Está en la página 1de 11
APORSIA 325] LA poesia épica ‘A epopeia [Epos|, a palavra, a lenda (Sage, diz em geral 0 que é a coisa [Sache], a qual € transformada em palavra, ¢ exige um conteddo em si mesmo substancial, a fim de expressar que cle € € como ele €. O objeto como obje- to, em suas relagdes ¢ ucontecimentos, na amptitede das cireunstincias e de sex desenvolvimento, o objeto em sua existéncia intelra, deve chegar 4 consei@ncia, A este respeito, pretendemos, em primeiro lugar, designar o cardter universal do epico; Ens segundo lugar, indicar os pontos particulares que sto de especial importincia na epopéis propriamente dita; &, Em terceiro lugar, nomear alguns modos de tratumento particulares que se efetivaram em obras épicws singulares no interior do desenvolvimento histérico deste género. 1, Cartter universal do epico a. Bpigeamus, gnomas ¢ poesias diddticas A espécie mais simples de exposigiio épica, todavia, em sua concentragiio abstrats ainda unilateral e incompleta, consiste em ressaltar, a partir do mundo concreto e da riqueza de fendmenos mutiveis, © que € fundamentado € necessé- rio em si mesmo e expressa-lo por si mesmo, concentrado em palavra épica, a) A consideragio desta espécie podemos comecar inicialmente com o epigrama, na medida em que efetivamente ainda permanece um epigrama, uma iny-crigdo [Auf-schrift] sobre™ colunas, wienstlios, monumentos, presentes ete. ¢, por assim dizer, aponta para algo como uma imo espirital, ao esclarceer mediante @ palavra, que ¢ escrita sobre 0 objeto, algo que de outro modo € plistico {Plastisches}, referente a um lugar, presente no exterior do disuurso. Aqui o epigrama diz simplesmente 0 que ¢ esta coisa, O homem ainda nio expressa 0 scu si-mesmo [Selbst] concreto, ¢ sim observu 0 que esté em torno dele ¢ acrescenta ao objeto [326], ao lugar, que ele tem sensivelmente diante de si mesmo ¢ que reivindica o seu interesse, uma explicagiio concentrada que s¢ refere ao niicleo da coisa mesma, 34. Quer dizer: 9 quad «0 quidd.a quididade © 2 quididade, segundo as estegorios areatens da Rtosofia ocidentat (N. 6 T), 34. Hegel jowa com a etimologia da galaves epigrama, que sigaitica Iiteratmente: “a que € gravado Egramay sobre sigoms coisa [epi]"— (N, ds ‘T). 87 6) O passo posterior podemos entio procurar no fato de que é climinada a duplicidade do objeto em sua realidade exterior ¢ na inscrigio, na medida em que a poesia, sem a presenga sensivel do objeto, exprime sux representagso acerca da coisa [Sache]. Aqui se situam, por exemplo, os gnomas dos antigos, 0% enunelados éticos, os quais concentram condensadamente 0 que é mais for- te do que a coisa sensivel, mais permanente, universal do que o monamento para um feito determinade, mais duradoure do que oferendas, colunas, tem- Dios: os deveres na existéncia humana, a sabedoria da vida, a intuigdo daquilo que no espiritual constitu: as bases firmes ¢ o vinculo sustentador para os homens no agir e no saber. Neste modo de apreensdo, 0 caréter épico reside no fato de que iais sentengas nilo se dio a conhecer como sentimento subjetivo ¢ reflexio meramente individual e, no que diz respeito a sua impressto, tampouco também se dirigem ao sentimento com a finalidade da comogiio o& no interesse do coragio, e sim evocam b consciéncia do homem o que € pleno de Contedido, como dever, como o que pleno de honra € © gue the convémn. A antiga clegia grega tem em parte este tom pico; tal come, por exemplo, nos foi conservado de Sélon alguma coisa desta espécie, que facilmente se encaminha para o tom ¢ estilo parenéticos"®: reprimendas, adverténcias no que diz respeito A vide coletiva no Estado, leis, eticidade ete. Também os ditos dourados atribufdos a Pitagoras podem ser aqui situados. Tudo isso. todavia, so espécies hébridas, que aascem do fato de que se fica na verdade preso em geral ao tom de um determinado género; contuda, na incompletade do objeto no se pode chegar a0 desenvolvimento completo, ¢ sim corre-se 0 perigo de também introduzir 0 tom de um outro género, aqui, por exempta, do Hrico. 