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| Arthur Versluis Os Mistérios egipcios ‘Tradugio: ‘Adail Ubirajara Sobral ¢ Anibal Mari Arthur Versluis Os mistérios egipcios iv — EDITORA CULTRIX So Paulo ‘Tieulo do original: indice “The egyptian mysteries” Copyright © 1988 Arthur Versluis Parte I 1 —Introdugio 9 2 — Maat... 20 ok: Eneosto de una poltrona cerinontal, Goon sa eternidade, Ra, © suas $2- 4 —sis.. 40 signias. 5 — Osiris 50 6 —Sobre a segunda morte. 6 7 — Tito. : 66 8 — Hermandbis. n 9. —Ré: o Rei-Sol. 79 10—As Duas Terras 87 11 — Sobre a linguagem sagrada © 05 hierdie... 96 12— Sobre os Mistérios... 105 13 — Apocatastasiss Algamas implicagdes. m Parte II: Sobre a iniciagao 1—Theoria: A natureza da iniciag’ 9 2— Theoria: A iniciagdo € o simbélic: B¢ 3 — Praxis Iniciagio ¢ trabalho. 145 4— Praxis A chama e a flor... 158 5 —Conclusio: A iniciagdo ¢ a era atu 165 Bagh raseserenio aaa acs vaseser ee Notas 171 “Todos os dieitos reservados Bibliografia selet 185, EDITORA CULTRIX LTDA. {indice remissivo 187 Rua Dr. Mio Vicente, 374 ~ 04270 - Sto Paulo, SP - Fone:272-1399 autor e sua obr: 189 Trpreso nas ofiinasgrificas da EditorePensamento. 5 ee Parte I Capitulo 1 Introdugio Pode haver poucas dividas quanto ao fato de que toda 2 simbologiae a metfisicatradiconais que ainda remanescem no Oeidente possam ser remetidas ao Egico antigo, esa terra cujo povo, no dizer de Herédoto, era “eserupuloso além de toda me Feds em matéria de religiio". Com efeito, muito embora os an- Cigos Mistérios, a0 que parece, hi rauito tenham desaparccido een, talver melhor, tenham sido eclipsados —, sua influéncia Ginda’se faz sentir até nostos dias, quero saibamos ou no. Mes qo assim, alguns podem questionar o valor de se estudar a n= Karena dos Mistérios eg(pcios em nossa época! — afinal de Sontas, os Mistérios pertenceram aos mais longinquos recesos Ge nossa histdriaregistrada, a um reino crepuscular no horizon- te2 Por que entio deverlamos buscar ali, no mundo antigo, & Nerdade? Nido fariamos melhor se ignoréssemos os ancigos, or gem da culiura ocidental el como hoje se present, € 0s CO0- aentrdssemos no futuro? Talvez sim — & possivel que a igno- Fincia confira uma espécie de seguranga. ‘No entanto, al como um homem aprisionado mama caver- nace cereado pot ruidos estranhos, é preferivel saber areal posi Pho que se ocupa, por mais desagradivel que ela possa parecer, Ficactamos sem davida em melhores condigées de agir com 0 onhecimento daquilo que de fato somos, de nossa verdadeira ‘Seuagdo. E nfo se pode duvidar que, embora nio possamos re- tornar 1 vida numa cultura tradicional como a do Egito, nem Ggiar um tal mundo de significado primordial a partir do nosso fenebroso futuro — como determinadas fantasia da “Nova Era!” poderiam sugerir —, no obstante, a percepsio de como asco: ride {ato 380, das origens daquilo que ainda resta da cultura ‘eidental tradicional (transmitido pelo neoplatonismo e pelo her- sretismo), pode ter inestimavel valor na orientapdo de nossa vi- 9 a, na descoberta de sentido e de propésito, apesar da anormali- ‘dade das atuzis circunstancias. A esse fim se dedica este estado. ‘Para ambos esses alvos — a percepsio individual da verds- de metaflsica ¢ a compreensio das origens da tradigio ociden- fal, um entendimento dos Mistéris e da tradigio egipcios £ virvualmente indispensivel. Sobretudo & luz do fato de ter 0 tual estado de confusfo — 0 mundo moderno — surgido do ‘Ocidente, o que sugere ser 2 nossa atual condigio andmala © fagmentaa, com seu impulso incontrolivel para o quantita Yo. para osolipsismo c para a desteuisfo do nosso manda nat val derivada de um eclipse, de um ocultamento da metafisica Eda simbologia tradicionais, da compreensio metafisica em que Se fundow a tradigio epipcia. Na verdade, quase todos os capl- fulos do Novo Testamento estio repletos de simbologia ¢g'p- Gia, ainda que de forma atenuada e diluida. A santa Virgem ‘Maria, podemos recordar, em sido vista com freqiiéncia como reiteragto de Isis, Cristo, do Seu Divino Filho, Horo, emana- {do do Seu consorte, Osiris; podem considerar ainda as pala: ras do Apocalipse, segundo as quais “isto diz o Amém, a testemuna fel e verdadeira, 0 prinefpio da eriario de Deus’. De fato, se tivéssemos tempo para neles mergulhar, mostrar: tos que os paralelos sto ainda mais proximos, visto que esta lltima 6 “luminada por tls” pela primeira, De qualquer ma- ineira claro esta que, para compreender © nosso presente, deve- mos entender o passado. "Temos razDes pata crer que a cultura do Egjte antigo, 2 par- tir de, digamos, 9000 a.C., foi ela mesma derivada de uma cul tura anterior mais pura, de onde surgiram as cradises do Oriente e do Ocidente e da qual proveio, por fim, #atual Idade de Ferro, a Kali Yuga. Algumas evidénciss dessa cultura mais tiga e