INTERNATIONAL NURSING CONGRESS 1

Theme: Good practices of nursing representations

In the construction of society
May 9-12, 2017

A visita domiciliar como ferramenta para acompanhamento de amputação de pé

diabético: um relato de experiência

Jucielma de Jesus Dias (Mestre em Saúde Coletiva, Docente do curso de Enfermagem da

Universidade Tiradentes), e-mail: jucielma.jd@hotmail.com.
Fábia Luanna Leite Siqueira Mendes Santos (Mestranda em Enfermagem, Docente do curso de
Enfermagem da Universidade Tiradentes), e-mail: fabia_luana@hotmail.com;
Fernanda Kelly Fraga Oliveira (Mestranda em Saúde e Ambiente-PSA, Docente do curso de
Enfermagem da Universidade Tiradentes), e-mail: fernandadaponte@hotmail.com;
Cristiane Franca Lisboa Gois ( Doutora em Enfermagem, Professora Assistente I da Universidade
Federal de Sergipe), e-mail:cristianeflg@hotmail.com;
Maria Paula Reis Futuro (Mestranda Saúde e Ambiente, Docente do curso de Enfermagem da
Universidade Tiradentes), e-mail: paulinha.futuro@hotmail.com.

Linha Assistencial 02 – Modelos e impactos do cuidado de enfermagem nas condições de saúde da

população. Sublinha de pesquisa: Impacto do cuidado de enfermagem ambulatorial, domiciliar e na
Estratégia de Saúde da Família frente às condições de saúde da população.