327| y) Tais enunctados, assim como os refer! h4 pouco, podem, em terceiro iugar, a partir de sua particularizagao fragmentiria e isolamento au- ténomo, colocar-se numa série para um todo maior e se tornar acabados em uma totalidade, que é pura ¢ simpiesmente de espécie épica, uma vez que nem uma mera disposigao lirica nem uma ago dramética fornecem 4 unidade de cocs%o ¢ © auténtico ponto central, ¢ sim um circulo da vida efetive ¢ de- terminado, cuja natureza essenciat deve ser levada a consciéncia igualmente em termos gerais bem como no que se refere as diregées, Jados, eventos, de- vyeres particulares etc, De acordo com o cardter de todo este estagio épico, cue institui 0 que € permanente ¢ universal como tal, como uma finalidade no mais das vezes ética de adverténcia, de doutrina ¢ de exortagdo para uma vida em 35. Pareuétiro é relative a parénese, do grego paratnenis: discurse moral, exortagao & virtnde (N. de TD, 38. APOESIA si mesma eticamente consistente, tais produtos aleangam um tom diddtico: contudo, devido & novidade dos enunciados de sabedoria, devido & intui- Bo sobre a vida e & ingenuidade frescas das consideragSes, tais produtos per- manecem ainda muito distantes da sobriedade dos poemas doutrinérios pos- teriores e, uma vez que permicem ao elemento descritivo o espago de jogo requerido, fornecem a prova acabada de que o todo da douttina, assim como 4 descrigao, so Imediatamente hauridos da efetividade mesma, vivida ¢ apre- endida segundo sua substéncia, Como exemplo mais preciso quero apenas indicar Os Frabathos ¢ os Dias de Hesiodo, caja sabedoria origindria da dou- trina e do descrever alegra pelo lado do podtica, de um modo inteiramente diferente do que a etegancia mais fria, a crudigio ¢ a sequéncia sistemitica do poema de Virgilio sobre « agrieuliura®®, b. Poemas diddtico-filoséficos, cosmogonias e teogonias Se as espécies até agora designadas em epigrumas, gnomas ¢ poemas didéticos tomam para si, como matéria, Ambitos particulares da natureze ou da existéncia humana, a fim de colocar diante da representagdo, em pa- lavras concisas de modo mais singelarizado ou abrangente, 0 que é elem- poralmente pleno em Contettdo ¢ o verdadeiramente existente {Seiende] neste ow nagaeie objeto, [328] estado ou campo, ¢ a fim de também atuar de modo prdtico, no entrelacamento ainda mais estreito da poesia ¢ da efetividade, por meio do érgie da poesia, cntio um segunda circle € em parte mais pro~ fundo, em parte tern menos a Finalidade diddtica ¢ do methoramento. Esta posigdo podemos atribuir ds cosmogonias € as teogonias, bem come aqueles produtos mais antigos da [ilosofia, que ainda nao foram vapazes de se liber- tar inteiramente da Forma poética a Assim, por exempio, ainda permaneve senda de espéciv postica a apre- sentagio da filosofia cleata nos poemas de Xenéfantes ¢ Parménides, partiewlar- mente om Parménides, no prembulo de sua obra filosGfica. O contetido ¢ aqui o Um jdas Eine} que, diante do devir ¢ do que vio a ser, diante dos fenémenos particulates e singulares, € o intransitério co eterno. Nada do que ¢ particular deve mais dar satisfago ao espirito, 0 qual aspiza por verdade ¢ coloca a mesma inicialmente em sua unidade e consisténcia a mais abstrata diante da consciéncia 36, Traiase do poema Ar Geirgicas, euja ceferéncis iniciat é Hesfode. menos no que diz respefto 20 costeddo, mas mals quanto ao clagio ds agrieulwra, no livre 1, come ums rey @utiquae iandix er arity &N, da 3, ED CURSOS DE Estérica pensante. Expandido pela grandiosidade deste objeto e Intando com a poténcis do mesmo, a elevagio da alma alcanga ao mesmo tempo uma inflexio para o lirico, embora toda a explicitacio das verdades que penetram no pensamento traga em si mesma um cardter puramente objetivo ¢, desse moda, épice. 