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regulamentação
1 Introdução
Em sintonia com as definições acima, estudo preparado pelo Banco Mundial em 2013,
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intitulado Crowdfunding’s Potential for the Developing World , assim conceituou o
crowdfunding:
A fim de ilustrar o potencial de crescimento desse mercado, vale frisar que o mesmo
estudo realizado pelo Banco Mundial estimou que, observadas determinadas premissas e
a existência de regulamentação que suporte corretamente essa modalidade de
financiamento, o valor total estimado do mercado de crowdfunding para o ano de 2025 é
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de 96 bilhões de dólares, somente nos países em desenvolvimento.
Ocorre que tal atividade encontrava implicações regulatórias, pois, tendo em vista a
definição de atos de distribuição pública constante do art. 3º da Instrução CVM 400, de
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29 de dezembro de 2003 (Instrução CVM 400) , fica claro que a empresa captadora e a
plataforma intermediária, ao fazerem uso de tal financiamento participativo de
investimento, estariam realizando uma oferta pública de ativos financeiros, o que
dependeria de prévio registro na CVM (ou de dispensa de registro). Como veremos mais
adiante, não havia base regulamentar que suportasse corretamente o crowdfunding,
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Equity crowdfunding: regime jurídico e sua nova
regulamentação
uma vez que as regras constantes da referida instrução não haviam sido desenhadas
para uma oferta pública que fosse realizada quase que exclusivamente na internet, com
a intermediação de uma plataforma eletrônica.
É nesse contexto que se insere a recente Instrução CVM 588, de 13 de julho de 2017
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(Instrução CVM 588) , que disciplinou, dentro do mercado de capitais nacional, a figura
do equity crowdfunding, solucionando a supracitada questão regulatória, ao criar os
parâmetros normativos para a realização da oferta pública de distribuição de valores
mobiliários de emissão de sociedades empresárias de pequeno porte, com a dispensa de
registro, por meio de plataforma eletrônica de investimento participativo, a qual será o
principal objeto deste estudo.
2 Modalidades de crowdfunding e direito comparado
Um dos primeiros países a definitivamente tratar da matéria por meio de lei foi a Itália,
ao publicar, em 2012, o decreto Crescita bis ou 2.0., e, em 2013, o Regolamento sulla
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raccolta di capitali di rischio da parte di start-up innovative tramite portali on-line.
Seguiram o exemplo italiano países como Portugal, com a Lei 102, de 24 de agosto de
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2015 , Estados Unidos da América, com a redação dada ao Título III do Jumpstart Our
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Business Startups (JOBS) Act (especificamente sobre equity crowdfunding) , Alemanha,
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com a KASG, em 2015 , e Espanha, com a Ley 5/2015, de 27 de abril de 2015 , que
tratou, em seu Título V, do Régimen jurídico de las plataformas de financiación
participativa.
Cabe ressaltar que tais restrições visam conter os riscos envolvidos nas ofertas de equity
crowdfunding, sobre os quais a CVM, ao analisar o contexto internacional relativo à
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matéria, no Edital de Audiência Pública SDM 06/16, assim se manifestou:
Há nessas diferentes jurisdições, para ofertas que obedeçam aos requisitos aplicáveis ao
equity crowdfunding, inclusive os supracitados limites, a dispensa, conforme o caso, de
pressupostos básicos das ofertas públicas em geral, a saber, do registro de oferta
pública, da elaboração de prospectos e da obrigatoriedade de participação ativa de
outros prestadores de serviços relacionados a uma oferta pública de valores mobiliários,
excetuando, conforme já mencionado, a contratação dos serviços prestados pelo
administrador da plataforma a ser utilizada.
Disso resulta que uma oferta feita pela Internet é sem dúvida uma oferta pública; aliás,
feita por um meio de comunicação muito mais eficiente do que os previstos em 1976,
quando a informática era uma ferramenta para poucos e nem se sonhava com existência
e o alcance social da World Wide Web. Essa é uma das situações em que a CVM tem a
competência para trazer para seu âmbito de atuação a emissão pública ofertada por
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meios eletrônicos, com base no parágrafo 5º, inc. I, do artigo 19.
