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História e Cultura – 2018

Aula 4: Ginzburg e a circularidade cultural Perguntar aos alunos: Qual a importância de um indivíduo
fora do comum?
GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as
ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição. São Paulo: Aula anterior: Diálogo com Thompson – situação singular
Companhia das Letras, 2006 [1976]. (normas surdas)

Informações do autor: 5 – COMO LIGAR REFORMA, IMPRENSA E REPRESSÃO?


Turim, 1939. Influência de Auerbach – teoria literária
(Mimesis – relação entre obra de arte e realidade); “Circularidade cultural” entre classes subalternas e classes
Referências intelectuais: Bloch, Gramsci, Freud, Auerbach, dominantes.
Lévi-Strauss, Bakhtin, Arnold Momigliano;
Conceito-chave da obra: CIRCULARIDADE CULTURAL
Obras: Andarilhos do Bem (1966); O queijo e os vermes
(1976), História Noturna (1989); Indagações sobre Piero Prefácio – Introdução, delimitação do problema
(1981), Mitos, Emblemas e sinais (1986).
Na década de 1970 – um longo embate pela HISTÓRIA DO
Temas: indivíduos e grupos sociais silenciados; religiosidades INDIVÍDUO, DO HOMEM COMUM.
e culturas periféricas (feitiçaria, xamanismo, judaísmo,
cristianismo); Como abre o livro: “No passado, podiam-se acusar os
historiadores de querer conhecer somente as “gestas dos
reis”. Hoje, é claro, não é mais assim. Cada vez mais se
Modo de produzir seus primeiros livros:
interessam pelo que seus predecessores haviam ocultado,
Leitura de arquivos inquisitoriais, desejando ler
deixado de lado ou simplesmente ignorado. “Quem
religiosidades populares a partir das ideias dos acusados e
construiu Tebas das setes portas?” perguntava o “leitor
não dos inquisidores, como se fazia nos estudos tradicionais
operário” de Brecht. As fontes não nos contam nada
sobre heresia.
daqueles pedreiros anônimos, mas a pergunta conserva todo
o seu peso”. (11)
ENTRELINHAS: observou nas entrelinhas os recursos
Debate do final dos anos 1960 e 1970
violentos, discursivos ou físicos, com os quais inquisidores
induziam as respostas dos acusados, gerando desvios de
Passo 1 – COMO CHEGAR NOS DE BAIXO?
confissões, defasagens de entendimento – abria brechas
para chegar nas outras vozes.
Escassez das fontes não é único obstáculo.
Quem produziu as fontes? Necessidade de filtros.
Uso de fontes judiciais.
CITAR: “Nada do que aconteceu deve ser perdido para a
O que se pretende: chegar na “cultura das classes
história” (Walter Benjamin) – Culturas destruídas, reforma
subalternas”.
derrotadas – respeitar o resíduo. (26)
Que documentos usou no caso de MENOCCHIO:
1 - Origem da pesquisa – ESTRANHAMENTO – Estar atento a
isso na documentação. Não olhar somente o que se procura.
1 – Dois processos abertos contra ele (15 anos de distância).
Ideias e sentimentos, fantasias e aspirações.
Estava escrevendo livro sobre os Benandant (feitiçaria) e se
deparou com caso inusitado – réu defendia a origem do
2 – Documentos cartoriais, cartas, etc. para chegar nas suas
mundo pela putrefação.
atividades econômicas, seus filhos, suas relações pessoais.
2 – O que o livro faz: “CONHECER A PESSOA POR SUAS
Passo 2 – O DEBATE HISTORIOGRÁFICO E SUA POSIÇÃO
LEITURAS”
NELE
Através de suas leituras e sua interação com elas - chegar a
Papel da Antropologia cultural – só através do conceito de
pensamentos, temores, esperanças, etc.
“cultura primitiva” – consciência do colonialismo + opressão
de classe reconheceu-se que “camadas inferiores dos povos
3 – O que leu, COMO LEU, papel da cultura oral
civilizados tinham cultura. Pressuposto: “desníveis culturais”
(ou ainda diferenças) nas chamadas “sociedades civilizadas”
Como fez a leitura a partir do compartilhamento de uma
– cultura erudita, popular, escrita, oral.
determinada cultura oral.
Já usa novo conceito de cultura: “conjunto de atitudes,
4 – Pressupostos: EXCEPCIONALIDADE
crenças, códigos de comportamento próprio das classes...”.
De um indivíduo fora do comum – nasce uma hipótese geral
Como cultura popular era até então olhada: folclore,
sobre a cultura camponesa popular da Europa pré-
tradição, imobilidade, vestígios (discussão em Thompson) –
industrial numa era marcada pela Reforma Protestante,
“olhar paternalista”.
difusão da imprensa e Contra-Reforma.
A novidade: deixar de olhar a cultura popular como oculta” – VIOLÊNCIA IDEOLÓGICA até na linguagem, na
fragmentária, “acúmulo inorgânico”, folclórica. operação cognitiva, no vocabulário.