8) Nas cosmogonias, ent segundo lugar. 60 devir das coisas, sobretudo da natureza, o impeta ¢ a luta das atlvidades que nela imperam, que fornece 9 conteddo © conduz a fantasia poética a expor ja mais concretamente ¢ com mais consisténcia um acontecimente na Forma de feitos eventos, na medida em que a imaginagdo personifica para si, de modo mais indeterminado ou firme, as forgas naturais que se elaboram em diferentes cfroulos ¢ configu: rages €, simbolizando, as veste na Forma de acontecimentos ¢ agdes huma- nos. Esta espécie de contetido e de exposicio épicos pertence principalmente as religides orientais de natureza e, sobretudo, a poesia indiana foi suma- mente [329} fértil na invengo e deserigdo de tais modos de representagio muitas vezes selvagens ¢ divagadores acerca do nascimento do munda ¢ das poténcias que nele continuam atuando. y) Algo semelhanie ocorre, em terceiro Tugar, nas teogonias, que encon- seam sua posigfio correta particularmente quando, por um lado, nem os muitos deuses isolados devem ter de modo exclusive a vida natural por conteddo mais preciso de sua potncia ¢ produgio, nem inversamente, por outro iado, tan deus eria o mundo a partic do pensamento ¢ do espfrito e, num monoteismo zeloso, nfo tolera qualquer outro deus ao lado de si, Este belo centro é man- ido unicemente pela intuigo religiosa grega ¢ encontra uma matéria intransitéria para as teogonias na vitGria da estirpe divina de Zeus sobre a selvageria das primeiras forgas naturals, bem como na lita contra estes ances trais naturais: um devir ¢ uma disputa, que ¢, com efeito, a histéria do surgimento apropriade dos deuses elernos da poesia mesma. O exemplo co- nhecido de tal espécie de representago épica temos na Teogonia, que chegox até nés como sendo de Hesfodo. Aqui todo o acontecimente jé assume completamen- te a Forma de eventos humanos e permanece tanto menos apenas simbGlico quanto mais os deuses invocados para o dominio espiritual também se Tibertam para & forma correspondente & sua esséneis da individualidade espiritual e, por isso, tal como os homens, estéio legitimacos a agirem e serem representados fdargestelf]. Mas o que ainda falta a esta espécie do épico é, por um lado, 0 acaba mento autenticamente poético. Pois os atos ¢ os acontecimentos que tais poe- mas podem descrover so certamente uma sucessiio em si mesma neeessaria de incidemes ¢ acontecimentos, mas nenbura aco individual que procede de i dinico ponto central ¢ nele proeura sua unidade € fechamento. Por outro lado, 0 APOESIA © conteddo, segundo sua natureza, nfo oferece a intuigo de uma fotalidade ‘om st mesma completa, na medida em que ele em esséncia dispensa a efetivi- dade autenticamente humana que, em primeiro lugar, {330} deve fornecer a matéria verdadeiramente conereta para o imperar das poténcias divinas. Por isso, se @ poesia épiea deve aleangar sua forma consumada, cla também ainda tem de se desvinewiar destas deficigncias, . A cpopéia propriamente dita Isso ocorre naqueles Ambitos que podemos designar com 0 nome da epo- péia®? propriamente dita. Nas espévies vistas até agora, que costumeiramente deixamos de ludo, estd presente sem diivida o tom Spico: seu contetido, toda- via, ainda nfo é concretamente poétice. Pois enunciados éticos particulares filosofemas, no que diz respeito & sua matéria determinada, permanecem pre- sos co universal; a autenticamente poético, orm, é 