pura podem ser encontradas nos elementos histéricos da cultura caldéia, que floresceu antes mesmo da egpcia © que Se devotou ’s harmonias celestizis. Com efeito, segundo alguns relatos, a cvilizasao caldéia floresceu 20 longo de quatrocentos { setentae ts mil anos — da época de suas primeiras observa bes ¢ cflculos astrolégicos & de Alexandre." Sea ou no ver Jade —e cemos mais razBes para estar de acordo com os caldeus ddo que para crticélos —, nfo pode haver dividas de que um thomiem primordial, apenas reofmesurgido na Terra, possufa uma relagio mais forte com as estrelase planetas gragas& sua longe- ‘idade celestial. Ai repousa a chave da longevidade dos deuses (gue precederam o htotuem sobre « Terre, bem coma con refle- 10 ‘x0 nas personagens do Antigo Testamento, como Matusalém fe outros. ‘Hrebora ainda retivesse a unidade inicial entre os mundos celestial ¢ terreno, 2 divindade primordial do rei — em suma, eietos dos indicios de uma cultura primeva, da Idade de Ow- retot, Egito ainda permanecia no estigio “‘pos-dilivio”, isto depois do dilévio da ignorinci, de que falou Mneton em hu Sptbis. Assim sendo, apesar de sua tendéncia demasiado com see dora, de sua revertncia pelo passado, o Egito preservava sertsidvo de uma cultura dotada de maior pureza, uma cultura Onis diving, numa relaglo com 0 passado na qual o pafscovava ‘Gane do esplendor que um dia fora, do mesmo modo como hhoje estamos diance do esplendor que o Egito um dia fo: como toe Sombra, espectro, pido reflexo sobre as dguas. Com ef a depois dt Epoca do Egito houve de fato um novo dilivio, ‘wha catéstrofe sem precedentes, em que um mundo translic Yow um easamento com a Realidade celestial — foi dissolvido, terra, separada do eu, os simbolos e Mistérios sagrados dos srngos,condenados e ignorados; catistrofe em que a Natureza pastou a scr vista Ho-somente como concatenagio de matéris Ein que 2 gnosis teve seu lugar ocupado pela mera razdo, pelo fonctnenaliemo meramente dogmético, Esse pfocesso se acerca Com rapider do seu nadir na era atual, um nadir em que © puro Caos ina outea vez eno qual, tal como nos éons que precede- fan a Cragao, o nico e torna o Unico, fcando auto-uficente, radiance, no interior de si mesmo. Bis bor que v propéaito aubjacente — na realidade, 0 pro- pésito central — deste estudo &celembrar, no sentido platéni Peraguilo que foi relegado a0 esquecimento, que se perdew, fc SPoetecido pela nossa meméria curta, nossa ignorincia do D- Sino. Porque, como 0 curso da nossa era atual dirige-se para Tgnordncia praticamente absoluta de mundo, da metafisica © dakimbologia tradicionais, devernos procurar ainda mais 0s at» tigorem busca de orientagio de sabedoria, paraevtar a perda Be pouco que ainda nos restaerelegarmos 20 esquecimento ab- selixo os corolérios de dissolusio e o solipsismo atuais. ‘© principal obsciculo 20 nosso entendimento da tradigio cgipeiaem especial e da metalisica tradicional geralmente € 8 moderna incpaciade de pensar de mania ‘analogica. Hii al- iguns sdeulos, a mente moderna vem sendo condicionada cada aay mais a pensar apenas em termos evolutivos e materialistas, Yel modo que o pensamento simbélico visionério que ame tallsies tradicional Fequer é quase incompreensivel para a maio- u consumindoas pelo fogo L. . . {de modo que] deus faré 0 Cos: fnos retornar A sua antiga forma [... a melhor”.” Por infelicidade, tudo o que foi profetizado nessa transmis: séo do Corpus bermeticum de {ato aconteceu — a impiedade, 2 proserigdo da antiga religido verdadeira,aignordnca da massa — Pio, quer dizer, salvo 2 purgasao do Cosmos e a Grande Res: tauraglo, que sio, sem duvida, iminentes. ‘Osegipcios, por conseguinte viviam num mundo jlumine do, acima deles, pelo brilho da Tdade de Ouro, mas conscientes dor io momento de que, caso nfo honrassem suas responsabil- dades,a separacdo entre o Céu e a Terra se fara intransponivel Gon cicito, a consciéncia dessa responsabilidade era inerente { Galeara 4 religito eg(pcias, sendo um dos exemplus disso o 2 Rjmamento de gue, no local onde se encontrava cada templo Se Oates, se exguia uma escada® que ja da Terra 20 Céu, jé que, or bors Céu e Terra tivessem um dia sido uma s6 coisa, mais cide o homem havia precisado de uma “ponte” entre os dois, ae ceeaida a partir da observancia religiosa, em cuja auséncia 0 imo dos quais fo1 Horo, ou Apolo, o filho Divino de isis wOuiris — regiam diretamente a Terra. De acordo com Dio- Sorel, por outro lado, os deuses regeram o Egito por cerca de Sore oF anos, periodo apés o qual comegou o reinado dos seretyvinos. A data, que de qualquer modo tem uma interpre- tagio mais esotérica que literal, pouco importa, permanece © faxo de que cada rei sucessivo, embora nao fosse um deus, tra te igs veias o sangue de R4, o Divino Sol, de quem era o repre- sentante vivo na Terra." Por essa razio, no era o rei o pai do scu filho, mas © Sol, 0 Divino Sol, Essa impregnagio divina tem como paralelo dire goa concepsio imaculada de Cristo na Virgem Maria do Novo Peckamento, ha também o paralelo dos Upanixades, nos quais deck eserito que o Sol é vida e a Lua, matéria, ¢ que, da mistura Sas dois, surgiu a Criagio."2 Como diz. o Maitri upanixade, 0 Sel ¢ o eriador (Savitr) Brahman é 0 Eu do Sol; por conseguine te, devese reverenciar o Sol, o Senhor, A Testemunha."” De igual forma, diz-se que, “quando o pai humano emite =, 'Bente no vero [. . -] de fato 0 Sol que o emite como semen, rasrit B hi ainda a observagio de Aristoteles, segundo 2 qual ‘o Homem e 0 Sol geram 0 homem”.