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Artur Azevedo
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DONA CONSTANÇA N. N.
MANDUCA N. N.
TUDINHA N. N.
TOTÓ N. N.
CHIQUINHA N. N.
ZECA N. N.
NHÔ TEDO N. N.
NHÔ TICO N. N.
NHÁ MARIANA N. N.
UM ESPECTADOR N. N.
FIGURINOS N. N.
FOTOGRAFIAS N. N.
CONTRA-REGRA N. N.
ELETRICISTA N. N.
QUADROS
Quadro 1
MALAQUIAS Ͷ Sim, sinhô. (Puxando conversa.) Seu
Eduardo
Sala de um plano só em casa de dona Rita. Ao fundo, onte tava bom memo!
duas
EDUARDO (Entrando pela esquerda.) ͶAdeus, EDUARDO Ͷ Gostando, por quê? Cala-te!
Malaquias.
MALAQUIAS Ͷ Inda tá drumindo, sim, sínhô. MALAQUIAS Ͷ Eu acho que gosta... pelo meno não
gosta de
outro... eu sou fino; se ela tivesse outro namorado, eu madrugou!
via logo.
Aquele moço que mora ali no chalé azu, que diz que é
guarda-livro, EDUARDO Ͷ Diga antes: ͞O senhor não dormiu͟, que
diz a
outro dia quis se engraçá com ela e ela bateu coa jinela
na cara dele: verdade. Ah, dona Rita! Quem ama como eu amo não
dorme!
pá... eu gostei memo porque gosto de seu Eduardo, e
sei que seu
Eduardo gosta dela! DONA RITA Ͷ Pois o senhor deve estar moído! Olhe
que aquele
tanto calor!
Fazendo os meus galãs no teatrinho DONA RITA Ͷ Oh! O papel da morgada é um papel de
dizer... Eu faço ele com uma perna às costas... Ah, se o
Ou trabalhando na repartição;
senhor me visse na Nova Castro, quando meu marido
Minha vida serena deslizava, era vivo e eu tinha menos quinze anos!
Apesar de amador, eu não amava, EDUARDO Ͷ A senhora é uma das mais distintas
amadoras do Rio de Janeiro.
Eu não amava nem queria amar.
Veio aqui dentro um dia espevitar, que a pequena tinha tanta queda para o teatro, fiquei
contente, e
Mas, conquanto amadora, ela não me ama,
consenti, com muito prazer, que ela fizesse parte do
Ela não me ama nem me quer amar. Grêmio
EDUARDO Ͷ Ah!
DONA RITA Ͷ O senhor queixa-se de que ela não faz
caso do
Rita.)
CENA III LAUDELINA Ͷ Com que entusiasmo batia palmas! Via-
se que
DONA RITA Ͷ Alto lá! ... Olhem que eu não sou cruz! DONA RITA Ͷ Pois se eu ouvisse, tinha lhe dado o
troco. (Outro
isso, e sejamos amigos bons e leais, sim?͟ (Apertando- EDUARDO (Escondendo o rosto nas mãos.) Ͷ ͞Ah!
lhe a mão com quanto
uma risada e mudando de tom.) Como passou a noite, padeço!͟
seu Eduardo?
da vida͟...
LAUDELINA Ͷ Também eu pensando no meu triunfo!
Que bela
EDUARDO (Emendando.) Ͷ ͞Ocaso͟. A senhora
noite! Nunca me senti tão bem no papel de sempre diz
morgadinha! O efeito foi
͚acaso͛, mas é ͞ocaso͟.
estrondoso! Estava na platéia o ator Frazão...
razão.
acaso...͟
tom.) Muito sentimento, hein? cingi-la de acordo com a rubrica da peça, mas Frazão
que aos poucos
atende, não é assim? Ela que se console com a idéia do FRAZÃO Ͷ Saia daí, seu arara! Eu já tenho
dever, das representado o
leis da sociedade, exatamente? quando acabava de papel de Luís Fernandes mais de cinqüenta vezes!
calcar essas leis, (Enlaçando
para voar, num ímpeto de abnegação, para quem de Laudelina.) ͞Ah! Caia sobre mim o desprezo do mundo,
joelhos lhe a maldição de
DONA RITA (Sugerindo-lhe.) Ͷ ...͞se eu me arrojo͟... é um curioso de muita habilidade. Mas que esquisitice
é esta? A isto é
DONA RITA Ͷ Deixe estar. três contos de réis de hoje para amanhã. (Pausa.)
Como a senhora
AS DUAS Ͷ Mambembe?
EDUARDO Ͷ Passar bem, senhor Frazão.
constante. E, a par dos incômodos e contrariedades, há tardará muito tempo. Um dia disseram-me que, em
o prazer do língua
imprevisto, o esforço, a luta, a vitória! Se aqui o artista mandinga1, mambembe quer dizer pássaro. Como o
é mal pássaro é livre e
recebido, ali é carinhosamente acolhido. Se aqui não percorre o espaço como nós percorremos a terra, é
sabe como tirar possível que a
a mala de um hotel, empenhada para pagamento de origem seja essa, mas nunca o averigüei.
hospedagem,
CENA VII
mas eu ensino ele!... por pintar com toda a lealdade a nossa vida, com os
seus altos e
DONA RITA Ͷ Senhor Frazão, esta menina não se DONA RITA (Erguendo-se.) Ͷ Se eu quisesse que ela
destina ao fosse
teatro... atriz, não seria decerto num mambembe!
LAUDELINA Ͷ Por quê, dindinha? É uma profissão FRAZÃO Ͷ Pois deixe-me dizer, minha senhora, que o
como outra
mambembe tem a vantagem de exercitar o artista. A
qualquer! contingência em
arte!...
CENA VIII não fizer, adeus! Não quero sacrificar-me ao bem que
lhe devo!
FRAZÃO, LAUDELINA
FRAZÃO Ͷ Estás me assustando, filha! Não vá sua
madrinha
LAUDELINA (Erguendo-se e enxugando os olhos.) Ͷ dizer...
Senhor
LAUDELINA Ͷ Diga o que quiser! Não sou nenhuma
Frazão, quando tenciona partir com a sua companhia? criança!
