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MINISTÉRIO DA SAÚDE
9 788533 421196
MINISTÉRIO DA SAÚDE
sabem, do mesmo modo que a separação entre as elites
e o povo, é apenas fruto de circunstâncias históricas
que podem e devem ser transformadas.
- Paulo Freuire -
em saúde
1ª edição
1ª reimpressão
II Caderno de Educação
Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde
www.saude.gov.br/bvs
em saúde
Brasília – DF
2014
Ministério da Saúde
Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa
Departamento de Apoio à Gestão Estratégica e Participativa
II Caderno de Educação
em saúde
Brasília – DF
2014
© 2014 Ministério da Saúde.
Todos os direitos reservados. A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada, na íntegra, na
Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde: <www.saude.gov.br/bvs>. O conteúdo desta e de outras
obras da Editora do Ministério da Saúde pode ser acessado na página: <http://editora.saude.gov.br>.
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obra, desde que citada a fonte.
Ficha Catalográfica
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa.
II Caderno de educação popular em saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Parti-
cipativa. Departamento de Apoio à Gestão Participativa. – Brasília : Ministério da Saúde, 2014.
224 p. : il.
ISBN 978-85-334-2119-6
CDU 614
Catalogação na fonte – Coordenação-Geral de Documentação e Informação – Editora MS – OS 2014/0109
Construindo caminhos
A Educação Popular em Saúde na Gestão Participativa do SUS:
construindo uma política........................................................................................................................ 16
Osvaldo Peralta Bonetti, Reginaldo Alves das Chagas, Theresa C. A. Siqueira
ANEPS: caminhos na construção do inédito viável na gestão participativa do SUS.......................... 25
José Ivo dos Santos Pedrosa, Maria Cecília Tavares Leite, Simone Maria Leite Batista, Vera Lúcia de A. Dantas
Nossas fontes
Ao Victor, depois de dois setembros .................................................................................................... 32
Julio Alberto Wang Un
Introdução ............................................................................................................................................ 34
Eymard Mourão Vasconcelos
A crise da interpretação é nossa: procurando entender a fala das classes subalternas.......................... 35
Victor Vincent Valla
Leituras de artigo de Fiori, com a intenção de despertar outras leituras ............................................ 49
Maria Waldenez de Oliveira e Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva
Conscientização e educação.................................................................................................................. 55
Ernani Maria Fiori
Círculos de Cultura: problematização da realidade e protagonismo popular ..................................... 73
Vera Lúcia Dantas e Angela Maria Bessa Linhare
em saúde
Reflexões e vivências
Educação popular na formação do agente comunitário de saúde...................................................... 151
Vera Joana Bornstein, Márcia Raposo Lopes, Helena Maria S. Leal David
Diálogo com práticas populares de saúde na formação profissional.................................................. 157
Maria Waldenez de Oliveira, Aida Victoria Garcia Montrone, Aline Guerra Aquilante, Fábio Gonçalves Pinto
Formação profissional e educação popular a partir de uma experiência
curricular em graduação em enfermagem........................................................................................... 165
Helena Maria S. Leal David, Sonia Acioli
»
Outras palavras
Aprendendo - e ajudando - a olhar o mar:
das muitas saúdes, culturas e artes na educação popular.................................................................... 179
Julio Alberto Wong-Un
De cenopoesia e dialogicidade: da reinvenção da linguagem ao reinvento do humano.................... 191
Ray Lima
“O cotidiano de Dona Chica na luta contra a tuberculose”
e a possibilidade de aprender com ludicidade.................................................................................... 194
Josenildo F. Nascimento, Mayana A.. Dantas, Ana Paula Brilhante, Ma. Rocineide F. da Silva, Ma. Vilma N. de Lima
Cha(mamé)lé cultural: poesia gauchesca............................................................................................ 196
Maria Helena Zanella
Apresentação
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria n. 2.761,
de 19 de novembro de 2013. Institui a Política Nacional de Educação
Popular em Saúde no Âmbito do Sistema Único de Saúde (PNEPS-
SUS). Disponível em: <bvms.saúde.gov.br/bvs/saudelegis>. Acesso em:
16 out 2013.
______. Presidência da República. Decreto n. 7.508, de 28 de Junho
de 2011. Regulamenta a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990,
para dispor sobre a organização do Sistema Único de Saúde - SUS,
o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação
interfederativa, e dá outras providências. 2011. Disponível em: <http://
12
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/D7508.
htm>. Acesso em: 1 out. 2013.
CÍCERO, Antônio. Guardar. Disponível em: <http://www.tanto.com.
br/antonio-cicero.htm>. Acesso em: 16 out. 2013.
FREIRE, P. Conscientização: teoria e prática da libertação: uma
introdução ao pensamento de Paulo Freire. 3. ed. São Paulo: Moraes,
1980. 102 p.
NASCIMENTO, M.; HOLLANDA, C. B. Cio da Terra. 1976.
Disponível em: <http://letras.terra.com.br/chico-buarque/86011/>.
Acesso em: 3 jul. 2008.
NOLASCO, Edgar Cézar. Clarice Lespector:
nas entrelinhas da escritura. São Paulo: Annablume, 2001. 270p.
Construindo caminhos
ao seu objetivo primeiro que é o de apoiar Ao observarmos sua capilaridade nos
e sistematizar o processo de formulação e últimos anos, não podemos deixar de men-
implantação da PNEP-SUS. cionar as inúmeras experiências que vem
Para cumprir com este objetivo, em 2010 sendo desenvolvidas nos serviços de saúde
foram realizados seis Encontros Regionais de pelos trabalhadores do SUS que, por vezes
EPS promovidos pelo MS em parceria com de forma silenciosa em relação à institucio-
os movimentos sociais populares integrantes nalidade, sem apoio das instituições, tem
do CNEPS. Nestes Encontros ficou explíci- buscado uma nova forma de fazer saúde,
ta a necessidade de reinventar a participação mais participativa, promovendo a autonomia
no SUS, considerar o “jeito de ser brasileiro”, e a transformação da cultura vigente, assim
de promover um Sistema de Saúde cada vez como as experiências realizadas pelos movi-
mais humanizado e identificado cultural- mentos sociais populares em suas atividades
18
mente com a população que o constrói e o educativas ou de mobilização. Um dado que
acessa cotidianamente. entendemos ter relação a este processo histó-
Entende-se que a EPS apresenta-se rico da EPS e valide a afirmativa anterior, é
com potencialidade, não apenas como o número expressivo de trabalhos apresenta-
referencial teórico/metodológico para a dos em congressos da área da saúde referen-
construção de políticas, haja vista as ex- ciados na EPS nos últimos anos, trazendo a
periências reais em governos do campo da dimensão da contribuição que este campo
esquerda, como também, campo de práti- tem possibilitado para a transformação das
ca social com amplo poder de agregação, práticas de saúde. Para citar um exemplo,
alicerçado em princípios éticos e culturais destacamos o ABRASCO de 2010 que con-
compromissados com o popular. tou como eixo temático Educação Popular
Dentre os princípios da EPS, podemos de- e Movimentos Sociais, que teve o segundo
stacar a defesa intransigente da democracia em maior numero de inscrições do congresso.
contraposição ao autoritarismo ainda comum O número de iniciativas inovadoras re-
em nossa jovem democracia; a articulação ferenciadas na EPS, fomentadas ou sendo
entre os saberes populares e os científicos pro- reconhecidas em muitas gestões estaduais
movendo o resgate de saberes invisibilizados e municipais tem aumentado significativa-
no caminho de um projeto popular de saúde mente. Como exemplos de experiências que
onde haja o sentido do pertencimento pop- merecem ser divulgadas, citamos as experi-
ular ao SUS; a aposta na solidariedade e na ências relacionadas ao Departamento de En-
amorosidade entre os indivíduos como for- demias da ENSP/FIOCRUZ, a exemplo da
ma de conquista de uma nova ordem social; Ouvidoria Coletiva promovida em parceria
a valorização da cultura popular como fonte com a Secretaria Municipal de Saúde de Ita-
de identidade; a concepção de que a leitura boraí; do projeto MobilizaSUS, coordenado
da realidade é o primeiro passo para qualquer pelo Departamento de Educação Permanen-
processo educativo emancipatório que vise te da Secretaria Estadual de Saúde da Bahia,
contribuir para a conquista da cidadania. que tem promovido uma grande mobilização
MinistériodadaSaúde
Ministério Saúde IIIICaderno
Cadernode deEducação
Educação Popular
Popular em Saúde
em Saúde
por meio de processos educativos envolven- cional de Reorientação da Formação Pro-
do atores do SUS de forma descentralizada fissional em Saúde (Pró-Saúde) articulado
no Estado. O Espaço Ekobé ligado ao proje- ao Programa de Educação pelo Trabalho
to Cirandas da Vida da Secretaria de Saúde para a Saúde (PET-Saúde) que em seu edi-
de Fortaleza tem trazido a contribuição das tal de nº 24, publicado em 15 de dezembro
práticas populares de cuidado para o interior de 2011, que aponta a educação popular em
do sistema, valorizando o saber popular nos saúde como uma das ações a serem traba-
serviços de saúde. lhadas buscando incorporar o conceito do
Na região Norte, ressalta-se a mobiliza- trabalho em rede na saúde – integralidade
ção e articulação do Movimento pela Revi- da atenção e continuidade dos cuidados.
talização dos Saberes e Práticas Populares/ Um espaço que tem contribuído em
Tradicionais de Saúde em Parintins/AM. muito neste processo, já identificado como 19
A implementação de Comitês de uma marca do campo são as Ten-
Enfrentamento da Dengue das de EPS, costumeiramen-
em alguns estados de- te chamadas de Tendas
monstra a importância Paulo Freire. A partir de
do referencial das prá- seu precursor e fonte
ticas de cuidado e da inspiradora, o “Espa-
arte e cultura na pro- ço Che” no Fórum
moção da saúde; pro- Social Mundial de
jetos de promotores 2005, dezenas de ten-
da fitoterapia popular das já foram realizadas
articulados com uni- em eventos significa-
versidades, secretarias tivos do setor saúde3.
estaduais e municipais e Dentre suas caracterís-
movimentos sociais popula- ticas, a dialogicidade entre
res como os que acontecem em práticas e saberes acadêmicos e
Aracaju/SE, Vacaria/RS, Marília/SP, populares e a superação de situações-
entre outros. -limite na saúde empregando metodologias
Iniciativas desenvolvidas nas universi- participativas e problematizadoras, a arte e
dades têm sido fortalecidas, como Especia- cultura e a construção compartilhada entre
lizações em Educação Popular em Saúde, os atores dos coletivos de EPS, desde sua
as ações relacionadas à Extensão Popular, formulação. Tais ações promovem assim a
como as experiências de Alagoas, Sergipe, visibilidade das ações e práticas de EPS e sua
Paraíba com seus diversos projetos de ex- articulação, criando um espaço acolhedor e
tensão. Espera-se que as iniciativas de arti- colorido identificado à cultura popular. Por
culação entre ensino, serviço e comunidade 3
Congresso da ABRASCO, Rede Unida,
relacionadas à educação popular em saúde
CONASEMS, o Brasileiro de Enfermagem, de
sejam potencializadas pelo Programa Na- Medicina de Saúde e Comunidade entre outros.
Construindo caminhos
arquivo ANEPS
20
meio da articulação com parceiros locais tem Destaca-se no relatório final da 14ª CNS,
inaugurado um novo jeito na realização dos na diretriz relacionada à gestão participativa e
eventos da área da saúde, promovendo o en- controle social sobre o estado: ampliar e con-
trelaçamento entre a teoria e a prática, tra- solidar o modelo democrático de governo do
zendo para a cena atores historicamente in-
SUS, a deliberação da necessidade de imple-
visibilizados neste contexto de produção do
mentação da Política Nacional de Educação
conhecimento e articulação política, como
militantes e cuidadores populares. Popular, com a criação de comissões estaduais
Na 14ª Conferência Nacional de Saúde (BRASIL, CONSELHO NACIONAL DE
(CNS) o Espaço Paulo Freire destacou-se SAÚDE, 2012).
como um dos ambientes da Conferência De modo geral, podemos afirmar que
mais propício à liberdade de expressão e à o desafio atual é a institucionalização das
construção de conhecimentos em saúde a práticas e dos princípios da EPS no SUS,
partir da integração dos diversos saberes, da ou seja, publicizar a EPS a fim de contribuir
promoção da cultura popular e principal-
com melhoraria da qualidade de vida das
mente um lugar onde delegadas, delegados
pessoas, seja pela agregação de valores cul-
e a comunidade em geral puderam partilhar
experiências e discutir temas relevantes para turais, pela incorporação de práticas e sa-
a garantia do direito à saúde e o desenvolvi- beres que estão na sociedade e nos movi-
mento participativo do SUS. A realização mentos populares. Institucionalidade assim
desta Tenda durante a 14ª CNS, no mo- entendida como o Estado reconhecer e le-
mento em que forças do controle social e dos gitimar valores da sociedade que historica-
movimentos populares estão engajadas pela mente foram marginalizados.
instituição da Política Nacional de Educação Com o intuito de estimular este pro-
Popular em Saúde, foi de significativa im-
cesso, a SGEP-MS publicou a Portaria Nº
portância para a popularização do debate e
2.979 de dezembro de 2011 que repassa
visibilidade das práticas de EPS no SUS.
recursos federais às gestões estaduais para aspectos, como contribuir com os segmentos
implementação da ParticipaSUS, esta- que atuam na perspectiva da defesa da equi-
belecendo como uma das metas a imple- dade, fomentando o sentido de pertenci-
mentação de Comitês de Educação Pop- mento entre seus atores, intensificando
ular em Saúde e Promoção da Equidade identidades não só entre aqueles de cada
em Saúde (BRASIL, 2011a). Aliada a um um destes (LGBT, negros, campo e floresta,
conjunto de estratégias de sensibilização em situação de rua, ciganos), como no seu
e mobilização, como seminários, proces- conjunto, sendo que há similitudes entre os
sos formativos, disponibilização de ma- condicionantes de suas situações de iniqui-
teriais pedagógicos; espera-se que seja dade, processo esse fundamental também, na
desencadeada junto às gestões estaduais a articulação da defesa do projeto coletivo de
necessária descentralização e capilarização saúde, elementar ao SUS.
da Educação Popular em Saúde no SUS. O estímulo à descentralização de
O fato de esta Portaria fomentar a ar- Comitês de Educação Popular em Saúde
ticulação entre a EPS e a promoção da equi- apresenta-se como a estratégia para
dade nos provoca a refletir sobre a identidade capilarizar as ações de EPS junto às gestões
existente entre suas intencionalidades. Se estaduais, na medida em que promove a
compreendermos que a EPS nasce do com- institucionalização de espaço de interlocução
prometimento com as classes populares e da entre atores dos movimentos sociais popu-
contrariedade com as desigualdades exis- lares e as áreas de gestão do SUS. Assim, a
tentes em relação aos direitos sociais no País, PNEP-SUS se apresenta como referencial
perceberemos que esta relação é intrínseca político pedagógico para a formulação e im-
e, portanto, possui potencialidade de articu- plementação de ações de EPS nas demais
lação entre as ações das políticas que as pro- esferas de gestão, mas fundamentalmente,
movem. O referencial da EPS no contexto por meio destes espaços espera-se promover
da promoção da equidade tem significativos a construção compartilhada e identificada a
Construindo caminhos
cada realidade estadual, que perpassa tanto sistente no campo teórico, mas que somente
a própria política de saúde, as características é apreendida e realizada de fato, quando
locais do SUS, como também a conjuntu- vinculada ao compromisso com o SUS en-
ra e organização política da sociedade civil. quanto projeto de sociedade e vivenciada na
Neste contexto, a configuração dos Comitês prática.
de EPS não possuem uma estrutura ou com- Ações de EPS poderão vir a contribuir
posição padrão e sim, devem ser recriadas em com a promoção da saúde e a qualificação da
cada localidade conforme a articulação e mo- educação em saúde tradicionalmente realiza-
bilização de atores que se movem no campo da, fortalecendo vínculos emancipatórios para
da educação popular em saúde. O desenho que o cidadão tenha cada vez mais autono-
implementado no nível nacional poderá sim, mia de decisão em como se cuidar e mais am-
servir de subsidio na formulação destes es- plamente no seu jeito de andar a vida. Vale
22
paços no momento em que aponta áreas de destacar que na perspectiva de fortalecer a
governo com identidade técnica e política mudança no modelo de atenção centrado na
com as ações de EPS e destaca movimentos doença, é muito significativa a aproximação
sociais populares que tem acumulado uma dos serviços de APS às práticas populares
qualificada compreensão no caminho com- de cuidado, pois estas carregam uma visão
plexo da institucionalização da EPS. de mundo e de saúde que se aproxima dos
Na análise das potencialidades da princípios que cotidianamente temos nos es-
PNEP-SUS, uma dimensão significativa é a forçado para implementar, como a integrali-
articulação das práticas populares de cuida- dade, a humanização e o acolhimento.
do aos serviços de saúde, pois estas atuam Dentre estes processos, destaca-se o
muito próximas dos princípios que temos desenvolvimento de espaços de encontro
buscado efetivar no SUS, como a human- mediados pelo diálogo, abertos para uma
ização, solidariedade e a integralidade, com- nova cultura participativa que acolhe e
preendendo estas não só como forma de legitima a contribuição do saber popular
cura, mas, fundamentalmente, como con- ao lado do saber técnico científico, os quais
tribuidoras para a conquista de um projeto poderão contribuir também para o desejado
de sociedade engajado com esses valores. reencantamento popular pelo SUS.