° 35 Sem divida, a sutilrelasio entre 0 Sol visivel e o Sol Di tno nfo pode ser esgotada, porque, da mesma maneira como 0 peimeiro refi 9 Terilho deste tltimo, assim também o Rei re- sac eigem Divina da sua fangio, canto quanto o pai de toda celanga rellete sua propria Origem, nio sendo senfo um ports Jor da Luz, a semente de vida que ele emite. Cada um deles $e Share do mundo no Ambito de uma dada esfera em virtude dd papel que representa, da fungo a que serv, nfo para domi. sar igique isso € Urania, egoismo, 0 epitome do, pece Ie lac tara alimentar, manter a ordem ¢ ajustiga, 0 fundse oe ato de um reino estavel. A familia, o ci, a terra — todos fe orientam em torno do Sol. E, contudo, 0 sentido dessa ordem no ¢ a mera estabilida- de temporal — se bem que iso foi alcangado no Egito num grav ce rrordinirio, propiciando muitos milhares de anos de paz» aaerievtes a redlizagio do destino celestial do homem. No pré- pu Egito, numa époce posterior, uando o culo de Osis = Brie os iso signficava, para muitos, asubida 20 Paraiso do ‘Ounte,oreino sutil dos deleitesespirituais que se aproxima, em spats aspects, da Terra Pura Suhavati) dos deleits espiti Mauls manifesta, no budismo posterior, no culto de Amitabha. EE para os adoradores de Ré, 0 Divino Soh signilicava “liberds Teperndicional”” — aqueles que alcangavam ess libertagdo des- festavam para sua verdadeira naureza em Ré,alsando-s¢ +0 eerpo da pura Lz, 8 "barca de milhdes de anos", na qual nave" ‘Gavam até final do Gon", quando todas as coisas retornam 20 Sn ea libereagdo final & atngida, Esse ltumo ensinameno, podemos arescentar, tem como parallo o Vedanta, 99 qual povseres que realizaram a natureza de Isvara também aleangar corns como é dito ali, uma “libertagio condicional”, uma liber- Tago do renascimenco que dura até o final de um ciclo do Traindo, quando tudo se restaural” ¢ 0 joio se separa do trigo Emm outras palavras, todo 0 mesocosmo que era o Eto servis [nalizagio de todos os homens que se encontravam na sua es {ers dando a cada um os meios necessrios para atingr 0 gra aE Tvertacio que pudesse sero seu destino imediato, isto ques Spesar de hoje set“ificl o caminho, ¢extrita a porta” so wpe cando menos verdadeiro quanto mais nos aproximamos Us primordaldade. Numa cultura tradicional, o caminho & na Seujade, largo, com 0 mesocosmo “atraindo tudo para o inte Wor’ para os destinosceletais, sendo.o exterior mero reflexo set mberions « na primordialidade o gfnero humano cumprit: 16 seu destino no Ambito da vida comum, despertando espa rheamente no mundo natural. ra pis deta do rei Amaris acentua a natureza do Rei Divino, “ositiernc, , poreanto, do lugar da propria humanidade como oe ciagho', visto que cabe a0 verdadero rei nfo diri- a as sustentar, nfo controlar, mas ordenar, harmorizas, Or Br cs mais primordial — a idad de Ouro —. em que cada re Pemmano é um deus, a fancio mediadora do Rei Divino ain- SE no precisa existir; da mesma maneira como, inversamente, gnede do Rei Divino também nZo pode existe naera moder” aon ee cena ropa de vodae a elabes ham: na, cae Divino, € que ext, asim, “aqném” da posse ds um Ui governo.® Por conseguinte, a funeio de Rei Divino #6 por eee kira culeura tradicional, por ser esta o elemento de lig- Go ennre o Céu ea Terra,ente a primordalidade ¢ 0 present Srnendo ordem e sentido a vida humana. Gosoxs verdade paradoxal o {ato de que, na cultura tradicio- nal — que por eeto teve no antigo Egito (na mais remota Anti uidade) ov mais puro exemplo —, o humilhado ser exaltado Fvrnovo diz essa antiga obra chinesa, © Tao-Te Ching “Por que é 0 mar rei de wma centena de correntes? Porque sesth debuino delas Por isso ele € rei de uma centena de corren- ca otra Iiderar 0 povo, o sibio deve servir com humildade, Para liderar, deve seguir”. (66) {Quer dizer, o Rei sempre deve recordar-se de que ni & rei yor of mesmo, mos apenas o meio pelo qual a sees é divins: Poraue regday ele deve governar, nfo com hamalhagao nem a ‘gina: mas com 2 coragem ea aucoconfianga que apenes 9 coeacrtento da verdadeira natureza de si mesmo pode Propi- coe gue ae aplica ao