DONA RITA Ͷ Vamos almoçar. as mesas: é o dono da casa. Fábio sentado a uma mesa
à esquerda
portas largas dando para a rua. À esquerda, a entrada PRIMEIRO FREGUÊS Ͷ É Monteiro!
de um bilhar.
MONTEIRO (Aproximando-se.) Ͷ Que é?
À direita, parede com pipas e barris. Mesinhas
redondas, de PRIMEIRO FREGUÊS (Idem.) Ͷ Quem é aquele sujeito
que está
mármore. Bancos.
CENA I
escrevendo? (Aponta à esquerda.)
MONTEIRO Ͷ É o Fábio.
outros.
MONTEIRO ͶSim, creio que foi... Depois fez-se poeta...
andou
a rabiscar nos jornais... MONTEIRO Ͷ Isso não quer dizer nada... Vocês vêem
dois
injustamente julgada.
trabalho na capital do seu país! Ah, meu caro LOPES Ͷ Faltavam ainda muitos versos. Tu és um bom
Monteiro, se eu não artista,
considerasse a arte como um sacerdócio, se lhe não mas tens o defeito de não estudares nada novo.
tivesse Desengana-te. Com
sacrificado toda a minha mocidade, toda a minha essas velharias não chegas lá! Eu sou franco!
existência, há muito
FÁBIO Ͷ Sozinho?
FÁBIO Ͷ E o repertório?
faltava-lhe isto... (Bate no coração.) e para dizer aquilo LOPES Ͷ Deus te perdoe a ti, que tem mais que
como deve perdoar.
ser dito, é indispensável isto... (Idem.)
FÁBIO Ͷ O Trouxa.
LOPES Ͷ Quê! Você fez os Sinos de Corneville?
monólogo. FÁBIO Ͷ Sei lá! Está escrita há três anos, de modo que
de vez
obras.
Fábio.)
sozinho em cena...
fandangas.
FÁBIO Ͷ Ouça lá! (Gritando.) Ó menino, outra garrafa
de
MARGARIDA Ͷ Ele arranjaria a primeira-dama que
parati! (A Brochado.) Você toma outra coisa? procurava?
BROCHADO Ͷ Não; parati mesmo, que o do Monteiro LOPES Ͷ Duvido. Não há nenhuma disponível.
é bom.
Fábio, e leva a outra garrafa, depois de se certificar, LOPES Ͷ Tu? (Rindo-se) Pf... Que pilhéria!
contra a luz, que
o cobre às onze e meia; pode ser que tenha havido LOPES Ͷ Eu sou franco; ela...
qualquer demora.
LOPES Ͷ Ainda não. MARGARIDA Ͷ Achas então que não sirvo para nada?
LOPES Ͷ Não disse isso... tens o teu lugar no teatro...
mas não
LOPES Ͷ Eu não nego que és bonita, LOPES Ͷ Não é isto ser atriz;
MARGARIDA Ͷ Deixa-o dizer o que quiser... LOPES Ͷ Contenta-te com o teu lugar.
cabeça de caraminholas!
Mas não é isto ser atriz!
Cinturinha de deidade,
Pode a gente
Certamente,
OS MESMOS, FLORÊNCIO, COUTINHO, ISAURA, outros FLORÊNCIO Ͷ Homem, se ele não aparecesse, não
artistas que seria a
caricatas?
primeira-dama? (Risadas.)
FLORÊNCIO (Consultando o relógio.) Ͷ Meio-dia e
meia hora... MARGARIDA Ͷ Quem sabe? Talvez esta demora seja
porque ele
VIEIRA Ͷ É, talvez, por causa desta viagem... vou MONTEIRO Ͷ Que bulha é esta? Calem-se! (Vai para a
deixar porta da
rua.)
garganta.
UNS Ͷ Tenham todos paciência!
COUTINHO Ͷ Nem eu. Vi uma casaca num belchior da Grosseria assim não há!
rua da
Mudai de opinião,
PRIMEIRO FREGUÊS (Aparecendo à porta do bilhar; Porquanto a toda pressa
com um
Aí chega o Frazão!
taco na mão.) Ͷ Ó Monteiro, tens aí um pedaço de
giz? (Frazão aparece à porta, entra esbaforido e senta-se
num
Respiração!
I que prometeram levar-me à casa logo às cinco horas,
com toda a
A Botafogo
MARGARIDA (Durante esse movimento.) Ͷ Então? Já
E a Catumbi.
arranjou
CORO Ͷ Foi a São Diogo, etc.
a primeira-dama?
II
Só apanhei metade
TODOSͶJá! Quem é? Quem é?...
Do que pedi!
Fui às Paineiras,
FRAZÃO Ͷ É uma surpresa. A seu tempo saberão.
Fui ao Caju, Vamos aos
E ao Cabuçu!
FRAZÃO (Erguendo-se.) Ͷ É verdade! Vocês não FRAZÃO (Dando-lhe dinheiro.) Ͷ Aí tens. Confere.
imaginam
TODOS Ͷ Imaginamos.
FRAZÃO Ͷ Florêncio!
Laudelina.)
AS DUAS Ͷ Muito obrigada.
CENA V
(A Monteiro, que se aproxima, solícito) Tem a bondade DONA RITA Ͷ Quê!... aquele cômico tão engraçado...
de me dizer que faz
MONTEIRO Ͷ Não, minha senhora... isto é o meu MONTEIRO Ͷ Em cena. Fora de cena, tem uma cara de
missa
estabelecimento, não é escritório de nenhuma
empresa. de sétimo dia. Está sempre triste. (Afastando-se à
parte.) Bem boa...
LAUDELINA Ͷ Desculpe.
LAUDELINA Ͷ Como o teatro engana!
MONTEIRO Ͷ Está, sim, senhora. Está ali fazendo os LAUDELINA Ͷ Aí vem a senhora! Estamos
comprometidas...
adiantamentos aos artistas da companhia que hoje
segue para fora. Fomos ontem à casa do Frazão... já mandamos as
nossas bagagens
Se quiserem sentar-se e esperar um pouquinho? (Dá-
lhes dois
para a estrada de ferro... e ficamos de vir aqui hoje, à
uma hora,
Elle a quelque...
artistas.)