O foco da discussão: a circularidade entre DOIS NÍVEIS de Resposta: Nenhuma fonte é objetiva, nem inventários. Não
cultura. Recorte do PROBLEMA há necessidade de “jogar a criança fora com a água da
bacia”.
Modo aristocrático de olhar a cultura: cultura popular seria a
deturpação, simplificação de uma cultura recebida, FOUCAULT – “se interessa pelos gestos de exclusão” e não
transmitida às classes populares. pelos “excluídos” (16) – Debate então recente – caso Pierre
Rivière – no início do XVII matou a mãe, irmã e irmão.
CULTURA ORAL – um enfrentamento para historiadores (x
Antropólogos – fontes estão vivas), que precisam se servir de O que há sobre ele: linguagem judiciária, linguagem
fontes escritas, geralmente escritas por sujeitos ligados à psiquiátrica (“linguagens de exclusão”) – se nega a
cultura dominante. interpretar o documento, não reduzindo-o a uma razão
estranha a ele. SOBRA SILÊNCIO.
Conclusão: CULTURA CAMPONESA CHEGA COM FILTROS
Equação: ESTRANHAMENTO ABSOLUTO QUE LEVA À RECUSA
Como até então se estudou essa temática DA ANÁLISE. FALA INATINGÍVEL.

A – Robert Mandrou: como cultura foi imposta às classes No seu relato: Pierre Rivière aponta leituras feitas.
populares – usando literatura de cordel (folhetos baratos), Memórias redigidas por ele.
que segundo ele alimentava “visão de mundo” das classes
populares. Cultura imposta às massas. “Aculturação Passo 4: MÉTODO PROPOSTO (ou como enfrentará as fontes
vitoriosa” - PASSIVIDADE CULTURAL. Visão tira o escolhidas para o trabalho)
protagonismo dos sujeitos que consomem essa literatura.
Aquilo que “foge do esquema”
B – Geneviève Bollème: usa literatura de cordel e viu nela
uma expressão espontânea de uma cultura popular original Diz que ao ler documentação para escrever sobre os
e autônoma, permeada por valores religiosas. “Literatura Benandant esbarrava sempre nos esquemas de origem culta
destinada ao povo”. Imagem estereotipada e adocicada da da bruxaria inquisitorial. Como superar a dificuldade?
cultura popular.
Método: “Pela discrepância entre as perguntas dos juízes e
C – Mikhail Bakhtin: relações entre Rabelais e a cultura as respostas dos acusados – a qual não poderia ser atribuída
popular (livro Gargântua e Pantagruel, que talvez não aos interrogatórios sugestivos nem à tortura -, vinha à baila
tenham sido lidos por nenhum camponês). Estuda a obra de um estrato profundo de crenças populares
Rabelais, como incorporou cultura popular em seus escritos substancialmente autônomas”. (19)
– No centro da análise: CARNAVAL – inversão brincalhona de
todos os valores (isso se contraporia ao dogmatismo e Irredutibilidade dos discursos de Menocchio a esquemas
seriedade da cultura das classes dominantes). Argumento: o conhecidos aponta para estratos de crenças populares –
cômico na obra de Rabelais está justamente nos temas estratos que vão do radicalismo religioso ao naturalismo
carnavalescos da cultura popular. científico, às aspirações utópicas de renovação social.