A incorporação da EPS pelo SUS nos No conjunto das estratégias desen-
traz a dimensão do potencial apresentado cadeadas pela Coordenação de Apoio à
pelo trabalho em rede, o qual poderá ser Mobilização Social e à Educação Popular em
fortalecido enquanto referencial nas políti- Saúde para fortalecer o processo de imple-
cas de saúde, visando maior capilaridade, mentação da Política Nacional de Educação
efetividade e democratização das mes- Popular em Saúde, destaca-se a visibilidade às
mas. Para tanto, será fundamental a com- práticas populares de cuidado, destacando-se
preensão de que a EPS não é apenas mais a importância dos terreiros, das parteiras, ben-
um conteúdo acadêmico e sim é uma práti- zedeiras, das plantas medicinais, entre outras;
ca social que apresenta uma produção con- a busca da intersetorialidade, compartilhando
Construindo caminhos
comum a visão de que a educação popular Referências
somente é realizada a uma parcela da popu-
lação mais desfavorecida e este deve ser um BRASIL. Ministério da Saúde;
ponto a ser trabalhado na política, ampliar CONSELHO NACIONAL DE
a visão sobre o que realmente é a EPS, a SAÚDE. Relatório Final da 14ª
quem serve e em quais espaços é propícia Conferência Nacional de Saúde: todos
sua contribuição. usam o SUS: SUS na seguridade social:
Quando entendemos que a busca da política pública, patrimônio do povo
transformação social perpassa as relações brasileiro. Brasília: Ministério da Saúde,
humanas, as formas de apropriação do 2012. Disponível em: <http://conselho.
conhecimento e de outros bens, torna-se saude.gov.br/14cns/docs/Relatorio_final.
mais compreensível que a EPS pode acon- pdf>. Acesso em: 16 out. 2013.
24 tecer tanto no espaço da gestão, dos serviços ______. Ministério da Saúde. Portaria
de saúde, de formação em saúde e dos movi- n. 2.979, de 15 de dezembro de 2011.
mentos populares onde foi concebida e vem Dispõe sobre a transferência de recursos
sendo realizada. aos Estados e ao Distrito Federal para
Com a PNEP-SUS, espera-se articular a qualificação da gestão no Sistema
o referencial da educação popular em saúde Único de Saúde (SUS), especialmente
aos processos de gestão, formação, controle para implementação e fortalecimento da
social e cuidado em saúde, buscando for- Política Nacional de Gestão Estratégica
talecer a gestão participativa, contribuir com e Participativa do Sistema Único de
a formação em saúde em seus vários espaços Saúde (ParticipaSUS), com foco na
de ação - profissional, técnica, bem como for- promoção da equidade em saúde, e
talecer os processos já existentes no campo para a implementação e fortalecimento
dos movimentos populares, intenção esta, que das Comissões Intergestores Regionais
se traduz não apenas em apoio financeiro, mas (CIR) e do Sistema de Planejamento
em relações mais próximas entre governos e do SUS. 2011a. Disponível em: <http://
estes movimentos na construção de projetos portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/
coletivos para a qualificação do SUS. PORTARIA_2979_MS.pdf>. Acesso
O momento atual demonstra grande em: 16 out. 2013.
fertilidade nas formulações e realizações do
______. Presidência da República. Decreto
campo da EPS na política pública de saúde,
n. 7.508, de 28 de junho de 2011.
porém, a conquista da Política Nacional de
Regulamenta a Lei no 8.080, de 19 de
Educação Popular em Saúde perpassa um
setembro de 1990, para dispor sobre
movimento que vai além de sua pactuação e
a organização do Sistema Único de
instituição no marco regulatório do SUS. A
Saúde - SUS, o planejamento da saúde,
PNEP-SUS somente alcançará os impactos e
a assistência à saúde e a articulação
transformações desejadas, se cada ator do SUS
interfederativa, e dá outras providências.
sentir-se parte e protagonizar este processo de
2011b. Disponível em: <http://www.
implementação. O convite está posto. Espera-
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
mos que, cada vez mais, esta política construa
2014/2011/decreto/D7508.htm>. Acesso
sentidos coletivos em sua materialidade.
em: 16 out. 2013.
Construindo caminhos
Todo este processo desencadeou a formula- que a vivenciam será um marco fundamen-
ção da proposta do CNEPS, como mais uma tal. Colocando em cena uma dimensão im-
estratégia que tem como objetivo a ampliação portante da educação popular: a autorali-
e o fortalecimento da luta pelo direito à saú- dade dos sujeitos na escrita da sua própria
de, da luta em defesa do SUS, por meio da história de luta e resistência. Olhar para sua
participação popular, através dos já instituí- realidade e contextualizá-la criticamente,
dos espaços de participação popular nas polí- percebendo-se sujeito da construção de um
ticas públicas e apostando em novas e criati- projeto popular de sociedade são uma das
vas formas de participação da população. perspectivas desse percurso formativo em
Apesar dos avanços na caminhada tri- gestação.
lhada pelos atores dos movimentos e práti- Frente a um contexto histórico no qual
28 cas que fazem a ANEPS, muitas situações- o processo de aproximação dos movimentos
-limite precisam ser superadas. Uma delas sociais e populares com o instituído, tem, via
diz respeito à própria for- de regra, resultado na total
ma de organização de um ou parcial descaracteriza-
espaço como esse. Vários Olhar para sua realidade e ção das suas propostas e na
foram os formatos já ex- contextualizá-la crit icamente, perda das identidades des-
perimentados e parece- percebendo-se sujeito da ses sujeitos e movimentos,
-nos que essa ainda é uma construção de um projeto o momento atual propi-
situação-limite que conti- popular de sociedade são uma cia uma discussão sobre a
nua a desafiar a capacidade das perspectivas desse percurso importância da participa-
inventivo-criativa dos su- formativo em gestação. ção popular na saúde e na
jeitos dessa articulação que implementação do SUS,
seguem maturando suas suscitando a necessidade
reflexões, seja na compreensão do sentido de refletir sobre a caminhada da ANEPS
político pedagógico da Educação Popular e no Brasil como uma estratégia de fortaleci-
de como ele se materializa na experiência, mento da educação popular em saúde, mo-
na percepção dos sujeitos sobre o que expe- vimento político e campo em constituição,
riência e como essa reflexão pode transfor- olhando para três dimensões: a ampliação
mar sua realidade. dos espaços de interlocução entre a gestão
A importância de produzir essas refle- do SUS e os movimentos sociais populares;
xões com base na experiência desses sujei- a capacidade de mobilizar a população pelo
tos levou à construção de uma proposta de direito à saúde e pela equidade; e como es-
formação envolvendo os outros coletivos tratégia pedagógica constituinte de sujeitos
nacionais de educação popular a que nos críticos e propositivos com potencialidade
referimos anteriormente, na qual a sistema- para formulação e deliberação de projetos
tização das experiências constituídas pelos políticos.
Nossas fontes
Fora do Eixo
38
E neste sentido, talvez a grande guinada, a principal mudança de ótica com relação aos trabalhos que são desenvolvidos com
as classes subalternas se refere a compreensão que se tem de como pessoas dessas classes pensam e percebem o mundo.
vistos com mais atenção do que outros, fa- versa. De acordo com a formação de cada
zendo com que sejam retidos e os outros não. um, a sua história de vida e as suas vivên-
É na hora da avaliação – disse a cias de cada dia, uma leitura do outro é feita,
expositora – que começam os problemas, não necessariamente de tudo que o outro
pois é uma prática comum não pedir que fala, mas daquilo que chama mais atenção,
seja relatado pelos alunos nem o que o pro- daquilo que mais interessa5.
fessor expôs, nem o que o aluno percebeu,
mas sim, qualquer aspecto do conteúdo que
estava no livro5. 5
Essas ideias sobre avaliação foram desenvolvidas pela
Na realidade, a avaliação teria que ser Professora Marisa Ramos Barbieri (Departamento
sobre aquilo que o aluno percebeu na fala de Psicologia e Educação, Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras, USP, Ribeirão Preto) durante a
do professor, pois é isso que foi retido pelo
mesa redonda “A escola: Seus agentes e interlocutores”.
aluno. É também assim que se processa a Seminário sobre Cultura e saúde na escola, promovido
fala do profissional com a população e vice pela Fundação para o Desenvolvimento da Educação,
1992 (ALVES, 1994).
Nossas fontes
que significa receber água em sua casa duas água). Meus argumentos foram além: não
a três vezes por semana (VALLA, 1994). cabe a Associação de Moradores preencher
O que cabe destacar aqui é a necessida- o papel de prefeitura ou governo, mas sim
de de entender melhor as “falas como a da os moradores organizados reivindicando os
moradora e as alternativas de condução de seus direitos. Novamente o sorriso condes-
vida”, que têm como seu ponto de partida cendente e o comentário: “Professor, se nós
a “leitura e representação de uma história, moradores entregássemos a responsabilida-
referenciada em sua experiência de vida e de de distribuir água à CEDAE, iria ser o
que...oriente sua forma de estar no mundo” fim da nossa água. Se as favelas têm água,
(CUNHA, 1995). é por causa das Associações de Moradores,
O que frequentemente para o profis- mesmo com todos os seus problemas”. Ou
40 sional é conformismo, falta de iniciativa e/ seja, o raciocínio que eu utilizei, era aca-
ou apatia, é para a população uma avaliação dêmico, e, diga-se de passagem, correto.
(conjuntural e material) rigorosa dos limites Em troca dos impostos pagos, quem tem de
da sua melhoria. O autor oferecer serviços de qua-
deste trabalho teve muito O que frequentemente para lidade é o governo, e não
dificuldade em compreen-
o profissional é conformismo, a população numa espécie
der o sorriso condescen- de mutirão. A resposta da
dente da liderança da fave-
falta de iniciativa e/ou apatia, é liderança inverteu a lógica:
la quando insistiu com ele para a população uma avaliação se não fosse pelo esforço
que “duas ou três vezes por (conjuntural e material) rigorosa dos moradores, organiza-
semana” era insuficiente e dos limi tes da sua melhoria. dos nas suas associações,
que o certo era 24 horas não haveria água nas fa-
por dia. velas. O que ele queria
Na mesma conversa com esta lideran- dizer era que a CEDAE, na realidade, não
ça, foi colocado por mim que os moradores tem política de distribuição de água para
de favela teriam de reivindicar a presença as favelas, mas que as Associações de Mo-
mais sistemática da Companhia de Água radores conseguiram “puxar” a água atra-
e Esgoto (CEDAE) com a devida urgên- vés da sua organização, e não insistir nesta
cia, e que as Associações de Moradores não política significava abrir mão da água. Ou
deveriam estar administrando a água no seja, atrás da fala desta liderança, havia uma
lugar da CEDAE. Neste momento, uti- resposta teórica para minha proposta teóri-
lizei uma discussão teórica desenvolvida ca: os governos no Brasil não estão muito
no interior da academia sobre os impos- preocupados com os moradores de favelas
tos que os moradores de favelas pagam e a na elaboração das suas políticas, e somente
obrigação que o Estado tem de devolvê-los o esforço dos moradores é que garante sua
na forma de serviços (neste caso, através da sobrevivência.
Nossas fontes
Não é nosso desejo que garante a subalternas, mas, sim, a avaliação correta da
suposta unidade das classes subalternas maneira com que compreendem o mundo.
José de Souza Martins avalia que as “...a prática de cada classe subalterna e de
muitas dificuldades que os pesquisadores, cada grupo subalterno, desvenda apenas um
políticos militantes e profissionais encon- aspecto essencial do processo do capital....
tram na compreensão da fala da população Há coisas que um camponês, que esta sen-
têm como uma das explicações a per- do expropriado, pode ver, e que um operário
cepção do tempo. E é o reconhecimen- não vê. E vice-versa” (MARTINS, 1989).
to desta percepção temporal das classes A atribuição de identidade, consciência
subalternas que permite explicar em parte e organização, bem como das relações so-
sua diversidade. O desconhecimento desta ciais, baseadas na classe operária, às demais
42 diversidade é que faz com que a compreen- classes subalternas produz uma forte distor-
são das suas lutas e seu limites não sejam ção. Quando se utiliza este tipo de avaliação
apreciados (MARTINS, 1989). Não é o para outros grupos sociais, como por exem-
nosso desejo, nem nosso incentivo verbal, plo, para os camponeses, a impressão que
que garante a suposta unidade das classes se tem é de que o processo histórico anda
É necessário que o esforço de compreender as condições e experiências de vida como também a ação política
da população seja acompanhado por uma maior clareza das suas representações e visões de mundo.
Arquivo UPAC
Nossas fontes
não como cultura barbarizada, forma decaí- anjos isolava Maria das companheiras, con-
da da cultura hegemônica, mera e pobre ex- ferindo-lhe uma aura sobrenatural. Para
pressão do particular” (MARTINS, 1989). Menocchio o elemento decisivo era, ao
Ginsburg discute o que ele chama de contrário, a presença das ‘outras virgens’,
“circulariedade”, isto é, de que as influências que lhe servia para explicar da forma mais
vão de baixo para cima e de cima para bai- simples o epíteto atribuído tanto a Maria
xo. Com isso quer dizer que tanto as classes quanto às outras companheiras. Desse
subalternas influenciam as ideias das elites modo, um detalhe acabava se tornando o
como estas mesmas classes superiores exer- centro do discurso, alterando, assim, todo o
cem influencia sobre as ideias das classes seu sentido”.
subalternas (GINSBURG, 1987). Ginsburg aponta para a questão de
44 Trabalhando com a concepção de cul- que é mais importante discutir como
tura oral, Ginsburg cha- Menocchio leu e não
ma a atenção para o fato tanto o que leu: “é de-
de que a leitura feita por
(...) a cultura popular cifrar sua estranha ma-
quem recebe muito a in- deve ser pensada como neira de adulterar e al-
fluência de uma cultura cul tura, como conhecimento terar o que lê, de recriar”
oral (e neste caso não é acumulado, sistematizado, (GINSBURG, 1987).
somente uma discussão de interpretativo e explicativo, e Uma antropóloga
um moleiro italiano do sé- não como cultura barbarizada, com grande experiência
culo XVI, mas das classes forma decaída da cultura de trabalho com traba-
subalternas no Brasil de hegemônica, mera e pobre lhadores rurais assistiu à
hoje) lê como se fosse com seguinte cena: dois tra-
um filtro que “faz enfatizar
expressão do particular. balhadores analfabetos
certas passagens, enquan- olhando para uma cartilha
to ocultava outras, exagerava o significado sobre exploração dos trabalhadores no cam-
de uma palavra, isolando-a do contexto” po. Quando viram o patrão, gordo e forte
(GINSBURG, 1987). de um lado, e o trabalhador rural magro e
Como exemplo, o autor destaca o mo- fraco do outro, um comentou para o outro:
leiro Menocchio falando em público que “Quem somos nós? “O outro respondeu:”
era um absurdo acreditar que Maria, mãe de É claro que nós somos a pessoa mais forte,
Deus, era virgem. Mas quando foi chamado pois unidos nós somos fortes, e o patrão é
pela Inquisição a depor, citou um texto que fraco sozinho, diante da nossa união” 8. Isto
continha cenas de um afresco onde Maria
aparecia com outras virgens, no templo. As-
8
A cena relatada foi assistida pela Maria Emília L.
Pacheco, da Coordenação Nacional da Federação de
sim, “sem deformar as palavras, inverteu o
Órgãos de Assistência Social e Educação (FASE),
significado”, pois, no texto, a aparição dos Rio de Janeiro, 1994.