INTRODUÇÃO adoção de medidas relativamente simples de

O Estágio Curricular Supervisionado (ECS) é
um componente fundamental em cursos do
ensino superior, segundo as leis que regem este
país (BORSSOI, 2012). As experiências
vivenciadas no estágio curricular permitem
promover o ensino-aprendizagem, destacando
neste caso as desenvolvidas na Atenção Primária
à Saúde (APS), como a visita domiciliar
(OLIVEIRA; PEREIRA, 2013).
A visita domiciliar é uma atividade inerente aos
profissionais das equipes da APS e abrange
inúmeros objetivos, desde prestar assistência à
pessoa no domicílio, identificar fatores de risco
(individuais e familiares) e verificar a rede de
apoio familiar existente. A atenção domiciliar a
pessoas com pé diabético implica no
desenvolvimento de atenção integral a todos os
fatores que influenciam na recuperação da
complicação em questão (CAIAFA; CASTRO,
2011; CUNHA; GAMA, 2012).
O pé diabético é a expressão empregada para
designar alterações e complicações que podem
ocorrer, isolada ou conjuntamente, nos membros
inferiores de pessoas com DM. A crescente
necessidade de prevenção e controle de tais
complicações implica em um bom controle da
doença e assistência vigilante preventiva, com
cuidados pelas pessoas acometidas, além da
avaliação de risco regular por profissionais
habilitados (CAIAFA; CASTRO, 2011; CUNHA;
GAMA, 2012).
As complicações crônicas que podem cursar
com o avançar do DM, a exemplo da vasculopatia
e/ou insuficiência vascular periférica, causam
disfunções que aumentam as chances de
infecção de lesões e, por consequência,
amputação do pé diabético. No Brasil,
aproximadamente 85% das amputações em
pessoas com DM ocorrem em membros inferiores
e podem ser evitadas a partir do controle
glicêmico, detecção precoce de lesões,
atendimento especializado pela rede
secundária/terciária, quando necessário, e
medidas gerais de prevenção e vinculação das
pessoas com DM (DIAS; MACIEL, 2013).
OBJETIVOS
Descrever a experiência da visita domiciliar
para troca de curativo de amputação de
pododáctilos de pé diabético; demonstrar a
relevância da assistência de enfermagem
rigorosa para um bom prognóstico da lesão e
criação de vínculo.
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MATERIAL E MÉTODOS
Tipo de estudo
Trata-se de um relato de experiência acerca de
visita domiciliar realizada diariamente para
avaliação de ferida proveniente de amputação
dos quatro pododáctilos em pé diabético e troca
de cobertura oclusiva, primária e secundária, com
papaína a 5%.
Local da pesquisa
A vivência ocorreu em um bairro do município
de Aracaju/SE, localizado na terceira região de
saúde e adscrito à Unidade de Saúde da Família
(USF) Dr. Hugo Gurgel. As visitas domiciliares
ocorreram durante o Estágio Curricular
Supervisionado II (ECS II) da Universidade
Tiradentes (UNIT) alocado na grade curricular do
décimo período do curso de Enfermagem
Bacharelado, no turno vespertino, de segunda à
sexta, no semestre letivo 2016.1.
Participantes da pesquisa
Participaram desta experiência uma idosa, que
recebia cuidados diretos na visita domiciliar, um
familiar de primeiro grau, acadêmicas de
enfermagem que realizaram ações de educação
em saúde, prevenção de novas feridas, troca de
cobertura oclusiva e promoção da independência
do binômio usuária/familiar, sob supervisão e
orientação de uma profissional enfermeira,
professora da Instituição de Ensino Superior (IES)
supracitada.
Procedimento de coleta de dados
Utilizou-se da observação participante e
educação em saúde durante os encontros diários
que duravam, em média, 30 minutos. Utilizou-se,
ainda, da revisão de prontuário para obtenção de
informações relevantes sobre a usuária além do
registro fotográfico e da evolução de enfermagem
diária da visita domiciliar e procedimentos
realizados.
Análise de dados
2
As observações e dados produzidos foram
sistematizados e analisados em duas categorias:
“Assistência de enfermagem ao indivíduo com pé
diabético amputado e suas questões/” e A visita
domiciliar como estratégia de vínculo e
integralidade“. O levantamento literário para
fundamentação da pesquisa foi realizado nos
meses de abril a junho de 2016, através dos
seguintes bancos de dados: LILACS ( Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da
Saúde) , Scielo (Scientific Electronic Library
Online), utilizando-se dos descritores: Visita
domiciliar, Pé diabético, Amputação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Assistência de enfermagem ao indivíduo com
pé diabético amputado e suas questões
Idosa de 72 anos, diagnosticada com DM tipo 2
há 15 anos, viúva, residia sozinha em seu
domicílio em um município do interior do estado
de Sergipe. Relatou que inicialmente apresentou
micose interdigital em pododáctilos do pé direito,
realizando tratamento com ervas, sem avaliação
e orientação de profissional habilitado. Após duas
semanas notou cheiro desagradável e buscou
atendimento na Unidade de Saúde da Família do
município. Após diagnóstico de necrose de
pododáctilos, a usuária foi encaminhada para
hospital de referência na capital do estado para
avaliação da necessidade de amputação.
A representação social dos pés para os sujeitos
está aportada em uma relação de independência,
autonomia e segurança do corpo, fundamentais
para locomoção. O pé saudável expressa o
pensamento social da sua função natural do
caminhar e o rompimento dessa condição
benigna produz estigmas relacionados ao DM que
enquadram o comportamento dos sujeitos devido
ao choque do padrão estético social causado
pelas deformações e lesões (COELHO; SILVA;
PADILHA, 2009).
Como um dos tratamentos farmacológicos para
a lesão, a papaína a 5% foi prescrita por médico
da referência de alta complexidade, o qual
acompanhou a evolução do caso em consultas
mensais, aliada ao controle glicêmico,
alimentação balanceada e uso de
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hipoglicemiantes orais (metformina 850 mg e
glibenclamida 5mg), para o sucesso da
cicatrização da ferida pós-amputação. Os
curativos com soluções de papaína foram
realizados uma vez ao dia, no início das
atividades do estágio à tarde, na maioria dos
encontros, e final do período de estágio da
manhã, quando necessário. Rotineiramente foi
realizada limpeza prévia da lesão com soro
fisiológico a 0,9%, em jato; aplicação de gaze
estéril embebida na solução de papaína sobre a
lesão; fechamento do curativo envolto em atadura
e fixado com esparadrapo para evitar a exposição
da papaína ao ar e a luz (prevenindo
queimaduras e neutralização da enzima).
A papaína, uma enzima extraída do látex do
mamão Carica papaya, vem sendo amplamente
utilizada no auxílio de processos cicatriciais em
virtude de aceleração do crescimento de tecido
de granulação e reepitelização, ação proteolítica,
bactericida e bacteriostática em tecidos
desvitalizados e infectados7. Estudo de caso
realizado com cinco pacientes em uso de papaína
em curativos diários de úlceras de diferentes
etiologias demonstrou que, em todos os casos,
houve redução considerável das características
iniciais das lesões e formação profusa de tecido
de granulação após, em média, dezesseis dias do
início do uso (CARVALHO et al., 2010; BRITO
JÚNIOR; FERREIRA, 2015) .
No caso em questão o hálux do pé esquerdo
apresentava uma fissura de +/- 1cm e
onicomicose. No planejamento da assistência,
além do cuidado com a lesão, foi realizada a
educação em saúde insistente acerca da
importância de tratar e prevenir nova amputação
no membro inferior esquerdo. Os familiares eram
sempre convidados a observar a troca de curativo
e a prática de educação em saúde, esclarecendo
dúvidas e mitos.
A educação terapêutica capacita os pacientes e
o núcleo de apoio familiar no tratamento e
controle da patologia instalada e prevenção de
possíveis complicações através da sensibilização
para tomada de novas decisões e medidas
preventivas. É condição sine qua non incluir os
familiares e/ou terceiros nas práticas educativas
visto que muitas pessoas com DM necessitam da
ajuda destes indivíduos para os cuidados diários,
o que, consequentemente, produz impacto
3
positivo na vida do portador de DM ( SANTOS et
al., 2013).
A visita domiciliar como estratégia de vínculo
e integralidade
A visita domiciliar propõe-se a acolher as
diferentes necessidades de saúde, desde as
condições de infraestrutura, como habitação,
higiene e saneamento, ao atendimento à saúde
das famílias, permitindo uma maior aproximação
com os determinantes do processo saúde-
doença. Sendo assim, é um instrumento laboral
de enfermeiros e Agentes Comunitários de Saúde
(ACS), realizada de forma sistematizada a partir
do planejamento, execução, registro e avaliação
(KLEBIAN; ACIOLI, 2014).
Considera-se que a experiência apresenta
algumas limitações quanto ao seu
desdobramento, pois não foi possível
acompanhar a cicatrização total da ferida devido
às férias escolares bem como avaliar a
sensibilização permanente da usuária e da família
acerca dos cuidados necessários com os pés. No
entanto, o vínculo criado com a família contribuiu
para a solução ensejada: cicatrização com boa
epitelização em dois meses de acompanhamento,
uma involução do processo traumático inicial de
+/- 8 cm para +/- 3,5 cm, em média, adaptação de
calçado para a retomada da vida e cuidados com
o pé esquerdo, prevenindo amputação futura.
CONCLUSÕES
Os eixos de promoção da saúde e prevenção
de agravos e doenças da Atenção Primária à
Saúde são praticados em visitas domiciliares
planejadas, que levam em consideração as
necessidades socioeconômicas e psicossociais
dos indivíduos e dos equipamentos familiares
envolvidos. A amputação decorrente de pé
diabético produz uma ferida cirúrgica complexa, e
sua prevenção pode acontecer na APS através
de medidas simples e educativas a fim de evitar
novos desfechos lesivos. A experiência do vínculo
diário, da assistência de enfermagem holística a
uma paciente em situação de vulnerabilidade e a
sensibilização da mesma sobre a necessidade
dos cuidados necessários para sua vida nova,
sem dúvidas, foi enriquecedora e inesquecível
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para os acadêmicos que muito mais que

