Documentos de Académico
Documentos de Profesional
Documentos de Cultura
Definição: Máquinas de fluido são máquinas que trabalham com a transformação da energia
de um fluido qualquer, líquido ou gasoso, em trabalho mecânico ou vice-versa.
As máquinas de fluido podem ser divididas em dois tipos básicos:
Diagonais: São aquelas máquinas onde a trajetória da "partícula" está em um meio termo
entre axial e radial.
2
Tangenciais: São aquelas em que a água é lançada sob a forma de jato sobre um número
limitado de pás do rotor.
Máquinas de Ação: São aquelas onde a pressão do fluido à entrada e à saída do rotor são
iguais, dado que toda a transformação de energia potencial em energia cinética já ocorreu
dentro do bico injetor. Resta ao rotor transformar a energia cinética em trabalho.
A transição das rodas d’água para turbinas foi muito lenta e dispersa pelo mundo.
A primeira tentativa de definir bases teóricas para a construção de rodas d’água ocorreu no
início do século XVIII, quando o inglês John Smeaton, Engenheiro Civil, conseguiu provar que a roda
“overshot” possuía maior eficiência.
Em contrapartida, o Engenheiro Militar francês Jean Victor Poncelet projetou e construiu uma
roda vertical “undershot” de pás curvas, a qual atingiu uma eficiência de 70%.
Leonard Euler, que construiu uma roda de reação com distribuidor fixo, a verdadeira
precursora das turbinas, publicou em 1751 publicou seu primeiro trabalho sobre o assunto (turbinas)
e estabeleceu em 1754 a equação que leva seu nome, e que ainda hoje é base para a compreensão
do funcionamento das máquinas de reação.
Com o Engenheiro Militar francês, Claude Burdin, surgiu o termo “turbina”, como parte de
uma discussão teórica na qual ele aumenta a velocidade de rotação das máquinas, e que
posteriormente, em 1924, é publicada com o nome: “Das turbinas hidráulicas ou máquinas rotativas
de grande velocidade”.
Em 1827, um de seus discípulos na “École des Mines” de Saint Étienne, Benoit Fourneyron,
projetou e construiu rodas que atingiam que atingiam velocidades de 60 rpm e forneciam cerca de 50
HP. As últimas máquinas construídas por ele giravam a cerca de 2600 rpm, fornecendo uma potência
de 60 HP e uma eficiência de mais de 80%. As máquinas de Fourneyron eram turbinas centrífugas de
ação total.
Em 1840, a firma Escher Wyss, da Suíça, construiu turbinas tangenciais centrípetas
idealizadas por Zuppinger.
Em 1843 surgiram as turbinas de axiais com tubo de sucção do tipo Jonval.
Em 1847 nos Estados Unidos, o engenheiro inglês James Bicheno Francis criou uma turbina
centrípeta de reação, a fim de aproveitar a energia proveniente dos desníveis do rio à margem do
4
qual trabalhava. Na realidade, esta máquina já havia sido patenteada por Samuel Dowd em 1838,
porém Francis introduziu tantos aperfeiçoamentos nesta máquina, que ela mereceu receber seu
nome.
O formato do rotor das turbinas Francis foi evoluindo à medida que se procurava aumentar a
sua faixa de velocidades e de alturas de queda. Em 1855, Swain propôs um rotor no qual ocorria um
desvio progressivo da água, da direção radial para axial, surgindo assim as chamadas “máquinas
Francis normais”.
Em 1917 surgiram as chamadas “máquinas Francis rápidas e extra-rápidas”, que na
realidade, são evoluções dos rotores Swain e McCormick de 1876.
A necessidade de turbinas que atingissem grandes velocidades com baixas quedas e grandes
vazões, o que não é possível com as turbinas Francis, provocou o surgimento das turbinas Hélices ou
“Propeller” em 1908. Nestas máquinas, como o próprio nome diz, o rotor tem a forma de um hélice de
navio.
Em 1912, o engenheiro austríaco Victor Kaplan concebeu uma turbina hélice axial onde era
possível a orientação das pás de hélice, visando manter a eficiência da máquina constante mesmo
com variações na altura de queda e na vazão. Esta máquina foi totalmente terminada e patenteada
em 1920.
As turbinas Kaplan eram tradicionalmente máquinas de eixo vertical, sendo que a primeira
máquina com eixo horizontal surgiu em 1961, no Golfo de Saint Malo, na França.