Nossas fontes
Arquivo UPAC
46
A cultura das classes subalternas é uma tentativa de explicar esse mundo em que se vive. Se, no entanto,
não dá conta de explicar tudo, (e daí a razão de se recorrer à mágica), tampouco a ciência explica tudo.
Satriani oferece a idéia de que a cultura po- é palavra do sujeito emudecido” (MAR-
pular, para poder se afirmar neste mundo TINS, 1989).
do vencedor, utiliza a duplicidade, o duplo Martins (1989) sugere que a cultura po-
código, “...o afirmar e o negar, o obedecer pular “deve ser pensada como... conhecimen-
e o desobedecer” (MARTINS, 1989), “o to acumulado, sistematizado, interpretativo e
ajustamento aos valores dominantes e a sua explicativo...teoria imediata” . Neste sentido,
rejeição; interpretações lúcidas combi- o aparente absurdo para o profissional tem
nam-se com ilusões aparentemente alie- uma lógica clara para a população. Numa
nadas” (EVERS, 1985); “...um inconfor- sociedade onde a concepção dominante é
mismo profundo...sob a capa do fatalismo” de que cada um é exclusivamente respon-
(CHAUÍ, 1990). Um estilo de vida que “se sável por sua saúde e dos seus filhos, mas
manifesta na linguagem metafórica, na te- onde também se aprende ainda que Deus é
atralização que põe na boca do outro o que quem decide sobre a morte das crianças, o
Nossas fontes
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»
educativas em escolas, universidades, no das estruturas opressivas que vinham per-
meio popular. O texto Conscientização e sistentemente se construindo desde que
Educação a primeira vista parece muito di- os europeus, no século XVI, invadiram as
fícil de ser compreendido. De fato fácil, ele terras onde viviam, no seio de suas culturas
não é. Trata-se da expressão de um filósofo, e sociedades, povos originários do conti-
de um jeito próprio de refletir em Filosofia nente. Usando a opressão, a desqualificação
que parte de autores com os quais, muitas como instrumentos para se impor aos povos
vezes, nós, educadores, não somos familiari- originários, aos africanos que escravizavam,
zados. Por isso, se quisermos aprender com buscaram, os invasores, e ainda hoje segui-
as reflexões do Prof. Fiori temos de estudar dores de seus pensamentos e propósitos
seu texto seriamente. Quanto ao estudar, buscam, converter a tudo e a todos num
50 Paulo Freire (1979, p. 10) nos orienta: constructo europeu. Em outras palavras, a
ideia de que o mundo europeu conteria o
A atitude crítica no estudo é a mesma que que de mais perfeitamente humano existe,
deve ser tomada diante do mundo, da re- imperava e impera. Por isso, todos que es-
alidade, da existência. Uma atitude de tivessem fora dele, deveriam se converter o
adentramento com a qual se vá alcançan- mais próximo possível a seus ideais e ideias,
do a razão de ser dos fatos cada vez mais para serem admitidos e reconhecidos entre
lucidamente.[. . .] Um texto estará melhor as elites, hoje, constituídas, pelos descen-
estudado quanto, na medida em que dele se dentes ou representantes daqueles invasores
tenha visão global, a ele se volte, delimitan- e colonizadores de territórios e mentes.
do suas dimensões parciais. O retorno ao É assim que as autodenominadas elites,
livro (no presente caso, ao artigo) aclara a desde o século XVI, vêm criando mecanis-
significação de sua globalidade. mos de exclusão, de desigualdades sociais
no continente que decidiram denominar
De fato, a cada estudo do artigo em
América Latina. Os oprimidos, nesse qua-
tela, sempre pautado por experiências de
dro de organização social, têm manifesta-
aprender e de ensinar, próprias de nossas
do descontentamento, por meio de atos de
tarefas de professoras, vamos descobrindo
resistência que nunca deixaram de ocorrer
novos significados, diferentes orientações.
desde a invasão e a consolidação de projetos
O referido texto é um manancial para quem
de colonização. Aos grupos populares, ao
é persistente e dele se acerca com curiosida-
longo dos séculos, têm se juntado intelec-
de, paciência, vontade de aprender, de iden-
tuais que buscam um pensar e um agir vin-
tificar sempre novos significados. Antes de
culados às origens e experiências próprias
mais nada, é importante lembrar que o arti-
dos povos e sociedades que hoje constituem
go do Prof. Fiori foi gerado no âmago dos
a América Latina. É nesse quadro, que, a
movimentos populares que buscavam, nos
partir do ponto de vista dos oprimidos, se
anos 1960, 1970 libertar a América Latina
inicia notadamente nos anos 1960 reflexão
Nossas fontes
ou seja, a natureza, as sociedades com as assumir ética e politicamente posição dian-
diferentes culturas e histórias daqueles que te das relações sociais, entre elas as étnico-
as compõem. Por isso, não são somente os -raciais, de que participamos. Para tanto, do
pensamentos e perspectivas de vida ori- ponto de vista do Prof. Fiori, é preciso rom-
ginados a partir das raízes européias, que per com preconceitos e engajar-se em “luta
nos permitem compreender as realidades contra a dominação” que somente “alcança-
em que vivemos, nos diferentes países da rá seus fins se romper as estruturas para dar
América Latina. Para tanto, também são surgimento ao homem novo” (p. 62). Difícil
fundamentais a sabedoria ancestral dos po- é medir o desafio para os estabelecimentos
vos originários, dos descendentes de africa- de ensino, notadamente as universidades,
nos, de asiáticos. cuja meta maior têm sido a produção de co-
52 Reconhecer, respeitar e valorizar as nhecimentos e a formação superior, pauta-
diferentes raízes históricas e culturais da das em critérios da meritocracia que cultiva
nossa região é atitude política fundamen- valores e defende interesses dos grupos que
tal para libertar a América detêm o poder de governar
Latina das opressões que Para penetrar no pensamento do a sociedade. Em outras pa-
a arrasam. O Equador e a lavras, escolas e faculdades
Bolívia, o reconhecem nas
Prof. Fiori, temos de apreender embora não possam impe-
suas constituições nacio- essa visão de mundo e com ela dir o acesso de estudantes,
nais, ao acolher a sabedoria aprender, além, é claro, de assumir professores e funcionários
de seus primeiros habitan- ética e politicamente posição dos grupos populares, ten-
tes e incluir entre os direi- diante das relações sociais, entre tam exigir que esses se con-
tos que asseguram os direi- vertam a valores, objetivos
tos da natureza, dando-lhes
elas as étnico-raciais, de que e projetos daqueles que
igual valor ao atribuído aos particip amos. o ensino superior sempre
direitos humanos. Reco- acolheu e formou para ocu-
nhecem, dessa maneira, a sabedoria ances- par os postos que decidem os destinos da
tral dos indígenas da América Latina que sociedade, do país.
ensina serem os homens e as mulheres parte Lutar contra a dominação exige que
da natureza e não seus senhores, diferente se tenha disposição, vontade e energia para
do que a cosmovisão de raiz européia difun- conhecer e decifrar as realidades em que
de. No entender dos povos originários o que vivemos e nos constituem. “As lutas pela
vale não é o benefício individual, mas o bem libertação”, sublinha, o Prof. Fiori, “ desde
viver, a vida boa para todos os seres vivos, seus primórdios, devem restituir ao homem
inclusive os não humanos. sua responsabilidade de re-produzir-se, isto
Para penetrar no pensamento do Prof. é, de educar-se e não de ser educado” (p. 56).
Fiori, temos de apreender essa visão de Esse movimento exige “adentramento em
mundo e com ela aprender, além, é claro, de nós mesmos”, o que “supõe uma volta pelo
Nossas fontes
histórica; a cultura se refaz e se reassume na diversidade das
culturas”(p. 64). E mais adiante (p. 67) acrescenta que no saber
da cultura se fortalece a participação de cada um na sociedade.
Entretanto, chama, ele, a atenção para o fato de que valores
e formas de vida ancestrais, se impostos, podem também alienar
(p. 67). Entende-se, então, a firmeza com que sublinha que para
se educar é exigido de cada um reflexão e crítica, fazer-se e
refazer-se constantes. E também a firmeza com que diz: “toda
cultura é medularmente aprendizado. Em sua dinâmica, o ho-
mem se faz, aprendendo a refazer-se, aprendendo a humanizar-
-se, a libertar-se. Cultura autêntica é aprendizado e aprendizado
54 autêntico é conscientização” (p. 67).
Com as considerações que acima formulamos, pontuamos
algumas das passagens do artigo do Prof. Fiori que têm fecunda-
do, orientado e ajudado a avaliar nossa atuação enquanto mulhe-
res, professoras, investigadoras, militantes junto a movimentos
sociais que congregam negros, moradores de favelas, prostitutas.
Esperamos que sejam úteis no sentido de incentivar leitores que
costumam desistir diante de textos longos e aparentemente difí-
ceis. Para concluir, citamos mais uma vez o mestre, em afirmação
que desencadeia inquietações e questionamento a nossas atua-
ções: “A conscientização é esse esforço do povo para retomar seu des-
tino histórico, sua cultura, em suas próprias mãos. Cultura do povo,
pois, e não cultura para o povo: cultura popular.” (p. 70).
Referência
FREIRE, Paulo. Considerações em torno do ato de estudar. In:
_____. Ação cultural para a liberdade. Rio de Janeiro: Paz e terra,
1979. p. 9-12.
Nossas fontes
como um fazer que não termina em produ- Como eu corpóreo, situa-se fisica-
to feito, mas em que o efeito é uma contí- mente; como corpo consciente, pode trans-
nua manifestação de um fazer que se refaz, cender sua situação espaço-temporal, para
continuamente. É o mundo mesmo que visualizá-la, aprendê-la, determiná-la.
se constitui e reconstitui neste refazer-se. Não é corpo do eu que se entrega no
Assim, na expressão do mundo pela cons- mundo: não é o corpo que possui, mas o
ciência o próprio mundo se expressa como corpo que ele é. Seu corpo que se objeti-
consciência do mundo. O mundo não pode va no mundo. E assim experimentamos a
objetividade de uma experiência que nunca
refletir-se na consciência antes de ser mun-
pode chegar ao seu termo, pois neste reapa-
do consciente. E a consciência não pode ser
rece a presença que presentifica e objetiva: o
determinada pelo mundo antes de um se re-
58 sujeito. Ao contrario, se experimentamos o
cuperar através do outro: não está dada, ela
objeto como presença presente a si mesmo,
se conquista e se faz: é, ao mesmo tempo,
esta experiência tão pouco se esgota na pura
descobrimento e invenção.
subjetividade, pois, na transparência desta, o
Nesse sentido, a expressão do mundo
corpóreo se reencontra, também, como ob-
não acontece nem sucede à sua transfor- jetividade. Eu e mundo não se erguem em
mação, uma ultrapassa a outra e coincidem. frente ao outro: convocam-se, mutuamen-
Assim, a consciência do mundo retoma, re- te, para a existência, que é o movimento no
flexivamente, o movimento de seu significar qual se situa e se projeta, isto é, no qual se
ativo em que os significados mundanos se dialetiza como efeito que se transcende e
constituirão. Na medida em que o homem transcendência que se efetiva.
dá significados ao mundo, neste se reencon- O significar ativo em que o mundo é
tra, reencontrando sempre e cada vez mais a significado não se efetua como atividade de
verdade de ambos. uma consciência pura subjetividade. Este
Neste momento, a conscientização já se significar, ao contrário, é um comportamento
prefigura como ação transformadora e não corpóreo-mundano e existencial no qual se
como visão especular do mundo: refazer- constitui e reconstitui o mundo significado.
-se com autenticidade implica reconstruir O sujeito deste significar é logos e práxis.
o mundo. Não é um logos que ilumina o mundo como
espetáculos; ilumina-se na interioridade de
O eu consciente também se situa entre
uma práxis que transforma. Diz o mundo
as coisas no mundo; porém, estranhamente,
num discurso que é existência.
ele mesmo é a luz que revela o lugar e o
O homem não é, pois, um sujeito dentro
momento da sua situação. Chega a ser ob-
de um mundo de objetos: é uma subjetividade
jeto entre objetos, sem deixar de ser sujeito,
encarnada numa objetividade. Isso quer dizer
embora nunca em plenitude. que, neste sentido, o mundo vai diminuindo
Nossas fontes
Aicó Culturas
A subjetividade encarnada não sub- Este encontro não é um começo no
merge o eu na imanência de uma objetivi- tempo, é a origem permanente de onde, per-
dade que o absorve e dissolve. Ao contrá- manentemente, brota este processo tempo-
rio, o mundo se incorpora ao eu corpóreo, ralizador em que o homem busca refazer-
quanto mais este presentifica aquele, numa -se. O dinamismo deste encontro originário,
presença que ultrapassa todas as estreitezas ainda que oculto a si mesmo mítico, pois é
situacionais. Como uma luz interior que, ele quem gera a historicidade essencial, in-
quanto mais interior, mais translúcida o clusive dos chamados “povos sem história”.
faz, mais apaga seus limites exteriores, di- Esta unidade originária está na raiz de
fundindo-se em todos os sentidos. Quanto todos os momentos do processo, através do
mais profundamente se encarna a subjeti- antagonismo da subjetividade e objetividade,
60 vidade, tanto menos limitante se a objeti- isto é, de um mundo inteiramente iluminado
vidade de seu mundo. e assumido pela plenitu-
Não há um eu puro: é Enquanto as consciências não se de da intersubjetividade.
impossível uma proje- Como idéia limite da
ção de um eu no vazio,
intersubjetivarem plenamente, história, só poderá ser
numa total ausência através de um mundo sem mais meta-história, não a ne-
de mundo. O caminho obscuridades e resistências; enquanto gação, mas a glorificação
de acesse que leva para a humanização for um esforço da história - “o novo Céu
além do momento vivi- de incorporação do mundo ou de e a nova Terra”.
do passa pela indo inte- Enquanto as cons-
rioridade do mundo e é
encarnação do eu, o homem não ciências não se intersub-
este mesmo mundo, em poderá eximir-se de uma dialética jetivarem plenamente,
suas dimensões de pas- histórica que o aliene e desaliene. através de um mundo
sado e futuro. sem mais obscuridades
O eu não se distende, e resistências; enquanto
pois, nestas dimensões, dentro de um mun- a humanização for um esforço de incorpo-
do que seria como o leito imóvel do rio que ração do mundo ou de encarnação do eu, o
flui. O eu expressa, incorpora e transcende homem não poderá eximir-se de uma dialé-
e o reconstitui-transcender que não nega o tica histórica que o aliene e desaliene.
mundo e sim o assume e transforma. Nes- Em seu incessante existenciar-se, o
te movimento, o eu se projeta e se recupera, homem objetiva um mundo em que ele
continuamente. Isto é a história: tempo- mesmo se objetiva. Nesta objetivação a
ralização do eu e do mundo num mesmo subjetividade se constitui, se encarna e se
processo em que juntos se constituem e plenifica. Nela, na objetivação, o mundo se
reconstituem, respondendo ao destino de incorpora ao eu, mas também resiste a ele.
seu encontro originário. Dentro deste coeficiente maior ou menor
Nossas fontes
nas linhas do próprio movimento de consti- para revalorizar o homem é a substancia da
tuição da consciência como existência. revolução cultural: a cultura, aqui, entendida
Este movimento, portanto, não é di- como humanização, isto é, como valoriza-
namismo cego, nem aventura sem rumo: ção do homem. Todas as atividades huma-
tem um sentido-assinalado na dialética da nas, enquanto carregadas de uma significa-
encarnação histórica da intersubjetividade, ção valorativa (seja econômica, religiosa ou
sentido fora do qual a face do homem se outra) representam dimensões de cultura. A
deforma e se desvanece. globalização destas atividades vistas, numa
O comportamento existencial em que o perspectiva axiológica, dilata o território da
homem se autoconfigura, desenha-se num cultura a tudo que é humano. E todo di-
contorno axiológico, mercado pelo sistema namismo humano tem direção axiológica.
62 de valores, implicado nas estruturas de um Sendo assim, num sistema estático de valo-
determinado mundo histórico. Se o homem res, não há renovação do homem.
