindo
em consonância com os princípios estatuídos pela Constituição Federal, atuam à
margem da lei e portanto, estão sujeitos a ressarcirem os danos que causarem a
terceiros decorrentes de suas práticas.
2. Fale com seu filho e escute-o. Tenha uma conversa com ele sobre o que
está acontecendo. Cuidado para não assusta-lo. Tome algum tempo para saber
exatamente o que aconteceu e o contexto de como aconteceu. Além disso, não
minimize a situação ou invente justificativas para a agressor.
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HINDUJA, Sameer; PATCHIN, Justin W. What To Do When Your Child is Cyberbullied: Top Ten Tips for
Parents. 2015. Disponível em: <https://cyberbullying.org/what-to-do-when-your-child-is-cyberbullied>. Acesso
em: 03 dez. 2017.
16
4. Trabalhe com a escola. Todas as escolas dos EUA tem uma política de
bullying e a maioria cobre o cyberbullying. Procure a ajuda da direção se a vítima e
agressor forem da mesma escola. Seu filho tem o direito de se sentir seguro na escola
e os educadores são responsáveis por garantir isso através de uma investigação e
resposta adequadas.
Conclusão
Com o advento das novas tecnologias a forma de ver o mundo mudou, as redes
sociais determinaram uma nova forma de estabelecer contatos e formar vínculos. Esta
tendência faz com que os usuários de tais plataformas partilhem cada vez mais
imagens e mensagens como forma de comunicação, replicando-as.
O indivíduo diante dessa sociedade moderna foi reduzido à sua dimensão mínima,
ficando individualizado, não se reconhecendo em certos grupos, tendendo a valorizar
as relações individuais, muitas vezes sendo levado a ser caracterizado como um mero
consumidor, fruto de uma sociedade atomizada, pautada no consumo de certas
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Bibliografia
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. Ed Paz e Terra, 2003, São Paulo, SP.
DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Ed Contraponto, 1997, Rio de Janeiro,
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Ed Paulinas, 2015, São Paulo, SP.
LÉVY, Pierre. O que é o Virtual? Editora 34, 1996, São Paulo, SP.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. Editora 34,1999, São Paulo, SP.
LIMA, Frederico O. A Sociedade Digital - o impacto da tecnologia na sociedade,
na cultura, na educação e nas organizações. Qualitymark Editora, 2000, Rio de
Janeiro, RJ.
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e Vírgula, Revista de Ciências Sociais, no. 11, ISSN 1982-4807. Consultado em 01 de
novembro de 2017.
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2009, Rio de Janeiro RJ.
SPADORO, Antonio. WEB 2.0 Redes Sociais. Senac, 2013, São Paulo, SP.
Sites
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Direitos e Deveres Para O Uso da Internet no Brasil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12965.htm>.
Acesso em: 29 nov. 2017.