Voltando um pouco no tempo, mais precisamente à 1850, encontramos as turbinas
tangenciais do tipo “hurdy-gurdy”, que não passavam muito de rodas d’água horizontais de pás
planas acionadas por um jato de água tangencial.
Por volta de 1870, experimentou-se substituir as pás planas desta roda por pás curvas,
parecidas com às das rodas “overshot”.
Em 1880, Lester Allen Pelton, um engenheiro mecânico norte-americano adicionou às pás
curvas uma pequena “crista” na sua linha média, a qual divide o jato de água incidente e aumenta o
rendimento da máquina.
Fig. 1.3.3 Patente original, datada de 1889, da turbina projetada por Lester Allen Pelton.
(Brown, J.Guthrie / Hydro-Electric Engineering... / pp.29)
Para se ter uma idéia desta evolução, em 1883, a Universidade da Califórnia testou estes
três tipos de rodas sob um jato d’água de mesmas características, obtendo os seguintes resultados:
enquanto a máquina do tipo “hurdy-gurdy” atingia um rendimento máximo de aproximadamente 40%,
e a máquina com pá curva simples chegava a 66%, a máquina com pá curva e crista na linha média
(patenteada como máquina Pelton) atingia cerca de 83% de rendimento.
5
Fig. 1.4.1 Convenção de representação para turbinas (E) e bombas (D), no plano longitudinal .
(figura 1.5 Zulcy)
Juntas de vedação e gaxetas: São responsáveis pela vedação entre as partes móveis e
fixas. Em bombas d'água, um pequeno vazamento é permitido para a refrigeração da gaxeta
e do eixo.
Rotor: É composto de três partes básicas: O cubo, a coroa e as pás. O rotor é responsável
pela transformação de energia.
Em máquinas motrizes (turbinas), transforma a energia potencial, ou de pressão, em energia
cinética sobre a pá do rotor, e em seguida transforma esta energia cinética em trabalho.
Em máquinas geradoras (bombas), o trabalho é transformado em energia cinética sobre a pá,
e que em seguida é convertida em energia potencial.
Fig. 1.5.2 Rotor de uma das quatro turbinas Pelton da Usina Hidrelétrica Governador Parigot de Souza.
(foto João Carlos Dias Jr.)
8
O estudo da corrente nas arestas de entrada e saída das pás é de extrema importância no
cálculo das máquinas de fluxo. Para simplificar este estudo, convenciona-se uma correspondência
entre algarismos e pontos da máquina no sentido da corrente. Assim, a figura dos itens 1.4.1 e 1.4.2
mostra pontos importantes para turbinas de 1 a 8, e para bombas também de 1 a 8, porém com fluxo
em outro sentido. Como o interesse maior está no rotor da máquina de fluxo, usa-se os mesmos
algarismos para máquinas motoras e geradoras, no que se refere a aresta de entrada e saída da pá.
Um ponto situado um pouco antes da entrada da pá do rotor é chamado de ponto 3, e o ponto logo a
seguir de 4. Para a aresta de saída respectivamente de 5 e 6. A trajetória através de um rotor é
percebida de forma diferente, dependendo da posição em que o observador se localize. Para um
observador movendo-se com o rotor a trajetória de uma partícula acompanha o perfil da pá, como se
o rotor estivesse em repouso, resultando assim a trajetória relativa da partícula. Para um observador
fora do rotor a trajetória da partícula resulta da composição de dois movimentos, um de translação
dentro dos canais do rotor e outro de rotação do rotor.
triângulo de velocidades pode ser deslocado livremente, no sentido tangencial sem sofrer qualquer
deformação. Tal hipótese implica na máquina possuir um número infinito de pás. Considerando-se
inicialmente um número infinito de pás do rotor, infinitamente finas pode-se entender as linhas de
correntes congruentes com as pás e o fluxo como sendo unidimensional. Desta maneira, o triângulo
de velocidades é válido para todos os pontos localizados no mesmo raio. Apenas os triângulos de
velocidade na entrada e na saída definem o comportamento da linha de corrente, conforme figura
1.6.2. Entre essas duas seções o fluxo deverá produzir o mínimo de perdas com a adoção de perfis
de pás mais adequados.
Fig. 1.6.2 Corte transversal de um rotor mostrando os triangulos de velocidade na entrada e na saída.