é a busca permanente de sua forma, o ho- Os interesses da dominação das cons-
mem autêntico coincide com o homem novo. ciências se mistificam em valores supostos,
O que permanece prisioneiro de formas es- capazes de uniformizar e adaptar os com-
táticas resiste ao movimento de sua histori- portamentos à funcionalidade do sistema.
cização: hominizado, não se humaniza. Esta Tão forte é seu poder de mistificação, que
renovação do homem supõe uma constante o próprio dominado busca valorizar-se, se-
revalorização da existência, no mesmo sen- gundo seus padrões e as escalas do sistema
tido do movimento de constituição existen- dominantes. É, inclusive, escudo-revolu-
cial da consciência do mundo ou do mundo ções, através de certas mudanças estruturais,
consciente, o que quer dizer que os novos va- perseguem, no fundo de suas intenções, os
lores não são criação arbitraria de uma cons- mesmos valores que justificavam as estru-
ciência pura, mas o paciente e valioso desco- turas antigas. A luta contra a dominação
brimento de um comportamento disposto a só alcança seus fins se romper as estrutu-
assumir os riscos da história. Se essa não é ras para dar surgimento ao homem novo.
de todo absurda, há de ser, em seu caminho, Um homem novo, para realizar-se, exige a
que o homem se reencontrará como homem mediação de um mundo novo: e o mundo
novo ao descobrir seu sentido em cada si- novo requer a luz de uma nova constelação
tuação histórica, desvendará os valores que de valores, uma nova cultura.
configurarão sua encarnação renovadora de Por isso, a revolução verdadeira, verda-
mundo e recriadora de si mesmo. deiramente libertadora, é a que propicia o
Não há transformação do homem sem aparecimento do homem novo, a revolução
mudança estrutural, porém o homem não cultural.
refaz sua forma se o sistema de valores
continua o mesmo. Buscar novos valores
Nossas fontes
Educação não renova o mundo em novas formas de
vida. O sistema de valores de uma socieda-
Detrás de cada conceito de cultura - e de se delineia na sua textura estrutural; em
são tantos -, está presente uma teoria diversa estruturas antigas não é possível configurar-
do homem. Já expressamos, anteriormente, -se uma imagem nova do homem. Não são,
nosso conceito de cultura, quando a defi- pois, verdadeiramente, novas estruturas que
nimos num sentido amplo, pela valorização retêm o processo recriador da existência.
do homem. A humanização, insistimos, se Por isso, o homem novo não é produto de
realiza pela encarnação e comunhão: sub- uma renovação cultural, e o mundo novo, de
jetividade em que se reconhece, ativamente, uma transformação estrutural: a revolução
na objetividade em que se constitui e atra- cultural. Uma esta contida na outra, uma
64 vés da qual, em permanente reconstituição promove a outra, num processo em que não
da unidade originaria, também se constitui há primeira nem segunda.
como intersubjetividade.Em outros termos, O dinamismo da cultura tem uma dire-
cultura é o mesmo processo histórico em ção axiológica, ainda que, de fato, participe
que o homem se constitui e reconstituição da ambigüidade da história: nela o homem
e reconstitui em intersubjetividade, através pode conformar-se. A forma humana não
da mediação humanizadora do mundo. O pré-existe à história como uma idéia eterna
processo de cultura, portanto, implica dia- que esta reflete e deforma. A forma humana
leticamente aperfeiçoamento pessoal e do- vai se definindo, historicamente, no movi-
mínio do mundo: ao separar cultura e civi- mento de constituição da consciência como
lização, formação do mundo, o homem se existência, tal como procuramos esboçar nos
divide internamente e o mundo deixa de ser pontos relativos á conscientização. O sentido
mediação humanizadora. de movimento é uno, ainda que o movimen-
O sujeito não se reencontra mais no to mesmo não seja uniforme. A forma hu-
mundo que ajuda a reconstruir: nele, nes- mana se recria em diferentes formas de vida
se mundo desumanizado, fica retido como na concretização histórica, a cultura se refaz
objeto de outro sujeito: aliena-se. Para li- e se reassume na diversidade das culturas.
bertar este homem, isto é, para devolvê- A cultura se diversifica e se determina
-lo à sua condição de sujeito, é necessária pela forma particular de vida de um grupo
romper as estruturas socioeconômicas que humano, no qual: se reconstitui a forma do
o coisificam. Só assim o mundo poderá re- homem-sua forma histórica. Se o respecti-
cuperar, também, sua virtude mediadora, de vo grupo humano deve ser o sujeito de seu
socializaçazaçao personalizante.Por meio próprio processo histórico-cultural, então a
da interioridade deste processo de mudan- ele cabe o risco e a responsabilidade de au-
ça estrutural, passa a via de renovação do to-configurar sua forma particular de vida.
homem: o homem não se pode recriar, se Isto quer dizer que o homem desta cultura
Nossas fontes
livremente, pelo sujeito do respectivo pro- permanente transcender-se a si mesmo. O
cesso histórico. Como estes valores estão homem se defini por esta liberação de limi-
presentes em todos os planos estruturais, tes. Pode localizar-se em seu mundo, porque
econômicos ou outros, o deslocamento do o transcende o ilumina. E, ao transcendê-lo,
sujeito de sua função essencial, em qual- pode voltar-se reflexivamente sobre si e ilu-
quer deles, afeta o processo global da cul- minar seu mundo. Não são dois momentos:
tura.Reduzir o sujeito a objeto, em qual- o da construção do mundo e o da apreensão
quer dos referidos planos, já o desvaloriza refletiva. O meio vital se transforma em um
radicalmente, desumanizando. A perda de mundo, quando o homem o transcende num
sua condição humana, em tal plano, já ex- retomar reflexivo. O mundo humano não é
pressa algum modo de dominação cultural. espetáculo de inteligência pura, nem mode-
66 A cultura não é um plano ao lado dos de- lagem de ação cega: é obra de mãos inteli-
mais, é o conjunto de todos, enquanto eles gentes. O “logos” não precede á práxis, nem
estão carregados do sentido de valorização é seu produto: é sua luminosidade interior.
do homem. A alienação cul- Interioridade que é, dialetica-
tural não se situa, portanto mente, transcendência. Nesta
somente em superestruturas Para reconstruir seu mundo, transcendência se desenvolve
artísticas, cientificais, ideo- o homem tem que excedê- a facilidade do acontecer hu-
lógicas ou religiosas, senão lo. O homem, porque pode mano. No próprio ato desde
na raiz e na substancia axio- acontecer, acende a luz em
lógica de todas as atividades
lançar-se mais além de sua que ele se desvenda como fa-
humanas. A desalienação natureza, cult iva-se. cilidade histórica.
cultural é libertação total, li- A cultura se faz, pois,
berdade do homem novo. num fazer que, reflexivamente, se percebe
Pouco significa o combate a certos fazendo: é o saber da cultura. Mas o fazer
epifenômenos de dependência cultural, no humano. Este saber é, enquanto se sabe fa-
setor das letras, das ciências, dos costumes zendo. Este saber é o intimo reverso do fa-
ou das técnicas, sem a radicalidade da luta zer, o que o torna transparente a si mesmo
pela total desalienação do homem, para que e permite, ao respectivo sujeito, assumi-lo
se reencontre, em qualquer plano, como, su- subjetivamente. Saber que, estranhamente,
jeito de sua própria história. A recuperação transcende o fazer, porem, neste fazer se re-
que, pode ser total, é essencialmente cultural. faz. E reflexão e crítica. Porque transcende e
se transcende, pode saltar fora das situações
Para reconstruir seu mundo, o homem limitantes, retomar-se conscientemente e
tem que excedê-lo. O homem, porque pode reconstituir-se criticamente: um movimen-
lançar-se mais além de sua natureza, cultiva- to que também é existência e cujo sentido
-se. E a, mesma cultura se desenvolver num aponta para a libertação.
Nossas fontes
foto: Aicó Culturas
A cultura é um processo vivo de permanente criação: perpetua-se refazendo-se em novas formas de
vida. Só se cultiva, realmente, quem participa deste processo, ao refazê-lo e refazer-se nele. A trans-
missão do já feito, é cultura morta.
passa a ser um reflexo ideológico, mistifi- assim, toda cultura alienada é um sistema
cante, da dominação que impede ao sujeito de dominação de consciência: neste sentido,
recuperar-se na objetividade, o coisifica no um sistema de ensino. O sistema educacio-
mundo e o domínio do mundo se confunde nal dominante não é mais que o sistema de
com a dominação da consciência. O saber dominação cultural.Dentro dele, separado
se transforma em instrumento de mistifi- do processo em que os homens se histori-
cação das consciências: não liberta, justifica cizam, o saber se institucionaliza à margem
a servidão. Na cultura alienada, o apren- da vida do povo, encastela-se dentro dos
dizado se transforma em domesticação. muros das escolas e academias, assume as
O ensino não propicia a participação co- falsas aparências democráticas dos meios
mum: transmite o efeito e impõe os valores massificadores de comunicação: aí, e desde
dominantes, que não dominam por sua vali- aí, defende, mantém e propaga os ensinos e
dez, mas, isto, pelo poder dos interesses que, valores de uma civilização de escravos.
simultaneamente, ocultam e manifestam. E,
Nossas fontes
nas lutas pela reforma universitária: não histórico-cultural, eles e os que nem sequer
receiam modernização institucional, antes a têm oportunidade de trabalhar, marginaliza-
propiciam para ajustar melhor a universidade dos pelo sistema. E são Povo de Deus, por-
ao pleno funcionamento, à sua politização, que ajudam a edificar o Reino. Os que traem
como esforço por comprometê-la numa di- a colaboração humanizadora, deixando-se
nâmica de desalienação cultural. vencer pela sedução luciferina da dominação
E, quando o sistema abre suas compor- não são povo, são opressores do povo.
tas para alargar os “benefícios” da cultura até Esta é a missão da luta libertadora do
os últimos grupos marginalizados, uma vez povo oprimido; devolver-lhe a situação de
mais não o faz para libertar. O “beneficia- sujeito de seu próprio processo histórico-
do” só muda de posição: Este fiel servidor -cultural. Na alienação cultural, é objeto.
70 poderá, quem sabe, avançar muito dentro Ao desalienar-se, retoma, reflexivamente,
do sistema, mas os condutos abertos devem livremente, o movimento de constituição de
fechar-se, sempre, antes das fronteiras poli- sua consciência como existência: conscien-
ciadas da ordem estabelecida. tiza-se. A conscientização não é exigência
Entre este ensino “funcional” (escolar, previa para a luta de libertação, é a própria
extra-escolar) e a educação conscientizado- luta. O retomar da consciência se identifica
ra, há inimizade irreconciliável. com a reconquista do mundo: em práxis li-
bertadora.
A educação é, pois, processo histórico A conscientização é este esforço do
no qual o homem se re-produz, produzin- povo por retomar seu destino histórico,
do seu mundo. Todos que colaboram na sua cultura, em suas mãos. Cultura do
produção deste, deveriam reencontrar-se, povo, pois, e não cultura para o povo: cul-
no processo, como sujeitos própria desti- tura popular.
nação de sujeito só pode ser preenchida De tudo que antecede, se depreende,
pelos que trabalham o mundo. Esses são inevitavelmente, que cultura popular não
verdadeiramente o povo - a comunhão é extensão das sobras do sistema de ensino
pessoal só tem um nome: colaboração no estabelecido para a multidão dos ignoran-
mundo comum. tes e miseráveis, que não tiveram valor su-
No sistema estabelecido, os que do- ficiente para incorporar-se a ele.Seria, pois,
minam pelo trabalho. O trabalho, por sua algo necessário ao sistema educacional, que
vocação original, deveria intersubjetivar as serviria aos objetivos de adaptar, uniformi-
consciências, ao contrário da dominação zar e mistificar, transformando o dominado
que as objetiva e escraviza. em mais funcional à dominação.
Os que têm este título, o do trabalho, o Para nós, cultura popular é cultura do
único que legitima a dominação do mundo, povo – do homem que trabalha e humani-
são excluídos da direção ativa do processo za o mundo, e ao fazê-lo, reproduz-se a si
Nossas fontes
Círculos de Cultura: problematização
da realidade e protagonismo popular
Sistematizados por Paulo Freire (1991) os Círculos de Cultura
estão fundamentados em uma proposta pedagógica, cujo caráter
radicalmente democrático e libertador propõe uma aprendizagem Nada continua como está
integral, que rompe com a fragmentação e requer uma tomada de Tudo está sempre mudando
posição perante os problemas vivenciados em determinado con- O mundo é uma bola de ideias
texto. Para Freire, essa concepção promove a horizontalidade na Se transformando se transformando
relação educador-educando e a valorização das culturas locais, da
oralidade, contrapondo-se em seu caráter humanístico, à visão eli- (Junio Santos)
tista de educação.
Concebidos na década de 1960, como grupos compostos por
trabalhadores populares, que se reuniam sob a coordenação de um
educador, com o objetivo de debater assuntos temáticos, do inte- Vera Lúcia Dantas
resse dos próprios trabalhadores, cabendo ao educador-coordena- Médica, educadora popular, mestre
dor tratar a temática trazida pelo grupo. Surgem no âmbito das em Saúde Pública - UECE, doutora
em educação – UFC e atualmente
experiências de alfabetização de adultos no Rio Grande do Norte coordenadora pedagógica do Siste-
e Pernambuco e do Movimento de Cultura Popular. Não tinham ma Municipal de Saúde Escola da
SMS Fortaleza.
a alfabetização como objetivo central, mas a perspectiva de contri-
buir para que as pessoas assumissem sua dignidade como seres hu-
Angela Maria Bessa Linhares
manos e se percebessem detentores de sua história e de sua cultura,
Professora doutora do Programa de
promovendo a ampliação do olhar sobre a realidade. Nesse con- doutorado em Educação e do Mes-
texto, propõem uma práxis pedagógica que se compromete com a trado em Saúde Coletiva da Univer-
sidade Federal do Ceará.
emancipação de homens e mulheres ressaltando a importância do
aspecto metodológico no fazer pedagógico, sem desvalorizar, no
entanto, o conteúdo específico que mediatiza esta ação, possibili-
tando a tomada de consciência do educando, mediante o diálogo
e o desvelamento da realidade com suas interligações, culturais,
sociais e político-econômicas.
Destarte, caracteriza-se como locus privilegiado de comunica-
ção-discussão embasadas no diálogo, nas experiências dos atores-
74
Fonte:<http://acervo.paulofreire.org/xmlui/handle/7891/3016” \l “page/1/mode/1up>
1
Relação das palavras de uso corrente, entendida como
representativa dos modos de vida dos grupos ou do
3
A codificação pode se dar por imagens expressas de
território onde se trabalhará (estudo da realidade). Este várias formas — desenho, fotografia, imagem viva, — que
momento permite o contato mais aproximado com por sua vez deverão suscitar novos debates. Parte-se da
a linguagem, as singularidades nas formas de falar do compreensão de que cada pessoa, cada grupo envolvido na
povo, e suas experiências de vida no local. ação pedagógica, dispõe em si próprio, ainda que de forma
2
Unidade básica de orientação dos debates. rudimentar, dos conteúdos necessários dos quais se parte.
Fonte: <https://www.google.com.br/search?q=francisco+brennand&espv=210&es_sm=93&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei=ximvUqCIH8SIkQek_YDYBQ&ved=0CAkQ_
AUoAQ” \l “es_sm=93&espv=210&q=francisco+brennand+guache&tbm=isch&facrc=_&imgdii=_&imgrc=QaFmJbvhOOClhM%3A%3Bt6BlKIAnQIwTIM%3Bhttp%253A
%252F%252Fwww.projetomemoria.art.br%252FPauloFreire%252Fpaulo_freire_hoje%252Freinventandopaulofreire%252Fpaulofreireeomundosustent>
Nossas fontes
A ampliação do olhar sobre a realidade
com amparo na ação-reflexão-ação, e,
o desenvolvimento de uma consciência
crítica que surge da problematização,
permitem que homens e mulheres
se percebam sujeitos históricos,
o que implica a esperança de que,
nesse encontro pedagógico, sejam
vislumbradas formas de pensar um
76 mundo melhor para todos.