Nesse caso: temos dicotomia cultural + circularidade Passo 5: Micro-história, lugar do indivíduo EXCEPCIONAL
cultural – influxo recíproco entre cultura subalterna e cultura
hegemônica. CONTRAPONTO COM HISTÓRIA QUANTITATIVA: Que
relevância podem ter, num plano geral, as ideias e crenças
PASSO 2: MOMENTO EM QUE PESQUISADOR DIZ SEU de um indivíduo único em relação aos do seu nível social?
DIFERENCIAL EM RELAÇÃO À BIBLIOGRAFIA. SUA
CONTRIBUIÇÃO História serial – massas indistintas x risco do “anedotário”

Aceita a ideia de INFLUÊNCIA RECÍPROCA. Menocchio não é microcosmo de um estrato social de um


período.
Qual é o limite do livro de Bakhtin: os protagonistas.
Camponeses e artesãos em sua obra falam apenas através Resposta: Não é um “camponês típico”, médio. Ao olhos dos
das palavras de Rabelais. contemporâneos, era um homem “diferente dos outros”.
Mas sua singularidade TINHA LIMITES BEM PRECISOS: a
OBJETIVO DE GINZBURG: “tirar o intermediário” cultura do próprio tempo e da própria CLASSE – limite que
não permite que ele fale sem ser entendido, que ele caia na
PASSO 3: COMO LIDAR COM AS FONTES? “ausência de comunicação”.

Debate com FOUCAULT: “Como resgatar a cultura popular, “JAULA FLEXÍVEL” – Da singularidade, possibilidades
ante as dificuldades impostas pelas fontes?” “Violência latentes, liberdade condicionada.
O menos frequente ajuda a precisar o mais frequente. “Deus é tudo o que se vê e nós somos deuses”. Punha em
dúvida virgindade da Virgem Maria.
Crítica à história serial: Livros circulavam, mas como eram
LIDOS? QUAL A INFLUÊNCIA DA CULTURA ORAL SOBRE O D – O primeiro interrogatório - “Demonstrou-se muito
MODO DE SE APROPRIAR DESSAS LEITURAS? loquaz”

CONCLUSÃO: INTERFERÊNCIA DA CULTURA ORAL NA Estratégia: sempre contrapondo ao que foi dito pelas
LEITURA E INTERPRETAÇÃO DOS LIVROS E TEXTOS. testemunhas. Confirma algumas falas das testemunhas:
“mas não forcei ninguém a acreditar”.
Passo 6: Pressupostos fundamentais para a leitura de Virgindade, “como surgiu o mundo” (do caos, tudo junto,
Menocchio queijo feito do leite – 36-37)

A – Modo como Menocchio leu os textos e os referenciou Constatação fundamental para pesquisa: Não foi
aos inquisidores mostram que suas posições não são considerado louco, nem brincava, “falava dentro da razão”.
redutíveis a um ou outro livro. 37. “150 anos depois, Menocchio provavelmente teria sido
trancado num hospício”.
B – Tom original na defesa da tolerância religiosa e
renovação radical da sociedade – o que mostra que não E – Desenrolar do processo (item5)
recebeu passivamente influências externas.
Documentação sobre ele e suas atividades no processo (boa
C – Discorda da história das mentalidades – porque conduta, dízimos, confissões anuais).
pressupões elementos inconscientes, inertes, arcaísmos e
sobrevivências. Quer ver COMPONENTE RACIONAL. Como se comportou em diferentes interrogatórios (4 longos)
e em diferentes momentos dos processos.
D – Discorda de elemento interclassista da história das
mentalidades – (“César e o último soldado”) - CLASSE Detalhe importante para pesquisa: Aconselhado pelo
vigário a falar pouco. Não quis. Quis falar muito, explicar.
O livro em si, a pesquisa feita, estratégias “Queria falar sobre fé” (40), diante do papa, de um rei.

1 – Quem era Menocchio? Localizá-lo socialmente. F - PISTAS FALSAS (item 6)

Duvidar da fonte: diz ser pobre, era mesmo? Contrapor, Central: fugir das explicações únicas e simplificadas.
comparar com outros documentos: dote da filha, outros Encontrar outras lógicas.
episódios da vida dele;
Começou denunciando opressão dos ricos contra pobres
Foi administrador de paróquia, dote da filha, sabia ler e através do uso do latim. Igreja como cúmplice – cardeais e
somar – frequentado escola pública (o que ocorria padres eram homens ricos. Igreja arrendam todos os
tradicionalmente para virar administrador) campos.