rei deve igvalmenteaplicarse 20 ind Clo em sua propria esfera: porque todos sio eis, tendo como Tlnrear bisiea 0 escopo atual do seu reino ¢ pouco mais do Gue iso, Eis porque, ma cultura tradicional se devora atts 67° 866 3 maeureza da verdadeirareleza — jf que, em Sima andi $30 ous observagbes se apicam a todos. As pessoas nfo pode! se, Gvorciadss da sua cultura e do seu mundo: « harmoni fer Chemica € harmonia mesocésmica, € harmonia macrocbs Em nenhum outro lugar essa unidade natural entre o rei eo Exado é mais explicita do que nos relatos que possulmes 4.2 sign Egito, em particular nos de Diodoro, em coja histo- 7 ria universal lemos que os rei, Jonge de possuirem wma autor Jae tirinica ou ilimitada, eram na verdade as pessoas mais re ggladss, que tnham a propria alimentasio dria decidids pelos aaeercy,prescrita pela antiguidade. Toda agdo do rei, toda Gecisio sua, era regulamentada pela tradislo; ¢, sem vex de se indignarem, os reisafirmavam ter wma vida de- ite feliz e sstisfatOria: porque acreditavam que todos 05 ov Yeehyomens, 20 seguirem impensadamente as paixGes natural vremetem muitos atos que Ihes trazem danios ¢ perigos, 40 Passo orien por ovtro lado, em virtue de(.-. ]seu modo de vide Da Jeometiam um minimo de 1:08"? Em conseqiiéncia, diz Diodoro, 2 boa vontade do povo Per ca cnn Gaurelerainsuperivel, endo a ordem e a felicidade do “aadgo Egito, que fot incompardve,durado muitos milhares de anos. ‘Como resultado, embora em nossa era no possamos espe rar wana rstitutio divinis, ao menos em larga escala, sendo ine: evel o curso para a dissolucio, nfo obstante, na medida em ue contabuirmos eparticiparmos do mundo em que viveram 20E gipetos, os reinosintemporss, estaremos libertos das est SeeFe nosn era, Porque enquanto na nossa er, como obser. See o-erro reina supremo ¢ a confusto de tudo se apossa, warvrfor isso extdo todos os individuos condenados a afundar rer sees ondas, sendo levados de roldao para os seus redemoi “thos perdendo-e — longe disso. Pois, como estd escrito no Ghanuegya upenixede, o hamem se torna aquilo em gue se con eee Se deecjarmos o mundo dos pais, nasceremos eles s& seers neentrarmos no Altissimo, em “elevar-nos acima do cor Po farina saute) realizaremos Brahman ¢ sremos I bertos.™ ‘Ou, como esté escrito no Tao-Te Ching? inguele que é sincero age repiamente, Aquele que a8 Te gjamente alcanga 0 Divino, Aguee que é Divino ex em inte. Bare 9 Tao [...1 Embora o corpo’ peresa, 0 Tao jamais desaparece”. (16) Esse é, a um s6 tempo, o alvo ¢ « marca da cultura tradicior ral que todas as pessoas ajam regiamente, que todas acapee nat lino, cada qual segundo seu merecimento. Dizia-se de Sri Parke, antes da colonizaglo, que a Sinica diferenga entre o cam 18 ponds ¢ 0 proprio rei cram os taj, sua capaciade ¢ sua le Po na oles 36, Por certo € possivel dizer algo parecido aerca Se gito: a forga de uma cultura tradicional reside em seu po deed irradiagdo, que envolve e unifica todas as pessoas com der ulizagio de sua verdadeira natureza, do Divino. So- ire quando o poder & desafiado, quando a desordem e 08 com omtamentos antradiionaiscomegam a asumir @ control, moderna.” “Em que, entio, consist a prisca theologia? Consistiv, Se- brevado, na Divina Ordem e harmonia: maat. E € para meat, etinera caracteristica —etalver 2 central — da antiga caltse ra egipea, que agora nos voltamos. Fporando e pervertendo os ensinamentos da Anriguidede, ver ‘epotjyara a rit, a fragmentarse € a desaparecer. E foi preci Samente 9 que aconteceu quando judaismo e cri teparam a ganhar terreno diante das tradi sera Eger membros de uma mesma familia voltaram-se Uns see ee os gutros, amigos contra amigos, ¢ a sabedoria do mur Sp enugo foi sidicularizada — na realidade, o prelidio ds era ismo eo- antigas lega- 19 Capitulo 2 Maat £ virtualmente inconcebivel poder entender a religifo ea cultura egipciasancigas sem compreender a palavra “mnaat”, pois rela podemos encontrar a propria esséncia da cultura tradicio- nal e da ordem Divina. Com efeito, num nivel maet manifesta se como uma deuss, a consorte de Hermes ¢, outras vezes, co- mo 0s "Senhores de Maat”, que sio os assistentes do homem «em seu julgemento pés-morte!, fungio que também é de Osf- ris — mas, independentemente da manifestagio especifica, maat também se identificava com a ordem ea harmonia. Nos Hinos de lowwor a Ré, diz-se que “Homenagem a ti, 6 R4, louvado Sekhem [poder], Podero- s0 das jornadas; tu orientas teus passos por Maat, és a alma que faz bem ao corpo; tu és Senk-hra[A Divina Pave da Luc} © €3, na verdade, os corpos de Senk-hra”.? “Maat” associada aqui com a relaglo entre alma e corpo, ‘com a harmonizarSo celestial no reino da geragio, o que é bem apropriado, consistindo a esstncia da alma na harmonizagio, na orientagio dos “teus passos”. Na alma ou psique, ess