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O dia que deixei de me amar.

Com o passar do tempo e por causa do decorrer da rotina baseada no capitalismo


selvagem, onde tudo se dá por merecimento. O meu coração também se travestiu de
árbitro e crítico. E, por isso, eu também passei a amar as pessoas por merecimento. Até
mesmo o meu amor próprio e auto-aceitação passaram a depender do meu desempenho
como pessoa. Isso ocorreu de maneira silenciosa. E sem perceber, me tornei um
interesseiro de grande porte. Eu comecei a dar notas e a avaliar todos que se
aproximavam de mim. Isso com o intuito de avaliar se tal pessoa deveria ser amada ou
não, valorizada ou não, ignorada ou não. E, como todos os seres humanos são falhos e
repletos de defeitos, muitos reprovaram. Eu mesmo reprovei, e foi aí que deixei de me
amar.
Idealizei alguém perfeitamente moral, ético, prático, ativista, ambientalista, seguro
de si, talentoso, esforçado e simétrico, - apesar das dificuldades da lida. Enfim, criei o
Narciso em minha mente, e me esqueci de que ele mesmo pereceu por excesso de
perfeição. Assim, não amei mais ninguém, não valorizei mais ninguém que não fosse
inteligente, dinâmico, sábio, esportista, forte, perfeitamente moral, ético, prático,
ativista, ambientalista, seguro de si, talentoso, esforçado e simétrico. Obviamente, no
meio de tantas exigências eu desaprendi o conceito do amor e do amar.
Passei a odiar as pessoas que jogam lixo no chão, as preguiçosas, as mentirosas e as
fofoqueiras. Também difamei para mim mesmo aqueles que fumam ou bebem em
excesso e por isso fazem escândalos, os metidos, os gordos por não controlarem sua
alimentação, os feios, os desajeitados, os atrasados, os descuidados, os desatenciosos, os
infantis, os medíocres e os hipócritas. Além desses tantos eu discriminei as pessoas que
não cumprem seus deveres ou que não fazem as listas ou não estudam para o vestibular,
as pouco populares, as dadas e as vagabundas. Por isso, eu evitei você, e todos os que
estão ao seu lado. Por isso eu me evitei! Se pelo menos tivesse somente evitado, não
teria surgido tantos distúrbios. Eu lhe flagelei mentalmente, e fiz o mesmo com todas as
pessoas ao seu redor, inclusive comigo!
Você sabe qual foi o resultado de tamanha desaprovação? Eu mergulhei em uma
tremenda depressão porque não era suficientemente bom para mim mesmo, e porque
fiquei solitário, sem companhia. Perdi o tesão de amar, de sair, de aprender, de comer,
enfim de fazer qualquer coisa. Por falta de afeto eu senti falta de força e ânimo. Eu me
tornei um péssimo filho, um colapso estudante e um desatento amigo. Enfim, a
amargura tomou o controle de meus sentidos.
Além disso, reconhecia que ninguém atingiria uma nota dez, muito menos eu e
você. Então, passei a invejar as pessoas que adquiriam resultados melhores que os
meus. Não há sentimento mais característico de perdedor e desiludido do que a inveja.
Depois de ouvir muitos “ Seu ingrato! ”, “ Deseducado!” e “ Preguiçoso!”. E após
perceber que era totalmente estranho a mim mesmo. Eu decidi me livrar dessa
desgraçada tristeza. Então, passei a pensar em inúmeras soluções: Eu devo me esforçar
mais, me exercitar mais, me controlar mais, eu devo isso e aquilo etc. Mas, nenhum
desses “devos” me ajudou.
Um dia lendo meus diários, notei que sempre me referia a mim de maneira
pejorativa e insatisfatória. Então, eu resolvi deitar, ouvir música lenta e refletir sobre o
nosso fracasso. E foi aí que me dei conta de que não me amava mais, de que não amava
ninguém! Enfim, pude aceitar os defeitos, apagar a lista das exigências de minha mente,
e assim, expulsar o árbitro-impostor do meu coração.
Agora, compreendo que o amor se dá incompreensivelmente sem rótulos,
preconceitos e estereótipos. Estou natural e profundamente apaixonado por mim, por
você e por todos!

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