2 – Como foi parar no Santo Ofício? E por que? Dado: Menocchio possuía dois campos arrendados. Caso
pessoal?
Denunciado em 1583. Tentativas de proselitismo. Discute
por suas opiniões. Ginzburg: argumenta que não, que embora partisse de caso
pessoal, abarcava âmbito mais geral, partia das formulações
A - Investigação – ouvindo as testemunhas do processo. (32) dos Evangelhos por uma igreja mais pobre. (41)
Estratégia: Leitura densa – vertical
Apaixonada exaltação: desejo por religião simplificada.
Pergunta do pesquisador: Discurso conhecido por todos.
Todos se dizem indignados com falas do moleiro, que eram Método: contrapõe constatação de terras arrendadas, o que
antigas (30 anos), mas ninguém nunca o tinha denunciado poderia indispô-lo com a igreja com o desejo de falar sobre
antes. Por que? religião e um tipo de organização do mundo a partir dela.

Hipótese: não se percebe verdadeira hostilidade, no


Método: análise densa do texto, observando momentos de
máximo, desaprovação. “Eu gosto dele”, “amigo de todo
grande exaltação, entusiasmo do interrogado, que abandona
mundo”, “foi avisado”.
a prudência frente aos inquisidores. (42)
B – Denunciante: pároco local (Montereale)
Exemplos: batismo é uma invenção, crisma – mercadoria.
Pergunta: O por que da hostilidade do clero?
Invenções dos homens; qualquer um que tenha estudado é
Hipótese: Menocchio não reconhecia hierarquia eclesiástica
sacerdote; confessar com padres é mesma coisa que com
em questões de fé.
árvores.
C – O que Menocchio dizia? Frases atribuídas a ele.
Momentos em que contesta testemunhas.
CENTRAL: INDEPENDÊNCIA DE PENSAMENTO Conclusão: “O que levava Menocchio a negar, de maneira
Ginzburg destaca a insistência de Menocchio na sua impetuosa, em seus discursos as hierarquias existentes não
independência de julgamento, o direito de ter uma posição era só a percepção da opressão, mas também a ideologia
autônoma. religiosa que afirmava a presença, em cada homem, de um
Sagrada escritura dada por Deus, mas adaptada pelos “espírito”, ora chamado de “Espírito Santo”, ora de “espírito
homens. de Deus”. (52)

G - A PERGUNTA QUE ENTÃO SE FORMULA APÓS TODAS AS Método: Ginzburg não reduz o pensamento de Menocchio a
AFIRMAÇÕES DE MENOCCHIO: Qual era a base, a origem do uma opressão – vivida na prática – pelos clérigos que
pensamento do moleiro? (44) dominavam as terras, mas a atribui a uma concepção mais
geral da religião, que justifica e legitima tal dominação.
Qual era o fundamento dessa crítica “radical” aos
sacramentos? J - DESTACAR: INVESTIGANDO AS ORIGENS DO PENSAMENTO
DE MENOCCHIO – CONTRAPÕE IDEIAS SURGIDAS NO
Método: Ginzburg organiza sínteses do pensamento de PROCESSO COM CORRENTES COMO LUTERANOS E
Menocchio para encontrar suas origens. (44-47) Desejava ANABATISTAS
um “Mundo novo” – o que isso queria dizer?

H – O QUE ERA O FRIULI NAQUELE MOMENTO? (item 7) A – Menocchio e a REFORMA: (item 9)

Friuli na segunda metade do XVI – como sociedade era Constata: ideias de Menocchio sobre luteranos são
composta, conflitos no interior da nobreza, violento conflito permeadas de contradições -uma versão para inquisidores,
de classes por conta da divisão das elites. No Friuli uma para testemunhas.
camponeses faziam reuniões secretas. Recomposição da
solidariedade dos nobres gerou repressão aos camponeses
(início do século, 1511). Revolta de 1511. Apoio de Veneza
aos camponeses. Criação de laços de solidariedade entre Questão: analisar como os sentidos da palavra “luterano”
Veneza e os campos friulanos, em oposição à nobreza local. variam no tempo.
Epidemias, camponeses paupérrimos. Sociedade em
desagregação. Constata: Menocchio: negara valor ao Evangelho, rejeitara
divindade de Cristo e louvava um livro que talvez fosse o
I – MAS O QUE UM MOLEIRO SABIA DESSAS DISPUTAS? Alcorão. [incompatíveis com luteranismo]

O que sabia sobre emaranhado de contradições políticas, Conclusão: ligação de ideias de Menocchio com as de Lutero
sociais e econômicas? não é compatível ou tão evidente.