0 espiritual concrete na forma individual; ¢ a epopéia, na medida em que tem por assuate [Gegenstande} que 6 alcanga como abjeto [Objekt] o acontecer de uma ago, que deve chegar 3 intuigdio em toda a amplitude das circunstincias ¢ das relagdes como um aconlevimento rico, na conexie com o mundo em si mesmo total de uma na- gio © de uma época. A vistio de mundo {Welranschauung] ¢ a objetividade totais de um espirito do povo. apresentadas em sua forma que se objetiva a si mesma como evento efetive, constitui, por isso, o contedda € a Forma do épico propriamentre dito, A esta totalidade pertence, por um lado, a consciéncia religiosa dc todas as profundidades do espirite humano, por outro lado, a exis~ téacia (Dasein] concseta, a vida politica ¢ doméstica, descendo até os modos, 2 caréncias ¢ os meios de satisfagio da existéncia {Kxistenz] exterior: ¢ tudo isso & epopéia anima por meio de um estreito amalgamento com os indiv(du- os, uma vez que para a poesia o universal ¢ o subsiancial existem apenas na presenga viva do espitito, Bste mundo total e, contudo, igualmente inteira ¢ individuaimente concentrado, deve entio, em sua realizagio, prosseguir cal- mamente, sem se apressar pritica ¢ dramaticamente na diregio da meta © do resultado dos fins, de modo que nos demoramos junto aquilo que ocorre, nos 37. Epopie: Hegel distingve, com este tormo, muito comum em alemis, 2 epopéia ekissica de suas figuras anteriores. 88 quais se poderia aplicar taribdea o teetno “epus”. Eximologleamente, 0 ter io “poteta’, acrescentado a “epay", remete ao processo proprianente postico da fabtieagae da nartativa pice. Poder-se-ia dizer, 10 espirito do texto begetians, que o “xpos” aaterior 3 “epi péia” constliei uma mera nartativa ainda mio propriamente postica, no sentido de um acaba tmenty poctica, © qual apenas ¢ alcangado pela “epeptia” (N. da T oO cuRsos DE esreTICN aprofundamos nas pinturas singulares do percurso © podemos desfrutar detes em sua minicia, [331] Desse modo, todo o percurso da exposigio aicanga em sua objetividade zeal a forma de uma sequéncia exterior, cujo fundamento ¢ limite, porém, deve estar eontido no interior ¢ ne essencial da matéria épica determinada € nio ser expressamente ressaltado. Se, por isso, 0 poema épico também se torna mais abrangente ¢, devido & autonomia relativamente maior das partes. solto em sua eonexo, nfio devemos, todavia, acreditar que deve ser cantado indefinidamente, ¢ sim, como qualquer outra obra de arte, ele tem de se tornar acabado poeticamente como um todo em si mesmo orginico, max © quai se move com calma objetiva, para que passamos nos interessar pelo singular mesmo ¢ pelas imagens da efetividade viva. a) A obra épica, como uma tal totalidade origindria, & a lenda [Sage], 0 livro, a Biblia de um pove, ¢ toda nagio grande ¢ significativa tem tais livros absolutamente primeiros, nos quais é expressado para eles 0 que ¢ seu espirite otigindrio. Nesta medida, tais monumentos nada mais silo do que as bases propriamente ditas para a conscidncia de um povo, e seria interessante organi- zar uma coletanea de tais Biblias épicas. Pois a série das epopéias, quando ndo sho alguma obra artificial tardia, nos mostraria uma galeria dos espiritos dos povos [Volksgeister]. Entretanto, nem todas as Biblias possuem a Forma poé- tica de epoptias ¢ nem todos os povos ~ que revestiram o que tem de mais sagrado, no que concerne & religifio v & vida mundana, na forma de obras de arte abrangentes e épicas ~ possuem livros fundamentais religiosos. O Antigo ‘Testamento, por exemplo, contém, na verdade, muitas narrativas lendarias historias efetivas, bem como pecas poéticas esparsas, mas o todo nao é uma. obra de arte. Igualmente 0 nosso Novo 'festamento, assim