Para superfícies axiais é a superfície ou área da coroa limitada pelos diâmetros De e Di,
respectivamente diâmetro externo e interno da coroa, como a seguir:
u=xDxn
11
fe = (t – et)/t
t = ( x D)/z
tg = cm/cu
Como a velocidade meridiana está contida no plano meridiano ela é normal as seções de
entrada e saída do rotor.
Em certos casos onde se conhece a espessura das pás a vazão é determinada pelo produto
da velocidade meridiana pela área livre do fluxo, para rotores radiais:
Q = ( x D x b – Z x b x fe) x cm
Sendo que:
Z = número de pás;
( x D x b) = área sem considerar as espessuras das pás;
(Z x b x fe) = área correspondente as espessuras das pás.
C5
C4 W4 Cm5 W5
Cm4
4 4 5 5
U4 U5
U4 U5
4 4 5 5
Cm4
C4 W4 Cm5
C5 W5
1.6.2. Particularidades:
W4
Cm4 =C4
4=90°
U4
Fig. 1.6.3. Triangulo de velocidade para máquinas geradoras / Condição aconselhável de entrada.
U5
5=90°
Cm5 =C5
W5
Fig. 1.6.3. Triangulos de velocidades para máquinas motoras / Condição aconselhável de saída.
Genericamente é recomendável considerar-se sempre que possível cm4 = cm5. Porém deve-
se ter o devido cuidado e verificar se o triângulo de velocidades não está amarrado geometricamente
e desta forma não considerar as velocidades meridionais iguais na entrada e saída e assim, violar
conceitos trigonométricos.
1.7.1. Introdução
Os tubos de sucção são geralmente utilizados tanto para turbinas como para bombas. Para
as bombas este tubo não é parte integrante da turbomáquina, servindo apenas para conduzir a água
do reservatório até a bomba. Nas turbinas, o tubo de sucção conduz a água, após o aproveitamento
13
da energia pelo rotor, até o canal de fuga. Tem também, nas turbinas, a finalidade adicional de
converter a velocidade de saída do fluxo do rotor em pressão, para reduzir as perdas de saída. Essa
energia é da ordem de 1 a 2% da queda para turbinas de ação que não utilizam tubos de sucção
(Pelton). Já para as turbinas de reação (Francis e Kaplan) a energia residual é maior, podendo
ultrapassar 50% da queda.
NJ=NR
8
Canal de Fuga
pe p7
Y
Conforme a figura 1.7.1 a água sai da turbina de uma altura Z7 fluindo para o canal de fuga,
com um fluxo uniforme acelerado da velocidade V7 para a velocidade V8.
Aplicando Bernoulli entre a saída da turbina e o nível de jusante e considerando p7/ e p8/
iguais a zero (pressões relativas) e Z8=0, obtemos:
V7 2 V82
Z7 . g
2 2
Esta igualdade representa fisicamente que a energia residual Y7 foi integralmente
transformada em energia cinética V82/2 na superfície livre do canal de fuga, sendo neste caso
inteiramente perdida a energia residual.
Considerando a equação de Bernoulli para a entrada e a saída da turbina, e a altura de
pressão na saída p7 / igual a zero, concluímos que o aproveitamento da energia pela turbina recai
somente sobre a altura de pressão na entrada:
pe
Y
Vamos supor uma turbina posicionada acima do nível de jusante com um tubo cilíndrico
instalado na saída de máquina, conforme figura abaixo:
NJ=NR
8
Canal de Fuga
Neste caso, a água escoa com uma velocidade constante entre 7 e 8 e considerando que
p8/ e Z8.g são iguais a zero, resulta no balanço de energias:
p7
Z7 . g ys
Assim, a energia de pressão p7/ na saída da turbina (rotor) torna-se negativa (depressão).
Se a saída do tubo cilíndrico não estiver mergulhada dentro da água (o fluxo escoará em queda livre)
no momento em que o nível de jusante subir mergulhando o tubo dentro da água, a depressão "-Z7.g"
provocará uma aspiração, forçando o fluxo a escoar a plena seção. Se a energia Z7.g for maior que a
energia barométrica local yb, a água subirá até a altura correspondente a pressão barométrica, e no
espaço entre Z7.g e yb reinará a pressão absoluta igual a zero (vácuo).
15
Como o fenômeno de cavitação é provocado por pressões muito baixas, deve-se tomar o
cuidado para que Z7.g seja menor que yb.