Reforça estrutura hierárquica de classes – “Menocchio é um Próximo passo de pesquisa: recomeçar, retroceder para
dos pobres”, mas tem atitude diferenciada em relação aos achar as bases do pensamento do moleiro.
“superiores” (ex. violência no ataque às autoridades
clericais).
B – Menocchio e os ANABATISTAS:
Repertório familiar ao enunciado por Menocchio
CHAVE DE LEITURA: Mais crítico com autoridades da igreja [aproximação de ideias], exceto pela recusa do batismo. Ou
(acusados de arruinar os pobres) do que com autoridades seja, não se encaixa completamente.
políticas. (50)
Método: pesquisa sobre Anabatistas e sua chegada na Itália,
Ou seja: encarnação da opressão esta na hierarquia no Vêneto.
eclesiástica. POR QUÊ? Hipótese: que Menocchio tenha entrado em contado com
grupo de anabatistas.
Isso tem a ver com seu caso pessoal? Historiador revela que
não sabe. Verifica grande extensão de terras da igreja no Conclusão: Cuidado – dificuldade de “encaixar” Menocchio
Friuli – podia não ser com ele, mas olhava ao redor e via o num modelo. Ideias não batem por completo (importância
domínio da igreja sobre os outros. (51) que o moleiro dá à eucaristia, confissão)

O mais central: se constata que clérigos arruínam os pobres, CENTRAL: como identificar no processo momentos de
EM NOME DE QUE? entusiasmo e sinceridade, momentos de manipulação e
prudência frente ao inquisidor. 52
PISTA PARA ORIGENS DO PENSAMENTO: À exploração dos
clérigos, Menocchio contrapõe religião bem diferente: EM Resposta 1: atitude de Menocchio, insolente por vezes,
QUE TODOS SÃO IGUAIS. confiante – podem nos ajudar a abandonar hipótese da
prudência em alguns casos.
CITAR - Conclusão e método
Resposta 2: heterogeneidade dos textos indicados por Livro lido há muito tempo e passagens reinterpretadas,
Menocchio como “fontes” de suas ideias religiosas é o que misturadas a outros elementos.
se pode imaginar mais longe de conceitos rígidos, como os
dos anabatistas. CONCLUSÃO 1: livro não era a influência única de
Menocchio. No livro não havia negação da divindade de
Resposta 3: momentos em que claramente não entende a Cristo, nem recusa das Escrituras e condenação ao batismo.
pergunta ou colocação do inquisidor
O não entendimento leva à suposição do distanciamento de CONCLUSÃO 2: ideias de Menocchio se formaram muito
Menocchio com ideias de Lutero, por ex. – “Justificação”, antes do processo. Lera o livro décadas atrás e mesmo ante
“Predestinação”. (53) de conhecer Nicola.

Método: Rastreia ecos do luteranismo e anabatismo na CONCLUSÃO 3: não estamos diante de alguém que recebia
Itália, especialmente na região de Menocchio. passivamente ideias alheias.

1a Conclusão de Ginzburg: afirmações de tom radical de M - O QUE MENOCCHIO LEU? 66


Menocchio não serão explicadas se remetidas ao
anabatismo ou a um genérico “luteranismo”. Antes devemos Ginzburg fica atento aos diferentes momentos do processo
perguntar se não fazem parte de um RAMO AUTÔNOMO DE em que se contradizia, ludibriar. “tentação demoníaca”.
RADICALISMO CAMPONÊS que o tumulto da Reforma
contribuíra para que emergisse, mas que era muito mais Lista – no processo. 67 [Livros citados no primeiro e depois
antigo. 56 outros no segundo processo]