Quelque chose...
ela.
CENA VI
FRAZÃO Ͷ Quem é seu Eduardo?
CENA VII FRAZÃO Ͷ Sim, já sei que dessa mata não sai coelho.
Benza-o
OS MESMOS, menos DONA RITA e LAUDELINA
Deus! (Reparando em Brochado e Fábio, que
adormeceram defronte
olhos.)
presta!
Piedade eu te mereço,
Coplas
I
Coragem! (Toca a campainha.) Também eu quero fazer
parte
da companhia Frazão!...
EDUARDO Ͷ Sim, senhor! É o Luís Fernando, de
Catumbi, que
CRIADO (Abrindo a cancela.) Ͷ Quem é? vem perguntar: Frazão, que fizeste da morgadinha?
EDUARDO Ͷ Mora aqui o ator Frazão? FRAZÃO Ͷ A morgadinha parte esta noite comigo no
noturno:
CENA II
EDUARDO Ͷ A morgada não basta: é uma senhora. Eu,
que a
EDUARDO, depois FRAZÃO amo, que a adoro, que desejo que ela, só ela seja mãe
dos meus
ordenado.
FRAZÃO (Reparando-o.) Ͷ Desculpe... julguei que o
senhor
FRAZÃO Ͷ Ah! não quer? Por esse preço, convém-me.
fosse portador do conto de réis do Madureira! Um
Pode ir;
conto que espero
mas já distribuí todos os bilhetes de passagem.
com impaciência! Mas se não me engano é o Luís
Fernandes, de Catumbi!
EDUARDO Ͷ Também não quero que me pague a
passagem.
Peço
Vou
preparar-me!
FRAZÃO Ͷ Adeus! Se encontrar pelo caminho um não fujo à tentação de andar com o meu mambembe
caixeiro, ou às costas,
coisa que o valha, com um conto de réis na mão, diga- afrontando o fado?... Perguntem às mariposas por que
lhe que venha se queimam
FRAZÃO (Consultando o relógio.) Ͷ Cinco e vinte. Se se por que bebe?... Também isto é um vício, e um vício
terrível porque
demora mais dez minutos, já não apanho o trem senão
de tílburi! ninguém como tal o considera, e, portanto, é
confessável, não é uma
(Chamando) Ó Joaquim! Estou num formigueiro! Que
maldade a do vergonha, é uma profissão... uma profissão... uma
profissão que
Madureira! Prometer-me um conto de réis, e faltar à
última hora! (Ao absorve toda a atividade... toda a energia... todas as
forças, e para
Criado, que entra.) Ó Joaquim, vai ali na praça buscar
um tílburi! quê?... Qual o resultado de todo este afã? Chegar
desamparado e
Depressa!
paupérrimo a uma velhice cansada! Aí está o que é ser
empresário no
CRIADO Ͷ É já! (Sai.) Brasil! Mas este conto de réis que não chega!
FRAZÃO (Só.) Ͷ E levo esta vida há trinta anos! CRIADO (Entrando.) Ͷ O tílburi! Aí está!
pedindo hoje...
um dinheiro? o recibo!
CENA V CENA I
CHEFE DO TREM (Apitando.) Quem tem que embarcar (Ao levantar o pano, os artistas e as pessoas do povo
embarca! formam
Como foi que ela apareceu! MARGARIDA (A Eduardo.) Ͷ Tu, que és o nosso orador
oficial,
CORO Ͷ São ciganos!
vai ter com eles.
OUTROS Ͷ São artistas!
dos!
E de que temos, talvez, vontade MARGARIDA Ͷ Mas que lembrança do Frazão! Vir a
uma cidade
De saquear-lhes toda a cidade!
FLORÊNCIO (Olhando para dona Rita.) Ͷ Pudesse eu FLORÊNCIO Ͷ Pois sim, mas durante as viagens
fazer o suspende os
mesmo! Se apanho uma cama, há de me parecer um ordenados!
sonho! (Vieira
soluça forte.)
COUTINHO Ͷ E como levamos todo o tempo a viajar...
pediu emprestados.
MARGARIDA Ͷ Estão doentes? (Aproxima-se dele)
de reserva.
EDUARDO Ͷ Vê, dona Laudelina, em que deu a sua
loucura?
FLORÊNCIO Ͷ Qual ficou, qual nada! Pois vocês
acreditam que
companhia não precisava de dois galãs dramáticos. de Catumbi diz o seguinte: ͞É proibido aos amadores
beijar as
precisava beijar ela quando a peça não mandava! DONA RITA Ͷ Ora quem sabe! Talvez o senhor se
(Risos.) julgue
insubst... insubst...
MARGARIDA Ͷ Ah, isso é costume antigo do Lopes. Foi
assim
TODOS Ͷ Insubstituível.
que começaram os nossos amores... e foi por isso que
o deixei,
porque, depois de estar comigo, entendeu que devia DONA RITA Ͷ Quem sabe? Pois agradeçam à
continuar a fazer Providência haver
DONA RITA (Erguendo-se.) Ͷ Eu cá é que nunca FLORÊNCIO Ͷ Mas o Frazão, o Frazão, que não volta!
imaginei
CENA II
OS MESMOS, FRAZÃO
ARTISTAS Ͷ Então? Arranjou um hotel? (Frazão
passeia de um
FRAZÃO Ͷ Desculpem-na. Dona Rita não tem ainda
lado para outro, sem responder.) Então? Fale! bastante
Responda! (Mesmo
prática do ofício... não sabe guardar as conveniências.
jogo de cena.) Vamos! diga alguma coisa!
LAUDELINA Ͷ Então estamos bem. DONA RITA Ͷ Por isso, aquele crítico de Uberaba disse
que o
nem comida para tanta gente. FRAZÃO Ͷ Que noz-vômica! Vis comicas!4 (Risadas.)
DONA RITA Ͷ Mas ao menos eu e minha afilhada, que VILARES Ͷ Mas vamos ao que serve... o hotel?
somos Quantos
VILARES Ͷ Protesto! FRAZÃO Ͷ Nenhum, porque o homem diz que não fia.
figuras!