A falta de regulamentação específica, porém, não deveria fazer com que uma
modalidade de investimento inovadora e internacionalmente aceita, que visa assegurar
aos pequenos empreendedores uma forma mais rápida e célere de capitalizar junto do
público em geral, consolidando-se como interessante alternativa ao sistema financeiro
nacional e ao alto custo de seus financiamentos, fosse inviabilizada, por ter de se
sujeitar às mesmas condições das demais formas de distribuição de valores mobiliários,
que não atendem às necessidades das empresas iniciantes e de pequeno porte, por
serem excessivamente onerosas e complexas. A propósito, o incentivo às startups,
inclusive por meio de ofertas simplificadas, tais como o financiamento participativo, tem
se mostrado importante para o desenvolvimento econômico, pois tais empresas trazem
ideias inovadoras e rentáveis aos sistemas de produção e circulação de bens e serviços
que integram, atuando em benefício do avanço tecnológico e da pesquisa científica nos
países em que são constituídas. Investir em empresas nascentes por meio do
crowdfunding é, portanto, um interessante meio de incentivar a aplicação de poupança
popular em fontes de inovação tecnológica e científica.
investimento.
Ocorre que tal dispensa não atendia aos anseios e às características das empresas
iniciantes e de pequeno porte que precisavam se capitalizar. Isso porque,
primeiramente, o aludido valor máximo anual era considerado pequeno pelo mercado,
tendo em vista, inclusive, a média de capital inicial necessário às atividades das startups
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, que deu base aos limites adotados em outras jurisdições . Além disso, conforme bem
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observou a CVM, no Edital de Audiência Pública SDM 06/16 , que trouxe a público a
proposta de regulamentação e a minuta de instrução sobre o equity crowdfunding, os
conceitos legais de microempresa e de sociedade de pequeno porte não incluem as
sociedades anônimas, as quais figuram como tipo societário que melhor se adequa às
ofertas públicas de valores mobiliários, em que investidores geralmente não se
identificam em razão do affectio societatis, mas pela possível rentabilidade que o
investimento lhe traria, como consequência de sua participação societária, o que gerava
uma incongruência lógica entre a concessão do benefício da dispensa de registro e as
características dos titulares de tal benefício. Em outras palavras, a startup que quisesse
se financiar publicamente deveria ser constituída, por exemplo, na forma de uma
sociedade limitada, cuja estrutura é demasiadamente engessada para os fins
perseguidos por uma empresa nascente, que apresente, por meio da distribuição pública
de seu capital, inúmeros sócios unidos, não pela afinidade que porventura exista entre
eles, mas exclusivamente pela consecução do objeto social e pela perspectiva de lucro
decorrente da atividade empresarial.
Além disso, aquela dispensa não trazia consigo os parâmetros e as regras necessárias
para guiar o mercado de equity crowdfunding de maneira segura. Não havia
contrapartida para a concessão de tal prerrogativa, que pudesse proteger os investidores
de possíveis fraudes, bem como fazer com que eles tivessem ciência dos riscos atinentes
a essa modalidade de investimento, assim como tampouco havia a responsabilização de
um agente que pudesse zelar por tal proteção. A CVM, nesse sentido, assim se
manifestou:
Ademais, sempre preocupou a CVM a possibilidade de tais ofertas serem conduzidas sem
a presença de um gatekeeper autorizado para assegurar que a oferta está sendo
conduzida da maneira apropriada. Prova disso é a inclusão de requisitos adicionais em
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2010.
A CVM, dessa forma, agiu com acerto, diante da competência que lhe foi outorgada pela
Lei 6.385, ao regular as ofertas de equity crowdfunding, estendendo a capacidade de
realização de tal distribuição pública às sociedades por ações e aumentando os limites
para qualificação da oferta e concessão da dispensa de registro, em linha com as
expectavas do mercado e práticas internacionais, além de ter estabelecido regras
uniformes a serem observadas por todos que participarem da oferta, especialmente em
relação às plataformas eletrônicas, a fim de proteger os interesses do mercado e
garantir que os investidores tenham consciência dos riscos envolvidos nesse tipo de
oferta. A própria CVM, no supracitado Edital de Audiência Pública SDM 06/16, também
esclareceu que a autarquia:
Conforme já salientado, o regime jurídico que está por trás do equity crowdfunding é o
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Equity crowdfunding: regime jurídico e sua nova
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aplicável às ofertas públicas de valores mobiliários, nos termos da Lei 6.385. A nova
Instrução CVM 588 excluiu do âmbito da Instrução CVM 400 a regulamentação do
financiamento participativo, criando uma nova estrutura regulamentar para a referida
modalidade de distribuição pública, ao discipliná-la como uma oferta pública de valores
mobiliários de emissão de sociedades empresárias de pequeno porte, sob o regime de
dispensa de registro.