Perguntas:
1 – Como esses livros chegaram às mãos de Menocchio?
2 – Havia uma rede de leitores?
L – INFLUÊNCIAS DE OUTRAS PESSOAS: (item 10) 3 – Rastreia escolas e condição social de leitores.
4 – O que são esses livros.
Que Menocchio formulasse tais ideias SOZINHO parecia 5 – Emprestados x comprados.
improvável aos inquisidores. Menocchio afirmava que tudo
havia saído de sua cabeça. Método: diferenciar livros comprados dos emprestados, pois
comprados foram ESCOLHIDOS.
Nicola – teria ensinado heresias a Menocchio (2o processo).
Ginzburg vai atrás para saber quem era Nicola e se havia N – O LIVRO ESCOLHIDO (item 14)
passado pela vida do moleiro. (57) Decameron Entre os vários que leu, escolheu com certeza Fioretto dela
Bibbia.
Aqui começam as histórias dos LIVROS EMPRESTADOS e
LIVROS PRÓPRIOS de Menocchio. Questões importantes:
A – Lista por si só não basta.
Método: Ginzburg fica atento a detalhes que escapam aos B – Livros listados são incapazes de dar conta das “opiniões
inquisidores – consegue isso comparando processos e fantásticas” de Menocchio.
passagens que ficaram obliteradas. 58 C- Nem litas de livros, nem livros citados, nem correntes
como anabatistas e luteranos explicam totalmente
pensamento original de Menocchio. “extravagante
RASTREANDO LIVROS – Menocchio se refere a um livro de
cosmogonia”.
Nicola, chamado Zampollo (enredo). Pelo enredo, nome do
protagonista, chega à obra. 59
PROPOSTA: inserir ideias e crenças de Menocchio num veio
ACHA REFERÊNCIA CENTRAL: profundo de radicalismo camponês trazido à luz pela
LIVRO LEMBRADO POR LONGO PERÍODO: Livro que Reforma (mas independente dela). “muro de labirintos”
alimentou ideias de Menocchio, ao qual sempre fazia
referência. Il Sogno dil Caravia. Síntese do MÉTODO: Que livros lia; Como lia; A que
conclusões chegava; suas lacunas e deformações;
Analisa o que é o livro: e estudos feitos sobre ele. Polêmica
contra hipocrisia, especialmente a dos frades. Tem elogios a
Lutero e ao evangelho. Analisa trechos do livro. No livro: CONCLUSÃO: Embora deformasse conteúdo, não desprezava
contraposição entre uma religião simplificada e sutilezas livros. Destaca o impacto causado por eles. Mas FUNDIA
teológicas lembram falas de Menocchio. PÁGINA IMPRESSA COM CULTURA ORAL.

Método: realiza claro esforço de tentar comparar palavras de O – COMO MENOCCHIO LIA (itens 16, 17 e 18)
Menocchio com suas ideias gerais ao que pode ser
encontrado no livro. Compara frases, trechos, passagens. Analisa densamente a forma como Menocchio lia alguns de
seus livros, como o Lucidario della Madonna.
Menocchio e suas estratégias de leitura: selecionava e Método:
isolava trechos, enfatizava palavras e ocultava outras; 1 - tenta dar sentido às ideias da cosmogonia cruzando com
invertia significados; juntava leitura + afrescos (igreja que leituras citadas.
frequentava); filtro da memória das passagens dos livros. 2 – Leituras que circulavam ideias sobre caos. Vai aparecer
até Ovídio e filósofos que falavam do Caos.
LEITURA PARCIAL E ARBITRÁRIA – CONFIRMAVA IDEIAS 3 – Compara versões diferentes que o próprio Menocchio
QUE JÁ TINHA. 76. apresenta em diferentes interrogatórios.

Ex. “Por que disse ‘Eu era aquele pobre’” - dedução é mais ORALIDADE – HISTÓRIA vai se alterando conforme contada e
importante amar ao próximo que amar a Deus. (77) Ou seja: recontada pelas testemunhas que a ouviram direta e
insistência numa mensagem evangélica simples permitia indiretamente de Menocchio. O próprio Menocchio variava,
deduções. INTERPRETAÇÃO MUNDANA DA RELIGIÃO. mantendo intacto caráter essencial. Contradições em relação
ao que era Deus.
Método: Confronta passagens dos livros com testemunhos
de Menocchio. Moleiro tendia a reduzir a religião à Item 26 – Análise do interrogatório (transcrito).
moralidade.
Constatação: respostas e explicações de Menocchio sobre
CIRCULARIDADE CULTURAL: Autores como Maquiavel e origem do mundo recheadas de METÁFORAS LIGADAS AO
Crispoldi com tendência a reduzir a religião a realidade COTIDIANO e com a recusa de atribuir à divindade a criação
mundana. do mundo. (101)