FRAZÃO Ͷ A última companhia que aqui esteve
COUTINHO Ͷ Toleirona! pregou-lhe um
TODOS Ͷ Oh!
FRAZÃO Ͷ Não há que insistir. O dono do Hotel dos EDUARDO Ͷ Pois o senhor não viu que mal nos
Viajantes é apeamos dos
um antigo colega nosso. burros e as senhoras desceram dos carros, tudo voltou
para o
Tinguá?
TODOS Ͷ Sim? Um ator?
conhece a classe. Respondi-lhe com uma FRAZÃOͶÉ isso, é (Com um repente, elevando a voz e
descompostura daquelas...
erguendo as mãos para o céu.) Manes de Téspis e de
vocês sabem!... e contive-me para não lhe quebrar a Molière! Alma
focinheira!
do defunto Cabral, o maior mambembeiro de que há
notícia nos
FLORÊNCIO Ͷ Que grande patife! Não saiamos daqui fastos da arte nacional, inspirai-me nesta situação
sem lhe tremenda!... (A
dar uma lição! Vilares, indicando-lhe uma rua.) Ó Vilares, vai tu com a
Margarida por
FRAZÃO (Levando o dedo polegar à testa.) Ͷ Tenho VILARES Ͷ Está dito! (A Margarida.) Nem que seja só
uma idéia! para nós.
TODOS Ͷ Uma idéia! Qual? FRAZÃO Ͷ O ponto de reunião é nesta praça, daqui a
uma
hora.
FRAZÃO Ͷ Onde dormimos nós esse três dias que
levamos do
LAUDELINA Ͷ Nos carros que nos trouxeram. FRAZÃO Ͷ Florêncio, vai com a Marcelina por esta
outra rua.
estes lugares!...
eu com Laudelina.
DONA RITA Ͷ Nesse caso, vai com seu Frazão e eu vou IRINEU Ͷ Em primeiro lugar, cumprimento a Vossa
com Senhoria
seu Eduardo. por ser hoje o dia do seu aniversário natalício, e colher
mais uma flor
Pois se não temos casa, quanto mais quartos! PANTALEÃO Ͷ Muito obrigado!
DONA RITA Ͷ Enfim... (Sai com Frazão.) IRINEU Ͷ Em segundo lugar, dou-lhe uma notícia, uma
grande
PANTALEÃO (Saindo de casa a vestir o rodaque.) Ͷ Ora oposição à municipalidade! Mandou para o teatro toda
muito a sua gente!...
pontas. IRINEU Ͷ Já... isto é, creio que foi ele que eu vi, no
Hotel dos
da companhia.
PANTALEÃO Ͷ Quase.
PANTALEÃO (Modestamente.) Ͷ Sim... dramaturgo. China e o Japão, e o senhor fala em Moisés e Faraó.
Creio que se
aproveita a nossa vinda e não pede ao empresário que PANTALEÃO Ͷ Vejo que a senhora sabe geografia.
leve a sua Ainda bem!
Duetino
Não aprende o francês e não vai para a AMBOS Ͷ Da Câmara Municipal! (Repetem quatro
vezes.)
França?
vezes.) alguns.
Anunciando o seu drama PANTALEÃO Ͷ Sim, mas talvez não se lembrem. Aqui
não é
Que espero ser um dramão.
como no Rio de Janeiro, onde há jornais para anunciar
quem faz
PANTALEÃO Ͷ Um dramão?
dois.)
CENA VI
PANTALEÃO Ͷ Ah! Não são casados?
PANTALEÃO Ͷ Bom... até logo... Vou ver os papéis da parte, coçando-se.) É uma tetéia!
Câmara!
foguetes!
Eufrásio tratou a banda de música por quarenta mil- Pois sou devoto fiel,
réis, só para
Viver até que seja
meter ferro ao coronel Pantaleão.
Tenente-coronel!
CENA VII
Coplas
Ou padre ou bacharel,
FRAZÃO Ͷ Sem nos combinarmos, fomos todos ter no
Apanha uma patente largo da
II
Alferes e tenente,
FRAZÃO Ͷ Não desanimem!... Já lhes disse que do doze atos e vinte e um quadros!
Tinguá
FRAZÃO Ͷ Doze atos? Olha que são muitos atos!
conto de réis que paguei. A todo o momento pode EDUARDO (Coçando-se.) Ͷ Por sinal que devem ter
chegar a resposta. muitas
Pantaleão não sei de quê, venerável da Maçonaria e foguetes, pois que é hoje o dia dos seus anos!
presidente da
FRAZÃO Ͷ Sim... mas onde vamos buscar dinheiro
para os
EDUARDO Ͷ Foi ele quem mandou as bagagens para o EDUARDO Ͷ Vou dizer-lhes uma coisa pasmosa!
teatro. Preparem-se
TODOS Ͷ Que é?
casa e comida...
EDUARDO Ͷ Ainda me restam vinte e sete mil e
TODOS Ͷ Deveras?... (Entra Vieira, sempre muito quinhentos
triste.)
IRINEU Ͷ Amicíssimo.
LAUDELINA Ͷ Cá está quem sabe. (A Irineu.) Capitão,
onde se
Não tem que saber. O senhor vai por esta rua... vai EDUARDO Ͷ ... Praxedes Gomes!
indo... vai indo...
IRINEU Ͷ Sim, sapateiro e mestre da banda. Creio até VILARES Ͷ É então muito popular esse homem?
que eles
CENA VIII
MARGARIDA Ͷ Em penca!
TODOS Ͷ Viva!
TODOS Ͷ Sim, aí vem, aí vem a música! PANTALEÃO (Aparecendo à janela com a família.) Ͷ
Muito
Carrapatini disse-me que o major Eufrásio já a tinha obrigado! Muito obrigado! (Quer fazer um discurso
tratado por mas não pode
quarenta mil-réis.
FLORÊNCIO (Olhando para fora.) Ͷ Não, porque o PANTALEÃO Ͷ Meus senhores, eu...
Frazão vem
à frente!
IRINEU (Aproximando-se da janela e interrompendo-o.)
