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Poder Judiciário da União

Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

Órgão 1ª Turma Criminal


Processo N. Apelação Criminal 20070310047535APR
Apelante(s) LEANDRO NASCIMENTO DOS SANTOS
Apelado(s) MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E
TERRITÓRIOS
Relatora Desembargadora SANDRA DE SANTIS
Revisor Desembargador EDSON ALFREDO SMANIOTTO
Acórdão Nº 382.487

EMENTA

APELAÇÃO CRIMINAL – ROUBO – RECONHECIMENTO DO ACUSADO PELA


VÍTIMA E TESTEMUNHAS – CONDENAÇÃO – INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS E MORAIS AFASTADA – AUSÊNCIA DE PEDIDO EXPRESSO.
I. O reconhecimento pessoal pela vítima e testemunhas na fase policial, corroborado
em juízo, e a similitude de narrativas e descrições autorizam a condenação.
II. A Lei 11.719/08 alterou o art. 387 do CPP e incluiu no inc. IV a possibilidade de
ser fixado, na sentença condenatória, o valor mínimo para a indenização dos danos
causados pela infração. A reparação ex delito obedece às disposições processuais
e constitucionais. Exige pedido formal do Ministério Público ou da defesa, a fim de
viabilizar a ampla defesa e o contraditório.
III. Apelo parcialmente provido.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores da 1ª Turma Criminal do


Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, SANDRA DE SANTIS -
Relatora, EDSON ALFREDO SMANIOTTO - Revisor, GEORGE LOPES LEITE - Vogal,
sob a Presidência da Senhora Desembargadora SANDRA DE SANTIS, em proferir a
seguinte decisão: PROVER PARCIALMENTE. UNÂNIME, de acordo com a ata do
julgamento e notas taquigráficas.
Brasília (DF), 1º de outubro de 2009

Certificado nº: 44357DDA


08/10/2009 - 19:59
Desembargadora SANDRA DE SANTIS
Relatora

Código de Verificação: XI9R.2009.0J8N.BBKN.3ZOH.JW5O


APELAÇÃO CRIMINAL 2007 03 1 004753-5 APR

RELATÓRIO

Apelação interposta por LEANDRO NASCIMENTO DOS SANTOS


contra sentença que o condenou às penas de 6 (seis) anos e 8 (oito) meses de
reclusão, em regime semi-aberto, e 75 (setenta e cinco) dias-multa, pela prática do
crime do art. 157, §2º, I, II e V, do Código Penal, por fato praticado em 28 de
dezembro de 2006. O magistrado, nos termos do artigo 387, IV do CPP, fixou em 1
salário mínimo a indenização pelos danos morais e materiais causados à vítima.
Postula a absolvição. Alega fragilidade de provas. Assevera que a
condenação fundamenta-se apenas no depoimento da vítima.
Contrarrazões às fls. 250/260.
A Procuradoria de Justiça opina pelo conhecimento e improvimento
do recurso.
É o relatório.

VOTOS

A Senhora Desembargadora SANDRA DE SANTIS - Relatora

Presentes os pressupostos de admissibilidade do recurso, dele


conheço.
Inconformado com a condenação por roubo circunstanciado,
LEANDRO busca a absolvição Aponta a fragilidade das provas. Argumenta que o
decreto condenatório fundou-se apenas nas declarações da vítima.
A materialidade do ilícito está comprovada pelo auto de
reconhecimento de pessoa (fl. 53), auto de apresentação e apreensão (fls.143 e
145), termo de restituição (fl. 144 e 147) e laudo de exame de local e de veículo (fls.
204/209).
Quanto à autoria, não obstante a negativa do réu, a vítima JOÃO
ALVES DA SILVA reconheceu-o com firmeza e segurança na fase inquisitorial. Ao
ser inquirida, narrou de forma coerente e harmônica a dinâmica dos fatos e
novamente reconheceu o réu como autor do roubo:

“que realmente reconheceu um dos assaltantes na 19ª DP; que


eram três assaltantes; que tudo ocorreu muito rápido e reconheceu até agora,
somente um assaltante; que viu um dos assaltantes portando arma de fogo; que não
houve disparos, bem como nenhuma das vítimas sofreu violência física; que os

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assaltantes levaram a Kombi carregada cheia de mercadorias, avaliadas


aproximadamente em R$ 8.000,00; que na delegacia, o réu foi colocado ao lado de
outras 4 pessoas, sendo que o declarante o reconheceu de pronto; que depois de
ter feito o reconhecimento do réu, havia um outro rapaz que havia sido vítima de um
outro assalto e, depois do declarante, também reconheceu o réu como autor de
outro roubo; que não foi influenciado de nenhuma forma por ninguém para proceder
ao reconhecimento; que nesta oportunidade, olhando para o acusado, colocado ao
lado de outros dois cidadãos, afirma que ele é parecido com um dos indivíduos que
o assaltou; que o declarante apontou espontaneamente, pelo visor da sala de
audiência para o acusado, como sendo a pessoa que achou parecida com um dos
assaltantes” (fl.180)

Ressalte-se que o veículo roubado foi apreendido em frente à


serralheria do réu. A jurisprudência é vasta no sentido de que, encontrados os bens
na posse do acusado, impõe-se a inversão do ônus da prova. O réu não comprovou
como a mercadoria foi parar dentro do seu galpão e nem porque a Kombi estava ali.
Sobre o tema, transcrevo aresto desta Corte:

“PENAL. ROUBO QUALIFICADO. NEGATIVA DE AUTORIA.


PROVAS.
1. Não há que se falar em negativa de autoria, ainda quando o réu é
preso logo após o crime, ainda na posse dos pertences da vítima. Nestas
circunstâncias, na forma do artigo 156, do CPP, inverte-se o ônus da prova.
2. Negado provimento ao recurso.” (APR 20070110074768, Rel.
DeS. JOÃO TIMÓTEO, 1ª Turma Criminal, julgado em 24/04/2008, DJ 02/06/2008,
p. 151)

O apelante impugna o reconhecimento extrajudicial realizado por


JOÃO ALVES, ao argumento de que o policial Fellipe, em Juízo, relatou que “ o
reconhecedor não foi convicto, sendo que disse: ‘é parece’.” O MM Juiz sentenciante
refutou a tese defensiva com os seguintes fundamentos: “verifico que o depoimento
de Fellipe não retira a credibilidade do reconhecimento feito pela vítima. Ao
contrário, o depoimento dele (Fellipe) é que diverge do apresentado no relatório
investigativo, datado de 17 de janeiro de 2007 (fls. 19/20), e assinado por Fellipe,
juntamente com o agente de polícia Antônio Marcos, no qual resta que o
reconhecimento com as vítimas Antônio e Ernani, das outras ocorrências, referentes
aos roubos ocorridos nos dias 13/10/2006 e 13/11/2006. Observe-se que o Auto de
Reconhecimento foi realizado no dia 05 de janeiro de 2007, apenas 08 (oito) dias
após o assalto, e o agente Fellipe não estava presente em tal ato. Ora, a
testemunha Fellipe não estava presente no ato de reconhecimento que ocorreu no
dia 05/01/2007 na 19ª DP (fl.21), nem em sua oitiva perante a DRR que ocorreu no
dia 10/05/2007. (fl. 73/74). De outro lado o depoimento prestado por João Alves em
sede de inquérito está em perfeita consonância com seu depoimento judicial,