CONCLUSÃO: REDE INTERPRETATIVA MAIS IMPORTANTE PASSO PRIMORDIAL: GINZBURG QUER RASTREAR DE ONDE
QUE AS FONTES. VEM A IDEIA DO QUEIJO E DOS VERMES (101)

Rastreia obras em que pudesse haver referência. Elenca até


mesmo Dante, Divina Comédia.
P – LIVROS REFERÊNCIA PARA MENOCCHIO
Menocchio “mastigava”, “triturava” cada palavra. Devora o
livro a partir de seus referenciais.
Conclusão central: Menocchio não havia tirado sua
cosmogonia dos livros. Referência ao queijo e vermes tinha
função puramente analógico-explicativa. EXPERIÊNCIA
Cavallier Zuanne de Mandavilla – citado por ele no processo.
COTIDIANA. 102 Teoria substancialmente materialista e
Livro de viagens por outros povos. Falava paraíso, Maomé,
científica
confissão de modo primitivo, natural (árvore), etc.
Diversidade de nações, crenças e hábitos – ideia que
impactou Menocchio. Tolerância religiosa; cenas de Geração expontânea – compartilhada por intelectuais do
canibalismo ritual. LIVRO INSISTIA NA RACIONALIDADE. tempo, mais científica que explicação religiosa. Ideia
circulava nos meios científicos.
Constata: semelhanças incríveis, embora parciais.
CUIDADO: “Porém, não é através das experiências cotidianas
A – Circulação do livro pela Itália (investiga) de Menocchio que obteremos todas as explicações; talvez,
B – Conteúdo do livro melhor dizendo, elas não expliquem nada. A analogia entre a
C – Contraposição com testemunhos de Menocchio. coagulação do queijo e a condensação da nebulosa
D – Deformação agressiva do livro por Menocchio destinada a formar o globo terrestre pode parecer óbvia
E – Flagra momentos em que Menocchio tentar convencer para nós, mas com certeza não era para Menocchio.
juiz. Sugerindo esta analogia, ele estava reproduzindo, sem saber,
MITOS ANTIQUISSIMOS, REMOTOS. [Método: rastrear
Menocchio leu Decameron – Lenda dos três anéis. Conta ideias]
história parecida (deformada) aos inquisidores. (92-93)
NECESSIDADE DO ESTRANHAMENTO – mito indiano –
Conclui: pela forma como se distancia de Mandeville – que origem pela coagulação das águas/
reafirmava superioridade da religião cristã, algo que
Menocchio não fazia. Equação: mitos + queijo que Menocchio faz na prática.
Tradição cosmológica que combina mito e ciência.
Q – DE VOLTA À COSMOGONIA
Volta ao ponto original, aquilo que não havia entendido e Como se transmitiu tal TRADIÇÃO?
que agora, à luz de todo o percurso, quer tentar Difusão no Friuli de um culto de base xamanista como o dos
compreender. Benandant. Relação de migrações culturais.

No início parecia “indecifrável” – “Caos primordial”. ALGUMAS CONCLUSÕES – ITEM 28 (P104)


Quando perguntado de onde tirara a cosmogonia –
Madeville e Fioretto della Bibbia + “tirei tudo da minha 1 – No discurso de Menocchio: estrato cultural profundo,
cabeça”. quase incompreensível.
2 – Resíduo da cultural ORAL. Para que essa cultura viesse à
tona: Reforma e Imprensa.

3 – Reforma: possibilitou que um simples moleiro pudesse


pensar e tomar a palavra e expô-la diante da igreja.

4 – Dos livros: arrancou frases e arremedos para defender


suas próprias ideias.

5 – Vitória da cultura escrita sobre a oral foi, acima de tudo,


a vitória da abstração sobre o empirismo.

6 – Imprensa: por a palavra à disposição de todos.

7 – Menocchio: orgulhoso de suas ideias, sentia necessidade


de dominar a cultura dos seus adversários. Cultura escrita:
fonte de poder.

“A ideia de cultura como privilégio fora gravemente ferida”


(105) – termos eruditos circulavam nas suas explicações
(perfeito, imperfeito, matéria, vontade, intelecto, memória)

Conceitos vindos da Idade Média, da Cultura antiga –


CURIOSIDADE INTELECTUAL – deu ferramentas – pedras e
tijolos para construir o seu próprio pensamento.

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