Ͷ
VOZES Ͷ Viva!... (A banda de música, cujos sons se IRINEU Ͷ Ainda não é hora. Precisamos reunir mais
têm gente.
pessoas do povo.)
IRINEU (A Frazão.) Ͷ Vamos dar uma volta pela cidade
para
CENA IX
arrebanhar mais povo.
PANTALEÃO à janela
IRINEU Ͷ Não faz mal: eu já almocei. (A Carrapatini.)
Então a
por xinquanta.5
cinqüenta.
EDUARDO Ͷ Por cinqüenta? Carneiro! Façam o favor! (A música da banda vem
agora mais perto.)
Ͷ Deixa-me! Deixa-me! Quero estar só! casa até o dia dezoito... mas o dia dezoito é hoje... A tal
dona
Mar Amarelo, em vez de salvar a situação, agravou ela! DONA RITA Ͷ Que se entendesse com o Frazão. Mas o
... Mas que Frazão
peça! ... Que peça bem pregada! não pode fazer milagres! Pois se nem ao menos pagou
os vinte e
DONA RITA Ͷ Mas que borracheira! Bem diz o ditado: DONA RITA Ͷ Ele anda se enfeitando para ti, e eu
͞Se não estou vendo
houvesse mau gosto, não se gastava o amarelo!͟ E
amarelo é
o momento em que seu Eduardo faz alguma! ... É o
desespero! Estou desesperada! diabo, é o diabo!
seu Eduardo verá o meu procedimento?... Que juízo EDUARDO Ͷ Sim, agradasse, mas não tanto...
fará de mim?...
LAUDELINA Ͷ Também o senhor deve estar se eu me zangasse, não teríamos o que comer.
desesperado. Francamente: era
durar esta excursão, faça de conta que não tem direito EDUARDO Ͷ Não terá pena das minhas
algum sobre
penas,
mim, nem me peça conta dos meus atos, porque a
Não será nunca minha
nossa vida aqui é
mulher!
toda anormal e fictícia. Só me considere sua noiva
quando chegarmos
EDUARDO Ͷ Ó Laudelina!
LAUDELINA Ͷ Jura que só chegando ao Rio
Dueto
Se lembrará que é o meu futuro?
EDUARDO Ͷ Juro!
EDUARDO Ͷ Depois do que te ouvi, anjo querido,
LAUDELINA Ͷ Não me lançar olhar sombrio
EDUARDO Ͷ Juro!
Contanto que algum dia eu seja teu marido,
LAUDELINA Ͷ Não lhe passar pela cabeça
E tu minha mulher!
Que o meu amor não seja puro?
Eu com alguém ficar no escuro? LAUDELINA Ͷ Lá está dindinha a chamar-me! Ela disse
que ia
EDUARDO Ͷ Ju... Perdão! Isso não juro!
trancar-se no quarto, mas não pode passar meia hora
LAUDELINA Ͷ Se não jura, eu lhe asseguro: sem me ver.
Não serei sua mulher! Descanse: estou bem guardada. (Sai pela esquerda.)
EDUARDO Ͷ Juro, juro, juro, juro!
Jura tudo que eu quiser! EDUARDO (Só) Ͷ Parece-me que fiz juramentos que
não devia
II
ter feito. Mas que poderei recear? Laudelina é
LAUDELINA Ͷ Jura deixar que pra viagem
honesta... Se não o
Eu tente ao menos achar furo?
fosse, que necessidade teria de dizer que gosta de mim
EDUARDO Ͷ Juro! e há de ser
EDUARDO ͶJuro!
EDUARDO Ͷ Juro!
Tocos!...
BONIFÁCIO (Da porta.) Ͷ Dá licença, nhô? BONIFÁCIO Ͷ Homessa! Então dona Gertrude é seu
Frazão?
Gertrude?
BONIFÁCIO Ͷ Com quem é que vancê qué que eu fale?
CENA IV
BONIFÁCIO Ͷ Vancê tá assistino aqui?
BONIFÁCIO, só
EDUARDO Ͷ Está o quê?
EDUARDO (À parte) Ͷ É o credor dos carros! (Alta) arreava as mula e tocava inté notro poso. Quando eu
Bom; via as bruaca
espere aí que vou chamar o senhor Frazão. tudo alinhada, as mula tudo amarrado na estaca, mar
comparando
(Gesto.), tá e quá o jeito de vancêis, óie era bonito
memo. A
CENA V
FRAZÃO Ͷ A gentileza?
BONIFÁCIO, FRAZÃO
BONIFÁCIO Ͷ Não sei se ele fez isso... o que eu sei é
que ele
FRAZÃO (Da direita.) Ͷ Como passou, seu?...
paga.
BONIFÁCIO Ͷ Beimecê.
BONIFÁCIO Ͷ Como não é possive? BONIFÁCIO Ͷ O que ele escreveu foi esta carta. (Dá-
lhe uma
carta.)
FRAZÃO Ͷ Tenha paciência. Não posso agora pagar os
seus
CENA VI
amolando! Não nos deixa jogar o solo! Entrou pelos Frazão, e sai.)
fundos da casa e
FRAZÃO Ͷ De cara à banda estou eu, que não tenho FRAZÃO, PANTALEÃO
com que
pagar.
PANTALEÃO Ͷ Ora muito bom-dia, caríssimo artista!...
Bonifácio.)
Você sabe o que é disga? PANTALEÃO Ͷ Não me fale nisso. (Procura onde se
possa
sentar.)
BONIFÁCIO Ͷ Não, sinhô.
BONIFÁCIO Ͷ Vancê leia a carta! FRAZÃO Ͷ Não há. Dona Gertrudes tinha muito
poucas, e
amanhã ou depois...
PANTALEÃOͶComo?
CENA VIII
signor Frazone.8
PANTALEÃO (À parte.) Ͷ Da manifestação? Então não CARRAPATINI Ͷ Há tratato la banda per xinquenta...
foi o ha dato
Irineu? vinte e xinque, manca ancora vinte e xinque...11
8 Trad. (italiano macarrônico): Bom-dia... senhor
coronel... bom-dia, senhor Frazão.
cinco...