Fonte: <https://www.google.com.br/search?q=francisco+brennand&espv=210&es_sm=93&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei=ximvUqCIH8SIkQek_YDYBQ&ved=0CAkQ_
AUoAQ” \l “es_sm=93&espv=210&q=francisco+brennand+guache&tbm=isch&facrc=_&imgdii=_&imgrc=QaFmJbvhOOClhM%3A%3Bt6BlKIAnQIwTIM%3Bhttp%253A
%252F%252Fwww.projetomemoria.art.br%252FPauloFreire%252Fpaulo_freire_hoje%252Freinventandopaulofreire%252Fpaulofreireeomundosustent>
de que, nesse encontro pedagógico, sejam Nesse contexto, segundo Dantas (2010),
vislumbradas formas de pensar um mundo o Círculo de Cultura constitui-se locus da vi-
melhor para todos. Esse processo supõe a vência democrática, de formas de pensamen-
paciência histórica de amadurecer com o tos, experiências, linguagens e de vida, que
grupo, de modo que a reflexão e a ação se- possibilita o estabelecimento de condições
jam realmente sínteses elaboradas com ele. efetivas para a democracia de expressões, de
A democracia (...) é forma de vida, se pensamentos e de lógicas com base no res-
caracteriza, sobretudo por forte dose de peito às diferenças e no incentivo à partici-
transitividade de consciência no comporta- pação em uma dinâmica que lança o sujeito
mento do homem. Transitividade que não ao debate, focando os problemas comuns.
nasce e nem se desenvolve a não ser dentro
de certas condições em que o homem seja Referências
lançado ao debate, ao exame de seus proble-
DANTAS, V. L. A. Dialogismo e arte na
mas comuns (FREIRE, 1991, p. 80).
gestão em saúde: a perspectiva popular nas
Dessa forma, Paulo Freire fala de edu-
Cirandas da Vida em Fortaleza. 2010. (Tese
cação como conscientização, reflexão rigo-
de Doutorado) – Universidade Federal do
rosa sobre a realidade em que se vive, com
Ceará, Fortaleza, CE, 2010.
o entrelaçamento das linguagens e suas res-
FREIRE, P. Educação como prática de liberdade.
pectivas lógicas epistêmicas, evidenciando
20. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.
os focos a serem problematizados pelo gru-
po, instigando o debate e constituindo uma FREIRE, P. O caminho se faz caminhando:
rede de significados. conversas sobre educação e mudança social.
2. ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
1
Ação de educação permanente do Sistema Municipal de Saúde Escola de
Fortaleza, que busca articular o princípio de comunidade junto à esfera institucional.
transformação no contexto local, por difi- onde se promove a reflexão das ações em
cultarem a concretização dos sonhos, dese- saúde. Assim é que buscamos as situações
jos e necessidades coletivas das populações.” vividas onde se favorece a escuta em rede
Ao situarem-se no campo da educação da experiência coletiva tentando capturar o
popular, apóiam uma formação política que dialogismo trazido pela arte na gestão em
constitui o concerto dialógico envolvendo o saúde.
princípio de comunidade e a esfera institu- Esta tese nos desafiou a delinear um
cional e, dessa forma, propõem que o poder percurso, de ação-reflexão-ação sobre as
analítico dos grupos e movimentos popula- Cirandas da Vida – onde atuamos, re-
res possa dialogar sobre ações compartilha- fletimos e intervimos coletivamente, na
das o que inclui discussão, reflexão crítica e perspectiva de pensar gestão popular no
82 possibilidade de diálogo concreto. contexto do Estado, com suas linguagens
A perspectiva popular a que nos re- e caminhos singulares em saúde popular e,
ferimos diz respeito ao olhar dos atores e recortamos as esferas dialógicas da gestão
atrizes dos movimentos populares como popular em saúde nas quais nos movemos
protagonistas de ações de transformação às trazendo a arte também como linguagem,
situações-limite da sua realidade, na pers- no contexto da gestão atual em saúde.
pectiva da emancipação; de um popular que Para traçar esses caminhos, ousamos
se tece na busca de superação da consciên- construir uma pesquisa-ação que cunhamos
cia ingênua rumo ao inédito viável: como de Ciranda de Aprendizagem e Pesquisa em
inacabamento, formação permanente que cuja abordagem multirreferencial envolve-
se constitui em determinados princípios e mos atores populares – os cirandeiros – que
se orienta por uma ética que busca a justiça, constituíram o grupo sujeito deste estudo,
a solidariedade nas relações e nas políticas coautores e protagonistas da produção do co-
trazendo a tensão permanente entre ação nhecimento nessa vivência de práxis grupal
política e o fortalecimento dos espaços or- fundamentada na Comunidade Ampliada
ganizativos que animam a luta popular em de Pesquisa, Comunidade Ampliada de Pa-
sua mediação com a esfera institucional. res, nos círculos de cultura e na arte.
Buscamos o popular que, ao produzir atos- O percurso também inclui os teste-
-limite transformadores da realidade atuali- munhos e narrativas de vida como ex-
za sua potência criativa. pressões de um saber coletivo carregado
Neste estudo, apresentamos a arte de historicidade, subjetividade e sentidos,
como espaço de criação – transcendência, incorporando a oralidade e potencializan-
capaz de produzir sentidos e sentimentos, do a atualização temporal e espacial desses
e optamos por tomá-la como dimensão dos atores – sujeitos em seus discursos. Dessa
sujeitos que potencializa a dialogicidade ca- forma a Ciranda de Aprendizagem e Pesquisa
paz de realizar a suspensão crítica e criativa traz esse referencial buscando aprendizados
no cotidiano e, com base nela, buscam am- coleções de bens materiais e simbólicos. 91
pliar visões, construir novos sentidos, além A relação de propriedade com os territó-
de apontar possibilidades de organização. rios relativiza-se em práticas recentes, que
Nesse percurso, o grafite representa um parecem expressar a desarticulação entre o
marco e o cirandeiro nos revela o porquê: percebido nas cidades e na cultura política.
Na fala do cirandeiro Thyago, é pos-
quanto ao grafitti eles se identificam ini-
sível apreender esses significados para as
cialmente porque, em sua maioria, eram
ações de pixação. Segundo ele, o grafite re-
pixadores. Pixar pra eles significava deixar
presenta um momento fundamental para a
sua marca nos espaços públicos; dizer algo
juventude da periferia; como chega para ela
que estava á margem dos outros lugares de
vinculado ao movimento hip hop, representa
dizer e demarcar territórios.
a possibilidade de expressar criticamente a
Canclini (1997), fala do grafite como realidade.
“uma escritura territorial da cidade, desti- Na pixação que se fazia na cidade a gen-
nada a afirmar a presença e até a posse sobre te queria marcar território entre as gangues,
um bairro”. Segundo Canclini, as marcas do entre as facções. Era um movimento de nós
grafite expressam as lutas pelo controle do pra nós. Não tinha esse cunho marcadamen-
espaço, as referências estéticas, políticas, ou te político. Já o grafite é um movimento dos
mesmo sexuais mediante as marcas próprias jovens para a sociedade. Enquanto os traços
e modificações dos grafites de outros, ma- da pixação só são entendidos entre os pa-
nifestando, assim, um estilo, um modo de res, sejam eles aliados ou rivais, no grafite as
viver e de pensar, que se contrapõe aos cir- mensagens são claras. O código não é mais
cuitos publicitários comerciais, políticos ou restrito só a quem é grafiteiro e representa a
dos mass media. possibilidade desses jovens se comunicarem
Ainda segundo o autor, o grafite acen- com a sociedade e expressarem suas leituras
tua o território, e parece desestruturar as críticas da realidade.
ARROYO, M. Imagens
bacanas, doutores e homens e estudo sobre educação
quebradas: trajetórias e mulheres que se julgam sábios de algo prisional. Fortaleza, 2007.
370 p. Mimeo.
tempos de alunos e mestres. que nunca vivenciaram. SANTOS, B. S. A
Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
universidade no século
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 4. ed.
XXI: para uma reforma democrática e
São Paulo: Martins Fontes, 2003.
emancipatória da universidade. Educação,
CANCLINI, N. G. Culturas híbridas – Sociedade & Culturas, n. 23, p. 137-202, 2005.
estratégias para entrar e sair da modernidade. Disponível em: <http://www.fpce.up.pt/ciie/
Tradução de Ana Regina Lessa e Heloísa revistaesc/ESC23/23>. Acesso em: 2 out. 2013.
Pezza Cintrão. São Paulo: EDUSP, 1997. p.
______. O futuro do Fórum Social Mundial:
283-350.
o trabalho da tradução. Compilação do
DANTAS,V. L. A. et al. Violência como situação Observatório Social de América Latina. [S.l.]:
limite nas rodas de Cirandas da Vida em OSAL, Sept./Dic. 2004. (En Publicación:
Fortaleza, Ceará. Divulgação em Saúde para Observatorio Social de América Latina, n. 15).
Debate, v. 39, p. 68-81, 2007.
FREIRE, P. Política e educação. 7. ed. São Paulo:
Cortez, 2003.
preâmbulo em vários encontros e eventos (...) é preciso tomar cuidado com a tendência de
dos quais participamos. Ao contrário, a arte instrumentalização da arte e da educação no campo da
como força que torna consciente a potência saúde, que realiza uma verdadeira captura da essência da
existente nesses sujeitos gerou perguntas
que, por sua vez, demandaram movimen-
arte e da educação e as utiliza como meros instrumentos
tos em busca de respostas que se tornaram para aumentar a efetividade da mensagem que o
evidentes na necessidade de parcerias, na transmissor deseja passar.
construção de uma intersetorialidade que
tem por base o território e como amálgama
do a compreensão, apreendida por meio da
as necessidades e os desejos desses jovens
escuta às significações próprias expressas
que as linguagens comumente utilizadas
pelos sujeitos; a interpretação, que inclui a
não conseguem expressar.
comunicação; e a multirreferencialidade ex-
Nesse intenso processo de aprendiza-
plicativa voltada para
gem, encontra-se a ousadia de instituir ou-
tro espaço de produção de conhecimentos (...) objetos que ainda se quer interrogar no
e saberes, articulado com a produção das sentido de aumentar sua inteligibilidade, qua-
ações, afirmando a indissociabilidade entre lificada a partir de vários pontos de vista [...]
o pensar e o fazer, as Cirandas de Aprendi- diferentes linguagens das disciplinas que se
zagem e Pesquisa. Espaço possibilitado pela trata de operacionalizar, de distinguir e com-
multirreferencialidade com que os autores binar entre elas (ARDOINO, 1998, p. 30).
trabalham saúde, educação e arte, envolven-
»» cujo ponto de partida é a convicção de »» Mobiliza porque rompe com a situação de dor-
que todos são capazes, que os oprimidas mência e a sensação de impotência, geradas
pela dominação e expressas no individualismo
têm interesse em superar a atrofia física,
consumismo e fatalismo.
mental e cultural a que foram submetidas
e que a emancipação começa por quem se »» Compromete as pessoas, numa dimensão in-
dispõe a um processo de transformação tegral da vida, em processos legítimos de luta
individual e social. pela vida para a emancipação das pessoas e na
sua afirmação como sujeitos sociais.
»» de valorização dos sujeitos, sua neces-
sidade de unir esforços, de organizar-se »» Capacita e qualifica política e tecnicamente, os
sujeitos através da experimentação e apropria-
para a conquista de direitos e para a ta-
ção do conteúdo e do método.
refa de assumir-se como sujeito do seu
destino coletivo. »» Produz a multiplicação criativa, com base numa
parte que tem como meta a envolver o conjun-
O processo educativo se realiza no tra- to da sociedade e a realidade mais geral.
balho que se faz a partir das necessidades
»» Produz fermentação social e mobilização po-
sentidas e num compromisso permanente
lítica ao fortalecer ações coletivas no enfrenta-
dos envolvidos. Acreditar que as respostas
mento dos seus problemas e na construção de
espontâneas do povo sejam transforma-
soluções que expressem o poder da população.
doras pode apenas significar uma posição
»» Incentiva a construção de espaços de participa-
tão autoritária quanto à própria imposição.
ção popular, gestão democrática e participativa,
Aliado ao reconhecimento e o respeito às
afirmação da cidadania ativa, ampliação dos
iniciativas populares, será necessário pro-
direitos e processos de controle social e de de-
blematizar e potencializar essas ações e es-
mocratização do Estado.
timular a construção de alternativas mais
»» Incentiva e contribui para a construção de pro-
próximas da integralidade. Quando inspira-
cessos legítimos de luta pela emancipação e
dos em processos da educação popular, apli-
pela vida.
cada a um processo político-pedagógico,
podemos perceber alguns sinais:
d) Técnicas Visuais:
As Técnicas escritas são aque- dinâmicas é fundamental que novos para o aprofundamento
las em que se utiliza a escrita a letra seja legível por todos e do grupo. É importante ver se
como elemento central. Podem que a redação seja concreta dei- a redação, o conteúdo e a lin-
ser: papelógrafo, leitura de tex- xando claro e resumido ideias guagem correspondem ao nível
tos... centrais de um debate coleti- dos participantes. A utilização
Podem ser elaboradas por um vo. Este tipo de técnica ajuda sempre será acompanhada de
grupo no processo de forma- a concentrar e concretizar as passos metodológicos que per-
ção, se caracterizam por ser o ideias e reflexões do grupo. mitam a participação e o deba-
resultado direto daquilo que o Os materiais elaborados com te coletivo sobre o conteúdo.
grupo sabe, conhece ou pensa antecedência como a leitura As Técnicas gráficas são aque-
sobre determinado tema e é de textos, que são resultado las em que o conteúdo se ex-
produto do trabalho coletivo de uma reflexão ou interpre- pressa através de desenhos e
no mesmo momento de sua tação de pessoas externas ao símbolos para interpretação.
aplicação. grupo ou de elaboração indi- Sempre que usamos este tipo
Na utilização deste tipo de vidual deve trazer elementos de técnica é recomendável
a) círculos de cultura
prévio do conteúdo a ser de-
senvolvido, para que a técnica Sistematizados por Paulo Freire (1991) os Círculos de Cul-
sirva como ferramenta de re- tura estão fundamentados em uma proposta pedagógica de-
flexão. Por isto, é importan- mocrática e libertadora e propõe uma aprendizagem integral,
te fazer uma discussão prévia que rompe com a fragmentação e requer uma tomada de
para analisar o conteúdo a ser posição perante os problemas vivenciados em determinado
trabalhado ou da mensagem contexto. Para Freire, essa concepção promove a horizontali-
apresentada na técnica auditi- dade na relação educador-educando e a valorização das cul-
va ou audiovisual. Para isto, é turas locais, da oralidade. Nesse contexto, propõe uma práxis
fundamental preparar algumas pedagógica que se compromete com a emancipação de ho- 137
perguntas que permitam rela- mens e mulheres ressaltando a importância do aspecto me-
cionar o conteúdo com a reali- todológico, no fazer pedagógico, sem desvalorizar, no entan-
dade do grupo. to, o conteúdo específico que mediatiza esta ação. Destarte,
caracteriza-se como locus privilegiado de comunicação-dis-
cussão embasadas no diálogo, nas experiências dos atores-
-sujeito, na produção teórica da educação e na escuta, a qual
se orienta pelo desejo de cada um e cada uma aprenderem
as falas do outro e da outra problematizando-a e problema-
tizando-se. Tem como princípios metodológicos o respeito
pelo educando, a conquista da autonomia e a dialogicidade
começar descrevendo elemen- e podem ser didaticamente estruturados em momentos tais
tos que estão presentes no grá- como: a investigação do universo vocabular1, do qual são extra-
fico. Logo que os participantes ídas palavras geradoras2. Esse mergulho permite ao educador
que não elaboraram o trabalho interagir no processo, ajudando-o a definir seu ponto de par-
fazem uma interpretação e que tida que se traduzirá no tema gerador geral, vinculado a ideia
finalmente sejam as pessoas de interdisciplinaridade e subjacente à noção holística de
que o elaboraram as que vão promover a integração do conhecimento e a transformação
expor quais foram as ideias que
quiseram expressar. Isto possi-
bilita a participação de todos
1
Relação das palavras de uso corrente, entendida como representativa dos
modos de vida dos grupos ou do território onde se trabalhará (estudo
na medida em que exige um da realidade). Este momento permite o contato mais aproximado com a
esforço de interpretação por linguagem, as singularidades nas formas de falar do povo, e suas experiências
parte de uns e de comunicação de vida no local.
por parte de outros. 2
Unidade básica de orientação dos debates.
Cirandas:
Mandei fazer uma Casa de Farinha
Gira essa roda Ciranda
Bem maneirinha pro vento poder levar
Agita essa roda cirandar
Oi passa sol, passa chuva , oi passa vento
Gira sem medo ciranda
Só não passa o movimento do cirandeiro a rodar
Cirandas da Vida estão sem a girar
Ah! foi bom bonito, meu amor brincar, Ciranda
Vida que é vida não pode parar
maneira, vem cá cirandeira, Vem cá balançar
Essa ciranda não é minha só Vou fazer uma farinhada, muita gente eu vou chamar
Ela é de todos nós Quem entende de farinha vem comigo peneirar
Ela é de todos nós... Vou chamar a (o nome) pra comigo peneirar( a pes-
A melodia principal quem diz soa convidada, vai ao centro, peneira junto, a outra sai
É a primeira voz e uma outra é convidada ao centro).