orien. tapio implica a harmonizagio das esferas planetirias e dos po- deres celestiais. O que &, pois, “Maat”? “Maat’€ essencialmente tum termo que descreve as ages e as pensamentos que agem em favor dessa harmonizagio, de um equilibrio que deve ‘manifestarse tanto na ordem sutil como no mundo temporal, visto que os dois de maneira alguma se encontram em oposi- fo, divorciados, sendo antes reflexos, aspectos, um do outro. Em suma, 0 principio central de maat é de reciprocidade en- tre 05 deuses — os reinos Divinos fundamentais — e a humani- dade: os Deuses serveur i humanidade do mesmo modo como 2 1 humanidade serve aos Deuses. Meat € reciprocidade © a har- monia Divinas. E ‘Maat &, portanto, construido a partir da compreensio dos reinos Celestiais —e um reflexo destes —; existe no dmbito do reconhecimento de que hi miltiplos estados de ser e uma espé- cie de reciprocidade entre cles. Ea principal forma de mani tasio dessa reciprocidade Divina sio os ritos sagrados que, embora por si mesmos ndo sejam suficientes para 2 ibertasao, no obstante, em particular numa época tradicional, sfo os meios pelo quais o¢ Deuces e 2 mirlade de forges do cosmos s80 ma nifestose equilibrados. Os ritos sagrados, portanto,assemelham- sea uma coluna que ss clevay a pertr da bse, avodos on nivels e reinos, e foram preseritos 3 humanidade, nio para aplacar al gum poder externo, mas para harmonizar a espiritualidade das essoas, conjugar os reinos espiritual e temporal, de maneira ue, por meio dos ritos,fosse possivel que o Céu se manifestas- se na Terra, unindo Terra e Céu outra vez, tal como o eram na época primordial. Essa € a razio pela qual os egipcios, 20 falarem da ressurrei- s40 do corpo de Osiris, disseram que em cada local onde foi encontrada uma das partes do corpo, depois de verem sido es- palhadas pelo deménio Tifio, foi guido um templo, um sitio, sagrado onde era possivel encontrar uma escada Divina que se estendia da Terra a0 Céu, Na época mais remota, 0 Céu e a Terra estavam unidos, translicidos, e as pessoas eram deuses; mas nos dias do Egito antigo, comegavam a separare, 0 que tornava os ritos necessérios para voltar a uni-los, seno em to- da parte, a0 menos nos lugares em que as escadas — os templos = se localizavam, retendo assim parte da unidade espiritual pri meva entre o temporal e o Divino. E, nessa linha, pouca divi- da pode haver de que, até hoje, certs Areas ressoam com o poder primordial — algumas vezes para o bem, outras no. Ora, como o reiteram os Sutras budistas € 0 upanixades, a realizagio do ritual sem conhecimento ¢ infrutifera — 0 grat de conhecimento determina a eficicia ou 0 poder de um dado rito, Deacordo com o Chandogya upanixade, quem pratica um Fito de stcrifico, fazendo obras de beneficio publico e de cari- dde, “passa para o lado escuro do més (a lua), mas nio aleanga 4,300 [asl 4 “Algandowe ua”, moram al (a efera stl de manifestasdo), segundo suas obras, por algum tempo, perlo- do aps o qual ecornam ao mundo do nascmento eda morte Tratase do caminho intermediicio, 0 pitr-yana, ou, mais li ralmente, “0 eantinhy dus pais”, que, no Egivo como em todos a os lugares éseguido pela maioria da humanidade, propiciando- Ihe, no a libertag0, mas apenas um melhor nascimento — ex- preso no Egito pelo culto de fsis «de Osiris. Por outro lado, Eguele que seguem o caminho da iluminagio, o deva-yana, “o qaninho dos deuses”, no retornam & vida temporal, mas ge ham a libertasios esses, porém, sio poucos. ‘Os que ndo fazem sacrificios nem praticam austeridades, muito menos seguem 0 caminho desses poucos, caem nas mos Ge Yama, o Rei da Morte, e até no Inferno, onde, pelo periodo Sxpecificado, enfrentam as conseqiiéncias da sua ignorancia (avidya)? A esfera da Jua marca o “Portio do Céu” (“Yesod” ee ebraico); aqueles que passam por ela penetram no reino dos Deuses, © propésito do ritual é manter a conexo com os reinos celestiais, evitar que as pessoas caiam nos caminhos das trevas cegantes, do brutal materialismo secular ¢ daignorncia, para lembrélas de sua Origem e responsabilidade. ‘Ora, maat é um tipo de eixo, que passa pelos virios niveis ou reinos do conhecimento, sendo a parte de baixo o mar in- fernal do caos, e ade cima o sublime oceano da bem-aventuranga. ‘Agueles que ndo cumprem suas responsabilidades, que ignoram. 