PANTALEÃO Ͷ Eu também estou lhe devendo o muito dinheiro. Já chega. Senhor Frazão, vim aqui de
conserto deste propósito para
pipocas!
CENA IX
PANTALEÃO Ͷ Pipocas?
FRAZÃO, PANTALEÃO
FRAZÃO Ͷ Sim, as palmas!
drama será representado no Rio de Janeiro! apanhando as flores. E os jornais falando da peça
quatro dias depois!
alegra
CENA X
FRAZÃO Ͷ Como?
Terceto
PANTALEÃO Ͷ Não dou vintém! (Laudelina aparece à
esquerda.
diálogo.)
PANTALEÃO Ͷ Sei lá! Não tenho nada com isso! Chama-me antes Leão,
EDUARDO (À parte.)
EDUARDO (À parte)
Ͷ Como és linda!
PANTALEÃO
EDUARDO (À parte.) Ͷ Estou danado!
Ͷ De você, meu bem, depende
PANTALEÃO
LAUDELINA
Ͷ Menina, se na viagem
Ͷ Como assim?
Pertinho de ti não vou,
LAUDELINA
LAUDELINA Ͷ
Ͷ Não entendo, não, senhor.
Leãozinho, tenha pena,
Espatifo o paspalhão!
O coronel Pantaleão!
LAUDELINA Ͷ Largue-me!
Um venerável da Maçonaria
PANTALEÃO Ͷ Não grites! Uma beijoca! (Quando vai a
beija-la,
Eduardo corre para ele, separa-o dela, e dá-lhe um Que é coronel da Guarda Nacional,
murro.) Que é
isto?!
E presidente...
bolso e apita.)
LAUDELINA Ͷ Da Câmara (Repete três ou quatro
vezes.)
EDUARDO Ͷ Ah! Tu apitas. (Atraca-se com ele e dá-lhe
um Municipal!...
Municipal!...
senhor?
colega!...
alguma dor. (A Pantaleão.) Doeu? DONA RITA (Entrando.) Ͷ Que foi isto?
SUBDELEGADO Ͷ Doeu? Parágrafo 2º. (Aos soldados.) DONA RITA Ͷ Estava dormindo. Acordei agora.
Sigam
SUBDELEGADO Ͷ A nada atendo! Vai a corpo de FRAZÃO Ͷ Não! Mas lá foi toda a companhia.
delito. (A
LAUDELINA Ͷ Eu?
FRAZÃO Ͷ Por isso mesmo. Aquilo é negócio de fiança
e, como
pagá-la.
guá.
CARREIRO Ͷ É verdade.
FRAZÃO Ͷ E nhô Chico Inácio? dinheiro para a fiança. (Ao Carreiro.) Você quer nos
levar para o Pito
Aceso?
CARREIRO Ͷ Eu achei mió vortá pro Tinguá, e como
tinha de í
cos meus carro pra levá quem quisé i na Festa do CARREIRO Ͷ Sim, sinhô.
Divino, que vai
CARREIRO Ͷ É uma cidade que tem seis légua daqui. A CARREIRO Ͷ Outro duzento...
gente
FRAZÃO (A dona Rita, baixo.) Ͷ Se nós lá fôssemos? CARREIRO Ͷ Mas esses três dia quanto dia demora?
DONA RITA (Idem.) Ͷ Eu não digo nada! DONA RITA Ͷ Ora essa!...
FRAZÃO (Idem.) Ͷ Este homem já recebeu do tal Chico CARREIRO Ͷ Sim, porque a viage do Tinguá, que vancê
Inácio tinha
CARREIRO Ͷ Não!
pagava.
CENA XIII
OS MESMOS, BONIFÁCIO
CARREIRO Ͷ Este é que é o tá de Chico Inácio? leva ordem para adiantar dinheiro para a viagem. De
Vossa Senhoria,
Inácio não pagou os carros de boi? DONA RITA Ͷ Isso não se pergunta!
BONIFÁCIO Ͷ Não pagou, mas paga. FRAZÃO (Ao Carreiro.) Ͷ Você tem aí os carros e os
animais?
CARREIRO Ͷ Sei lá quem é nhô Chico Inácio!
a carta e lê.) ͞Senhor Frazão. O portador é o meu FRAZÃO Ͷ Comecemos por pagar a fiança do Eduardo!
empregado
Bonifácio
CENA XIV
Arruda, que vai, em meu nome, propor a vinda de sua
companhia
FRAZÃO, PANTALEÃO
TODOS Ͷ Pito Aceso? Onde é?...
quanto antes, destes malditos Tocos! o Pito Aceso. Só o tempo de preparar as malas. Antes
disso, Vossa
Senhoria será pago dos vinte e cinco mil réis que lhe
TODOS Ͷ Vamos! Vamos! ... (Saem todos.) devo. (Sai à
esquerda.)
FRAZÃO (Ao Carreiro.) Ͷ Vá buscar os carros e os PANTALEÃO (Só.) Ͷ Querem ver que os homens foram
animais.
contratados para dar espetáculos no Pito Aceso? Não é
outra coisa! É
CARREIRO Ͷ Sim, sinhô! (Sai.) a época da famosa festa do Espírito Santo, em que se
reúnem mais
ATO TERCEIRO
COUTINHO, FLORÊNCIO, ISAURA, foliões, povo,
jogadores,
Quadro 8
II
Cumprimente, etc.
Coplas
Em plena democracia...
Cumprimente
FRAZÃO (No império, apregoando.) Ͷ Agora, a última
prenda,
meus senhores!
sapeva...14 (A música toca um pequeno motivo. Frazão
e Margarida
FRAZÃO (Idem.) Ͷ Dois cruzados! Dois... FRAZÃO Ͷ Não tem que agradecer, seu Chico Inácio. A
MADAMA Ͷ Aceso.
CHICO INÁCIO Ͷ É isso... Ela fazia uma das pequenas FRAZÃO Ͷ Isto é uma coisa de que nem todos se
que se podem gabar.
deixam roubar pelos salteadores. Uma noite, depois do MARGARIDA Ͷ É muito difícil encontrar um Pito,
espetáculo, mesmo
casa.
particularidades que não os interessa. (Outro tom) Já UM JOGADOR Ͷ Jaburu! Olha o joguinho do caipira!
vêem que é Quem mais
uma antiga colega. bota mais tira! (A Bonifácio, que está no Jaburu.)
folião.
portera!