como 0 Alcorio, se resttingem principaimente ao lado religioso, do qual entéo @ mundo restante Gos povos € uma seqiléncia posterior, Inversamente, faita aos gregos, que pos- sucm nos poemas de Homero uma Biblia poética, livros fundamentals religiosos, tais como as encentramos nos indianos ¢ nos parses. Mas onde nos deparamos com epopsias origindrias (332), temos af de distinguir essenciaimente os livros fun- damentais pogticos das obras de arte chéssicas postesiores de ume naglo, as quais do mais fornecem uma intuig2o total de todo o espirito do povo, mas espelham © mesmo mais abstratamente apenas em diregGes determinadas. Assim, por exemplo, a poesia dramatica dos indianos ou as tragédias de Séfocies nko nos fornecem uma tal imagem total como o fornecem © Ramajana e o Mahabarata ou a Hada ea Odisséia. B) Na medida em que na epopéia propriamente dita se exprime pela pri- meira vez, de modo postico, a consciéneia ingénua de. uma nagio, entio o poema 2 APOESIA autenticamente épico recai essencialmente na época iatermedidtia, na qual um povo certamente acordou do embotamento ¢ o espirite jé se tornou forte em si mesmo para produzir seu proprio mando e nele se sentir [fithden} famitiar, mas onde, inversamente, tudo 0 que mais tarde se torna dogma religioso firme ou lei burguesa ¢ moral, permanece ainda inieiramente uma mentalidade viva, nfo dissociada do individuo singular como tal, € também a vontade ¢ sentimento ainda nfo se separacam um do outro, ea) Pois, mediante este destigamento do si-mesmo [Selbsr] individual do todo substancial da nagdo ¢ de seus estados, dos modos de pensar, dos fei- tos ¢ dos destinos, assim como mediante a separgiio do homem em sentimento e vontade, chega a seu mais maduro desenvolvimento no a poesia épica, e sim, por um lado, @ poesia Hriea, por outro lado, a poesia dramatica. Isso ocorte de modo complete nos dias tardios da vida de um povo, nos quais as determi- nagdes universais, que tém de conduzir 6 homem quanto ao seu agit, ndo per- tencem mais a0 inimo em si mesmo total e 2 mentatidade, e sim aparecem j4 autonomamente como um estado juridico ¢ legal tornado por si mesmo firme, como uma ordem prosaica das coisis, como constituigdo politica, como pres- crigdes morais ¢ de outra natureza, de modo que as obrigagdes substanciais surgem ao homem como uma necessidade exterior, nfo imanente x ele mes- mo, que o forga a deixar que elas tenham validade, Diante de tal (333) efeti- vidade jé por si mesma pronta, 0 Animo entZio se torne ort igualmente um mundo por si mesmo existente da intuigia, da reflexde ¢ do sentimento subje~ tivos, que nZo progride para a aio e exprime liricamente seu demorar-se em si mesmo, a ocupacao com 0 interior individual: ora a paixde prética se eleva A questo principal ¢ procura se autonomizar pela agiio, na medida em que rouba das circunstancias exteriores, do acontecimento ¢ do evento o direite da auto- nomia épica, Esta firmeza individual, em si mesma fortalecida dos caracteres ¢ dos fins, no que diz respeito ao agir, condux entio inversamente para a poesia dramdtica, A epopéia, porém, ainda exige aquela unidade imediata do sentimento ¢ da ago, entze os fins interiores que se executar conseqiente- mente ¢ as contingéncias e eventos exteriores ~ uma unidads que em sua ori- ginalidade insepardvel apenas existe nos primeiros perfodos da vida nacional, assim como da poesia. 