6 ditual, rem nas mies de Yama, do Rei da Morte; eles perdem- se, fragmentamvse, desordenam-se. Quem cumpre suas respon ‘Shilidades, mas fica apenas nisso, se eleva ao reino de pitryan, a terra dos pais, mas no alcanga alibertagio. Contudo, aqueles ue meditam acerca da real natureza da existéncia e que, além isco, véem sua propria e verdadeira natureza, alcangam a li- bertacio e ultrapassam a lua. Eis por que maat — ordem e har- mnonia —-é 0 principio por tras de todos os reinos. Seguir maat ‘Mo é suficiente para nos livrarmos da servidao temporal, visto fer ela o caminho dos pais — mas nio é possivel prescindir de- Ja, Quem segue isso, 0 caminho das obras, busca conformar-se Yordem divina, a maat, a passo que quem alcangou a liberta- do. por meio da deva-yana, irradia maat espontaneamente. Por sirere lado, os que ignoram maat caem na dissolugo, na desor- deme, por fim, sio descruidos. Maat é pois a emanagdo da or- dem Divina “no sentido descendente”: quanto “mais alto” se Vai, tanto mais proxima ela fica, até que, no final, é reconbeci- da como a irradiagao do centro do ser € de cada individuo. “Assim, 0 antigo simbolo egipcio para maat era a pena, Fe presgntagio da asa do Arjo, 0 simbolo tradicional do conhec- prento e da realizacao espiritual; o Anjo, que se mantém no alto Com suas asas de gaze, ¢ livre, independente das preocupages temporais. O apelo a Ré para “tornar-me leve” implica por si 2 ‘mesmo que quem deseja elevar-se deve ter atingido a maturida- ddeea pureza éticas, uma organizagéo na alma; a antiga imagem dos “Senhores de Maat”, ¢ de Tot ou de Osiris aferindo os pra- tos da balanga é esclarecida pelo reconhecimento-de que agir ‘segundo maat confere “leveza”, enquanto agir contra ele nos sobrecarrega de pesos cdrmicos. Por conseguinte, maat, como principio de ordenago ou har- monizagio, existe em trés manifestagdes: para o individuo, px aa comunidade como um todo e para o cosmos. Cada um desses aspectos reforga 0s outros. Na esfera individual, maat se mani- festa por meio de agées éxicas, mas também pela abstingncia jejum, essencialmente de comida e de desejo sexual. Esses dois ementos implicam purifcago do reino da gees, do nasci- mento e da morte. A abstingncia de carne animal implica, da mesma maneira — como observou Porfirio em seu tratado so- bre a matéria —, a purificagZo do desejo, das paixdes. Para 0 individuo, todas essas coisas t8m como implicagio uma ‘‘colo- casio em ordem’: elas nio sio suficientes em si para nenhuma realizagio duradoura, mas costumam ser indispenstveis para tal, ‘Visto que devem preceder e acompanhar a transcendéncia, ‘Na esfera mais ampla da comunidade, maat implica o cum- primento das responsabilidades de cada um, da fungio atsibut Baa cada pessoa no ambito da culturas implica a harmonizagio cultural na comunidade, tal como o faz. em bases individuais. Eo veiculo central para sua transmissio pela cultura como um todo é o Rei Divino. Como ja se observou, reconhecese 0 rei, tna cultura tradicional, como uma encarnasio ou manifestagio de Ré, do Sol Divino, de Aton; por essa razio 0 rei, no nivel cultural, afasta 0 mal de modo muito semelhante 4 autopurifi- Casio do individuo consciencieny: us trés mundos ofo, em dei. ma andlise, um sé — microcosmo, mesocosmo e macrocosmo. ‘Assim, maat & o meio essencial de preservacio do estado (em todos os sentidos da palavra) da hurmanidade e da natureza: 4 responsabilidade humana é, em sua esséncia, voltada para a conservasio, preservando as tradigdes que vinculam as pessoas entre si, a humanidade com a natureza e todas as coisas com o Divino —e maat & 0 meio, a manifestagio da sustentacio des- Se relacionamento. Num texto antigo, hé uma exortagio expli- Citas pessoas: “Fala maat; faze maat/”® — mas essa ordem est jmplicita em quase todos os antigos escritos egipcios. “Quem reverencia maat tem vida longa’; quem deseja obter conheci- mento nio tem sepultura”®, como disse o.vizir Ptahhotep. Hé, ‘em outras palavras, uma correlacio direta entre a longevidade 2B spiritual ea pritica de mat; tanto 0 individuo como a socie- dade que cumpre de modo adequado sua respectiva fungao tem Vida longa — 20 passo que aquele que cai em desordem logo perece, se fragmenta se dissolve. Portanto, a estabilidade vem- Poral é 20 mesmo tempo requisito para elevagio e iluminardo spiritual e sua irradiacio. No Egito antigo, A medida que o tempo passava o sébio ia pereebendo cada vez mais que a sobrevivencia dependia da reins. Rruigdo de maat, da harmonia Divina, em todos os niveis: des i muneira, eomo observou Herddoto, os reis mais sébios foram Squcles que restauraram os verdadeiros templose reinstiuiram ou ritor religinsos, enquanto os piores foram os que cederam frente ao auto-engrandecimento a expensas da religiio, ignoran- do os templos. A ordem primal do cosmos fora estabelecida ‘quando da Criaslo; lentamente, porém, 4 medida que 0 tempo Passava, o C&a.e a Terra comegaram a se separar, razdo pels Jal maat vei a exist de maneira mais expliita do que impli ia, como a corda que liga o Superior 20 Inferior, como a ira diagio daquele neste. ‘Consegiientemente, maat é a principal unio entre o celes: tial e 0 terreno no cosmos, assim como no mesocosmo ¢ no microcosmo. No mundo primordial, por conseguinte, esses dois Trivels eram percebidos tal como de fato so — como Um, uma harmonia Celestial —, e somente mais tarde as pessoas, confi tase iludidas, comesaram a diferencié-los. Como resultado, em bora seja em esséncia a harmonia do cosmos, maat ests presente de modo implicto, s6 sendo explicitamente prescrito & huma- ‘dade na medida em que esta concebe esses dois dominios co- smo entidades distintas. Como disse o sibio Peahhotep, “maat & grande, € sua eficicia, duradours; nfo foi perturbada desde 2 época de Osiris. Hi punisdo para quem viola suas les, nas esta & desconhecida daquele que deseja obter conhecimen- to L..