CHICO INÁCIO Ͷ Bem, os senhores hão de me dar
licença.
Ͷ Neste mato tem um passarinho, ai, MARGARIDA (Olhando para dentro.) Ͷ Olhem quem
ali vem. O
Passarinho chamado andorinha, ai,
Coronel Pantaleão.
Andorinha avoou agorinha, ai,
II
TODOS Ͷ Sim. É ele! É ele!
BONIFÁCIO
OS FOLIÕES
ISAURA (À parte.) Ͷ Veio atrás da Laudelina. Dá Deus
CORO GERAL
nozes...
Ͷ Não quero mais namorá
A filha do barrigudo.
CENA II
Não quero que o povo diga
Rondó lhe.
Eu por chapadas e atoleiros, PANTALEÃO Ͷ Mas é que vieram comigo mais dez
cargueiros
Aqui vim ter com dez cargueiros!
Gomes! Apeie-se.
PANTALEÃO Ͷ Não quero perder a vasa. (sic)
teatro.
PANTALEÃO Ͷ É muita amabilidade.
VILARES Ͷ E o palco?
PANTALEÃO (Saindo, a Frazão.) Ͷ Preciso falar-lhe. (Sai
com
Chico Inácio e Madama.) FRAZÃO Ͷ Não subo nele sem recear a todo o
momento que as
gritar: Repita, repita o ato que seu Chico Inácio não viu,
e não houve
de Janeiro.
VIEIRA Ͷ Mas até lá!...
mandar
DONA RITA Ͷ E que felicidade a de termos encontrado
esta
o contrário, vou fazer uma fezinha... gente que nos hospedou. Que francesa amável!
FRAZÃO Ͷ Cá, em certo lugar. Já fui convidado por um LAUDELINA Ͷ E o senhor Chico Inácio! Que homem
simpático!
alabama, mas não consinto que vocês joguem! Jogarei
por todos!
VILARES Ͷ Por falar nisso, se fôssemos para casa cair DONA RITA Ͷ Não nos esqueçamos de que estamos
num convidadas
MARGARIDA Ͷ Bem lembrado! EDUARDO ͶO diabo é ter eu que decorar este papel
para
TODOS Ͷ Valeu! Valeu! Vamos! (Saem!)
depois de amanhã. Que lembrança do Frazão em fazer
VIEIRA Ͷ Vou sempre dar um giro até o tal cemitério. representar
(Sai.)
um dramalhão de capa e espada, quando há tanta peça
moderna.
CENA IV
se aproximando.)
música.)
senhores, atenção!
CENA V
CHICO INÁCIO Ͷ Agradeço aos bons moradores deste
arraial a
OS MESMOS, CHICO INÁCIO, MADAMA, CARRAPATINI, ajuda que me deram para eu levar até o fim a festa do
dois Divino. Ao
mordomos, um Anjo, irmãos do Espírito Santo, vigário dos Tocos, de vir fazer a festa. Ao seu Frazão, o
músicos, povo [e ter trazido a
Santo sai da igreja e vai receber Chico Inácio, que entra CHICO INÁCIO Ͷ Agora vai-se fazer o sorteio do
com toda a imperador do
solenidade dando a mão à Madama. Chico Inácio, que ano que vem. Neste chapéu... (Procurando.) Quedê o
vem vestido de chapéu?
emblema do Espírito Santo, vem debaixo de um pálio CHICO INÁCIO (Tomando o chapéu.) Ͷ Neste chapéu
cujas varas são estão os
encarnadas. Dois mordomos de casaca, chapéu de nomes das pessoas mais no caso de serem festeiras.
pasta, espadim e (Ao Anjo.) Tire
calção, suspendem-lhe o manto. Seguem-lhe um papel, Bibi. (O Anjo tira. Abre e lê.) Rodopiano
Carrapatini à frente da Nhonhô de Pau-a-
saem todos a dar vivas. Mutação.) impossível que ela não se dobre aos argumentos (Faz
sinal de
bela?
PANTALEÃO, só
CENA II
PANTALEÃO (Saindo do seu quarto em mangas de
camisa.) Ͷ Que
O MESMO, LAUDELINA e DONA RITA, entrando pela
maçada! Estou às escuras! Acabou-se o toco de vela
direita alta
que havia no
agradar.
DONA RITA Ͷ Por quê?
DONA RITA Ͷ Ah! É o coronel? Que estava fazendo devia estar bem ensinado, aproveitou o ensejo de me
aqui? entregar o
LAUDELINA (Secamente.) Ͷ Esplêndido. (Deixa cair o LAUDELINA Ͷ Sim, aqui está. (Mostra a carta, que tira
lenço.) de
dentro do lenço.)
direita.)
(Disfarçando.) Hum, hum! (Alto.) Boa-noite, minhas DONA RITA (Detendo-a.) Ͷ Estás doida! Queres
senhoras. provocar novo
escândalo?
DONA RITA Ͷ Então, menina, vamos para o quarto. cá, eu me encarrego disso.
(Vendo que
AS MESMAS e FRAZÃO
ser aberta?
LAUDELINA Ͷ Não falhou?
coronel Pantaleão.
DONA RITA Ͷ Que devemos fazer?
FRAZÃO Ͷ Sim, dê cá. (Toma-lho.) Bom, vão dormir (Entram os três cautelosamente em camisola de
com Deus. dormir.
DONA RITA Ͷ Qual seu Eduardo, qual nada!... Seu PANTALEÃO, depois FRAZÃO
Eduardo é
carta engatilhada e deixou cair o lenço... Falta pouco! PANTALEÃO Ͷ Vou buscá-lo. (À parte.) Quer
Que ansiedade! adiantado! Fiemse
Pantaleão sair de um quarto.) Lá vem o Leãozinho. PANTALEÃO Ͷ Deixa-te de luxos. Agora, que deste o
primeiro
Não há nada como o poder do ouro! (Baixo.) És tu, FRAZÃO Ͷ Que vai pensar de mim?
Laudelina?