88) Neste caso, nio devemos nos represeatat a coisa como se um povo em sua época herdica como tal, na pAtria de sua epopdia, jé possufsse a arte de se descrever a si mesmo posticamente; pois uma coisa é uma nacionali- dade em si mesma poética em sua existéncia efetiva, outra é # poesia como a conscigacia representadora de matérias posticas ¢ como exposigdo artisti- 93 CURSOS DE ESTETICA ca de um tal mundo. A necessidade de se manifestar como representagdo, a formacao da arte, sarge necessariamente mais tarde do que a vide € 0 espi- rito mesmo, 0 qual, desenvolio, se encontra em casa em sua existéncia po- étiea imediata. Homero e os poemas que levam o seu nome so séculos mais tardios do que a guerra troiana, que igualmente vale come um fato efetivo, assim como Homero € para mim uma pessoa histérica. De modo semelhan- te, Ossian, caso os poemas a ele atribuidos de fato provenham dele, canta um passado de herdis, cujo brilho decafdo evoca a necessidade da recorda- 20 ¢ da configuragdo podtieas. [334] yy) Nao obstante esta separagiio, ainda deve, todavia, restar ao mes- mo tempo uma conexfo estreita enire o poeta e sua matéria, O poeta ainda deve estar inteiramonte nestas relagdes, nestes modos de intuigdo, nesta crenga, ¢ apenas ter necessidade de acrescentar ao abjeto, que ainda constitul sua efetividade subs tanciat, a eonscigncia poética, a arte da exposig&o. Se, ao contréri, falta o pa~ rentes¢o com a crenga, com a vida efetivas ¢ com o representay habitual, que a propria presenga impde ao poeta, ¢ com os acontecimentos que cle desereve epicamente, entZo seu poema torna-se, de modo necessario, em si mesmo gindido e desigual. Pois ambos os lados, 0 contetido, o mundo épico que deve chegar 8 expo- sigdo, ¢ 0 outro mundo independente disso, a saber, da consciéncia e do representat podticos, sio de espécie espiritual, ¢ possucm um prine/pio determinade em si mes- mo, 0 qual thes fornece tragos caracteristicos particulates, Se, pois. o espitite artis tico é essencialmente diferente daquele por meio do qual a efetividade nacional eo feito descritos aicangam sua existéncia, entao nasce, desse modo, a separagio que aparece para nés imediatamente como inadequada ¢ aborrecedora, Pois, de um lado, vemos entiio cenas de um estado de mundo do pasado, de outro fade Formas, mo- dos de pensar, espécies de consideraciio de um presente distinto disse, por meio do qual as configuragdes da crenga anterior, nesta reflexdo mais desenvol vida, tornam- se uma questo fria, uma superstigae e adoro vazio de uma maquinaria meramente poética, 3 qual falta tods 2 alma originéria de uma vitatidade propria y) Isso nos conduz para a posigio que, em geval, 0 sujeito poético tem de assamnir na poesia épica propriamente dita, aa) Por mais que a epopéia também deva ser de espacie objetiva [se~ chlicher|, a exposigio objetiva [objektive} de um mando em si mesmo funda- mentado ¢ realizado devido 4 sua necessidade, do qual o pocta, com seu modo proprio de representar, ainda esté proximo € se sabe idéntico com ele, a obra de arte, que expée tal mundo, € e permanece [335{ todavia o produto livre do individue. A este sespeito, podemos mais uma vez recordar o grande enenclade de Herddoto, a saber, que Homero e Hesfodo teriam feito para os gregos os s A POESIA seus deuses. Jd esta auddcia livre do criar, que Herddoto atribui aos postas épicos mencionados, nos di um exempio do fato de que as epopéias certamen- te tém de ser antigas em um pov, mas que no tém de descrever o estado o mais antigo. Quase todo povo, a saber, tinka diante de si, em maior ou menor grau, em seus inicios primeizos, alguma cultura estranka, um culto retigioso estrangeiro o, desse modo, foi por cies influenciado: pois justamente nisso reside © aprisionamento, a supersti¢fo, o barbarismo do espirito: em vez de ser fa- millar no que € supremo, tomé-lo como algo esiranho de si mesmo, que ndo surgia da consciéncia nacional ¢ individual propria. Assim, por excmpto, os indianos, antes da 6poca de suas grandes epopéias, tiveram com certeza de passar por muilas grandes revolugtes de suas representagGes