É a primeira voz Quem entende de farinha vem comigo peneirar
Roda de acolhimento:
Na roda a pessoa dá um passo á frente, diz o e dão um passo para esquerda dizendo: e se-
nome, de onde vem, suas expectativas e os ou- guimos em frente. A roda prossegue até todos
tros dão um passo à frente, repetem seu nome, se apresentarem.
dão um passo atrás dizendo: te damos espaço
Reflexões e vivências
Buscando justamente favorecer a trans- “Quando o processo educativo é verti-
formação deste quadro, a formação técnica cal, o profissional despeja todo o conteúdo no
dos ACS realizada na EPSJV, coloca a dis- educando que recebe todas aquelas informa-
cussão da educação em saúde como ponto ções sem, no entanto assimilar nenhuma”2. As
central de seu currículo, estando presente nas alunas abordam outra forma de conduzir o
três etapas de formação em que este é dividi- processo educativo quando os profissionais
do. O enfoque privilegiado é o da educação reconhecem o saber dos educandos e tor-
popular e saúde e o trabalho de conclusão de nam a aprendizagem um espaço de troca
curso dos alunos é a construção de um plano de experiência, um processo de busca, for-
de trabalho de educação em saúde. mando pessoas ativas, críticas, que não se
Assim, durante todo o curso, os alunos conformam com qualquer condição impos-
154 foram levados a problematizar as práticas de ta, que refletem sobre o mundo e buscam
educação em saúde realizadas pela equipe modifica-lo.
de saúde da família. Discutiram-se a forma No trabalho de conclusão de curso de
de condução do trabalho, o material edu- um dos grupos, o tema “lixo” foi escolhido
cativo utilizado e os temas abordados nas como conteúdo disparador de um trabalho
atividades educativas realizadas na sala de educativo na comunidade, após um proces-
espera, nos grupos e nas visitas domiciliares, so de priorização dos problemas levantados.
além da construção de outras possibilidades Foram realizadas várias atividades que pos-
de atuação. sibilitaram o aprofundamento sobre a ques-
Os diferentes debates propiciaram aná- tão do lixo, incluindo pesquisa bibliográfica,
lises sobre os efeitos das práticas educativas entrevista a moradores e visitas a instituições
dos agentes, favorecendo a construção de uma que pudessem enriquecer a análise do pro-
visão crítica sobre estas e a compreensão da blema. Na preparação da atividade educati-
proposta da educação popular. Ainda que a va com a população da “comunidade” onde
percepção de cada aluno seja diferenciada, os ACS trabalhavam, optou-se por preparar
podemos mencionar a fala de algumas alunas cartazes com perguntas problematizadoras,
do curso técnico, que sintetizam seus entendi- como forma de buscar encaminhamentos
mentos em relação à educação popular.
que possibilitassem o enfrentamento dos
Fazendo um paralelo do trabalho de
problemas encontrados. As perguntas for-
educação em saúde com o trabalho educa-
muladas pelo grupo de alunas: Aldalice G.
tivo numa escola “professores autoritários, que
Franca, Luciana R. G. Eugênio, Margarette
têm o domínio do conhecimento, não levando
Francisco e Maria José L. S. Custódio. Fo-
em consideração o saber alheio, formam alunos
ram ilustradas com fotos das suas áreas de
passivos preparados apenas para o mundo em
trabalho e moradia, procurando inicialmen-
que vivemos sem questionamento”. 2
te aproximar-se ao problema, perceber se a
2
Escola Politécnica de Saúde. situação era reconhecida como incômoda
Reflexões e vivências
Bibliografia
definitivos, assim como as escolhas também não o são. São escolhas Aida Victoria Garcia Montrone
pautadas em avaliações rigorosas da realidade em que estão imersas. Enfermeira Obstetra. Doutora em
Os motivos para a procura por práticas populares são inúmeros. Um Educação e docente na UFSCar.
Coordenação MAPEPS e membro do
primeiro que podemos citar é a centralidade da pessoa (e não da Grupo de Pesquisa “Práticas Sociais e
doença) no processo de cura, o que acarreta maior responsabilização, Processos Educativos”.
empoderamento, autonomia, participação das pessoas nas decisões Aline Guerra Aquilante
e ações. Um outro, decorrente do primeiro, é que, para que a pessoa Cirurgiã-dentista. Doutoranda em
volte ao centro da terapêutica, é vital a relação direta, com vínculos Saúde Coletiva (UNIFESP). Docente
da UFSCar. Coordenação do MAPEPS.
de confiança com o terapeuta ou com o agente da prática popular.
Há também a influência da família no que diz respeito à tradição Fábio Gonçalves Pinto
familiar de procura por práticas populares. Além dessas motivações, Médico Veterinário, Doutor em
Patologia pela UNESP. Docente da
UFSCar. Coordenação do MAPEPS.
Como incluir as
as pessoas percebem maiores benefícios em de saúde, a necessida- práticas populares de
relação aos medicamentos convencionais e de de sensibilizar os saúde na formação
menores reações adversas, assim como refe- profissionais de saúde dos profissionais de
rem o bem-estar geral e a promoção de uma à realidade em que saúde promovidas pelas
boa saúde. Todos esses motivos levam a um estão inseridas as pes-
escolas, universidades,
outro bastante evidente para essas pessoas, soas que atendem. Ou
se bem que pouco considerado: as práticas seja, há uma ética que
cursos técnicos?
populares promovem saúde. Se assim não essas políticas pregam,
fosse, teríamos que rever uma das bases do mas não seguem (ou
conceito ampliado de saúde 1, enquanto ca- seguem de maneira ainda incipiente) uma
pacidade dos indivíduos e da comunidade prática que permita alcançá-la. São poucas
158 de lidar com as adversidades e na melhoria pesquisas que analisam o conhecimento dos
de sua qualidade de vida. Vale ainda dizer profissionais de saúde sobre práticas popu-
que complementar práticas biomédicas com lares, ou mesmo a inserção dessas práticas
práticas populares não é um costume ape- nos currículos dos cursos na área de saúde.
nas das classes populares; além do que, é um Mas aquelas a que temos acesso já são su-
costume bastante tradicional, no sentido de ficientes para nos apontarem um cenário
que isso acontece há muito tempo. preocupante: o conhecimento dessas tera-
Diante desse quadro, descrito no pri- pias se dá pelo senso comum, há pouca ou
meiro parágrafo, podemos concluir que nenhuma discussão sobre elas na sala de
abrir-se para o entendimento desse modo aula, avalia-se as práticas populares tendo-
de enfrentar a doença pode significar uma -se a medicina biomédica como referência,
escuta mais acolhedora pelo (a) profissional algumas “incorporações” de práticas popula-
de saúde e uma atenção à saúde mais inte- res por profissionais de saúde ocorrem após
gral, dialogada com os modos que cada um distorção das referências tradicionais. Por
encontra para construir sua saúde. Mas, pelo outro lado, vemos em alguns contextos que
menos no que se refere à formação profis- estudantes querem e procuram saber mais,
sional em saúde, não é bem assim que acon- que docentes e profissionais aproximam-se
tece, mesmo que constatemos nos vários de práticas populares de saude, como, por
documentos oficiais e políticas brasileiras exemplo, o uso de plantas medicinais.
O início deste projeto de deu em 2005,
1
A saúde é a resultante das condições de alimentação,
quando participantes de uma reunião da
habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho,
transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse ANEPS-SP debatêramos a seguinte ques-
da terra e acesso aos serviços de saúde. Sendo assim, é tão: como incluir as práticas populares de
principalmente resultado das formas de organização saúde na formação dos profissionais de saú-
social, de produção, as quais podem gerar grandes
de promovidas pelas escolas, universidades,
desigualdades nos níveis de vida. (CONFERÊNCIA
NACIONAL DE SAÚDE, 1986). cursos técnicos? Por razões diversas, essas
Reflexões e vivências
cientificistas e biomédicos, gradativamen- tempo em que tínhamos clareza da dimen-
te abrindo brechas por onde essas culturas são do desafio, também sabíamos da histo-
conversassem. E, mais do que isso, construir ricidade em que ele estava embebido. Não
propostas concretas e possíveis de serem im- estávamos sozinhos: os povos originários da
plementadas a curto, médio e longo prazo, América Latina e os povos africanos na Di-
para que essa conversa chegasse ao serviço áspora nos antecederam e nos acompanha-
de saúde. A análise feita no parágrafo acima, vam; as demais ações e lutas contra a into-
propiciada por autores acadêmicos, críticos lerância estavam conectadas a este trabalho.
ao cientificismo e à biomedicina, bem como Essa historicidade ao mesmo tempo am-
autores propositivos da educação popular, pliava nossa consciência de mundo, forta-
aliada ao conhecimento popular que nos lecia nossos propósitos e aumentava nossas
era propiciado através de nossos trabalhos responsabilidades e críticas à metodologia e
160 com movimentos e práticas populares, nos a todo o processo que estava por acontecer.
ajudavam a ter uma visão clara da dimensão Estabelecemos, na coerência com o que até
desse desafio. Um desafio que estava posto aqui foi dito, um pressuposto político, teóri-
há 500 anos, pelo menos, para as culturas co e metodológico vital para o projeto: esta
originárias da América Latina, onde a co- ação seria pautada pelo respeito às dinâmi-
lonialidade5 ainda se mantinha fortemente cas próprias dessas práticas populares, de
presente. Tínhamos claro que o projeto fazia quem as exerce e de quem a elas recorre.
parte de um trabalho permanentemente em Foi nesse contexto e com essa visão
construção, contra a discriminação, a into- e desafio que iniciamos um projeto piloto
lerância, o racismo, etc. Assim, ao mesmo junto à Universidade Federal de São Carlos
- UFSCar em 2006, pensado no formato de
5
A colonialidade advém da colonização de paises oficinas para profissionais de saúde em for-
(América Latina, África) pela Europa propiciada por mação. Nessas oficinas, as diversas expressões
uma necessidade econômica e uma visão de mundo das práticas populares de saúde seriam de-
que legitimaram a coisificação de nações inteiras.
batidas e os seus praticantes atuariam como
Esse olhar, essa visão e postura de colonizador se
mantém ainda hoje. Mas se amplia, não sendo apenas facilitadores juntamente com a equipe da
um olhar de um país sobre o outro, mas também, de UFSCar. Montamos a equipe da UFSCar,
uma nação sobre a outra, de uma cultura sobre a com professores(as)/pesquisadores(as) que
outra, de um grupo sobre o outro. A colonialidade compartilham um projeto de atenção à saú-
se expressa, entre outros, na postura de que o mundo de que dialoga com a cultura popular, e nos
se divide em seres mais humanos e seres menos
deparamos com a seguinte lacuna em nosso
humanos. Tal postura justificaria, por exemplo,
as tutelas opressoras de um grupo sobre o outro, o conhecimento: “quem eram e onde estavam
desrespeito dos profissionais às práticas populares de os praticantes dessas práticas populares de
cura, a não inclusão das classes populares no processo saúde em São Carlos?”. Certamente conhecí-
de planejamento das políticas públicas – a não ser amos várias, mas de uma forma assistemática,
apenas como seu “público –alvo”, a verticalização das de nosso cotidiano, de nossas experiências
prescrições. Tudo em nome da qualidade de vida que
de vida. Diante da falta de informação siste-
o grupo de seres mais humanos avalia ser a necessária
para o grupo de seres menos humanos. matizada em São Carlos sobre tais práticas,
Reflexões e vivências
com os (as) praticantes. Após essa elabora- práticas dentro das dimensões das raciona-
ção da síntese, ocorre a validação do catálogo lidades médicas. Nossa intenção é mostrar a
junto aos (as) praticantes entrevistados(as). diversidade de práticas populares de saúde
Logo após a validação, é feita a impressão presentes usando um referencial de análise
definitiva e a entrega qualificada. que permite uma melhor compreensão pe-
Os catálogos também são produzidos los (as) profissionais de saúde, geralmente
dentro das dimensões das racionalidades formados dentro de uma visão biomédica de
médicas (morfologia, dinâmica vital, diag- corpo humano e do processo saúde-doença-
nose, sistema de intervenções terapêuticas e -cura. O catálogo é material didático para o
doutrina médica), sendo os conteúdos sub- curso de formação profissional.
metidos à validação pelos (as) praticantes Até o presente momento, foram produ-
entrevistados (as). O texto referente a cada zidos três volumes do catálogo, referentes às
162 prática apresentada no catálogo é extraído regiões mapeadas. No total, foram descritas
de entrevista com o (a) praticante, como já 53 práticas populares de saúde. Os catálogos
apontado acima. Nem sempre, nessas en- estão disponíveis para consulta e download
trevistas, é possível obter informações pre- no site www.processoseducativos.ufscar.br
cisas e completas de cada uma das dimen- (clicar em “projetos”). O catálogo também é
sões das racionalidades médicas. Neste caso, oferecido para cada praticante que participou
apresenta-se no catálogo o trecho ou infor- de sua composição e para o Centro Comu-
mações obtidas da entrevista que mais se nitário que participou da primeira etapa do
aproximam da dimensão que se estava bus- levantamento, em número que avaliarem ser
cando. Assim sendo, não se deve entender necessário. Também é feita divulgação de for-
as dimensões apresentadas em cada prática ma qualificada (entrega pessoal por alguém
no Catálogo como categorizações dos dados da equipe da UFSCar acompanhada por uma
obtidos nas entrevistas dentro da dimensão conversa sobre os objetivos do catálogo, a ex-
das racionalidades, mas como elementos da pectativa de seu uso, contatos futuros e outros
prática que se aproximam de tais dimensões. temas), a escolas de formação (técnica e ou-
Lembrando que o objetivo do catálogo não tras) em saúde, serviços de saúde, nos locais
é de categorização das práticas, mas de sua onde o levantamento foi realizado, Secretaria
apresentação aos profissionais de saúde num Municipal de Saúde, eventos acadêmicos in-
formato que favoreça sua compreensão. ternos e externos à UFSCar.
O catálogo é construído num período
de tempo específico. Possivelmente, outras O curso
práticas/praticantes serão encontradas/os na
região ou mesmo algumas (ns) das (os) que O Curso “Práticas Populares de Saú-
constam do catálogo podem não mais existir de” visa a permitir o conhecimento dessas
naquela região. Não é nossa pretensão que práticas, para que estudantes e profissionais
o catálogo seja completo ou um guia para a ampliem suas visões e suas compreensões de
localização das práticas populares de saúde. ser humano e de mundo, complexificando
Tampouco é nossa pretensão “enquadrar” as e aprimorando suas práticas de cuidado às
Nossa intenção é mostrar a diversidade de práticas populares de saúde presentes usando um referencial
de análise que permite uma melhor compreensão pelos (as) profissionais de saúde, geralmente formados
dentro de uma visão biomédica de corpo humano e do processo saúde-doença-cura.
fotos: Arquivo da pesquisa
Reflexões e vivências
tro para cada praticante, totalizando-se a levantamento sistematizado de práticas po-
apresentação de 6 práticas. Não é objetivo pulares –referenciadas pela população usuá-
do curso ensinar a prática, mas apresentar os ria de tais práticas – com formação profissio-
aspectos que o (a) praticante considera que nal, esta realizada com os praticantes e com
devam ser apresentados e entendidos pelos auxílio de material (catálogo) com dados
estudantes. Essas apresentações são inter- organizados a partir da realidade da cidade.
caladas com encontros de estudo de textos Assim como as demais ações de Educação
oferecidos pelos (as) praticantes para apro- Popular e Saúde, estas ações almejam cons-
fundamento do estudo e análise das práticas truir uma relação com o Estado capaz de
por grupos de alunos. O produto final do fortalecer a sociedade civil do ponto de vista
curso constitui uma reflexão crítica sobre a popular. Além dessa relevância social, des-
164 inserção, ou não, dessas práticas nos serviços taque deve ser dado à relevância acadêmica,
onde os participantes atuam. Os grupos de uma vez que permite a profissionais e alunos
estudantes debatem e sugerem como cons- dos cursos de Saúde o acesso a informações
truir o diálogo com as práticas populares de sobre práticas populares de saúde em São
saúde nas Unidades de Saúde e nos demais Carlos, podendo ampliar suas formações e
espaços de atuação. Destaque-se que são visões sobre os processos de adoecimento e
propostas “para si mesmos”, ou seja, ações cura, bem como a construção, pelos próprios
que o estudante avalia serem possíveis de re- profissionais de saúde, de alternativas para
alizar dentro de seu espaços de atuação. o diálogo com essas práticas nos serviços de
saúde e outros espaços onde atuam.