Vamos.
PANTALEÃO (Aproximando-se.) Ͷ Como és boa!
(Toma-lhe a
FRAZÃO Ͷ Meu Deus! (Pantaleão puxa-o. Entram
mão. À parte.) Com que força aperta a mão. Ai! Que ambos no
delícia! Que
quarto.)
mãozinha de cetim!
CENA VI
FRAZÃO (Baixinho.) Ͷ Que é do dinheiro?
CENA VI
CHICO INÁCIO, BONIFÁCIO, MADAMA, depois E estendido no chão, a correr, me deixou!
PANTALEÃO, depois
CHICO INÁCIO e BONIFÁCIO (No chão.) Ͷ Ai! Ai! LAUDELINA Ͷ Sei o que foi, vou dizê-lo:
Ou antes um pesadelo,
Um pesadelo medonho.
Ͷ Que foi, meu caro amigo?
Boa-noite!
CHICO INÁCIO
PANTALEÃO (Só.) Ͷ Sim, senhor, dois contos de réis! (Entrando com a Madama da esquerda baixa.)
Caro me
A cena representa um teatrinho improvisado. Ao CHICO INÁCIO Ͷ As nossas cadeiras estão no lugar?...
fundo, o palco
(Examinando a primeira fila, onde se acham duas
cadeiras.) Estão.
MADAMA Ͷ Devíamos ter mandado pôr também uma II
cadeira
Não lhe perdôo o ter-se engraçado... Então com Achei sossego, achei consolação.
quem?... Com a
O meu passado é triste, mas perdoa,
Laudelina, uma rapariga honesta, ajuizada...
Porque, ao ser tua, ao conhecer-te bem,
brancas, aparecendo por trás da colcha.) Ͷ Ó seu Sim, senhor! Isto é que é um diabo jocoso!...
Bonifácio!
BONIFÁCIO Ͷ Que é?
VIEIRA (Sempre muito triste.) Ͷ Felizmente é o último
FRAZÃO Ͷ Diga a seu Vilares, a seu Vieira e a dona Rita
espetáculo... Vou breve abraçar a família... (Atravessa a
que
cena e
CENA III
CENA II
[OS MESMOS], CARRAPATINI, músicos
MADAMA Ͷ Pois sim! (Carrapatini vai com os músicos CHICO INÁCIO, MADAMA, PANTALEÃO, BONIFÁCIO,
para a CARRAPATINI,
orquestra e começa a afinar os instrumentos.) músicos, espectadores, FRAZÃO
CHICO INÁCIO Ͷ Vá para a porta, Bonifácio, e veja lá! FRAZÃO (Deitando a cabeça fora do pano.) Ͷ Ó seu
Não Chico
deixe ninguém entrar sem bilhete!... Inácio!
BONIFÁCIO Ͷ Povo tudo já tá esperando. ESPECTADORES (Rindo.) Ͷ Ah! ah! ah! Bravos, ó
Frazão!...
muda. Aos poucos, o teatrinho enche-se FRAZÃO Ͷ Não é nada. Apenas queria saber se o
completamente, e todos os senhor estava
lugares ficam ocupados. Pantaleão entra e vai, com aí, para não nos acontecer o mesmo que o outro dia,
Chico Inácio e em que tivemos
Madama, tomar lugar na primeira fila. Durante este de repetir o primeiro ato. (Risadas dos espectadores.)
tempo, os Ó Carrapato,
Sobe o pano.)
ALGUNS ESPECTADORES Ͷ Psiu! Psiu!...
CENA V
VIEIRA Ͷ A carta está mal fechada... Que tentação!...
VIEIRA Ͷ Coitado do meu amo, o senhor Lisardo!... Por VIEIRA (Sem olhar para trás.) Ͷ É ele, é o senhor
causa Lisardo!... O
destes amores o pobrezinho não dorme, não come, meu posterior está tão familiarizado com aquele pé
não bebe, não... que não há meio
BONIFÁCIO (Da porta.) Ͷ Ah, danado! VILARES Ͷ Ó tratante! Pois não te voltas! (Dá-lhe
outro
pontapé. Risadas.)
VIEIRA Ͷ Está desesperado, coitadinho, e quando ele
está
desesperado quem paga sou eu, que logo me VIEIRA (Sem se voltar.) Ͷ Outro! Este foi mais taludo
transforma em caixa de que o
pontapés!... (Risadas do público.) Se ele me pagasse os primeiro! Pôs-me as tripas em revolução! (Risadas.)
salários com
(Risadas)
nesta praça!...
DONA RITA (Entrando, saltitante.) Ͷ Lisardo!
VILARES Ͷ Falaste-lhe?
DONA RITA Ͷ Ó meu belo cavalheiro! Não calculas
como
VIEIRA Ͷ Falei-lhe, sim, senhor. tardava ao meu coração este momento ditoso! Sabeis?
Meu pai quer
dize a teu amo que o amo, e que me espere na praça. BONIFÁCIO Ͷ Coitada!
Lá irei a um
mesmo...
VILARES Ͷ Então, faze-lhe o sinal.
CORO Ͷ CENA II
Um tremendo trambolhão!
EDUARDO Ͷ Senhor coronel, estas senhoras e eu Madama também vai.
andávamos à
procura.
MADAMA Ͷ Avec plaisir.
LAUDELINA Ͷ Não, senhor, não é isso! meu nome, para que em qualquer circunstância da
vida não se
restituição.
café?
MADAMA Ͷ Esteve. Foi quando me conheceu.
sabe?
CHICO INÁCIO Ͷ Minha filha! (Abraçando Laudelina.) FRAZÃO (Entrando, preparado para a viagem.) Ͷ Os
Havia não nossos
sei o quê que me dizia ao coração que eu era teu pai! companheiros estão todos na praça à nossa espera.
Vamos!
PANTALEÃO Ͷ Ele!
LAUDELINA Ͷ Perdão, meu pai, mas eu sou noiva de
seu
CHICO INÁCIO Ͷ Eu!
Eduardo... (Vai tomar Eduardo pela mão.)
trazido no mambembe.
TODOS Ͷ Quando?
Quadro 12
[(Cai o pano)]