aprimorar técnicas e consolidar conhecimentos,
aprenderam sobre o ser social indispensável que
é o enfermeiro na APS.

Palavras-chave: Visita domiciliar, pé diabético,

amputação.

REFERÊNCIAS

BORSSOI, B.L. O estágio curricular supervisionado como

potencializador da formação do sujeito político. IX ANPED SUL.
Seminário de Pesquisa em Educação da Região Sul. 2012.

BRITO JÚNIOR, L.C.; FERREIRA, P.L. Cicatrização de feridas

contaminadas ratadas com papaína. Medicina (Ribeirão Preto).
vol.48, num. 2, pag. 168-174. 2015.

CAIAFA, J.S.; CASTRO, A.A.; FIDELIS, C.; SANTOS, V.P.; SILVA,

E.S.; SITRÂNGULO JR., C.J. Atenção integral ao portador de Pé
Diabético. J Vasc Bras, Vol. 10, Num. 4, Suplemento 2, 2011.

CARVALHO, F.I.C.; SILVA.J.P.N.; BITTENCOURT, M.C.; BRITO

JÚNIOR, L.C. Uso de papaína no tratamento de lesões ulcerativas
de pacientes portadores de pé diabético: relato de cinco casos.
Revista Paraense de Medicina, vol. 24, num. 2, 2010.

COELHO, M.S.; SILVA, D.M.G.V.; PADILHA, M.I.S.

Representações sociais do pé diabético para pessoas com
diabetes mellitus tipo 2. Rev. Esc. Enferm. USP. Vol.43, num.1,
pag.65-71. 2009.

CUNHA, C.L.F.; GAMA, M.E.A. A visita domiciliar no âmbito da

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(organizador). Assistência Domiciliar – Atualidades da
Assistência de Enfermagem. Rio de Janeiro: Rubio, 2012. 336
pp.

DIAS, R.S.P.; MACIEL, M.T.C.B. Caminho percorrido por pessoas

amputadas por diabético infectado em um hospital público.
Revista Baiana de Saúde Pública, vol. 37, num.(4, pag.800-819.
2013.

KLEBIAN, L.V.A; ACIOLI, S. A visita domiciliar de enfermeiros e

agentes comunitários de saúde da Estratégia Saúde da Família.
Rev. Eletr. Enf. [Internet]. Vol.16, num.1, pag.161-169, 2014.

OLIVEIRA, M.A.C.; PEREIRA, I.C. Atributos essenciais da

Atenção Primária e a Estratégia Saúde da Família. Rev Bras
Enferm. Vol.66.(esp), pag. 158-64, 2013.

SANTOS, I.C.R. V.; NUNES, E.N.S.; MELO, C.A.; FARIAS, D.G.

Amputações por pé diabético e fatores sociais: implicações para
cuidados preventivos de enfermagem. Rev Rene, Fortaleza,
vol.12, num.4, pag. 684-91. 2011.