} Quando o fim estd préximo, maat permanece””? Em acréscimo, disse o vizir Kagemnis ““Faze maat pelo Rei, porque maat & aquilo que Deus amal Fala maat a0 Rei, porque aquilo que o Rei ama é maat!”? Errevelador 0 fato de aqui Deus ¢ 0 Rei serem virtualmente intercambisveis. Tal injungio, porém, s6 pode existir numa épo- 24 ca-em que maatjé nfo & espontines para a humanidade — Epo Sana qual a pessoas jé nfo eram deuses, capazes de irradiar miaat Sree gira espontinea, mas deviam esforgar-se por realizéla, sendo isso, por si $6, um indicio de quao distante estava o Egito dda unidade primordial, da Idade de Ouro. Como esté escrito no Tao-Te Ching: O ensino sem palavras a obra sem agi, raros s80 05 que os compreendem”. (43) Quando entram em jogo as palavras, a realidade ¢ obscu- recida. ‘A pats do que diz Ptahharep, citado acima, podemos ver os principais mefos através dos quais o Céu ea Terra se aparta- oe erinde ver mais; isto &: “E& punigdo para quem faz o mal, vam cata é desconbecida daquele que deseja obter conhecimen: To (grifos acrescentados). Em outras palavras, a ignorincia & 10 gefacia do mal, e 0 mal nao é sendo a desordem, a auséneia enact, A ignorincia é cunha que separa a humanidade da ecuveza, as pessoas entre si e todos do Divino; isso acorre no Vedanta, no budismo e no Egito antigo, tal como em toda s= bedoria tradicional. Avidye sempre se opde necessariamente a pidys ¢ 0 triunfo do conhecimento implica sempre a derrota Te ignordncia. Em conseqiiénca, aitradiagdo de mat numa cers implica conhecimento: quem pratica 0 mal é “quem ndo co vw hece asi mesmo”; “aquele a quem Deus ama ouve; mas aque ea quem Deus odeia nfo ouve”.!" Em suma, a manifestagio Ye mmuat, na origem, vem direto do conhecimento ou inspirx ‘Bo espirituals, bem como, secundariamente, da emulagao da- fueles que det8m o conhecimento (a gnesif © primcivo & 0 Teayana, o caminho dos deuses; este ‘Itimo & 0 pitryana, 0 faminho dos pais — entre eles ndo ha, portanto, oposisao, sim ima diferenga de grau de percepsio ou de jluminacio. ‘Esse arranjo hierarquico sugere que, embora maat seja im placdvel em sua operagio,a mi apo ndo pode bloquear aelevs- Feo de maneira permanente, mas apenas de mado temporétio: ee outras palvras, embora a agio de maat seja inexorével no ‘mundo temporal, aqueles que alcangam o conhecimento espiri- qual (a gnost) podem ‘cer um julgamento favordvel” depois de morte; destruindo em si mesmos 0 mal que cometeram, purificandose na “esfera da lua” até passarem para a condicio PAlestia. Assim é que, no Livro dos mortos egipcio, a humani Gade busca justificagao, absolvigao dos seus pecados passados por 25 meio da gnosis — 0 conhecimento dos nomes ¢ aspectos Divi- hos que dio a senha para se ir além da esfera da lua, por meio de Osiris. sso, contudo, nfo significa que os ritos que levam ao pré- vvio conhecimento da morte, nem tampouco as palavras de po- Ger — como se vé no capitulo 125 do Livro dos mortos — ¢ ‘adoragdo de Os!is permitiam fugir ao poder implacivel de maa. Em vez disse, estabeleciam uma afinidade, um conhecimento ¢, portanto, uma inclinagio que transcendiam o reino tempo~ ral e, dessa maneira, “concentravam” a atengio do morto. Co- tno disso Petosiris de Hermépolis: “*Ninguém chega ao benéfico Oeste sem ter 0 coraslo reto pela pritica de maat. Ali, nfo hd dstingdo entre a pessoa infe- For ¢ 2 superior; importa apenas no ter culpa quando os pra- {os eos dois pesos se encontram diante do Senhor da Eternidade. Ninguém esta livre desse ajuste de contss, Tot, um babuino, segura os pratos para avaliar cada homem de acordo com aqui- Jo que fez na terra’? ‘Todavia, devemos ter em mente que o homem nio ¢ uma entidade Unica, mas consiste em virias potencialidades ou esta: Glos de ser, 20s quais 0s epipcios atribuiam certo nimero de ter- mos.) Ora, aquele que percebeu que seu ser nio esté apenas no corpo, 0 ka ou no ab, nem, em diltima andlise, nas coisas ‘que existem, mas consiste no Eu do eu, no ilimitével, na Luz, SUptinua em certo sentido a viver as tendéncias ¢ cargas cérmi- zs acumuladas em suas vidas passadas, mas 20 mesmo tempo Siberta dels, tendo-thes percebido a Origem por meio da gro- tis ou percepgio espiritual, Embora representemos essa jornada