Há meses vem sendo destaque a questão da espionagem da NSA e a resposta conjunta do
Brasil e Alemanha na ONU, os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade para elucidar crimes cometidos na época da ditadura, os acordos entre Brasil, Argentina e Paraguai sobre troca de informações classificadas para esclarecer violações de Direitos Humanos. Nós completaremos 25 anos de regime constitucional, recém. Temos ainda um sistema policial com uma excessiva liberdade para agir com violência contra os cidadãos (e a postura de ataque aos manifestantes em São Paulo, especialmente, mostra isso, pra não falar nas execuções policiais, que são uma vergonha diária). Temos um sistema político cuja forma de financiamento alimenta a corrupção, poderes de Estado controlados por alguns grupos de pressão. Mas democracia é um processo que se constrói, não existe fórmula pronta. Quando um país opta por se considerar uma democracia, ele ainda tem um longo caminho para efetivamente viver num Estado Democrático de Direito. Nenhum Estado vive sem que determinada esfera de segredo exista. Evidente que a segurança externa de um país depende de forças armadas, de estratégias e determinadas informações que terão que ser guardadas sob sigilo. No campo da segurança pública/interna e a prevenção ou a busca de alguém que já tenha cometido um crime, também haverão movimentos da máquina do Estado que ocorrerão em segredo. No entanto, parece evidente que quanto mais o Estado tem poder ilimitado para agir, mais distante estaremos de uma plenitude democrática. É fundamental, portanto, que se saiba em que situações o sigilo é permitido, em que situações (e de que forma) um cidadão pode ter sua liberdade vigiada e, aquilo de que se fala pouco: o que o Estado deve fazer com essa informação sigilosa. O tamanho da esfera de invasão do Estado sobre a liberdade individual (e a forma como é regulamentada, também) determina o quanto um país é mais ou menos democrático. E aí voltamos aos dias atuais: essa consciência que, aos poucos, vai se consolidando no inconsciente coletivo de que eu, como cidadão, tenho o direito de ter acesso a cada documento que forma, por exemplo, um preço público, é um passo fundamental para, primeiro, garantir que esse preço seja reduzido ao mínimo necessário. Mas para além disso, quanto maior a transparência, menor o espaço para a corrupção, para os absurdos balanços em que empresas detentoras de monopólios operem com balanços que fecham com prejuízo. Como que, em sã consciência, podemos acreditar que uma empresa de ônibus opera em prejuízo? Com a prevalência da transparência, passaremos cada vez mais a saber o caminho da formação do preço, num primeiro momento. Depois, poderemos sugerir alterações no sistema. Num momento posterior, nos questionaremos porque razão não se realizam licitações para tais concessões. Tudo isso é uma caminhada. E o caminho de trazer os segredos para conhecimento público não tem volta. Viva a democracia!
A atividade de Inteligência, em face de sua construção histórica e pelas suas características,
ainda é cercada de certos mistérios. Contemporaneamente, o estado democrático de direito determina que suas estruturas realizem ações transparentes e baseadas na lei, abrangendo, inclusive, as de Inteligência. Assim, o controle das atividades de Inteligência faz parte da agenda de discussões políticas dos estados.
FRANCO, Fernanda. Oportunidades e Desafios Das TWAIL No Contexto Latino-Americano A Partir de Perspectivas Dos Povos Indígenas Ao Direito Internacional PDF