A referida instrução esclarece, no mesmo artigo 2º, mas em seu § 1º, que:
Ademais, a norma deixou claro que tampouco se enquadram nessa modalidade de oferta
os empréstimos realizados mediante plataformas eletrônicas entre pessoas físicas ou
jurídicas, exceto aqueles que advierem da emissão de valores mobiliários, tais como as
debêntures. Assim, enquanto a oferta de crowdfunding de investimento ficou sob a égide
regulamentar da CVM, por se tratar de uma oferta pública de valores mobiliários, as
demais modalidades permaneceram sob o abrigo dos correspondentes institutos gerais
de nosso direito civil, tais como a doação, o mútuo etc.
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Equity crowdfunding: regime jurídico e sua nova
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O recente normativo da CVM define, em seu art. 2º, a sociedade empresária de pequeno
porte como aquela “constituída no Brasil e registrada no registro público competente,
com receita bruta anual de até R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais) apurada no
exercício social encerrado no ano anterior à oferta e que não seja registrada como
emissor de valores mobiliários na CVM”, observado que o referido valor deverá ser
proporcional ao tempo de existência da emissora, caso ela tenha sido constituída há
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menos de um ano.
A nova regulamentação da CVM também traz a definição de plataforma, que consiste na:
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(...) não se admite que a plataforma opere apenas como um mural de anúncios de
ofertas públicas de valores mobiliários (bulletin board), sem maiores responsabilidades
sobre elas e sem o dever de proteger os investidores, impedir fraudes e solicitações de
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investimento indevidas.
Para obter o registro perante a CVM, o requerente deverá ser pessoa jurídica constituída
no Brasil e registrada no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas – CNPJ. Além disso,
deverá apresentar capital social integralizado mínimo de R$ 100.000,00, dispor de
procedimentos e sistemas de tecnologia da informação adequados e passíveis de
verificação para os fins da oferta de crowdfunding, bem como elaborar um código de
conduta aplicável a seus sócios, administradores e funcionários. Além disso, regras de
conduta são impostas às plataformas, nos termos do Capítulo V da Instrução CVM 588,
tais como as obrigações de, entre outras: (i) divulgar equitativamente as informações
relacionadas à oferta a todos os investidores; (ii) tomar todas as cautelas e agir com
elevados padrões de diligência, respondendo pela falta de diligência ou omissão, para
assegurar o cumprimento de todos os requisitos necessários à realização da oferta, nos
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termos do normativo da CVM, inclusive pela emissora e pelos investidores ; (iii)
divulgar possíveis conflitos de interesse; (iv) manter registros acerca da participação de
cada investidor; (iv) verificar as exigências relativas aos investidores, observadas as
regras relativas a cada um deles; (v) supervisionar a atuação dos investidores líderes;
(vi) dispor de organização administrativa e recursos humanos suficientes para a
adequada prestação de seus serviços; (vii) assegurar que as taxas de desempenho que
venham a ser cobradas pela plataforma ou pelo investidor líder sejam calculadas com
base em percentual simples do ganho de capital bruto do investidor; (viii) manter um
fórum eletrônico de discussão para cada oferta de acesso restrito aos investidores
destinatários da oferta; (ix) manter serviço de atendimento ao investidor; e (x) guardar
sigilo sobre as informações financeiras e operações realizadas pelos seus clientes.
O normativo da CVM também estabelece regras quanto ao teor do contrato que deve ser
celebrado entre o ente captador e a plataforma, à divulgação de informações entre eles
e às vedações aplicáveis à atividade de intermediação de ofertas de crowdfunding de
investimento, especialmente em relação à publicidade da oferta e à procura de
investidores fora do ambiente da plataforma (ou seja, mediante jornais, revistas etc.),
promessas de rendimento, realização de atividades privativas de administradores de
carteira de valores mobiliários, intermediação secundária de valores mobiliários, bem
como à participação nas empresas captadoras que exceda 20% de seu capital social
anteriormente à oferta.
