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As causas do analfabetismo funcional

prof. JJ Domingos
A internet expõe o melhor e o pior do ser humano. Conhecemos pessoas e iniciativas
fantásticas, mas ao mesmo tempo ficamos cara a cara com a latrina da humanidade (os
constantes casos de racismo na web estão aí para comprovar). Nas redes sociais, por exemplo,
vivemos em um tempo em que os debates foram substituídos por embates e combates – sem
vencedores.
O que temos presenciado nas últimas semanas é a prova disso, como no debate sobre a
maioridade penal, que é do tipo de tema que desperta tantas paixões, principalmente porque só
vem à tona sob os gritos das figuras sensacionalistas da mídia que aproveitam episódios trágicos
para propagar as suas ideias. E funciona, haja vista os jargões (“bandido bom é bandido morto”,
“tá com pena do menor infrator? Leva pra casa” e similares) repetidos de forma automática (à
exaustão) nas redes.
Pra completar, os debates no Congresso de pautas que exigem razão ao extremo, há
tempos se tornaram uma extensão dos fóruns mais malcheirosos da internet. Triste.
A insegurança pública não será reduzida magicamente, da noite para o dia, com leis
penais paliativas – não é nem nunca foi em nenhum lugar do mundo. A violência não diminuirá
sem redução da desigualdade social, da ampliação da cidadania, da garantia de direitos e
oportunidades de uma vida digna a todos. As soluções existem, mas demandam tempo, dinheiro
e políticas de curto, médio e longo prazo.
A respeito da maioridade penal em si, é preciso levar em consideração o ciclo de
violência de uma sociedade desigual, não apenas em termos de riqueza e pobreza, mas
principalmente nas condições desiguais em que crescem e são educados os filhos dos ricos e dos
pobres. E no tratamento desigual (em termos de oportunidades e possibilidades) que esta mesma
sociedade oferece aos criminosos ricos e pobres.
É razoável que a questão da maioridade penal seja avaliada no contexto abrangente que
envolve a criminalidade e a violência no Brasil. E também que se leve em consideração a maior
amplitude possível de ações e políticas públicas que possibilitem não apenas o tratamento do
crime cometido ontem (que envolve tratamento ao criminoso e oferta de justiça à(s) vítima(s) ),
que foi notícia e que causa revolta em todos nós, como também e principalmente a justiça social
necessária para amanhã, no país que os nossos descendentes herdarão.
Em resumo: qual é o conjunto de ações necessário à redução da criminalidade e da
violência em nossa sociedade? E de que forma a sociedade brasileira pode oferecer às suas
crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social (ou seja, aqueles que têm
convivência próxima e imediata com o crime) oportunidades e possibilidades de um projeto de
vida no qual o crime seja desconsiderado como alternativa para o acesso aos bens sociais
disponíveis às classes mais favorecidas?
Poucos nas redes sociais parecem se importar em levar em consideração essas nuances
preventivas em seus “textões”. Muito pelo contrário, debates como esse, que exigem um olhar
acurado, sempre caem na vala comum dos discursos com gosto de sangue na boca em que os
“argumentos” se resumem aos jargões já mencionados e aos “memes” simplistas e
descontextualizados.
…Pensando bem, observando a gritaria que toma conta das redes sociais sempre que
temas que despertam dicotomias vêm à tona, me tornei a favor de uma só redução: a do
analfabetismo funcional. Explico.
O analfabetismo funcional, ou seja, saber ler, mas não captar integralmente o teor do
que lê, deve ser encarado como um câncer a ser combatido porque causa, em parte, o
empobrecimento do debate público, assim como a ascensão de figuras públicas deploráveis (que
não vou nomear aqui porque eles já têm publicidade o suficiente). E é um desafio a ser encarado
tanto quanto a erradicação do analfabetismo.
Campanha pela leitura
Alguns dados estatísticos ajudam a nos explicar por que o nosso país padece desse mal.
Um deles foi exposto na abertura do Seminário Internacional sobre Política Públicas do Livro e
Regulação de Preço (realizado em Brasília) pelo ministro da Cultura, Juca Ferreira, quando ele
disse que o Brasil não dá a importância necessária à leitura e que é uma vergonha o nosso índice
de livros per capita ser de apenas 1,7 por ano.
O ministro defende que seja feita uma campanha de estímulo à leitura semelhante à
contra a paralisia infantil. É por aí. Afinal, o índice de leitura brasileiro ser menor que o
de países vizinhos mais pobres que o nosso é um “alerta vermelho” que soa há muito tempo,
mas que nossas autoridades vêm ignorando.
O resultado dessa negligência vemos todos os dias na internet, em que a maioria dos
assuntos mais comentados são impulsionados justamente pela falta de leitura acerca do que é
discutido ou pela má interpretação de textos, de dados, de gráficos etc.
Enfim, o fato é que o Brasil nunca será uma “pátria educadora” se a leitura continuar
sendo tratada como “disciplina de segunda classe” nos currículos escolares. Outro fato: todos
nós precisamos de uma educação de qualidade. Nós e eles, os “dimenor”. Todos. Sem exceção.

Por Luiz Guilherme Melo em 14/08/2015 na edição 863

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