Finalizando
O catálogo, juntamente com o curso e Referência
outras ações de divulgação do grupo, auxilia CONFERÊNCIA NACIONAL DE
na divulgação e fortalecimento dessas práticas, SAÚDE, 8., 1986, Brasília. Relatório final.
mostrando que essas pessoas buscam apoio Brasília: Ministério da Saúde, 1986
não apenas nos profissionais de saúde das uni-
dades dessa região, mas também nos agentes
das práticas populares, complementando os
sistemas terapêuticos. As pessoas avaliam que
as práticas populares têm algo que as práticas
do serviço não oferecem e vice-versa.
Trata-se de uma experiência nova, até
onde tivemos oportunidade de perceber em
nossas revisões bibliográficas, bem como nos
eventos que temos participado, pois articula
Círcu
Ministério da Saúde II Caderno de Educação Popular em Saúde Freire
base n
desenvolvimentistas da primeira metade na problematização e na ação comum entre
do século passado (COSTA, 1985, p. 65; profissionais e população” (STOTZ; DA-
MEHRY, 1984, p. 17), justificando a perma- VID; WONG UN, 2005, p. 51).
nência, entre os profissionais de saúde, de um Especificamente em relação à enferma-
certo “ranço higienista” na sua prática educa- gem, um marco foi a experiência de capaci-
tiva junto às camadas populares. tação de Auxiliares de Enfermagem realiza-
O conceito de participação comuni- da em parceria entre o Ministério da Saúde
tária, exposto no documento do Encontro e a Organização Pan Americana da Saúde
Nacional de Experiências de Educação em (OPAS), que ficou conhecida como Pro-
Saúde, de 1981 (BRASIL, p. 9), pretendia jeto Larga Escala. Baseando-se na Teórica
agregar a visão popular sobre os problemas Crítica, o Projeto Larga Escala influenciou,
de saúde, a fim de atender às suas necessi- nos anos seguintes, muitos projetos de ca- 167
dades, quase como uma forma de “corrigir” pacitação, treinamento e reforma curricular
uma visão unilateral dos serviços, que te- da enfermagem (CASTRO; SANTANA;
riam deixado de lado o olhar da população NOGUEIRA, 2002).
ao longo dos anos. Sente-se aqui a influên- A concepção de mundo e do papel so-
cia do pensamento de Paulo Freire, expli- cial da educação na EPS determina que as
citado na necessidade de incluir um olhar ações se baseiem em princípios tais como a
diferente sobre o processo educativo junto busca do diálogo e da escuta do outro; tomar
às classes populares (DAVID, 2002, p. 10). como ponto de partida do processo pedagó-
A relação entre a Educação Popular e gico o saber anterior das pessoas, acreditan-
a Saúde passa a se constituir, de modo mais do que todos têm um conhecimento a par-
claro, a partir das lutas sociais pela saúde tir de suas experiências e vivências, de suas
como direito no movimento de Reforma condições concretas de existência; atenção
Sanitária, que trouxe para o debate a neces- e viabilização de momentos de troca de ex-
sidade de superação das distâncias culturais periências e construção de conhecimento
entre população e profissionais de saúde. entre o saber técnico e o saber popular, o
Vale lembrar que as influências históri- que pressupõe que os diversos saberes são
cas que conformaram a Educação Popular apenas diferentes, e não hierarquizados e
e Saúde (EPS) remontam a contextos an- que a experiência vale tanto quanto a teoria.
teriores à experiência de alfabetização des- A construção compartilhada do conhe-
crita e sistematizada por Paulo Freire, e cimento é pensada como uma estratégia
incluem influências de ideologias como o metodológica
cristianismo, o humanismo e o socialismo,
(...) que considera a experiência cotidiana
que convergem, tendo como eixo o pensa-
dos atores envolvidos e tem por finalida-
mento de Paulo Freire, “numa pedagogia e
de a conquista, pelos indivíduos e grupos
concepção de mundo centrada no diálogo,
Reflexões e vivências
tanto a ação objetiva do homem quanto desenvolvimento de ações educativas como
suas produções subjetivas, articulando ações atividade ou procedimento específico, e sim
e intenções, como superação da alienação. de reconhecer o potencial pedagógico do
No sentido proposto por Bourdieu trabalho de enfermagem como um todo.
(1983), as práticas e suas representações são Nesta perspectiva, retoma-se uma con-
estruturadas a partir do habitus. As práticas cepção integradora a respeito do trabalho
são, ainda, fruto de uma série de condições como prática social.
relacionadas ao contexto social, político,
econômico, e a aspectos da ordem do dese- Aprendizado a partir de uma
jo e da conveniência dos grupos envolvidos. experiencia curricular que busca
Enquanto produto de uma relação dialéti- incorporar a educação popular e saúde
170 ca, a prática é expressão da relação entre as
Ressaltada a dimensão pedagógica no
condições sociais de produção do habitus
trabalho da enfermagem, apresentamos as
e as condições do exercício desse habitus
linhas orientadoras de uma experiência pe-
(BOURDIEU, 1983, p. 65).
dagógica de formação profissional, desen-
Consideramos a EPS como campo de
volvida na Faculdade de Enfermagem da
idéias relevantes para o fazer da Enferma-
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
gem, uma vez que a ação pedagógica crítica
(ENF/ UERJ), para destacar algumas ques-
permite ao trabalhador, ao mesmo tempo
tões sobre a relação entre EPS e a forma-
em que se torna mais sensível ao sofrimento
ção do enfermeiro. O processo de mudança
do outro, avançar numa análise mais apro-
curricular na ENF/UERJ iniciou-se a partir
fundada sobre as relações entre condições e
da percepção do corpo docente e discente
modos de viver e a produção da saúde, para
acerca da necessidade de preparar profissio-
além dos processos biológicos imediatos. Ao
nais cuja atuação pudesse estar mais voltada
buscar uma prática educadora transforma-
para os fatores que conformam a realidade
dora, o enfermeiro transforma-se, ao mesmo
do nosso país, ou seja, um enfermeiro que
tempo, como trabalhador, pela ampliação de
pudesse articular dinamicamente ensino,
sua consciência crítica sobre seu próprio
trabalho, comunidade, teoria e prática (Fa-
processo de trabalho e como educador. Esta
culdade de Enfermagem – UERJ, 2005).
subjetivação do trabalho permite-lhe ressig-
Essa percepção traduziu-se em vontade
nificar sua prática, para além das normas e
política de mudança a qual se articulou ao
rotinas impostas pelo trabalho prescrito.
movimento nacional de reforma curricular
Defendemos, aqui, que a dimensão
que culminou com a elaboração do novo
educativa possa ser reconhecida como prá-
Currículo Mínimo para Formação do En-
xis e como atitude educativa, uma respon-
fermeiro, publicado na Portaria MEC/1721
sabilidade inerente ao processo de trabalho
de 16/12/94.
de enfermagem. Não se trata de propor o
Reflexões e vivências
pode se dar de modo compartilhado e inte- balho, objetiva-se em um dos cenários de
grado à dinâmica de vida das comunidades. prática, consolidar algumas competências
Busca-se desenvolver a proposta de in- básicas para a atuação em enfermagem de
tegrar as áreas de conhecimento em todos saúde pública, por meio da atuação super-
os períodos acadêmicos que compõem a visionada em comunidades, na perspectiva
formação do enfermeiro, buscando privile- de integração dos saberes e habilidades,
giar a experiência do aluno para a sistema- progressivamente construídos nos períodos
tização do conhecimento. anteriores.
Nas aulas teórico-práticas, por meio da Assim, ao mesmo tempo em que é ca-
problematização, privilegia-se a experiência paz de prestar cuidados e orientações bá-
do aluno para a sistematização do conhe- sicas a uma gestante por ocasião da visita
172 cimento e teorização. Como um exemplo, domiciliar, o estudante é também capaz
podemos citar o desenvolvimento das aulas de identificar o perfil epidemiológico da
sobre políticas de saúde, comunidade onde esta
nas quais se incorpora Acreditamos que a partir desses reside, estabelecendo a
a vivência do estudante “pequenos movimentos” que relação entre os níveis
sobre o que significa ser ocorrem no ambiente pedagógico dos determinantes e con-
atendido no serviço pú- dicionantes das situações
blico de saúde, criando
podemos alimentar “grandes de saúde e os modos de
uma atividade que impli- movimentos” que resultem na viver das pessoas da co-
ca em buscar algum aten- ampliação da competência técnica, munidade.
dimento na rede, recupe- da consciência crítica e, da Acreditamos que a
rando, posteriormente, autonomia do futuro profissional. partir desses “pequenos
por meio da sistematiza- movimentos” que ocor-
ção, uma vivencia concre- rem no ambiente peda-
ta de sentidos, observações e reflexões críti- gógico podemos alimentar “grandes mo-
cas sobre o Sistema Único de Saúde, seus vimentos” que resultem na ampliação da
princípios e problemas a serem superados. competência técnica, da consciência crítica
A utilização da problematização como e, da autonomia do futuro profissional. Es-
método pedagógico é também um recurso pera-se formar um profissional que, partin-
para o ensino de epidemiologia e de con- do das diversas situações de realidade en-
teúdos da saúde pública, já que várias ati- contradas, esteja apto a identificar e intervir
vidades de ensino são realizadas através de sobre determinantes, riscos e danos a saúde,
aulas teórico-práticas, desde o ingresso na de acordo com as competências definidas
graduação. Nos últimos períodos do cur- para o profissional enfermeiro.
so de graduação – denominado internato
- onde se dá a vivencia do mundo do tra-
Reflexões e vivências
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Outras palavras
Ginzburg e José de Souza Martins. Acontece a Educação Popular; e esses diálogos de-
assim também com as Dimensões Invisíveis veriam ser aprofundados. Ainda, limitar a
da experiência social - como a espiritualida- Educação Popular em Saúde a um “popu-
de, a religião, a arte, as emoções, e a intuição, lar” rígido, e “oficializado”, contraria a ideia,
dentre outras formas tênues ou invisíveis de uma das bases dessa proposta, que os gru-
produção social. pos populares têm as habilidades e conhe-
Neste texto abordarei alguns aspectos cimentos necessários para a incorporação
da complexa dinâmica pessoal e social que crítica - na lógica própria e particular des-
acontece entre: as muitas formas de arte; as sas culturas - de saberes diferentes. Muitos
culturas onde essas são criadas e que deter- estudos mostram como, no mundo atual,
minam suas formas e significados; e o am- as culturas dialogam, entram em embate e
182 plíssimo mundo da saúde - rico em facetas, acordo, e se misturam em mestiçagens e hi-
nuanças e singularidades, mas também cul- bridações.
turalmente definido e ligado fortemente às Estas reflexões iniciais são importantes
estruturas sociais. para entrarmos agora nas relações entre cul-
O fato desta reflexão fazer parte do turas, artes e saúdes - todas elas em plural,
mundo da Educação Popular em Saúde não porque assim, de fato é o mundo: diverso,
nega essa complexidade. Considero redu- multiforme, cheio de detalhes sutis, e - qua-
cionismo pensar que a Educação Popular se sempre - novos, inesperados. A criação
esteja limitada ao que se considera “Popular” - parte central da arte - é assim.
- sendo que essa consideração ou definição, É verdade que não iremos cobrir todas
ela própria, está marcada pelas condições de as possibilidades. A visão e a discussão
sua produção conceitual e simbólica e de- iniciadas aqui sobre o Infinito, o Diverso,
pende de “quem” define, e como é “usada” o Singular e o Próprio servem de boa
essa definição. Pelo contrário, assim como justificativa para a parcialidade. Mas na
a Educação Popular é uma forma rica de parte também podemos intuir o Todo.
Ação Cultural para valorizar e impulsionar
as criatividades periféricas - artes, práticas, A arte como as mil faces de Brahma
saberes e sabedorias - ela também é um
Brahma, uma das principais deidades
projeto de compreensão e leitura profundas
da religião védica - na Índia e em países
do Mundo, onde diversos saberes e formas
próximos, é representado quase sempre
culturais podem ser apreendidos, pensados
como tendo quatro cabeças. Em cada cabe-
e misturados. Muitas propostas reflexivas e
ça vários rostos. O que a pedra tenta sugerir
de ação, vindas dos mais diversos campos
é o que os mitos contam: Brahma, criador
(como ciências humanas, sociais, literatura,
do universo, teria mais de mil faces. Elas se
etc.), incluindo muitos dos autores acima
manifestariam dependendo da natureza do
mencionados, dialogam muito bem com
Outras palavras
pensar de outra forma, quebrar a forma co- Freire, que todos podemos criar, é afirmação
mum de ver as coisas. Criar também é uma perigosa, que questiona uma das bases da or-
forma de ser mais, de ir além de nós mes- dem excludente: que alguns pensam, alguns
mos, de mergulhar em realidades delicadas criam e outros só obedecem, produzem ma-
e pouco conhecidas - o mar do desconhe- nualmente, e consumem.
cido. A criação é a invenção de mundos, a Descobrir-se criador. Potencializar
criação de planetas e galáxias. essa dimensão do Humano, e descobrir
Todas as formas de criação são possí- que a criação é ato político que também
veis e válidas - da arte humilde da dona de pode transformar o mundo é tarefa fun-
casa que se distrai, do artesão que luta pelo damental da Educação. Segundo os pen-
sustento diário, do poeta emocionado nas sadores da linha crítica - que a educação
184 horas vagas; até os que vão incorporando popular em saúde abraça - ler o mundo,
essa atividade criadora como algo que toma problematizando-o, indo do saber ingê-
quase todo o seu dia: artistas profissionais. nuo ao crítico, é um objetivo estratégico da
Mas a essência humana da criação é com- Educação Transformadora.
partilhada por todos eles. Mas isso não resolve nem contempla
As expressões de arte - que não dei- totalmente a questão da criação na arte.
xam de nos surpreender - são, talvez, mais Para tentar uma compreensão dela se faz
diversas ainda do que os processos de cria- necessária uma procura de várias dimen-
ção. Elas respondem ao momento histórico, sões. E mesmo assim, escorregamos. A Ra-
à personalidade do artista, às suas relações zão tem seus limites nesse mundo. Muito
sociais, etc. Cada produto é único no tempo além dessa razão, chamada instrumental, a
e no espaço. E, mais ainda, por exemplo, um arte é feita de forças e fluxos como a intui-
bonequinho delicado do Alto do Moura em ção, a sensibilidade, as emoções, a contem-
Caruaru, feito anos atrás, pelo mesmo artista, plação extasiada da Beleza do mundo e das
será diferente de outro feito hoje. Artistas e pessoas, a experiência direta do Mundo e da
suas obras são seres vivos. Mudam, crescem, matéria. Ela convive, necessariamente, com
avançam e voltam, aperfeiçoam ou partem a experiência poética.
para outros caminhos de beleza e estética. Experimentar poeticamente qualquer
A criação, ato sagrado dentro da carne e coisa a transforma. Uma forma de olhar,
do espírito humanos, tem uma dimensão po- sentir, viver... a experiência poética do mun-
lítica profunda - recuperar o inútil, os trastes do é fundamental a qualquer arte. De novo,
de Manoel de Barros, aquilo que os sistemas há formas muito diversas de viver poetica-
de valores e hierarquias predominantes des- mente. Existem muitos e muitos caminhos.
cartaram e exilaram rapidamente do desejá- Na Educação Popular, aparentemente,
vel e que traz “sucesso”; por fora das linhas privilegiamos os caminhos “populares” -
do reconhecido como saber. Dizer, como aqueles que se fazem em diálogo amoroso
Outras palavras
Aqui, seguindo nossa linha de reflexão,
Dos rios e cachoeiras de Oxum na e pensando na deusa das águas doces, vou
educação popular em saúde salientar a sensibilidade e a alegria na edu-
cação em saúde.