Interessante inovação da recente Instrução CVM 588, que vale ser destacada antes de
entrarmos no tema dos investidores e do sindicato de investimento participativo, é o
impedimento aplicável à plataforma e aos investidores líderes, nos termos de seu artigo
29, de excluir comentários que porventura “discordem das premissas ou previsões do
desempenho futuro dos empreendimentos que tenham sido apresentados pela sociedade
empresária de pequeno porte, pelo investidor líder, pela própria plataforma, ou por
outros usuários do fórum”, exceto se tais comentários tiverem conteúdo ofensivo ou
inadequado. Haja vista que o equity crowdfunding tem como pressuposto a participação
ampla de investidores de varejo, que normalmente não detêm conhecimento profundo
das teses econômicas e de mercado para basear suas decisões de investimento. É de
suma importância que se preservem as análises e os comentários de todos os
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investidores nos fóruns atinentes à oferta, de maneira que esse conteúdo crítico possa
servir a todos os interessados, de forma homogênea, ampla e democrática, a fim de
reduzir a assimetria informacional existente entre eles.
3.2.3 Os investidores e o sindicato de investimento participativo
Além das figuras mencionadas acima, cabe-nos, ainda, tratar dos investidores no âmbito
do financiamento participativo de investimento. A Instrução CVM 588 estabelece
requisitos mínimos para que um investidor possa investir em uma oferta de
crowdfunding de investimento. Entre eles, aparece o limite máximo de investimento por
investidor em valores mobiliários ofertados com dispensa de registro, previsto no artigo
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4º da referida instrução, de R$ 10.000,00 por ano , exceto para os casos de investidor:
(i) líder, sobre o qual falaremos a seguir, (ii) qualificado, nos termos da regulamentação
aplicável e (iii) cuja renda bruta anual ou o montante de investimentos financeiros seja
superior a R$ 100.000,00, hipótese na qual o limite anual de investimento mencionado
acima pode ser ampliado para até 10% do maior desses dois valores por ano-calendário.
A plataforma deve celebrar contrato com o investidor líder, que regre a relação entre
ambas, além de estipular os termos e as condições atinentes ao desempenho da função
de líder na oferta, estabelecendo expressamente, por força do artigo 37 da Instrução
CVM 588, vedações ao recebimento de qualquer remuneração, exceto pela taxa de
desempenho devida pelos investidores que lhe apoiarem, e à majoração da taxa de
desempenho que porventura tenha sido determinada nos documentos da oferta, entre
outras.
Sobre os aspectos práticos da subscrição dos valores mobiliários, vale notar que a
regulamentação não exige que tais ativos adotem a forma escritural e, portanto,
independerá da custódia de instituições autorizadas à prestação desses serviços, o que
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também auxilia na redução dos custos da oferta de crowdfunding. A aquisição desses
valores mobiliários, por outro lado, estará sujeita ao atendimento dos ditames prescritos
em lei para a sua consumação, observada a sua forma de emissão, subscrição e
integralização.