religiosas e de outros cestados; também os gregos tiveram de transformar elementos egipcios, frigios, da Asia Menor, tal como ja vimos anteriormente; os romanos encontraram diante de si elementos gregos, os barbares da migragdo dos povos elementos romanos ¢ cristios etc, Apenas quando © pocta com espfrito livre abendona um tal jugo, otha para suas proprias mos, considera seu proprio espirite dig- no e, Gom isso, desapareceu o wurvamento da consciéncia, pode irromper a €poca para a epopéia propriamente dita; pois, do outro lade, as épocas de um culto tornado abstrato, de dogmas elaborades, de fundamentos politicos ¢ morais estabelecidos, jé ultrapassaram novamente o que concretamente autéctone. ‘Ao contrésio, 0 poeta autenticamente épico permanece, aie obstante, inteira- monte familiar em seu mundo, tanto no que se refere 3s poténcias, ds paixdes ¢ fins universais, que se mostram eficazes no interior dos individuos, quanto no que se refere a todos os lados exteriores da autonomia do cria. Assim, por exemplo, Homero falou com famifiaridade de sea mundo, ¢ onde hé familia- sidade para os outros, também somos [336] familiares, pois eniio observamos a verdade, o espfrito que vive em seu mundo e st tem a si nele, ¢ nos senti- mos bem ¢ alegres, pois o poeta mesmo ¢std nisso envolvido com todo 0 sen. tido eo espitito. Tal mundo pode estar num estagio mais baixo de desenvoi- vimento ¢ acabamento, mas ele permanece no estégio da poesia ¢ da beleza imediata, de modo que podemos reconhecer, entender, segundo o Conteddo, tudo 0 que exige a necessidade mais clevada, o humane propriamente dito ~ a honra, 0 modo de pensar, o sentimento, o aconsethamento, os feitos de cada hersi — ¢ desfrutar estas formas, na minuciosidade de suas descrigdes, como clevadas ¢ ricas de vida, iB) Devido 4 objetividade do todo, porém, 0 poeta como sujeito deve retroceder diante de seu objeto e desaparecer no mesmo, Apenas o produto, mas nie 0 posta aparece e, todavia, 0 que se expressa no poema é algo seu: 9s (CURSOS DE ESTETICA cle 0 configurou em sua intuigdo, introduzia sua alma nele, seu espfrito ple- no. Mas que ele o tenha feito, isso niio se apreseata explicitamente, Assim vemos na Hiada, por exemplo, ora Caleas ofa Nestor interpreiar os aconteci- mentos e, todavia, estes esclarecimentos so fornecidos pelo poeta: inclusive, 0 que se passa no interior dos herdis, ele esclarece objetivamente come uma intervenctio dos deuses; tal como surge Atenas para Aquiles irado, advertindo para que tenha prudéncia, Foi o posia que fez isso; mas porque a epopéia nao apresenta 0 mundo interior do sujeito que poetiza, ¢ sim a questo {Sache}, 0 subjetivo da produgiio deve igualmente estar de modo completo colocado em segundo plano, assim como o poeta mesmo mergulha totalmente no mundo gue ele desdobra diante de nossos olhos. ~ Segundo esie lado, o grande estilo épico consiste no fato de que a obra parece cantat-se por si mesma e surge de modo auténomo, sem ter um autor Ao tope, yy) O poema épico, porém, como obra de arte efetiva, apenas pode de- correr de um tinico individuo. Por mais que uma epopéia também expresse a questo de toda & nagiio, [337| no 6 um povo come coletividade que poetiza, e sim apenas individuos singuiares. O espirito de ume época, de uma nagio, é, certamente, @ cause substuncial, eficiente, mas que surge cla mesma apenas para a efetividade como obra de arte quando se concentra no génio individual de um poeta, o qual entiio leva A consciéncia e executa este espitite universal & seu Contedido como sua prépria intuigio e sea prépria obra, Pols poetizar é uma produgo espiritual, ¢ 0 espfrito existe apenas como consciéncia e autocon- Giéncia efetivas singulares. Se uma obra j4 existe em um tom