Na mitologia Yoruba, Oxum é a deu-
A partir do saber e do olhar do Outro
sa graciosa da sensibilidade. Fecunda, ama
- sem excluir nem desprezar nosso próprio
acima de tudo seus filhos, enxergando so-
saber e olhar de profissionais e cidadãos - a
mente o brilho deles. Orixá das cachoeiras Educação Popular se envolve em processos
e mananciais, ela flui, é transparente e espu- de delicadeza sensível, favorecendo a troca
mosa, alimenta a vida; fecunda e é fecun- e as emoções “boas” - quer dizer, que fazem
dada. Vaidosa e de sorriso farto, Oxum nos bem à saúde - como a alegria, a solidarieda-
186 mostra o caminho brincalhão do mundo. de, e o sentimento de pertencer a um todo
Sensível, nos ensina a praticar essa e outras maior.
dimensões delicadas e sutis. Mas essas emoções e sentimentos não
A Educação Popular em Saúde, criação são neutros, piegas, nem formas de aneste-
coletiva - com alguns heróis, pensadores siar as consciências. O diferencial da Edu-
e artistas especiais que se misturaram aos cação Popular não é o sentimento, a con-
processos sociais de busca pela saúde - é o versa, a dinâmica brincalhona e os métodos
esforço histórico que se expressou em mo- criativos. O diferencial se encontra na visão
vimentos sociais, grupos organizados, lide- crítica - política - tanto do processo educa-
ranças, profissionais e professores das uni- tivo como de toda a saúde.
versidades, estudantes e moradores de áreas Uma sensibilidade intensa sem abrir
mão da criticidade, da lucidez que significa
rurais e periféricas urbanas. Uma das suas
indicar as desigualdades, denunciar o injus-
características é se inspirar na obra de Paulo
to, propor mudanças profundas à ordem.
Freire na educação; e de autores como Vic-
Esse é o desafio da amorosidade da educa-
tor Vincent Valla, Eduardo Navarro Stotz e
ção popular que indica um caminho ético e
Eymard Mourão Vasconcelos na saúde.
político para todo o trabalho em saúde, para
As reflexões desses autores partem de todo o Sistema de Saúde.
experiências práticas de acompanhamento, Partir, na construção de saberes, do di-
apoio e luta junto a movimentos sociais or- álogo com o Outro é, de fato, uma radica-
ganizados, grupos de moradores, campone- lidade. Perigosa para qualquer governo ou
ses, dentre outros; e não somente a partir partido. Uma ampliação revolucionária da
de leituras e saberes teóricos. Isso faz toda experiência da democracia.
a diferença. O livro todo que você, leitora Nessa sensibilidade, nessa alegria, nessa
ou leitor, tem nas mãos aborda muitas das amorosidade, nessa valorização dos sabe-
facetas da Educação Popular em Saúde. res práticos e feitos de experiência, está a
Outras palavras
O tesouro do Cariri. Uma viagem de
descoberta com a gêmea loira.
saber-se amante e amado, no meio desse coisa de misturas, paraíso dos antropólogos.
tempo ido, ao levantar o chinês - eu - fotografando tudo
e ao pôr do Sol. E a gente, dois dos reis deixando sem nada a loucura da festa. carros
magos, de luxo, velhos burros, ônibus surrados
a loira e o chinês, na cidade singela do finalmente, antes daquele avião pequenino
Crato procuramos, à noite, a grande praça. que pulava de nuvem em nuvem
no meio dela, sons de banda; e os colegas, e onde conseguimos essas figuras de
artistas populares, já sem vestes de dança madeira maravilhosas
bebericavam e conversavam.- o Crato é um fomos a Juazeiro do Norte, lugar sagrado,
188 lugar fresco no Ceará, disse a Iracema. Temos cidade agitada de comércio
umas montanhas e no santuário do padim eu consegui
que valem a pena demais. Do outro lado está imagens geniais
Exú, terra do Gonzagão. E fomos tal era a luz e a atmosfera de fumaça e
até o topo da Serra - forro pé de Serra - vendedores. e uma moça linda entrou no
para ver-imaginar-abraçar Exú quadro
mas nada de seu Luiz - minha vida é andar e ficou congelada em digital. e as missas não
sem me perder, sem desafinar, sem parar de paravam.
sanfonar
e comemos truta na Serra, como se fosse digo de mim que fazer-mo-nos era tão
qualquer serra, mas mais concentrada nobre como fazer milagres
e ainda tão simples e tão distante. nessa viagem de
o museu do cordel, a figurinha do Patativa, Fortaleza a Olinda nos fizemos amigos, nos
as fotos, os guardiões da memória reconhecemos irmãos,
que querendo nos explicavam, que semeamos a cultura que bebemos a cada
sonhando nos diziam segundo, apostando em novas flores, novos
vocês que vêm de tão longe, senhores espaços
vamos lhes apresentar o Mestre Cirilo que para misturar poesia, canto e educação
vai dançar e dar entrevista na saúde - que era nossa missão de
nucleamos todo tipo de dança, canto, exploradores.
desenho, poema,
e um sorvete de fruta no alto das 22 horas assim. verso final sem rima as coisas se
era fundamental encaixaram. o mosaico das visões formou
para depois dar um pulo em Barbalha onde, um grande desenho
grande sorte, era a festa de Santo Antônio que nunca cansamos de ver, e refazer.
Outras palavras
educação popular na atenção primária à saúde. São Carlos: EdUfSCar,
2010.
MAY, Rollo. Minha busca da beleza. Petrópolis: Editora Vozes, 1992.
PAZ, O. El arco y la lira: el poema, la revelación poética, poesía e
historia. México: Fondo de cultura económica, 1986.
REDIN, Euclides. Boniteza. In: STRECK, Danilo; RODIN Euclides;
ZITKOSKI, José Jaime (Orgs.). Dicionário Paulo Freire. Belo
Horizonte: Autêntica Editora, 2008.
VALLA, V. V. Procurando compreender a fala dos setores populares.
In: VALLA, Victor; ALGEBAILE, Eveline; GUIMARÃES
190 Maria Beatriz (Orgs.). Classes populares no Brasil: exercícios de
compreensão. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, 2011.
VASCONCELOS, E. M.; FROTA, L. H.; SIMON, E. Perplexidade
na universidade: vivências nos cursos de saúde. São Paulo: Editora
Hucitec, 2006.
WONG-UN, J. A. O sopro da poesia: revelar, criar, experimentar e
fazer saúde comunitária. In: VASCONCELOS, Eymard (Org.). A
espiritualidade no trabalho em saúde. São Paulo: Editora Hucitec,
2006.
Agradecimentos:
Desejo agradecer às seguintes parceiras pela amizade; pelos
diálogos inspiradores; por terem trazido esses e outros temas à
minha reflexão cotidiana; por trabalhar com utopia e amor pela
saúde pública. Pela leitura do texto. E pelo afeto grande que eu,
obviamente, não mereço: Lenita Lorena Claro, pela limpeza ética e
o olhar de criança; Célia Sequeiros da Silva, pela beleza sobrenatural
da sua alma; e Aline Rodrigues Corrêa Sudo pela alegria, pela
energia boa, e pelo sonho de um mundo com menos malvadeza e
mais boniteza, como escreveu Paulo Freire.
Referência
LIMA, Ray. Pelas ordens do rei que pede socorro: um roteiro-
manifesto da cenopoesia. Fortaleza: Expressão gráfica
Editora, 2012. p.22.
Outras palavras
“O cotidiano de Dona Chica na luta contra a tuberculose”
e a possibilidade de aprender com ludicidade
A saúde e a cultura
deram as mãos lá em Brasília
e repercute aqui no Sul
bem na ponta, um coração
que é o formato do Estado
onde fica o Conceição E nesta história mui linda
entra a tal Comunitária
Hospital que é para todos que é um serviço excelente
que sara, ensina, pesquisa trabalha com atenção primária
e que espraiando horizontes e com um Núcleo tecendo
sabe que a arte mantém cultura em rede solidária
a energia vital
e a felicidade também Com muitas parcerias
mantemos as mãos unidas
e com ações que construímos
lembram? Juntamos saúde e cultura
vamos abrindo caminhos
para outras formas de cura
quais devem ser recomendados nos programas voltados para cuida- Maria Cecília Tavares Leite
dos primários de saúde (PLANTAS..., 1983). Tulani Conceição da Silva Santos
O Brasil, seguindo a tendência mundial, mas preservando suas Vitor Araújo Neto
raízes culturais, principalmente no uso de plantas medicinais como
prática popular, começa por ações que resgatam a medicina popular,
estimula o dialogo entre os diversos saberes e objetiva o uso seguro
e racional das plantas medicinais e fitoterápicos, especialmente com
a edição da portaria n° 971/GM/MS de 03 de maio 2006, que cria
a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no
SUS; do decreto interministerial n° 5.813 de 22 de junho de 2006
que cria a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos,
além da edição da portaria interministerial n° 2.960 que concretiza
o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e cria
o Comitê Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos como
forma de viabilizar tal política. Estabelece, com esse marco legal,
as diretrizes e linhas prioritárias para o desenvolvimento de ações
pelos diversos sujeitos em torno de objeti- de Sergipe, em novembro de 2007, pro-
vos comuns voltados à garantia do acesso movida pelo Movimento Popular de Saúde
seguro e uso racional de plantas medicinais (MOPS), foi proposta a organização de um
e fitoterápicos e preconiza diretrizes, ações curso aos diversos sujeitos (trabalhadores
e responsabilidades dos poderes munici- e atores dos movimentos populares) com
pais, estaduais e federal na sua implantação aprofundamento teórico-prático sobre as
e implementação, as quais irão orientar os plantas medicinais. Assim, surgiu à ideia
gestores no seu estabelecimento ou em sua da construção do Curso de Extensão Popu-
adequação aos programas já implantados. lar em Fitoterapia, que logo foi aceito pela
Em Sergipe, tem sido recorrente a afir- Pró-Reitoria de Extensão e pela vice-reito-
mação dos pesquisadores e historiadores ria dessa instituição de ensino.
200 sobre a grande tradição do uso de plan- A organização foi iniciada através ro-
tas medicinais, talvez também decorrente das de conversas com professores, represen-
da característica agrária desse estado e da tantes dos movimentos sociais e práticas
hegemônica composição de arranjos fami- populares de saúde ligados a ANEPS, com
liares na produção. Essa característica tam- o objetivo de construir a proposta do cur-
bém marca a capital do estado – Aracaju so, que deveria ter metodologia dialógica
– no que pese a predominante caracteriza- e constituída de aulas presencias teórico-
ção urbana. Aracaju, com uma população -práticas, com módulos mensais aos finais
em torno de 600 mil habitantes, também de semana, totalizando uma carga horária
se caracteriza pela existência de arranjos de 200 horas/ano.
produtivos familiares em atividades marca- O que se percebe nesse caminho é que
damente agrícolas compondo diversos dos as trilhas iniciadas por Dona Josefa, a partir
seus cenários. da década de 1990, de valorização da Fito-
Essas características, aliadas à crescen- terapia através da troca e multiplicação de
te produção do saber sobre o uso de plan- saberes, nos diversos espaços e cenários-
tas medicinais e fitoterápicas enquanto -comunidade, assistência à saúde, gestão e
projetos terapêuticos e a edição da Política academia chegam a 2012 com muitos avan-
Nacional de Plantas Medicinais e Fitote- ços. Também símbolo dos passos dados foi
rápicos, têm impactado a forma de cons- quando a Secretaria Municipal de Saúde
trução do modelo assistencial de saúde e de Aracaju, para coordenar as demandas e
a produção de projetos terapêuticos e de articular a frente de trabalho, criou a refe-
cuidado em Aracaju. rencia técnica das PIC’s, que tem estrutura-
Como resultado da ampliação dessa do sua ação em estreita articulação com as
discussão e como resultado de oficina so- instituições formadoras dos trabalhadores
bre plantas medicinais realizada na Sema- da saúde, especialmente com a Universidade
na de Extensão na Universidade Federal Federal de Sergipe, fruto também da qual
Referências
ALVES, E. M. S. et al. Construção da Política Estadual das Práticas
Integrativas, Populares e Complementares de Sergipe: início da
caminhada. I Fórum Nacional de Racionalidades Médicas e Práticas
Integrativas e Complementares em Saúde. Rio de Janeiro, 2012.
BEZERRA, K. E. F. et al. Fitoterapia na formação dos acadêmicos de
enfermagem: uma tentativa de atrelar o saber popular e o conheci-
mento científico. [S.l.: s.n.], 2010.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insu-
mos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica. Política
Nacional de Plantas Medicinal e Fitoterápico. Brasília, 2007.
206
Modo de preparar:
• Ferventar os tomates em duas xicaras de agua por 10 minutos.
• Escorrer e reservar o caldo.
• Á parte, fritar o alho no azeite até dourar.
• Acrescentar o tomate, o caldo reservado e os ingredientes
restantes.
• Cozinhar em fogo baixo com panela tampada por 20 minutos.
Mexendo de vez em quando.
Receitas de sucos
heco
lves Josefa de Lourdes S. Pac
Glaudy Celma Sousa Santana Marta Ma. Fontes Gonça
Sergipe
Pastoral Criança e Aneps
Mops e Aneps Sergipe
Pastoral da Criança e Aneps Sergipe
Suco Verde
Conta com a ajuda da maçã e da couve para repor nutrientes perdidos. “A pectina, que
está na casca da maçã, é uma fibra muito importante para reduzir a gordura e a glicose do
sangue, além de ser uma fruta muito rica em vitaminas B1, B2, niacina, ferro e fósforo.
A couve tem alto teor de clorofila, que ajuda a limpar o intestino e ainda protege o fígado
dos efeitos nocivos das bebidas alcoólicas”.
H
• 1 copo de 200 ml de água de coco ! Colocar no liquidificador a água de
• 1 maçã com casca picada coco, a maçã picada, a couve, o mel e o
• 1 folha de couve gelo. Bate tudo depois de pronto o suco,
• 1 colher de sopa de mel salpique a linhaça por cima do suco, para
• 1 colher de sobremesa de linhaça dar um a brilho e vai estar pronto para ser
• 1 cubo de gelo servido.
Suco desintoxicante
H • 1 copo de 300 ml de abacaxi em cubos ! Bata todos os ingredien-
• 1 colher de sopa de raspas de casca de limão tes no liquidificador e sirva
• ½ colher de sobremesa de gengibre fresco ralado.
Suco anticelulite
H • 1 colher de sobremesa de salsa
! No dia anterior ao preparo do suco,
• 1 pires de chá de couve manteiga crua coloque a água de coco em forminhas para
• 1 fatia média de abacaxi gelo e leve ao congelador. Para preparar o
• 350 ml de água de coco suco, bata bem no liquidificador a água de
• 3 folhas de hortelã coco, a couve e a salsinha. Acrescente o
• ½ limão para suco abacaxi, gotas de suco de limão e horte-
lã. Bata até ficar bem homogêneo. Adoce,
caso seja necessário. Se preferir, substitua
o abacaxi por melão.
Comunicação e cultura:
as ideias de Paulo Freire
Venício A. de Lima
Editora UNB / Co-edição Perseu Abramo
Sugestão de leitura
De sonhação a vida é feita, com crença e
luta o ser se faz. 1a. edição. Ray Lima. Revistas
Ministério da Saúde, Brasília.
Roteiros para refletir brincando: outras razões Revista Saberes e Práticas: experiências
possíveis na produção de conhecimento e em Educação Popular em Saúde.
saúde sob a ótica da educação popular. vol.1 no.1, out./2011.
La Piragua
Conselho de Educação de Adultos
da América Latina.
Esta revista, escrita em espanhol
e produzida pelo Conselho de
Educação de Adultos da América
Latina a (CEAAL), é a principal
publicação acadêmica sobre
Educação Popular. Cada número se
concentra em um tema específico.
Todos os seus textos podem ser
acessados pela internet no seguinte
site <http://www.ceaal.org>.
Sugestão de leitura
Telas do pintor Gildásio Jardim
O artista plástico iniciou seus trabalhos aos 13 anos. Co-
meçou rabiscando a terra vermelha como forma lúdica de
se expressar. Mais tarde desenvolveu uma técnica única
que está diretamente ligada ao seu dia-a-dia. Gildásio,
pinta sobre estampas de Chitas e reproduz o cotidiano da
sua região, o Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais.
Sua pintura é feita com tinta acrílica, tinta para tecido,
tinta látex e com corante líquido. Suas telas retratam a
afetividade humana, a beleza estética e os personagens da
cultura popular do sertão, sempre com um olhar crítico,
político e poético.
Para este trabalho, em parceria com a Aicó Culturas, o
núcleo argumental foi a interseção entre cultura popular
e saúde. E todas as educadoras e cuidadoras retratadas,
têm nome, endereço e muita história para contar.
Mais inforações sobre o artista pode ser encontrada no
site www.gildasiojardim.com.br e nos documentários
produzidos pela Aicó Culturas: www.aicoculturas.com
9 788533 421196
MINISTÉRIO DA SAÚDE
sabem, do mesmo modo que a separação entre as elites
e o povo, é apenas fruto de circunstâncias históricas
que podem e devem ser transformadas.
- Paulo Freuire -
em saúde
1ª edição
1ª reimpressão
II Caderno de Educação
Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde
www.saude.gov.br/bvs
em saúde
Brasília – DF
2014