Cabe ressaltar que o § 1º do artigo 5º da Instrução CVM 588 impede que os valores
captados em razão da oferta transitem nas contas-correntes da plataforma, do investidor
líder e da sociedade de pequeno porte (com relação a essa última, até o encerramento
da oferta, se atendido o valor mínimo a ser captado). Ocorre que a modalidade de conta
segregada que as plataformas criariam para a manutenção de tais valores deveria ser,
para atender aos requisitos legais, uma conta vinculada, comumente chamada no
mercado de conta escrow, a ser aberta em nome dos inúmeros investidores que
aderirem à oferta (com exceção do investidor líder). No entanto, a abertura de tal conta
normalmente envolve um complexo procedimento com as instituições financeiras e,
ademais, custos significativos de manutenção, o que nos parece incongruente com os
volumes financeiros envolvidos em uma oferta de crowdfunding. Outro empecilho a ser
enfrentado sobre esse tema consiste no fato de que, em sendo aberta a conta escrow
em nome dos demais investidores, a autorização desses investidores para qualquer
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movimentação dos valores captados seria necessária. A própria norma da CVM, porém,
determina que o dever de transferir tais valores à emissora ou aos investidores, ao fim
da oferta, é de competência da plataforma, gerando uma incongruência lógica entre o
dispositivo legal e a prática em relação à movimentação da conta vinculada. Nesse
sentido, ou os bancos brasileiros criam uma modalidade específica de conta vinculada
para receber os valores captados por meio da oferta de crowdfunding de investimento,
que possa ser mantida em nome da própria instituição financeira e movimentada
exclusivamente por ordem da plataforma, ou estaremos diante de um problema cuja
única solução seria a utilização de instituições e arranjos de pagamento para o processo
de liquidação financeira da oferta, que, por sua vez, também traria custos ao processo
de distribuição, pois a prática nesse mercado é a de que eventuais rendimentos
concernentes aos valores transferidos a tal instituição ou arranjo, enquanto estiverem
sob seu domínio, sejam por ela incorporados, em vez de acrescerem ao valor da oferta,
o que nos parece também prejudicial ao crowdfunding de investimento e a seus
participantes.
A exemplo do que se fez em outras jurisdições, tal como mostramos no capítulo 2 deste
trabalho, a CVM entregou ao empresariado brasileiro, ao publicar a Instrução CVM 588,
a alternativa de que carecia, pois, ao regular a oferta pública de distribuição de valores
mobiliários de emissão de empresas de pequeno porte com dispensa de registro, admitiu
em nosso ordenamento o financiamento participativo de investimento, ou seja, a
possibilidade de uma ideia, ou projeto, consubstanciada no objeto social de uma
sociedade empresária, ser apresentada ao público em geral como uma oportunidade de
aplicação financeira, por meio de uma plataforma eletrônica disponível na internet. Esse
tipo de oferta pública, dessa forma, permite a tais empresas de pequeno porte buscar
capital financeiro na poupança popular, por meio de um mecanismo que atende à sua
capacidade financeira e ao grau de complexidade transacional que lhe é possível
suportar.
notável simplesmente ao se ler o já citado Edital de Audiência Pública SDM 06/16, bem
como seu relatório de análise, elaborado pela Superintendência de Desenvolvimento de
Mercado – SDM, foi acertado e permitiu aos participantes do mercado de capitais
nacional opinarem sobre a minuta de instrução que havia sido elaborada pela autarquia,
o que resultou em uma estrutura normativa que, embora contenha algumas poucas
imperfeições, como referimos neste trabalho, já serve como eficiente guia àqueles que
pretendem fazer uso dessa nova modalidade de captação financeira.
Não há dúvida que estruturas de controle diluído são preferíveis, pois contribuem para a
democracia acionária e, em última instância, social. Além, disso, como recentes estudos
têm demonstrado, existe uma relação inversa entre grande concentração e valor de
mercado da companhia, o que demonstra que também para a capitalização das
empresas e o desenvolvimento do mercado de capitais a diluição acionária é
fundamental. Ocorre que, como importantes estudos acadêmicos têm demonstrado, não
é sempre possível obter tal diluição. Economias de diversos países têm condicionantes
estruturais e regulatórias que muitas vezes impedem esse tipo de estrutura acionária
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aparecer e sobreviver.
Parece-nos, assim, que a nova regulamentação, editada e publicada pela CVM, traz uma
importante e transformadora estrutura normativa em prol do desenvolvimento das
empresas brasileiras e, por conseguinte, de nossa economia, não só por ser uma
alternativa viável às formas de captação tradicionais, mas também por auxiliar na
democratização da propriedade acionária no Brasil, que, inevitavelmente, como bem
ponderou o Prof. Calixto Salomão Filho, contribui, em última instância, para o
desenvolvimento da democracia social.
5 Bibliografia
ESTADOS UNIDOS. Estado Unidos da América. Jumpstart Our Business Startups (JOBS)
Act. Um ato para aumentar a criação de empregos na América e seu crescimento
econômico, através da melhora no acesso ao mercado de capitais público por
companhias em desenvolvimento. Disponível em:
[www.gpo.gov/fdsys/pkg/BILLS-112hr3606enr/pdf/BILLS-112hr3606enr.pdf]. Acesso
em: 25.09.2017.