Portanto, com o tubo cilíndrico obteve-se "-Z7.g" e considerando novamente Bernoulli na
entrada e na saída, o aproveitamento total da energia pela turbina é:
pe
Y Z7 . g
Comparando com o escapamento livre, o ganho foi correspondente a altura Z7.g recuperada
pelo aspirador.
O tubo de sucção se alarga para baixo, de maneira que o retardamento do fluxo cause uma
redução de pressão após o rotor, e, com isto, aumente a diferença de pressão útil da máquina.
Neste caso o tubo instalado na saída da turbina é cônico, cuja seção aumenta gradualmente
no sentido do fluxo, conforme figura 1.7.3. Com vazão constante, o movimento é desacelerado,
chegando a superfície do canal de fuga uma parcela menor da energia cinética.
NJ=NR
8
Canal de Fuga
Aplicando Bernoulli, e observando na figura 1.7.3 que p8/ e Z8.g são iguais a zero, resulta:
p7 V72 V82
Z 7 . g
2
pe V72 V82
Y Z .g
7 2
Assim, a recuperação de energia residual não recai somente sobre a altura de pressão Z7.g,
mas também sobre a diferença das energias cinéticas.
O aproveitamento não é total porque a velocidade V8 fisicamente não poderá ser nula; por
outro lado não foi considerado o atrito.
16
Algumas condições que devem ser obedecidas para que o tubo de sucção reto cumpra com
a sua finalidade de recuperar parte da energia residual na saída da turbina, são:
O ângulo central "" do tubo deve ser adotado entre os limites de 6o a 9o, e para alguns
autores até o limite máximo de 12o. Esse ângulo serve para evitar o descolamento da
camada limite;
O afogamento mínimo do tubo de 50 cm. Com isso, cria-se um selo hidráulico que garante
a depressão;
A distância da seção final do tubo até o fundo do canal de fuga de no mínimo igual a DS.
Evita-se, assim, a perda do choque do fluxo com o fundo do canal de fuga.
Ds D7
L . cot g
2 2
A partir dos dados da tabela abaixo, obtém-se outros parâmetros para o dimensionamento de
tubos de sucção curvos.
Kaplan Francis
CS 0,128 a 0,192.(Y)1/2 0,064.(Y)1/2
T 1,8 a 2,4.D7 2,33.D7
h 1,0 a 1,3.D7 1,2.D7
L 5,0 a 4,0.D7 1,2.D7
b 3,5 a 2,7.D7 2,7.D7
tmín 0,5 a 0,7.D7 -
17
Nos rotores rápidos, onde o ganho de energia é particularmente apreciável, mas a altura de
sucção é usualmente pequena, é necessário apelar-se para uma extensão horizontal do tubo de
sucção, cuja parte vertical tem um comprimento limitado, de maneira a não se ultrapassar o ângulo
de alargamento máximo permissível.
Partindo-se da transformação de energia em um tubo de sucção reto, concluiu-se que a
maior parte da energia cinética V72/2 era convertida em energia de pressão no início do tubo. Esta
constatação propiciou o desenvolvimento de um tubo, cuja transformação de velocidade em pressão
ocorre de forma uniforme ao longo do tubo. Essa nova forma e a necessidade de instalarmos tubo de
sucção em pequenas alturas Z7.g, Kaplan desenvolveu o tubo de sucção curvo. Este tubo apresentou
uma grande vantagem, além da mínima superfície de contorno evitar a ruptura da corrente central.
Este tipo de tubo é utilizado em situação de pequena altura Z7.g e na totalidade dos casos em que a
turbina deva ser instalada afogada.
Cs
Cs
Cs
1.7.4. Dimensionamento
0,6m Cs=0,064.Y1/2
Q=Cs.A
AS=.(Ds)2/4
( DS D7 )
L .cot g
2 2
3m
NJ
Solução:
Por substituição direta, temos CS=2 m/s.
1,8m Através das fórmulas para a vazão e a área da
seção de saída do tubo, temos DS=0,8 m.
Como o tubo deve estar pelo menos 50 cm
afogado, tem-se que L=3-1,8+0,5=1,7 m.
19
BROWN, J.GUTHRIE - Hydro-Electric Engineering Pratice - Volume II, Blackie & Son Limited,
London, Second Edition, 1970.
DUBBEL - Manual do Engenheiro Mecânico – Volume V, Hemus Editora Ltda., São Paulo, SP,
Décima Terceira Edição, 1979