determinado, ento isso se torna certamente algo dado, de modo que também outres so capazes de dat o tom semethante ou igual, assim come ainda hoje ouvimos serem cantados centenas de cantos segundo o mode goetheano. Muitas pegas, cantadas no mesmo tom, ainda no constituem obra aiguma plena de unidade. que apenas pode decerrer de um sinico espirito. Este é um ponto gue se tora especialmente importante no que concerne aos poemas homéricos, bem como 2 Cangéo dos Nibelungos, na medida em gue pata a tltima nao pode ser apon- tado com certeza histérica um autor determinado e, quanto b Miada ¢ & Odis- séia, como é conhecida, foi tomada valida a opinito de que Homero enquan- to poeta dinico do tode nunca existin, ¢ sim individues singulares teriam pro- duzido as pecas isoladas, que entdo teriam sido compiladas para aquetas duas obras maiores. Nesta suposi¢do pergunta-se sobretudo se aqueles poemas so cada um por sim mesmos unt todo épico organico ou, tal como ¢ agora difun- dida 2 opinio, s8o sem inicio e fim necessétios e, por isso, paderiam ter sido continuados a0 infinito. Sem ditvida, os cantos homéricos, em vez de serem 56 A PORSIA de conexiio condensada, fal corno as obras de arte draméticas sto, segundo a saa natureza, de uma unidade mais solta, de tal sorte que cada parte pode ser ¢ aparecer auténoma, ¢ muitas intervengdes e outras modificagdes permane- ceram abertas; eles compoem, contudo, inteiramente uma totalidade épica veraz, (338), internamente orginica, ¢ um tal todo apenas um ténico pode fa- der. A representagiio da falta de unidade ¢ da mera composigao de diferentes rapsédias, poetizadas em tom semeihante, é uma representagdo barbara que se opde & arte, Se esta visto deve apenas significar que o poeta como sujeito desaparece diante de sua obra, entio ela é 0 supremo elogio; ela entio nao significa nada mais do que 0 fato de que nBo se pode reconhecer qualquer mancira [Manier} subjetiva do representar e do sentir. E isso ocorre nos can~ tos homéricos, A questo, o mado da intuigdo objetiva do povo, somente, é que se expde, Mas mesmo 0 canto popular necessita de ume boca que 0 cante a partir do interior preenchido pelo seatimento nacional, ¢ mais ainda uma obra de arte em si mesma unificade torna necessérig 0 espirito em si mesmo unificado de wn tnico individuo. 2. Determinagdes particulares da epopéia propriamente dita Aid agora indicamos, breve e inicialmente, no que diz respeite a0 card~ ter em gerai da poesia épica, as espécies incomplctas, 28 quais, embora sejam de tom épico, todavia nao so epopéia alguma total, na medida em que nao expSem nem um estado nacional nem um acontecimento concreto no interior de um tal mundo inteiro, E este ditimo aspecto que, porém, fornece primeira- mente o contetido adequado pera a epopéia completa, cujos tragos fundamen- tais ¢ condigdes indiquei anteriormente, De acorde com estas recordagies prévias, temos de tratar agora das exi~ goncias particulares que podem sex deduzidas da natureza da obra de arte épica mesma, Aqui imediatamente se nos depara a dificuidade de que em geral pouco pode ser dito acerva deste aspecto mais especffico, de modo que logo deverta- mos entrar no que é histérico © considerar as obras épicas singulares dos povos, as quais, na grande diversidade das ¢pocas ¢ nagdes, pouca esperanga dio para resultados concerdantes. Esta dificuldade encontra, todavia, a sta solugio no fato de que das {339| muitas Bfblias épicas uma pode ser ressaltada, na qual encon- tramos a prova para o que pode ser estabelecido como o cardter fundamental veraz da epopéia propriamente dita. Estes so os cantos homéricos. A partit de~ les, principalmente, pretendo retirar os tragos que, como me parece, constitsem %

También podría gustarte