MATTOS FILHO, Ary Oswaldo. Direito dos valores mobiliários. Rio de Janeiro: Editora
FGV. v. 1. t. 2., 2015.
WORLD BANK. Crowdfunding in emerging markets: lessons from East African startups.
Washington, DC., 2015. Disponível em:
[http://documents.worldbank.org/curated/en/820101468186856874/pdf/103279-WP-Box394864B-PUB
Acesso em: 24.09.2017.
1 MATTOS FILHO, Ary Oswaldo. Direito dos valores mobiliários. Rio de Janeiro: Editora
FGV, 2015. v. 1. t. 2. p. 310.
5 Art. 3º. São atos de distribuição pública a venda, promessa de venda, oferta à venda
ou subscrição, assim como a aceitação de pedido de venda ou subscrição de valores
mobiliários, de que conste qualquer um dos seguintes elementos:
I – a utilização de listas ou boletins de venda ou subscrição, folhetos, prospectos ou
anúncios, destinados ao público, por qualquer meio ou forma;
18 MATTOS FILHO, Ary Oswaldo. Direito dos valores mobiliários. Rio de Janeiro: Editora
FGV, 2015. v. 1. t. 2. p. 316.
24 Nos termos do art. 1º, § 1º, da Instrução CVM 588, não se aplica à oferta pública de
distribuição de valores mobiliários realizada com dispensa de registro nos termos da
referida instrução a regulamentação específica sobre ofertas públicas de distribuição de
valores mobiliários.
26 Nos termos do art. 2º, § 3º, da Instrução CVM 588, caso a sociedade emissora seja
controlada por pessoa jurídica ou fundo de investimento, “a receita bruta consolidada
anual do conjunto de entidades que estejam sob controle comum não pode exceder R$
10.000.000,00 (dez milhões de reais) no exercício social encerrado no ano anterior à
oferta”. Vale frisar que a instrução utilizou o conceito de controle, e não de coligação ou
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Equity crowdfunding: regime jurídico e sua nova
regulamentação
34 Cabe ressaltar que essa obrigação é de meio e não de fim, ou seja, a plataforma não
será responsabilizada pelo descumprimento da emissora ou dos investidores de seus
deveres em relação à oferta, caso a plataforma tenha agido cautelosamente e exercido
os devidos padrões de diligência diante de atos, fatos ou omissões que causaram tal
descumprimento.
35 Esse limite deverá ser observado, de maneira global, para um mesmo investidor, em
todas as ofertas de equity crowdfunding que tal investidor desejar investir em um
mesmo exercício fiscal.
recomendações efetuadas. O investidor líder, por sua vez, não possui clientes ou
qualquer relação comercial com os investidores, é entendido como um investidor
experiente (com status diferente) e sua remuneração se justifica pela descoberta de
emissores com alto potencial de retorno e a oferta que ele abre de que outros
investidores desejem acompanhar o seu investimento. A CVM entende, portanto, que a
função desenvolvida por investidor líder, dentro dos parâmetros estabelecidos, não
justifica a criação de um regime de registro próprio, tendo em vista que as preocupações
relacionadas a conflitos de interesse e nível de proteção de investidores já se encontram
endereçadas na regulamentação proposta”.
38 Vale lembrar que, nos termos do art. 8º, § 2º, da Instrução CVM 588, a plataforma
deverá ter apresentado, além das minutas do contrato de investimento e da escritura de
debêntures, conforme o caso, todos documentos que sejam relevantes à tomada de
decisão de investimento.
II – não haja distribuição de documentos que não constem dos materiais da oferta;
Art. 5º. A distribuição de oferta pública dispensada de registro nos termos desta
Instrução deve ser realizada por uma única plataforma eletrônica de investimento
participativo registrada na CVM, devendo ser observados os seguintes procedimentos:
I – todos os investidores devem firmar termo de adesão e ciência de risco, nos termos
do art. 19, IV;
II – para cada oferta em andamento, a plataforma deve manter, nos termos do art. 18,
uma página na rede mundial de computadores, nos programas, aplicativos ou outros
meios eletrônicos disponibilizados, informando o montante total correspondente ao
investimento confirmado, de modo que seja possível comparar diariamente este valor
com os valores alvo mínimo e máximo de captação;
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