na diresdo exterior, como uma jornada pelas esferas, la é na ‘erdade para dentro, na direg3o do proprio Coragio (ab) do mi- Trocosmo, Finalmente percebido como o Coragio de todos. ‘Como resultado, podemos afirmar que, enquanto a pritica ea consciéncia de maat sio indispensiveis para o individuo ¢ para o reino — visto que, sem isso, tudo deca e se destrdi, raat sozinha leva apenas a0 reino dos pais — & lua —, € no para além dele. Deve-se ter harmonia Divina — falar maat fa. eer maat —e ir além, alcangando a gnosis a percepcio da qual saat deriva, Em termos mesocésmicos, essa fangio de trans- ‘miss do Divino é realizada pelos templos, pelas linhagens sa ferdotais — o caminho da libertagdo que é, na verdade, o axis mundi, nfo $6 para o individuo como também pare a cultura 26 «¢ para o cosmos. Da mesma maneira como 3 linhagens sce", bass pessam pela histria “horizontalmente’’, como o centro Ge cultara, assim também a transmissGo “vertical” do Divino Sean-se no centro da transmissio sacerdotal, 2 transmissio dos Mistérios. Maat, ou a pureza e a ordem individual ¢ cultural — Miarmonia —,@ a manifestagio dessa transmissio, osinal mais saterno desta, Transposta para a antiga cultura chinesa, maat Sorresponde 20 ideal confuciano de dever filial, respeito pelos dleuses e pureza ética absoluta, dechecessirio dizer que 0 ideal confuciano s6 veio a exis tir quando a unidade primordial com a Origem — representads pelo eaolsmo — comesava aruir, a dssolver-se. Como diz 0 Tao- Te Ching: “Quando sesqueceg grande Tao, urge gentileza ea moraldlade. Quando nfo hd paz no stio da familie, surgem © dever e a devosio filiais”. (18) Os chineses antigos, tal como 0s egipcios antigos, veners ‘vam seu Imperador Divino e reconheciam que sua terra era para Tero centro do cosmos, o pivd do mundo — ¢, tal como eles, pereebiam o ténue controle que mantinham sobre a balangs que Pee seu mundo, balanga manifestada em maat, Essa relagio Cra eo Rei ¢ sua fungio como meio de restituigio divina da [dade de Ouro & explicitada em grande nimero de textos. Observese a seguinte ctagio, dos Textos das pirimides: +0 cu esth em paz, €a terra, jubiloss; porque ouviram que corigit o lugar da desordem. Turancimon expulsou sm dag Duas Terras", e maat tem firmes bases assen- dadas em seu Tugar ele fer da mentira uma abominasto, ¢ « ter ra esta como estava da primeira vez"! Se as pessoas se tornassem relapsas e ignorassem a8 cerimé- nias, se 0 Rei no cumprisse sua Divina Fangio como vicerei piaterra e os templos fossem levados & decadéncia, as pessoas oe Rel saberiam que o mundo cairia no tumulto, na fragmen- tao e no exterminio. ‘Por isso, 0 povo ¢ o Rei impuseram a si mesmos a adesio amaat e saa observancia, o Divino principio da harmonia, bus: Rndo assim preservar a santidade de sua cultura ¢ o caminho Ge libertacdo que estava em seu centro. Contudo, os cielos do tempo nio podem ser dominados ou, por fim, evitados, azo ” do mundo fisico, por Jor meio da tecnl z mA condenado a afar fneio da “visualizay dar cada ver mais na esas coisas tm como fem lugar do Divino — 04 Entretanto, levar essa assim, passamos da Divina 12 Enéade Primordial. * e da feitiaria, est ‘desordem e na fragmentags Fandamento a afirmagio do eu, tue consticui a propria antiese de mat. Giscussio adiance foge do escopo des- Capiculo 3 ‘A Enéade Primordial ‘Uma das principais idéias ersOneas que as pessoas de hoje tendem a ter da prisca theologia consiste em atribuirthe uma fila solidez, uma ordem rigidac ficticia, como se cada Deus foe uma ertidade exterior e especifica, Isso é naturalmente um ‘fiero da era moderna, na qual o proprio mundo, aos nossos thes, “se solidificou”, tendo perdido sua qualidade fluida pre Sederte, tornando-se para nés uma mera concatenagao de se Gbes quanttativas, de objets suits a “eis cietiicas”. Em senseaiiéneia disso, tanto a religdo como a magia tornarame-se SQrualmente inconcebiveis para o homem moderno: ele per Yeu a capacidade de pensar em termos simbélicas, de compreet™ dle de reancira analogica razio pela qual vé os Deuses tal como ts gregos ulteriores parcoem tlos visto — como personages sents tinmanas, quase histérieas. Todavia, essa percepslo ¢ ex setmramente errada, como Veremos, jf que no kgito, bem come ie toda cultura tradicional, os Deuses eram reconhecidos co- tno pertinentes a0 rcino principal; sua ordem era fluids, € nio faa variando a percepglo que cada pessoa tinha deles de acor- tio com o reino particular a que se dirigia, aquele reino de que a pessoa tinha experiéncia. “Se Deuses, portanto, no cram meros atores externos de uum drama da historia — como, digamos, se poderia supor com base nas obras de Homero —, mas sim as Esséncias principals de que o mundo temporal & um reflexo; fo, a um s6 tempo,

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