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merecendo total confiança e credibilidade, eis que estão em total harmonia com todo
o conjunto fático probatório colacionado aos autos.” (fls. 228/229)
O encadeamento dos fatos, as narrativas constantes dos autos,
atreladas à apreensão da res furtiva em frente à casa do apelante, corroboram a
conclusão do sentenciante. Além disso, inexistem indicativos que apontem para um
propósito errante de incriminação do réu.
A jurisprudência é uníssona no sentido atribuir credibilidade às
declarações da vítima nos casos de crimes contra o patrimônio, quando, de forma
coerente, narram o fato e apontam a autoria tanto na fase inquisitorial como em
Juízo.
São inúmeros os julgados desta Corte sobre o tema:

“PENAL. ROUBO CIRCUNSTANCIADO PELO CONCURSO DE


PESSOAS. CONDENAÇÃO. RECURSO DO RÉU. ALEGADA INSUFICIÊNCIA DE
PROVAS. PALAVRA SEGURA DA VÍTIMA. HARMONIA COM OS DEPOIMENTOS
TESTEMUNHAIS. IMPROVIMENTO DO RECURSO.
A palavra da vítima ganha especial relevo na comprovação da
autoria, ainda mais quando se encontra em harmonia com os demais elementos
probatórios, como o depoimento da testemunha e do policial que efetuou a prisão
em flagrante do réu, não havendo que se falar em absolvição por insuficiência de
provas.” (APR 2005.09.1.017968-6, Rel. Des. EDSON ALFREDO SMANIOTTO, 1ª
Turma Criminal, julgado em 22/02/2007, DJ 09/05/2007, p. 130). Grifos nossos.

As sanções corporal e pecuniária são razoáveis e proporcionais.


Foram arbitradas de forma correta. Não há reparos. Mas ninguém pediu indenização
e o Juiz não poderia dar de ofício, sem submeter ao contraditório.
É cediço que a Lei 11.719/08 alterou o art. 387 do CPP e incluiu, no
inc. IV, o dever de o Magistrado, na sentença condenatória, fixar ao valor mínimo
para a indenização dos danos causados pela infração. A novel legislação passou a
permitir que a vítima execute a parcela mínima reparatória. No entanto, mesmo com
a reforma, é mister que a reparação ex delito obedeça às demais disposições
processuais e constitucionais, mormente porque, no Juízo Criminal, “a verdade
processual é obtida a partir de critérios mais rigorosos” (Eugênio Pacelli in Curso de
Processo Penal, 10ª ed., p. 167). Assim, a existência de pedido formal, seja do
Ministério Público ou da defesa, é imprescindível para viabilização da ampla defesa
e do contraditório. Neste sentido a lição de Guilherme de Souza Nucci, ao comentar
o inc. IV do art. 387:

“Procedimento para fixação da reparação civil: admitindo-se que o


magistrado possa fixar o valor mínimo para a reparação dos danos causados pela
infração penal, é fundamental haver, durante a instrução criminal, um pedido formal
para que se apure o montante civilmente devido. Esse pedido deve partir do

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ofendido, por seu advogado (assistente de acusação), ou do Ministério Público. A


parte que o fizer precisa indicar valores e provas suficientes a sustentá-los. A partir
daí deve-se proporcionar ao réu a possibilidade de se defender e produzir
contraprova, de modo a indicar valor diverso ou mesmo apontar que inexistiu
prejuízo material ou moral a ser reparado. Se não houver formal pedido e instrução
específica para apurar o valor mínimo para o dano, é defeso ao julgador optar por
qualquer cifra, pois seria nítida infringência ao princípio da ampla defesa.” (In
Código de Processo Penal Comentado, RT, 8ª ed., p. 691). Grifos nossos.

Ausentes o pedido e a anterior ciência do acusado, o arbitramento


de ofício pelo Magistrado é incabível.
Dou parcial provimento ao recurso para retirar a indenização
imposta.

O Senhor Desembargador EDSON ALFREDO SMANIOTTO - Revisor

Com a Relatora.

O Senhor Desembargador GEORGE LOPES LEITE - Vogal

Com o Relator.

DECISÃO

PROVER PARCIALMENTE. UNÂNIME.

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